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Michael Davies - Bombas-Relógio Litúrgicas Do Vaticano II
Michael Davies - Bombas-Relógio Litúrgicas Do Vaticano II
no Vaticano 11
Bombas-relógio Litúrgicas
no Vaticano 11
A destruição da Fé Católica por meio
de mudanças no Culto Católico
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FLOS CARMELI
EDIÇÕES
Michael Davies
Bombas-relógio Litúrgicas no Vaticano li
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FLOS CARMELI
ED!CÔE.S
Velha lenha, vinho velho, livros velhos e velhos amigos é que fazem a vida feliz,
diz um ditado português. E dentre os quatro, de fato, são talvez os livros os que
mais podem dar-nos a felicidade, que vem do conhecimento da verdade. E os que
mais podem levar-nos à desgraça de aderir à mentira e ao erro. "Porque os livros
são armas também", diz Dom Basco. E não só armas. São também armadura, como
são também alimento e podem também ser veneno.
O propósito da Flos Carmeli Edições é ajudar aqueles que procuram, nos livros,
bons e fieis amigos que lhes ensinem a verdade e os ajudem a serem melhores. É
contribuir com a formação intelectual e espiritual dos católicos com textos seguros
e bem editados.
"Seria falso identificar esta renovação litúrgica com a reforma dos ri
tos, decidida pelo Concílio Vaticano II. Essa reforma retrocede muito mais
e vai muito além das prescrições conciliares. A liturgia é uma oficina per
manente." - Pe. Joseph Gelineau
(veja página 40)
"Uma declaração que nós podemos fazer com certeza é que o novo Ordo
da Missa que surgiu agora não teria sido aprovado pela maioria dos Padres
Conciliares." - Mons. Klaus Gamber
(veja página 18)
Caro leitor,
Boa leitura.
Salve Maria!
André Melo
24 de maio de 2019,
Festa de Nossa Senhora Auxiliadora.
3
2. O Movimento Litúrgico
Para que não haja dúvidas, é preciso dizer que havia uma grande ne
cessidade e um grande escopo para a renovação litúrgica dentro do rito
Romano, mas uma renovação dentro do sentido correto do termo, usando
a liturgia existente em seu potencial máximo. Este era o objetivo do mo
vimento litúrgico iniciado por Dom Prosper Guéranger e endossado pelo
Santo Papa Pio X. O movimento foi definido por Dom Oliver Rousseau,
OSB, como "a renovação do fervor pela liturgia entre o clero e os fiéis:' Em
seu estudo sobre o movimento litúrgico, o padre Didier Bonneterre escreve:
3Louis Salleron, La Nouvelle Messe (Paris: Edições Latines de Nouvelles. 1976), p. 17.
4 Rev. Fr. Didier Bonneterre, The Liturgical Movement: Guéranger to Beauduin to Bugnini
(Kansas City, MO: Angelus Press, 2002), p. 9.
2. O Movimento Litúrgico 5
Para São Pio X, assim como para Dom Guéranger, escreve o padre Bon
neterre, "a liturgia é essencialmente r-eocêntrica; seu objetivo é a adoração
de Deus, e não o ensino dos fiéis. Não obstante, este grande pastor subli
nhou um aspecto importante da liturgia: ela educa para o verdadeiro espí
rito cristão. Mas deixe-nos reforçar que esta função da liturgia é somente
secundária."5 A tragédia do Movimento Litúrgico foi que ele faria deste as
pecto secundário da liturgia o aspecto principal, como se faz manifesto hoje
em qualquer celebração paroquial da Missa Nova. O padre Bonneterre só
tem elogios para os estágios iniciais do movimento: "Nascido do gênio de
Dom Guéranger e da energia indomável de São Pio X, o movimento neste
momento trouxe magníficos frutos de renovação espiritual"6.
A heresia modernista no início do século XX foi forçada a se manter na
clandestinidade por São Pio X7 . O padre Bonneterre afirma que os teólogos
modernistas que não podiam mais propagar suas teorias em público viam
no Movimento Litúrgico o Cavalo de Tróia ideal para sua revolução e que,
a partir da década de 1920, ficou claro que o Movimento Litúrgico tinha
sido desviado de seus admiráveis objetivos originais. Ele escreve:
9Bonneterre, . 94.
1
p
ºBonneterre, p. 52.
11
Ibid.
7
12
Detalhes biográficos do Cardeal Bugnini fornecidos pela Notitiae, nº 70, de fevereiro de
1972, pp. 33-34.
13 Carlo Falconi, Pape John and His Council (Londres: Weidenfeld & Nicholson, 1964), p.
244.
8 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
Ele tinha sido secretário da comissão para a reforma instituída pelo Papa
Pio XII. Ele era um talentoso organizador e possuía espírito pastoral, de
mente aberta. Muitas pessoas observaram como, juntamente com o Car
deal Cicognani, ele foi capaz de impregnar a discussão com a liberdade
de espírito recomendada pelo Papa João XXIII. 15
4. A primeira queda
18 Annibale Bugnini, The Reform of the Liturgy, 1948-1975 (Collegeville, Minnesota: The
Liturgical Press, 1990), p. 30.
10 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano ll
Mesmo assim, Bugnini conseguiu fazer com que seu esboço chegasse até
o Concilio, e agora será interessante ver se ele será aprovado, e ainda
mais se o esboço do esquema do proscrito Secretário da Comissão Li
túrgica abrirá caminho para o sucesso de outros esboços de caráter pro
gressivo.19
Agora você sabe o que aconteceu no Concílio. Quinze dias após a sua
abertura nenhum dos schemata preparados permaneceu, nenhum! Tudo
havia sido dispensado, tudo tinha sido condenado ao lixo. Nada perma
neceu, nem uma única frase. Todos tinham sido descartados.27
5. A segunda ascensão
Segundo eu intitulei meu livro The Rhine Flaws ta the Tiber (O Reno deságua no Tibre)". Este
é certamente o livro mais informativo escrito sobre o que realmente aconteceu no Concilio
Vaticano II, e todo católico deveria possuí-lo, e se interessar seriamente pelos eventos que
se sucederam desde o Concilio. Os seis países nomeados foram onde o Movimento Litúrgico
foi mais ativo e nos quais as ideias liberais foram mais manifestas.
