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introdução......................................................

A origem da inteligência artificial................ 6

IA através do tempo....................................10

O que isso tem a ver com processos judiciais


e jurimetria?.................................................12

Na prática.....................................................17

Comentários finais.......................................21

Sobre a Finch................................................24
introdução
“Com o advento recente dos
computadores eletrônicos,
agora algumas pessoas têm
a impressão de que seremos
capazes de produzir ou construir
uma máquina que nos fornecerá
respostas para questões legais,
ou pelo menos predições
razoavelmente acuradas de
decisões judiciais sobre assuntos
legais. Todas essas expectativas
parecem infundadas e igualmente
fadadas à frustração” 1.
Lee Loevinger, 1961
1
Tradução livre. Original: Lee, Loevinger, “Jurimetrics: Science and Prediction in the Field of Law” (1961).
Minnesota Law Review 1796. https://scholarship.law.umn.edu/mlr/1799 .
Publicado em https://scholarship.law.umn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2798&context=mlr, p. 258.
1 Introdução
Beira a platitude afirmar que as “novas”
tecnologias estão criando, mudando e
extinguindo profissões. Gostemos ou não,
essas tecnologias estão afetando diretamente
as profissões jurídicas, não para extingui-las,
mas com certeza para modificá-las.

Palavras e expressões como big data,


dashboards, automação, inteligência artificial
e jurimetria, para se nomear apenas algumas,
passaram a fazer parte do vocabulário diário
de muitos operadores da área, inclusive de
cursos de Direito, que já se deram conta
da necessidade de formar profissionais
com competências e habilidades adicionais
àquelas tradicionalmente ensinadas.

O objetivo aqui é, a partir de um breve histórico do


desenvolvimento da inteligência artificial (IA), descrever como a
IA contribui na estruturação de dados de processos judiciais e
na criação de casos de uso e aplicações de jurimetria.

boa leitura!
5
2
A origem da
inteligência
artificial
2 A origem da
inteligência artificial
A IA é um dos campos mais recentes de
estudo em ciências e engenharia e seu termo
foi cunhado em 1956, quando o professor de
matemática da Universidade de Dartmouth,
John McCarthy, organizou a primeira
conferência sobre o assunto no campus.

Para ele, a IA poderia ser definida como


a ciência e engenharia de fazer máquinas
inteligentes. Um dos desafios seria criar
uma máquina que pudesse agir e pensar
como um ser humano.

A partir dessa conferência, dois grandes


campos de desenvolvimento da IA
se formaram. Andrew McAfee e Erik
Brynjolfsson2 apresentam uma brilhante
e didática explicação sobre esses dois
campos, partindo da distinção de
aprendizagem de uma segunda língua por
um adulto e de uma língua por uma criança.

2
McAfee, Andrew; Brynjolfsson, Erik; “Machine, platform, crowd:
harnessing our digital future”; 1st ed., 2017, Norton Company, p. 66-76. 7
2 A origem da
inteligência artificial
De forma breve, para aprender uma segunda
língua, um adulto precisa compreender uma
infinidade de regras gramaticais e memorizar
um extenso vocabulário.

Baseado nesse modelo, surgiu a escola simbólica,


que se caracterizou pela inserção na máquina
de todas as regras supostamente existentes no
mundo. Apesar de ter ganhado força de início, a
aludida escola sucumbiu na década de 80, dentre
outras razões, porque é virtualmente impossível
incutir num sistema todas as regras do mundo e
porque nós, seres humanos, sabemos muito mais
do que conseguimos dizer (Paradoxo de Polanyi).

Já uma criança, por outro lado, aprende uma língua


por experiência, repetição e feedback.
Segundo os citados autores, os cérebros das
crianças são especializados no aprendizado de uma
língua: eles operam utilizando, instintivamente,
princípios estatísticos para discernir padrões de
linguagem. Por exemplo, quando os pais falam
sobre si, usam a palavra “eu” no começo da
sentença, e assim sucessivamente vão aprendendo
as regras gramaticais e ampliando seu vocabulário.

