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Data: 28/01/2023
Através dessa resenha, tenho como objetivo provocar a reflexão do racismo que ocorre
no Brasil. Longe de ser algo velado, trata-se de um racismo hipócrita onde, embora
muitos não se declaram racistas, ele está ali presente, no dia a dia, estruturado.
Não é preciso se declarar racista para que saibamos que ele está presente em
comentários preconceituosos disfarçados de brincadeira.
Não é preciso se declarar racista para que se perceba a presença dele em frases que
começam com “eu não sou racista, mas...”. O que vem depois, sem as camadas do
eufemismo linguístico, nada mas é do que a declaração de que, sim, a pessoa que
iniciou a sua fala da forma citada acima é abertamente racista.
Quando deparamos com o fato de que a história dos pretos africanos escravizados e
dos povos nativos do que eles chamavam de “Novo Mundo” foram contadas por
brancos, carregados de um etnocentrismo que faz com que seja normal acreditar que a
América foi “descoberta” e que indígenas devem ser civilizados e que negros são
escravizados por serem inferiores numa escala pseudocientífica que asquerosamente
defende a existência de “raças humanas”, consequentemente enxergamos o alicerce do
racismo estrutural construído de dentro para fora: Da mesma forma que é preciso de
teorias para justificar a prática (“raças humanas” como a “justificativa” da subjugação do
“inferior” pelo “superior”), é preciso que o ponto de vista eurocêntrico seja vista como a
verdade incontestável de que de fato exista as tais raças humanas, a ponto de não
levar em consideração o ponto de vista daqueles que foram conquistados e/ou
escravizados.
Ainda essa semana, durante a manhã, liguei a TV num noticiário que mostrava a
estafante rotina de pessoas que levam duas horas para se deslocar de suass casa para
seus trabalhos, enfrentando ônibus lotados, atrasos nas linhas de trem e metrô. A
maioria das pessoas abordadas pelo repórter para que ele relate o transtorno criado
pela complicada situação do transporte público é, em sua maioria, preta ou “parda” (por
falta de um termo melhor).
Isso denuncia não só a situação de pessoas que se submetem a uma rotina desumana
onde o translado de casa para o trabalho é mais cansativo que o trabalho em si, isso
sem falar do trajeto de volta para a casa, como também a falta de equidade na
oportunidade de acesso á uma educação de qualidade que confira á maioria um status
de especialista num determinado assunto, como o rapaz ouvido ao fim da reportagem.
Na mesma semana, no mesmo canal, a notícia de uma bala perdida de uma doze
atingiu e matou uma menina de 11 anos. É angustiante pensar que essas balas
perdidas só encontram corpos pretos e periféricos, só não é tão angustiante quando
ouvir de alguns que se trata de uma “coincidência”.
Pois é. O ato de espichar o nosso pescoço para comprovar o que não queremos ver,
mas existe, dói. Não no pescoço, mas na alma. É como sentir a dor dos nossos
ancestrais que tanto sofreram, que lutaram para não ter seus destinos traçados pela cor
da sua pele, ao ver que a humanidade não avançou ainda em direção de nos perceber
como iguais.
Temos muito que caminhar, para que, um dia, ao fazer o teste do pescoço, não
sentirmos mais essa dor.