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DEPOENTE:
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Fernando Coelho: Convido para integrar a mesa, o Padre Ernanne Pinheiro, será o
conferencista e o expositor nesta reunião. Tenha bondade Pe. Ernanne... constatada a
presença dos demais membro da comissão e já dando início aos trabalhos, eu passo
a palavra ao companheiro, Dr. Pedro Eurico, para fazer a apresentação do expositor.
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colégio Nóbrega uma vez na semana, já estava apagando as luzes e na sala dele a
gente estava começando a treinar; é todo um processo pra eu poder recuperar a voz,
quer dizer, não a voz, mas a palavra, usar a palavra e, isso me deixou encantado
porque de repente eu começava a falar. O problema é como diz Lucinha, o problema é
que eu não parei mais, não é? Não teve mais jeito. Eu aprendi, teve esse lado bom,
mas o Pe. Henrique lá de cima, seguramente ele deve ter tido alguns momentos que
ele diz: "eu acho que ensinei demais a esse rapaz", não é? Mas enfim, Pe. Ernanne.
Eu digo isso pelo ambiente intimo familiar, e eu sei que aqui nós estamos ..seus
amigos queridos e fiéis, porque nós sabemos da importância que teve a sua
passagem na diocese de Olinda e Recife, era coragem e lucidez, que não faltou nunca
ao Pe. Ernani Pinheiro, no momento da dureza. Ele era corajoso nos enfrentamentos
vários, que nós tivemos na arquidiocese; e, posteriormente, a lucidez: não se deixar
levar pela vaidade ou pela ilusão. Era uma pessoa de pé no chão. Alguns momentos a
gente ficava até tenso, não é, ao menos na Comissão de Justiça e Paz. Eu, como
iludido eterno, tinha que ter alguém que também me controlasse, no bom sentido,
então Fernando, Presidente, eu quero dizer que a presença hoje do Pe. Ernani aqui,
reaviva pra nós aqueles momentos. Mas muito mais, reaviva pra nós o que foi a igreja
de Olinda e Recife naquele tempo. Então quando a Comissão pensou no seu nome,
foi uma ação coletiva da Comissão, porque todo mundo sabe da importância que teve
o Pe. Ernanne Pinheiro naqueles tempos. E daí porque eu, com muita satisfação, lhes
digo essas palavras e, sem gaguejar, passo a palavra ao Pe. Ernani.
Fernando Coelho – Eu queria fazer um registro especial, tento em vista que muitos
dos presentes, talvez não estejam acompanhando o dia-dia dos trabalhos dessa
Comissão. Ultimamente nós tivemos aqui no Recife, a presença do Dr. Paulo Abrão
Pires, que é presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e atuando em
Brasília, praticamente na coordenação maior do trabalhos das comissões de anistia
que hoje são várias, e de diversos órgãos do país. E ele fez um registro que com
muito,... com muita satisfação, nós aqui repetimos. Ele considerou que - ele que tem
conhecimento de perto os trabalhos de todas as Comissões - que a nossa é a que
vem num trabalho mais avançado. Isso pra nós foi um motivo até de satisfação porque
sempre nós desejamos o melhor e desejamos fazer mais. Mas temos já avançado ao
ponto de que se justificasse um pronunciamento dessa autoridade e desse teor, e
nessa oportunidade ele chegou inclusive a declarar ao Governador do Estado, que
numa homenagem a Pernambuco e num reconhecimento do trabalho dessa
Comissão, ele sugeria que fosse realizado, aqui em Pernambuco, o Seminário
Internacional sobre as Comissões de Reparação Memória e Verdade. Seminário
Internacional que vai permitir, provavelmente no mês de novembro, conforme
sugestão dessa Comissão, vai permitir que reúnam-se aqui no Recife, representantes
de comissões similares, não apenas do Brasil, mas, de outros países da América,
inclusive de outros continentes.E, desta reunião, que resulte sobretudo a comunicação
de experiências que permita, avancemos ainda mais. Faço esse registro numa
homenagem e reconhecimento dos trabalhos dos membros da Comissão quase todos
aqui presentes e com a maior satisfação eu passo a palavra ao Pe. Ernanne.
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Padre Ernanne – Um bom dia para todos e para todas e em primeiro lugar uma
homenagem ao presidente da Comissão da Verdade e da Memória e nele aos
membros da Comissão. E ao escutar doutor Fernando agora, eu queria confirmar essa
posição do Dr. Paulo Abrão pela vice presidente da Comissão da Anistia. Ela me
disse, a Sueli Belato, ela me disse que a Comissão de Pernambuco, hoje, é a mais
sólida e mais estável. Então acho que é muito importante também termos consciência
disso. Não é? Bom queria cumprimentar, além dos membros da Comissão, de um
modo especial o Dr. Pedro Eurico que me convidou a esta casa para voltar ao Recife,
eu gosto muito de voltar ao Recife, que é sempre relembrar, reviver momentos de luta,
momentos de verdade e momentos de esperança. Eu dizia sempre, em Recife nós
vivíamos com muito sofrimento, mas com muita esperança. Então, aos amigos e
amigas que estão aqui presentes, eu gostaria de introduzir dizendo que, meu
depoimento é um depoimento estritamente de Igreja. O Dom Fernando, que me pediu
para estar aqui em nome da Arquidiocese. E ao falar de depoimento de Igreja, eu
recordo que no momento eu era Vigário Episcopal dos leigos e Henrique tinha feito
propaganda junto ao clero, porque eu estava só aqui em Recife e eu era pouco
conhecido. E o Antônio Henrique que tinha feito propaganda. E ao mesmo tempo eu
dizia que Dom Helder, na missa de corpo presente, me nomeou sucessor do Henrique.
Não é? Dom Helder me nomeou sucessor do Henrique e por isso eu fui acompanhado
vários dias, né? Por uns amigos desagradáveis. Agora também eu gostaria de dizer,
antes de acompanhar o depoimento, que eu fui o motorista de Dom Helder para ir ao
cemitério reconhecer o corpo de Antônio Henrique. Meu depoimento se prende a
três... cinco pequenas partes. Primeiro relembrar um pouco. Todos conheceram aqui
bem o Henrique até mais do que eu. Quem era o Henrique e o que ele fazia? Na
segunda parte eu gostaria de falar, qual era o contexto da Igreja de Olinda e Recife no
momento. Na terceira parte analisar um pouquinho a... o trucidamento, o fato. Quarto
momento: como é que a Arquidiocese de Olinda e Recife reagiu ao trágico
acontecimento. E finalmente a quinta parte, as repercussões do trucidamento do
Henrique e perguntas consequentes. Eu pediria pra falar aqui de perto porque eu acho
que facilitaria a comunicação.
Então em primeira parte, quem era Henrique, Antônio Henrique Pereira Neto. Nasceu
em 28 de outubro de 1940. Fez sua formação sacerdotal em Olinda e João Pessoa,
passou um período nos Estados Unidos estudando psicologia...
Exmo. Sr. Dr. Pedro Eurico, relator do caso Padre Henrique na Comissão,
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de corpo presente, o sucessor do padre Henrique para dar continuidade aos trabalhos
da Pastoral de Juventude. Vou tentar organizar minha reflexão em cinco partes:
1. Quem era Padre Antônio Henrique Pereira Neto e seu trabalho pastoral
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Lavínia Lins, hoje médica psiquiatra em São Paulo, estava na reunião no bairro de
Parnamirim-Recife, de onde saiu o Padre Henrique, visto pela última vez.
