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ARTIGOS

Plataforma digital do Poder Judiciário e acesso à Justiça 5.0: o


futuro do Processo Eletrônico Judicial

Leda de Oliveira Pinho


Leandro de Pinho Monteiro

Resumo: O objeto deste estudo é a Plataforma Digital do Poder Judiciário Brasileiro, uma resposta, pela governança e gestão, ao
problema de redundâncias e conflitos advindos das soluções que os tribunais foram dando ao avanço tecnológico das comuni-
cações. O objetivo é analisar os atos normativos correlatos, deles extrair as ações dirigidas ao propósito da plataforma e examinar
os possíveis encaminhamentos sob a perspectiva do usuário dos sistemas eletrônicos. A técnica de pesquisa é a bibliográfica e
o método de abordagem é o da complexidade. Conclui-se que unificar, desenvolver e inovar são as ações norteadoras e que há
recursos institucionais disponíveis para engajar e desenvolver o capital humano em direção à meta tecnológica pretendida e ao
Acesso à Justiça 5.0.

Palavras-Chave: Plataforma Digital do Poder Judiciário. PJe. Escuta ativa. Inteligência Artificial. Acesso à Justiça.

Abstract: The object of this study is the Brazilian Judiciary Digital Platform, an answer, by governance and management, to the
problem of redundancies and conflicts arising from the solutions that the courts have been giving to the technological advan-
cement of communications. The objective is to analyze the related normative acts, extracting actions directed to the purpose of
the platform and examining the possible referrals from the perspective of the electronic systems users. The research technique is
bibliographic and the approach is complexity method. In conclusion, unifying, developing and innovating are guiding actions and
there are institutional resources available to engage and develop human capital towards the intended technological goal and the
Access to Justice 5.0.

Keywords: Brazilian Judiciary Digital Platform. Electronic Judicial Process. Active Listening. Artificial Intelligence. Access to Justice.

1. INTRODUÇÃO judicial construído por todos os tribunais e


ao alcance de todos.
O objeto deste estudo é a Plataforma
Digital do Poder Judiciário Brasileiro (PDPJ- O desenvolvimento do tema estrutu-
-Br). Ela é uma resposta, por meio da gover- ra-se com base no problema, na possível so-
nança e da gestão, ao problema da sobre- lução e nos potenciais resultados. O proble-
posição de esforços, das incompatibilidades ma e suas causas são analisados a partir da
sistêmicas e dos conflitos, das mais diferen- revolução tecnológica, da sua influência na
tes naturezas, advindos das soluções que os formalização dos atos processuais e da au-
tribunais brasileiros foram dando, nas últi- tonomia dos tribunais. O encaminhamento
mas décadas, ao crescente avanço tecnoló- para a solução principia pela unificação para
gico das comunicações. o desenvolvimento, segue para a inovação e,
por ambos, chegará ao almejado acesso à
A meta pretendida pela PADPJ-Br – Justiça. A preparação ao Acesso 5.0 se inicia
aonde se quer chegar por meio das diretri- pela importância da união de esforços para
zes postas pela Resolução CNJ n. 335, de 29 se chegar à Justiça ao alcance de todos e à
de setembro de 2020, que a instituiu – é a importância do desenvolvimento para dar
consolidação de uma política de gestão do efetividade ao Programa 4.0, passa pelo de-
Processo Judicial Eletrônico (PJe) que per- senvolvimento com as possibilidades do uso
mita integrar todos os tribunais brasileiros da inteligência artificial no Poder Judiciário
em uma mesma plataforma construída de e finaliza com a ideia de inovar para aceder,
forma comunitária. Dar uma solução, por- para pavimentar o caminho com destino a
tanto, ao problema acima apontado. um novo patamar de realização do direito
constitucional de acesso à Justiça.
Este artigo tem por objetivos (i) ana-
lisar os atos normativos vinculados à PDP- Pela natureza do objetivo, a técnica de
J-Br, deles (ii) extrair uma síntese das ações pesquisa é essencialmente bibliográfica. O
dirigidas ao seu propósito e (iii) examinar os método da abordagem empregado é o da
possíveis encaminhamentos sob a perspec- complexidade, que (i) leva em conta os as-
tiva do usuário dos sistemas eletrônicos. pectos complexos e dinâmicos da realidade,
(ii) considera a diversidade de fontes, como
A síntese conclusiva identifica três
a pesquisa interdisciplinar, (iii) abre espaço
ações que ancoram o propósito da PDPJ-Br
para a análise da recursividade e (iv) tem ca-
– unificar, desenvolver e inovar –, todas vol-
ráter sistêmico e articulado.
tadas à obtenção de um processo eletrônico

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A escolha do tema, resultado da in- mentos. A quinta geração (1990-presente)
terseção dos assuntos plataforma digital e popularizou os computadores móveis, como
acesso à Justiça, tem relevâncias (i) atual e notebooks, smartphones e tablets (TANEM-
futura, (ii) específica quanto ao objeto, mas BAUM, 2016, p. 10).
abrangente quanto aos seus impactos, bem
como (iii) institucional e social, na medida Do lado do software, as primeiras lin-
em que alcança aspectos internos e exter- guagens de programação usadas eram pen-
nos do PJe. sadas em código de máquina, como Assem-
bly, composta de comandos mnemônicos
aceitos pelo hardware, até que a primeira
2. O PROBLEMA E SUAS CAUSAS (FOCO
NO PROBLEMA) linguagem de alto nível (pensada no progra-
mador), Fortran, foi criada em 1957 para fins
2.1 A revolução tecnológica matemáticos. Os computadores realizavam
contas complexas descritas pela linguagem
2.1.1 Panorama histórico do surgimento dos
computadores em cartões perfurados (SEBESTA, 2011, p. 63).

Hardware significa equipamento, a De lá para cá muitas linguagens sur-


parte real e física da informática, a que se giram, mas foi a partir do nascimento do
pode pegar, como um smartphone ou no- sistema operacional Unix1, criado por Ken
tebook, mas também partes externas (te- Thompson, em 1971, e da linguagem C, pro-
clado, mouse, impressora etc.) e internas jetada e implementada por Dennis Ritchie,
de um computador (processador, memória, em 1972, que softwares determinantes apa-
placa-mãe, fonte, disco rígido etc.). Software receram.
significa sistemas, a parte virtual e lógica da Em 1981, foi criado o sistema operacio-
informática, a que não se pode pegar, com- nal MS-DOS da Microsoft, empresa de Bill
posta de programas de computador, como Gates, que passou a ser vendido junto com
um sistema operacional, um navegador, um o IBM-PC, dominando o mercado da época
app, um editor de texto e outros (MONTEI- de software e de hardware, respectivamen-
RO; FERNANDES, 2021, p. 9). te (TANEMBAUM, 2016, p. 11).
O primeiro computador digital foi Tanto o sistema operacional UNIX
projetado pelo matemático inglês Char- quanto o MS-DOS eram baseados na digita-
les Babbage (1792-1871). Ele não conseguiu ção de comandos no teclado pelos usuários.
colocar seu projeto para funcionar devido Não existia uma interface de usuário (UI2)
às limitações tecnológicas de hardware da amigável como existe atualmente, tornando
época. Ao perceber que precisaria de um as tarefas mais difíceis de serem executadas.
software para sua máquina, contratou uma
jovem chamada Ada Lovelace, filha do fa- Em 1995, surgiu de fato o primeiro
moso poeta inglês Lord Byron, que passou sistema operacional independente3 do MS-
a ser primeira programadora do mundo. A -DOS, o Microsoft Windows 95, empoderado
linguagem de programação Ada® é uma pelo conceito de graphical user interface
homenagem a ela (TANEMBAUM, 2016, p. 5). (GUI – interface gráfica do usuário), com ja-
nelas, ícones, menus e interação via mouse.
Andrew Stuart Tanembaum distribui Rapidamente o Windows tornou-se o siste-
a evolução dos computadores em cinco ge- ma operacional mais usado no mundo para
rações. A primeira (1945-1955) compreende computadores do tipo desktop e notebook,
os computadores gigantes, composto de assim como seus sucessores. Em 1999, o
válvulas, como o Colossus, de Alan Turing, sistema operacional da Apple, o Mac OS X,
e o Eniac, de William Mauchley. A segunda também nasceu com o conceito de GUI.
geração (1955-1965) ocupou-se em minimi-
zar tempos de operação manual, fazendo os Em 2007, foi lançado o iOS, da Apple,
programas rodarem em lotes (batch), mas e em 2008 surgiu o Android, sistema opera-
foi somente com a evolução dos transistores cional de código-aberto, da Google, baseado
que a terceira geração (1965-1980) reduziu no Linux (TANEMBAUM, 2016, p. 14).
o tamanho dos equipamentos usando cir-
cuitos integrados e multiprogramação (TA- Nos últimos 40 anos, diversas lingua-
1Unix se tornou popular no mundo acadêmico, em agências do
NEMBAUM, 2016, p. 13) governo e em muitas empresas graças à ampla disponibilidade
do código-fonte, que era público e gratuito, o que levou muitas
A quarta geração (1980-presente) deu empresas a escreverem novos sistemas operacionais baseados
no Unix, como Linux, iOS e Android.
origem aos computadores pessoais, am- 2 UI: user interface, que é a interface visual de interação com o
usuário em um computador.
pliando o acesso dessa tecnologia, antes
3 O antecessor, Windows 3.11 for Workgroups, rodava sobre o
restrito às empresas e aos grandes investi- MS-DOS e, assim, não era independente.

