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DE ODINRIGHT
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Tesouros Ocultos
O método judaico do primeiro século para entendimento
das Escrituras
loseph Shulam
e-mail ilanptwlniBdodwliam.br
BOD IMIMRDMVl
Joseph Shulam
índice
Introdução
Características textuais incomuns como um
catalisador para a midrash
As principais regras judaicas de interpretação das
Escrituras no primeiro século
A questão das mitzvôt (mandamentos)
A halachá judaico-messiânica
Os princípios da educação judaica
Bibliografia selecionada
1
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índice
145
Bibliografia selecionada
Introdução
Este livro é dividido em duas partes. A primeira oferece uma introdução básica
sobre os temas de hermenêutica e interpretação bíblica, explicando como a
interpretação judaica nos ajuda a compreender melhor o texto do Novo
Testamento. O livro contém capítulos que explicam os princípios exegéticos do
rabino Hillel, um famoso rabino do primeiro século que era presidente do
Sinédrio. Ele explica também o conceito de midrash e os quatro níveis rabínicos
de interpretação. Este livro irá fornecer ao leitor ferramentas úteis para o estudo
pessoal, trabalhos acadêmicos e exegese bíblica. O leitor encontrará muitos
exemplos de como os autores do Novo Testamento usaram métodos exegéticos
judaicos tradicionais para construir seus argumentos da Torá, dos Profetas e dos
Salmos.
O titulo deste livro vem de Istiis 45-3, que diz: mdar-te-ei os tesouros escondidos
e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel,
que te chama pelo teu nome.9
Os Editores
Prefácio
A Bíblia é uma coleção literária antiga. Ela foi escrita durante um período de mil
anos por diversos escritores sob muitas circunstâncias diferentes. Naturalmente,
se um documento tão antigo caísse nas mãos de um leitor moderno, ele
encontraria dificuldade para decifrar, ler ou compreender. Para poder
compreender a Bíblia, a ciência da hermenêutica desenvolveu-se tanto no
cristianismo como no judaísmo. O Novo Testamento foi escrito quase que
exclusivamente por judeus em um contexto histórico judaica refletindo as idéias
e os conceitos do povo judeu durante o primeiro século depois de Yeshua.
Este livro, embora pequeno em volume, é uma coletânea de artigos que lhe
permitirá dar um passo significativo na melhoria de sua compreensão da Bíblia,
dando-lhe ferramentas para compreender melhor a Palavra de Deus da forma
como os próprios escritores pretendiam que fosse compreendida.
De certo moda estes oito capítulos são uma síntese dos ensinos e palestras
ministrados por mim ao longo dos últimos anos. O rabino Paulo afirma, em 2
Timóteo 2:15, que devemos manejar corretamente a palavra da verdade. O
quesignifica isto? Se colocarmos a declaração de Paulo, “manejar corretamente a
palavra da verdade" em termos simples, significa ler a Palavra de Deus sem fazer
dela uma salada. Isto quer dizer que temos que discernir a diferença entre poesia
e narrativas na Bíblia. Ou seja, devemos colocar as coisas em seu contexto
histórico da melhor forma possível, antes de produzir doutrinas que dividam o
corpo de crentes com base em opiniões ignorantes. Isto significa que devemos
discernir entre as coisas que
são eternas e as coisas que são ad-hoc (apenas para uma finalidade específica).
Muitos de nós temos, literalmente, arriscado nossas vidas por aquilo que está
escrito na Bíblia. Especialmente em Israel, temos sido marginalizados,
rejeitados, perseguidos e difamados. Compete-nos, portanto, verdadeiramente
compreender os preceitos dentro das Escrituras e, naquilo que formos
questionados, devemos dar uma resposta que demonstre a esperança que há em
nós.
O rabino Paulo estudou com o grande professor Gamaliel que era o neto do
famoso HilleL Os primeiros princípios de hermenêutica (interpretação bíblica)
no judaísmo, contidos neste livro, foram codificados pelo rabino HilleL As
regras de interpretação que foram usadas pelos escritores do Novo Testamento
são as mesmas regras que foram usadas por todos os intérpretes judeus da Torá e
dos Profetas. Por essa razão, devemos fazer um esforço especial para entender
essas regras e utilizá-las, a fim de compreender melhor a Palavra de Deus.
O Senhor ponderava como Ele poderia saber qual dos Seus servos O servia por
temor e qual O servia por amor. Ele cnou um método que iria revelar este
conhecimento. Ele construiu um quarto cúbico, quatro por quatro, com apenas
um pequeno olho mágico de quatro por quatro. O Senhor colocou todos os Seus
servos dentro deste quarto. Aqueles servos que O serviam por temor
estavam naquele quarto. Estes diziam: use o Senhor quisesse que saíssemos deste
quarto Ele não o teria construído e nos colocado dentro dele.” Porém, os servos
que amavam o Senhor diziam: “queremos nos libertar deste quarto e juntar-nos
ao Senhor lá fora!” No entanto, o pequeno olho mágico era minúsculo, e eles
teriam que sofrer e perder muito peso para passar no orifício da porta e juntar-se
ao Senhor nos espaços abertos. Eles amavam tanto o Senhor que não poderiam
ficar fechados no quarto, mesmo sabendo que o Senhor o construiu e os colocou
lá. Eles queriam “sair” por força e violência do quarto e juntar-se ao Senhor que
estava sentado no Seu trono nos espaços abertos.1
11:12: “Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por
violência, e os que se esforçam se apoderam dele”
O profeta Miquéias diz que Deus colocará Israel no “aprisco de ovelhas.” Então,
aquele que “abre caminho” “romperá” e “o seu Rei irá adiante deles; sim, o
SENHOR, à sua frente” Toda a estória da midrash está aqui nas palavras do
profeta Miquéias. Yeshua captura tal estória, descrevendo a entrada no Reino de
Deus como um ato forçado e violento de sair e entrar no reino onde o Rei está,
fora do aprisco. Ele usa de forma rabínica o texto de Miquéias no âmbito de uma
“parábola”, demonstrando as palavras do profeta em relação ao “Rei e Senhor
que sai à frente” de toda a multidão.
Este texto da Midrash de Tana Debi Eliyahu é uma boa demonstração de dois
grandes temas: 1) Deus não é legalista. Aqueles que O amam são os que querem
estar com Ele nos espaços abertos muito mais do que estar sob a proteção legal
dos limites dos Mandamentos da Torá. 2) É mais importante amar a Deus do
que estar enclausurado pela Halachá (sistema jurídico) da Torá.
Que Deus possa fortalecer a sua fé, sua compreensão, sua sabedoria e sua
coragem enquanto você se esforça para conhecer o Senhor de maneira mais
profunda e servi-LO em espírito e em verdade.
Joseph Shulam
Pnmeira Pane:
Métodos judaicos para interpretação dos Textos
Sagrados
Capítulo 1
Toda vez que lemos as palavras que alguém escreveu, temos que “traduzi-las”
em nosso próprio cérebro para que possamos compreender o seu sentido.
Qualquer tipo de “tradução” naturalmente também exige interpretação. Assim,
bons métodos de hermenêutica devem permitir-nos compreender o sentido mais
próximo possível da intenção original do autor. Este processo se torna muito
mais difícil com a Bíblia porque temos que tentar discernir as intenções de
ambos os autores, o divino e o humano, no contexto original, aplicando o texto
às nossas vidas e em nosso próprio contexto moderno também.
mesma com que um cristão interpretaria o mesmo texto. Além disso, o período
de tempo no qual as pessoas vivem tem um impacto sobre a sua interpretação da
Palavra de Deus. Mesmo com todas as dificuldades envolvidas na tentativa de
interpretar corretamente partes da Bíblia que às vezes são difíceis de entender,
devemos ser gratos por termos a facilidade de acesso à Palavra escrita de Deus.
Assim, a orientação e a ajuda Dele estarão “na ponta de nossos dedos”
diariamente.
Nos tempos do Antigo Testamento, alguém que queria saber a vontade de Deus
tinha que fazer muito mais do que simplesmente abrir uma Bíblia. Como as
pessoas não tinham os pergaminhos da Torá em suas casas, elas tinham que ir
aos seus profetas e sacerdotes, que eram o meio de comunicação entre Deus e o
povo e o povo e Deus. Elas não tinham acesso ao texto. Ou o profeta lhes dava a
resposta de Deus, ou o sacerdote usava os instrumentos do “urim” e “tumim”
para lhes dizer “sim” ou “não”. Havia também uma maneira de usar o peitoral do
sacerdote com as doze pedras preciosas para obter a resposta de Deus às
perguntas.
Eu moro em uma colina fora de Jerusalém, e logo abaixo da minha casa existe
uma nascente de água natural. Esta é exatamente a mesma fonte de Ramá dos
tempos bíblicos, onde Saul e seus servos foram procurar os seus jumentos
perdidos em 1 Samuel 9. O versículo 6 daquele capítulo diz que após ter
procurado inutilmente por algum tempo, o servo de Saul lhe disse: “Nesta cidade
há um homem de Deus, e ele é muito estimado; tudo quanto ele diz sucede;
vamo-nos, agora, lá; mostrar-nos-á, porventura, o caminho que devemos
seguir.” Este é um exemplo de pessoas indo ao profeta quando precisavam de
ajuda sobrenatural para seus problemas. O Tanách nunca
diz em lugar algum: “quem quiser conhecer a vontade de Deus deve ler um texto
da Bíblia”
Os discípulos de Yeshua são hoje influenciados por uma visão de mundo muito
protestante. Martinho Lutero e a reforma protestante mudaram a maneira de se
entender a comunicação com Deus. Como os fariseus do primeiro século a.C. e
d.C., a reforma protestante realmente se concentrou na comunicação com Deus
através do texto da Palavra de Deus. Isto geralmente não é uma verdade para as
pessoas de crença católica. A principal comunicação nas igrejas
históricas (católica e ortodoxa) entre o povo e Deus é através do sacerdote (ou
padre). Esta posição está mudando e sendo modificada o tempo todo, mesmo na
Igreja católica. O Concilio Vaticano II reverteu a resolução anterior que
recomendava que as pessoas não lessem a Bíblia. Em muitas partes do mundo
católico, no entanto, muitas pessoas ainda dependem de seus sacerdotes para
dizer-lhes a vontade de Deus. Na verdade, a leitura da Palavra de Deus não é
considerada uma forma de discernir a vontade de Deus para o público em geral.
Pode ser uma surpresa para muitos estudantes da Bíblia saber que o primeiro
grupo de pessoas que começaram a estudar o texto das Escrituras para saber a
vontade de Deus foram os fariseus em Jerusalém. Eles causaram uma
revolução na compreensão da vontade de Deus porque disseram que a Bíblia era
para todos e não apenas para os profetas e sacerdotes. O conceito de um
indivíduo ser capaz de ler a Bíblia e descobrir a vontade de Deus analisando o
texto com a sua mente, com lógica e com uma ênfase na gramática e na língua,
foi uma grande e fantástica revolução que os fariseus iniciaram.
Hoje, quase todo mundo tem Bíblias, e a maioria das línguas até têm várias
traduções também. Nos tempos bíblicos, no entanto, as pessoas não tinham os
livros da Bíblia, nem mesmo a Torá. Esta ficava dentro do Templo e somente os
sacerdotes a estudavam. O típico agricultor da Galiléia nunca veria um rolo da
Torá. Apenas os sacerdotes e os membros da escola dos profetas podiam estudar
a Palavra de Deus, e a maioria deles provavelmente nem mesmo tinha o texto
inteiro da Bíblia à sua disposição. Foi somente após a revolta dos Macabeus
contra os gregos e o primeiro Chanukah no século II a.C. que os fariseus tiveram
a idéia revolucionária de que a Bíblia “é para todos!” Mas por que a
interpretação pessoal, o estudo da Bíblia e a formação de midrash tornaram-se
populares exatamente neste período da história? O Dr. Michael Fishbane, da
Universidade de Chicago, explica da seguinte maneira: “O fechamento do cânon
das Escrituras (no início da era comum) muda fundamentalmente as coisas. É
um evento de transformação, pois com este fechamento não pode haver novas
inclusões ou complementações ao texto bíblico de fora(...); o resultado é que o
extenso (mas delimitado) discurso das Escrituras é remodelado como as
multiformes expressões da revelação divina começando com as letras individuais
de suas palavras, e incluindo todas as frases e sentenças das Escrituras. Tudo isso
se torna os constituintes de possibilidade na abertura das Escrituras a partir dela
própria ”3
Desde o século III a.C. existe uma tradição de interpretação bíblica. Todo mundo
tem uma tradição para entender a Bíblia, quer tenha aprendido formalmente de
um professor
ou não. Esta rica tradição de interpretação pode ser muito útil quando nos
deparamos com um texto difícil, mas também pode fechar a mente de uma
pessoa para a possibilidade de uma interpretação alternativa que ela
simplesmente nunca ouviu antes.
O método PaRDêS
Não importa quais são as origens de um texto, cada um deles tem muitas opções
de interpretação. Por exemplo, quando a maioria das pessoas lê um jornal, elas
entendem o seu sentido simples. A maioria das pessoas não tenta ler as
entrelinhas de uma simples notícia. Por outro lado, qualquer pessoa que conheça
os escritores pessoalmente ou que tenha vivenciado os acontecimentos por trás
da notícia escrita, entende o que não está dito no texto. Ela pode entender o que
está apenas insinuado no texto. Cada texto tem o sentido claro e o sentido oculto
e insinuado, que às vezes só pode ser discernido nas entrelinhas. Os advogados
são peritos nesta área. Eles vêem o sentido oculto que a pessoa comum (que não
entende os textos legais) não pode perceber à primeira vista. As pessoas comuns
têm que se concentrar e ler os textos muitas vezes para compreender sas
nuances. Cada texto tem o sentido claro e óbvio, como também o sentido oculto
e insinuado.
que a antiga KGB o estava escutando, e ele também sabia disso! Imediatamente
entendi o que ele quis dizer, então perguntei se ele queria celebrar o seu
aniversário em um restaurante Italiano ou Grego. Visto que eu o conhecia e sabia
quando era o seu verdadeiro aniversário, entendi o que ele quis dizer
nesta conversa. Ele estava me dizendo que queria sair da Bulgária, então o
perguntei se ele queria fugir pela Itália ou Grécia. A conversa toda foi
codificada, por isso quem não o conhecia pessoalmente não poderia ter
entendido o que estávamos falando.