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Sua postura era de aceitação (tão importante nesta idade) e sua linguagem
era a nossa. Era jovem também. Favorecia as relações e a exposição sadia de
cada um no grupo. Nossas vozes eram ouvidas e repercutiam. Sentíamos
pertencendo a algo que nós mesmos criávamos. Era com este sentimento que
estávamos sendo direcionados, de forma muito inteligente, a não nos
envolver com álcool e drogas e a repensar temas que nos cercavam, como: as
relações interpessoais, com outras gerações, temas sociais como a
prostituição, etc.
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Padre Antônio Henrique foi formado na escola do seu pastor Dom Helder.
Também era fruto tanto da renovação da Igreja em pleno Concílio Vaticano II como
fruto do compromisso com o mundo estudantil, ainda em ebulição, contra a ditadura
militar. Henrique tinha consciência de que corria risco. Estava comprometido com as
causas dos estudantes universitários, ainda muito politizados, e fazia seu trabalho
pastoral em sintonia com a dimensão profética da Arquidiocese com contínuas
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“Nosso último encontro se deu para que os pais e os filhos pudessem discutir
tendo Henrique como intermediador. O clima era agradável e seguro. Saí com
meus pais e no Largo do Parnamirim, avistei Henrique pela última vez.
Passamos de carro e tentei acenar para ele. Sem nos ver, entrava numa
“rural” verde e branca. Dois homens estavam fora do carro, de porta aberta,
junto com ele. Outro dirigia. Depois foi apenas a notícia”.
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Todos os documentos aqui citados fazem parte do arquivo da Arquidiocese de Olinda e Recife.
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A missa de 7º. dia foi o momento forte para a assimilação do trágico ocorrido.
A Arquidiocese, tentando evitar fatos indesejáveis, preferiu descentralizar a
celebração; preparou um texto litúrgico unificado para orientação de todas as
paróquias e centros religiosos. Foi a ocasião para oferecer os critérios cristãos para
avaliar o trágico acontecimento. Sua introdução diz o seguinte:
“Meus irmãos, há sete dias precisamente Antônio Henrique, presbítero da
Igreja de Deus no Recife, foi trucidado por causa do Evangelho de Jesus Cristo.
Reunidos, hoje aqui, não são pensamentos de ódio ou de vingança, não é a sede
de mais sangue que nos movem e nos irmanam. São pensamentos de paz. Paz
que brota da fé. Fé que fala mais alto do que a perversidade dos maus. Fé, que nos
diz que padre Antonio Henrique está com Jesus, no Reino dos vivos. Fé que nos
faz apreciar a importância do seu holocausto e ouvir os apelos de Deus a
continuarmos o trabalho que padre Henrique começou. Imploremos a misericórdia
de Deus sobre todos nós, que vivemos esta hora triste e angustiante; sobre a
família do padre Henrique; sobre o mundo que mata aqueles que lhe anunciam a
verdadeira paz; sobre os assassinos do padre Antonio Henrique”.
Na missa de 30º. dia, a homilia de Dom Helder amplia a reflexão numa
leitura religiosa do trágico acontecimento em sua relação com o momento político.
Começou a Homilia com uma pergunta:
“O que diria o nosso Padre Henrique se Deus lhe permitisse que ele mesmo
pregasse a homilia desta Missa? Que ponderações teria a fazer, que sugestões a
apresentar, falando-nos de junto de Deus, onde nossa fé espera que ele se
ache? Salvo engano, começaria repetindo a palavra de Nosso Senhor, em sua
paixão:”Não choreis sobre mim, mas sobre vós e vossos filhos” (Lc 23,28)”.
E apresenta “Apelo que chega da eternidade”:
- da eternidade, de junto de Deus, ele apela para todos os que acusam a Igreja
no Nordeste, de subversão e comunismo. Comparem o que estamos pregando
em nossa região com o Ensino Social da Igreja, ainda recentemente expresso
por Paulo VI em Genebra: estamos rigorosamente dentro da “Populorum
Progressio” e das conclusos de Medellin;
- da eternidade, de junto de Deus, ele pede aos Governantes que, sem perda de
tempo, partam para a reforma de base e, de modo particular, para a reforma
agrária. Mas adverte que será impossível qualquer mudança autêntica de
estrutura através de reforma conduzida de cima para baixo. Ou o Povo participa
como agente de mudança, ou não haverá promoção humana e social;
- da eternidade, de junto de Deus, ele pede aos Responsáveis pela ordem
pública que, quanto antes, terminem as medidas de exceção que estão tornando
impossível o uso de processos democráticos da parte dos cidadãos em geral, e
especialmente dos estudantes, e dos trabalhadores. A situação presente cria
clima propício a arbitrariedades, e abusos, a crimes (e não seria difícil apontar
casos, de que são tristes exemplos os esquadrões da morte). A situação
presente impele os mais impacientes para a clandestinidade, a radicalização e a
violência.
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democracia, em busca da justiça, motivados pela fé, sabendo que poderiam pagar
com a vida sua doação3.
O padre jesuita Karl Rahner, considerado o grande teólogo do século XX, fala
sobre a necessidade de ampliação do conceito clássico de martírio. Propõe que o
termo martírio seja aplicado tanto para a morte suportada pela fé como pela morte que
tem sua origem num compromisso e numa luta ativa, assumidos pela mesma fé4.
A Igreja local de Olinda e Recife não ficou isolada nesse sofrido momento.
Recebeu solidariedades diversas e significativas do Brasil e do exterior. Confortadora
para todos, mas sobretudo para Dom Helder, foi a visita imediata do Secretário Geral
da CNBB, Dom Aloísio Lorscheider.
Chegaram Mensagens do Santo Padre Paulo VI, do Secretário de Estado do
Vaticano, da Presidência do CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano), da
Nunciatura Apostólica e tantas outras.
O Governador do Estado, Sr. Nilo Coelho, nomeou uma Comissão de Inquérito
e entregou sua presidência ao Magistrado, juiz da 11ª. Vara, o Dr. Aloísio Xavier e
para desempenhar as funções de Procurador nomeou o Dr. Rorenildo da Rocha Leão.
Logo no dia 11.06.1969, o Dr. Aloísio Xavier, segundo publicou o jornal Diário
de Pernambuco, deu um excelente testemunho em favor da conduta do sacerdote,
afirmando com palavras claras e incisivas que valeu como uma resposta a todas as
insinuações veiculadas por órgãos da imprensa.
Convidado a depor sobre o assassinato do Padre Antônio Henrique,na
Comissão Judiciária, em abril de 1975, Dom Helder solicitou a anexação aos autos do
processo sua declaração.
Ele relembra em detalhes os acontecimentos de maio de 1969, a nota do
Governo Colegiado da Arquidiocese, o caminhar da Comissão Judiciária, as fases do
processo e repete perguntas publicadas em Nota, no dia 29 de Agosto de 1969,
fazendo sérias considerações (importante de serem explicitadas mesmo se algumas já
atendidas).
