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CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO

FÍSICA DE SANTA CATARINA

BOAS PRÁTICAS NA
EDUCAÇÃO FÍSICA
catarinense

2023 | 9ª EDIÇÃO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Boas práticas na educação física catarinense


2023 / organização Emerson Antônio Brancher,
Denyse Orso Salvati. -- 9. ed. --
Florianópolis, SC : Conselho Regional de
Educação Física - CREF3/SC, 2023.

Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-991901-3-1

1. Educação física 2. Santa Catarina (Estado) -


Descrição 3. Professores - Depoimentos I. Brancher,
Emerson Antônio. II. Salvati, Denyse Orso.

23-164202 CDD-375.6137
Índices para catálogo sistemático:

1. Educação física : Currículos educacionais


375.6137

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129


CONSELHO REGIONAL
DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CREF3 - SANTA CATARINA
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

BOAS PRÁTICAS NA
EDUCAÇÃO FÍSICA
catarinense
2023 | 9ª EDIÇÃO

FLORIANÓPOLIS - SC
ORGANIZAÇÃO: EMERSON ANTÔNIO BRANCHER & DENYSE ORSO SALVATI
©2023 Todos os direitos reservados CREF3/SC
CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE SANTA CATARINA
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Presidente: Paulo Rogério Maes Junior (CREF 001385-G/SC)
1° Vice-Presidente: Jeferson Ramos Batista (CREF 002887-G/SC)
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CONSELHEIROS
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COMISSÃO AVALIADORA
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Organização do livro: Emerson Antônio Brancher & Denyse Orso Salvati


Revisão: Paula Barretto Barbosa Trivella
Capa: Clara Fritzen Pereira
Foto da capa: Banco de Imagens Freepik
Projeto gráfico: Clara Fritzen Pereira
Diagramação: Clara Fritzen Pereira & Denyse Orso Salvati
Metodologias no Ensino da Natação: um Estudo
158 Comparativo sobre a Teoria e Prática

O Esporte Vôlei Câmbio: uma Prática Exitosa aos Idosos do


170 Município de Rio do Sul-SC

Organização de Eventos Esportivos como um Método de


184 Avaliação na Educação Física Escolar do Ensino Médio

Percepção da Imagem Corporal e Nível de Atividade Física


198 de Mulheres com Câncer de Mama

212 Programa Comunidade Ativa


224 Programa Semente - Novos Paradigmas
Projeto "Pequeno Remador", a Canoa Havaiana na
236 Formação de Crianças e Jovens

Realizar Exercício Aeróbico com Treinamento Resistido


246 Influencia de Forma Diferente no Estado de Humor?

ARTIGOS DE
ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Caminhos e Resgate Regional da Dança Escolar nas Aulas
264 de Educação Física

Necessidades Psicológicas Básicas dos Acadêmics do Curso


276
de Educação Física

Percepção de Qualidade de Vida de Mulheres Agricultoras:


290 um Estudo de Caso na Comunidade de Salto Veloso-SC

Perfil da Aptidão Física de Crianças que Treinam Karatê na


306 Região de Joinville/SC

Qualidade de Vida de Alunos de uma Academia de


318 Ginástica do Meio-Oeste Catarinense
Boas Práticas na Educação Física Catarinense

REALIZAR EXERCÍCIO AERÓBICO COM


TREINAMENTO RESISTIDO INFLUENCIA DE FORMA
DIFERENTE O ESTADO DE HUMOR?
Luiz Paulo Gallon de Bona 1
Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc – Chapecó)

Dayanne Sampaio Antonio 2


Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Rafael Cunha Laux 3


Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc – Chapecó)