Até agora examinamos três métodos de interpretação. Um método estuda o texto
bíblico usando o sentido gramatical básico das palavras. Este método é chamado
p'shat> que significa “simples” ou “literal”. Em segundo lugar, há o sentido em
que os textos fazem alusão a algo, embora não esteja declarado obviamente. Este
método indireto é chamado rêmez, em hebraico. Em terceiro lugar, pode também
haver um sentido secreto que somente os iniciados podem compreender. O
hebraico refere-se a este sentido como sód, que significa “segredo.” Há também
um quarto tipo de compreensão chamado drash, que quer dizer “associação.” O
drash leva em consideração não apenas o que está escrito, mas também o que é
lembrado pelo leitor quando o texto é lido. O método drash examina não
somente o texto principal que está sendo estudado ou interpretado, mas também
quaisquer outros textos sagrados que são associados ao texto principal.
Quando se associa estes textos, pode-se aprender algo que não se entendeu
anteriormente. O drash é o método mais difícil de ser conceituado, uma vez que
requer a compreensão da conexão entre os textos.
Eis uma ilustração deste quarto método. Quando Yeshua nasceu em Belém, e
Herodes ouviu a notícia, ele queria eliminar a possibilidade de qualquer outro rei
reinar em Israel. Portanto, ele ordenou que todos os bebês até dois anos de idade
fossem mortos em Belém. Um anjo apareceu a José em um sonho e o advertiu
sobre este perigo, então José e Maria tomaram Yeshua e fugiram para o Egito.
Alguns anos mais tarde um anjo lhes disse que Herodes havia morrido e que eles
deveriam voltar para Israel. Quando Mateus descreve este evento, ele diz
que isso aconteceu para cumprir um texto em Oséias que diz: “Do Egito chamei
o meu filho!' Muitos intérpretes têm problemas com esta citação porque o texto
original em Oséias 11:1 não tem absolutamente nada a ver com Yeshua. Na
verdade, o texto tem um contexto muito negativo quando ele é usado em Oséias.
O que acontece é que Yeshua foi chamado do Egito e os filhos de Israel, que
também são referidos como “filhos de Deus”, foram chamados do Egito
também. Mateus associou um acontecimento com as palavras de outro texto, que
referia-se a um texto anterior, fazendo uma midrash (lógica
associativa). Relacionar a expressão “saindo do Egito” com o texto em Oséias
que tem as mesmas palavras, foi útil para conectar os dois acontecimentos
históricos e mostrar seus paralelos.
Uma vez, quando eu estava no ensino médio nos Estados Unidos, um professor
perguntou aos alunos na capela: “O que Jesus significa para vocês?” Foi uma
pergunta muito boa, e diferentes alunos deram respostas diferentes. Um
aluno levantou sua mão e disse: “Jesus significa para mim o meu cachorro
Rover!” Todos começaram a rir! No entanto, anos mais tarde quando pensei
sobre este acontecimento, entendi que o aluno foi muito sincero. Ele amava seu
cachorro, e o cachorro o consolava. Quando ele pensou em Yeshua e
como Yeshua o consola ou se relaciona com ele, ele associou
esse relacionamento com o que ele tinha com seu amado cão Rover. Aquela foi a
sua associação pessoal e particular, e nada há de errado com isso.
O problema surge quando as pessoas começam a associar sem regras, pois isso
pode se transformar em um exercício sem limites. A idéia de associação, a
drashy tem que ter regras e razões. Não se pode sair por aí tirando as coisas de
seus contextos para fazer um texto dizer o que se quer.
Eu não sabia como responder! Então eu disse: “Essa é uma idéia interessante,
mas isto significa que não podemos ser irmãos! Nós dois cremos em Yeshua,
mas se temos mães e pais diferentes, podemos apenas ser primos.”
Então ele abriu sua Bíblia e, lendo um texto do livro de Levítico, disse: “Veja
aqui, havia dois bolos de cevada ungidos com óleo oferecidos no dia de Shabat.
Um é Israel e o outro é a Igreja.”
Eu perguntei: “Como você tirou isso deste texto? Onde diz que um bolo é Israel,
e outro é a Igreja?”
Este tipo de problema acontece o tempo todo, e as pessoas querem falar sobre o
“sentido espiritual” do texto. Na verdade, usar os níveis de PaRDêS pode levar a
boas conclusões e interpretações “espirituais,” mas elas têm que fazer
sentido com o significado literal também. Existem quatro tipos de compreensão,
mas eles não podem ser aplicados freneticamente ou sem regras.
Existem frases nos Evangelhos que não fazem sentido em grego porque elas
procedem do Hebraico. Lucas 9:51 diz, por exemplo, que Yeshua “ajustou seu
rosto para ir a Jerusalém” (tradução literal do grego original). Esta não é de
forma alguma uma expressão grega, e uma pessoa de língua grega
poderia perder totalmente o significado, uma vez que em grego isso literalmente
diz: “Ele tomou o seu rosto e virou-o em direção a Jerusalém.” Soa como se
Yeshua torcesse o seu pescoço e virasse o rosto para Jerusalém, para que pudesse
olhar naquela direção. Esta expressão é na verdade o que chamamos
de “hebraísmo”, e simplesmente significa que Ele começou a ir em direção a
Jerusalém. Somente aplicando uma hermenêutica judaica a estes textos judaicos
é possível explicar alguns de seus problemas textuais.
Inspiração e Escritura
Esta visão de inspiração altamente conservadora diz que toda palavra na Bíblia
vem de Deus. Isto cria um problema porque os manuscritos originais não
existem mais. Ninguém que está vivo hoje viu o texto que Moisés escreveu ou
qualquer coisa com a letra original de Isaías ou a carta original de Paulo aos
coríntios. Aqueles que crêem na teoria do ditado têm que acreditar que o texto
inspirado final é o “autógrafo original” que os escritores receberam de Deus. O
problema é que nenhum dos textos antigos foi escrito em inglês, alemão ou
português. Assim, a Bíblia que a maioria das pessoas lê em sua língua nativa
não pode ser “inspirada”, de acordo com esse entendimento. Como a maioria das
línguas tem várias traduções da Bíblia, qual delas foi inspirada por Deus? Isso
cria uma dificuldade.
Isto é importante porque não podemos ignorar o fato de que há uma série de
problemas nos textos bíblicos. A Bíblia contém quatro evangelhos, então é
importante questionarmos o por quê. Um Evangelho seria suficiente, porém, três
deles são sinópticos (o que significa que contam basicamente a mesma estória).
Todavia, estes três evangelhos sinópticos às vezes diferem um do outro nos
detalhes que contam e nas palavras que usam. Cada um deles conta a estória do
seu próprio ângulo. Para aumentar a confusão, o Evangelho de João tem todos
os relatos em uma ordem completamente diferente e com uma ênfase totalmente
diferente. Se eles foram ditados por Deus, então Deus deveria ter ditado uma
estória simples e verdadeira, e não causado toda esta confusão.
Mesmo que uma pessoa não consiga resolver essas questões, não se pode negar
que estes são graves problemas. Nós baseamos nossa vida no que está escrito na
Bíblia. As pessoas querem me matar em Israel por causa do que está escrito
na Bíblia! Tenho sofrido muito porque eu acredito que Yeshua é o Messias por
causa do que está escrito na Bíblia! Muitos dias
e horas de nossas vidas são gastos em estudo, ensino, louvor, canções e orações
por causa disso. Portanto, temos que levar a Bíblia muito a sério.
Esses tipos de problemas provam que a inspiração não é um “ditado”, mas sim,
um registro. Deus não usou os profetas como robôs ou máquinas de escrever.
Quando Deus falou, eles repetiram o que Ele disse dentro do caráter
individual do profeta, de acordo com seus estilos próprios e pontos de vista.
Deus expressou Seus sentimentos e a Bíblia é a expressão correta desses
sentimentos e opiniões. Esta é uma das diferenças entre as definições e visões
gregas e do Oriente Médio sobre a “verdade”. Na visão ocidental ou grega, a
verdade corresponde apenas aos fatos, mas na definição bíblica e do
Oriente Médio, a verdade não inclui somente os fatos, mas também
os sentimentos. Os sentimentos são tão verdade quanto os fatos. Eis aqui uma
demonstração:
Bem, isto realmente aconteceu e esses são os fatos. É assim que foi registrado
para o relatório de seguros, mas não era toda a verdade. Este relatório não diz
como eu me senti ou que emoções experimentei durante aquele acontecimento.
Se eu contasse a mesma estória como um típico judeu israelense, soaria assim:
Os fatos são verdadeiros, mas há mais do que fatos no texto bíblico. A palavra de
Deus deve evocar sentimentos em nós. Para isso, às vezes ela usa técnicas
diferentes. A linguagem do Oriente Médio às vezes soa como um exagero. “Toda
a Galiléia veio para ouvi-Lo” não é rigorosamente verdade; é um
exagero. Provavelmente houve pelo menos uma avó idosa que não veio para
ouvi-Lo. Se houve pelo menos uma pessoa que não veio, então não foi toda a
Galiléia que veio para ouvir Yeshua. A Bíblia é um documento judaico do
Oriente Médio. Portanto, deve ser compreendida nesses termos. “Toda” não
significa sempre “cada pessoa”, mas sim, uma maioria representativa. Há muitos
destes exemplos e isso se tornará mais claro posteriormente em nosso estudo.
ajuda no confronto com um problema textual porque significa que cada pequena
questão não deve abalar uma pessoa e fazê-la perder sua fé.
Um dos melhores exemplos nas Escrituras foi o discurso de Estevão. Ele era um
homem inspirado que estava perto de Deus. Ele era um servo de Deus e um dos
diáconos que foi nomeado para alimentar os órfãos e viúvas judias
gregas. Apesar de ser um homem cheio do Espírito Santo, ele cometeu erros. Por
exemplo, em seu discurso de Atos 7:16, ele disse que Abraão comprou uma
caverna para enterrar seu morto em Siquém. No entanto, o texto de Gênesis diz
claramente que Abraão comprou uma caverna em Hebrom, não em Siquém, e
eles não são o mesmo lugar. Então, este texto é inspirado ou não? Sim, ele foi
inspirado! Registrou-se as palavras de Estevão. O Espírito Santo registrou o que
ele disse através dos ouvidos daqueles que o ouviram, e estes registraram a
verdade. Estevão cometeu um erro, mas o registro é verdadeiro. Este é um
ponto muito importante.
Atos 7:14 registra outro erro cometido por Estevão em seu discurso. Ele disse
que 75 almas desceram ao Egito, mas Êxodo 1:5 diz que 70 pessoas foram para o
Egito. Isso é o que Estevão realmente disse, e alguém inspirado registrou
fielmente suas palavras. O que é inspirado aqui é o registro do discurso
de Estevão e como ele o declarou.
existam é ensinar coisas que não estão escritas no pshat, utilizando para isso a
comparação dos dois textos, o método drash. Associar os textos permite uma
compreensão de algo novo que não está explicitamente escrito em qualquer
um deles. Juntar todos esses elementos é como tomar a farinha, água, ovos e
manteiga e juntá-los para fazer um bolo. Embora todos esses ingredientes
possam ser comidos separadamente, eles não terão um sabor tão bom quanto o
de um bolo. Usar somente o pshat é como comer a manteiga por si só, mas Deus
permitiu que todos os textos sinópticos e os problemas encontrados neles
existissem para que o leitor pudesse fazer um “bolo interpretativo” muito
saboroso, juntando todos os “ingredientes”.
1
Tana Debi Eliayahu, Ish Shalom Edition. p. 82.
2
Lategan, Bernard C. “Hermeneutics.” ABD. Vol. 3. London: Doubleday, 1992, p. 155.
3
Fishbane, Michael. “A Midrash e o Significado da Escritura.” A Interpretação da Bíblia: Simpósio
Internacional na Eslovênia. Ed. Joe Krasovec. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1998, p.552.
Características textuais incomuns como um
catalisador para a midrash
as quais sâo maiores do que todas as outras letras. Estes nuns emolduram o
versículo, mas não estão associados a qualquer palavra. Obviamente, surgem as
perguntas: como se poderia traduzir esse estranho fenômeno e por que ele está
ali?
como está no texto massorético, mostra que faltou alguma coisa, pois não há o
registro do que Caim disse a Abel. Essa informação em falta é um convite para
uma midrash, e levou muitos diferentes comentaristas judeus a especular sobre o
que foi a conversa entre eles.
Filo de Alexandria disse que eles tiveram uma discussão filosófica, e outros
intérpretes judeus disseram que eles discutiram sobre a quem pertenciam a terra
e o ar. Outra interpretação rabínica diz que Caim e Abel discutiram sobre qual
sacrifício seria o melhor, o que parece ser a visão que o autor de Hebreus traz.
Há problemas mecânicos com as letras do texto que parecem saltar para fora e
dizer: “explique-me!”. Se há pontos incomuns sobre as letras ou letras que são
impressas maiores do que outras, um bom rabino diz que não é um erro, mas sim
uma parte da inspiração do texto. Deus deu estas tradições como símbolos para
que pudéssemos pensar profundamente sobre o que Ele realmente está nos
dizendo. Estas são as características que fazem uma midrash acontecer.
ocorra no meio da palavra e não no fim.1 Para descobrir porque há um mem final
ou fechado nesta palavra, os rabinos tentaram examinar o contexto da passagem,
que está claramente falando sobre O Messias e a redenção. O Radak (Rabino
David Kimchi) escreveu comparando este mem fechado no meio da palavra com
um lugar em Neemias 2:13 onde há um mem aberto no final de uma palavra na
passagem sobre os muros de Jerusalém sendo derrubados. Ele disse: “Lamarbeh
há-misrah- Para o aumento do seu poder: o mem está escrito fechado,
embora deva ser lido como um mem aberto. O oposto acontece em Neemias no
mem de lahem prutzimy (eles foram derrubados), no qual o mem no final da
palavra está escrito aberto. Há uma drash nesta questão que quando os muros de
Jerusalém, que permaneceram derrubados durante todo o tempo do exílio, forem
reerguidos, então, no tempo da salvação, os lugares derrubados serão reerguidos
e o poder que tinha sido fechado será aberto para o Rei Messias.”2
A explicação rabínica para este mem fechado no meio de uma palavra, o qual
ocorre somente uma vez em toda a Bíblia, ensina que em vez de um erro de
impressão, este texto acaba por conter uma midrash. Na verdade, são
os “problemas” do texto que motivam a midrash a acontecer. Na visão judaica de
inspiração, Deus usa continuamente a Bíblia com todas as suas anormalidades
para nos fazer entender a Sua revelação.