3ºWiltgen, págs. 287-288.
31
Ibidem, p. 210.
32
The Tablet (Londres), January 22, 1966, p. 114.
33 Notitiae, nº 70, February 1972, pp. 33-34
5. A segunda ascensão 13
34Bugrúni, p. 23.
14 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
35
Notitiae, nº 92, April 1974, p. 126.
36
Ibid.
15
7. A segunda queda
E para Michael Davies isto seria o suficiente. [sic] Mas para ele e seus
colegas, caluniadores de profissão ... Eu repito o que escrevi em 1976:
"Eu não possuo nada neste mundo mais precioso do que a cruz peitoral:
39Tito Casini, Nel Fumo di Satana (Florença: Carro di San Giovanni, 1976), p.150.
7. A segunda queda 17
Mas, como já afumei, não o acuso de ser maçom, mas simplesmente res
saltei que o Papa Paulo VI estivera convencido de que este era o caso, e o
fato de que isto não constitui calúnia é comprovado pelo fato de que Bug
nini admitiu precisamente o que eu tinha alegado em seu livro The Reform
of the Liturgy (A Reforma da Liturgia). Referindo-se à remoção de seu posto
pelo Papa Paulo VI e à supressão da Congregação para o Culto Divino, ele
escreveu:
Quais foram as razões que levaram o Papa a uma decisão tão drástica,
que ninguém esperava e que pesava tanto sobre a Igreja? Eu disse no
prefácio a este livro que eu mesmo nunca soube com certeza de qual
quer um desses motivos, mesmo que, compreensivelmente na angús
tia do momento, eu tenha batido em muitas portas em todos os níveis.
Houve quem atribuísse a mudança à forma "autoritária", "quase ditato
rial", com a qual o Secretário da Congregação supostamente conduzia
a agência, não permitindo liberdade de movimento para seus próprios
colegas de trabalho e limitando o papel mesmo dos cardeais prefeitos.40
Mas no frigir dos ovos, tudo isso parece ser parte da vida administrativa
comum. Deve ter havido algo mais impactante. Perto do final do verão,
um cardeal que normalmente não era entusiasta da reforma litúrgica
falou-me da existência de um "dossiê" que ele havia visto (ou trazido?)
na escrivaninha do papa e que provava que o arcebispo Bugnini era ma
çom.41
Embora não se deva falar mal dos mortos - mortem nil nisi bonum [lite
ralmente, "dos mortos, nada exceto o bem"], em um estudo histórico como
esse, a objetividade exige que se tome claro que a verdade não era uma pri
oridade para o Arcebispo Bugnini. Em uma tentativa de minimizar o papel
40Em uma nota de rodapé comentando estas reclamações feitas pelos membros da Con
gregação para o Culto Divino, o Arcebispo Bugnini comenta: "Deficiências humanas são
sempre possíveis, é claro, mas a acusação reflete uma mentalidade que foi periodicamente
revivida entre os membros da Congregação, que por conta de sua ambição ou falhas de
caráter, estavam determinados a criar dificuldades para a secretaria". Este comentário é tí
pico da insistência do Arcebispo Bugnini ao longo do livro de que nenhuma crítica feita
a ele poderia ser de alguma forma justificada e que aqueles que o criticaram tinham más
intenções.
41Bugnini, p. 91.
18 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
O Artigo 23 da CSL exige que, para manter a "tradição sólida", uma cui
dadosa investigação deveria ser feita antes de rever qualquer parte da litur
gia. "Esta investigação deve ser teológica, histórica e pastoral". Se isso não
fosse tranquilizador o bastante, o artigo 23 também exige que: "Não se in
troduzam inovações, a não ser que uma utilidade autêntica e certa da Igreja
o exija, e com a preocupação de que as novas formas como que surjam a
partir das já existentes:'
46É triste notar que ao mesmo tempo em que estava escrevendo uma exposição tão orto
doxa e mesmo inspiradora da missa (na década de 50), o padre Prasch estava participando
de experimentos litúrgicos não-autorizados (ver Bonnetere, pp. 28-29).
47Pius Parsch, The Liturgy of the Mass (St. Louis: B. Herder, 1961), pp. 184s.
8. Um esquema insuspeito para a revolução 21
48
Citado em F. A. Gasquet, Edward VI and The Book of Common Prayer (London: John
Hodges, 1890), p. 221. O Capítulo XIII desse livro contém um exame muito detalhado das
reformas litúrgicas de Lutero.
49
M. Davies, Papel Paul's New Mass (Dickinson, TX: Angelus Press, 1980), p. 329; Bugnini,
p. 152, nota 30.
50Lefebvre, p. 135.
22 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano ll
(ver página 3) é que a maioria dos padres, os 3.000 Bispos51, certamente não
estavam, mas que alguns dos influentes periti, os especialistas que acom
panharam os bispos a Roma, definitivamente tinham essa intenção.
51
2.860 Padres Conciliares participaram de todas ou de parte das quatro sessões - um
total combinado de 281 dias (Wiltgen, p. 287).
52
Davies, Pape John's Council, Capítulo 5.
53
The Tablet, 27 de novembro de 1965, p. 1318.
54Catholic Standard (Dublin), 17 de outubro de 1973.
55
The Tablet, 18 de maio de 1968.
9. O Concílio dos periti 23
O assunto mais debatido foi a reforma litúrgica. Poderia ser mais correto
dizer que os bispos estavam sob a impressão de que a liturgia havia sido
totalmente discutida. Em retrospecto, é claro que eles tiveram a oportu
nidade de discutir apenas princípios gerais. As mudanças subsequentes
foram mais radicais do que aquelas pretendidas pelo Papa João e pelos
bispos que aprovaram o decreto sobre a liturgia. Seu sermão no final da
primeira sessão mostra que o Papa João não suspeitava do que estava
sendo planejado pelos especialistas litúrgicos. 57 (Ênfase nossa).