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gens de programação surgiram ao mesmo surgimento de poderosos frameworks7, ela
tempo que apareceram sistemas operacio- tornou possível a criação de aplicações mo-
nais modernos. Podem-se citar Cobol, Pas- dernas via navegador.
cal, Basic, C, C++, C#, Java, JavaScript, PHP,
Python e outras. Com o software Visual Ba- Nesse ponto se faz necessário diferen-
sic, da Microsoft, por exemplo, mesmo quem ciar alguns dos principais tipos de software.
não era programador tinha possibilidade de O primeiro é o software de base, composto
criar rapidamente um software com formu- por sistemas operacionais, que permitem a
lários, pois o programa evitava qualquer co- instalação dos demais sobre ele. Os princi-
dificação mais avançada. Assim, dentro do pais para computadores desktop e notebook
conceito do intraempreendedorismo, diver- são o Windows (Microsoft), MacOS (Apple) e
sos profissionais, do setor privado e do setor Linux (código-aberto e gratuito), enquanto,
público, passaram a desenvolver sistemas para smartphones e tablets, os mais co-
para, pontualmente, auxiliar na execução de muns são o iOS (Apple) e Android (da Goo-
tarefas.   gle, de código-aberto e gratuito). O segundo
é o software aplicativo, que engloba todos
Na falta de normas ou diretrizes de de- os demais tipos (utilitários, editores, navega-
senvolvimento no passado, os sistemas eram dores, drives, games, banco de dados). Entre
feitos livremente dentro da necessidade e eles, precisam-se destacar duas categorias
da autonomia de cada empresa ou órgão para o contexto deste artigo.
público. Assim foram surgindo Softwares
com arquiteturas e linguagens de progra- A primeira categoria é do software
mação diferentes, feitos para plataformas cliente-servidor. Dois módulos compõem
diferentes e com interfaces distintas. A ideia esses sistemas: o cliente, instalado no com-
de convergência e interoperabilidade, pela putador, e o servidor, hospedado e acessível
natureza do processo de desenvolvimento, pela internet. O software IRPF, por exemplo,
dificilmente era considerada, uma vez que é dessa categoria. A pessoa faz o download
esses sistemas não foram projetados para do módulo cliente e, concluída sua declara-
serem compatíveis uns com os outros.  ção, envia para o módulo servidor.

A outra categoria de software é cha-


2.1.2 Da internet à experiência do usuário mada de aplicação web. A interface com o
usuário é chamada de front-end e, a parte
Redes de computadores existem des-
do servidor e do banco de dados, chamada
de 1950, mas a internet, a rede mundial de
de back-end. Por exemplo, os sistemas dos
computadores, foi desenvolvida em meados
tribunais, como o PJe do Tribunal de Justiça
de 1980 (HAVERBEKE, 2018). No Brasil, ela
do Distrito Federal, acessível na página do
ganhou grande destaque no final da dé-
tribunal.
cada de 90. Os computadores tornaram-se
mais acessíveis para usuários domésticos, Alguns softwares possuem uma ver-
e os modens4 eram comercializados pelos são em cada uma dessas categorias. Por
provedores de acesso (operadoras de tele- exemplo, o Microsoft Teams, sistema ado-
fonia). Na época, os sites5 tinham conteúdo tado atualmente pelo Poder Judiciário para
meramente informativo. Não existiam fun- audiências online, possui duas versões: uma
cionalidades como cadastros, logins, repro- que roda a partir do navegador e outra que
dução de vídeos e outras interações ou mes- pode ser baixada e instalada no computa-
mo interfaces sofisticadas. dor.
Nesse contexto, a linguagem JavaS- É interessante notar que, tecnica-
cript6 (JS) foi introduzida em 1995 como mente, os softwares da primeira categoria
uma forma de adicionar funcionalidades e podem usar todos os recursos do sistema
interatividades às páginas web do navega- operacional, não existindo software inter-
dor Netscape. A linguagem, desde então, foi mediário. Os recursos de interface são mais
adotada por todos os outros grandes nave- poderosos, permitindo gerar ao usuário
gadores web que possuem interfaces gráfi- uma experiência mais agradável. A segunda
cas e não parou de expandir. Com a evolução categoria utiliza sempre o navegador, mais
de novas versões da linguagem JS aliado ao limitado justamente por privilegiar a com-
4 Equipamentos que realizam a conexão entre a internet e um patibilidade entre diferentes plataformas.
computador.
5 Páginas escritas na linguagem de marcação HTML e hos-
pedadas em um servidor remoto (provedor de hospedagem), É por isso que alguns softwares pos-
acessíveis por um navegador ao digitar seu domínio. 7 Framework: é um conjunto de funcionalidades prontas para
6 JavaScript, representado pela sigla JS, é diferente da lingua- serem usadas nos desenvolvimentos de novos softwares, ou
gem Java, criada pela empresa Sun Microsystems e que hoje é seja, um novo projeto não partirá do zero, e sim de alguns fra-
de propriedade da Oracle. meworks bem consolidados.

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suem uma versão diferente para computa- Processo Civil e com elas passou a tramitar.
dor com Windows, outra para MacOS, outra À certa altura dos trabalhos, foi constatado
para Android e outra para iOS. Em uma apli- seu caráter de lei autônoma por sua apli-
cação web que roda no Google Chrome, to- cabilidade aos atos processuais em geral.
das as plataformas podem acessá-la. Destacada daquele conjunto de projetos,
passou a tramitar como Projeto de Lei (PL)
Essa diferença no quesito interface n. 3.806/1997.
entre as duas categorias passou a ser re-
duzida drasticamente nos últimos 15 anos. Na seara do direito, a prática social
Primeiro, em 2005, formalizou-se o conceito costuma anteceder à forma legal. A trans-
de Ajax8, uma versão do JS que atualizava as missão por fax já vinha sendo praticada há
páginas da internet sem a necessidade de algum tempo, mas sem a uniformidade e a
recarregá-las, melhorando a experiência do segurança que lhe vieram dar a norma pos-
usuário. ta. A lei, em boa hora e em poucos e objeti-
vos artigos, definiu o meio de transmissão
Em 2013, foi lançado um framework – fac-símile ou outro similar –, o prazo e a for-
chamado React, desenvolvido em JS pelo ma de ratificação do ato, a responsabilidade
Facebook e de código aberto, visando criar pelo ato e suas consequências e respectivas
interfaces de usuário (UI) em sites e aplicati- sanções, bem como liberou o órgão judican-
vos. Seu objetivo é facilitar a criação de inter- te da obrigação de dispor dos equipamen-
faces interativas, aquelas em que o usuário tos de recepção.
interage com uma ação e o sistema retorna
uma reação. Trata-se de um poderoso recur- No caso da Lei n. 9.800, de 26 de maio
so para o desenvolvimento de software, o de 1999, porém, essa permeabilidade foi
qual pode ser usado no front-end, back-end bloqueada, em alguns tribunais, quanto à
ou em apps. Em 2015, o Google também transmissão da peça recursal por e-mail. O
contribuiu com bibliotecas desenvolvidas argumento é que aquele meio não estaria
em JS, a Angular e a Angular JS. Surgiram compreendido na similaridade de que trata
também os frameworks Vue.js e Next.js, res- o permissivo do seu art. 1º: “a utilização de
ponsáveis por importantes contribuições na sistema de transmissão de dados e imagens
área de UI e UX9. tipo fac-símile ou outro similar, para a prá-
tica de atos processuais que dependam de
Os avanços narrados refletem a intro- petição escrita”.
dução de um novo conceito, o UX, experiên-
cia do usuário, que está positivado no inciso É interessante notar que o autor do
III do art. 2º da Resolução CNJ n. 335/2020. projeto, o Senador Ronaldo Cunha Lima,
Na UI, interface do usuário, foca-se no design em sua manifestação pela tramitação em
dos elementos visuais, nas cores, layouts e separado do PLS n. 43/1995, ao discorrer so-
tipografias que gerem um visual agradável, bre o propósito da lei, justificou tal abertura
amigável, enquanto na UX pensa-se no de- antevendo a possibilidade de “utilização de
sign da interação, no fluxo do usuário e dos outros meios mais modernos, como a trans-
dados, gerando um design funcional. A UI missão via modem já consagrada na inter-
possui como elemento base a criatividade, net” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1997).10
enquanto a UX tem foco na análise.
Como se vê, a equalização do forma-
lismo processual com o avanço tecnológico
2.2 Os recursos tecnológicos na
formalização dos atos processuais e o equilíbrio entre uniformidade e adapta-
ção, entre segurança e celeridade, hão de
2.2.1 A Lei do Fax nos Tribunais ser considerados todo o tempo, sob pena
de criarem enormes atritos pelas diferentes
A Lei n. 9.800, de 26 de maio de 1999 velocidades em que giram a roda dos fatos
(Lei do Fax nos Tribunais), que permite às sociais, em constante processo de atualiza-
partes a utilização de sistema de transmissão ção, e a roda da aplicação do direito, por sua
de dados para a prática de atos processuais, natureza estável.
pode ser considerada como o marco inicial
legal para o uso de recursos tecnológicos na
formalização de atos judiciais. Teve origem 2.3 Os Juizados Especiais Federais
no Senado Federal, pela Proposta de Lei do Os Juizados Especiais Federais são um
Senado (PLS) n. 43/1995. Foi apensada a ou- bom exemplo dessa equalização e equilíbrio
tras propostas que alteravam o Código de e eles muito contribuíram, atuando qua-
8 Ajax é o acrônimo para JavaScript assíncrono + XML. AJAX Do-
cumentação. 10 Voto em separado no PLC n. 209/93, ao qual estava apensado
9 UX: user experience. o PLS n. 43/95. Documento n. 21 do dossiê.