8
2 A origem da
inteligência artificial
Essa abordagem de desenvolvimento
da IA, fundada na forma de
aprendizagem de uma língua
por uma criança, deu origem ao
campo do aprendizado de máquina
(“machine learning”), que prevaleceu
sobre a escola simbólica. E para que
os sistemas fossem construídos de
forma a se assemelharem ao cérebro,
foram criados modelos matemáticos
que funcionavam como os neurônios,
as redes neurais artificiais.

Assim, os matemáticos se
inspiraram no funcionamento do
cérebro humano para construir os
primeiros sistemas de IA baseados
em machine learning. O treinamento
das redes neurais por humanos deu
origem ao modelo de aprendizado
de máquina supervisionado.

9
3
I A at r av é s
do tempo
3
IA através
do tempo
Com o passar do tempo, a complexidade e a extensão das redes
neurais se ampliaram e se aprofundaram, dando origem ao deep
learning. Em 2006, em um artigo3 escrito por Geoff Hinton, Simon
Osindero e Yee-Whye, descobriu-se que essas redes neurais mais
profundas e poderosas, quando propriamente parametrizadas
com uma quantidade massiva de dados, poderiam aprender por
si mesmas, sem treinamento ou supervisão humana (modelo de
aprendizado de máquina não supervisionado).

Agora, por que a IA se popularizou apenas


recentemente se os estudos começaram na década
de 1950? A resposta está no recente aumento das
capacidades de processamento e de armazenamento
de dados e na diminuição substancial dos custos,
fatores decisivos para a eclosão do processo
conhecido como “digitização” (digitization).

Digitização, por sua vez, é a transformação de todos os tipos


de informação e de mídia em bits (a linguagem binária dos
computadores) que produziu um volume incrível de dados que não
existiam e/ou não estavam disponíveis quando os estudos sobre IA
começaram na década de 1950. A abundância e a acessibilidade aos
dados resultaram no surgimento de soluções baseadas em IA e, por
essa razão, sua popularização ocorreu neste século e não no anterior.

3
“A Fast Learning Algorithm for Deep Belief Nets”, https://www.cs.toronto.
edu/~hinton/absps/fastnc.pdf . 11
4 O que isso
tem a ver
com processos
judiciais e
jurimetria?
4 O que isso tem a ver com
processos judiciais e jurimetria?
Com o advento dos sistemas eletrônicos de gestão
implantados pelo Poder Judiciário, os processos
judiciais foram se tornando gradativamente
digitais4 e, portanto, mais acessíveis a qualquer
pessoa, em continuado respeito à publicidade dos
atos públicos5. Com o auxílio de ferramentas de
automação (robôs ou bots), tornou-se possível
acessar, simultânea e quase instantaneamente,
conteúdos de milhares de processos judiciais por
minuto. Mas, o que fazer com esses dados?

A resposta vem com a jurimetria. De forma simples


e genérica, jurimetria pode ser definida como
“a estatística aplicada ao Direito6”. Até onde se
tem notícia, o termo foi utilizado pela primeira
vez em 1949 por Lee Loevinger, em um artigo
publicado pela Minnesota Law Review, denominado
Jurimetrics: The Next Step Forward 7 . Para Loevinger,
jurimetria é a investigação científica de problemas
legais8. Em termos práticos, os interessados podem
se valer da jurimetria para extrair ou suportar
conclusões a respeito de dados jurídicos.