O que poderia ser mais claro do que isto? Um dos padres mais ativos e
eruditos do Concílio afirma que os peritos litúrgicos que esboçaram a CSL
a redigiram de tal forma que eles poderiam usá-la após o Concílio de uma
forma não prevista pelo Papa e pelos bispos. Para colocar de forma franca,
o Cardeal afirma que havia uma conspiração.
A revolução litúrgica que emergiu da Constituição foi iniciada precisa
mente com base em uma série de cláusulas cuidadosamente formuladas,
cujas implicações não foram compreendidas pelos Padres do Concílio. Isto
ficou evidente até mesmo para um observador protestante americano, Ro
bert McAfee Brown, que comentou: "Os próprios documentos do Concílio
tendiam mais para o caminho da mudança do que os Padres do Concílio ti
nham necessariamente consciência quando votaram:' 58 A este respeito, ele
fez menção especial à Constituição Litúrgica: "A Constituição abre mui
tas portas que mais tarde podem ser ainda mais abertas e não vincula a
Igreja a uma nova rigidez litúrgica:' 59 Aqueles que obtiveram o controle do
Consilium, o Comitê que implementou a CSL, usaram estas cláusulas pre
cisamente da maneira que eles tinham a intenção de usá-las quando, como
o Cardeal Heenan assegura-nos, eles as tinham introduzido na CSL como
membros das Comissões Litúrgicas pré-conciliares e conciliares.
A própria Constituição tornou-se letra morta quase que desde o mo
mento em que ela foi aprovada com euforia pelos padres conciliares. Ela
56
Lefebvre, pp. 109s.
57
John Heenan, A Crown ofThorns (London: Hodder & Stoughton, 1974), p.367.
58
R. McAfee Brown, The Ecumenical Revolution (New York: Doubleday, 1969), p. 210.
59
R. MacAfee Brown, Observer in Rome. (London: Methuen, 1964), p. 226.
24 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
poderia ter sido usada para iniciar uma verdadeira renovação, fiel aos prin
cípios litúrgicos autênticos endossados pelos papas e expostos em docu
mentos como a Tra le solicitudini de São Pio X (1903) e o De musica sacra et
sacra liturgia do Papa Pio XII (1958). Até mesmo o arcebispo Lefebvre escre
veu em 1963: "Deixe-nos então admitir sem hesitação que algumas refor
mas litúrgicas eram necessárias."60 Mas discutir o que poderia ter sido é a
mais inútil das ocupações; é o que realmente aconteceu o que importa. Toda
a extensão da subserviência episcopal ao ditame dos "especialistas" tornou
se clara pelas palavras do arcebispo Lefebvre em uma palestra que ele deu
em Viena, em setembro de 1975. Ele explicou que a Conferência episcopal
francesa "realizou reuniões durante as quais eles receberam os textos exa
tos dos discursos que tinham que fazer. 'Você, Bispo fulano de tal, você vai
falar sobre o assunto tal, um certo teólogo vai escrever o texto para você, e
tudo que você precisa fazer é lê-lo':'61 Este não foi apenas o caso da hierar
quia francesa. Eu documentei em meu livro The Second Vatican Council and
Religious Liberty (O Concílio Vaticano II e a Liberdade Religiosa) até que
ponto os bispos dos Estados Unidos e outras hierarquias obedientemente
leram os discursos escritos para eles pelo Padre John Courtney Murray em
louvor do esboço da declaração da qual ele era o principal autor. 62 Como
um prelado americano expressou: "As vozes são as vozes dos bispos dos
Estados Unidos, mas os pensamentos são os pensamentos de John Court
ney MurraY:' 63 O discurso mais celebrado durante o debate sobre liberdade
religiosa, o debate mais disputado do Concílio, foi feito pelo bispo belga
Emile de Smedt em 19 de novembro de 1963. O Bispo de Smedt recebeu um
estrondoso aplauso, a maior manifestação única do Concílio. O discurso,
na verdade, foi escrito para ele pelo padre Murray. 64 De acordo com Ro
bert Kaiser, que escreveu sobre o Concílio para a revista Time Magazine, a
batalha sobre a CSL foi vencida pelos liberais em 7 de dezembro de 1962
quando o prefácio e o primeiro capítulo foram aprovados com apenas onze
votos dissidentes.
Lefebvre, p. 9.
60
Detonando as bombas-relógio
69
H. Denzinger, Enchiridion Symbolorum (edição 31), nº 1529.
70
Ibid.
30 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
Esta regra de expressão foi introduzida pela Igreja ao longo dos sécu
los com a proteção do Espírito Santo. Ela a confirmou com a autoridade
dos Concílios. Tornou-se mais de uma vez o símbolo e o padrão da fé
ortodoxa. Ela deve ser observada religiosamente. Ninguém pode presu
mir alterá-la à vontade, ou a pretexto de novos conhecimentos. Por isso
seria intolerável se as fórmulas dogmáticas que Concílios Ecumênicos
têm empregado para lidar com os mistérios da Santíssima Trindade fos
sem acusadas de ser inadequadas para os homens do nosso tempo, e ou
tras fórmulas fossem introduzidas precipitadamente para substituí-las.
É igualmente intolerável que alguém por sua própria iniciativa queira
modificar as fórmulas com as quais o Concílio de Trento propôs a crença
no Mistério Eucarístico. Essas fórmulas e também outras, que a Igreja
emprega ao propor dogmas de fé, expressam conceitos que não estão
ligados a nenhum sistema cultural específico. Elas não estão restritas a
qualquer desenvolvimento das Ciências, nem a uma ou outra das escolas
teológicas.
se trata do que o povo quer; trata-se do que é bom para eles:'75 Os autoin
titulados especialistas litúrgicos tratam com desprezo completo não só os
leigos, mas também o clero paroquial - cujos bispos insistem que aceitem
os ditames - "diktat" - destes peritos, aos quais, na maioria dos casos, es
ses mesmos bispos abdicaram de sua autoridade em questões litúrgicas. O
Monsenhor Richard]. Schuler, um experiente pároco em St. Paul, Minne
sota, explicou a situação do clero paroquial muito claramente em um artigo
escrito em 1978, no qual ele fez o comentário muito pungente, que tudo o
que os especialistas ordenam que eles façam é levantar o dinheiro para pa
gar por sua própria destruição:
A próxima bomba-relógio situa-se no Artigo 21. Ele afirma que "a litur
gia é constituída de elementos imutáveis, instituídos por Deus, e de elemen
tos sujeitos a mudanças". Isto está perfeitamente correto - mas isso não sig
nifica que, porque certos elementos poderiam ser alterados, eles devam ser
mudados. Toda a tradição litúrgica do rito romano contradiz tal afirmação.