Fala Dom Helder na sua declaração:
“Como esquecer a coincidência de, poucas horas antes do que ocorreu a
Cândido Melo, ter sido alvejado o Juvenato Dom Vital (local em que trabalhava o
padre Antonio Henrique), havendo os assaltantes – segundo depoimento de
duas testemunhas citadas no Relatório da Comissão Judiciária - (parte final do
item V), disparado suas armas, aos gritos de CCC? Como esquecer que,
segundo o mesmo Relatório, no mesmo item, foi o CCC quem ameaçou o Padre
Henrique pelo telefone?”
A nota continuava perguntando:
“Porque não se faz uma devassa em regra sobre este famigerado CCC? Como e
quando foi organizado? Quem o financia e quem o dirige? Quem são os seus
sócios? Onde tem sua sede? Quais os objetivos e quais os feitos desta versão
do Ku-Klux-Kan? Houve interesse efetivo em apurar a passagem do CCC pela
Universidade Rural? E pela Universidade Católica? E pelos Diretórios
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O caso do martírio do Padre Antonio Henrique Pereira Neto está apresentado no livro: MARTÍRIO –
memória perigosa na América Latina hoje, do padre José Marins e sua equipe, Edições Paulinas, 1984,
página 146. No referido livro, padre Marins faz o levantamento de situações idênticas a do Padre
Henrique em quase todos os países da América Latina; cita outros padres assassinados no Brasil: Padre
João Bosco Penido Burnier (1976), padre Rodolfo Lunkenbein(1976)...
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Cf. Revista Internacional Concilium, n.183, 1983/3, páginas 13a16.
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Pedro Eurico - Uma mistura boa. A assessoria informa que há um coffe brake
preparado pela Ordem dos Advogados aí ao lado. Eu pergunto se vocês querem fazer
uma pausa ou adiar pra depois? Perfeito!
Então, padre Ernanne, primeiro fica difícil falar depois do que você falou. E segundo,
dizer que a Comissão tem avançado muito em duas questões que fecham a sua
intervenção, fecham sua fala. A primeira diz questão ao que diz a própria essência do
regime democrático, acho que esse é o papel mais importante da Comissão da
Memória e da Verdade, proclamar a radicalização da democracia no país. A
democracia como um valor permanente e absoluto. E a segunda questão que a
Comissão tem feito, e aí vou começar a fazer algumas perguntas ao Pe. Ernanne, diz
respeito a ação do CCC. Ontem, e os jornais hoje já divulgam, a Comissão ouviu de
forma reservada um personagem importante desse tempo. E podemos já levantar
nomes de pessoas, cessão de servidores estaduais para o DOI/CODI... Nós vamos
aprofundar essas investigações. Mas, o que eu gostaria de saber, a primeira pergunta
ao Pe. Ernanne: o Juvenato Dom Vital foi metralhado as nove horas da manhã de uma
segunda feira. Inclusive sendo usado como veículo que transportou os atiradores
também uma rural verde e branca, segundo atestam dois garçons que fechavam o
bar,um pequeno restaurante ao lado do Juvenato Dom Vital. E aí eu queria saber, qual
foi a posição da Arquidiocese logo após aquele acontecimento, o metralhamento da
fachada do Juvenato Dom Vital? E em segundo lugar também, era saber qual a
posição que tomou a Arquidiocese e Dom Helder, que falou especificamente numa
nova Klu klux Klan, mas a verdade é que nós tínhamos e a Comissão tem real
interesse do levantamento do CCC em Pernambuco. E não era uma ação somente
mano militar, era uma ação de delegação, era também uma ação de prestação de
serviço de agentes civis ou personalidades civis querendo se manifestar em
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Pedro Eurico: Pe. Ernanne, só interrompendo, eram militares fardados ou eram civis?
Padre Ernanne: Não, eu acho que foi do Exército pelo seguinte: em primeiro lugar,
bem no estilo dele, deu a mão a cada um dos membros do pelotão que estavam na
frente. Aí disse quem é o comandante de vocês? Disseram é o tenente fulano de tal.
Tenente me acompanhe para eu telefonar pedindo diálogo com o Comandante do IV
Exército. Não é? Aí bem dentro da presença de espírito de Dom Helder ele tentou;
"Tenente, qual é o melhor telefone para atingir o comandante do IV Exército?" Ele deu
o telefone e duas vezes Dom Helder tentou. Esperou, esperou. Aí Dom Helder disse o
seguinte: "ô tenente!? o senhor percebe que o comandante não quer falar comigo!?
Vou ter que tomar outra decisão". Veja que criatividade; telefonou para o Rio; Dom Ivo
Lorscheider – Secretário Geral da CNBB:" Estamos sendo invadidos por militares aqui,
na cata de documentos, e muitos deles reservados diretamente ao Vaticano. Eu não
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quero criar problema do Governo Brasileiro com o Estado do Vaticano. Dom Ivo, se
comunique imediatamente com Roma." Moral da história: dois minutos depois, ordem
de recolher. Porque eu estou dizendo isso? Em primeiro lugar ele sempre tentava o
diálogo. Sempre a primeira coisa, a primeira atitude de dom Helder era tentar o
diálogo. Agora você dialogar com quem? Apelar pra quem não é? Tentava sempre o
diálogo. Eu mesmo fui encarregado por Dom Helder, por ocasião da prisão do Cajá, a
primeira coisa que Dom Helder fez, disse: "Você vai em nome da Arquidiocese
dialogar com o superintendente da Polícia Federal. Eu fui. A reação é quase de humor.
De fato, o superintendente da Polícia Federal me recebeu e eu disse: " Olhe, eu estou
aqui em nome da Diocese para visitar o Cajá". Aí ele disse: "Só com a condição de eu
lhe dar uma aula sobre o marxismo antes da visita". Eu estava tão angustiado que
Cajá soubesse que nós sabíamos que ele estava preso, dentro da estrutura, que eu
disse: aceito. E aceitei e ouvi rapidamente aulas sobre o marxismo e depois fui dizer
pra Cajá que nós estávamos acompanhando a prisão dele. Isso era pra dizer também
as tentativas de diálogos, não é? As tentativas de diálogos. Então, Pedro, diante da
sua pergunta, eu ficaria só na perplexidade, nós, você, mais do que eu, tinha presente
isso, a dificuldade que nós tínhamos nos acontecimentos do momento, a perplexidade
e ao mesmo tempo a tentativa de poder dialogar com as autoridades que eram muito
difíceis. Eu estou vendo aqui o Melo, Marcelo Melo, não é? que estava preso. Marcelo
está ai. Estava preso e fizeram a greve de fome e nós da Comissão de Justiça e Paz
fomos tentar ser mediadores. Entre os presos políticos e a Polícia Federal. Eu me
lembro que, Marcelo apertou minha mão e disse eu sou Marcelo Melo, como quem
dava recado lá de dentro da prisão não é? É isso é pra dizer que, de fato, a questão
ainda da mortee de Henrique está dentro desse contexto. Nesse contexto de
perplexidade e de situações difíceis, complexas... Lucinha era nossa secretária da
Comissão de Justiça e Paz e acompanhou todos esses fatos. Não sei Pedro, não
responde diretamente, mas vos dou mais elementos.
