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Métodos de

investigação
no jornalismo
Laísa Veroneze Bisol

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever os principais métodos de investigação utilizados no jornalismo.


>> Reconhecer as fases de input e output no levantamento e tratamento dos dados.
>> Identificar a atual disponibilidade de dados para atividade jornalística.

Introdução
A prática jornalística se estrutura com base em diferentes formas de pesquisa. Uma
delas é a busca por dados estatísticos, que se trata de um método de produção
de conteúdo que tem como base a quantificação das informações.
Neste capítulo, você vai ver quais são os principais métodos de investigação
utilizados para captação de informações no trabalho jornalístico. Para isso, vai
conhecer alguns processos de levantamento e tratamento dos dados, como as
fases de input e output (em português, “entrada” e “saída”) e algumas ferramentas
para busca de dados, já que, hoje, existem diversas plataformas disponíveis para
a realização deste trabalho.

Os métodos de investigação jornalísticos


O jornalismo baseia-se em um compromisso com a informação verídica.
Isso é, apesar de sabermos que a total imparcialidade não é possível, os
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conteúdos jornalísticos devem estar pautados na verdade, aproximando-se


da representação da realidade dos acontecimentos. Nessa esteira, Kovach
e Rosenstiel (2004) apontam que o processo de seleção e edição que ocorre
na rotina jornalística com o intuito de buscar a verdade não é algo que surge
sozinho, mas que depende de técnicas e métodos.
Assim, essas técnicas e métodos dizem respeito à busca por informações
que produzam sentido e contribuam para a construção das narrativas jorna-
lísticas. Rocha (2015) explica que a apuração diz respeito aos procedimentos
necessários para o levantamento de informações, ou seja, são as fontes de
entrevista, a pesquisa, os documentos e os dados que são investigados para
que seja possível obter o conteúdo verídico e de qualidade.

O desafio do repórter (no cenário complexo, tentacular, na desordenada torrente de


acontecimentos que forma a vida contemporânea) é encontrar evidências soterradas
em camadas de versões, procurar certezas em situações de incerteza. O jornalista,
por princípio, não é só testemunha daquilo que o leitor não pôde ter acesso. É um
processador das camadas verificáveis da realidade – não raro limitado à posição
de verificador de fatos inacessíveis de forma direta (PEREIRA JUNIOR, 2006, p. 71).

A afirmativa de Luiz Costa Pereira Junior instiga a reflexão acerca da im-


portante função que o jornalista desempenha na apuração de informações e,
assim, é possível perceber que, para encontrar essas versões e certezas que
representem os fatos, é preciso contar com métodos de investigação. Segundo
Pereira Junior (2006, p. 73), “[...] a apuração de informações, a investigação, é a
pedra de toque da imprensa, seu álibi, a condição que faz um relato impresso
ser jornalismo, não literatura”. Junior acrescenta que o processo de investigação
requer tempo e esforço e que um planejamento pode auxiliar nesse processo,
o que inclui a formatação da pauta, a produção, a checagem e a redação.
O método escolhido para a apuração depende do viés do conteúdo que
se pretende produzir. Essa busca por informações pode ser feita em outras
publicações anteriores (jornais, sites, etc.), em documentos (atas, escrituras,
etc.), em livros de história, em sites oficiais que divulgam dados a respeito de
diferentes assuntos sociais, com a presença do jornalista no local dos acon-
tecimentos e, é claro, a partir da entrevista a fontes, pessoas que possuem
conhecimento a respeito do tema abordado.
Especificamente sobre esse último, é preciso recordar o que Pereira Junior
(2006) salienta: é necessário realizar uma análise estratégica das fontes, uma
vez que os indivíduos que fornecem informações defendem seus interesses
e, para evitar essas incertezas, os jornalistas adotam estratégias. Ao citar
Nelson Traquina, o autor destaca que, nem sempre, a fonte mais oficial
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é aquela que conhece mais sobre determinado assunto (TRAQUINA apud


PEREIRA JUNIOR, 2006). Diante disso, é necessário lembrar de um conceito
fundamental da prática jornalística, que é apresentar o contraponto das
ideias, entrevistando o maior número de fontes possíveis para possibilitar
o confronto de opiniões e permitir que o público faça sua própria análise
das percepções.
A respeito da investigação jornalística Lopes e Proença (2003, p. 15)
destacam:

O jornalista investigador é quem provoca a informação, é quem dá os passos ne-


cessários para a obtenção dos dados que necessita para completa-la, aquele que
busca, compara, não é um mero receptor da informação. É aquele que se adianta
aos acontecimentos. Não espera que os fatos se produzam; ele os desencadeia ou
os para com sua investigação, dependendo dos fatos e do que tratam.