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se como uma incubadora, internalizando e raciocínio espacial e delegam essa atividade
desenvolvendo práticas voltadas ao acesso aos aplicativos correlatos, que se transfor-
à Justiça, bem como captando as inovações maram em verdadeiros periféricos da me-
do mundo digital, como se demonstrará mória humana.
neste tópico.
Afortunadamente, um problema es-
Os avanços tecnológicos têm ganha- trutural, como os percalços e o custo do
do cada vez mais impulso, velocidade e di- trânsito e dos deslocamentos, contribuiu –
versidade. Nem mesmo os profissionais de desenvolvendo a técnica e preparando as
Tecnologia da Informação (TI) conseguem mentes para a migração do analógico ao di-
atualizar suas formações de forma plena e gital – para minorar o grave problema con-
no mesmo ritmo das inovações. juntural trazido pela pandemia.

Para além da dinâmica dessa con- A utilização das videoconferências já


juntura científica, a área de comunicação vinha se incorporando há algum tempo no
eletrônica tem sido objeto de frequentes e meio corporativo e no meio institucional.
diferentes ataques e violações. A segurança Tanto é assim que a Lei n. 10.259, de 12 de ju-
e o cuidado com as vulnerabilidades vêm lho de 2001, ao instituir os Juizados Especiais
ampliando a necessidade de mais linhas de Civis e Criminais (JEF) no âmbito da Justiça
código, camadas de proteção e estratégias Federal, definiu hipótese em que a reunião
de controle. O desenvolvimento dos siste- de juízes domiciliados em cidades diversas
mas torna-se cada vez mais complexo, dis- seria feita pela via eletrônica (§ 3º do art. 8º).
pendioso e sujeito às regulações protetivas, Foi essa mesma lei a precursora na regula-
como é o caso da Lei n. 13.709, de 14 de agos- mentação do processamento eletrônico ju-
to de 2018, a Lei Geral de Proteção de Dados dicial, ao permitir que os respectivos tribu-
Pessoais (LGPD). nais organizassem o serviço de intimação
das partes e de recepção de petições por
A segurança da integridade dos da- meio eletrônico (§ 2º do art. 8º).
dos, assim como a convergência de padrões,
também é importante por outras razões, As estruturas processuais mais enxu-
como a produção de provas. Nesse sentido tas dos juizados especiais, portanto, funcio-
tem-se o art. 15 do Decreto n. 8.771, de 11 de naram como verdadeiras incubadoras para
maio de 2016, que trata da manutenção do o desenvolvimento do sistema de processo
formato interoperável e da estrutura dos da- eletrônico. Desse modo, não se faz justiça
dos, visando facilitar o acesso decorrente de com os JEFs quando se refere à Lei n. 11.419,
decisão judicial11. de 19 de dezembro de 2006, que tratou do
uso de meio eletrônico na tramitação de
Como se não bastassem as dificulda- processos judiciais, comunicação de atos e
des intrínsecas à informatização, os últimos transmissão de peças processuais (art. 1º),
anos têm trazido novos desafios, mais com- como primeiro ato normativo a tratar do
plexos e de diferentes naturezas, mas quase processamento eletrônico judicial. Como se
todos eles ligados, de alguma forma, às in- viu, àquela altura outros atos já haviam in-
certezas, e a resposta à quase totalidade de- corporado ao sistema jurídico positivo regu-
les tem passado, em alguma medida, pela lação sobre a prática de atos processuais por
própria computação. meio eletrônico.
Uma dessas respostas foi o uso do GPS
(Global Positioning System ou Sistema de 2.4 A autonomia dos tribunais
Posicionamento Global) para fazer frente ao 2.4.1 O art. 18 da Lei n. 11.419, de 19 de
trânsito caótico dos grandes centros. Para o dezembro de 2006
usuário do início dos anos 2000, era um har-
dware que mal se equilibrava no painel do O art. 18 da Lei n. 11.419/2006, que dis-
carro. Poucos se davam conta da engenha- pôs sobre a informatização do processo
ria de software por trás do aparato. Os mais judicial, delegou sua regulamentação aos
velhos, com frequência, o utilizam para che- órgãos do Poder Judiciário, dentro do que
gar a um endereço desconhecido, como o coubesse a cada um e no âmbito de suas
mesmo raciocínio mental para o uso de um respectivas competências.
guia físico de cidades. Os mais novos, qua-
se sempre, o usam para além da funcionali- De um lado, essa autonomia acabou
dade de otimização de trajeto, abdicam do pulverizando a tomada de decisões e abriu
espaço para diferentes encaminhamentos,
11 Esse dispositivo regulamentou o art. 22 da Lei n. 12.965, de 23 ausência de convergência, sobreposição de
de abril de 2014 (Marco da Internet).