Pedro Eurico: A outra, e só apenas essa ,e depois vamos ouvir os outros membros da
Comissão. Pe. Ernanne, no momento da sua fala, você diz que, a situação de
violência levava os jovens e trabalhadores, ou seja, o mundo da juventude, como diria
na linguagem da Igreja e o mundo operário para um campo de resistência. E isso
acontece evidentemente, a partir de sessenta e nove, a partir de... especificamente do
AI5, as ações nas Universidades com as perseguições dos sindicatos. E eu gostaria
de saber também, do ponto de vista do sentimento e da presença da Arquidiocese de
Olinda e Recife, o que toca a essa discussão com os jovens. Porque com a morte de
Henrique, por exemplo, eu mesmo fazia parte de um grupo de jovens da Tamarineira.
Esse grupo não se reunia mais, não podia em nenhum ambiente, não havia nenhuma
condição do jovem se reunir. E aí começa a se discutir outras formas de resistência e
luta, que descamba até mesmo na luta armada. Qual foi a movimentação da
Arquidiocese para tentar manter acesa a presença da Arquidiocese junto ao mundo do
trabalho e junto ao mundo da juventude?
Padre Ernanne: Bom, eu como Coordenador da Pastoral, fui cinco anos Coordenador
da Pastoral da Arquidiocese, nos anos setenta, fiquei um período praticamente
dedicado a visitar as famílias dos presos políticos. Passava às vezes, dois, três dias
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Pedro Eurico: Padre Ernanne, é do que o senhor falou aí, agora, há uma questão pra
gente que...da Comissão, que nós estamos analisando, que é...acho que a professora
Socorro Ferraz ficou encarregada dessa parte de relatoria, que é a questão contra
trabalhadores no campo e trabalhadores na cidade. Porque se tem muitos registros
com relação aos estudantes, as vítimas, aos desaparecimentos, mas em relação aos
operários, aos trabalhadores, notadamente os trabalhadores do campo, não somente
a Comissão tem pouco acesso a essa informação, como também está disponibilizada
muito pouca informação sobre a situação dos trabalhadores. E como você falou aí que
ia à Paulista, nós sabemos que Paulista tinha o Sindicato dos Tecelões. Tinha uma
ação importante da Ação Católica Operária lá, com a presença de João Francisco, de
Luiz Barros, são militantes operários, e de padre Romano. Aí nós queríamos saber o
seguinte, se possível, Lorena, se é possível depois o padre Ernanne ir conversar com
pessoas dessa área da ação católica e depois solicitar a quem tiver alguma
informação pra que traga à Comissão; com relação a situação dos trabalhadores.
Porque, volto a dizer, com relação aos operários, sobre os operários, nós temos muito
pouca informação. E até porque a imprensa não conhecia e depois os movimentos de
resistência da classe média que transformavam isso em informação, também esses
movimentos desconheciam, não se relacionavam e quem se relacionava com esses
movimentos era no nosso ver a Igreja. E a gente queria ver se pelo menos há uma
relação de operários que foram presos, sequestrados, mortos e a circunstância em
que isso aconteceu.
Padre Ernanne: Bom, é sem dúvida nenhuma que desde, o final dos anos sessenta a
ACO – Ação Católica Operária – exerceu uma certa liderança nesse campo operário.
Inclusive foi muito visada pelos três...dois ou três documentos que foram lançados
publicamente com o apoio e a presença de Dom Helder. O primeiro era "Nordeste e
Desenvolvimentos Sem Justiça", o segundo era "Nordeste, o homem proibido". E de
fato, esses documentos causavam muita irritação aos militares porque faziam
realmente denúncias diretas. E tudo isso era muito centralizado na rua Gervásio Pires,
onde funcionava a sede da Ação Católica Operária - ACO. Se não me engano era
número 404. E o padre Romano era um assessor suíço/francês que praticamente ele
é que centralizava muito lá na sede essas reflexões. Um homem corajoso. Corajoso, e
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ao mesmo tempo muito lúcido e muito sereno. Vocês conheceram padre Romano, não
é? Mas ele recebia, inclusive, muitos dos procurados politicamente que iam lá
conversar com ele. Ter um ponto de referência. Então a casa da ACO em certo
momento, era frequentada pelo grupo de esquerda e era também vigiada pelos grupos
de militares não é? Eu trabalhei muito ligado ao padre Romano. Inclusive ele foi...
praticamente já estava pronto o decreto de expulsão. Eu posso contar mesmo um fato
curioso para depois entrar, Pedro, na sua pergunta direta. Nós nos encontrávamos,
um grupo de padres, ao domingo na igreja da Madalena. Tudo isso no momento era
muito secreto. Para avaliar a semana, o que tinha acontecido na semana. E um dia
chega lá padre Henrique Cossart, padre Henrique que era operário e disse: "É certo
que vão expulsar Romano". E desbarataria todo esse movimento operário, porque
Romano era um pouco a cabeça. E aconteceu um negócio gozado. O que se poderia
fazer? Ele começava a trabalhar e por hipótese foi tentar a ficha de Romano no DOPS.
E agora, quem vai amarrar o chocalho, o guizo no ... quem vai conseguir as fichas de
Romano no DOPS?. Ai eu me lembrei, eu tenho um primo que é comandante no
quartel em Olinda. Vou a ele e digo: "ô Aníbal, estão querendo expulsar o padre
Romano, que é um padre de grande valor, faz um trabalho muito bonito". Ai ele disse:
"Não se meta nisso e eu não sou dessa área". No dia seguinte eu chego em casa em
Olinda, tinha um envelope grande com a ficha do Henrique, não que eu tenha pedido.
Ele tinha dito, não se meta nisso e eu não sou dessa área e no dia seguinte tinha um
envelope na minha porta com a ficha de Romano e ele nunca perguntou se recebí e
eu nunca disse a ele que tinha recebido. Acontece que nós conseguimos publicar essa
ficha no Le monde e evitarmos a expulsão de Romano, não é? Então me parece que,
ao mesmo tempo que havia muita repressão, havia também muita criatividade. Havia
muita criatividade. Agora, para Pedro Eurico, eu digo que, de fato, nós temos
referenciais importantes para colher esse depoimento no meio operário. O João
Francisco, se eu não me engano vive ainda em Paulista, não é? O Reginaldo Veloso,
que também acompanhou muito de perto o caso da ACO, Lorena, eu acho que faleceu
não é? Lorena faleceu, Romano faleceu, mas eu acho que essas duas pessoas dessa
época são referências importantes.
Lucinha Moreira, da platéia( IDHEC) - .Agora tem um livro sobre padre Romano que
conta bem todos esses episódios.
Padre Ernanne: É é verdade, Lucinha lembra bem. Luiz Barros está vivo. O João foi
preso, o Luiz eu acho que nunca foi preso, não. Foi interrogado. Agora o Romano era
tão corajoso, que quando o operário era preso, ele ia ao quartel para dizer que era
corresponsável por ter as mesmas ideias do operário que foi preso. Ele chegava lá e
dizia assim: "Eu posso ser preso também porque eu penso igual a esse aí que foi
preso". Quer dizer que era uma pessoa de fibra não é? Nesse sentido ele ajudou
muito. Então esse era o clima em que vivia Henrique. Era o clima em que vivia
Henrique, no seu período não é? Então me parece que mesmo os grupos de
Henrique, tipo Pedro Eurico e Roberto, tipo Lavínia, as filhas de Galdino e Loreta,
disseram que eram mais novas, porque ele tentava atingir o final do curso médio,
começo da universidade, mas tinha o mesmo diálogo com todo contexto do mundo
universitário e acompanhava todas as lutas do mundo universitário da época.