INTRODUÇÃO
Cada vez mais o ritmo de vida, principalmente nas grandes
cidades, leva as pessoas a padrões favoráveis ao consumo de tecno-
logias, ao trabalho excessivo e ao sedentarismo, tornando rotinas
que consideram a qualidade de vida e o bem-estar postos de lado.
Com isso, o exercício físico tem se tornado relevante por ser um
dos mecanismos que possibilita a prevenção, a promoção e o tra-
tamento da saúde física e mental, contribuindo para a melhora da
qualidade de vida, do bem-estar e do estado de humor daquele que
o pratica (INGRAM; MACIEJEWSKI; HAND, 2020; KOCH et al., 2020).
O estado de humor é composto por sentimentos subjetivos,
podendo ter duração variável, de modo a permanecer por algumas
horas ou até dias aquele perfil de humor, refletindo sentimentos de
exaltação ou felicidade, bem como de tristeza ou angústia (BRANDT
et al., 2011). Esse estado de humor reflete estados emocionais, cor-
porais e comportamentais do indivíduo, exaltando sentimentos e
1
CREF 033035-G/SC. E-mail para contato: luizpaulo2304@gmail.com
2
E-mail para contato: dayanne.antonio@ufpr.br
3
CREF 018026-G/SC. E-mail para contato: rafael.laux@unoesc.edu.br

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

pensamentos, além do nível de motivação para realizar uma deter-


minada tarefa (OLIVEIRA et al., 2020), como o exercício físico.
O exercício físico, tanto em efeitos agudos quanto crônicos,
tem apresentado importante e constante relação com alterações
psicológicas e perceptuais, proporcionando aumento da sensa-
ção de bem-estar, reduzindo a ansiedade, a depressão e o estresse
(SILVA et al., 2014). Ainda pode propiciar outros benefícios atrela-
dos à melhoria da qualidade de vida e do humor, como redução da
raiva e aumento do vigor (STENLING et al., 2019).
Ajustes como a carga de treinamento, para mais ou para
menos, têm impactado positiva ou negativamente o estado de
humor. Por exemplo, quanto maior a carga de treinamento, maio-
res tenderão a ser os escores nas dimensões do estado de humor
negativo (tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão). Em contra-
ponto, menores cargas tendem a refletir positivamente no escore da
dimensão positiva do estado de humor (vigor) (SILVA et al., 2014). A
escolha de intensidade moderada do exercício, independentemente
da modalidade, apresenta-se como promotora de vários benefícios
psicológicos pós-exercício, tanto no humor quanto no bem-estar
(MIRANDA; MELLO; ANTUNES, 2011). Ainda, fatores ambientais,
como lugar onde se pratica, tipo de exercício/modalidade praticado
e nível de aptidão física, são aspectos fundamentais para que o
indivíduo se sinta confortável para a prática do exercício (SILVA;
FERREIRA, 2011) e possa ter efeito sobre seu estado de humor de
forma positiva.
É interessante destacar que não são necessárias sessões lon-
gas de exercício para que os efeitos positivos sobre o estado humor
ocorram, muito menos diversas sessões para que os benefícios
sejam percebidos (STENLING et al., 2019). É possível imediatamente
após o exercício, efeito agudo, perceber mudança no estado de
humor. Por exemplo, foram verificadas alterações positivas após
uma intervenção de dança nas dimensões depressão, confusão

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

mental e vigor em mulheres (SILVA; LAUX; MARTINS, 2021). Uma


sessão do programa de exercícios físicos no ambiente de traba-
lho produziu efeito positivo no humor de servidores públicos no
ambiente de trabalho (LAUX et al., 2020, 2021). A intervenção com
treinamento funcional melhorou o estado de humor nos aspectos
de tensão, raiva e depressão dos participantes (LAUX; MATTIELLO;
CORAZZA, 2018).
Por outro lado, atletas do jiu-jítsu, após a derrota, apresen-
taram aumento de aspectos negativos do estado de humor, como
depressão, raiva e fadiga (GEISEL; ANTONIO; LAUX, 2021). Empatar
um jogo de futebol promove aumento na raiva, na fadiga e no vigor
de jovens atletas (LAUX; SILVA; SÁ, 2020). Ouvir música durante o
treinamento de força máxima ou de resistência não promove alte-
rações no estado de humor em mulheres praticantes de musculação
(MEDEIROS; ANTONIO; LAUX, 2022). Treinamento resistido com
peso livre ou em máquinas, de forma aguda, não promove altera-
ções no estado de humor de mulheres adultas durante a fase mens-
trual (ATUATTI; ANTONIO; LAUX, 2022). Além disso, parece que
tanto o treinamento resistido livre quanto em máquinas propicia
diminuição do vigor e aumento da fadiga nos participantes após o
treinamento (ROSA et al., 2021).
Diante disso, é possível perceber que os efeitos do exercício
no aspecto psicológico, principalmente no humor, podem variar em
função da aptidão física dos indivíduos, da modalidade, do período
do mês, do estado de humor atual do praticante e do sexo. Nesse
sentido, por meio deste estudo, foi proposto que se verificasse o
efeito agudo do treinamento resistido e do treinamento resistido
associado ao treinamento aeróbico sobre o estado de humor de
praticantes de treinamento resistido, partindo da hipótese de que
o treinamento resistido, associado ao treinamento aeróbico, apre-
senta efeitos agudos positivos no estado de humor desses pratican-
tes após a sessão de treinamento.