"O que podemos chamar os 'arcaísmos' do Missal", escreve Dom Cabrol,
um "pai" do movimento litúrgico, "são as expressões da fé de nossos pais, o
que é nosso dever zelar e entregar para a posteridade". 79 Da mesma forma,
em sua defesa da bula Apostolicae Curae (1898), os Bispos da província de
Westminster insistiram que:
A CSL tem uma visão diferente, é uma ruptura tão surpreendente e sem
precedentes com a tradição que parece pouco crível que os padres a te
nham aprovado. O Artigo 21 afirma que elementos que estão sujeitos à
alteração "não só podem, mas devem ser alterados com o passar do tempo
se recursos que são menos harmoniosos com a natureza íntima da liturgia
por acaso tenham se infiltrado, ou se os elementos existentes tenham se
tornado menos funcionais:' Estas normas são tão vagas que o escopo para
interpretá-las é virtualmente ilimitado, e deve-se manter em mente conti
nuamente que aqueles que as elaboraram seriam os homens com o poder de
interpretá-las. Não é dada nenhuma indicação sobre que aspectos da litur
gia são considerados aqui; não é dada nenhuma indicação do significado de
"menos funcional" (quanto menos é "menor"?), ou se "funcional" refere-se
à função original ou a uma nova que tenha sido adquirida.
79Introdução à edição Cabrol do Missal Romano.
80 A Vindication of the Buli "Apostolicae Curae" (Londres: Longmans, Green e co., 1898),
pp. 42s.
38 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
Aqueles que leram meu livro Cranmer's Godly Order vão ficar imediata
mente impressionados pelo fato de que o próprio Thomas Cranmer poderia
ter escrito esta passagem como base para a sua própria "reforma" da liturgia
católica - ou seja, a criação do culto de oração Anglicano. Não há nenhum
ponto aqui que o Arcebispo apóstata de Cantuária (1489-1556) não tenha
alegado implementar. Um observador anglicano no Concílio Vaticano II,
o Arquidiácono Bernard Pawley, elogiou a maneira com que a reforma li
túrgica após o Concílio Vaticano II não só corresponde, mas até mesmo
ultrapassou, a reforma de Thomas Cranmer81 . Existe uma correspondên
cia muito próxima entre as orações que Cranmer considerou terem sido
acrescentadas à missa "com pouca vantagem" (quase invariavelmente ora
ções que tornavam explicito o ensino católico) e aquelas que os membros
do Consilium, que implementaram as normas do Vaticano II [com a ajuda
de conselheiros protestantes], também decretaram terem sido acrescenta
das "com pouca vantagem" e "devem ser descartadas". A correspondência
entre a reforma de Thomas Cranmer e aquelas do Consilium do padre Bug
nini fica clara no capítulo XXV do meu livro Pape Paul's New Mass (A Nova
Missa do Papa Paulo), onde as duas reformas são colocadas em colunas pa
ralelas com o Missa Tradicional em Latim codificada perpetuamente por
São Pio V (1566-1572).
O Artigo 21 da CSL, juntamente com tais artigos como o 1, 23, 50 e 62,
têm servido como um mandato para o objetivo supremo dos revolucioná-
81B. Pawley, Rome and Canterbury through Four Centuries (Londorn: Mowbray, 1974), p.
349.
14. Uma Liturgia em permanente evolução 39
O Cardeal fez este comentário em maio de 1968, e sua precisão foi de
monstrada dramática e deprimentemente dois meses mais tarde quando a
Encíclica Humanae Vitae (25 de julho de 1968) foi rejeitada e desprezada
publicamente por centenas de teólogos católicos ao redor do mundo, os
quais, em quase todos os casos, mantiveram suas posições como professo
res oficiais da Igreja Católica. Escrevendo no Concilium em 1969, o padre
H. Rennings, decano de estudos do Instituto Litúrgico de Trier, declarou:
Isso dificilmente poderia ser mais explicito. É claro que o Cardeal Hee
nan não falava inteiramente em tom de brincadeira quando comentou:
Seria falso identificar esta renovação litúrgica com a reforma dos ritos,
decidida pelo Concílio Vaticano II. Essa reforma retrocede muito mais e
vai muito além das prescrições conciliares (elle va bien au-delà). A litur
gia é uma oficina permanente (la liturgie est un chantier permanent). 86
O Santo Padre não poderia ter feito sua vontade mais clara, mas tal é a
falta de respeito pelo Papa pela esmagadora maioria dos Bispos do mundo -
e o que pode ser descrito também com precisão como o ódio pela tradição -
que a missa de acordo com o Missal de 1962 (isto é, a Missa Tradicional em
Latim, também chamada Missa Tridentina) é permitida por eles em menos
de um por cento das paróquias católicas de Rito Romano em todo o mundo;
e mesmo onde os Bispos autorizam tais celebrações, estas às vezes são agen
dadas em uma localização inconveniente em uma hora inconveniente e só
uma vez por mês ou uma vez por trimestre e muitas vezes nem mesmo no
domingo. De fato, de acordo com a Comissão de Cardeais de 1986, criada
para examinar o funcionamento do indulto de Quattuor Abhinc Annos de
1984, nenhum sacerdote do Rito Romano precisa de permissão para usar o
Missal de 1962 ao celebrar a Missa em latim. 88
Há uma boa razão para a Igreja reservar a genuflexão para seu ato ofi
cial de reverência para o Santíssimo Sacramento. Não é qualquer ato que
pode ser usado para um ato de adoração. Por exemplo, não seria possível
usar o ato de ficar de pé como um ato de adoração em nossa cultura nem
na cultura oriental. Nós ficamos de pé quando um bispo ou o presidente
dos Estados Unidos entra no recinto, mas nós não adoramos nenhum
deles. Similarmente, hoje, muitos curvam-se na presença de dignitários
importantes e da autoridade humana, mas não os adoram. Isto também
acontece nas culturas orientais hoje em dia... o ato de dobrar o joe
lho diante de Jesus Cristo não é apenas um ato circunstancial, ou um
18. Um outra bomba-relógio - "variações e adaptações legítimas" 47
92
"Quando uso uma palavra;• disse Humpty Dumpty, num tom bastante desdenhoso, "ela
significa apenas o que eu escolho que signifique - nem mais nem menos." (Lewis Carroll,
Through the Looking Glass, Capítulo VI).