A afirmativa dos autores nos conduz a pensar que, para além dos fatos já
apresentados, ou seja, dos acontecimentos cotidianos, é função do jornalista
buscar enxergar além, isto é, existem situações que merecem ser exploradas
e, por isso, é essencial buscar um olhar apurado e uma leitura diferenciada
de mundo.
Embora, hoje, saibamos das diferentes formas existentes para buscar a
informação e da necessidade de buscar informar aquilo que estaria obscuro
se não fosse pelo olhar do jornalista, ainda na década de 1970, o jornalista
americano Philip Meyer já defendia a ideia de jornalismo de precisão, que
se referia, justamente, à aplicação de métodos científicos para a análise de
dados. Segundo Meyer (1973, p. 15):

[...] o jornalismo de precisão foi uma forma de expandir o arsenal de ferramentas


do repórter para tornar temas antes inacessíveis, ou parcialmente acessíveis, em
objeto de exame minucioso. Foi especialmente eficiente para dar voz à minoria e
grupos dissidentes que estavam lutando para se verem representados.

Entende-se que Meyer foi um dos precursores dessa ideia e, a partir disso,
também do campo de estudos sobre jornalismo de dados. O estudo do autor
acabou incentivando o surgimento do termo “reportagem com auxílio de
computador” (RAC), nos anos 1990. Os procedimentos propostos por Meyer
indicaram novos meios para que os jornalistas aprimorassem a maneira de
ver a realidade social, que já não dependeriam apenas de fontes externas,
mas de um processo de produção que incluía a análise da informação. Mancini
e Vasconcellos (2016, documento on-line) afirmam que todos esses aspectos
adquirem uma nova importância, uma vez que:
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[...] o contexto muda de um cenário de escassez, no qual jornalistas tinham enormes


dificuldades para obter informação, para um momento de abundância, no qual o
problema deixa de ser encontrar a informação, mas saber qual deve ser buscada,
analisada e utilizada para subsidiar a notícia jornalística.

Segundo os autores, o jornalismo de dados seria uma vertente do RAC,


porque envolveria não somente a utilização de computadores, mas também
um conhecimento mínimo em estatística, sistemas computacionais e métodos
das ciências sociais.
Hoje em dia, as redações jornalísticas utilizam ferramentas que permitem
o acesso a informações confiáveis e completas, que promovem, a partir da
sua análise, uma nova forma de enxergar o que acontece no mundo.

Há diferentes formas de obter dados para a construção de conteúdos.


A mais tradicional é aquela em que se pesquisa diretamente em sites
que fornecem informações numéricas a respeito de assuntos específicos. Por
exemplo, no site do IBGE, há uma série de dados quantitativos a respeito de
pesquisas que desenvolvem; já no portal do Sebrae, encontram-se informações
sobre o número de empreendedores no país — assim como essas, existem
inúmeras bases de dados.
Atualmente, contamos com as ferramentas de visualização de dados, que
permitem aos jornalistas uma experiência mais completa de leitura e análise.
Uma das mais conhecidas é a Planilhas do Google, que possibilita a criação de
uma variedade de gráficos e mapas a partir de uma planilha do Google Docs ou
Excel. Outra ferramenta é a Tableau Public, utilizada para criar visualizações
interativas de dados. Entre as diversas ferramentas, também se tornou popular
a utilização de big data, que permite estruturar o volume de grandes bases de
dados a partir da utilização de filtros que separam a informação em conformi-
dade com o interesse do jornalista e do tema que vai abordar em sua produção.

