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O solo de jazz - Resenha

Iucas Alves

É comum de diversos intérpretes solistas de jazz utilizar uma harmonia interna em seus solos,
desamarrada da utilizada na música na qual estão tocando e oriunda somente de suas
autenticidades. Sendo uma marcante característica do gênero, o solo improvisado pode ser
encaixado em qualquer parte da peça e se destacar se feito sobre uma base harmônica clara o
suficiente para o ouvinte reconhecer o caminho que a obra está tomando.
Vindo de tradição negra, o jazz manteve a ideia de comunidade, que se espelhava, por
exemplo, na prática da música com caráter comunitário na Congo Square, em Nova Orleans,
onde as bandas tocavam e entoavam canções que remetiam à sua cultura e suas vivências.
Sendo uma atividade bastante participativa, na qual haviam “papéis” bem definidos e
melodias pré-estabelecidas, havia pouco espaço para improvisação. Essa, quando ocorria, era
em modo de melismas e/ou com novos versos de letra encaixados em determinados
momentos.
As primeiras bandas de jazz não levavam a variação necessariamente como essência de suas
músicas, remetendo às práticas em conjunto das bandas marciais. Alguns autores dizem que
há pouca diferença das interpretações destas bandas emergentes nas apresentações ao vivo em
cabarés e salões para suas gravações em discos.
Há ainda a especulação de que Louis Armstrong tenha sido o responsável pela transformação
do jazz em um gênero lembrado por seus solos, improvisações e autenticidade. Antes dele,
porém, o clarinetista Sidney Bechet, nos anos 20, já era comentado por seu “esplêndido
timbre de clarinete” e que “sua música era só sentimento”. No entanto, Armstrong ainda
estava em fase de desenvolvimento enquanto Bechet vivia seus anos de estrelato na música.
Claramente não se pode afirmar que Bechet tenha sido o primeiro solista do jazz, já que as
pequenas bandas de Nova Orleans comumente consistiam de um sopro acompanhado de um
ou dois ritmistas, ficando assim o cargo de carregar a melodia para o instrumento de sopro,
porém tudo indica que Bechet tenha dado forma à prática do solo no gênero.
Apesar de ele ter estado na Europa durante o período de emergência do jazz na América, suas
gravações exerceram notável influência - ainda que indireta e generalizada - sobre os
instrumentistas e compositores de Nova Orleans, que seguiram perpetuando seu método e
cunhando a maneira de construir um solo de jazz até os anos 30.

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