48 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
Uma vez que este princípio de adaptação é aceito, não há nenhuma parte
da missa que pode ser considerada imune à mudança. Mesmo as palavras
da consagração foram alteradas para deixa-las muito próximas da fórmula
adotada por Thomas Cranmer em sua reforma93 .
O Artigo 38 não encerra de maneira alguma o assunto da adaptação.
Sem dar a menor ideia do que se quer dizer com "variações e adaptações
legítimas", a CSL passa ao Artigo 40 em que afirma que em "alguns lugares
e circunstâncias, entretanto, uma adaptação ainda mais radical da liturgia
é necessária:' Sem explicar o que significa uma "adaptação radical", a ne
cessidade de uma "adaptação ainda mais radical" é postulada! Mais radical
do que o quê? Uma vez que a bomba explodiu, a devastação que se desen
cadeia não pode ser controlada. Os Padres Conciliares, como o cientista
Victor Frankenstein, deram vida a uma criatura que tem vida e vontade
próprias e sobre a qual eles não têm poder.
A carta do Cardeal Lercaro não fez nada para deter a propagação de "ini
ciativas arbitrárias". Roma adotou a tática de acabar com inovações ilícitas
tornando-as lícitas e oficiais. A comunhão era dada na mão ilicitamente
- que seja dada na mão oficialmente! A comunhão era ilicitamente dis
tribuída por leigos - nomeiem-se então leigos ministros extraordinários
da sagrada comunhão. Aqueles que consideravam que a essência da Missa
consistia em ser uma refeição comum começaram (não sem lógica) a re
ceber a Comunhão em mais de uma Missa no mesmo dia -, então deixe
que isto seja permitido em muitas circunstâncias. Os sacerdotes começa
ram usando ilicitamente orações de improviso - então deixe a oração de
improviso ser prevista pela reforma oficial. Orações eucarísticas não ofici
ais foram compostas - então que se providenciem três novas orações eu
carísticas. A composição das orações eucarísticas não-oficiais continuou -
portanto, acrescentem-se mais cinco. A comunhão era dada sob as duas es
pécies na missa dominical, desafiando a legislação do Vaticano - a prática
foi legalizada, e agora não se podia alegar que a lei relativa à comunhão, sob
ambas as espécies, estava sendo desafiada. A lei litúrgica foi desobedecida
ao permitir que as mulheres acolitassem no santuário. Acólitos femininos
foram legalizados, então a lei permitindo somente acólitos masculinos já
não estava sendo desobedecida - a disciplina litúrgica havia sido restau
rada!
A lógica dessa política não poderia passar despercebida pelos inovado
res não-oficiais: deixe-os introduzir e disseminar suas fantasias litúrgicas,
e o Vaticano acabaria por legalizá-las. Mesmo que Roma não legalizasse
os abusos, a possibilidade de medidas serem tomadas contra os inovadores
não-oficiais era remota, particularmente após a introdução da Missa Nova
em 1969. Após essa data, havia alguns padres que "ilicitamente" continu
aram a rezar a Missa Tradicional em Latim, então aqueles no Vaticano e
20. Legalize os abusos! 51
Muito mais poderia ser escrito sobre este tema - mas com pouco propó
sito. Talvez o latim, o canto gregoriano e a polifonia tenham quase desapa
recido da maior parte das igrejas porque eles eram considerados obstáculos
para a participação ativa do povo, que a CSL tinha decretado que deveria
ter prioridade sobre todo o resto.
Quem sonhou naquele dia que dentro de alguns anos, muito menos de
uma década, o passado latino da Igreja seria quase que completamente
expurgado, que ele seria reduzido a uma memória desvanecendo-se a
médio prazo? Esse pensamento teria nos horrorizado, mas parecia tão
além do reino do possível que chegava a ser ridículo. Então nós não o
levamos a sério e rimos dele. 105
O Concilio tinha de fato claramente previsto que "o uso da língua latina
deve ser preservado", permitindo o uso do vernáculo em certos lugares,
em certos casos e em certas partes do rito. Contudo e desafiando a au
toridade do Concílio, o latim foi suprimido em praticamente todos os
lugares, em todos os momentos e em todas as partes do rito. A língua
da Igreja foi abandonada, mesmo em funções litúrgicas internacionais.
Defende-se que a universalidade da Igreja deve ser salientada pelo uso,
em tais ocasiões, de tantas línguas quanto possível. O resultado é que - a
menos que estes sejam utilizados simultaneamente - todas as partes do
rito que não são no idioma do fiel, tornar-se-ão incompreensíveis para
ele. É o inverso de Pentecostes: enquanto em Jerusalém, o povo ex omni
natione, quae sub caelo est [de todas as Nações debaixo do céu] com
preendeu as palavras dos Apóstolos, que estavam falando apenas uma
língua, hoje, quando todas as línguas diferentes são faladas, ninguém
pode entender nada. Em vez de Pentecostes, deveríamos falar de Babel.