Famílias de textos
outro escriba estava copiando aquele pergaminho centenas de anos mais tarde,
ele tinha que decidir se colocava aquelas palavras de volta no texto onde ele
achava que elas deveriam estar ou se as mantinha nas margens. Qualquer um que
olhar as cópias originais dos manuscritos do Mar Morto pode ver que este
problema aconteceu com muita frequência. Os textos dos manuscritos do Mar
Morto frequentemente provam ser originários de uma família de textos diferente
daquela dos textos da Septuaginta ou dos Massoréticos (o texto Bíblico aceito
oficialmente dentro do judaísmo e da maioria do cristianismo também). O mais
antigo manuscrito de um texto Massorético data do séc. X d.C.
Essas diferenças dentro das famílias textuais às vezes causam variantes textuais
interessantes como a seguinte: Amós 9:11-12, diz: “Naquele dia, levantarei o
tabernáculo caído de Davi, repararei as suas brechas; e, levantando-o das suas
ruínas, restaurá-lo-ei como fora nos dias da antiguidade; para que possuam o
restante de Edom e todas as nações que são chamadas pelo meu nome, diz o
Senhor, que faz estas coisas”
Por outro lado, o texto em Atos 15:16-18 que cita estes versos diz: ‘Cumpridas
estas coisas, voltarei e reedificarei
ao texto Bíblico muito mais tarde pelos massoretas, após o séc. VII d.C. Sem os
pontos das vogais, a palavra poderia ser lida ou como adam (homem ou
humanidade) ou Edom. Ou seja, ninguém cometeu erro aqui. Uma vez que o
texto deixou uma porta aberta para ambigüidade, Tiago sentiu que poderia
aprovar a entrada dos gentios na comunhão com os santos sem terem que se
converter oficialmente ao judaísmo (sem a necessidade da circuncisão), pois esta
era a promessa profética de Deus. Exatamente contrário à leitura de Tiago,
os rabinos mais tarde leram o mesmo texto como Edom ao invés de adam porque
eles usavam Edom como uma palavra código para representar o maligno império
cristão dominando-os de Roma. Como não podiam falar abertamente contra
Roma, eles fizeram uma midrash deste texto que se referia ao eventual domínio
dos judeus sobre Edom (o império romano).
Tiago queria basear a decisão do conselho dos apóstolos em uma passagem dos
profetas, por isso ele cita a passagem de Amós: “Mais tarde Eu restaurarei o
tabernáculo caído de Davi, e reconstruirei suas ruínas” Em seguida, o versículo
12 dá o motivo para Deus fazer esta promessa como uma maneira de ajuntar e
restaurar o resto da humanidade. O versículo 13 explica melhor. O tabernáculo
de Davi seria restaurado para que todas as nações pudessem receber a salvação.
Esta profecia não é somente para Israel, mas também para o mundo. Tiago
defendeu seu ponto fazendo uma midrash de acordo com a sua compreensão de
Amós. O seu raciocínio foi o seguinte: visto que os profetas prometeram que
a reconstrução do tabernáculo de Davi incluiria os gentios (as nações), não
vamos forçar os gentios agora a tomar sobre si a Lei de Moisés, uma vez que isto
já foi prometido pelos profetas. Deus já tomou a responsabilidade de incluí-
los em Sua aliança. Então, vamos pedir aos gentios para fazer o mínimo e
guardar as quatro leis dadas a Noé antes da entrega da Torá no Monte Sinai.
Estas leis Noéticas dizem para abster-se da idolatria, da imoralidade sexual, do
derramamento de sangue e de comer sangue. Já que Deus ordenou a Noé e seus
Para resumir o que acabamos de explicar, o texto do Tanách foi transmitido por
diferentes famílias de tradições de escribas. Apenas três destas famílias de textos
sobreviveram. Em primeiro lugar, os rabinos transmitiram o texto
Massorético, que é o texto bíblico padrão no mundo judaico de hoje.
Em segundo lugar, o mundo de língua grega transmitiu o texto bíblico
traduzindo a Septuaginta grega do hebraico, e ambas as Bíblias, Siríaca e a
Vulgata Latina (incluindo seus derivados), são baseados nesta tradição textual
grega. A terceira tradição textual só foi descoberta recentemente, quando os
Manuscritos do Mar Morto foram encontrados, em 1948. Há também
outra família textual dentro da tradição Samaritana, mas eles têm somente a Torá
e não o restante da Bíblia. Cada uma destas tradições possuem passagens onde a
leitura de um texto é melhor do que em outra. A leitura de Amós na
Septuaginta é melhor do que a leitura no texto Masorético, mas o
texto Massorético é melhor em alguns lugares como os Salmos 8,16, e 22.
Qumran é ainda tão novo que a maioria das pessoas não está familiarizada com
qualquer leitura alternativa proveniente dos Manuscritos do Mar Morto.
Mandamentos e exemplos
Hoje, todos nós somos parte da revolução farisaica que diz que podemos
descobrir a vontade de Deus pelo texto da Bíblia. No entanto, o texto da Bíblia
contém diferentes níveis de revelação prática. Por exemplo, “amai uns aos
outros” é uma ordem direta, e não há pergunta alguma sobre se
devemos obedecê-la ou não. Yeshua ordenou a seus discípulos: “Ide por todas as
nações e fazei discípulos, ensinando-os a obedecer tudo que Eu vos tenho
ordenado.” Esta também é uma ordem sobre a qual não pode haver dúvida.
Mandamentos diretos normalmente não requerem um sôd, um rêmez, ou
uma midrash para serem compreendidos.
Há, no entanto, outras formas pelas quais Deus se comunica conosco através da
Sua Palavra. Às vezes, Ele se comunica através de exemplos positivos e
negativos. Lendo sobre o que fizeram os primeiros crentes, nós podemos
aprender alguns princípios importantes para hoje. Ananias e Safira são
exemplos negativos em Atos que nos mostram como não nos
comportar, enquanto Dorcas é um exemplo positivo da importância de ajudar o
pobre e de como Deus recompensa aqueles que cuidam dos necessitados.
mais, e o pastor não é o Sumo Sacerdote. Que direito têm os pastores modernos
de tomar algo que tinha sido designado para o povo judeu no contexto dos
sacerdotes e levitas em Jerusalém e aplicar isto às suas congregações locais?
Como é que sabemos que devemos pagar um salário ao pastor, ao pregador ou ao
evangelista?
Quando as pessoas hoje dão o dízimo em suas congregações, para quem vai o
dinheiro? No Tanách, se alguém tivesse um cordeiro e quisesse dar um presente
ao Senhor, ele o levaria ao sacerdote e o queimaria sobre o altar. O sacerdote
tomava o seu pedaço e o que sobrava era queimado. Todavia, o cordeiro era dado
ao Senhor. No Novo Testamento, Paulo disse que ele estava coletando dinheiro
para os crentes pobres em Jerusalém (Rm 15:26). Ele nunca disse que seria uma
oferta para o Senhor. No
entanto, na Torá, quando as pessoas davam dinheiro ao pobre, isto também era
considerado uma oferta ao Senhor. A Torá ordenou o povo a trazer os sacrifícios
e a dar vários diferentes tipos de dízimos. Eles tinham um dízimo para os
sacerdotes e levitas e também tinham que deixar algumas de suas colheitas no
campo para alimentar os pobres. Os israelitas antigos tinham diferentes tipos de
doações, mas o Novo Testamento nunca ordena a dar o dízimo. Portanto, para
que um pastor hoje possa pedir o dízimo, ele deve formar uma halachá de
um exemplo ao invés de mostrar um mandamento, uma vez que este não existe
no Novo Testamento. Lembre-se que halachá significa “andar,” e nós queremos
saber como andar pela fé em nossas vidas diárias.
1 Coríntios 16:1-2 diz: “Quanto à coleta para os santos, fazei vós também
como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós
ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que
não se façam coletas quando eu for" Estes dois exemplos lidam com o
mesmo contexto em que Paulo estava levantando dinheiro de suas congregações
para ajudar os pobres em Jerusalém. A única
Tanto a Igreja como o povo judeu fazem muitas coisas que não foram ordenadas
diretamente nas Escrituras. Uma delas é a reunião no fim de semana. O Novo
Testamento nunca ordena a igreja a se reunir todo Domingo. Existem
exemplos apenas de crentes se reunindo. Em Atos 20:7, vemos que os discípulos
se reuniam aos sábados à noite: “No primeiro dia da semana, estando nós
reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia
imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite.” A partir daí, os
cristãos desenvolveram uma tradição de se reunirem no primeiro dia da semana
ocidental, que é domingo. Hebreus 10:25 nos instrui a não negligenciarmos as
nossas reuniões, mas nunca especifica com que frequência estas reuniões
deveriam acontecer. Os judeus ortodoxos se reúnem para orar duas ou três vezes
todos os dias baseados no exemplo das três ofertas diárias oferecidas no Templo.
Por outro lado, os cristãos baseiam a idéia de uma reunião semanal aos
domingos no exemplo desta passagem de Atos 20.
loterias porque não temos qualquer ordem ou exemplo disso. O grande modismo
atual de se ter louvor e adoração com música, bandas, bailarinos e tamborins,
não vem do Novo Testamento. Na verdade, o Novo Testamento nos diz apenas
para cantar e nunca menciona qualquer coisa sobre instrumentos. O costume
atual de usar instrumentos é tirada de exemplos de textos no Antigo Testamento.
Outra coisa que fazemos pelo exemplo é a Ceia. Yeshua ordenou aos Seus
discípulos na noite da Páscoa: “Fazei isto em memória de mim,” referindo-se ao
partir o pão. Ele nunca disse com que frequência deveríamos celebrá-la, mas
sabemos que devemos celebrá-la porque Ele ordenou. É por isso que algumas
igrejas hoje têm comunhão todo dia, algumas uma vez por semana, algumas uma
vez por mês e outras apenas uma ou duas vezes ao ano. Tudo que nós temos são
exemplos do modo como a Igreja do primeiro século operava. Os
exemplos interpretam o mandamento. Os exemplos constituem uma midrash
simples.
A dificuldade surge hoje porque nós vivemos no século XXI, em uma cultura
diferente, e temos necessidades diferentes das que eles tinham no primeiro
século. Nós temos que continuar fazendo midrash e usando exemplos bíblicos
para atender às necessidades de nosso próprio contexto cultural. Para fazer isto
corretamente, não podemos ignorar a Torá. Quando líderes cristãos que se
opõem à fé Messiânica dizem: “Nós não precisamos da Torá”, ou ainda, “O
Velho Testamento não deve ser algo normativo para a vida do cristão”, eles
deveriam parar de pedir ao seus membros para darem o dízimo, uma vez que
o único lugar que fala sobre dízimos é no Antigo Testamento. Se uma pessoa
rejeita a Torá, então ela teria que rejeitar também o
princípio de entregar o dízimo. Por que tantos cristãos tomam louvor e adoração
ou dízimos e prosperidade do Antigo Testamento, e rejeitam todo o resto? É
hipocrisia dizer, “A Torá já acabou e não se aplica a nós,” e escolher guardar
apenas o que é “interessante” da Torá, jogando fora todo o resto. Quando os
judeus vêem que os cristãos tiram e escolhem, tem-se um péssimo testemunho
de integridade e coerência religiosa.
Midrash aggadá
Vamos agora examinar o conceito de midrash aggadá, a midrash que conta uma
estória em grande profundidade. Hebreus 11, o famoso capítulo da fé que conta
as histórias dos fiéis filhos de Deus, é todo baseado na midrash aggadá. Um
exemplo clássico vem dos versículos 8 a 10. “Pela fé, Abraão, quando chamado,
obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu
sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em
terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da
mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual
Deus é o arquiteto e edificador.” O que fez o autor de Hebreus achar que Abraão
não quis herdar Jerusalém, Hebrom, e Siquém da maneira que Deus
instruiu? Deus disse a ele, “Vá para a terra que Eu te mostrarei, e Eu te darei a
terra! Aonde você pisar será seu!” Consequentemente, é surpreendente quando,
de repente, de acordo com Hebreus, Abraão não estava nem mesmo interessado
na terra de Israel. O autor de Hebreus fez uma midrash na qual Abraão
estaria interessado em outro país totalmente baseado em suas palavras aos filhos
de Hete, em Gênesis 23:4, quando queria sepultar Sara. Ao dizer: “Sow
estrangeiro e morador entre vós\ ele deixou
claro que não estava interessado em possuir qualquer terra em Israel exceto a
caverna na qual ele sepultaria sua esposa. O que o autor de Hebreus diz não está
explicitamente declarado na Torá, mas ele obtém esta idéia de conceitos não
explicados que estão escritos na Torá.
Capítulo 2
1
Ê essencial para a compreensão deste conceito a regra que, em hebraico, há dois tipos de mems: um
que é “aberto" ( G ) e pode ocorrer no começo ou no meio da palavra, e outro que é “fechado” (0 ) e
ocorre somente no final das palavras.
2
Comentário de Radak sobre Isaías 9:6
3
Tradução em português extraído de The Minor Tractades of the Talmud. Ed.Rev.
Existem aqueles que dizem que “acreditam somente na Bíblia e nada mais.” O
problema com esta idéia, porém, é que a Bíblia é um livro, e como tal só pode
ser compreendido através da aplicação das regras normais de lógica e linguagem
que são aplicáveis à interpretação de qualquer literatura. A verdade é que a
Bíblia contém muitos tipos diferentes de literatura, e cada gênero tem suas
próprias regras de interpretação. Não se lê um jornal como se lê uma poesia. Não
se lê um livro de direito como se leria uma carta pessoal ou um romance.