O método de apuração a partir do jornalismo de dados inclui elementos de


valor numérico que, analisados e correlacionados, geram sentidos a respeito
de temas de interesse público. Assim, para além do trabalho de pesquisa em
documentos, ida às ruas e entrevista a fontes especializadas, o profissional
da imprensa pode fazer uso dessa forma de investigação que propõe o tema,
corroborando o que Lopes e Proença (2003) apontam no sentido de que os
jornalistas podem identificar os problemas sociais e buscar as respostas a
partir dos dados explorados em profundidade.
Stray (2014 apud MANCINI; VASCONCELLOS, 2016) explica que o jornalismo
de dados inicia por uma quantificação e por perguntas a respeito dessa quan-
tificação, com o intuito de esclarecer aquilo que é contado e como é feita a
contagem. Ainda citando o autor, Mancini e Vasconcellos (2016, p. 73) destacam:
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Um gráfico de desemprego, por exemplo, é apenas uma representação de um


fenômeno, e essa representação só foi possível porque houve um processo de
quantificação desse fenômeno. A questão chave, diz Stray, é que existem diversos
procedimentos que podem ser adotados no processo de identificação dos desem-
pregados, bem como da organização desses dados. “O dado não é algo que existe
na natureza. Os desempregados são uma coisa muito diferente de um dado de
desemprego”. Partindo da premissa de que o JD se inicia com um processo de quan-
tificação, Stray argumenta, então, que ela se complementa com a análise, ou seja,
se a quantificação transforma o mundo em dados, a análise transforma os dados
em conhecimento. O autor explica, desse modo, que essa é nessa etapa em que o
jornalismo mais se aproxima da ciência, com forte inclinação para a matemática,
estatística e lógica. “No JD, existe profundo conhecimento técnico e específico”
que permite, por exemplo, ao jornalista comparar as taxas de desemprego com as
taxas de impostos aplicadas em diversos países, na busca de alguma explicação
para o fenômeno do desemprego.

A partir do entendimento de que a apuração jornalística por meio de dados


é, hoje, uma das grandes aliadas dos profissionais na busca por informações
interessantes e que contribuam para a construção de conteúdos pertinentes
ao conhecimento social, entende-se, também, que se trata de um método
de investigação que auxilia no cumprimento do papel social do jornalismo.
A partir da quantificação e da análise dos números levantados, é possível,
portanto, chegar a conclusões e, consequentemente, a publicações de conte-
údos interessantes, não somente por seu ineditismo, mas por atuarem como
formas de propiciar reflexão e criticidade ao público.

Levantamento e tratamento dos dados


Um dos grandes ganhos obtidos a partir da utilização do método de inves-
tigação por dados é a confiabilidade, uma vez que a reportagem adquire
um valor numérico e, portanto, torna-se mais relevante, crível e próxima da
realidade, pois está embasada em estatísticas.
Natália Mazotte, coordenadora da Escola de Dados no Brasil, em entre-
vista a Amanda Büneker (2019, documento on-line), divulgada pela agência
Big Dream, afirmou que:

O jornalismo de dados avança — junto com a produção de informações digitais,


o movimento de transparência e as leis de acesso à informação — e deixa de
ser de nicho para ocupar espaço cativo no conjunto de técnicas essenciais da
profissão.

Assim, e conforme exposto pela agência, os dados atuam como uma ferra-
menta de composição, tornando o jornalismo mais preciso e objetivo, uma vez
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que podem servir de inspiração para a criação de novas pautas, complemento


a assuntos já em desenvolvimento, embasamento de argumentos, fonte,
confirmação e, até mesmo, como a própria reportagem.
A metodologia de busca de dados inicia com a dúvida a respeito de um
assunto e, em seguida, com a busca pelos dados, em que o jornalista coleta,
tabula, cruza e analisa os números a fim de traduzir a linguagem estatística
para a compreensão do que aquilo significa em termos de informação e
conteúdo. A Big Dream (BÜNEKER, 2019, documento on-line) reproduziu uma
entrevista feita pelo Jornal Nexo à uma famosa jornalista investigativa cha-
mada Giannina Segnini, que relata:

Você não pode entrevistar 28 milhões de pessoas para uma matéria, mas pode
facilmente entrevistar 28 milhões de registros (em uma base de dados) em minutos
e encontrar padrões que estavam "escondidos" dentro das planilhas e que podem
servir de base para reportagens tradicionais. Dados e tecnologia não substituem
os melhores valores e princípios do jornalismo. Eles os complementam.

