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IMPROVISAÇÕES:

IMPROVISAÇÃO NO
JAZZ
Improvisações no jazz
Entre as ideias de “mistura” e de “música universal”, Hermeto firma-se co mo um músico multi-
facetado. Ele próprio afirma:
“Sou um músico de jazz quando toco jazz. É uma parte, uma parte forte de minha música. Mas é
apenas uma das coisas que faço, não é a única.”
PASCOAL, Hermeto. [Entrevista cedida a] Revista Eletrônica Brazil-Brasil, [s.d.]. Apud ARRAIS, Marcos A. G. A música
de Hermeto Pascoal: uma abordagem semiótica. 2006. Dissertação (Mestrado em Semiótica e Linguística Geral) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006, p. 13. Disponível
em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-01082007-144148/publico/TESE_MARCOS_AUGUSTO_
GALVAO_ARRAIS.pdf. Acesso em: 2 jun. 2020.

Reprodução/Wikimedia Commons

E você, sabe o que é jazz?


Foi no século XX, co m o surgimento do
jazz, que a improvisação na música popular
co meçou a ser sistematizada e influenciar as
práticas de música popular de diversos países.
O jazz é um gênero musical co m muitas va-
riações e fusões que surgiu no final do século
XIX, na cidade de New Orleans, nos Estados
Unidos, co mo um legado cultural da população
afrodescendente do país, que desenvolveu um
tipo de música popular a partir de elementos
da sua música religiosa, do s instrumentos das
bandas marciais e de muita improvisação. O
jazz, então, tornou-se um importante movi-
mento cultural que contribuiu para o reconhe-
cimento e a legitimidade da cultura negra esta- Orquestra de jazz Carter e King, em Houston, Estados
dunidense. Unidos, 1921.

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A s improvisações no jazz acontecem sobre uma base harmônica, ou NÃO ESCREVA
seja, enquanto um músico faz um solo improvisado, os outros instrumentos NESTE LIVRO.

do grupo executam simultaneamente as notas de acompanhamento (a


percussão, os acordes e as notas mais graves, chamadas de linha do baixo).
E m suas diversas vertentes, o jazz também tem diferentes maneiras acordes: conjunto de
de improvisar. Por exemplo, no jazz de New Orleans, também chamado três ou mais notas que
soam simultaneamente,
de dixieland, há a improvisação coletiva, com todos os músicos improvi- fundamental para a
sando ao mesmo tempo. No bebop, considerado o início do jazz moder- construção da base
no, as improvisações têm mais complexidade, com maior ênfase na téc- harmônica.
nica, enquanto no free jazz ela rompe com os moldes do jazz mais tradi-
cional e explora sonoridades menos comuns.

Redferns Irv Kline/Redferns/Getty Images


FICA A DICA

Acid, Bebop, Free. Você conhece os termos d o jazz?, de Carol Vidal,


publicado em Sesc Jazz, 14 out. 2019. Disponível em: https://sescjazz.
sescsp.org.br/2019/10/termos-do -jazz/. Acesso em: 4 jun. 2020.
Esse texto apresenta diversos termos comuns no mundo do jazz, como
classificações dos estilos e dos recursos expressivos desse gênero musical.

A improvisação é algo tão característico do jazz que até mesmo os


cantores desenvolveram um modo de improvisar co m a voz, o chamado
scat singing. No scat singing, os cantores criam contornos melódicos so-
bre a base harmônica, explorando diferentes velocidades e mostrando a
amplitude vocal ao pronunciar sílabas soltas e fazer vocalizações, sem a
preocupação com a formação de palavras e com significados semânticos.
O artista pioneiro do scat singing foi Louis Armstrong (1901-1971) e, Ella Fitzgerald durante
ao longo da história do jazz, diversas vozes se destacaram nessa técnica, apresentação em clube de
jazz na Filadélfia, Estados
como Ella Fitzgerald (1917-1996) e Sarah Vaughan (1924-1990).
Unidos, 1963.
2 Para conhecer esse estilo de improvisação, ouça a música “Lullaby
of Birdland”, uma composi ção de George Shearing (1919-2011), com
letra de George David Weiss (1921-2010) e interpretação de Sarah
Vaughan, gravada em 1954.
a. Você percebe quando se inicia a seção de improvisação?

b. Quais instrumentos você identifica improvisando?

c . O que você percebe de diferente na voz de Sarah Vaughan quan-


do ela começa a improvisar?