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dominicanos fizeram por carta, foi lida, essa, esse depoimento dele, lido na
assembleia da CNBB em sessenta e nove, antes da morte de Henrique. Com a
presença de Buzaid. Convidaram o ministro Buzaid para um diálogo e uns bispos mais
afoitos leram o depoimento dos dominicanos denunciando as torturas. Agora sem
dúvida que Dom Helder ganhava muito espaço e que não era recente lá em sessenta
e nove. Eu acho que quem me conhece mais, sabe que eu trabalhei um ano numa
fábrica na França. E já nesse período entre sessenta e quatro e sessenta e cinco, no
dia da presença de Dom Helder em Paris, os operários ficaram resumindo o que Dom
Helder tinha dito da televisão. Dom Helder era muito interessante, não é? E ele de fato
já denunciava, se não oficialmente, a estrutura, os desmandos da estrutura militar no
momento. Que ele era uma figura muito visada e sobretudo aqui eu gostaria também
de chamar a atenção; havia uma oposição não só militar, mas alguns jornalistas tipo
Lenildo Tabosa, tipo Plínio Correia de Oliveira, tipo Vandelcock Vanderlei aqui em
Recife que teimavam sistematicamente em queimar a imagem de Dom Helder. Até
Gilberto Freire, em um episódio bem definido. Até espalhando notícias de que teria
saído uma nota do Vaticano, desvalorizando ou subestimando a missão de Dom
Helder. O que o Vaticano negou, que nunca havia feito nota de Dom Helder. Pelo
contrário, o papa Paulo VI dava profunda atenção a Dom Helder e o acolhia muito para
escutar dele a situação aqui do Brasil. Agora, de fato, os militares foram longe ao
proibi-lo de falar por sete anos. EraeEle falar e o nome dele sair em qualquer
instrumento de comunicação, não é? A tal ponto que vocês se lembram que a primeira
palavra dele quando falou ao Jornal do Brasil, depois de sete anos, foi uma palavra de
esperança "Quanto mais negra a noite, mais carrega em si a madrugada". Quanto
mais negra a noite, mais carrega em si a madrugada. Dom Helder, ele tinha muita
presença de espírito em tudo isso e ele tinha uma mística muito forte. Aquelas vigílias
da noite em que ele recordava, ele dizia que a noite, de duas as quatro da manhã ele
refazia os pedaço do que havia sido quebrado durante o dia. Então isso dava pra ele
muita força. Então essa vida de oração dele, essa mística de orações realmente dava
muita força. Dom Helder não perdia a esperança, não é? Tanto que fundava as
minorias abraânicas não é? Minorias abraânicas, era baseado num termo em São
Paulo que diz que Abraão esperava, apesar de tudo. Então ele dizia que nas minorias
abraânicas, apesar de tudo que estava acontecendo, um dia o sol iria clarear.
Roberto Franca: Você sabe que existe uma Comissão Nacional, criada pela
presidente Dilma. Eu queria saber o seguinte: isso também é mais uma opinião, uma
solicitação, é se a CNBB através de sua vasta experiência e documentação, se ela
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Fernando Coelho: Eu vou dizer ao senhor que nós formalizaremos essa proposta,
esse pedido, sem dúvida. Com a palavra o doutor Manoel Moraes.
Gilberto Marques: Meu caro sacerdote, meu nome é Gilberto Marques. Sou membro
da Comissão, sou militante.
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e... ou uma outra pessoa talvez , a tal Comissão Judiciária de Inquérito, substituindo o
inquérito policial que é a forma comum de se investigar o processo.
Padre Ernanne: Eu não acompanhei esse processo judicial, não. Não acompanhei
muito não. Tenho contato com a família de Henrique, Dona Izaíras. Mas detalhes da
comissão de inquérito, não.
Gilberto Marques: A minha memória, que falhou nesse aspecto, mas poderia vir outra
questão, inclusive no aspecto da contratação formal, devido as posses que a família
tinha. A Igreja, Dom Lamartine era bispo auxiliar, tem notícias de que a família tenha
sido pressionada ou pelo menos nessa parte preliminar dele? De alguma forma pediu
socorro a Arquidiocese?
Padre Ernanne: Novamente eu repito, viu Gilberto. Isso aí era muito ação direta de
Dom Lamartine. Eu não saberia dizer.
Pessoa da plateia não identificada: Um amigo me falou que eles sofreram muita
pressão. Dois irmãos deles desapareceram por mais de um ano.
Gilberto Marques: Uma outra coisa que surgiu no depoimento do advogado, era a
hipótese de que num primeiro momento o que se queria era dar um susto no padre e
não mata-lo. Essa hipótese chegou a ser.. eu acho difícil dar um susto com dois tiros
na cabeça.
Gilberto Marques: Eu acho difícil, não é? Mas, essa hipótese chegou a ser ventilada,
o senhor se lembra disso? O senhor se lembra?
Gilberto Marques: Agora, que o Estado brasileiro está no meio dessa história, o
Estado brasileiro, em face do regime de governo que imperava na época, eu não
tenho a menor dúvida. Eu acho que nenhum de nós tem essa..
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Sem dúvida nenhuma, esse recado servia de recado para os estudantes, para abortar
o crescimento da luta estudantil que começava a campear nas ruas. Eu me lembro
que nessa época as aulas eram suspensas por conta da movimentação dos
estudantes. Principalmente dos universitários. Apesar de minha pouca idade, tive atos
de participação política. Meu primeiro ato de política foi o enterro do padre Henrique.
Eu peguei na Rua Amélia. Eu morava ali perto, no caminho do Cemitério da Várzea e
tive a oportunidade de ver a entrada da polícia logo no cinema da Torre. A primeira
abordagem foi ali logo na Av. Conde de Irajá.
Padre Ernanne: Sobretudo na Av. Caxangá. De um lado era o ... cortejo. E do outro
lado eram carros. Carros blindados. Praticamente era uma praça de guerra.
Gilberto Marques: Agora eu acho que Henrique tinha também uma participação
grande, no mérito por ter morrido pela causa da democracia.
Gilberto Marques: Porque, como professor, ele não tinha a pompa do mestre, de que
era próprio da época. O padre, ele não tinha batina que anunciava o padre de longe, o
padre que andava de batina naquela época. Talvez ele nem tinha a empáfia do
professor, do mestre que se ombreava no caminho da sala de aula, e nem tão pouco a
liturgia católica. Dom Helder nunca largou a batina. Sempre andou de batina e ele era
um braço de Dom Helder, sem dúvida nenhuma.
Padre Ernanne: Você viu que aquele depoimento dos jovens, que dizia que ele fazia
questão de ser chamado de Henrique, não é? E que pudesse ser chamado de irmão
entre os irmãos. Ele realmente, apesar de ser um pouquinho mais velho, mas ele
também era jovem e tinha uma metodologia de ser irmão mais velho, que inclusive
ajudaria no diálogo entre as gerações.