Dessa forma, percebe-se que os métodos de investigação jornalísticos


ganham força a partir de uma nova possibilidade de busca que atribui ainda
mais respostas às questões sociais, quando bem utilizadas e exploradas.

Segundo a Agência Big Dream (BÜNEKER, 2019), jornalismo de dados


engloba produções norteadas por dados que se tornam a base da
reportagem, seu tema principal e pauta. Já o jornalismo com dados utiliza dados
como um complemento, para embasar ou ilustrar um assunto, mas não como
o centro do texto.

Ao pensar em formas de levantamento de dados, Stavelin (2013) faz uma


diferenciação das nomenclaturas referentes às metodologias afirmando que
o jornalismo de precisão dá ênfase ao método científico, o RAC, às ferra-
mentas digitais; o jornalismo em bases de dados prioriza o armazenamento
e a recuperação de informações; o jornalismo de dados ou guiado por eles
busca encontrar histórias em bases de dados, e o jornalismo computacional
enfatiza a fusão de valores jornalísticos e da computação com vistas à criação
de ferramentas e à aplicação de metodologias.
Independentemente da forma utilizada, o autor aponta que existem fases
de apuração: input, que se refere à entrada; e output, que diz respeito à saída.
Conforme Stavelin (2013), na fase de entrada (input), tem-se a perspectiva
da geração de um conteúdo jornalístico, que diria respeito à fase de saída
(output). A fase input, portanto, diz respeito ao momento em que se faz a
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coleta, a organização e a análise dos dados, enquanto que, na fase de output,


há uma preparação desses dados para que sejam divulgados ao público
receptor. Maleson (2017, documento on-line) traduz os seis passos propostos
por Meyer (1991) a respeito de como proceder com os dados:

1. Coletá-los. Quer você tenha ou não tentado imitar os cientistas em seus métodos
de coleta de dados, você pode lucrar sabendo alguns de seus truques. Sempre
vale a pena lembrar, o que me disse o professor H. Douglas Price em Harvard, na
primavera de 1967, que “os dados não vêm da cegonha.”
2. Armazená-los. Os jornalistas dos velhos tempos armazenavam dados em pedaços
de papel em suas mesas, nos cantos do escritório ou, se fossem muito organizados,
em arquivos de recortes. Computadores fazem isso melhor.
3. Recuperá-los. As ferramentas do jornalismo de precisão podem ajudar a recu-
perar dados que você mesmo coletou e guardou, dados que alguém armazenou
pensando em um usuário como você ou dados que alguém guardou por motivos
completamente alheios ao seu interesse, talvez sem ter a mínima ideia de que um
jornalista ou usuário público poderia algum dia estar interessado neles.
4. Analisá-los. A análise jornalística muitas vezes consiste em meramente exami-
nar para encontrar e listar os desvios interessantes. Mas pode também envolver
pesquisas por causação implícita, por padrões que possam sugerir que fenômenos
diferentes variam juntos por motivos interessantes, ou até para avaliar a efetivi-
dade de políticas públicas.
5. Reduzi-los. A redução de dados se tornou uma habilidade tão importante no
jornalismo quanto a coleta de dados. Uma boa matéria jornalística é definida pelo
que deixa de fora, quase tanto quanto pelo que ela inclui.
6. Comunicá-los. Uma reportagem não lida ou não entendida é uma reportagem
perdida. Você pode filosofar que, como o som de uma árvore caindo em uma
floresta, ela não chega a existir.

