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investigação
no jornalismo
Laísa Veroneze Bisol
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A prática jornalística se estrutura com base em diferentes formas de pesquisa. Uma
delas é a busca por dados estatísticos, que se trata de um método de produção
de conteúdo que tem como base a quantificação das informações.
Neste capítulo, você vai ver quais são os principais métodos de investigação
utilizados para captação de informações no trabalho jornalístico. Para isso, vai
conhecer alguns processos de levantamento e tratamento dos dados, como as
fases de input e output (em português, “entrada” e “saída”) e algumas ferramentas
para busca de dados, já que, hoje, existem diversas plataformas disponíveis para
a realização deste trabalho.
A afirmativa dos autores nos conduz a pensar que, para além dos fatos já
apresentados, ou seja, dos acontecimentos cotidianos, é função do jornalista
buscar enxergar além, isto é, existem situações que merecem ser exploradas
e, por isso, é essencial buscar um olhar apurado e uma leitura diferenciada
de mundo.
Embora, hoje, saibamos das diferentes formas existentes para buscar a
informação e da necessidade de buscar informar aquilo que estaria obscuro
se não fosse pelo olhar do jornalista, ainda na década de 1970, o jornalista
americano Philip Meyer já defendia a ideia de jornalismo de precisão, que
se referia, justamente, à aplicação de métodos científicos para a análise de
dados. Segundo Meyer (1973, p. 15):
Entende-se que Meyer foi um dos precursores dessa ideia e, a partir disso,
também do campo de estudos sobre jornalismo de dados. O estudo do autor
acabou incentivando o surgimento do termo “reportagem com auxílio de
computador” (RAC), nos anos 1990. Os procedimentos propostos por Meyer
indicaram novos meios para que os jornalistas aprimorassem a maneira de
ver a realidade social, que já não dependeriam apenas de fontes externas,
mas de um processo de produção que incluía a análise da informação. Mancini
e Vasconcellos (2016, documento on-line) afirmam que todos esses aspectos
adquirem uma nova importância, uma vez que:
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Assim, e conforme exposto pela agência, os dados atuam como uma ferra-
menta de composição, tornando o jornalismo mais preciso e objetivo, uma vez
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Você não pode entrevistar 28 milhões de pessoas para uma matéria, mas pode
facilmente entrevistar 28 milhões de registros (em uma base de dados) em minutos
e encontrar padrões que estavam "escondidos" dentro das planilhas e que podem
servir de base para reportagens tradicionais. Dados e tecnologia não substituem
os melhores valores e princípios do jornalismo. Eles os complementam.
1. Coletá-los. Quer você tenha ou não tentado imitar os cientistas em seus métodos
de coleta de dados, você pode lucrar sabendo alguns de seus truques. Sempre
vale a pena lembrar, o que me disse o professor H. Douglas Price em Harvard, na
primavera de 1967, que “os dados não vêm da cegonha.”
2. Armazená-los. Os jornalistas dos velhos tempos armazenavam dados em pedaços
de papel em suas mesas, nos cantos do escritório ou, se fossem muito organizados,
em arquivos de recortes. Computadores fazem isso melhor.
3. Recuperá-los. As ferramentas do jornalismo de precisão podem ajudar a recu-
perar dados que você mesmo coletou e guardou, dados que alguém armazenou
pensando em um usuário como você ou dados que alguém guardou por motivos
completamente alheios ao seu interesse, talvez sem ter a mínima ideia de que um
jornalista ou usuário público poderia algum dia estar interessado neles.
4. Analisá-los. A análise jornalística muitas vezes consiste em meramente exami-
nar para encontrar e listar os desvios interessantes. Mas pode também envolver
pesquisas por causação implícita, por padrões que possam sugerir que fenômenos
diferentes variam juntos por motivos interessantes, ou até para avaliar a efetivi-
dade de políticas públicas.
5. Reduzi-los. A redução de dados se tornou uma habilidade tão importante no
jornalismo quanto a coleta de dados. Uma boa matéria jornalística é definida pelo
que deixa de fora, quase tanto quanto pelo que ela inclui.
6. Comunicá-los. Uma reportagem não lida ou não entendida é uma reportagem
perdida. Você pode filosofar que, como o som de uma árvore caindo em uma
floresta, ela não chega a existir.
Maleson (2017, documento on-line) destaca que “[...] uma base de dados
é a fonte primordial do trabalho do jornalista de dados” e que a primeira
dificuldade encontrada é justamente a obtenção desses dados. Assim, o
autor aponta que o especialista em dados precisa conhecer as etapas para
que a mensagem seja transmitida da melhor forma aos leitores. Para isso,
cita a pirâmide invertida do jornalismo de dados criada por Paul Bradshaw
(2011 apud MALESON, 2017), que divide o trabalho do jornalista nas seguintes
fases: compilar, limpar, contextualizar, combinar e comunicar.
A primeira, compilar, diz respeito à captura dos dados e, por isso, é ne-
cessário que o jornalista domine algumas ferramentas para encontrar essas
informações, que pode ser por meio de uma pesquisa no Google, em redes
sociais ou em portais que disponibilizem dados sobre temas específicos. A
segunda etapa, limpar, diz respeito, segundo os autores, à limpeza de dados
para que não ocorra nenhuma divergência entre as informações, e isso inclui
a eliminação de dados que não são relevantes para o conteúdo que está
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conteúdo;
disponibilidade de material;
meio;
público;
concorrência.
Quando estiver buscando dados, não esqueça de incluir tanto termos de busca
relativos ao conteúdo quanto ao formato ou à fonte onde espera encontrá-los. O
Google e outros buscadores permitem pesquisar por formato de arquivo. É possível
buscar, por exemplo, apenas planilhas (inserindo “filetype:XLS filetype:CSV”), dados
geocodificados (“filetype:shp”), ou bancos de dados (“filetype:MDB, filetype:SQL,
filetype:DB”). Você pode até mesmo procurar por arquivos PDF (“filetype:pdf”).
Métodos de investigação no jornalismo 21
A página web The Data Journalism Handbook cita as ideias de Cheryl Philips
para endossar a premissa de que é possível, também, encontrar dados indo
direto à fonte. Nesse formato, se o jornalista não conseguir obter os dados a
partir de pesquisas na internet, mas acredita que algum órgão governamental
possa ter as informações de que precisa, pode buscar as estatísticas dire-
tamente com quem detém os dados, embora nem sempre o acesso a essas
fontes seja facilitado. Uma das formas de fazer essa solicitação é tendo como
base a Lei de Acesso à Informação, que pode ser uma aliada nesse processo.
Referências
BOUNEGRU, L.; CHAMBERS, L.; GRAY, J. Manual de jornalismo de dados. [S. l.: s. n.], 2018.
Disponível em: https://web.archive.org/web/20180624174128/http://datajournalis-
mhandbook.org/pt/getting_data_0.html.
BÜNEKER, A. O jornalismo e a produção de conteúdo na era dos dados. In:
BIG DREAM. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: https://bigdreamagencia.com.
br/o-jornalismo-e-a-producao-de-conteudo-na-era-dos-dados/.
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