Tempo, lugar e circunstâncias afetam a forma com que todos os textos escritos
são lidos e compreendidos.
formuladas por Hillel, o ancião (60 a.C. - 20 d.C.)1 Aqui está um pequeno
resumo destas sete regras com alguns exemplos tanto do Tanách como do Novo
Testamento:
1. "ovn
Kal Va-hômer
(Leve e pesado ou afortiori)
Vamos começar com o primeiro princípio hermenêutico, conhecido como kal va-
hômer, um argumento descrito em latim como afortiori, ou em português como
“do menor para o maior.” Embora à primeira vista este possa parecer um
conceito confuso, ele se tornará mais claro quando o examinarmos mais de perto.
As Escrituras estão repletas deste princípio, então cabe a nós compreendê-lo.
Uma conclusão prática que pode ser tirada do uso de kal va-hômer em geral é o
fato de que há diferentes níveis de pecado. Este conceito tem sido muito mal
interpretado, mas a Torá ensina a diferença entre pecados “grandes” e
“pequenos”. É claro, Deus em Sua santidade completa não pode fazer
vista grossa a qualquer pecado, mas a Torá ensina quais pecados são mais graves
baseado no castigo imposto pela sua violação. Se a punição é a morte, então a
pessoa cometeu um pecado
muito grave. Cometer um pecado que requer a pena de morte é obviamente mais
grave do que cometer um pecado para o qual a pena é simplesmente o sacrifício
de dois pombos.
Yeshua, na verdade, também ensinou que alguns pecados são mais graves que
outros. Ele também disse que alguns mandamentos são mais pesados do que
outros. Em Mateus 5:17-20, Yeshua diz: “Não penseis que vim revogar a Lei ou
os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos
digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei,
até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto
que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no
reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado
grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder
em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.” Esta
passagem prova que
Esta passagem inteira é um exemplo clássico de kal va-hômer. Se Deus cuida dos
pássaros (o menor), quanto mais cuidará Ele do ser humano (o maior)? As
pessoas são muito mais importantes para Deus do que os pássaros, assim,
se Deus alimenta os pássaros e veste as flores do campo, então podemos deduzir
pela midrash que Ele certamente cuidará da
humanidade. Do mesmo modo, não devemos nos preocupar com o que iremos
vestir. Se olharmos para a forma como Deus cuida da natureza, Ele certamente
cuidará do homem, porque o homem é a coroa da natureza!
A essência de kal va-hômer é que se este mandamento ou princípio é verdade,
então é óbvio que o principal mandamento ou princípio ligado a ele vai ser
verdade também. Yeshua usou esta forma de midrash repetidamente em Seu
ensino. Vamos examinar como Yeshua usa este princípio em outros lugares.
Yeshua também está dizendo às jovens mulheres de Jerusalém: não chorem por
mim, chorem por vocês mesmas e por Jerusalém. Quanto mais sofrerão elas se
Ele estiver sofrendo? A “árvore verde” é um símbolo de uma pessoa justa. No
Salmo 1:3, vemos o exemplo que o homem piedoso “será como uma árvore
plantada junto a ribeiros de água ” No Salmo 92:12
Em 2 Pedro 2:4-9 temos uma observação semelhante: “Ora, se Deus não poupou
anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos
de trevas(...), então o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar;
sob castigo, os injustos para o Dia do Juízo.” A implicação é que, se Deus pode
punir até mesmo os anjos, que são maiores em força e poder do que os seres
humanos, então Ele certamente punirá os malfeitores entre os homens, que são
até mesmo piores do que os anjos. (Pedro semelhantemente indica que o
piedoso pode esperar livramento da tentação por causa da fidelidade de Deus;
assim como Ele é fiel para punir, Ele é fiel também para recompensar).
de modo que não contamines a terra que o Senhor; teu Deus, te dá por herança,
pois o que é pendurado é amaldiçoado por Deus .” Vemos nesta passagem que
um criminoso que tenha sido executado por enforcamento, não pode ter o seu
corpo deixado na árvore durante a noite. Ele deve ser enterrado no mesmo dia.
Os sábios mantiveram o kal va-hômer: se para um criminoso, uma pessoa má,
não é permitido que seu corpo permaneça pendurado durante a noite sem um
sepultamento adequado, então quanto mais alguém que é justo merece
ser sepultado rápida e honrosamente? Esta halachá é a razão pela qual Yeshua
foi sepultado no mesmo dia de Sua morte, não sendo permitido permanecer o seu
corpo pendurado na cruz durante a noite. Este é um caso clássico de utilização
do kal va-hômer para fazer uma decisão judicial a partir de uma midrash.
2. ma? mia
Gzerah Shavah
(Expressões equívocas - Lit. “corte igual”)
situações nas Escrituras.”2 Em outras palavras, uma vez que se encontra uma
palavra, frase, ou raiz similar em duas passagens diferentes, uma analogia pode
ser feita entre elas. Fazer esta analogia permite ao intérprete aplicar os mesmos
princípios, conclusões, e aplicações a ambos os textos e situações. G
'zerah shavah é especialmente útil para fazer halachá se a situação em um dos
textos é muito clara, mas não no outro. A mesma halachá será então aplicável a
ambas as situações com base nas palavras e expressões semelhantes. Até mesmo
uma olhada superficial no Talmude revela inúmeras discussões em que
os rabinos usam gzerah shavah para estabelecer a halachá em situações incertas.
3. In» mroD na yn
“Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? [Salmo 2:7] E outra vez: Eu lhe
serei por Pai, e ele me será Filho? [2 Samuel 7:14] E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo,
diz: E todos os anjos de Deus O adorem! [Salmo 97:7] E quanto aos anjos, diz: ‘Aquele que a seus
anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo” [Salmo 104:4] Mas ao Filho Ele diz: O teu trono, ó
Deus, é para todo o sempre; um cetro de justiça é o cetro de Teu reino. Amaste a justiça e odiaste a
iniqüidade; por isso, Deus, o teu Deus, Te ungiu com óleo de alegria como a nenhum dos teus
companheiros! [Salmo 45:6-7] E: ‘No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são
obras das Tuas mãos; eles perecerão; Tu, porém, permaneces; sim, todos eles envelhecerão como
uma veste; também, como um manto, os enrolarás, e, como vestes, serão igualmente mudados; Tu, porém,
és o mesmo, e os teus
anos jamais terão fim.' [Salmo 102:25-2] Mas, a qual dos anjos jamais disse: 'Assenta-te à Minha direita,
até que eu ponha os Teus inimigos por estrado dos Teus pés? [Salmo 110:1] Não são todos eles espíritos
ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?'
Nesta seqüência de textos em Hebreus 1, o autor usa ambos, binyan av mikatuv echad e
binyan av mish 'nei ketuvim de uma forma útil para identificar princípios bíblicos e
provar que Yeshua é superior aos anjos. O escritor toma relevante à sua situação
através da aplicação do princípio de “filho” a todos os textos que falam de Deus
e anjos, os quais ele lista para provar seu argumento. Os professores da Bíblia
usam este princípio o tempo todo quando constroem um sermão e conectam
textos diferentes associando uma frase ou princípio que aparece no texto
principal aos outros textos, tecendo depois uma conclusão.
5. DTB1
IClal Ufrat
(Do geral para o particular)
A Torá também usa este método na lista das festas de Israel em Levítico 23:2.
Nos versículos de 2-6, diz: “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: ‘As festas do
SENHOR que proclamareis para ser santas convocações, estas são as Minhas
festas. Seis dias trabalhareis, mas o sétimo dia será o sábado do
descanso solene, uma santa convocação. Nenhuma obra fareis nesse dia; é o
sábado do SENHOR em todas as vossas moradas. Estas são as festas do
SENHOR, as santas convocações, que proclamareis no seu tempo determinado.
No mês primeiro, aos catorze do mês, no crepúsculo da tarde, é a Páscoa do
SENHOR. E aos quinze dias deste mês é a Festa dos Pães Asmos do SENHOR;
sete dias comereis pães asmos..!"
explica a aparente contradição entre duas passagens no Tanách que falam sobre o
Messias como “a pedra angular.” Por um lado, Isaías 28:16 parece dizer que a
“pedra angular” será amplamente acreditada e aceita, mas por outro lado, no
Salmo 118:22 diz que a pedra angular será rejeitada. Pedro resolve esta
contradição inserindo outra passagem de Isaías 8:13-15 que menciona os
desobedientes “tropeçando”, mas os justos servindo a Deus fielmente.
Aqui está a passagem: [1 Pedro 2:4-8] “Chegando-vos para ele, a pedra que
vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também
vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus
por intermédio de Yeshua o Messias. Pois isso está na Escritura: ‘Eis que ponho
em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de
modo algum, envergonhado\ [Isaías 28:16] Para vós outros, portanto, os que
credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores
rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular [Salmo 118:22] e: *Pedra
de tropeço e rocha de ofensa [Isaías 8:14]. São estes os que tropeçam na
palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos”
7. iraPD icbyi
Um outro exemplo é Romanos 14:14, que diz: “Eu sei e estou persuadido, no
Senhor Yeshua, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele
que assim a considera; para esse é impura” Se o contexto geral da carta de
Paulo for ignorado, pode-se chegar à conclusão de que ele anulou todas as leis
alimentares da Torá. Porém, quando o contexto da própria vida de Paulo e o
problema da unidade entre os crentes judeus e não-judeus nas congregações com
as quais ele está lidando é levado em conta, então, se torna claro que o
significado deste versículo não é tão simples. Olhando o restante do contexto
de Romanos, vemos que Paulo ensina que nada é intrinsecamente “impuro”, mas
que as coisas só são “impuras” porque Deus as chama de “impuras” na Torá.
Cada crente tem que decidir, de acordo com sua própria consciência, pela
direção do Espírito Santo e das Escrituras, o que é puro para si próprio.
circunciso e, mediante a fé, o incircunciso. Anulamos, pois, a lei pela fé? Náo,
de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei" Em minha opinião, o sétimo de
todos estes princípios de Hillel é o mais importante porque é o mais ignorado
e mal usado na maioria das vezes. O contexto original é a principal ferramenta
para a compreensão das questões e dos princípios que o autor pretendia que nós
compreendêssemos. Se ignorarmos o contexto, deixamos a Palavra de Deus
sem nenhum aval, uma vez que ela poderia ser usada para dizer e justificar
qualquer coisa, podendo ser distorcida naquilo que quisermos. Na verdade, ela
poderia se tornar a ferramenta mais horrível do mal, como infelizmente se tornou
nas mãos daqueles que a têm usado impropriamente ao longo dos séculos. Deve-
se ter em mente que nem toda passagem pode ser interpretada com todas estas
sete regras, e pode até haver algumas passagens que não deveriam ser
interpretadas por nenhuma delas. Se compreendidos e bem usados, no
entanto, estes princípios ou midôt podem se tornar uma grande ferramenta no
Corpo do Messias para interpretar e expor as Escrituras de acordo com o seu
contexto judaico original. A hermenêutica, ou a forma como compreendemos a
Palavra de Deus, é uma das chaves tanto para a saúde espiritual como para a
unidade do povo de Deus. Se somos capazes de usar as mesmas ferramentas,
deveríamos obter os mesmos resultados e chegarmos a uma compreensão
comum do que Deus planejou para que nós aprendêssemos sobre Ele e sobre o
Seu povo.
Capítulo 3
Hekkesh
Embora não esteja incluído na lista de princípios exegéticos tanto do rabino
Ishmael como do rabino Hillel, um importante método rabínico de interpretação
é chamado hekkesh. Hekkesh é uma “analogia que prova a lei em relação a uma
coisa que se aplica também a outra, seja porque ambas têm características em
comum ou haja uma intimação Bbblica para o efeito.”4 Hekkesh literalmente
significa “pegar duas pedras e batê-las juntas,” que é uma metáfora para
comparar dois versículos que têm uma linguagem similar a fim de aprender
alguma coisa que não se conhecia previamente. Embora esta técnica seja
ligeiramente complicada, ela deu origem a algumas lindas midrashim e é usada
extensivamente nas Escrituras.
com ela." Como Yeshua poderia dizer que se um homem olha para uma mulher
com intenção de imoralidade sexual, ele já cometeu adultério? Na verdade, há
muitas passagens rabínicas que proíbem a luxúria exatamente nos mesmos
princípios. O que é único então, sobre a equação de Yeshua de luxúria e adultério
é que Ele baseou esta decisão haláchica pelo uso do hekkesh. Êle combinou dois
dos Dez Mandamentos, “não cometerás adultério” e “não cobiçarás”, de Êxodo
20, e juntou-os para concluir que a proibição da Torá sobre adultério também
inclui pecados que vão além da relação sexual com a esposa de outro homem.
Todo o Sermão do Monte, no qual Yeshua diz: “Ouvistes o que foi dito..., eu,
porém, vos digo...” é baseado neste princípio de hekkesh. Alguns crentes,
equivocadamente, acham que o ensino de Yeshua no Sermão do Monte pretendia
anular a Torá. Na verdade, a frase, “Ouvistes o que foi dito... Eu, porém,
vos digo...” aparece na literatura rabínica também. Esta expressão significa:
“pode-se pensar que isto se aplica apenas literalmente, no simples (pshat), mas
eu vos digo que os mandamentos não devem ser tomados apenas literalmente
pois possuem muitas facetas” Estas outras facetas incluem coisas que são
aprendidas através da interpretação dos elementos rêmez, drash e sôd de um
texto. Só se pode chegar a estes tipos de conclusões comparando-se os textos.
Aqui está outro exemplo de como Yeshua usou o hekkesh. Mateus 5:38-42 diz:
“Ouvistes o que foi dito, ‘Olho por olho e dente por dente! Eu, porém, vos digo:
não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe
também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe
também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá
a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.” Para
descobrir a base deste parecer de Yeshua, precisamos examinar os textos dos
quais Ele fez o hekkesh.
A Torá diz: “Olho por olho e dente por dente...” mas deixa-nos a tarefa de
decidir qual é a implicação desta lei. Normalmente falando, se alguém
deliberadamente arranca o olho de outra pessoa, a vítima estaria inclinada a
matar o agressor. Esta é uma reação humana normal. No entanto, ao contrário de
nossas tendências naturais, a Torá ensina que mesmo a vítima de tão terrível
crime não deve se vingar ou retaliar de uma forma
A razão pela qual sabemos que a Torá literalmente não ensina a arrancar o olho
do agressor vem de outro versículo que explica como este princípio deve ser
interpretado. Êxodo 21:22-25 aplica o princípio de “olho por olho” a uma
situação particular e o interpreta para dizer que o agressor deve pagar uma
compensação financeira justa. “Se homens brigarem, e ferirem mulher grávida, e
forem causa de que aborte, porém sem maior dano, aquele que feriu será
obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará
como os juizes lhe determinarem. Mas, se houver dano grave, então dará vida
por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura
por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe."
