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Capı́tulo 3

Retas e planos

3.1 Equações da reta


Notação. Dados dois pontos distintos A e B, denotaremos por (AB) a única
reta que passa por A e B.
Definição 3.1.1. Sejam r uma reta e ~u um vetor não nulo. Diz-se que ~u é
um vetor diretor de r se, dados dois pontos distintos quaisquer A, B de r,
−→
AB e ~u são colineares.

r ~u

Figura 3.1: ~u é um vetor diretor da reta r.

Observação 3.1.2.
−→
• Dados dois pontos distintos quaisquer A e B de uma reta r, AB é um
vetor diretor de r.
• Um reta possui uma infinidade de vetores diretores. Com efeito, se ~u
é um vetor diretor da reta r, então para todo número real não nulo λ,
o vetor λ~u é um vetor diretor de r.

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88 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Proposição 3.1.3 (Equação vetorial da reta). Seja ~u um vetor diretor


de uma reta r, a qual passa pelo ponto A. Então um ponto P pertence a r
se e somente se existe um número real t tal que

P = A + t~u. (3.1)

Demonstração. Devemos mostrar duas implicações.


1◦ implicação. Suponha que P pertenca a r. Se P = A, então temos
trivialmente que P = A + 0~u, o que significa que P satisfaz a equação (4.13)
−→
com t = 0. Se P 6= A, então AP e ~u são colineares (já que ~u é um vetor
diretor), e portanto existem dois números reais α e β, não todos nulos, tais
−→
que αAP + β~u = ~0. O vetor ~u sendo diferente de ~0, necessariamente α é
diferente de zero e portanto
−→
AP = t~u,
−β
onde t := α
. Essa última equação é equivalente a

P = A + t~u.

2◦ implicação. Suponha que exista t tal que P = A + t~u. Essa equação é


equivalente a
−→
AP = t~u,
−→
o que implica que AP e ~u são colineares. Seja B o único ponto tal que
−→ −→ −→
~u = AB. Como AP e AB são colineares, as retas suportes (AP ) e (AB) são
paralelas, e ambas passam pelo ponto A. Logo (AP ) = (AB). Em particular,
P ∈ (AB).
3.1. EQUAÇÕES DA RETA 89

A + t~u

t~u

A

r ~u

Observação 3.1.4.
(a) A expressão “P = A + t~u, t ∈ R” é chamada equação vetorial da
reta r.
(b) A equação vetorial da reta r não é única. De fato, se A0 ∈ r e se ~u0 é
um outro vetor diretor de r, então
P = A0 + t0~u0 , t0 ∈ R,
também é uma equação vetorial de r. Note que se
P = A0 + t0~u = A + t~u,
então t 6= t0 em geral.
Fixamos uma base B = {~e1 , ~e2 , ~e3 } e um sistema de coordenadas car-
tesianas Σ = {O, B}. Dados um vetor ~u e um ponto A, escreveremos
~u = (u1 , u2 , u3 ) e A = A(a1 , a2 , a3 ) para explicitar as coordenadas de ~u e
A em relação a B e Σ, respectivamente.
Proposição 3.1.5 (Equações paramétricas da reta). Seja r uma reta
que passa pelo ponto A(a1 , a2 , a3 ), com vetor diretor ~u = (u1 , u2 , u3 ). Então,
P = P (x, y, z) pertence a r se e somente se existe t ∈ R tal que

 x = a1 + tu1
y = a2 + tu2 (3.2)
z = a3 + tu3 .

Demonstração. Pela Proposição 3.1.3, P pertence a r se e somente se existe


t ∈ R tal que P = A + t~u. Usando coordenadas, obtemos imediatamente a
proposição.
90 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Observação 3.1.6.

(a) As equações em (3.2) são chamadas equações paramétricas da reta


r.