Sarah Lois Vaughan nasceu em uma família de músicos amadores, em


Nova Jersey, Estados Unidos. Em sua infância, aprendeu a tocar piano, órgão e
cantou em coros de igreja. Ela iniciou sua carreira em apresentações de músicos
amadores no teatro Apollo, d o Harlem, em Nova York, em 1942. A partir de então,
a artista passou a trabalhar com o cantora e pianista em big bands, os grupos
e
musicais de jazz.
A partir de 1945, Sarah com eçou a aparecer em programas de TV e, durante a
década de 1950, fez turnês pelos Estados Unidos e pela Europa.
A vasta extensão vocal, aliada à técnica, ao virtuosismo e à interpretação, colocou
Sarah Vaughan entre as principais cantoras de jazz d o século XX.

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Sarah Vaughan - Lullaby of
Birdland

Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=4I7tFSSFtaQ
PARA IR M A I S LONGE

IM PROV IS AÇ Ã O E M Ú S I C A POPULAR

Redferns David Redfern/Redferns/


Getty Images
A improvisação sempre fez parte do fazer musical das mais diversas culturas. Muitos
artistas da música popular passaram a gravar discos no decorrer do século XX,
quando se desenvolveu a indústria fonográfica. A convivência com as gravadoras,
o crescimento do rádio e as apresentações em shows que percorriam diversas
localidades possibilitaram a troca de saberes entre esses artistas populares e outros
músicos que tinham uma formação mais ligada às escolas de música e conservatórios.
O jazz é um exemplo importante de improvisação em música porque ele influenciou
diversas de suas práticas na música popular ao longo do século XX, além de ter
possibilitado a valorização da música negra estadunidense e de seus artistas, como Nina Simone em
Miles Davis e Nina Simone (1933-2003), entre outros. apresentação para uma
emissora de T V em Londres,
Por conta da popularidade alcançada, o jazz também exerceu uma forte influência
Reino Unido, 1966.
em diversos gêneros musicais que surgiram depois, como o rock e o rap. No Brasil,
essa influência está presente na Bossa Nova e em gerações de artistas como Hermeto

Cesar Borges/Fotoarena
Pascoal, que, além de utilizar improvisações à maneira do jazz, usa o improviso em
suas criações como uma constante pesquisa sonora, explorando a sonoridade de
objetos, de falas e até de sons emitidos por animais.
Hermeto é um dos muitos representantes daquilo que chamamos de música popular
brasileira, que engloba artistas de diferentes trajetórias, com diversos procedimentos e
influências vindas da oralidade, da escrita musical e da improvisação. Assim, surgiram
notáveis figuras, como a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá (1944-) e o cantor
e instrumentista mineiro Tião Carreiro (1934-1993), importante nome da música Lia de Itamaracá em
sertaneja de raiz, entre muitos outros. apresentação de roda de
ciranda em Guarulhos (SP),
2019.

EXPERIMENTAÇÃO I M PRO V ISA NDO CO M OBJETOS

Agora, você vai realizar um exercício de improviso em grupo, pesquisando sonoridades de obje-
tos que não foram feitos para serem utilizados como instrumentos musicais. Se acharem interessan-
te, essa criação poderá ser incorporada como uma das apresentações artísticas do sarau da turma.

1 Para começar, busquem os obj etos da sala de aula que produzam algum som quando
percutidos, como carteiras, cadeiras, canetas, etc.

2 Experimentem a sonoridade desses obj etos e escolham o que acharem mais interessante.

3 Continuem a explorar as diferentes maneiras de fazer som com os obj etos escolhidos e tentem
observar alguns aspectos importantes: É possível fazer um som suave? Um som muito forte?
Um som longo? Um som curto?

4 Quando cada grupo escolher o seu som, façam uma roda.

5 Determinem um andamento comum para todos seguirem e comecem a improvisar. Marquem


o ritmo batendo os pés. Se possível, registrem a atividade em vídeo para que possam avaliar o
desempenho de cada um.

6 Agora, um de cada vez, seguindo o ritmo das batidas de pé da roda, cada integrante vai
improvisar sons com o obj eto que escolheu. Explorem o que acharam mais interessante na
pesquisa sonora que fizeram.

7 A o final, reúnam-se para uma conversa e compartilhem impressões sobre essa experiência.

Procurem refletir sobre a forma como cada um explorou os sons dos obj etos escolhidos.

Pensem também no momento de improvisação coletiva e em como os diferentes sons “se


comportaram” ao serem executados simultaneamente.

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