Entretanto, há outro texto na Torá que parece tomar este princípio muito
literalmente. Levítico 24:19 diz: “Se alguém causar defeito em seu próximo,
como ele fez, assim lhe será feito!* Está claramente afirmado neste versículo que
se alguém arranca o dente de seu próximo, ele deveria ter o seu dente
arrancado também. Este é um resultado jurídico completamente diferente.
Yeshua viu que havia uma contradição legal na Torá. Em um lugar, diz que se
deve pagar de acordo com o julgamento determinado pelos tribunais. Em outro
lugar, diz que o olho do homem culpado deve ser arrancado como recompensa
pelo olho perdido da vítima. Para “complicar” ainda mais, vamos examinar
agora um terceiro texto em Lamentações 3:30, que diz alguma coisa
completamente diferente. “Dê a face ao que te fere; farte-se de afronta ”
Temos aqui uma situação em que três textos divinamente inspirados dão
instruções completamente diferentes. Um diz que se alguém causar a perda de
um olho do seu próximo, deve-se ir ao tribunal para determinar a indenização,
que será a multa monetária ao agressor. O outro diz que devemos nos vingar na
mesma proporção. Se alguém faz alguma coisa a outra pessoa, exatamente a
mesma coisa deveria ser feita ao ofensor. E ainda outro versículo diz que se
alguém bater, deve se virar a outra face! Como podem todos estes textos ser
inspirados pelo mesmo Deuj? A única maneira de compreender estes versículos
é usar o hekkesh, ou seja, “bater um contra o outro” e tirar uma idéia
completamente nova.
Para entender porque Yeshua disse para virar a outra face, precisamos lembrar
em qual contexto cultural Ele estava falando. Durante o tempo em que o
Evangelho foi escrito, a Terra de Israel e o povo judeu sofria sob a ocupação
romana. Yeshua viveu toda a sua vida sob a ocupação romana e o governo
corrupto de Herodes e sua família. Os romanos basicamente faziam o que
queriam com o povo de Israel. Eles tinham leis que diziam que qualquer soldado
romano poderia tomar o casaco, a camisa, o jumento, e o equipamento
de qualquer Israelita a qualquer momento, e até mesmo levá-lo
como um servo por 24 horas! Entretanto, após 24 horas ele tinha que ser
liberado. A lei em Israel ainda é mais ou menos a mesma. Se o militar israelense
precisa de um carro, ele tem o direito de levá-lo. Se eles precisam de uma casa,
eles têm o direito de tomá-la, assim como era a situação no tempo dos romanos.
Agora que nós examinamos todos os três textos em seus contextos, vejamos
como Yeshua fez um hekkesh com eles no Sermão do Monte. Yeshua não está
falando sobre um caso de mutilação por acidente. A pessoa que bate no rosto de
alguém tem a clara intenção de humilhar. Yeshua diz que quando alguém
intensionalmente nos fere ou nos envergonha, não devemos responder o mal com
o mal. Permitir aquela pessoa “nos bater na outra face” demonstra força, e não
fraqueza. Se alguém pretende nos envergonhar batendo-nos publicamente na
face, não devemos ceder à sua maldade e responder com a mesma moeda, uma
vez que isto mostraria à pessoa que ela nos afetou. Em vez disso, devemos
provar que ela não pode nos afetar. Devemos mostrar que somos orgulhosos e
fortes o suficiente para suportar outra batida na face. Yeshua ensina isto tomando
os dois versículos da Torá e batendo-os junto com o versículo de Lamentações.
Portanto, “Virando a outra face” e “Caminhando a segunda milha” não é uma lei
“nova” que cancela a Torá. Em vez disso, Yeshua expôs a Torá usando os
princípios midrásticos e hekkesh. Ele tomou vários versículos que lidavam com
o mesmo assunto, analisou-os, fez uma analogia, “bateu-os um contra o outro,” e
fez uma nova conclusão para impedir a contradição de um versículo com o
outro.
Agora vejamos como é possível usar o princípio de hekkesh em nossos dias para
compreender a Bíblia. A primeira vez que encontramos Bezalel Ben Uri é em
Êxodo 31:2-3. O texto diz: “Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri,
filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi com o Espírito de Deus, em
sabedoria, em entendimento, e em habilidade para todo artifício..!'
Este versículo menciona quatro atributos ou dons concedidos a Bezalel:
sabedoria, entendimento, conhecimento e habilidade para todo artifício. Êxodo
35:31 usa exatamente as mesmas palavras usadas para descrever Bezalel. “Ele o
encheu com o Espírito de Deus, em sabedoria e entendimento, em
conhecimento e habilidade para todo artifício..."
Êxodo 36:1 usa um outro termo para descrever Bezalel, que em Hebraico
literalmente significa “um coração sábio.” No pensamento rabínico tradicional, a
sabedoria vem da cabeça, mas as emoções originam-se no coração.
Segundo Nachmanides, (o Ramban), estas coisas são opostas, mas
Rashi soluciona a aparente contradição fazendo um clássico hekkesh. Ele disse
que o “conhecimento” era, na verdade, o Espírito Santo ou Ruach há-Kodesh}1
É claro, o hekkesh precisa ser usado com cuidado e pela direção do Espírito
Santo, pois quaisquer novas conclusões que obtivermos ao “bater um versículo
contra outro”, não devem contradizer a letra ou o Espírito da Palavra de Deus.
Nossa compreensão e uso deste importante conceito é uma grande ferramenta
para interpretar e explicar a Bíblia de acordo com o seu contexto judaico
original.
1
Capítulo 4
Hermenêutica judaico-messiânica
Embora seja facilmente possível falar sobre a hermenêutica da Igreja primitiva
ou do Judaísmo do período do Segundo Templo, nunca houve um sistema
totalmente desenvolvido e articulado de interpretação bíblica que seja
messiânico e judaico. Este capítulo irá discutir a necessidade da hermenêutica,
rever algumas contribuições Judaicas importantes e em seguida propor algumas
orientações iniciais para a interpretação bíblica dentro da comunidade judaico-
messiânica.
A hermenêutica tem sido chamada de ciência e arte. Existem leis e regras para a
compreensão de um texto que devem levar em consideração o conhecimento do
tempo, do lugar, do orador, da audiência, e do contexto religioso e cultural. Os
textos não flutuam no amplo espaço do nada. Eles sempre existem dentro do
contexto de alguma configuração, do tempo e dos acontecimentos históricos que
levaram à sua criação. A tendência, no início do século XX, era dar uma virada
existencial à interpretação da Bíblia. Isto tirou a Palavra de Deus de seu contexto
histórico e cultural e deu-a um sentido filosófico. É minha intenção restaurar o
entendimento das formas nas quais a Bíblia tem sido historicamente
interpretada, a fim de proporcionar aos estudantes comprometidos
o aprofundamento na complexidade bíblica e em sua relevância para a nossa
vida diária.
A atitude judaica para com o texto bíblico é que cada afirmação tem setenta
entendimentos e interpretações possíveis. Na prática, este princípio permite uma
ampla gama
Embora à primeira vista possa parecer que os rabinos interpretaram a Bíblia sem
rima ou razão, há, na verdade, regras muito específicas para formar midrash e
para exegese dentro da tradição Judaica. O Rabino Hillel, que viveu no
primeiro século de nossa era, tinha sete regras para interpretar textos sagrados. É
preciso lembrar que esses métodos hermenêuticos nunca excluem o p'shat, o
sentido claro e literário. O p shat sozinho, porém, não pode mostrar-nos todas as
“Setenta faces da Tora’. Assim, os outros métodos também são
ferramentas importantes para ver a profundidade e a riqueza da Palavra de Deus.
No século II d.C., havia um rabino muito famoso na Terra de Israel chamado
Ishmael. Ele enumerou treze princípios exegéticos para a Bíblia, que são
orientações ainda aceitas no judaísmo de hoje, muitos dos quais são encontrados
em todo o Novo Testamento.9
A história completa do que implica codificar a tradição das Escrituras pode ser
lida no tratado Talmúdico Soferim, que significa “escribas.”Este tratado lida com
detalhes como o espaço entre as letras, a largura e a altura dos pergaminhos,
as letras maiúsculas e finais, etc. Sem o trabalho destes escribas, não teríamos a
Palavra de Deus disponível para nós hoje porque não seriamos capazes de
entender a linguagem mais básica da Bíblia. Este tratado também discute as
qualificações para a elaboração dos livros, seu manuseio respeitoso e sua
santidade. Devemos entender e ser gratos pelo fato de que Yeshua e os Apóstolos
não teriam sequer tido os livros de Moisés, se não fosse pelos Rabinos que os
preservaram e os protegeram da corrupção.
Vou agora tentar propor uma hermenêutica para os judeus messiânicos e para
todas as pessoas que gostariam de descobrir a verdade bíblica.
5. A Bíblia contém diferentes tipos de literatura. Cada gênero tem que ser
diferenciado e tratado com as ferramentas lingüísticas apropriadas.
6. A Bíblia reflete uma realidade histórica que deve ser compreendida dentro
daquele contexto.
judaica têm errado às vezes, e qualquer uso de métodos rabínicos deve ser feito
de forma crítica e de acordo com a demanda dos textos bíblicos, sempre
baseados no tempo e na cultura das pessoas que os escreveram. Entretanto,
estudar o Novo Testamento, que é um documento judaico do primeiro século,
ignorando as tradições de interpretação e exegese que foram usadas na época, é
perder uma ferramenta muito importante para a compreensão da Palavra de
Deus.
Nossa tentativa de entender a Bíblia deve nos levar a “fazer a vontade do nosso
Pai Celeste.” A hermenêutica deve ser uma ferramenta não só para a
compreensão, mas também para se fazer a obra de Deus entre os homens.
Em última análise, todos os crentes terão que lidar com os mesmos princípios
hermenêuticos e abordar a Bíblia de acordo com a sua integridade histórico-
cultural e de identidade, a qual
Em primeiro lugar, devemos ter uma clara compreensão de que somos salvos
pela fé, através da graça de Deus, com a finalidade de obediência aos
mandamentos de Deus. “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi
justificado, quando ofereceu sobre o altar o seu filho, Isaque? Vês, como a fé
operava juntamente com as suas obras? Com efeito, foi pelas obras que a fé se
consumou...” (Tiago 2:21-22) Para muitos de nós soa simplista afirmar que
temos que obedecer os mandamentos de Deus. Na verdade, esta área da
hermenêutica, provavelmente será a de maior controvérsia no desenvolvimento
de uma hermenêutica Judaico Messiânica. A pergunta surgirá:
“Quais mandamentos e quando?” Uma vez que este é um assunto tão importante
que merece um tratamento completo, vamos abordar esta questão em mais
detalhes em outro capítulo deste livro.
Além disso, as denominações cristãs devem fazer o mesmo frente aos judeus
messiânicos. Haverá congregações cujas
Capítulo 5
1
Hillel foi o presidente do Sinédrio em Jerusalém no último ano do primeiro século d.C. até o ano 16
d.C. Seu parceiro nesta posição foi Shamai. Estes dois grandes homens argumentaram muito sobre
tudo, mas juntos eles deixaram uma marca profunda no mundo de Yeshua. Na verdade, o que é
chamado “A Regra de Ouro” (Mateus 7:12) foi realmente formulada primeiro por Hillel, que disse:
“O que é odioso para você, não faça ao seu próximo. Isto é toda a Torá e os mandamentos.”
(bShabbat 31a). Hillel passou seu cargo ao seu filho Gamaliel que foi o professor do Apóstolo Paulo
(Atos 5:34-39; 22:3).
2
O Talmude Babilônico: Glossário. Ed. 1. Epstein. Index Volume. London: Socino Press, 1952, p.734.
3
Santala, Risto. Paul, thc Man and thc Teacher in thc Light of Irwish Soun.cs. ferusalem: Kercn Mcshichit,
1995.
4
O Talmude Babilônico: Glossário. Ed. 1. Epstein. Index Volume. London: Socino Press, 1952, p. 736.
5
Allison, Dale C. The Sermon on the Mount. New York: Crossroad Publishing Company, 1999, p.72.
6
Keener, Craig S. A Commentary on the Gospel of Matthew. Grand Rapids: Eerdman s, 1999, p.
187.
7
Ben Isaiah, Abraham and Benjamin Sharfman. The Pentateuch with Rashi s Commentary: A Linear
Translation into English. Vol. 2. Exoduas. Brooklyn:
8
“Hermeneutics.” Oxford Dictionary of the Christian Church. Ed. F. L. Cross. Oxford University
Press. 1983, p. 641.
9
Consulte o apêndice para uma lista das treze midôt do rabino Ishmael.
A questão das mitzvôt (mandamentos)
Uma questão interessante com a qual temos de lidar é a que se refere a cobrir a
cabeça. Embora eu use um kipá em casamentos, funerais e em serviços de
Shabat, eu na verdade não gosto de usá-lo. Se eu fosse obedecer, literalmente, a
cada palavra do Novo Testamento, eu não usaria kipá em ocasião alguma,
especialmente quando oro, porque em 1 Coríntios 11:4 diz que os homens não
devem orar com as suas cabeças cobertas. O versículo 5 do mesmo capítulo diz
que as mulheres devem cobrir as suas cabeças. Paulo disse estas coisas baseado
em uma midrash halachá, através da qual ele fez um parecer para todas as
congregações de que as mulheres devem cobrir suas cabeças como sinal de
submissão à autoridade. A maioria dos movimentos messiânicos modernos está
fazendo isto ao contrário. Os homens usam kipá e as mulheres não cobrem
a cabeça. Na maior parte do mundo evangélico, nem os homens nem as mulheres
cobrem suas cabeças, mas eles são mais rigorosos com relação aos homens. Na
maioria das igrejas, um homem que entra com um chapéu, será solicitado a
removê-lo. Será que esse mandamento foi dado só para o momento e situação
específicos da congregação de Corinto, ou era um mandamento para todos os
tempos e lugares?