Temos visto, durante estes últimos anos, a abolição daqueles gestos su
blimes de devoção e piedade, tais como sinais da Cruz, ósculos no altar
que simboliza Cristo, genuflexões etc., gestos que o Secretário da Con
gregação responsável pela reforma litúrgica, padre Annibale Bugnini, se
atreveu publicamente a descrever como "anacronismos" e "atos externos
cansativos". Em vez disso, uma forma pueril de rito foi imposta, ruidosa,
grosseira e extremamente entediante. E hipocritamente, nenhuma aten
ção foi dada à perturbação e desgosto dos fiéis. O estrondoso sucesso
atribuído ao novo rito deveu-se ao fato de que uma parcela dos fiéis foi
treinada para repetir mecanicamente uma sucessão de frases que, pela
repetição, já perdeu seu efeito. Testemunhamos com horror a introdução
em nossas igrejas de paródias hediondas dos textos sagrados e de me
lodias e instrumentos mais adequados a uma taverna. E o instigador e
defensor persistente destas chamadas "missas de juventude" não foi ou
tro senão o padre Annibale Bugnini. Recorda-se aqui que ele insistiu em
continuar as "missas yea, yea" em Roma e fez do jeito que queria apesar
do protesto do Vigário-geral de Roma, Cardeal Dell'Acqua. Durante o
pontificado de João XXIII, Bugnini havia sido expulso da Universidade
Lateranense, onde era professor de liturgia, precisamente por ter tido
tais ideias - apenas para se tornar, mais tarde, secretário da congrega
ção que lida com a reforma litúrgica.
1 8
º L'Osservatore Romano, 20 de julho de 1975.
109
cf. M. Davies, The Order of Mechisedech (Harrison, NY: Rornan Catholic Books, 1993).
110 N
otitiae, nº 85, julho-agosto, 1973, pp. 268-272.
60 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
A CSL já foi citada para afirmar que: "Este sagrado Concílio declara que
a Santa Madre Igreja considera todos os ritos legitimamente reconhecidos
como sendo de igual autoridade e dignidade: que Ela deseja preservá-los no
futuro e promovê-los em todos os sentidos." Como preservar e promover
algo por meio de sua destruição é algo que até mesmo o arcebispo Bugnini
pode ter achado difícil de explicar. O Arcebispo, é claro, insistiu que ele era
responsável, não pela destruição, mas pela restauração e que a partir de
1948 passou "vinte e sete anos dedicados à restauração do esplendor e do
charme, da beleza juvenil, do espírito crítico e da doce fragrância da oração
pública da Igreja:'115 Aqueles que recordam como era a liturgia, ou que têm
a boa sorte de frequentar hoje a Missa Tradicional, terão que discordar do
Arcebispo Bugnini e concordar com o Mons. Gamber:
A verdadeira destruição da missa tradicional, do rito romano tradicio
nal com uma história de mais de mil anos, é a destruição da fé sobre a
qual ela foi baseada, uma fé que tinha sido a fonte da nossa piedade e da
nossa coragem para dar testemunho de Cristo e de sua Igreja, a inspi
ração de incontáveis católicos durante muitos séculos. Alguém, algum
dia, poderá dizer a mesma coisa sobre a nova missa? 116
Certamente que não! A incompatibilidade total de qualquer reforma ra
dical da liturgia católica com o ethos e as tradições da Igreja é bem expressa
pelo Professor James Hitchcock:
A alteração deliberada e radical do ritual leva inevitavelmente à altera
ção radical da crença também. Essa alteração radical causa uma perda
imediata de contato com o passado vivo da comunidade, que passa, em
contrapartida, a ser um fardo sufocante. O desejo de livrar-se do fardo
do passado é incompatível com o catolicismo, que aceita a história como
um desenvolvimento orgânico de raízes antigas e expressa esta aceita
ção em um profundo respeito pela Tradição. 117
26. A perda da Fé
118 Philip Hughes, The Reformation in England, vol. II (Londres: Hollis & Carter, 1953), p.
111
119Na Missa Tradicional em Latim, somente as mãos consagradas de um padre podiam
tocar os cálices sagrados ou a Hóstia. Os leigos recebiam a sagrada comunhão de joelhos, na
boca e somente das mãos consagradas de um padre. Em uma típica paróquia hoje, a sagrada
comunhão é recebida na mão, de um ministro extraordinário (leigo), por um fiel de pé. Isto
significa que todo sinal tradicional de reverência foi abandonado ou tornou-se opcional, e
a crença na Presença Real foi abandonada juntamente com esses sinais de reverência. Os
inovadores substituíram, como Dietrich von Hildebrand afirmou, a santa intimidade com
Cristo por uma familiaridade imprópria, uma reverência desanimada em face do mistério,
desprovida de temor e quase que destituída do sentido de sagrado. Veja a p. 35 acima.
27. A Missa que não morrerá 63
12
°Citado em N. Gihr, The Holy Sacrifice of the Mass (St. Louis, MO: B. Herder, 1908), p.
337.
121
Gamber, p. 114.
65
Para colocar esta declaração em seu contexto correto, deve ficar claro
que, na época que fez esta afirmação, o bispo Baum era diretor-executivo
da Comissão dos Bispos americanos dos assuntos ecumênicos e o primeiro
porta-voz católico convidado a discursar no Sínodo geral da Igreja Unida
de Cristo, uma denominação protestante americana. Durante seu discurso,
ele revelou aos delegados que estudiosos protestantes "tiveram voz" na
revisão da liturgia católica. Como consequência desta revelação, Harold
Acharhern, correspondente religioso do Detroit News, obteve a entrevista
com o Bispo Baum a partir da qual eu fiz a citação.
O relato dado pelo Cardeal Baum e as negações do Arcebispo Bugnini
e da Sala de Imprensa do Vaticano são claramente contraditórias. A fim de
descobrir a verdade, eu escrevi para um dos observadores, o cônego Ronald
Jasper. Antes de dar sua resposta, é necessário explicar a maneira em que
o Consilium fez seu trabalho. Primeiramente, houve as sessões de estudo,
durante as quais os detalhes práticos da reforma foram trabalhados, discu
tidos e modificados. Então houve as reuniões (plenárias) formais durante as
quais os esboços que tinham sido compilados nas sessões de estudo foram
debatidos e votados. Em minha carta ao cônego Jasper, expliquei que estava
trabalhando em uma série de livros sobre a reforma litúrgica e que desejava
particularmente saber se os observadores tinham tido voz na formulação
dos novos ritos da missa e da ordenação. Em sua resposta, datada de 10
de fevereiro de 1977, ele explicou que os observadores receberam todos
os documentos dos esboços dos novos ritos da mesma maneira que outros
membros do Consilium. Eles então estiveram presentes nos debates quando
os novos ritos foram apresentados pelos periti e debatidos pelo Consilium,
mas os observadores não foram autorizados a participar do debate.