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa é de caráter descritivo-comparativo, que busca
analisar e identificar prováveis relações entre uma população espe-
cífica (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012), e propõe verificar se
o treinamento resistido, associado ao treinamento aeróbico, real-
mente pode ser benéfico para pessoas fisicamente ativas em questões
de melhoria no estado de humor. O estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade do Oeste de Santa Catarina
(Unoesc), Parecer nº 4.884.106 e CAAE: 49050621.5.0000.5367.
Participaram deste estudo 31 praticantes de treinamento
resistido, de ambos os sexos, sendo 14 homens e 17 mulheres, com
idade entre 18 e 59 anos, frequentadores de uma academia da
cidade de Chapecó-SC. Foram incluídos indivíduos fisicamente ati-
vos que não apresentassem distúrbios de humor e/ou fizessem uso
de medicamentos que pudessem interferir no estado de humor.
Os participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), após serem informados sobre os objeti-
vos, os benefícios atrelados à sua participação e os procedimentos
para a coleta dos dados desta pesquisa. O procedimento de coleta de
dados está apresentado na Figura 1.

FIGURA 1 – FLUXOGRAMA DO PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Fonte: Elaborada pelos autores (2023).

A anamnese foi realizada para assegurar os critérios de ele-

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

gibilidade do estudo e coletar informações de caracterização dos


participantes. Para a avaliação do estado de humor, foi utilizada a
escala de Brunel (Brums), validada por Rohlfs et al. (2008), sendo ela
composta por 24 indicadores de humor, divididos em 6 subescalas
para as dimensões: negativas (raiva, confusão, depressão, fadiga e
tensão) e positiva (vigor) do humor. O participante deve pontuar em
uma escala do tipo Likert de 0 (zero) a 4 (quatro), em que 0 é nada
e 4 é extremamente, em relação ao que está sentindo no momento
da aplicação do questionário, por meio da pergunta “Como você se
sente agora?”.
Os participantes foram divididos em dois grupos: um do trei-
namento resistido (n=18) e outro do treinamento associado (n=13).
Após o aceite para participação no estudo, eles foram direcionados
a responder à escala Brums, configurado como pré-exercício, con-
duzido para a realização da sessão de exercício (treinamento resis-
tido ou treinamento associado – este era composto por treinamento
resistido com treinamento aeróbico) e, ao final da sessão, respon-
diam à escala Brums novamente, denominada pós-exercício. Foram
considerados para o estudo os praticantes que tiveram sua sessão
de treino elaborada pelos Profissionais de Educação Física (PEFs)
da academia, que deveria ter duração entre 45 e 70 minutos, e com
característica de treinamento resistido ou treinamento resistido
com treinamento aeróbico na esteira.
Todos os dados estão apresentados em média e desvio-pa-
drão (DP). A normalidade dos dados foi testada por meio do teste
Shapiro-Wilk. O teste Wilcoxon Signed Rank foi utilizado para a
comparação entre os períodos pré e pós-exercício. Todos os dados
foram analisados utilizando o programa Statistical Package for the
Social Science (SPSS) para Windows, versão 21.0, com um nível de
significância estabelecido, a priori, de p<0,05.