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trabalhos, perda de interoperabilidade, en- Processo Judicial Eletrônico (PJe) que per-
tre outros problemas. mita integrar todos os tribunais brasileiros
em uma mesma plataforma construída de
Por outro lado, emprestou agilidade, forma comunitária.
efetividade e excelência às soluções locais
e regionais, como foram as experiências do Tal regulação se aplica (art. 23), apenas
e-Gab no Tribunal Regional do Trabalho da às soluções tecnológicas que tenham por
9ª Região (TRT9) e o e-Proc no Tribunal Re- objeto o PJe e tem por objetivo (art. 2º), (i) in-
gional Federal da 4ª Região (TRF4). tegrar e consolidar seus sistemas eletrônicos
em um ambiente unificado; (ii) incentivar o
Na perspectiva da análise aqui realiza- desenvolvimento e o compartilhamento das
da, pondera-se que os êxitos obtidos não o soluções tecnológicas pelos tribunais; (ii) pa-
foram necessariamente devido à superiori- dronizar o desenvolvimento, a arquitetura, a
dade do conhecimento humano ou ao apa- experiência do usuário e a operação de sof-
rato tecnológico em si, mas sim à qualidade tware e (iv) aglutinar em uma só plataforma
da comunicação entre as partes envolvidas, a publicação e a oferta de aplicações, de mi-
à proximidade do “cliente” com o “fornece- crosserviços12 e de modelos de inteligência
dor”. De fato, são os usuários dos serviços artificial, via computação em nuvem.
de processamentos de dados quem melhor
podem informar aos desenvolvedores sobre De um lado, o modelo de convergên-
as próprias necessidades e avaliar se as solu- cia instituído pretende eliminar os ruídos e
ções propostas os atenderão ou se eventual- os conflitos entre as diferentes soluções e
mente representarão um custo despropor- sistemas de processo eletrônico judicial que
cional ao benefício obtido. foram sendo desenvolvidos pelo País para
enfrentar os avanços tecnológicos. De outro
Para o utilizador final do sistema, a lado, busca fortalecer a interoperabilidade13
face estética poderá ser irrelevante. Para o entre os diversos sistemas e criar condições
administrador, que busca apresentar um necessárias à migração voluntária dos tribu-
produto que conquiste ao primeiro olhar, ela nais brasileiros.
poderá contar muito mais do que algumas
funcionalidades que satisfariam o usuário A síntese da meta e dos objetivos da
final. Para o desenvolvedor, especialmente PDPJ-Br, portanto, pode ser expressa em
quando ainda se “programava na unha” e três ações norteadoras do conjunto de pro-
se usava linguagens mais pesadas, uma tela gramas, ações e decisões dirigidas ao siste-
de abertura mais elaborada poderia custar ma de processos eletrônicos judiciais brasi-
muito mais horas de trabalho do que as cen- leiros: (i) unificar; (ii) desenvolver e (iii) inovar.
tenas de linhas de código da rotina principal
de um sistema em D-Base. 3. O ENCAMINHAMENTO PARA A
SOLUÇÃO (FOCO NA SOLUÇÃO)
No quesito desenvolvimento, portan-
to, a comunicação entre as partes interessa- 3.1 Unificar para desenvolver
das é fundamental para que se alcance êxito
3.1.1 Governança, gestão e liderança
e excelência. Excelência no sentido de virtu-
de e contraposta à ideia da perfeição que O papel da governança, no caso da
paralisa a tomada de decisões. PDPJ-Br, orienta-se aos princípios e às dire-
trizes definidos na Resolução n. 335/2020 e
2.4.2 A PDPJ-BR E SEUS OBJETIVOS em outros atos a ela vinculados, para asse-
gurar o alinhamento das ações à síntese dos
A grande questão então é saber como objetivos propostos – unificar, desenvolver
unificar e modernizar os sistemas de pro- e inovar – , de modo que elas conduzam à
cesso eletrônico judicial em uso pelos tribu- meta pré-estabelecida de maneira eficaz
nais brasileiros, sem deles retirar autonomia (resultados, fins pretendidos), mas também
para adaptá-los às suas necessidades e, ao 12 Microsserviços são softwares que disponibilizam uma ou al-
mesmo tempo, assegurar a efetividade e a gumas funcionalidades específicas. Ex.: o usuário digita o CEP e
o sistema devolve o endereço, ou vice-versa. Não visam o usuá-
excelência desse conjunto. rio final, mas sim realizar a comunicação entre dois ou mais
sistemas, não necessariamente compatíveis, que precisam da
funcionalidade que será prestada pelo serviço. Podem ser di-
A Plataforma Digital do Poder Judiciá- mensionados, desenvolvidos, implantados e testados isolada-
mente, o que irá ajudar a identificar eventuais problemas nos
rio Brasileiro (PDPJ-Br) foi instituída pela Re- sistemas. Por sua natureza e especificidade, quase sempre são
imperceptíveis aos usuários e têm a vantagem de ser mais fa-
solução CNJ n. 335/2020, como uma política cilmente adaptados, atualizados ou incorporados.
pública aplicável à governança e à gestão 13 Interoperabilidade é a capacidade de um software se comu-
nicar com outros seguindo algum protocolo. Por exemplo, um
do processo judicial eletrônico. Sua meta é a sistema desenvolvido com a linguagem PHP pode se comu-
consolidação de uma política de gestão do nicar com outro feito em Java usando um serviço web (web-
service).

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eficiente (custo-benefício, utilização produ- tubarão, tamanduá. O líder, atento aos am-
tiva dos meios e dos recursos), efetiva (im- bientes interno e externo, logo reorganiza o
pacto, transformação e desenvolvimento, grupo em uma ação surpreendentemente
ética e responsabilidade) e excelente (levan- defensiva e, em cenas hilárias, os inimigos
do em consideração os resultados obtidos). “levam a pior”.
A governança irá se ocupar do que está O último vídeo da série tem a mesma
sendo feito, por que está sendo feito, como mensagem comercial, mas o enredo dife-
está sendo feito e qual o resultado obtido. A rente passa outra mensagem de compor-
partir daí irá modelar a tomada de decisões tamento. Agora, um vaga-lume solitário,
que caracteriza a gestão, cujo papel é mais cuja luz se projeta para trás, não consegue
executivo, de abrangência interna. iluminar o caminho escuro e colide com as
árvores da mata fechada. Ao se recuperar
Para tanto, a atividade de gestão, (i) do impacto, avista ao longe uma luz forte:
avalia os aspectos conjunturais e estruturais são outros pirilampos como ele, viajando na
envolvidos; (ii) orienta as ações e decisões segurança de uma formação que permite
aos objetivos pré-estabelecidos; (iii) com- mesmo aos primeiros perceber os obstácu-
patibiliza os recursos às necessidades e (iv) los à frente. O vaga-lume acidentado não se
monitora e avalia os resultados obtidos para junta àquele grupo. Segue, isolado, batendo
assegurar o atendimento dos fins pretendi- a cabeça nos obstáculos, caindo e retornan-
dos (eficácia), com o melhor custo-benefí- do ao mesmo procedimento malsucedido.15
cio (eficiência), com o maior impacto social
(efetividade) e com bons resultados em um Esses roteiros permitem formular al-
bom espaço de tempo (excelência). gumas perguntas que remetem ao “pano
de fundo”: o art. 18 da Lei n. 11.419/2006, a au-
Cabe à gestão, por meio de ações e de tonomia dos tribunais e a PDPJ-Br. A unifi-
tomada de decisões, (i) implementar os pro- cação das plataformas, o “viajar em grupo”,
gramas definidos ao respectivo ente, órgão fortalecerá a todos diante dos desafios ex-
ou unidade; (ii) garantir a conformidade com ternos da revolução tecnológica? A lideran-
as regulamentações pertinentes; (iii) avaliar ça estratégica da plataforma terá condições
o progresso das ações implementadas com criativas de abrigar a diversidade de estru-
foco na eficácia, eficiência e efetividade; (iv) turas, conjunturas e necessidades dos tribu-
comunicar às partes interessadas os resulta- nais? As partes interessadas, de tribunais e
dos obtidos; (v) transformar as experiências seus servidores aos usuários em geral, con-
de execução em aprendizado e (vi) revisar as seguirão entender suas posições de defesa
ações e processos decisórios com base na e se engajarão para formar a composição
análise retrospectiva. orientada?
A liderança, por sua vez, é um conceito Lidar com as pessoas é desafiante. Li-
mais próximo do repertório social. Ele pode, derar mais ainda: 80% do sucesso da maior
até mesmo, ser intuído da série de anima- parte dos profissionais estão ligados a as-
ções publicitárias It’s smarter to travel in pectos emocionais. Se é verdade que todos
groups14. Desenvolvida pela Creative Collec- têm que dominar parte dos conhecimentos
tive para a empresa de transporte público de tecnologia para viver nos dias de hoje,
flamenga De Lijn, na Bélgica, a campanha que algum nível de conhecimento e de prá-
fez muito mais do que incentivar o uso dos ticas em tecnologia tem que existir, também
coletivos. Seus quatro clipes estão em vários é verdade que a liderança demanda algum
canais do YouTube e neles há lições sobre li- conhecimento e experiência emocional a
derança, cooperação, importância das tare- ser aplicada nas relações interpessoais. Ora,
fas mais simples, poder de um grupo coeso os pontos chaves da inteligência emocional
e consequências da cegueira estratégica, são o autocontrole e a empatia.
que leva uma pessoa, uma coletividade ou
uma corporação a persistir na solução ina- Na rota para a unificação e o desenvol-
dequada. vimento dos sistemas eletrônicos, portanto,
haverá de ser considerado um espaço para
Nas três primeiras animações, os ani- trabalhar as competências para além dos
mais, todos em grupo, estão ocupados em conhecimentos e habilidades técnicas, há
suas atividades corriqueiras: caranguejos que se pensar nas atitudes, no autocontrole
em uma praia, pinguins em bloco de gelo e e na empatia.
formigas carregando folhas. Na sequência,
eles se deparam com predadores: gaivota,
15 Para saber mais ou assistir aos vídeos cf.: AMORI, Mika. It’s
14 É mais esperto viajar em grupos. smarter to travel in groups. Organization Behavior, 10 jun. 2016.