Padre Ernanne: Pois eu tenho mais um elemento que, Gilberto, que acho que era
muito importante. Esses psicólogos, psiquiatras, tipo Galdino Loreto, Salustiano Lins,
davam certo apoio a jovens do grupo de Henrique, que eles viam que precisavam de
apoio psicológico. Galdino recebia no seu escritório, muitos dos alunos enviados por
Henrique. Tinham apoio.
Gilberto Marques: Daqui a pouco a gente pode substituir Pedro Eurico nessa parte. E
Pedro Eurico é doutor, Lamartine é doutor. (risada).. Pedro Eurico... Eu queria pra
completar, padre, salientar que nessa diferença do professor e do padre, Henrique no
colégio público, chegava ao ponto básico, elementos básicos da higiene corporal. E
isso, chamava atenção da forma como ele se dirigia aos alunos. De escovar os dentes
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a tomar banho, Henrique entrava nessas particularidades. Mas na aula dele, era uma
aula que tinha unanimidade entre os alunos. A gente esperava a hora de chegar
aquela aula diferente. Era a aula...
Gilberto Marques: Sim. Eu tinha treze anos quando ele morreu. Doze quando eu
comecei. Ele levava música. Fazia missa campal no colégio, o que também não era
uma coisa muito comum. Com violão. E a gente participava tanto com violão, quanto
cantando. E a missa de Henrique era algo diferente. Muito obrigada pela sua paciência
e pela sua participação e parabéns pela sua saúde ...a saúde e a longevidade em
quem é religioso, são coisas, são ofertas, do próprio Deus, sem dúvida nenhuma.
Padre Ernanne: Quase também como humor, um amigo meu lá, que é deputado
federal, sou de sessenta pra setenta anos, ele escreveu um livrinho e o título era - "Se
senta ou se tenta". - Sessenta ou setenta-. Então eu estou no segundo, entendeu? Se
tenta...
Gilberto Marques: E, na tentativa, agora ela é punível, sem dúvida nenhuma, porque
ela não é a toa.
Manoel Moraes: Padre Ernanne, bom dia! Eu queria dizer para todos nós...já foi dito
por Pedro Eurico, mas eu queria dizer pessoalmente da riqueza da sua presença entre
nós, nessa manhã, e da importância do seu testemunho para o trabalho da Comissão.
É eu, particularmente, como anglicano daqui de Recife, tive a oportunidade de
participar do clero da Igreja Anglicana. E fiquei, como sacerdote, de cuidar da
temática: religião, dentro das relatorias temáticas da Comissão da Verdade, por isso é
que eu queria lhe fazer perguntas mais amplas. Eu soube que o senhor e, certamente
Dom Helder e o senhor, teriam acompanhado a presença e Desmond Tutu. O senhor
esteve com Desmond Tutu? Esse momento com Dom Helder foi um momento de
partilha sobre a experiência da Africa do Sul. O senhor acompanhou essa audiência
de Dom Helder com Desmond Tutu?
Padre Ernanne: Não. Eu estive no debate uma vez com a esposa do Mitterrand.
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Padre Ernanne: Quem tratou mais disso com Jimmy Carter foi o Cardeal de São
Paulo. Ele teve vários encontros. Em alguns desses encontros, Dom Helder esteve
presente. Dom Helder tinha um costume de após suas visitas, reunir um grupo que ele
chamava família messejanense, ou aqui ou no Rio, para contar essas coisas. Então na
questão Jimmy Carter, ele ajudaram bastante a levantar questões. Eles ajudaram
bastante. Era uma questão de Direitos Humanos.
Manoel Moraes: Dom Helder é como um símbolo da Igreja Católica, mas ele
transcende, fazendo um diálogo ecumênico em Recife. O senhor poderia falar um
pouco mais desse outro lado. Por exemplo, o senhor recorda da atuação de Fred
Morris, pastor metodista?
Padre Ernanne: Sim. Inclusive era meu amigo o Fred. Inclusive ele..
Padre Ernanne: ...que tinha sido militar e que fazia parte do mesmo grupo nosso, de
Galdino, de militar. Ele havia sido expulso do regime militar. O sogro de Fred, o Zé, ele
tinha sido expulso do regime militar e então, eu acho que Dom Helder teve alguma
influencia no Fred Morris. E ele no depoimento que deu na Caravana da Anistia lá na
CBNN, ele valorizou muito esse clima de diálogo dos protestantes com Dom Helder. E
naquele tempo havia a Comissão de Diálogo – Igreja Católica com Igrejas Evangélicas
e o caso também a Igreja Epsicopal. E era um clima muito próximo, não é? De
compromisso em prol do reino, em prol da verdade e da justiça etc.
Padre Ernanne: Não. Eu não participei do projeto, mas tenho muitos amigos que
participaram, tenho escutado muitos depoimentos deles, sobretudo o Sigmaringa
Seixas, que foi deputado federal. E que ele era quem conseguia a documentação em
Brasília e mandava para São Paulo para dom Jaime Wright.
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Padre Ernanne: Foram eles dois que articularam mais o tortura nunca mais.
Manoel Moraes: Naquele relatório do Tortura Nunca Mais, tem um diagnóstico sobre
a repressão no Brasil. A igreja, a CNBB tentou algum mecanismo de transpor o limite
da repressão para que essas informações fossem repassadas para organismos como
a OEA, a ONU. Esses organismos atuaram na época, ou foram omissos?
Padre Ernanne. Não sei, Manoel, se você teve acesso, se não, eu lhe propunha não
deixa de ler o livro "Diálogo na Sombra", que é de um brasilianista Kenneth Serbin.
Ele fez um estudo da relação igreja-militar. Diálogos igreja –militares. Nesse tempo.
Sobretudo com Dom Ivo e o .... Serbin teve uma chance muito grande de colher
muitos elementos. Talvez valesse a pena para vocês porque ele... Quando ele me
consultou, eu sou amigo do Fred, do Serbin, ele disse que queria fazer um estudo
sobre isso. O que é que você acha? Eu disse, você precisa encontrar elementos. E ele
teve acesso a biblioteca do general Murici que tinha falecido a pouco tempo. E a viúva
do Murici, colocou toda a disposição dele, por isso que o livro dele é muito baseada
na biblioteca do general Murici.
Manoel Moraes: O senhor teria algum fato específico que o senhor se recorda desse
livro ou que o senhor pudesse... ou não? Que o senhor pudesse ao seu ver curioso ou
interessante...
Padre Ernanne: "Diálogo na sombra". Ele bom! Ele mostra realmente que muitas
dessas torturas e mortes eram levadas, sobretudo por Dom Ivo, que era corajoso não
é? Levado para o diálogo com os militares. E alguns desses outros foram sendo
tomados aos poucos. Mas eu não tenho agora presentes muitos elementos.
Padre Ernanne: Eu tinha presente, eu tinha como que presente, agora, o diálogo que
a CNBB teve com o general Geisel. O mesmo antes, foi diálogo com o Médici. E que
ele estava irritadíssimo com a CNBB. O que foi que provocou também esse diálogo?
Ele queria chegar a um acordo e Dom Ivo foi a ele como presidente da CNBB e o
general disse: "Dom Ivo, eu vou dar catecismo, já que o senhor está se metendo em
política". Aí Dom Ivo, com aquela cara de alemão, disse: "Eu fico muito contente
general, que você dê catecismo aos seus netos, talvez estejam precisando". Ironizou.