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

RESULTADOS
Participaram deste estudo 31 pessoas, com idade média de
37,3 (12,7) anos, com frequência média semanal de treino de 4,3
(1,0) vezes e com duração média de 61,6 (4,4) minutos. O grupo
do treinamento resistido, composto por 18 participantes, sendo 8
homens, apresentaram idade média de 32,9 (10,3) anos, frequência
média semanal de treino de 4,4 (1,1) vezes e duração média de 61,1
(3,2) minutos. Já o grupo do treinamento associado, composto por
13 participantes, sendo 6 homens, apresentaram idade média de
43,5 (12,9) anos, frequência média semanal de treino de 4,2 (1,1)
vezes e duração média de 62,3 (5,6) minutos.
Na Tabela 1, estão apresentados os resultados do estado de
humor pré e pós-exercício em todas as condições.

TABELA 1 – ANÁLISE DO ESTADO DE HUMOR PRÉ E PÓS-EXERCÍCIO, SENDO QUE OS


DADOS SÃO APRESENTADOS EM MÉDIA (DP)

Tipo de treino Pré-exercício Pós-exercício p


Tensão Treinamento resistido 2,38 (2,72) 1,61 (2,22) 0,103*
Treinamento associado 3,30 (3,52) 1,00 (1,29) 0,022*

Depressão Treinamento resistido 0,66 (0,97) 0,27 (0,66) 0,086*


Treinamento associado 1,76 (2,89) 0,46 (1,19) 0,031*

Raiva Treinamento resistido 0,55 (0,92) 0,05 (0,23) 0,032*


Treinamento associado 2,23 (4,30) 0,15 (0,37) 0,034*

Vigor Treinamento resistido 9,05 (3,55) 10,27 (2,32) 0,342*


Treinamento associado 8,92 (3,37) 10,76 (3,70) 0,078*

Fadiga Treinamento resistido 3,16 (3,29) 4,72 (3,42) 0,216*


Treinamento associado 3,76 (4,24) 3,23 (2,27) 0,653*

Confusão Treinamento resistido 0,83 (1,24) 0,83 (1,68) 1,000*


Treinamento associado 1,53 (3,28) 0,46 (1,12) 0,097*
* Teste Wilcoxon Signed Rank. Fonte: Elaborada pelos autores (2023).

Verificou-se uma diminuição na tensão e na depressão no

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

treinamento associado, já a raiva apresentou diminuição tanto no


resistido quanto no associado. Nas outras dimensões do humor
(vigor, fadiga e confusão), não ocorreram modificações decorrentes
de nenhuma das condições de treinamento.
Na Figura 2, é observado o perfil de humor dos grupos de trei-
namento resistido e associado nas condições pré (A) e pós-treina-
mento (B).

FIGURA 2 – PERFIL DE HUMOR PRÉ E PÓS-TREINAMENTO RESISTIDO E ASSOCIADO,


SENDO QUE OS DADOS SÃO APRESENTADOS EM MÉDIA

Fonte: Elaborada pelos autores (2023).

Observou-se que ambos os grupos apresentaram um perfil


de humor do tipo iceberg, no qual os aspectos negativos permanece-
ram baixos, e o positivo permaneceu elevado.

DISCUSSÃO
Ao se propor verificar o efeito agudo do treinamento resistido
e do treinamento associado sobre o estado de humor de praticantes
do treinamento resistido, observou-se uma diminuição na dimen-
são negativa do humor, nos sentimentos de tensão e depressão, para
o treinamento associado, e raiva para ambos os treinamentos,

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

além de manutenção na dimensão positiva do humor.