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101
3.1.2 Escuta ativa e segurança psicológica Alguns desses dados são informados
em ferramentas de métricas de uso, como
Charles Duigg, autor de “O Poder do o Google Analytics, porém, outros são obti-
Hábito” e “Mais Rápido e Melhor”, relata a dos via comunicação direta com o usuário,
experiência de um estudo para identificar como e-mail, formulários, chats e outros ca-
quais eram os fatores determinantes do êxi- nais de suporte ou atendimento.
to de algumas das esquipes de trabalho do
Google, e não de outras, ainda que todas ti- Saber da dificuldade em detalhes de
vessem potencialmente as mesmas condi- cada usuário que enfrenta problemas sis-
ções técnicas e pessoais (TOLEDO, 2017). têmicos é um monitoramento importante,
seja para a solução do problema, seja para
A conclusão do trabalho foi que o di- mapear com maior precisão as funcionali-
ferencial dos grupos bem-sucedidos estava dades e os ajustes de interface que reque-
em dois hábitos que, em sua zona de inter- rem prioridade.
secção, engendravam um elemento propí-
cio aos melhores resultados possíveis. Todas Entra em cena um recurso para comu-
as pessoas da equipe eram (i) igualmente nicação com o usuário que vem sendo cada
encorajadas a falar e (ii) essas falas eram ob- vez mais usado no meio comercial: o chat
jeto de uma escuta ostensiva, na qual o líder ao vivo (live chat). Ele permite, via navega-
sinalizava que estava atento e, com isso, es- dor, uma conversa instantânea, similar à do
timulava os demais integrantes a replicarem WhatsApp, entre o usuário e um operador
tal comportamento. Ambas (iii) as condutas ou um sistema de inteligência artificial, tor-
permitiam que se criasse um ambiente de nando o processo de suporte imediato, mais
segurança psicológica, fazendo com que agradável e mais eficiente. Além disso, cada
cada integrante ficasse à vontade para con- conversa é armazenada como um ticket,
tribuir, sem medo de ser censurado, perce- uma ocorrência, que pode ser enviada por
besse a importância de sua participação e se e-mail para fins de registro e analisada para
mantivesse engajado no propósito do grupo. incrementar a experiência do usuário.

A escuta qualificada consiste em ouvir Nessa funcionalidade abre-se espa-


atentamente a pessoa a quem se fala e de- ço para uma escuta qualificada que traz ao
monstrar, sinalizar, a prática da escuta ativa – usuário um certo conforto, um sentimento
seja pelo olhar, seja por repetir um argumen- assemelhado ao de estar sendo ouvido por
to, seja por conferir com ela a interpretação uma pessoa. Para além do enorme ganho
do que foi dito. Dito de outro modo, cuida-se de assertividade no processo de unifica-
de externar à pessoa que fala uma atitude de ção, desenvolvimento e inovação, seria uma
atenção plena, que se trata efetivamente de excelente oportunidade para humanizar
um diálogo e não de um monólogo iludido16. a interface dos sistemas e reforçar o enga-
jamento do indivíduo com o grupo, com o
Uma escuta ativa, atenta e focada, por- propósito da plataforma.
tanto, é fundamental nos ambientes corpo-
rativos. A questão que se coloca é como fa- Já o inciso XIII do art. 4º da Resolução
zer isso em um ambiente digital, como, por n. 335/202018 toma o sentido inverso. No lu-
exemplo, concretizar o inciso III do art. 2º da gar de o sistema receber a demanda de in-
Resolução n. 335/202017? formação do usuário, é este quem, sem o
perceber, fornece informações ao sistema
O conceito de experiência do usuá- para que ele se aperfeiçoe. O conceito de
rio (UX) posta no inciso III do art. 2º consiste machine learning é aquele utilizado por um
em analisar os dados das interações entre o software para melhorar suas ações e rea-
usuário e o sistema a fim de aprimorar sua ções com base na análise de suas próprias
usabilidade. experiências, de forma que, quanto mais da-
dos e mais precisos, melhor será o aprendi-
16 Rubem Alves (1933-2014) fala, em um lindo texto, da cons- zado de máquina.
tante oferta de cursos de oratória, para quem quer aprender a
falar, em contrapartida à inexistência de demanda para cursos
de “escutatória”, se acaso os houvesse. Faltariam alunos! Have-
ria ouvidos o bastante para completar muitas turmas, mas o 3.2 Desenvolver para inovar
silêncio para o exercício da escuta inibiria as matrículas. Pontua
os tropeços na escuta: impaciência, ansiedade, arrogância e
vaidade. Explica que o hiato entre uma fala e outra é necessário
3.2.1 Intraempreendedorismo
para que no silêncio da pausa, sejam digeridos os pensamen-
tos e o raciocínio de cada um dos interlocutores (ALVES; CONTI, Intraempreendedorismo é a capacida-
2015).
17 Art. 2º  A PDPJ-Br tem por objetivo: [...] III – estabelecer pa- de de empreender dentro de uma organiza-
drões de desenvolvimento, arquitetura, experiência do usuário 18 Art. 4º  A PDPJ-Br adotará obrigatoriamente soluções que
(User Experience - UX) e operação de software, obedecendo as abranjam os seguintes conceitos: [...] XIII – adaptável ao uso de
melhores práticas de mercado e disciplinado em Portaria da ferramentas de aprendizado de máquina (machine learning) e
Presidência do CNJ; e [...]” de I.A.; [...]

102
ção, seja ela do setor privado, seja público. integram as características do gestor e do
É muito comum as empresas de tecnologia, líder (LORENZO, 2020).
que têm estruturas menos hierarquizadas,
dirigirem seu olhar ao futuro e usarem in- 3.2.2 Curadoria de aprendizado
tensamente a criatividade, matéria-prima
essencial na arquitetura e desenvolvimen- O uso massivo da comunicação digi-
to de sistemas. A inovação é fundamental- tal tem influenciado o modo de se relacio-
mente um exercício de criatividade. nar com as pessoas e com o mundo de uma
maneira geral. Do consumo à educação, das
O intraempreendedorismo, tanto no relações sociais até as relações mais íntimas
ambiente público quanto no privado, mui- foram afetadas por essa exacerbação de uso
tas vezes é viabilizado por meio do desen- e de informações. Diante de tantas opções,
volvimento de softwares, como é o caso do surgem as perguntas: – Quais fontes de co-
Mandamus. nhecimento são confiáveis? – Quais con-
teúdos escolher? – Qual a melhor forma de
A atitude intraempreendedora envol-
selecionar o que é confiável e o que é im-
ve a capacidade (i) de “identificar problemas
portante?
relevantes que não foram expostos”, (ii) de
ter proatividade executiva, “se mover à exe- A curadoria na educação, em espe-
cução mesmo sem um pedido externo”, e cial na educação corporativa, foi o caminho
(iii) de assumir o problema, “a responsabi- escolhido por muitas empresas para usar
lidade dos fatos para si” (BARBOSA, 2019). a seu favor o excesso de oferta de informa-
Bem por isso, um dos conceitos de intraem- ções. Usando a alegoria da costura e confec-
preendedorismo é comportar-se como se ção, a curadoria consegue, ao mesmo tem-
fosse o dono da empresa, com vistas ao en- po, transformar peças populares de lojas de
gajamento e à busca por resultados. departamentos em exclusivos modelos sob
medida e viabilizar o uso cotidiano de peças
A identificação de problemas ainda
de alta costura. Essa flexibilidade e poder de
não expostos correlaciona-se ao pensar fora
adequação são possíveis porque ela conse-
do padrão. O pensar “fora da caixa” é bem
gue identificar as necessidades específicas
ilustrado pelo problema de lógica que pede
do seu público-alvo e selecionar o produto
para unir todos os pontos sem tirar a caneta
adequado para atendê-lo.
ou o lápis do papel. A solução só é possível
se houver um traço para além do quadrado. Essa modelagem dirigida amplia os
resultados de aprendizagem, permitindo
A proatividade executiva significa en-
conciliar os resultados técnicos, as hard
tregar resultados. O que destaca o líder e o
skills, com os resultados interpessoais, as
empreendedor é a entrega, a execução. Co-
soft skills, e ainda fazê-lo na perspectiva dos
meçar e terminar, ter “acabativa”, em con-
propósitos institucionais. Saber o interesse
traponto à iniciativa (LORENZO, 2020).
e as necessidades do público-alvo, além da
Assumir responsabilidades, chaman- seleção de conteúdo, permite eleger um
do o problema para si implica também ad- formato que seja mais atrativo e obtenha
mitir as falhas e focar na solução. Isso quer maior engajamento.
dizer agir diferentemente daquele vaga-lu-
Por conta dessas características da
me que persistiu no erro da viagem solitária
curadoria de aprendizado, por sua sinto-
e na iluminação para trás, ao passado.
nia fina no ajuste entre as necessidades da
Talvez essa seja uma das mais desa- instituição e as necessidades do público-al-
fiadoras decisões de quem ocupa um posto vo, ela poderá ser um agente facilitador de
de gestão ou liderança devido à magnitude grande valia para vencer um dos maiores
dos eventuais prejuízos, de toda a natureza, desafios da transformação digital: pensar
envolvidos. Contudo, a ousadia faz parte das digitalmente, pensar nos processos de ma-
características da função, o conhecimento neira digital e não de maneira analógica.
dos riscos e dos limites legais e éticos im-
Um bom exemplo dessa passagem é
plicados e a capacidade de mudar de uma
o da automatização de tarefas. Há alguns
tática fracassada a outra abordagem. De
anos um funcionário, trabalhando oito horas
uma certa maneira, essa atitude de reco-
por dia, levava doze dias do mês para pre-
nhecimento e de aprendizagem com o erro
parar um relatório de uma dada atividade.
faz parte dos altos padrões de integridade
Transpunha os dados de três fontes diferen-
– conduzir-se com justiça, honestidade, leal-
tes para uma planilha. Isso até ele aprender
dade e comprometimento – que também
a programar em Python, criar um robozinho