(b) Se u1 u2 u3 6= 0, então podemos eliminar o parâmetro t das equações em


(3.2), obtemos as relações:

x − a1 y − a2 z − a3
= = (3.3)
u1 u2 u3

que são chamadas equações simétricas da reta r.

Exemplo 3.1.7.

(a) Uma equação vetorial da reta que passa pelos pontos A(3, −1, 1) e B(2, 1, 1)
−→ −→
é dada por: P = A + tAB; t ∈ R. Visto que AB = (−1, 2, 0), isto pode
ser reescrito como

P (x, y, z) = (3, −1, 1) + t(−1, 2, 0); t ∈ R.

(b) As equações simétricas da reta que passa pelo ponto A(4, 1, 0) com vetor
diretor ~u = (2, 6, −2) são dadas por:

x−4 y−1 z
= = .
2 6 −2

Exercı́cio 3.1.8. Verifique se o ponto P (−1, 0, 2) pertence às retas cujas


equações são:

a) r1 : P (x, y, z) = (−7, −3, −7) + t(2, 1, 3); t ∈ R.



 x = −3 + t,
b) r2 : y = −1 + t, t ∈ R.
z = 2t,

x+1 y z−4
c) r3 : = = .
2 3 2
Solução.
3.2. EQUAÇÕES DO PLANO 91

a) É fácil verificar que

(−1, 0, 2) = (−7, −3, −7) + 3(2, 1, 3),

e portanto P ∈ r1 .

b) A primeira equação dá t = x + 3 = −1 + 3 = 2 enquanto a segunda dá


t = y + 1 = 0 + 1 = 1 o que é absurdo (t não pode ser igual ao mesmo
tempo a 2 e 1). Logo P 6∈ r2 .

c) Temos que
−1+1
P ∈ r3 ⇔ 2
= 03 + 2−4
2
⇔ 0 = 0 = −1.

Visto que 0 = −1 é absurdo, concluı́mos que P 6∈ r3 .

Exercı́cio 3.1.9. Seja ∆ a reta cujas equações simétricas são:


x−1 y+2
= = z.
2 4
Determine uma equação vetorial e as equações paramétricas de ∆.

Solução. Uma equação vetorial de reta considerada é dada por:

(x, y, z) = (1, −2, 0) + t(2, 4, 1), t ∈ R.

Logo as equações paramétricas são dadas por:



 x = 1 + 2t,
y = −2 + 4t, t ∈ R.
z = t,

3.2 Equações do plano


Definição 3.2.1. Sejam π um plano e ~u, ~v dois vetores LI. Diz-se que ~u, ~v
−→
são dois vetores diretores de π se para todo par de pontos A, B de π, AB
é uma combinação linear de ~u e ~v .
92 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

~v
π ~u

−→
Observação 3.2.2. Sejam A, B e C três pontos de um plano π. Se AB e
−→
AC são LI, então eles são vetores diretores de π.
Proposição 3.2.3 (Equação vetorial do plano). Seja π um plano que
passa pelo ponto A, com vetores diretores ~u e ~v . Então um ponto P pertence
a π se e somente se existem t, h ∈ R tais que

P = A + t~u + h~v .

Demonstração. Análogo ao caso da equação vetorial de uma reta.


Observação 3.2.4.
a) A expressão “P = A + t~u + h~v , t, h ∈ R” é chamada equação vetorial
do plano π.

b) A equação vetorial de um plano não é única.


Fixamos uma base B = {~e1 , ~e2 , ~e3 } e um sistema de coordenadas car-
tesianas Σ = {O, B}. Dados um vetor ~u e um ponto A, escreveremos
~u = (u1 , u2 , u3 ) e A = A(a1 , a2 , a3 ) para explicitar as coordenadas de ~u e
A em relação a B e Σ, respectivamente.
Proposição 3.2.5 (Equações paramétricas do plano). Seja π o plano
que passa pelo ponto A(a1 , a2 , a3 ), com vetores diretores ~u = (u1 , u2 , u3 ) e
~v = (v1 , v2 , v3 ). Então um ponto P (x, y, z) pertence a π se e somente se
existem t, h ∈ R tais que:

 x = a1 + tu1 + hv1 ,
y = a2 + tu2 + hv2 , (3.4)
z = a3 + tu3 + hv3 .