Para descobrirmos qual interpretação está correta, precisamos nos perguntar que
tipo de mandamento é este. Na verdade, seria este um mitzvá (mandamento) que
está ligado a um certo tempo, lugar e contexto cultural, ou é um mandado para
todos os tempos, em todos os lugares e sob todas as circunstâncias? Nem todos
os mandamentos são para todos os tempos e para todas as pessoas. Alguns
mitzvôt são designados a tempos e lugares específicos ou grupos de pessoas
específicos.
A Torá tem muitos exemplos de mitzvôt que são designados a grupos específicos
de pessoas. Por exemplo, os homens são ordenados a serem circuncidados e a
estudar a Torá. Alguns mandamentos, como purificação após parto,
naturalmente, se aplicam somente às mulheres. Há mandamentos apenas
para sacerdotes e levitas que não se aplicam a um Israelita regular. Os
mandamentos se aplicam especificamente às pessoas para as quais foram dados.
Da mesma forma, existem alguns mitzvôt direcionados aos gentios e outros
direcionados aos Israelitas. Por exemplo, os homens que não eram circuncidados
não
podiam comer a Páscoa, apesar de fazerem parte de Israel. Eles saíram do Egito
e poderiam até ser Israelitas, mas não eram autorizados a celebrar a Páscoa.
Durante os 40 anos que Israel esteve no deserto, eles não guardaram a Páscoa
porque todos aqueles que nasceram no deserto não eram circuncidados. Quando
eles cruzaram o rio Jordão, a primeira coisa que fizeram foi ter uma circuncisão
em massa. Todos os homens de Israel foram circuncidados a fim de celebrarem a
Páscoa.1 Este é um exemplo do fato de que nem todos os mandamentos são para
todas as pessoas.
Temos que manter aspectos como gênero e público-alvo em mente, uma vez que
esta é uma parte da hermenêutica. A hermenêutica é uma maneira de determinar
o que Deus requer de nós. Em outras palavras, o que o texto realmente diz e
como podemos aplicar este conhecimento às nossas vidas?
Por exemplo, a Bíblia nos instrui a “santificar o dia de sábado” e diz que não
devemos fazer qualquer trabalho braçal ou acender fogo no Shabat. Hoje
vivemos em um mundo diferente, e então, devemos nos perguntar o que significa
não fazer qualquer trabalho ou acender fogo em nosso contexto moderno.
Quando uma pessoa gira a chave de ignição em seu carro, ela está acendendo um
fogo? Se uma pessoa liga a eletricidade ou abre sua geladeira, ela está acendendo
um fogo? Diferentes grupos de judeus desenvolveram respostas diferentes para
essas questões, mas são questões que devem ser abordadas quando
tentamos guardar o Shabat numa era de tecnologia que a Bíblia nunca menciona.
Quando falamos sobre midrash e halachá, estamos abordando os problemas que
têm a ver com a vida. Isso não é apenas teologia teórica porque nós, na verdade,
criamos esses tipos de midrashim o tempo todo.
Testamento, e são ligados para tirar conclusões que não são explícitas em
qualquer um dos textos originais. Esta midrash é então aplicada a situações
comuns.
Não devemos nos permitir ficar com medo ou nos retirarmos quando ouvimos as
palavras “midrash” “Torá,” “halachá,” ou “rabinos”Não há razão para se ter
medo de estudar o contexto judaico do Novo Testamento. É um pecado para nós
tentarmos transformar qualquer um em judeu. Não devemos dizer a ninguém
para guardar o Shabat ou ser circuncidado ou para guardar qualquer destas
coisas, a menos que ele ou ela se sinta guiado pelo Espírito de Deus para fazê-lo.
No entanto, é necessário descrever estas questões, pois este é o mundo do Novo
Testamento e estes são os tipos de questões que os Apóstolos tiveram que
abordar. Além disso, esses foram os métodos usados para trazer vida à Igreja do
primeiro século.
Paulo era um rabino com uma educação rabínica, então ele escreveu também
como um rabino. Ele estudou com o melhor rabino em sua geração. Portanto,
não deve ser surpresa alguma que ele use termos rabínicos do tipo “andar”, como
uma forma de vida.
que se torna impossível andar livremente. Quando uma pessoa está vivendo sob
o jugo da Torá, ela vive sob constante pressão e medo. Não se pode funcionar em
amor e liberdade quando se está apavoradamente sob o jugo de qualquer coisa.
Então, qual é o ponto de Paulo? Ele está ensinando que nós nos tornamos livres
do fardo da Torá pela cruz. A cruz nos liberta e nos livra do fardo da Torá, e não
da própria Torá. Ela nos livra da maldição da Torá. Em Gálatas 3:13 diz que
através da cruz nós somos livres da maldição da Torá. A Torá tem capítulos
inteiros cheios de maldições terríveis, especialmente no final de Deuteronômio.
Qual é a função dessas maldições? Sua função é pura e simplesmente inculcar
medo! Estas maldições foram projetadas para assustar as pessoas para que elas
pudessem ser obedientes.
Deus não está interessado em sacrifícios mais do que o amor e as motivações dos
nossos corações. Percebemos isto em Amós 6:6, Jeremias 7:23, Isaías 1, e muitas
outras passagens. Deus não é um ídolo que precisa de pessoas para alimentá-LO
ou LHE edificar uma casa. Ele não precisa de coisa alguma do homem. Ele dá a
todos a vida e a respiração e tudo que eles têm. O que Deus requer de Israel e do
mundo inteiro é que tenham um relacionamento verdadeiro e honesto com Ele,
baseado na motivação interna do coração do homem. O amor dado livremente é
o oposto do medo. A razão pela qual necessitávamos da Nova Aliança prometida
por Jeremias, foi para nos libertar do medo e da maldição da Torá, para
que possamos ter um relacionamento com Deus e obedecer os Seus mitzvot por
amor e pelas motivações honestas de nossos corações. Deus nunca quis assustar
as pessoas para forçá-las a
O fardo da Torá era o que Yeshua se referia quando Ele condenou os fariseus e
os escribas em Lucas 11:46: “Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque
sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós
mesmos nem com um dedo os tocais.” As declarações de Yeshua aqui referem-
se à questão de ajudar o jumento de Êxodo (o qual acabamos de enfocar), além
de ser uma brincadeira com as palavras dos conselheiros do rei Roboão, em 1
Reis 12:10-11. Nesta passagem, eles insensatamente aconselham o rei a dizer
aos Israelitas que estavam reclamando sobre os pesados impostos e o trabalho
forçado que o rei Salomão tinha colocado sobre eles: “Meu dedo mínimo é mais
grosso do que os lombos de meu pai. Assim que, se meu pai vos impôs jugo
pesado, eu ainda vo-lo aumentarei...” Este é o problema de se ter uma religião
em vez de um relacionamento com Deus. Yeshua veio para nos libertar deste
problema, e Ele nos deu o Seu Espírito para nos guiar em
toda a verdade. Isto não é para que possamos fazer qualquer coisa que queremos,
mas sim para que sejamos habilitados a fazer a vontade de Deus. A diminuição
deste jugo é o que Yeshua quis dizer quando Ele declarou em Mateus 11:28-
30: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo
é suaves e o meu fardo é leve.”
A razão pela qual devemos “morrer com Yeshua” e ser batizados é para que
nosso próprio ego e paixões não mais tenham domínio sobre nós. Eles nos ditam
ordens e sem a ajuda de Deus ficamos impotentes diante deles, como nos
ensina Paulo, em Romanos 6. Uma vez que fomos “crucificados com o
Messias”, recebemos uma nova vida, uma vida imortal, na qual somos guiados
pelo Espírito de Deus e Sua Palavra, e não pelos nossas próprias cobiças.
Para sintetizar estas duas coisas, vamos examinar Gálatas 5:18, que diz:
“Mas, se sois guiados pelo Espirito, não estais sob a lei.” Embora o texto diga
que não estamos sob a lei, isto não significa que estamos livres para fazer o que
quisermos. Não estar sob a maldição da Torá significa que não mais
tomaremos parte nas obras da carne. No entanto, sempre que houver uma área de
nossas vidas que ainda não submetemos ao Espírito de Deus, estaremos sujeitos
à aplicação da maldição da Torá.
Abraão foi salvo pela fé, mas ele ainda teve que obedecer os estatutos,
mandamentos e preceitos do Senhor. Quem ensina que a salvação pela fé não
requer obediência, está ensinando contra a vontade de Deus. Yeshua disse em
João 14:15, “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” Esta
combinação de amor e guardar os mandamentos aparece muitas vezes no Tanách
também (Ex 20:6, Dt 7:9, Dn 9:4). Se realmente acreditamos que Ele é o Filho
de Deus, então não podemos negar que os mitzvôt de Deus e os mandamentos de
Yeshua são um e a mesma coisa. Fomos salvos pela fé para que pudéssemos ser
livres e obedientes a Deus em amor e em pureza de coração e mente, sendo
servos da justiça ao invés de servos do pecado.
Capítulo ()
1
O apóstolo Paulo declara aos gentios discípulos de Yeshua, em Ef 2:19, que no Messias estes não são
mais estrangeiros, mas “concidadãos dos santos” e “família de Deus” Apesar de não se tornar judeu,
a obra do Messias faz do gentio que nele crê um filho de Abraão mediante a fé (GI 2:26,29). A regra
de Ex 12:43 continua em vigor, e até os dias de hoje os estrangeiros não podem celebrar a
Páscoa. Porém, mediante a obra do Messias, não há ‘estrangeiros’ no Reino de Deus. Esta é a razão
pela qual o apóstolo Paulo ordena gentios crentes a celebrarem a Páscoa em I Co 5:8, sem com isso
descumprir o mandamento da Torá.
2
Isto é semelhante à multa referente ao excesso de velocidade no trânsito. O departamento de transito
não deveria criar multas nem radares para garantir a obediência dos motoristas. No entanto, muitas
pessoas só não transgridem esta e muitas outras leis de trânsito por medo da punição. Neste caso, o
motorista está ‘sob’ a lei. O ideal seria o motorista ter como princípio de vida nunca exceder os limites
de velocidade, independente se há multas ou radares. Neste caso, a lei estaria escrita em seu coração’
e ele a guardaria naturalmente, sem medo e sem estar ‘sob’ ela.
A halachá judaico-messiânica
“...para viverdes (andardes) de modo digno do Deus que vos chama para o Seu
reino e glória." (1 Te 2:12)2
“Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o
tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas.” (1 Coríntios 7:17)4
Yeshua e Seus discípulos faziam parte do mundo dos fariseus na Terra de Israel
durante o primeiro século, e Yeshua tinha uma visão de mundo bastante
farisaica. Portanto, todos as discussões que Ele tinha com os fariseus eram
argumentos entre correligionários. No primeiro século a.C., os
fariseus trouxeram uma revolução religiosa ao judaísmo, dizendo que a vontade
de Deus poderia ser conhecida e discernida por qualquer estudante das Sagradas
Escrituras. Antes desta grande revolução e de acordo com a Torá de Moisés, a
maneira de discernir a “vontade de Deus” era perguntando ao sacerdote
Em Mateus 23:1-4 diz: “Então, falou Yeshua às multidões e aos seus discípulos:
‘Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai,
pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras;
porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e
os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo
querem movê-los!” Por que o texto menciona que Yeshua falou tanto às
multidões como a seus discípulos? A questão de mencionar as multidões
também, é para mostrar que essas palavras são aplicáveis tanto às pessoas
comuns como aos discípulos de Yeshua.
A instrução de Yeshua de “faça o que dizem os fariseus, mas não o que eles
fazem,” é curiosamente similar à instrução do rei Alexander Yannai à sua esposa,
a rainha Alexandra (Shlomzion), como registrado no bSotah 22b. Ele disse:
“Não temais os fariseus ou os não-fariseus, mas proteja-se contra os hipócritas,
porque suas ações são como os atos de Zimri, mas esperam uma recompensa de
Finéias.” É evidente que o problema de Yeshua com esses fariseus é que eles
fizeram muitas regras da Torá, mas eles mesmos não as cumpriam. Ele se opôs a
fazer exigências e colocar encargos sobre as pessoas sem levar em conta se era
prático ou mesmo possível mantê-los. A Torá foi dada para que pudéssemos
viver por ela. Não é para ser simplesmente um exercício teórico para pessoas
que vivem em uma Beit Midrashy que nunca têm de lidar com os problemas
diários e práticos.
O lugar para se começar a criar halachá hoje tem que ser nas instruções de
Yeshua aos discípulos nesta passagem, então, somos obrigados a considerar
cuidadosamente Suas palavras. Esta passagem significa que devemos fazer um
esforço muito sério para conhecer, estudar e entender o que “os fariseus que se
assentam na cadeira de Moisés” dizem e ensinam, sobre uma variedade de
questões que todos nós enfrentamos como judeus vivendo em um mundo pós-
moderno. Temos que descobrir um sistema operacional que nos permita respeitar
e aceitar a interpretação tradicional do judaísmo ortodoxo. Ao mesmo tempo,
devemos adicionar elementos de vida, a orientação do Espírito Santo e uma boa
dose do amor e graça de Deus, no espírito dos ensinamentos de Yeshua. Este
pode ser o maior desafio do movimento judaico-messiânico hoje.
Estas palavras podem cortar e ferir profundamente, mas sem uma avaliação
honesta do que somos hoje, não seremos capazes de formar um corpo de halachá
eficaz e confiável. Sem este tipo de honestidade dolorosa, qualquer halachá
que fizermos será de curta duração e de divisão para o Corpo do Messias e para
Israel como povo. Em suma, se queremos criar nosso próprio corpo de halachá,
precisamos fazê-lo com muita cautela e com muita oração e consideração.
É minha firme convicção que com a boa vontade dos membros da nossa
comunidade messiânica e uma ampla base de líderes ponderados e
conhecedores, podemos construir uma halachá bíblica e judaica para as futuras
gerações de judeus messiânicos. Temos que começar por preparar o apoio moral
e financeiro suficiente para aqueles que cumprem a tarefa, e escolher as pessoas
de acordo com suas qualificações espirituais e intelectuais como estudantes
honestos da Palavra de Deus e da tradição judaica. Nossa halachá deve
estar enraizada nas Escrituras e na graça de Yeshua. Uma parte vital do
desenvolvimento da halachá judaico-messiânica é nos voltarmos à autêntica
hermenêutica judaica, com a orientação do Espírito Santo. Desta forma, seremos
capazes de crescer e evoluir para um Corpo do Messias saudável, forte e
unificado.