(rizada).
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Manoel Moraes: Textos que tentam vincular Dom Helder a uma articulação...
Padre Ernanne: É.
Manoel Moraes: O senhor... como é que vocês reagiram a isso? Como é que isso era
lido internamente? Como é que o senhor entende essa postura de Gilberto Freyre?
Padre Ernanne: Bom... Dom Helder não dava muita importância a esses artigos de
Gilberto Freyre, porque, é chato dizer isso, mas eu vou dizer. Dom Helder achava que
era muita dor de cotovelo de Gilberto Freyre...risadas...não é? Isso eu escutei mais de
uma vez dele. Ele dizia: "Então, deixa Gilberto Freyre falar, deixa Gilberto Freyre
falar". Agora, de fato, ele sofria muito mais com os artigos que vinham do Estadão,
porque tinham uma repercussão muito maior, nacional. Os artigos do Lenildo Tabosa.
Porque Lenildo, eu não sei se vocês sabem, ele foi seminarista até teologia. Então ele
sabia o que estava dizendo. Porque Gilberto Freyre as vezes chutava um pouco, mas
Lenildo sabia o que estava dizendo.
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Padre Ernanne: É.
Manoel Moraes: ...eu queria lhe perguntar, é... o senhor ou vocês entendem, como é
que a igreja entendeu, os vetos, ou que articulação aconteceu do Estado brasileiro
para que Dom Helder não recebesse o premio Nobel da Paz.
Padre Ernanne: Olha, até então, não sabemos diretamente. Em Brasília no momento,
depois da Comissão da Verdade, tem informação não é? A comissão também dá
abertura para informação. Há pedido, para que o Itamaraty abra suas portas para
saber qual foram os motivos oficiais para negar o premio Nobel da Paz. Sem dúvida,
foi via Itamaraty...
Manoel Moraes: Perfeito. Padre, perdoe insistir, mas nesses textos há uma
articulação e alguns trechos escritos por Gilberto Freire e alguns documentos militares
são muito parecidos. Inclusive a estrutura e a lógica dos argumentos. É o senhor
falava antes da presença civil de apoio ao golpe. Quais seriam os setores que dariam
apoio ao golpe? O senhor acha que a Igreja também teria setores que apoiavam o
golpe?
Padre Ernanne: Sobretudo liderados pelo Dom Sigaud (D. Geraldo de Proença
Sigaud) lá de diamantina em Minas Gerais, não é? TFP.
Padre Ernanne: Em torno dele havia todo um grupo. E depois dele tinha o arcebispo
aqui de Aracaju. Um homem muito inteligente, mas que partiu também para a parte
terro... para a parte..oposição. Basta dizer que passava suas férias ...é chato dizer
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isso, ( risada) passava as suas férias com o Passarinho. Geraldo Passarinho... Jarbas
Passarinho. É chato dizer isso, mas...(risada) estou abrindo o jogo.
Padre Ernanne: Estão muito divididos no momento, não é? Não eu não saberia dizer
muita coisa, não.
Nadja Brayner: Existem algumas suposição de que, a partir deles, teriam se formado
os grupos paramilitares, não é? Que não era somente o CCC, mas era o MAC, FAC,
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vários grupos. E, veja só, sobre aquele período eu encontrei uma ...recentemente,
uma entrevista do irmão Orlando da Cunha Lima. Irmão marista, que foi diretor do
Colégio Marista.
Nadja Brayner: Que atualmente não se encontra aqui. Está lá em Aracati. Ele não
esta aqui. Está em outro estado. E ele dá um depoimento interessante quando ele fala
que, na qualidade de diretor do Colégio, ele enfrentou situações extremamente difíceis
naquela época.
Nadja Brayner: E tem um relato dele, muito interessante, quando ele fala, inclusive
que ele recebeu um ofício do IV Exército, para ele celebrar uma missa por conta da
revolução de 31 de março. E que ele, no Colégio, contava com filhos de vários
políticos importantes, inclusive o próprio filho de Nilo Coelho que estudava no Colégio.
E as dificuldades que ele teve, exatamente em como driblar aquele tipo de
imposição... E ele acaba falando da entrevista dele. E ele resolveu isso, ia haver uma
eleição no colégio e ele resolveu fazer um debate com os estudantes. Fez o debate e
hasteou a bandeira e resolveu o problema por aí, que tinha incucado ele durante
vários dias. Então a minha questão é a seguinte, essa imposição, vinda do IV Exército,
certamente não atingiu só a ele, mas também a outros padres. Aí eu perguntaria
diretamente ao senhor: o senhor, alguma vez, foi ameaçado, foi pressionado e de que
forma aconteceu isso? O senhor recebeu algum ofício solicitando uma determinada
situação?
Padre Ernanne: Não. Em primeiro lugar eu queria elogiar a ação do irmão Orlando,
porque, de fato, para o trabalho do padre Antônio Henrique, o personagem Irmão
Orlando Cunha foi fundamental. Porque ele tinha no Henrique um dos pés, um dos
polos do seu trabalho, no Colégio Marista. Tinha um grande apoio do irmão Orlando e
irmão Orlando ajudou muito no momento, ao próprio Dom Helder para refletir a morte
do Henrique. E ele tem muito presente, interno em vários debates da igreja, porque ele
acompanhava de perto o trabalho do Antônio Henrique, então, não seria mal se
pudesse também escutar o irmão Orlando.
Padre Ernanne: ...agora sobre a sua segunda pergunta, eu nunca de fato recebi
propriamente ofício, mas fui acompanhado em alguns momentos. No dia da morte de
Henrique, eu morava na Vila Popular de Olinda. Não tinha carro. Eu fui de ônibus até a
entrada de Olinda, e ia pegar um ônibus para Vila Popular. E um jipe parou com duas
pessoas, insistindo, insistentemente, em me deixar em casa.
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Padre Ernanne: Aí, de fato, eu disse não, muito obrigado. E então fui pegar um taxi e
dormi no seminário de Olinda. (risada). Outro pon...outra coisa, eu fui sequestrado a
Cuba, no avião que ia de Rio – Buenos Aires – Santiago del Chile. Eu ia em nome da
Arquidiocese participar de um curso no Chile. E durante o período que eu estive em
Santiago, eu fui acompanhado com um espião, que depois eu soube, era especialista
em assunto de Igreja. Eu soube que ele estava acompanhando quem que Dom Helder
enviasse. Porque que Dom Helder tinha me mandado a esse curso no Chile. Primeiro
encontro que nós tivemos no curso de teologia da libertação, foi em Santiago no
finalzinho de 1969. E esse cara é um tal de Gilson Amaral, se apresentava como
Gilson Amaral, dizendo que era muito amigo do frei Beto. E que fez uma série de
perguntas. Ele dizia que sabia qual era a minha missão em Santiago. Então eu disse,
tá bom, então você aparece aqui para uma conversa mais. E eu soube que foi
descoberto e depois ele fugiu de Santiago.
Nadja Brayner: Veja só, a outra questão é sobre o 477. Os estudantes aqui, através
desse decreto 477, vários foram cassados por 3 anos. E me parece que a Igreja, a
Arquidiocese, teria ajudado esses estudantes a conseguirem lá fora no exterior
ingressar em universidades, escolas, isso é fato?