Maleson (2017, documento on-line) destaca que “[...] uma base de dados
é a fonte primordial do trabalho do jornalista de dados” e que a primeira
dificuldade encontrada é justamente a obtenção desses dados. Assim, o
autor aponta que o especialista em dados precisa conhecer as etapas para
que a mensagem seja transmitida da melhor forma aos leitores. Para isso,
cita a pirâmide invertida do jornalismo de dados criada por Paul Bradshaw
(2011 apud MALESON, 2017), que divide o trabalho do jornalista nas seguintes
fases: compilar, limpar, contextualizar, combinar e comunicar.
A primeira, compilar, diz respeito à captura dos dados e, por isso, é ne-
cessário que o jornalista domine algumas ferramentas para encontrar essas
informações, que pode ser por meio de uma pesquisa no Google, em redes
sociais ou em portais que disponibilizem dados sobre temas específicos. A
segunda etapa, limpar, diz respeito, segundo os autores, à limpeza de dados
para que não ocorra nenhuma divergência entre as informações, e isso inclui
a eliminação de dados que não são relevantes para o conteúdo que está
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sendo abordado. A etapa três diz respeito a contextualizar, o que significa


que é importante ter um contexto amplo e claro a respeito daqueles dados,
relacionando os índices numéricos às questões sociais que se quer representar.
Conforme Maleson (2017), o jornalista precisa, antes de tudo, demonstrar que
é um bom contador de histórias, ou seja, é possível, a partir da interpretação
de dados, buscar fontes humanas para revelar mais informações a respeito.
Já a etapa quatro, que se refere a combinar, leva em conta a formulação de
questionamentos que deverão guiar a narrativa jornalística, ou seja, o jorna-
lista deve ser minucioso e fazer perguntas a respeito dos dados, reavaliando
sempre que necessário, a fim de levar uma informação verdadeira ao público.
Na quinta e última etapa, comunicar, é o momento de analisar a maneira
de levar as informações ao público para que a mensagem realmente seja
compreendida. É preciso, portanto, fazer uma boa apresentação dos dados,
de maneira facilitada e verdadeiramente informativa.
A partir do exposto, percebe-se que todos os processos que envolvem o
levantamento e o tratamento de dados circundam o que entendemos por input
e output, ou seja, desde a entrada de informações — o momento da busca
pelos dados, sua compreensão e análise —, até a saída, com o entendimento
de como essa mensagem deve ser repassada ao público, são realizados
procedimentos que atribuem credibilidade e qualidade ao conteúdo, sendo
cada uma das fases fundamental para a eficácia do uso dessa metodologia
de investigação.

Disponibilidade de dados para a atividade


jornalística
Ao pesquisar a respeito da produção de conteúdos jornalísticos a partir da
ideia de valor-notícia, Wolf (2001) dividiu esse conceito a partir em grupos
com relação a:

„„ conteúdo;
„„ disponibilidade de material;
„„ meio;
„„ público;
„„ concorrência.

O primeiro, que se refere ao conteúdo, engloba aspectos a respeito da


importância dos indivíduos e da quantidade de pessoas que estão envolvi-
das em um determinado acontecimento, tendo em vista a possibilidade de
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contar uma história que possa ser interessante e ter desdobramentos. Já a


segunda e a terceira categorias dizem respeito às possibilidades de obtenção
de informação, desde o acesso às fontes até o formato de apresentação
daquele conteúdo. O quarto grupo, relativo ao público, faz menção à ideia
que o jornalista tem a respeito de seu público e do interesse em receber
informações. Por fim, o quarto aspecto se relaciona à concorrência, ou seja,
a possibilidade de questionar constantemente se outros veículos noticiariam,
ou não, aquelas informações, buscando alcançar qualidade — inclui-se, nisso,
o ineditismo.
Os conceitos formulados por Wolf (2001) permitem fazer uma ligação
estreita com essa forma de fazer jornalístico que utiliza dados para a consoli-
dação de informações. Ao pensarmos no “conteúdo”, primeiro grupo proposto
pelo estudioso, recordamos que, ao utilizar dados estatísticos, atribui-se
valor a um texto, tendo em vista que as questões expostas naquele conteúdo
acabam sendo “comprovadas” por uma forma que é bastante racional, o que
propicia exatidão aos conteúdos, ainda que se trate de um tema complexo ou
subjetivo. Mancini e Vasconcellos (2016, p. 72), com base nas ideias de Flew
et al. (2012), discorrem sobre a possibilidade de formulação de conteúdos a
partir do uso de dados:

Esses novos procedimentos ajudaram os jornalistas a aprimorar o seu próprio


conhecimento acerca da realidade social e política, reduzindo a dependência de
fontes externas ao processo de produção e de análise da informação. Tudo isso
ganha uma nova importância quando o contexto muda de um cenário de escassez,
no qual jornalistas tinham enormes dificuldades para obter informação, para um
momento de abundância, no qual o problema deixa de ser encontrar a informação,
mas saber qual deve ser buscada, analisada e utilizada para subsidiar a notícia
jornalística.