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(software de automatização) e passar a pro- plicitados em seu rol de competências, dos
duzir esse trabalho, sem erro e a qualquer quais, para efeitos deste estudo, destaca-se
momento, em três horas. A ferramenta di- o inciso IX do art. 3º: “apoiar os órgãos do CNJ
gital converteu aquelas noventa e seis horas na buscar de soluções para problemas com-
de trabalho humano e mais as três horas plexos, tomando por base metodologias de
mensais para gerar o relatório, em um tem- inovação e inteligência que considerem a
po muito menor no seu próprio desenvolvi- empatia, a colaboração interinstitucional e a
mento, implantação e manutenção, diluídos experimentação” (CNJ, 2019).
por sua vida útil (LORENZO, 2020).
Esse dispositivo remete ao papel da
Esse fenômeno ocorreu, em maior ou governança e da gestão diante do proble-
menor escala, ao longo dos últimos anos ma das redundâncias, incompatibilidades
em várias unidades jurisdicionais. A notícia e conflitos que travam a evolução positiva
se espalhava pelos corredores. Na sequência do PJe. A solução, no enfoque aqui analisa-
chegava a um colega, a um supervisor, até do, parafraseando aquela competência do
que aquela pessoa mais afeiçoada à com- LIODS, está justamente em apoiar os tribu-
putação passava a prestar uma espécie de nais na busca de soluções para a unificação
curadoria informal para a comunidade. dos diferentes sistemas eletrônicos, toman-
do por base metodologias de inovação e
Outras vezes, as novidades das boas inteligência que considerem a empatia, a
práticas eram trazidas e levadas por ocasião colaboração institucional e a experiência do
das correições ordinárias, até o ponto em usuário.
que a oralidade foi substituída pela forma-
lidade do compartilhamento digital: migrou Em comum com os três elementos a
para um boletim, uma cadeia de e-mails ou serem considerados – empatia, colabora-
um espaço na aba da Corregedoria com os ção institucional e experiência do usuário –
projetos de toda a região. Um deles tratava está o ato e a importância da escuta ativa. O
justamente de uma iniciativa similar à cura- LIODS se apresenta justamente com um ca-
doria: “Qualificação Integrada – QI”, da 2ª nal disponível, testado e aprovado para essa
Vara Federal da Subseção Judiciária de Ma- escuta qualificada, para identificar gargalos
ringá/PR (Ajufe, 2019). e ruídos na comunicação, para dimensionar
impactos e avaliar possibilidades e, princi-
Os LIODS, que serão objeto do próxi- palmente, para aglutinar e conciliar pessoas
mo tópico, ainda que não se ocupem dire- e instituições, meios e propósitos estratégi-
tamente da curadoria de aprendizado, são cos.
uma excelente fonte de levantamento das
necessidades vinculadas ao PJe. São eles
3.3.2 Centro de Inteligência
que têm o privilégio da visão horizontal em
uma dada região, na medida em que po- Aos laboratórios de inovação se unem
dem integrar todos os ramos da Justiça em os centros de inteligência já existentes no
um mesmo evento e, assim, identificar dife- Judiciário, ambos habilitados a criar uma
rentes necessidades, os problemas comuns rede de colaboração entre seus agentes.
e as propostas de solução desejáveis.
O Centro de Inteligência do Poder Ju-
3.3 Inovar para aceder diciário (CIPJ) foi criado pela Resolução CNJ
n. 349, de 23 de outubro de 2020. Seu foco
3.3.1 Laboratório de inovação é a realização do princípio constitucional da
eficiência (art. 37 da Constituição Federal de
O Laboratório de Inovação, Inteligên-
1988 – CF/88) dirigida às demandas repetiti-
cia e Objetivo de Desenvolvimento Susten-
vas e aos grandes litigantes como meio para
tável (LIODS) foi formalmente criado pela
a concretização do acesso à Justiça e funcio-
Portaria CNJ n. 119 de 21 de agosto de 2019.
nalizado por uma estratégia resolutiva dos
É também um programa, como o Acesso
litígios em curso e preventiva dos novos.
4.0. Ele amalgama a cooperação, o conhe-
cimento institucional e a inovação, o que re- Entre as considerações que justifica-
flete, de uma certa forma, os propósitos da ram sua criação estão aspectos que se vin-
PDPJ-Br: unificar, desenvolver e inovar. culam aos sistemas eletrônicos envolvidos
no PJe: (i) a adoção de “metodologias ino-
Sua vocação para o diálogo e para a ar-
vadoras e de uso de recursos tecnológicos
ticulação entre as partes interessadas e seus
para a identificação da origem dos conflitos”
objetivos vinculados aos valores paz social
judiciais e (ii) as possibilidades estratégicas
e justiça, segurança e efetividade, estão ex-
trazidas pelo trabalho remoto e pelas novas

104
tecnologias de videoconferência capazes de efetividade ao processo como meio para rea-
engajar especialistas em localidades diver- lizar o direito material. A efetividade, a seu
sas. turno, é resultado da concretude desse di-
reito e leva à paz social. A paz social, por sua
Se é verdade que a atuação do CIPJ vez, realiza o valor segurança. A segurança,
também inclui aspectos relacionais, como valor que no preâmbulo constitucional está
a empatia, a colaboração institucional e a assentado entre a liberdade e o bem-estar,
experiência do usuário, também o é o fato labora para o acesso à Justiça, retomando o
de sua posição estar muito mais próxima da fluxo positivo em direção à efetividade.
condição de destinatário final, de usuário,
do que da de fornecedor de serviços, de par- No caso da PDPJ-Br, como se viu, o
tícipe direto do desenvolvimento. “destino da caminhada” é o mesmo: a pres-
tação jurisdicional por meio de um processo
Contudo, essa posição estratégica no eletrônico judicial que tenha eficácia, efi-
tabuleiro das funções e dos papéis o torna ciência, efetividade e excelência.
um contribuinte qualificado para relatar
sua experiência de usuário dos sistemas nos Usando a alegoria da orquestra, pode-
diferentes tribunais, das possibilidades de -se dizer que, no âmbito dos recursos tecno-
convergência de padrões, como é o caso da lógicos, o papel do CNJ tem sido o de um
Tabela Processual Unificada (TPU), e de ou- maestro a reger a orquestra na execução de
tros encaminhamentos facilitados por sua uma peça musical que pretende entregar
privilegiada visão horizontal do conjunto. ao público o melhor de sua experiência.