À tarde, contudo, eles sempre tinham um encontro informal com os pe
riti que tinham preparado os esboços, e nessas reuniões, eles certamente
foram autorizados a comentar e criticar e fazer sugestões. Cabia então aos
periti decidir se valia a pena levar alguma de suas colocações aos debates
gerais quando o Consilium fosse retomado. Mas, explicou o cônego Jasper,
concluindo, estas reuniões informais eram uma completa balbúrdia e havia
uma troca muito franca de pontos de vista.
I. A participação dos protestantes na compilação dos novos ritos 67
122
B. Pawley, Rome and Canterbury through Four Centuries (London: Mowbray, 1974), p.
343.
123
R. McAfee Brown, Observer in Rame (London: Methuen, 1964), pp. 227s.
124
Ibid., p. 173
68
125
Foi nesta ocasião que os restos mortais do falecido Papa foram expostos na Praça de
São Pedro e, depois da cerimônia, foram escoltados em procissão até o Altar da Confissão
na Basílica do Vaticano para serem expostos para a veneração dos fiéis.
126
Documentation Catholique, 1 º de julho 2001, nº 2251.
II. Os frutos da reforma litúrgica 69
"uma árvore que espalhou seus majestosos e poderosos ramos sobre a vinha
do Senhor". Ele acrescentou que "Ela nos deu muitos frutos nestes 35 anos
de vida, e nos dará muito mais nos próximos anos".
Com todo o respeito que é devido ao Santo Padre, o fato de que não
houve nenhuma renovação não pode ser alterado simplesmente porque ele
gostaria de urna renovação tivesse acontecido 127 . Se os frutos da reforma
litúrgica do Concílio Vaticano II devem ser comparados a urna árvore, S.
Mateus, capítulo 7, versículos 16-19, vem imediatamente à mente: Afruc
tibus eorum cognoscetis eos - "Pelos seus frutos os reconhecereis. Colhem-se
uvas dos espinheiros, ou figos das ervas daninhas? Assim sendo, toda ár
vore boa produz bons frutos, mas a árvore ruim dá frutos ruins. Uma árvore
boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar frutos bons."
Em sua encíclica Ecclesia de Eucharistia, de 17 de abril de 2003, o Papa
João Paulo II insistiu mais uma vez que a reforma litúrgica do Concílio Va
ticano II foi acompanhada por urna renovação, ao invés de uma revolução,
por bons frutos, ao invés de fruto� maus:
127 Um católico é de maneira alguma desleal para com a Igreja se ele se sente obrigado a
discordar com o Papa em uma questão factual. Muitos católicos devotos tendem a aceitar
cada uma das instruções dadas por um papa como se fosse um pronunciamento infalível.
Que este não é o caso foi deixado claro pelo Cardeal Newman no seu livro Certain Diffi
culties Felt by Anglicans in Catholic Teaching. (Londres: Pickering, 1876, p. 325). Newman
explica: "Ele fala ex cathedra, ou infalivelmente, quando fala, em primeiro lugar, como o
professor Universal; em segundo lugar, em nome e com a autoridade dos Apóstolos; em
terceiro lugar, sobre um ponto de fé ou moral; em quarto lugar, com o objetivo de vincular
todos os membros da Igreja a aceitar e acreditar em sua decisão. Estas condições, é claro,
restringem consideravelmente o alcance de sua infalibilidade. Portanto, Billuart, falando a
respeito do Papa diz, 'nem na conversa, nem em discussão, nem na interpretação das Escri
turas ou dos Padres da Igreja, nem em consultas, nem ao dar as suas razões para o ponto
que ele definiu, nem respondendo cartas, nem em deliberações particulares, supondo que
ele está estabelecendo a sua própria opinião, é o Papa infalível'."
70 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
uma graça do senhor que anualmente traz alegria para aqueles que par
ticipam dela. Outros sinais positivos de fé eucarística e amor também
podem ser mencionados. (Ênfase nossa).
Mais uma vez, com todo o respeito ao Santo Padre, deve-se insistir que
se houve de fato um "crescimento interior dentro da comunidade cristã",
certamente ele não é refletido no colapso catastrófico da vida católica nos
países de primeiro mundo, que é documentada, acima de qualquer dúvida
possível, nas estatísticas que se seguem. Apesar de a inauguração da ado
ração perpétua em algumas paróquias e capelas nos últimos anos ser um
desenvolvimento admirável, deve-se olhar o estado geral da Igreja: na ver
dade, como Germain Grisez e Russel Shaw deixaram claro acima, a crença
na Presença Real no Estados Unidos "não simplesmente diminuiu, mas, apa
rentemente, foi extinta". Na edição de 3 de setembro de 1999 do britânico
Catholic Herald, foi relatado que, pouco antes de sua morte, o Cardeal Ba
sil Hume de Westminster tinha lamentado o fato de que os católicos na
Inglaterra tinham perdido a devoção à Eucaristia, que está no cerne da fé
católica. Ele pôs a culpa da falta de devoção eucarística no "modo como os
adultos ensinam a fé para as crianças". Esta é uma afirmação surpreendente
tendo em conta o fato de que, como seus colegas Bispos, ele tinha imposto
livros didáticos nos quais o ensino tradicional foi ignorado.