As reflexões provocadas pelos autores enfatizam que não basta somente


buscar dados estatísticos: há uma disponibilidade enorme de informações
disponíveis hoje, porém, é sempre fundamental, assim como qualquer busca
que envolve fontes, fazer a checagem e a seleção do que é ou não importante
e de interesse público, o que se alia também à perspectiva de Wolf (2001),
quando trata acerca da importância da percepção a respeito daquilo que o
público gostaria de receber como conteúdo.
Já tratando a respeito do segundo e do terceiro grupos expostos pelo pes-
quisador — disponibilidade de material e meio —, percebe-se como é pertinente
que o profissional da imprensa busque as fontes adequadas para a constituição
de suas narrativas e entenda a melhor maneira de divulgá-las. Ao encontrar,
a partir de dados estatísticos, informações que são relevantes de serem ana-
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lisadas e apresentadas à sociedade, é necessário transformá-las em uma


linguagem que seja de acesso comum, ou seja, não basta somente apresentar
uma infinidade de números nas páginas de um jornal, é preciso explicar do que
se trata e, por isso, o meio é tão importante. Especialistas em determinadas
áreas podem ser fontes interessantes para auxiliar na interpretação de dados
e proporcionar ainda mais credibilidade e clareza às informações.
Quando Wolf (2001) aborda acerca da concorrência, recordamos do que se
chama “furo” da notícia, isto é, quando o jornalista consegue obter informações
em primeira mão e, então, acaba sobressaindo-se e ganhando atenção do
público, além de agregar conhecimento inédito para a população. Conforme já
exposto anteriormente, a utilização de dados é uma maneira de buscar pautas
novas, é a partir da inquietação e até mesmo curiosidade do jornalista a respeito
de determinados temas que surge a busca por essas informações numéricas que
podem gerar conteúdos novos. Assim, podemos dizer que buscar estatísticas para
compor os conteúdos é uma forma de agregar valor aos conteúdos jornalísticos.
Existem diversas formas de obtenção de dados para que as reportagens se
tornem mais completas a partir de informações quantitativas. Portais como o do
IBGE, por exemplo, são utilizados há muito tempo pelos jornalistas que desejam
buscar dados gerais sobre a sociedade, mas essa é apenas uma possibilidade
dentre outras tantas disponíveis para que essa pesquisa seja realizada.

Criado em 1934, o IBGE é uma fonte importante para obtenção de


dados. Você pode fazer uma busca na internet pelo nome do portal
e ter acesso a estatísticas que são separadas por segmento — população, tra-
balho, saúde, comércio, gênero, entre muitos outros —, e também por estados
e cidades. O IBGE é uma entidade da administração pública federal e é um dos
principais recursos de busca de dados estatísticos do país.

Um artigo publicado no The Data Journalism Handbook (BOUNEGRU; CHAM-


BERS; GRAY, 2018, documento on-line) explica algumas formas de obtenção
de dados a partir do que existe disponível atualmente. A pesquisa demonstra
que muitas bases de dados na internet estão indexadas por mecanismos de
busca e aponta dicas para iniciar o processo de procura:

Quando estiver buscando dados, não esqueça de incluir tanto termos de busca
relativos ao conteúdo quanto ao formato ou à fonte onde espera encontrá-los. O
Google e outros buscadores permitem pesquisar por formato de arquivo. É possível
buscar, por exemplo, apenas planilhas (inserindo “filetype:XLS filetype:CSV”), dados
geocodificados (“filetype:shp”), ou bancos de dados (“filetype:MDB, filetype:SQL,
filetype:DB”). Você pode até mesmo procurar por arquivos PDF (“filetype:pdf”).
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Também é possível pesquisar pela parte de uma URL. Ao inserir “inurl:downloads