4. PREPARAR PARA O ACESSO 5.0 (FOCO 4.1.2 Os tribunais e o Programa 4.0


NO RESULTADO)
A preparação ao Acesso 5.0, do qual
4.1 Unir para assegurar a justiça ao alcance adiante será falado, inicia-se pelo papel es-
de todos.
sencial da união de esforços para se chegar
4.1.1 O papel do CNJ na união à Justiça ao alcance de todos e à importân-
cia do desenvolvimento para dar efetividade
O CNJ, órgão de controle da atuação ao Programa 4.0:
administrativa e financeira dos tribunais,
tem competência para coordenar o planeja- Programa Justiça 4.0 – Inovação e efetivi-
mento e a gestão estratégica do Poder Judi- dade na realização da Justiça para todos”,
ciário. Nas seções precedentes, ao examinar do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
nasceu com o propósito de promover o
os atos normativos que tratam da PDPJ-Br
“acesso à Justiça por meio de ações e pro-
e de outros projetos e programas, ficou evi-
jetos desenvolvidos para o uso colaborati-
dente seu papel no estabelecimento e na vo de produtos que empregam novas tec-
execução das políticas públicas, por meio da nologias e inteligência artificial (CNJ, 2021).
governança e da gestão, voltadas ao acesso
à Justiça. Dele fazem parte ações e projetos vol-
tados à implantação do Juízo 100% Digital e
Quando se trata do LIODS (3.3.1), des- da PDPJ-Br, para qual está aberta a possibi-
taca-se sua vocação ao diálogo e à articu- lidade de ampliação do grau de automação
lação entre as partes interessadas e seus do processo judicial eletrônico e o uso de in-
objetivos vinculados aos valores paz social e teligência artificial (IA), além de várias outras
justiça, segurança e efetividade. ações voltadas ao acesso à Justiça.
Esses mesmos valores estão, expres- Um bom exemplo dessas ações e pro-
sa ou implicitamente, na missão do CNJ jeto é o do Tribunal  de Justiça do Estado
– desenvolver políticas judiciárias que pro- Paraná, que implantou recentemente o Pro-
movam a efetividade e a unidade do Poder grama Justiça 4.0, habilitando-se a partici-
Judiciário, orientadas para os valores de jus- par da plataforma colaborativa, contribuir
tiça e paz social – e na sua visão de futuro: com soluções inovadoras e ter acesso às tec-
ser reconhecido como órgão de excelência nologias desenvolvidas por outros órgãos.
em planejamento estratégico, governança e Eles já contavam em seu acervo tecnológico
gestão judiciária, a impulsionar a efetivida- com o Projeto de Inteligência Artificial e Au-
de da Justiça brasileira. tomação (PIAA), um robô desenvolvido pelo
DTIC em 2019 que confere mais eficácia na
Há uma circularidade virtuosa nesses
utilização dos sistemas eletrônicos.
valores. O acesso à Justiça, colocado como
razão de ser do CNJ, tem aptidão para dar

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4.2 Desenvolver para dar efetividade ao disponibilizar para consulta e para produção
Programa 4.0 os modelos liberados (§ 2º do art. 5º); e por
4.2.1 A inteligência artificial proporcionar auxílio técnico aos tribunais
na implantação de ferramenta de extração
O termo inteligência artificial (IA) foi automatizada e contínua de dados, dispo-
usado pela primeira vez, formalmente, em nibilizada pelo ecossistema Sinapses, na in-
1956, mas se popularizou à medida que a teroperabilidade dos sistemas processuais
área cresceu nos últimos anos. eletrônicos em uso e nas APIs (application
programming interface) providas automati-
Stuart Russell e Peter Novig (2013, p. camente pela plataforma (art. 6º).
14) apresentam um compilado de defini-
ções sobre IA com perspectivas diferentes. Além disso, contextualizando este es-
Na visão de que a IA deve agir como um ser tudo, a Portaria CNJ n. 271 de 4 de dezem-
humano, é o estudo de como os computa- bro de 2020, art. 14, atribui aos tribunais a
dores podem fazer tarefas que hoje são me- realização de treinamento de seus colabo-
lhor desempenhadas por pessoas. Do ponto radores para o uso adequado da plataforma
de vista de que ela pense racionalmente, é o de IA, o que abre espaço à oportunidade de
estudo das faculdades mentais pelo uso de implementar a experiência de curadoria já
modelos de computador. Considerando que mencionada (3.2.2). Tal experiência pode,
ela deve agir racionalmente, é o estudo do ainda, ser exercitada com sinergia a outros
projeto dos agentes inteligentes. programas do CNJ, como a Agenda 2030 e
dela à representatividade da mulher na ma-
Os agentes inteligentes (AI) existem gistratura dentro do modelo proposto em
como um organismo não biológico e o pen- “As competências constitucionais da Justiça
samento só é uma das formas de atuarem. Federal por Elas, as Juízas Federais” (PINHO,
Eles conseguem atuar no mundo por três 2019, p. 195-209).
vias: (i) raciocina, tem pensamento; (ii) per-
cebe o mundo, tem percepção e (iii) a par-
4.3 Inovar para chegar ao Acesso 5.0
tir dessa percepção, atua. Essa mudança
de nomenclatura, de inteligência artificial 4.3.1 A inovação e a Sociedade 5.0
para agentes inteligentes se explica pela
compreensão de que aqueles seres não bio- A ideia de acesso à Justiça 5.0 tem pa-
lógicos atuam para além do raciocínio. O ralelo com a ideia de Sociedade 5.0, que veio
pensamento é apenas uma das formas de do Japão de um programa de políticas a se-
atuarem no mundo: são capazes de atuar rem colocadas em marcha de 2016 a 2021.
no mundo porque o percebem; raciocinam, Elas têm por objetivo a resolução de desa-
a partir dessa percepção do mundo e, ao fios humanos e a reconciliação do ser hu-
perceber, atuam, agem (VILHENA, 2021)19. mano com a máquina, usando a favor dele
sua criatividade (ENGINE, 2018).
A IA, assim, é um campo amplo de pos-
sibilidades voltado ao estudo de sistemas Os recortes sociotemporais anterio-
inteligentes, os quais podem ter diferentes res – 1.0 Sociedade de Caça; 2.0 Sociedade
níveis de inteligência computacional; e ela da Agricultura; 3.0 Sociedade Industrial e 4.0
está aí, disponível para que seja usada em Sociedade da Informação – seriam uma pre-
favor da efetividade e excelência da presta- paração à Sociedade 5.0, na qual os proble-
ção jurisdicional. mas desta quadra histórica, a desigualdade
social e o uso desenfreado dos recursos na-
turais teriam uma resposta com forte carga
4.2.2 A inteligência artificial no Poder
Judiciário axiológica, como o investimento em quali-
dade de vida, a inclusão e a sustentabilida-
O art. 5º da Portaria CNJ n. 271 de 4 de de (ENGINE, 2018), o que remete, no plano
dezembro de 2020, que regulamenta o uso constitucional, aos objetivos fundamentais
de IA no âmbito do Poder Judiciário é um da República Federativa do Brasil (art. 3º)
bom exemplo de acesso à Justiça, por inte- e, no plano institucional, aos objetivos das
grar na plataforma os esforços dos tribunais ODS (Agenda 2030).
sob a responsabilidade e coordenação do
CNJ, com o apoio e suporte técnico da equi- Em síntese, a Sociedade 5.0 toma
pe do Tribunal de Justiça de Rondônia; por como protagonista da inovação e da revolu-
19 Um aspirador de pó é um agente inteligente, com inteli-
ção tecnológica a pessoa humana. Tal ideia
gência artificial embarcada. Ele percebe com seus sensores é familiar: enquanto a justiça é valor-fim, a
uma pequena sujeira no chão; decodifica pela programação a
necessidade de limpar essa sujeira, pensa; na sequência, atua dignidade da pessoa humana é valor-fonte,
para eliminar essa sujeira. Outro bom exemplo é o carro autô-
nomo. o princípio irradiante dos demais princípios.