4
Conselho Nacional de Justiça. Revista Justiça em números 2020. Disponível
em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB_V2_SUMARIO_
EXECUTIVO_CNJ_JN2020.pdf.
5
Art. 5º, incs. XIV e XXXIII da CF/88; exceção aos processos que tramitam sob
segredo de justiça.
6
Associação Brasileira de Jurimetria, https://abj.org.br/conteudo/jurimetria/.
7
Lee, Loevinger, “Jurimetrics: The Next Step Forward” (1949). Minnesota Law
Review 1796. https://scholarship.law.umn.edu/mlr/1799 . Publicado em https://
core.ac.uk/download/pdf/217207244.pdf .
8
Tradução livre. Original: “...jurimetrics – which is the scientific investigation of 13
legal problems.” Idem, p. 483
4 O que isso tem a ver com
processos judiciais e jurimetria?
Mas antes de se iniciar a jurimetria, há necessidade de
se fazer o tratamento desses dados para que possam ser
validamente utilizados. Uma das formas de tratamento
consiste em saber se o conjunto de dados é composto
por dados estruturados, que seguem uma determinada
estrutura de organização (por exemplo, dados em planilhas
ou em formulários), ou por dados não estruturados, que
não possuem uma estrutura de organização definida (por
exemplo, textos de decisões judiciais).

Se estivermos diante de dados já estruturados


como, por exemplo, aqueles extraídos das “capas”
dos processos judiciais eletrônicos (número do
processo, nome do juiz, vara, valor da causa,
assunto, tipo de ação, etc.) ou constantes dos
sistemas de gestão de processos judiciais
empregados pelas empresas, é possível, mediante a
utilização de ferramentas de Business Intelligence
(BI) e com a criação de filtros específicos, a
construção direta de painéis de controle de
gráficos e de indicadores (dashboards) dos
quais o interessado pode, dentre outros, inferir
conclusões, suportar conclusões já assumidas, ou
mesmo elaborar novas perguntas sobre os fatos
demonstrados pelos dashboards.

14
4 O que isso tem a ver com
processos judiciais e jurimetria?
Embora pareçam resultantes de um processo
bastante sofisticado ilustrado pelos gráficos, se
essas conclusões forem diretamente extraídas
dos gráficos ou dos indicadores, sem auxílio da
estatística, sequer será jurimetria. Se, por outro
lado, forem aplicados aos dados estruturados e
constantes dos dashboards métodos estatísticos,
ainda que os mais simples (como por exemplo
“média”, “mediana”, “moda”, etc.), então estamos
diante de um processo de jurimetria, que neste
caso pode ser denominada de analítica, porque Com efeito, uma das
é resultante da aplicação de métodos estatísticos
vertentes da IA conhecida
sobre eventos passados9 (análise descritiva).
como processamento
de linguagem natural
Por outro lado, se os dados se apresentarem em
tem por objetivo dotar
forma não estruturada (por exemplo, textos de
decisões, sentenças e acórdãos), há necessidade
o computador com
de, primeiramente, estruturá-los para posterior
capacidade para adquirir
execução da jurimetria. E esse é um dos pontos informação a partir da
em que pode ser aplicada a IA. linguagem escrita.

9
Lee, Loevinger, “Jurimetrics: Science and Prediction in the Field of Law” (1961), p. 266. Minnesota
Law Review 1796. https://scholarship.law.umn.edu/mlr/1799 . Publicado em https://scholarship.
law.umn.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2798&context=mlr .

15
Essa aquisição de informação
pode ocorrer a partir do
treinamento da máquina
(machine learning), de modo que
os humanos treinem o sistema
para que ele aprenda, a partir de
textos similares, o que significam,
por exemplo, o termo juiz, o
número do processo, a decisão,
a fundamentação, os pedidos e
assim por diante, relativamente
àquele conjunto de dados.
Uma vez estruturados os dados,
então pode-se aplicar a jurimetria
analítica para identificação
de padrões e comportamentos
em eventos passados.
5
N a prática
5 Na prática
A aplicação da jurimetria limita-
se apenas a compreender
estatisticamente o passado? Não!
Antes de explicar como a jurimetria
pode ser utilizada para estimar o
futuro, é interessante notar que alguns
advogados executam a atividade
de predição, ora de forma consciente,
ora inconsciente.

Quando esses profissionais, avaliando


o contexto de uma causa que
lhes é apresentada, oferecem um
prognóstico (de ganho, de perda, ou
mesmo recomendação de acordo),
o fazem utilizando um modelo
mental construído com base na sua
experiência, na sua capacidade de
extrair uma relação de similaridade
com processos judiciais do seu
conhecimento para fazer o julgamento.