Capítulo 7
1
Neste versículo, “andando” está diretamente relacionado a guardar os mandamentos de Deus.
2
Este versíc ulo usa “andardes” referindo-se ao modo justo de vida que o crente deve seguir.
3
A instrução de Paulo aos Romanos, em relação às autoridades civis, está diretamente relacionada à
guarda da halachá que mais tarde os Rabinos formularam como “dina demalchuta dina,” (a lei do
reino - Roma ou qualquer outro governo pagão - é lei).
4
Paulo aqui está claramente tomando uma decisão haláchica para todas as suas congregações. Ele
ordena às pessoas em todas as congregações a andar de acordo com o seu “chamado.” Se eles são
)udeus (circuncidados), eles não devem estar andando como Gentios (incircuncisos). Esta é uma
decisão haláhica a que ele obriga todas as congregações como uma ordenança.
Os princípios da educação judaica
Os outros pilares incluem mikveh (ritual de imersão), cuidar dos pobres e cuidar
dos mortos, o que significa a lavagem de seus corpos antes do sepultamento, a
manutenção do cemitério, etc. Neste estudo, entretanto, vamos nos concentrar na
educação e sua importância na comunidade judaica.
No entanto, a salvação não é a única coisa que Deus quer de nós. Ele quer que
sejamos instrumentos e ferramentas em Suas mãos. Deus pode transformar um
jumento em um profeta, e Ele até fez isto uma vez, no caso de Balaão.
Entretanto, nenhum de nós deve se esforçar para ser um simples jumento.
Deus pode e usa as pessoas mesmo que elas sejam ignorantes, mas aprender e
estudar a Palavra de Deus é essencial.
Estamos vivendo em um mundo que não é tão simples como ele costumava ser
há algumas centenas de anos, porque as pessoas têm acesso à comunicação
moderna e a um monte de informações. Crianças de sete ou oito anos já sabem
como navegar na internet e procurar as coisas, e conhecimento é poder. O
conhecimento da Palavra de Deus é poder duas vezes, porque não só afeta as
nossas vidas aqui na terra, mas também no céu. A ignorância nunca foi um dom
e o estudo é uma das coisas mais importantes na vida. Essa é a compreensão
tanto bíblica como judaica de vida. Somos ordenados a estudar e a apresentar-
nos aprovados para justificar a confiança e o crédito
que Deus nos deu. Somos ordenados a ter respostas da Palavra de Deus e do
Espírito Santo, se alguém nos pergunta qual a razão da esperança que há em nós.
No entanto, esse é apenas um aspecto da compreensão e estudo da Palavra de
Deus.
O povo judeu estuda a Bíblia universalmente lendo a mesma porção da Torá nas
sinagogas em todo o mundo, a cada semana em particular. Não importa se são
Reformistas, Conservadores, Ortodoxos, Reconstrucionistas ou Messiânicos.
Todos os judeus, em todo o mundo, lêem o mesmo texto da Bíblia a
cada semana. Uma vez por ano lemos e estudamos publicamente todos os cinco
Livros de Moisés e parte dos Profetas na parashá (porção semanal).
Há uma porção em Êxodo que contém algumas coisas muito importantes sobre a
educação e o estudo. Lendo em Êxodo 12:25-27 vemos: quando entrardes na
terra que o
Senhor vos dará, como Ele prometeu, observai este rito. Quando vossos filhos
vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao
Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando
feriu os Egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou.”
Quando nossos filhos nos vêem fazendo alguma coisa, não importa o que seja,
eles perguntarão: “o que é essa coisa que você está fazendo?” Enquanto crescem,
as crianças fazem perguntas tais como: “papai e mamãe, por que estamos
indo para a congregação? Por que acreditamos em Deus? Quem é esse Yeshua?
Por que você dá dinheiro? Não podemos ficar em casa? Posso ficar em casa só
desta vez e assistir um programa interessante na televisão, em vez de ir para a
congregação?” Elas vão querer saber em que as nossas vidas estão centradas, e
as respostas que damos aos nossos filhos vão ficar com eles
para o resto de suas vidas. Eles não vão permanecer fiéis ou caminhar na luz, se
nós lhes dermos as respostas erradas. Eles saberão antes de qualquer outra
pessoa se somos falsos. As crianças sabem destas coisas.
Esta seção da Torá é do tempo que o povo ainda estava no Egito, e previu que
depois de chegarem à Terra, os filhos iriam perguntar a seus pais: “Que obra é
essa que vocês estão fazendo? Em que está centrada a vida de vocês?” Temos
que dar a eles uma resposta adequada.
Não estudamos na vida apenas para ganhar mais dinheiro. É uma questão de
qualidade de vida e como vamos realizar o nosso trabalho e qual equipamento
seremos capazes de usar. Uma pessoa ainda pode apertar parafusos com uma
velha faca de cozinha se não houver uma chave de fenda disponível, e a maioria
de nós já fez isso uma ou duas vezes. Se olharmos para a ponta da faca de
cozinha depois de ser usada no lugar de uma chave de fenda, no entanto, torna-se
claro que não é o ideal. Danificamos a faca, danificamos o parafuso, e
muito provavelmente, danificamos nossas mãos porque se ela desliza, corta-nos.
Ela não foi feita para essa finalidade. Não se pode ser um bom músico, sem ir à
escola, e não se pode fazer um bom trabalho de cozinhar em casa sem aprender
como fazê-lo. Se quisermos fazer algo que vale a pena, temos que saber
como fazê-lo corretamente.
Em Êxodo 13:14-16 diz: “Quando teu filho amanhã te perguntar: Que é isso?
Responder-lhe-ás: O SENHOR com mão forte nos tirou da casa da servidão.
Pois sucedeu que, endurecendo-se Faraó para não nos deixar sair, o SENHOR
matou todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito do homem
até ao primogênito dos animais; por isso, eu sacrifico ao SENHOR todos os
machos que abrem a madre; porém a todo primogênito de meus filhos Eu
resgato. E isto será como sinal na tua mão e por frontais entre os teus olhos, que
o SENHOR com mão forte nos tirou do Egito”
A educação de Deus envolve sinais também. Deus diz que quando nossos
filhos perguntarem, “O que vocês estão fazendo aqui?” nós devemos dizer a
eles, “Deus nos tirou do Egito com sinais e maravilhas e com mão forte, e
aqui está o sinal que todo judeu deve ter. Ele deve ter a Palavra do Senhor
entre seus olhos e na sua mão como um símbolo de seu relacionamento com
Deus.”
Tesouros Ocultos
baú no porão, mesmo ela sendo tào pequena agora que não poderíamos sequer
fazer uma manga dela para ele. Para ela, a calça tem um significado especial.
Nossas escolas e professores também são símbolos da nossa educação e eles têm
valor. Eu tive a sorte de ter tido alguns dos melhores professores, tanto no
judaísmo como no cristianismo. Tive a sorte de nascer no tempo em que alguns
dos “gigantes” ainda estavam vivos. Eu tive o privilégio de ter sido instruído por
pessoas como Martin Buber, um dos mais famosos filósofos judeus. Eu os ouvi e
bebi dos poços de conhecimento que eles tinham. Eu me lembro, e ainda cito,
sermões que os meus professores deram há mais de 30 anos, não porque eu
sou tão inteligente, mas porque eu queria saber o que Deus tinha para mim. Eu
tinha que ter as ferramentas necessárias para enfrentar meus irmãos e irmãs
judeus e convencê-los, com a ajuda do Espírito Santo, do porquê Yeshua é o
Messias.
Talvez nos Estados Unidos, uma pessoa pode dizer: “Siga-me apenas porque eu
sou bonita e feliz”, mas não é assim que funciona com os judeus e árabes ou em
grande parte do mundo. Temos que ser capazes de dar uma resposta sobre a
esperança que Deus plantou dentro de nós, e essa resposta tem que vir da Palavra
de Deus. Não podemos dar o que não temos. Este é o princípio número um na
educação e na vida. A pergunta agora é: onde estamos buscando o que queremos
dar? Nós queremos ser servos de Deus para que Ele possa nos usar. Ele nos
fez, deu-nos um nariz, uma boca, um cérebro e olhos, e Deus pode usar-nos se
quisermos ser usados por Ele.
Para ser um sacerdote no Tanách, havia certos requisitos. Era preciso ter nascido
da família de Arão, mas isso ainda não era o suficiente. Os homens tinham que
ser preparados desde
os três meses até os vinte anos de idade. Durante todo aquele tempo, nenhum
serviço era permitido no Templo. Todo este treinamento era feito em preparação
para, eventualmente, servir. Aos vinte anos, eles começavam a servir aos
sacerdotes como aprendizes, até completarem trinta anos, o que eram mais dez
anos de preparação. Eles só podiam servir no Templo dos trinta aos cinqüenta
anos de idade. Eles levavam trinta anos se preparando porque não podiam
cometer erros com as coisas santas de Deus. Cometer um erro com os
implementos do Templo poderia ser mortal, como está claro em
determinadas narrativas no Tanách.
Não há trabalho que seja mais gratificante também, e eu não estou falando de
recompensas financeiras. Tenho ‘bisnetos’ no Senhór espalhados por todo o
mundo, e não há nada mais gratificante do que saber que eu ajudei
algumas dessas pessoas a encontrar Yeshua, serem salvas e terem seus pecados
perdoados. Não há nada mais gratificante do que vê-los crucificados e
ressuscitados com o Messias para uma nova vida. Existem judeus, árabes,
alemães, finlandeses, japoneses e brasileiros que anteriormente eram pagãos e
vieram para o Senhor através de minha ajuda. Há uma grande recompensa para
isto e uma grande felicidade, mas também uma grande responsabilidade. Deus
espera que eu compartilhe a verdade, e não apenas um punhado de palavras
agradáveis. Se somos chamados para sermos servos, ministros, pastores,
professores ou anciãos, é muito importante ter certeza de que temos
o equipamento certo para o trabalho. É impossível ensinar o que ainda não temos
ou sabemos. Para ter, temos que receber. Para receber temos que sentar, trabalhar
e nos formar.
Deus.” A maneira de Deus educar é interessante, porque Ele usa testes para ver
se as pessoas são fiéis ou não, mesmo que isso seja difícil para nós aceitarmos.
Um dos testes mais famosos na Bíblia foi o que Deus deu a Abraão. Abraão
esperou anos para ter um filho de sua esposa Sara, e finalmente Isaque nasceu.
Então, quando seu filho chegou aos doze anos de idade, Deus veio para ele em
Gênesis 22 e disse: “Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-
te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te
mostrarei.” Sabemos que Deus fez isso para testá-lo, pois o versículo anterior
diz, “Deus testou Abraão.”
Mas qual é a razão desses testes? Deus precisava realmente testar Abraão? Deus
podia ver dentro do coração de Abraão e sabia se ele O estava seguindo, e se ele
acreditava ou não. A resposta é que era Abraão quem precisava dos testes!
Ele precisava dos testes pela mesma razão que todo aluno do ensino
fundamental, médio ou superior precisa de testes. A maior parte dos professores
do ensino médio, fundamental, e até mesmo da faculdade não são tão cruéis e
sádicos que gostam de dar testes aos alunos com provas impossíveis de serem
resolvidas. Os testes são para que o aluno saiba onde ele está, e então possa
saber o que ele aprendeu e o que ele não aprendeu. O teste foi feito para Abraão,
porque Deus conhecia o seu coração, mas Abraão precisava saber o quão longe
ele estava disposto a ir para obedecer a Deus. Não há aprendizado no judaísmo
sem testes.
Em alguns lugares nos Estados Unidos estão tentando acabar com os testes, e
este é um grande erro. Deus nos prova, e sem esses testes nós mesmos são
sabemos até onde a nossa fé nos levará. O teste de Abraão se tornou um símbolo
da grande
Essa é também a maneira como Deus lida com a educação. Quando Deus viu
que Abraão passou no teste, Ele o recompensou com a Sua bênção. Em todos os
casos registrados na Bíblia onde Deus provou as pessoas, elas se tornaram
uma grande bênção após serem aprovadas. Provar e recompensar são conceitos
muito importantes na educação judaica. Não basta apenas sentar no banco e
dizer: “Agora eu aprendi como fazer isso.” Se não praticarmos o que
aprendemos, então não aprendemos coisa alguma.
Depois que me formei em uma universidade cristã nos EUA, minha esposa
Márcia e eu convidamos um de meus professores para um jantar. Naquele tempo,
ele me disse: “Joe, Deus não vai poder te usar até você esquecer tudo o que
aprendeu nesta universidade.” O que eu aprendi na sala de aula era um monte
de conhecimento inútil, em comparação com o que aprendi com os meus
professores fora da sala de aula, observando como eles viviam, tratavam suas
famílias, oravam e estudavam a Palavra de Deus por conta própria. O que eu vi
na vida deles foi uma experiência de mudança de vida para mim. O
conhecimento é importante, mas se ele não for aplicado à vida, não se
pode servir a Deus de maneira eficaz.
Os rabinos têm um livro chamado Pirkei Avôf, “A Ética dos Pais,” que diz que
se uma pessoa quiser aprender por amor ao ensino, Deus lhe dará a oportunidade
de aprender. Se ela quiser aprender para ensinar a outros, Deus lhe dará a
oportunidade de aprender para si mesma e para ensinar a outros. Enquanto estas
coisas são boas, se uma pessoa quer aprender com o fim de praticar o que
aprendeu, então Deus lhe dará a oportunidade de aprender, ensinar aos outros, de
praticar o que ela aprende, e como um bônus, a vida eterna.
Outra declaração de Pirkei Avôt diz que qualquer pessoa cuja prática é menor do
que sua aprendizagem, vai acabar perdendo a sua aprendizagem. Em outras
palavras, se não usamos o que aprendemos, perdemos tudo. Por outro
lado, qualquer pessoa cuja prática é maior do que seu aprendizado, manterá o
seu aprendizado e receberá a recompensa no céu.