Ambos os grupos apresentaram um perfil de estado de
humor de icerberg, isto é, com altos níveis na dimensão positiva
e baixos níveis na dimensão negativa do humor. Esse achado vai
ao encontro com a hipótese apresentada neste estudo, na qual o
treinamento associado apresentaria efeito agudo positivo sobre o
humor dos praticantes, principalmente por apresentar a redução
de três aspectos negativos do humor e manter o nível elevado do
aspecto positivo.
As hipóteses que permeiam as explicações da relação entre
humor e exercício se pautam em modelos fisiológicos, sugerindo
que o controle termogênico e o fluxo sanguíneo cerebral promo-
veriam os efeitos psicológicos positivos e diminuiriam a tensão
e a ansiedade (WERNECK; BARA FILHO; RIBEIRO, 2005). Dessa
forma, essa relação pode ser explicada, em parte, por uma atua-
ção do exercício no sistema nervoso central (STRASSER; FUCHS,
2015). Sendo assim, a participação em atividades e exercícios físi-
cos pode melhorar a saúde mental pela produção e pela liberação
de neurotransmissores, como a serotonina, a noradrenalina e a
endorfina, do fator neutrófico derivado do cérebro e do cresci-
mento de novos capilares, que podem melhorar a estrutura e a
composição cerebral, promovendo melhoria no humor (COTMAN;
BERCHTOLD; CHRISTIE, 2007; DISHMAN; O’CONNOR, 2009; GAIA;
FERREIRA; PIRES, 2021). Ainda é possível que, em longo prazo,
ocorram modificações no sistema nervoso autônomo pela supres-
são de receptores adrenérgicos e pelo aumento da atividade vagal,
estando atrelados à melhoria dos aspectos psicológicos (SILVA;
LAUX; MARTINS, 2021; VIEIRA; PORCU; BUZZO, 2009).
Para além do campo fisiológico, é importante considerar que
as modificações nos aspectos psicológicos e do humor podem estar
atreladas a fatores externos, como o estilo de vida. Nesse sentido,
a adoção de um estilo de vida saudável, por meio de alimentação

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

de qualidade, ausência de tabagismo, controle de estresse, redu-


ção do comportamento sedentário, qualidade no sono, apoio social
e prática de atividade física, pode contribuir de forma positiva na
prevenção e/ou no tratamento de doenças relacionadas ao humor
(GAIA; FERREIRA; PIRES, 2021; SILVA; FERREIRA, 2011), uma vez
que o bem-estar decorre do status socioeconômico, da educação,
do estado de humor e do estilo de vida (SMILEY et al., 2020).
Os resultados encontrados neste estudo corroboram com os
estudos de Laux, Matiello e Corazza (2018): os autores verificaram,
após uma sessão de treinamento funcional, que a tensão dos pra-
ticantes reduziu, assim como a depressão depois do treinamento
de força e metabólico. Melo (2019) e Silva, Laux e Martins (2021)
também observaram redução nos níveis de depressão e raiva, res-
pectivamente, após uma intervenção de dança. Rosa et al. (2021)
e Silva, Laux e Martins (2021), no entanto, verificaram, em seus
estudos, um aumento da tensão após a prática de treinamento
resistido com peso livre e após a prática de dança, respectiva-
mente. Silva, Laux e Martins (2021) destacam que esse aumento
pode estar relacionado ao momento pandêmico de covid-19, não
necessariamente atrelado à prática.
A manutenção do vigor pós-exercício observado nos grupos
vai ao encontro com outros estudos (BORSOI et al., 2019; OLIVEIRA
et al., 2020). Entretanto, diverge de Laux, Matiello e Corazza (2018)
e Rosa et al. (2021), que observaram redução do vigor após a inter-
venção de treinamento, ou ainda aumento nos níveis de vigor após
a intervenção (GAIA; FERREIRA; PIRES, 2021; LIMA et al., 2019;
SILVA; LAUX; MARTINS, 2021). Manter ou elevar os níveis de vigor
após o treinamento é um aspecto positivo, pois fornece ao prati-
cante maior disposição e bem-estar para a realização das ativida-
des diárias (SMILEY et al., 2020).
Nos aspectos de fadiga e confusão mental, não houve altera-
ções, demonstrando que ambos os treinamentos têm efeito bené-

