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música (BEARD, 2005). De maneira geral, essa ciência é, justamente, a pesquisa científica
e análise da música; essa área pode ser dividida em diferentes subáreas como musicologia
sistemática e etnomusicologia, todas compartilhando um mesmo propósito, apesar de
adotarem metodologias diferentes. Quando se analisa a letra de uma música, se faz
musicologia, assim como quando se analisa o contexto sociopolítico de uma obra, a origem
de um instrumento, as razões da utilização de uma série harmônica ou mesmo a biografia
de um artista.
Sendo este estudo parte de um método de pesquisa científica, é levantada a questão: ela
pode contribuir como instrumento de ensino nas escolas?
Desse ponto de vista, imagine uma sala de aula que não conhece a própria cultura tendo
tamanha informação regurgitada em 3 anos de Ensino Médio (quando não menos). Ainda
nessa hipótese, lembremos que essa mesma juventude está a cada geração mais
introspectiva e reclusa; um aluno que não se sente parte sequer de sua família ou círculo
social dificilmente terá apego por disciplinas tão distantes de sua realidade. Esse mesmo
aluno é aquele que não se sente compelido a participar de eventos sequer mais abertos e
acessíveis, como os musicais; não sente vontade de tocar um instrumento, de se
apresentar em público ou de libertar sua cognição para o criar artístico.
Nessa ambientação, focar no ensino de pesquisa musical pode apresentar uma alternativa
aos métodos ativos de musicalização; uma maneira de reagir a possíveis resistências dos
alunos com os métodos tradicionais de prática musical. Aqueles que não se sentirem
realizados na prática instrumental podem desenvolver um maior interesse em métodos na
pesquisa um viés de estudo mais conveniente para si — por focar em processos mais
técnicos, teóricos, objetivos e conceituais, sem fugir da área de música.
Capítulo 2 — Desenvolvimento
De que maneira uma atividade como uma análise musical contribui no processo de
aprendizado de um aluno? Como desconstruir o estigma criado sobre a música em uma
instituição de ensino?
Note que a introdução de um método de pesquisa científico em uma sala de Ensino Médio
depende - como toda outra disciplina - da familiarização da turma com o tema. Uma aula de
música geral pode iniciar-se, por exemplo, com um estudo simples de uma obra qualquer de
escolha dos próprios alunos. Isso, com tempo e trabalho, pode tornar-se um exercício de
senso crítico. “Experienciar’ música e ‘escutar’ não são sinônimos” (BOURBON; 2018). Ao
exercitar a capacidade de audição, captação de detalhes e estudo contextual de obras e
artistas, não só será trabalhado o senso crítico dos discentes mas também lhes pode ser
apresentado um novo horizonte tanto para conhecerem a própria cultura musical como para
se descobrirem como seres criativos.
É justamente esse trabalho que se procura aprender a realizar com a pesquisa musical nas
escolas: é apresentado o método e, de início, se deixa o aluno fazer a própria descoberta.
Peguemos como base o que é proposto por Flávio Fernandes de Lima em sua atividade de
composição que resultou na obra “Frevindo-Minimalismando” (FERNANDES; 2021); foi feito
todo um trabalho de musicologia sistemática sobre as técnicas usadas na composição antes
da criação e, posteriormente, a obra - resultado de uma pesquisa anterior (FERNANDES;
2018) - foi dissecada. Neste caso, o estudo voltou-se para as técnicas minimalistas e suas
aplicações na música tradicional brasileira, porém o mesmo princípio pode ser interpretado
em uma intervenção escolar, não necessariamente gerando um produto concreto como
proposto pelo autor, mas como caminho para novas visões musicais.
Fazer com que os alunos ouçam, assistam e escrevam os levará a ter uma breve
experiência de iniciação científica, na qual será vivenciada a prática acadêmica de estudo,
nesse caso, musical.
Capítulo 3— Conteúdo
Em sala, antes de iniciar qualquer trabalho prático no qual os alunos estão ativos, se
demonstra o que fazer e como se espera que o faça, como sugerem as metodologias da
Escola Nova.
Capítulo 4— Propostas
Suponhamos que se utilize, em sala de aula, uma música mais básica e acessível à turma.
Sugiro que seja feita uma votação ou que se verifique qual música é a mais popular no
momento e na região, na certeza de que a obra seja familiar a toda a turma. Ainda que sem
abordar termos técnicos inerentes a ciência musical, peça que exponham os resultados das
análises, dizendo qual instrumentação foi utilizada; se a música soa regional ou se parece
ser de outro estado; que sentimento os componentes da obra causam em cada um deles,
dentre outros questionamentos que reforcem a utilização do ouvido musical e do “ouvir”
além do “experienciar”. Essa prática é fundamental para o início da pesquisa pois a
musicalização, segundo Gazzi de Sá (1990), “caminha sempre da experiência do fato
sonoro para a consciência desse fato”.
Referências:
BEARD, David; GLOAG, Kenneth. Musicology: the key concepts. 2 Park Square, Milton
Park, Abingdon, Oxfon, OX14 4RN: Routledge, 2005
MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz. Pedagogias brasileiras em Educação Musical. Rua Clara
Vendramim, 58, Mossunguê: Intersaberes, 2016