Então, no que parece ser uma mudança de opinião, o Santo Padre ad
mite que, em alguns lugares, pelo menos, a disciplina eucarística e mesmo
a fé estão sofrendo problemas muito sérios, e ele fornece uma lista dos des
vios e abusos litúrgicos contra os quais os Católicos tradicionais têm pro
testando desde que as primeiras mudanças foram impostas aos fiéis. Estes
abusos ocorrem, o Santo Padre nos diz, juntamente com as luzes às quais
ele referiu-se, mas ele não nos diz onde estas luzes estão brilhando:
133Fr. Francis Ripley, This Is The Faith (Rockford, IL: TAN edition, 1951/2002).
76 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
45.592 - mas até 1999 tinha diminuído para 13.814, menos de metade de
1944. O número de batismos pelos mesmos anos são 71.604 (1944), 137.673
(1964) e 63.158 (1999). Com menos filhos nascidos de casais católicos a cada
ano, o número de casamentos inevitavelmente continuará a diminuir, com
um consequente número ainda menor de crianças nascidas - e assim por
diante. Além disso, não se pode presumir que nem ao menos metade das
crianças batizadas vão estar praticando sua fé quando atingirem a adoles
cência. Um exame dos dados de uma típica diocese indica que menos da
metade das crianças que é batizada é crismada, e um relatório no The Uni
verse em 1990 deu uma estimativa de que apenas 11% dos jovens católicos
estão praticando sua fé quando deixam o ensino médio.
Além de casamentos e batizados, o comparecimento à missa é o guia
mais preciso para mensurar a vitalidade da comunidade católica. Os núme
ros despencaram de 2.114.219 em 1966 para 1.041.728 em 1999 e continua
caindo a uma taxa de cerca de 32.000 por ano.
Em 1944, 178 padres foram ordenados; em 1964, 230; e em 1999 somente
43 - e no mesmo ano 121 padres morreram.
Em 1985, vinte anos após o Concílio Vaticano II, bispos de todo do mundo
reuniram-se em Roma para avaliar o impacto do Concílio. Isto lhes deu a
oportunidade de admitir que a sua implementação tinha sido desastrosa, e
que medidas drásticas deveriam ser tomadas para dar à fé um futuro viável
nos paises de Primeiro Mundo.
O Cardeal Basil Hume de Westminster insistiu, em nome dos bispos da
Inglaterra e do País de Gales, que não deveria haver nenhum retrocesso nas
políticas que eles tinham adotado para implementar o Concílio. Um relató
rio no The Universe em 13 de dezembro de 1985 informou-nos que o Sínodo
tinha adotado a posição do Cardeal Hume sem uma única voz dissidente. A
sentença final deste relatório pode ser descrita como ironicamente profé
tica: "Enquanto isso o povo de Deus tem um mandato firme de continuar o
Êxodo ao longo da rota traçada pelo Concílio Vaticano Ir' Se substituirmos
a letra maiúscula "E" do êxodo pela letra minúscula "e", êxodo, teremos o
que realmente aconteceu - e o êxodo continuará até que o catolicismo na
Inglaterra e no País de Gales desapareça no esquecimento no prazo de trinta
anos, talvez até antes. Sem uma intervenção divina, a "segunda Primavera"
da fé católica na Inglaterra prevista pelo Cardeal Newman (1801-1890) vai
acabar no mais sombrio dos invernos.
II. Os frutos da reforma litúrgica 77
134K. Jones, Index ofLeading Catholic Indicators. Endereço postal de KennethJones: 11939
Rd., #217, St. Louis, MO 63131. (www.catholicindicators.com)
135L. Bouyer, The Decomposition of Catholicism (Chicago: Franciscan Herald Press, 1970),
p. 1.
78 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
136
As projeções para o número de padres, paróquias sem padres, irmãos e irmãs em 2020
são fornecidas pelo Dr. James R. Lothian, professor de Finanças na Universidade Fordharn,
e são baseadas em números históricos juntamente com a média das idades e tendências.
80 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
O Concílio Vaticano II não foi tratado como uma parte do todo que é
a Tradição viva da Igreja, mas como o fim da Tradição, um novo co-
82 Michael Davies - Bombas-relógio litúrgicas no Vaticano II
meço a partir do zero. A verdade é que este Concílio particular não de
finiu nenhum dogma, e escolheu deliberadamente permanecer em um
nível modesto, como um Concílio meramente pastoral; no entanto, mui
tos tratam-no como se tivesse se transformado numa espécie de super
dogma que remove a importância de todo o resto. Essa ideia é reforçada
por coisas que estão acontecendo agora. Aquilo que antes era conside
rado mais sagrado - a forma como a liturgia era transmitida - de repente
aparece como a mais proibida de todas as coisas, a única coisa que pode
com segurança ser proibida.
após o Concílio Vaticano II. Com base na minha pesquisa, eu não posso
concluir que o rito de São Pio V 138 já tenha alguma vez sido revogado.
Alguns acham que foi. Outros têm uma visão diferente. E assim como
diz o ditado latino, in dubiis, libertas [onde há dúvida, há liberdade].
138Deve-se sublinhar que a Missa Tradicional em Latim tem muito mais do que quatro
séculos de idade e que o Papa São Pio V não promulgou um novo rito da Missa (Novus Ordo
Missae) em 1570. A essência da reforma de São Pio V foi, como a do Papa Gregório Magno
(590-604), o respeito pela tradição. Em urna carta ao The Tablet publicada em 24 de julho
de 1971, o padre David Knowles, que foi o mais ilustre estudioso católico da Grã-Bretanha
até sua morte em 1974, apontou: "O Missal de 1570 foi realmente o resultado de instruções
dadas em Trento, mas foi, de fato, no que diz respeito ao Ordinário, Canon, Próprio da época
e muito mais, uma réplica do Missal Romano de 1474, que por sua vez repetiu em todos os
aspectos essenciais a prática da Igreja Romana da época de Inocêncio III [1198-1216], que
derivou do uso de Gregório Magno e seus sucessores no século VU:' Além disso, há provas
incontestáveis de que o núcleo do nosso Canon tradicional, do Quam oblationem (a oração
antes da consagração), incluindo a oração sacrificial depois da consagração, existia já no
final do século 4. Ver páginas 16 e 39 do meu folheto A Short Story of the Roman Mass.
87
SUMÁRIO