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

fico aos que neles os praticam. Apesar da não alteração, mas com
níveis baixos de fadiga, isso é um aspecto positivo, uma vez que
ela está atrelada a condições centrais e periféricas, causando um
estado de esgotamento, apatia e baixo nível de energia, provocando
alterações de atenção, concentração e memória, além de irritabi-
lidade (BRANDT et al., 2011). Da mesma forma ocorre o comporta-
mento da confusão mental, pois esse aspecto do estado de humor
pode ser considerado uma resposta à ansiedade e à depressão, de
modo que altos níveis desse aspecto podem causar uma instabili-
dade no controle emocional e na atenção (GAIA; FERREIRA; PIRES,
2021).
O perfil icerberg é tido como o humor ideal para que o indi-
víduo atinja o seu melhor desempenho em tarefas físicas, emocio-
nais e psicológicas (PRADO et al., 2020). Dessa forma, a manutenção
de um estado de humor positivo, com perfil de icerberg, depende
da relação de aumento da percepção de fadiga e do baixo vigor,
que está relacionado com a piora da saúde e da qualidade de vida
(HERRING; O’CONNOR, 2009). Isso ressalta quanto a saúde deixou
de ser considerada uma condição apenas física e passou a ser com-
preendida como uma interação de aspectos físicos, psicológicos e
sociais, sendo que a saúde mental é crucial para o bem-estar geral
dos indivíduos (ROSA et al., 2021).
O presente estudo teve limitações, como a quantidade de par-
ticipantes na pesquisa, não permitindo extrapolar os resultados, a
não padronização das sessões de treinamento e a não familiariza-
ção previamente com a escala Brums. Entretanto, foi possível veri-
ficar um comportamento do estado de humor entre os praticantes
do treinamento resistido e do treinamento associado.
Para novos estudos, sugere-se um maior número de partici-
pantes e uma observação mais ampla sobre o treinamento aeróbico.

255 • CREF3/SC | 9ª Edição


Boas Práticas na Educação Física Catarinense

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES PARA A


REPLICAÇÃO DA PRÁTICA
De forma aguda, o treinamento resistido e o treinamento
associado em praticantes de treinamento resistido são capazes
de diminuir as dimensões negativas do estado de humor, como os
sentimentos de tensão, depressão e raiva, de promover a manuten-
ção dos níveis da dimensão positiva do estado de humor, o vigor,
e de manter os níveis de fadiga e de confusão mental, permitindo
que todos os grupos apresentem um perfil de estado de humor de
iceberg.
Nesse sentido, o PEF é uma peça importante, pois propicia um
treinamento que favoreça um perfil de estado de humor de iceberg,
podendo, dessa maneira, oportunizar ao praticante usufruir dos
benefícios psicológicos e experimentar estados de humor positivo
após o exercício, favorecendo a adesão, a permanência e o engaja-
mento desse indivíduo na prática de exercício físico e uma possível
mudança de hábitos e estilo de vida.
Além disso, destaca-se a importância de pequenas avaliações
antes e após o treino para direcionar as capacidades físicas e as
necessidades psicológicas momentâneas do praticante que buscou
aquela sessão de treinamento. Esse fato talvez seja um dos pilares
importantes na manutenção dos praticantes na prática de atividade
ou exercício físico por mais tempo e, por isso, seja uma boa prática
da Educação Física avaliar esses aspectos psicológicos.

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Boas Práticas na Educação Física Catarinense

REFERÊNCIAS
ATUATTI, J.; ANTONIO, D. S.; LAUX, R. C. Efeito agudo do
treinamento resistido sobre o estado de humor de mulheres
durante a fase menstrual. Revista Brasileira de Prescrição e
Fisiologia do Exercício, São Paulo, v. 16, n. 106, p. 614-621, nov./
dez. 2022.
BORSOI, E. et al. Estado de humor de idosas durante a prática
de exercício físico em diversas condições ambientais.
ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 125-131, jan./mar.
2019.
BRANDT, R. et al. Relações entre os estados de humor e o
desempenho esportivo de velejadores de alto nível. Psicologia:
Teoria e Prática, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 117-130, 2011.
COTMAN, C. W.; BERCHTOLD, N. C.; CHRISTIE, L.-A. Exercise
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