filetype:xls”, o Google tentará buscar todos os arquivos Excel que têm downloads
em seu endereço (se encontrar um download, vale a pena checar por outros re-
sultados na mesma pasta daquele servidor). Também é possível limitar a busca
a resultados em apenas um domínio, colocando “site:agency.gov”, por exemplo.
Outra dica é não buscar o conteúdo diretamente, mas sim os lugares em que po-
dem estar disponíveis dados em massa. Por exemplo, “site:agency.gov Directory
Listing” pode retornar várias listas geradas automaticamente pelo servidor com
acesso fácil aos dados brutos, enquanto “site:agency.gov Database Download”
buscará apenas aquelas listas criadas intencionalmente para serem encontradas.

O The Data Journalism Handbook (BOUNEGRU; CHAMBERS; GRAY, 2018) também


indica que a forma de divulgação de dados varia em cada país; no entanto, sabe-se
que, no Brasil, existem dados disponibilizados a partir de diferentes portais de
busca. Há, além disso, sites que são acessados mundialmente para a obtenção de
informações, como os portais de dados do Banco Mundial e das Nações Unidas,
por exemplo, que fornecem dados confiáveis a respeito de todos os países, con-
tendo, ainda, um histórico de vários anos, possibilitando o cruzamento de dados.

Existe um índice global que atualiza os portais que contêm dados


estatísticos. Faça uma busca por “datacatalogs.org” na internet e veja
quais são os sites disponíveis. É possível traduzir a página automaticamente a
partir das ferramentas de seu navegador.

A página web The Data Journalism Handbook cita as ideias de Cheryl Philips
para endossar a premissa de que é possível, também, encontrar dados indo
direto à fonte. Nesse formato, se o jornalista não conseguir obter os dados a
partir de pesquisas na internet, mas acredita que algum órgão governamental
possa ter as informações de que precisa, pode buscar as estatísticas dire-
tamente com quem detém os dados, embora nem sempre o acesso a essas
fontes seja facilitado. Uma das formas de fazer essa solicitação é tendo como
base a Lei de Acesso à Informação, que pode ser uma aliada nesse processo.

Referências
BOUNEGRU, L.; CHAMBERS, L.; GRAY, J. Manual de jornalismo de dados. [S. l.: s. n.], 2018.
Disponível em: https://web.archive.org/web/20180624174128/http://datajournalis-
mhandbook.org/pt/getting_data_0.html.
BÜNEKER, A. O jornalismo e a produção de conteúdo na era dos dados. In:
BIG DREAM. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: https://bigdreamagencia.com.
br/o-jornalismo-e-a-producao-de-conteudo-na-era-dos-dados/.
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KOVACH, B.; ROSENSTIEL, T. Os elementos do jornalismo: o que os jornalistas devem


saber e o público exigir. São Paulo: Geração Editorial, 2003.
LOPES, D. F.; PROENÇA, J. L. Jornalismo investigativo. São Paulo: Publisher Brasil, 2003.
MALESON, R. V. S. Espião estatístico: o jornalismo de dados no globoesporte.com. 89 f.
2017. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2017. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/6620/1/Rmaleson.pdf.
MANCINI, L.; VASCONCELLOS, F. Jornalismo de dados: conceito e categorias. Revista
Fronteiras – estudos midiáticos, v. 18, n. 1, jan./abr. 2016. Disponível em: http://revistas.
unisinos.br/index.php/fronteiras/article/viewFile/fem.2016.181.07/5300.
MEYER, P. Precision journalism. Bloomington: Indiana University Press, 1973.
PEREIRA JUNIOR, L. C. A apuração da notícia: métodos de investigação na imprensa.
Petrópolis: Vozes, 2006.
ROCHA, P. M. Os impactos da tecnologia na produção jornalística e a formação do pro-
fissional. In: CONGRESSO INTERNACIONAL IBERCOM, 14. 2015. Anais [...]. São Paulo, 2015.
STAVELIN, E. Computational journalism: when journalism meets programming. 2013. 107 f.
Thesis (PhD) – University of Bergen, Bergen, 2013. Disponível em: http://bora.uib.no/bits-
tream/handle/1956/7926/dr-thesis-2013-Eirik-Stavelin.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 2001.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores
declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

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