As pessoas dizem: “Olha como os judeus são bem sucedidos.” Há mais judeus
ganhadores do Prêmio Nobel do que qualquer outro grupo étnico do mundo. É
um fato que cerca de cinqüenta por cento dos vencedores do Prêmio Nobel são
judeus. Os judeus não nascem com QIs mais altos, nem são naturalmente mais
espertos do que o resto do mundo, mas eles têm a teimosia de se sentar e fazer o
trabalho requerido. Devemos ter nossas vidas disciplinadas, um desejo de
agradar a Deus e de realizar Sua obra. Sem pôr o sangue, o suor e as lágrimas
que se leva para aprender, não podemos fazer a obra. Não há mágica para isso, a
magia é apenas sentar-se em obediência a Deus e aplicar-se a fazer o trabalho. A
propósito, estatisticamente falando, as pessoas que continuam a aprender
até mesmo em sua idade avançada têm menos probabilidade de obter a doença
de Alzheimer e perder a memória. O cérebro é como qualquer outro músculo; ele
tem de ser exercitado.
“Certo dia, passou Eliseu por Suném, onde se achava uma mulher rica, a qual o
constrangeu a comer pão. Daí, todas as vezes que passava por lá, entrava para
comer. Ela disse a seu marido: Vejo que este que passa sempre por nós é um
santo homem de Deus. Façamos-lhe, pois, em cima, um pequeno quarto, obra
de pedreiro, e ponhamos-lhe uma cama, uma mesa, uma cadeira e um
candeeiro; quando ele vier à nossa casa, retirar-se-á para ali.
Um dia, vindo ele para ali, retirou-se para o quarto e se deitou. Então, disse ao
seu moço Geasi: Chama esta sunamita. Chamando-a ele, ela se pôs diante do
profeta. Este dissera ao seu moço: Dize-lhe: Eis que tu nos tens tratado com
muita abnegação; que se há de fazer por ti? Haverá alguma coisa de que se fale
a teu favor ao rei ou ao comandante do exército?
Geasi respondeu: 'Ora, ela não tem filho, e seu marido é velho!
Ela disse: 'Não, meu senhor, homem de Deus, não mintas à tua serva!
Tendo crescido o menino, saiu, certo dia, a ter com seu pai, que estava com os
segadores. Disse a seu pai: Ai! A minha cabeça!
Ele o tomou e o levou à sua mãe, sobre cujos joelhos ficou sentado até ao meio-
dia, e morreu. Subiu ela e o deitou sobre a cama do homem de Deus; fechou a
porta e saiu.
Chamou a seu marido e lhe disse: Manda-me um dos moços e uma das
jumentas, para que eu corra ao homem de Deus e volte.
Perguntou ele: Porque vais a ele hoje? Não é dia de Festa da Lua Nova nem
sábado.
Então, fez ela albardar a jumenta e disse ao moço: Guia e anda, não te detenhas
no caminhar, senão quando eu to disser. Partiu ela, pois, e foi ter com o homem
de Deus, ao monte Carmelo.
Vendo-a de longe o homem de Deus, disse a Geasi, seu moço: Eis aí a sunamita.
Corre ao seu encontro e dize-lhe: Vai tudo bem contigo, com teu marido, com o
menino?
Disse ela: Pedi eu a meu senhor algum filho? Não disse eu: Não me enganes?
Disse o profeta a Geasi: Cinge os lombos, toma o meu bordão contigo e vai. Se
encontrares alguém, não o saúdes, e, se alguém te saudar, não lhe respondas;
põe o meu bordão sobre o rosto do menino.
Porém disse a mãe do menino: Tão certo como vive o SENHOR e vive a tua
alma, não te deixarei. Então, ele se levantou e a seguiu.
Geasi passou adiante deles e pôs o bordão sobre o rosto do menino; porém não
houve nele voz nem sinal de vida; então, voltou a encontrar-se com Eliseu, e lhe
deu aviso, e disse: 0 menino não despertou.
Tendo o profeta chegado à casa, eis que o menino estava morto sobre a cama.
Então, entrou, fechou a porta sobre eles ambos, e orou ao SENHOR. Subiu à
cama, deitou-se sobre o menino e, pondo a sua boca sobre a boca dele, os seus
olhos sobre os olhos dele e as suas mãos sobre as mãos dele, se estendeu sobre
ele; e a carne do menino aqueceu. Então, se levantou, e andou no quarto uma
vez de lá para cá, e tornou a subir, e se estendeu sobre o menino; este espirrou
sete vezes e abriu os olhos.
Eliseu era um profeta que viajava de um lugar para outro no vale de Jezreel e
Monte Carmelo e tinha um ministério de profeta. Ele profetizava e ensinava, e as
pessoas vinham a ele para saber a vontade de Deus. Então, uma mulher que
sabia o quanto Eliseu tinha intimidade com Deus, convidou-o para jantar
algumas vezes. Um dia, ela virou-se para o marido e perguntou: Porque não
fazemos um apartamento pequeno para este homem de Deus?
Ela disse: “Não, eu estou vivendo com meu povo. Sou bem relacionada na
comunidade, eu não preciso de sua ajuda.”
Então, o servo do profeta disse: “Isto é o que esta mulher precisa. Ela não tem
filho, mesmo sendo casada há muitos anos. Seu marido já está velho. Vamos orar
para que Deus a abençoe.” Esta é a lição número dois na educação judaica:
a educação não é unilateral. No ocidente, o professor fica em pé no tablado e os
alunos sentam-se abaixo dele, do outro lado. O professor dá e os alunos recebem.
Esta mulher tinha sido boa para Eliseu, então ele queria retribuí-la de alguma
forma. Por isso ele disse a ela: “No próximo ano a esta época, você vai ter um
filho.” Deus honrou as palavras de Eliseu, e quando o ano seguinte chegou, ela
teve um filho.
Quando o filho cresceu, um dia ele foi trabalhar com seu pai no campo e
provavelmente, teve uma insolação. Sua cabeça começou a doer e em seguida
ele morreu. A mulher, muito dramaticamente, correu ao homem de Deus que
morava distante, umas duas horas de viagem. Suném é perto de Afula, e o
homem de Deus vivia nas montanhas do Carmelo. Demorou duas horas para ir
buscar o homem de Deus e mais duas horas para trazê-lo de volta, enquanto a
criança estava morta na cama. Então, o homem de Deus enviou seu servo
e disse: “Coloque o meu cajado sobre o rosto da criança,” mas nada aconteceu.
Quando o homem de Deus chegou, ele colocou seus olhos sobre os olhos da
criança, sua cabeça sobre a cabeça dele, etc., basicamente algo muito parecido
com o que seu mestre Elias havia feito quando o filho da viúva morreu em Tiro.
Elias levou o menino para o seu quarto, deitou sobre ele e orou: “Deus, ajude o
filho desta mulher.” Deus honrou suas palavras e a criança ressuscitou. Este
relato com Eliseu é muito semelhante. Ele fez o que seu próprio professor havia
feito. Este é outro princípio educacional importante. Somos todos como os
nossos professores, e todos nós os imitamos até certo ponto. Algumas de minhas
características, tanto boas como más, vêm de meus professores.
Eliseu fez o que ele aprendeu com seu professor e rabino Elias. Uma vez que
Eliseu era o sucessor de Elias, ele fez o que aprendeu com o seu professor. Todos
nós fazemos isto, e deve ser deste jeito. A propósito, uma forma de se reconhecer
se alguém pertence a uma seita é que eles aprendem a imitar os seus professores
de forma exagerada. Temos que ter cuidado com quem são nossos professores.
Somos todos como nossos professores, e desde que não nos tornemos seita e
continuemos a lembrar quem é o nosso Guia e Professor maior,
estaremos seguros. Afinal de contas, somos todos servos de Deus.
Eliseu ficou frustrado porque a resposta de Deus não veio imediatamente. Ele
enviou seu servo para colocar o cajado sobre o rosto da criança, mas não
funcionou. Quando ele mesmo veio, também não deu certo na primeira vez.
Sabemos disso porque o texto diz que ele andava para lá e para cá na
sala, pedindo e clamando a Deus: “Esta mulher nos abençoou, então queremos
abençoá-la.”
como uma resposta à oração. O marido da mulher já era velho, e ela não tinha
filho. Eliseu disse a ela uma palavra de profecia: “No próximo ano à essa época,
você vai ter um filho.” Então, porque esta criança morreu?
Esta estória com Eliseu é estranha da mesma forma porque a mulher foi
abençoada, mas seu filho veio a falecer. Então, Eliseu o ressuscitou dos mortos.
Por qual razão tudo isso ocorreu? Isso foi para o aprendizado deles e também
para o nosso. Não aprendemos nada a não ser através de experiência. A fé dessas
pessoas depois de terem tido uma experiência com Deus era inabalável.
Eu conheci uma mulher judia ortodoxa dos Estados Unidos. Após ter se tornado
uma discípula de Yeshua, ela imigrou para Israel. Visto que era ortodoxa, ela
começou a estudar em um seminário judaico-ortodoxo para mulheres. Quando os
rabinos descobriram que ela era uma crente em Yeshua, eles
decidiram “desprogramá-la”. Três rabinos sentaram com ela e
dispararam perguntas para ela a noite toda e não a deixaram sair do quarto
por motivo algum. Eles tentaram fazer uma lavagem cerebral nela, e ela sentou-
se e ouviu-os. Finalmente, na manhã seguinte, todos eles se cansaram e
perguntaram-na o que ela achava então. Naquela altura, eles tinham apresentado
a ela todas as objeções e ataques que podiam pensar sobre Yeshua, o
Novo Testamento e o cristianismo. No entanto, ela respondeu com uma frase e
devastou-os completamente: “Me desculpem, mas vocês não podem argumentar
contra uma experiência que tive com ele; eu não apenas creio, eu conheço
Yeshua!”
Eu acredito que o homem pousou na Lua, mas eu não estava lá. Eu não entendo
como ele fez isso ou como isso funciona, mas se eu passasse bastante tempo
estudando física e balística, e todas as diferentes trajetórias, talvez eu soubesse
ao invés de apenas crer. Como filhos de Deus, nós queremos saber e não apenas
acreditar. A fé é uma coisa maravilhosa, mas ela é muito frágil. Quando
conhecemos a Deus e temos experiência com
Ele, seremos tão fortes como minha amiga. Poderemos dizer: “Vocês não podem
argumentar contra uma experiência. Tenho experiência com Deus porque eu
conheço a Sua Palavra e a pratico. Eu sei que Ela tem poder.” Isso é que é
aprendizado!
Apêndice
(declaração geral seguida de uma especificação, seguida por sua vez por outra
declaração geral - pode-se apenas inferir o que é semelhante à especificação).
8. Kol davar sh 'haya bikelal v 'yatza min hakelal lelamed, lo l 'lamed al atzmo
yatza, elah l 'lamed AL hakelal kulo yatza
(qualquer coisa que foi incluída em uma declaração geral, mas foi então
apontada a partir da declaração geral a fim de ensinar algo. Ela não é apontada
para ensinar apenas sobre si mesma, mas para aplicar seus ensinamentos a toda a
generalidade).
9. Kol davar sh 'haya bikelal v yatza lit 'on, to 'an echad sh huk 'inyano, yatza l
'hakel v 'lo lehachmir
(qualquer coisa que foi incluída em uma declaração geral, mas foi então
apontada para discutir uma cláusula semelhante à da categoria geral, sendo
escolhida para ser branda e não mais grave).
10. Kol davar sh 'haya bikelal v'yatza lit 'on to 'on sh 'lo k 'inyano yatza l
'hakel ulehachmir
(qualquer coisa que foi incluída em uma declaração geral, mas foi então
apontada para discutir uma cláusula não semelhante à categoria geral, tende a ser
apontada tanto para ser mais tolerante como para ser mais grave).
11. Kol davar sh'haya bikelal v "yatza lidon b'davar hachadash, i atah yakol l
'hachziro likelalo ad sh "yachzireynu hakatuv likelalo b 'ferush
(qualquer coisa que foi incluída em uma declaração geral, mas foi então
apontada para ser tratada como um novo caso, não podendo ser devolvida à sua
declaração geral, salvo se a Escritura, explicitamente, a retorna à sua declaração
geral).
(duas passagens que se contradizem até que uma terceira passagem trata de
reconciliá-las).
1
Para uma lista completa destes princípios em hebraico e português, juntamente com as notas e
exemplos para cada um, consulte qualquer sidur da editora ‘Artscroll’. Estes princípios são recitados
durante o Shacharit (o serviço de oração matinal) entre a recitação de passagens da Torá sobre as
ofertas de sacrifício diárias e os Pssukei d’Zimrah (cânticos de louvor).
Bibliografia selecionada
TheMinor Tractates ofthe Talmud. Ed. Rev. Dr. A. Cohen. Socino Press, 1971.
Ibid. Paul, the Man and the Teacher in the Light of Jewish Sources. Jerusalém:
Keren Meshichit, 1995.
AMES
Caixa Postal 2177 Cep 31270-310 - Belo Horizonte - MG Tel: (31) 3498-1761 -
Fax: (31) 3498-5195 siao@ensinandodesiao.org.br www.ensinandodesiao.org.br
'Tesouros Ocultos
Há um ditado judaico tradicional que diz: “a Torá possui 70 faces .” Como,
porém, um estudante comum da Bíblia pode enxergar todas essas faces? Neste
livro inovador e de fácil leitura, Joseph Shulam explica a forma como o
judaísmo, desde os dias antigos, interpreta os textos sagrados. Alguns dos
conceitos abordados nesta obra incluem kal va-hômer, midrash, hekkesh e os
quatro níveis da interpretação rabínica. Além de explicar como esses métodos
funcionam, o autor também dá exemplos de como os escritores do Novo
Testamento utilizaram desses recursos para criar os textos sagrados nos seus
dias.
A segunda parte desse livro contém uma série de artigos sobre assuntos
relevantes ao desenvolvimento do judaísmo messiânico moderno, tais como
instrução, formulação de halachá e a necessidade de equilíbrio entre a graça e a
observância da Torá. Esta obra será de grande valor para todo aquele que deseja
aprofundar seu conhecimento sobre o contexto judaico das Escrituras e os
problemas atuais que o judaísmo messiânico contemporâneo enfrenta.
www.netivyah.org
www.ensinandodesiao.org-
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