Nadja Brayner: Bom, finalmente eu queria falar sobre o famoso CCC. Veja só.
Atualmente eu sou relatora do processo sobre o atentado a Cândido Pinto. Pedro
Eurico já colocou isso aqui. É mais ou menos claro pra gente, que esse Comando de
Caça aos Comunistas, estava vinculado, claro, a essas autoridades da repressão...
Examinando já o próprio inquérito com relação a Cândido, algumas pessoas que
trabalhavam pro exército, da segunda secção... exército não, quero dizer da polícia
militar, na qualidade de informantes, vários deles estudantes, mantinham esse vinculo
não só com a policia, mas também com o próprio DOPS; casos como o de Luiz
Miranda, que era um investigador bastante conhecido. É importante, inclusive dizer
que nesses depoimentos, inclusive eu estava falando aqui com Leda, existe uma
referência desses informantes sobre o TPN, que era o Teatro Popular do Nordeste,
que de fato foi atacado também. Ali no Juvenato Dom Vital, do próprio metrallhamento
lá na rua das Fronteiras, ocorreu também...
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Então, aqui também a gente vai ter que ouvir algumas pessoas sobre isso, não é? ão
Dom Helder, e a própria Igreja, o senhor leu aqui, aquela nota da Arquidiocese que
está transcrita por Diogo Cunha, onde de fato, a Igreja, Dom Helder, coloca o dedo na
ferida. De fato isso nunca...porque eu nunca encontrei nada. Nada foi apurado, não é?
A gente sabe que eram estudantes universitários. Muitos inclusive das faculdades de
Direito. Como era em São Paulo, como era no Largo de São Francisco. Era famosa
essa faculdade lá e também a Mackenzie. Responsável inclusive por aqueles atos de
violência que ocorreram entre a USP e a Mackenzie. Aqui também, Marcelo Santa
Cruz se refere a um pichamento, onde constava o nome dele também, ameaçado de
morte pelo CCC, não é? O senhor falou que não sabia da lista que Dom Helder, que
Dom Helder teria essa lista... Não haveria possibilidade diante daquele momento,
daquela violência, da lista ter sido levada pro Vaticano, pra fora do país?
Fernando Coelho: Henrique Mariano tinha um compromisso no interior, por isso ele
não está.
Padre Ernanne: Pedro, eu gostaria até que depois você me passasse a lista viu? A
lista dos membros. Ah! Você tem aí?
Fernando Coelho: Isso, eu estou fazendo a chamada. Nadja é a que falou agora, e
Gilberto é o que pediu pra antecipar, agora é Socorro. Humberto vieira está ali, não é?
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Fernando Coelho: Foi meu colega de turma e presidente da OAB antes de mim.
Socorro Ferraz.
Socorro Ferraz: Bem, boa tarde! Agora já passa de meio dia. Eu quero cumprimentar
o padre Ernanne e cumprimentar a mesa, Fernando Coelho e Pedro Eurico e quero
dizer que lhe dou os parabéns pelo depoimento que o senhor fez. Ele é claro, corajoso
e deixa muitas impressões para que essas impressões depois sejam desdobradas.
Claro que num depoimento é muito difícil a pessoa se colocar e pensar em toda
aquela situação que foi criada pelo golpe de 64. Bem. Eu vou ser muito breve, até
porque o senhor já esclareceu muitas coisas. É num processo do padre Henrique, há
duas peças jurídicas que são completamente antagônicas. Dois promotores públicos
se colocam no processo. Um logo no início, logo em 69 e o outro dezenove anos
depois. As duas peças jurídicas, são, a princípio, podemos pensar que são
completamente antagônicas. Uma é contra a vítima, que é a primeira do doutor José
Ives. Ela é contra a vítima, a tal ponto que o próprio Estadão eu acho, fez uma matéria
dizendo que, nunca viu um promotor público que acusa a vítima ao invés de acusar o
réu. Quer dizer, foi um escândalo do ponto de vista jurídico também. Político nem se
fala, mas do ponto de vista jurídico. Dezenove anos depois, outra peça jurídica é
formulada pelo promotor público daquele momento, e é uma peça em que ele acusa
os criminosos, ele diz que os criminosos são esses e esses e enaltece o padre
Henrique. Na primeira peça eu lembro que uma das acusações ao padre, é que ele
era perigoso por ser inteligente. Então isso é uma coisa muito importante nessa
colocação para se ver o nível e a orientação desse golpe que estava no poder. Bem!
Mas o que quero lhe dizer é que, como a igreja reagiu a essa posição da Justiça?
Essa é uma questão. Eu gostaria que o senhor respondesse. A segunda é, como, se a
igreja tinha algum componente seu, algum membro que acompa... que pudesse ter
acompanhado todo esse processo jurídico, todo esse processo? Porque o processo
deixa de ser policial não é, e passa a ser um processo judiciário.
Padre Ernanne: Bom, com relação à primeira pergunta Socorro. A Igreja como reagiu
a posição da justiça. Dom Helder foi chamado à Comissão Judiciária. Eu tenho aqui
comigo o texto e algumas coisas eu utilizei na minha reflexão, não é? E algumas
perguntas ele deixava na Comissão Judiciária e pedia que fosse integrado à peça do
processo. Essas perguntas que ele fazia agora, que a Igreja tivesse alguém da
comissão judiciária, Pedro, tem mais condições de responder do que eu. Porque
Pedro estava mais ligado.
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Pedro Eurico: Sim. Eu esqueci aqui que um dos principais acusados. O Doutor
Bartolomeu Gibson, que foi denunciado pelo próprio ministério Público no final. Ele
era promotor de justiça à disposição da Secretaria de Segurança Pública. Ele era
promotor de justiça publica e exercia a função de delegado de ordem política e social e
foi ele inclusive um dos principais acusados de ter sido um dos mandantes da morte
do padre Henrique.
Padre Ernanne: Agora não me consta que eles tivessem influência e de que fossem
porta voz desses dominicanos de São Paulo. Não. Não tinha nenhuma ligação.
Platéia: Ele era sociólogo aqui. Ele ficou muito tempo fazendo pesquisa. Ele era uma
pessoa muito preparada.
Padre Ernanne: Ele era sociólogo aqui. Ele era sociólogo da religião. Fez muita
pesquisa sobre prostituição.
Padre Ernanne. Mas não tinha ligação com esse grupo aí. Porque aqui, esse grupo,
quase todos tinham sido da ação católica. O Tito, o Ivo, e o Beto tinham sido da JEC
nacional.
Padre Ernanne: Frei Josafá! Frei Carlos Josafá, ele saiu, foi logo exilado. Ele tem uma
influencia muito grande antes da ditadura com o Brasil urgente. Mas, ele saiu logo.
Saiu logo. No começo da ditadura ele saiu e foi... ficou como professor da
Universidade de Friburgo, na Suiça. Voltou agora, está com 95 anos em plena
atividade, faz inveja!
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da colaboração também da sociedade, da colaboração que ainda não foi, vamos dizer,
oficialmente formalizada, nós possamos chegar aos resultados que todos esperam.
Muito obrigada a todos. Está encerrada a sessão. -----------------------------------------------
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