106
A transposição dessas ideias ao Aces- uma onda crescente de iniciativas seme-
so à Justiça 5.0, portanto, implica a conver- lhantes e revolucionou o uso desse método
gência de todos os recursos tecnológicos à alternativo de solução de conflitos, “abrindo
nossa disposição ao objetivo da efetivida- um enorme leque” de possibilidades para
de e excelência na prestação jurisdicional todas as instâncias do Poder Judiciário.
como parte da realização de valores como
(i) a qualidade de vida, com a qual se pode O sucesso de iniciativas como essa,
fazer uma correspondência com o bem-es- além do empenho que sua preparação pré-
tar, (ii) a inclusão, que permita o acesso à via demanda, requer uma visão humanista
Justiça para todos, e (iii) a sustentabilidade, que as inovações tecnológicas por si só não
que pode ser apropriada, por exemplo, na conseguem alcançar. É que mesmo na cir-
racionalidade do uso dos recursos humanos cunstância de o acordo restar frustrado, o
e materiais proposta pela PDPJ-Br. êxito para juiz, servidores, advogados e par-
tes envolvidas será de 100% pelo acesso à
O uso da tecnologia em favor das possibilidade de uma solução conciliatória.
pessoas é uma forma positiva de continuar
avançando no desenvolvimento de novas Ainda de Maringá, agora na 2ª Vara Fe-
tecnologias e, ao mesmo tempo, garan- deral, podem ser colhidos outros exemplos
tir que é possível usufruir plenamente dos de inovação: o projeto “Cópia de Decisões
avanços obtidos. e Despachos – Dois em Um”, iniciado em
outubro de 2003, consistia em usar a cópia
da própria decisão, sentença ou ata de au-
4.3.2 A inovação e o Acesso à Justiça 5.0
diência como mandado, ofício ou carta de
A melhor reação diante da máquina, intimação ou citação, o que reduziu a datilo-
portanto, é entender o processo e enxergar grafia em mais de 80%, eliminou toda uma
o melhor caminho para se preparar ao futu- cadeia de atividades e liberou a equipe para
ro. Como a lógica é essencial nesse processo outras atividades; e o projeto “Qualificação
e os algoritmos não têm a lógica criativa, im- Integrada – QI”, voltado à formação contínua
previsível, é esse o espaço a investir. e operacionalizado pelo estudo em grupo
na sala de audiências, com grade e estru-
Viver a mudança é viver em diálogo tura formal, pela composição de duplas de
constante com os campos associativos (VI- aprendizagem técnica e operacional, com a
LHENA,2021). Investir, por exemplo, no es- troca de informações entre diferentes seto-
tudo das neurociências, e compreender a res e funções, e pela replicação de conteú-
inteligência artificial como uma enorme dos por aqueles que tivessem saído para
oportunidade de exercitar o autoconheci- fazer algum curso oficial; além de outros
mento: a maneira de pensar, de perceber o voltados ao uso racional de recursos físicos
mundo e de agir. e humanos, como foram o caso do “Papel é
Vida” e o “Autoatendimento” (Ajufe, 2019).
O público externo às instituições pú-
blicas, em geral, tem a falsa impressão de O elemento humano e sua criativida-
que o serviço público não tem espaço para a de, portanto, sempre serão necessários e
criatividade ou para o intraempreendedoris- estarão no centro do processo de inovação,
mo. Ledo engano. Muito antes da dissemi- mesmo diante de muitos outros avanços da
nação do uso dos sistemas eletrônicos nos tecnologia.
tribunais, a inovação se dava por projetos
de racionalização das atividades, com altas A prática do silogismo poético, do
doses de criatividade e de habilidades inter- pensamento diferenciado, não linear, aque-
pessoais. le que dialoga com campos associativos di-
ferentes, abre espaço ao novo, à invenção e
Em agosto de 2002, com base na ne- à surpresa (VILHENA, 2021), também é possí-
cessidade de audiência prévia de concilia- vel na administração pública e os exemplos
ção nos processos que envolviam o Sistema aí estão aos milhares. Só neste artigo já fo-
Financeiro da Habitação (SFH) e da consta- ram citados alguns deles, como o LIODS e o
tação de que a quase totalidade dos proces- CIPJ. Tem-se ainda um desfile de várias ini-
sos não tinha solução pela via do pagamento ciativas a concorrer todos os anos ao Prêmio
do saldo devedor, o juiz federal Erivaldo Ri- Innovare. Para além dessas experiências
beiro dos Santos, da 3ª Vara Federal da Sub- que ganham grande visibilidade, há muitas
seção Judiciária de Maringá (PR) conduziu outras por todo este nosso imenso Brasil,
um projeto-piloto de estímulo à conciliação muitas delas ainda desconhecidas, que fa-
entre mutuários do SFH e a Caixa Econômi- zem a diferença no espaço em que atuam e
ca Federal (Conjur, 2004), que culminou em no serviço que prestam.

Revista Eletrônica do CNJ, v. 6 , n. 1, jan. / jun. 2022 | ISSN 2525- 4502


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Enquanto no campo da racionalidade dos sistemas operacionais. Seguiu analisan-
se produz o novo a partir do que é, no cam- do o papel dos recursos tecnológicos na for-
po da poética se produz o novo a partir do malização dos atos processuais, a partir da
que não existe, mas poderia existir, poderia Lei n. 9.800, de 26 de maio de 1999, conhe-
ser. E é bem nessa capacidade intelectual cida como a Lei do Fax nos Tribunais, e da
humana, a lógica da poética, que está nossa Lei n. 10.259, de 12 de julho de 2001, que ins-
reserva de mercado em relação à inteligên- tituiu os Juizados Especiais Civis e Criminais
cia artificial (VILHENA, 2021). no âmbito da Justiça Federal, para destacar
o papel pioneiro dessas regulamentações
O caminho ao Acesso 5.0, como se viu, na introdução do processamento eletrôni-
está em construção, mas muito bem proje- co judicial nos tribunais. O exame sob o foco
tado e em franco desenvolvimento a partir no problema se encerrou com a questão da
da realização do Programa 4.0. autonomia dos tribunais vista sob o impacto
do art. 18 da Lei n. 11.419, de 19 de dezembro
5. CONCLUSÃO de 2006, e com o estudo mais detalhado da
PDPJ-Br e de seus objetivos.
A Resolução CNJ n. 335, de 29 de se-
tembro de 2020, instituiu a Plataforma Digi- A análise do encaminhamento para
tal do Poder Judiciário Brasileiro (PDPJ-Br) a solução foi estruturada de acordo com as
como uma política pública aplicável à gover- três ações que sintetizam os objetivos da
nança do Processo Judicial Eletrônico (PJe), PDPJ-Br – unificar, desenvolver e inovar –,
tendo por meta a consolidação de uma po- mas sempre tendo como elemento unifica-
lítica de gestão que permita integrar todos dor a pessoa humana. Principiou pela uni-
os tribunais brasileiros em uma mesma pla- ficação, abordando aspectos das relações
taforma construída de forma comunitária. interpessoais, como a escuta ativa e a segu-
Foi uma resposta normativa ao problema da rança psicológica. Destacou a importância e
sobreposição de recursos, materiais e imate- as características da governança, da gestão
riais, e da falta de convergência e interope- e da liderança. Seguiu analisando o desen-
rabilidade dos sistemas eletrônicos judiciais volvimento voltado para a inovação pela via
desenvolvidos nas últimas décadas, em es- do intraempreendedorismo e da curadoria
pecial após a Lei n. 11.419/2006, que dispôs de aprendizado, ambos com excelentes po-
sobre a informatização do processo judicial, tenciais para contribuir significativamente
delegando sua regulamentação aos órgãos para o atingimento das metas propostas na
do Poder Judiciário, dentro do que coubesse PDPJ-Br. O exame do foco na solução do
a cada um e no âmbito de suas respectivas problema se encerrou com as possibilidades
competências (art. 18). de inovação para aceder já disponíveis na
estrutura institucional do CNJ, como o La-
A grande questão, assim, é saber boratório de Inovação, Inteligência e Objeti-
como unificar e modernizar os sistemas de vo de Desenvolvimento Sustentável (LIODS)
processo eletrônico judicial em uso pelos tri- e o Centro de Inteligência do Poder Judiciá-
bunais brasileiros, sem deles retirar autono- rio (CIPJ), cada qual a partir de um papel e
mia para adaptá-los às suas necessidades e, de uma visão particulares.
ao mesmo tempo, assegurar a efetividade e
a excelência desse conjunto. A análise da preparação ao Acesso 5.0
observou a mesma estrutura das três ações
O objetivo deste artigo foi analisar os que sintetizam os objetivos da PDPJ-Br –
atos normativos correlatos, deles extrair as unificar, desenvolver e inovar –, mas agora
ações dirigidas ao propósito da plataforma abrindo maior espaço aos elementos fáticos
e examinar os possíveis encaminhamentos do cenário. Principiou pela união dos tribu-
sob a perspectiva do usuário dos sistemas nais brasileiros como elemento essencial
eletrônicos. para assegurar a justiça ao alcance de to-
A análise do problema e de suas cau- dos, detendo-se no papel do CNJ na condu-
sas principiou pela revolução tecnológica, ção desse movimento e ilustrou o potencial
com os primeiros avanços significativos dos multiplicador dessas políticas públicas com
computadores, impulsionados prioritaria- o Programa 4.0 do Tribunal de Justiça do Es-
mente pela evolução do hardware, mas que tado do Paraná.
passaram a ser pautados pelo progresso do Seguiu analisando como o desenvol-
software, a partir da ascensão dos sistemas vimento pode dar efetividade ao Programa
operacionais modernos, das linguagens de 4.0, trazendo aspectos da inteligência arti-
programação, da internet e do peso da ex- ficial (IA) e examinando alguns dispositivos
periência do usuário no desenvolvimento

108
da Portaria CNJ n. 271 de 4 de dezembro de BOISBRUNET. La justice des femmes: essai
2020, que regulamentou o uso de IA no âm- sur la feminization de la magistrature fran-
bito do Poder Judiciário a fim de harmoni- çaise. Paris, 2003.
zar e disponibilizar instrumentos para a ma-
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Dossiê do Pro-
ximização de resultados. O exame do foco
jeto de Lei n. 3.806/1997. Brasília: Câma-
no resultado se encerrou com uma proposta
ra dos Deputados, 20 nov. 1997. Disponível
de um modelo de Acesso à Justiça 5.0, es-
em: https://www.camara.leg.br/proposi-
pelhando as possibilidades de inovação do
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Leda de Oliveira Pinho


Mestre em Direito Civil pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Juíza Federal Aposentada.

Leandro de Pinho Monteiro


Mestre em Computação Gráfica pela Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da UNICAMP. Engenheiro de
Computação. Desenvolvedor de Software.

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