18
5 Na prática
O uso da IA para previsão de eventos
jurídicos futuros funciona de maneira
parecida. Estando os dados estruturados,
seja pelo uso da IA, seja pelo uso de
softwares de BI, seja por profissionais do
Direito, algumas técnicas de IA podem ser
aplicadas para que o sistema, analisando
os dados a partir de certas premissas
definidas por profissionais do Direito em
conjunto com cientistas de dados, possa
identificar a existência e extrair um padrão.

A partir da análise e da aplicação de


técnicas estatísticas, a IA cria um modelo
de comportamento futuro dos dados com
essas determinadas características, gerando
um modelo preditivo para aquela amostra
de dados. Essa forma de jurimetria pode ser
denominada de estratégica ou preditiva, porque
não se limita a analisar o passado, mas permite
a extrapolação, fornecendo visões e insights
sobre o futuro, habilidade outrora de domínio
exclusivo de advogados experimentados.

19
5 Na prática
Com o uso da jurimetria estratégica é possível estimar a
probabilidade de uma causa estar predestinada ao êxito ou
ao fracasso, inclusive dependendo do juiz que vier a julgá-la.
Se o acordo pode ser a medida mais recomendável, pondera-se
fatores além do status processual, como:

a possibilidade de perda;

o valor envolvido;

os custos legais e os valores despendidos com advogados;

o momento mais adequado para realização de eventual acordo;

os valores mais efetivos de contingenciamento para cada


espécie de causa.

Enfim, a jurimetria estratégica com uso de IA abre uma miríade


de possibilidades à disposição dos profissionais do Direito, que
agora podem construir modelos recorrentes de predição, baseados
em padrões extraídos dos seus próprios dados e alimentados
automaticamente. Tudo isso para a melhoria efetiva e mais
estratégica da gestão do risco legal, incluindo em políticas públicas.

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6
Comentários
finais
6 Comentários finais
Primeiro, aqui não se está afirmando que antes do advento da
digitalização dos processos judiciais e da consequente possibilidade
de utilização de IA não era possível a aplicação da jurimetria (tanto
analítica quanto estratégica).

Tais aplicações eram possíveis, todavia exigiam enorme dedicação


de tempo e um esforço brutal de profissionais altamente
qualificados que inviabilizavam a empreitada de forma recorrente.

Segundo, em momento algum aqui se sugere que a IA substituirá


o advogado na prática do Direito ou no exercício da profissão,
não apenas porque os advogados sabem muito mais do que
conseguem dizer, mas também porque há inúmeras nuances na
avaliação das ações judiciais, contratos, etc. que somente os bons
profissionais conseguem aferir.

Ao contrário, aqui se indica que a jurimetria


com uso de IA consiste numa nova ferramenta à
disposição dos profissionais do Direito, sobretudo
dos advogados, para melhorar sua prática
jurídica, oferecer novos e melhores serviços aos
seus clientes, criar oportunidades, entre outros.

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Entretanto, pontuamos
que sim, há necessidade
de os profissionais do
Direito adquirirem novas
competências e novas
habilidades para que
possam se adaptar às
novas exigências de um
mercado jurídico marcado
pelo uso intensivo de dados
e de novas tecnologias.
Sobre a Finch

Nascida em 2013, a Finch iniciou seu trabalho a partir


do spin-off das áreas de Serviços e de Tecnologia
de um dos maiores escritórios de advocacia do país,
o JBM, que investiu ao longo de sua história na
construção de uma tecnologia inovadora e
orientada a resultados.

Com cerca de mil de funcionários, 3 filiais e mais de


12 mil escritórios correspondentes de apoio em todo
o território nacional, oferecemos um ambiente
cada vez mais criativo e produtivo, com foco na
busca para aumento da produtividade e eficiência
do mercado jurídico.

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