Demonstração. É só reescrever a equação vetorial de um plano usando coor-


denadas.
Observação 3.2.6. As equações em (3.4) são chamadas equações pa-
ramétricas do plano π.
3.2. EQUAÇÕES DO PLANO 93

Proposição 3.2.7 (Equação geral do plano). Suponha B ortonormal e


positiva. Um subconjunto π do espaço é um plano se e somente se existem
a, b, c, d ∈ R, com (a, b, c) 6= (0, 0, 0), tais que

π = {P (x, y, z) : ax + by + cz + d = 0} .

Demonstração. Devemos mostrar duas implicações.


1◦ implicação. Suponha que π seja um plano. Escolhemos A ∈ π e dois
vetores diretores ~u, ~v . Dado um ponto P do espaço, temos que:

−→
P ∈ π ⇔ AP , ~u e ~v são coplanares
−→
⇔ [~u, ~v , AP ] = 0 (Teste da coplanaridade)
−→
⇔ (~u × ~v ) · AP = 0. (3.5)

Escrevendo ~u × ~v = (a, b, c), A = A(a1 , a2 , a3 ) e P (x, y, z), temos que:


−→
(~u × ~v ) · AP = (a, b, c) · (x − a1 , y − a2 , z − a3 )
= a(x − a1 ) + b(y − a2 ) + c(z − a3 )
= ax + by + cz + d,

onde d := −(aa1 + ba2 + ca3 ). Voltando à equação (3.5), temos então que

P ∈ π ⇔ ax + by + cz + d = 0.

Segue-se que

π = {P (x, y, z) : ax + by + cz + d = 0} .

Note que (a, b, c) 6= 0, pois (a, b, c) = ~u × ~v , e ~u e ~v são LI (o que implica


~u × ~v 6= 0).
2◦ implicação. Suponha que π = {P (x, y, z) : ax + by + cz + d = 0}, onde
a, b, c, d são certos números reais tais que (a, b, c) 6= (0, 0, 0). Sem perda de
generalidade, podemos supor a 6= 0. Definimos

 ~u = (− ab , 1, 0),
~v = (− ac , 0, 1),
A = A(− ad , 0, 0).

94 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Afirmamos que um ponto P (x, y, z) pertence a π se e somente se

P = A + y~u + z~v .

De fato,

P (x, y, z) ∈ π ⇔ ax + by + cz + d = 0

 ax + by + cz + d = 0
⇔ y=y
z=z


 x = − ad + y(− ab ) + z(− ac )
⇔ y = 0 + y.1 + z.0
z = 0 + y.0 + z.1

⇔ P (x, y, z) = A + y~u + z~v .

Isso mostra a afirmação. Agora, segue facilmente da afirmação que π é um


plano cuja equação vetorial é

P = A + t~u + h~v .

Observação 3.2.8.

a) A equação ax + by + cz + d = 0 é chamada equação geral do plano π.

b) Dizemos que um vetor não nulo é normal ao plano π se ele é ortogonal


a todos os vetores que possuem representantes neste plano.

c) O vetor (a, b, c) é um vetor normal do plano cuja equação geral é ax +


by + cz + d = 0.

Exercı́cio 3.2.9. Dê a equação vetorial do plano que passa pelos pontos
A(1, 1, 0), B(−1, 2, 1) e C(3, 2, 1).
−→ −→
Solução. Os vetores AB = (−2, 1, 1) e AC = (2, 1, 1) sendo LI, eles são
vetores diretores. Pela Proposição 3.2.3, a equação vetorial de π é dada por:

P (x, y, z) = (1, 1, 0) + t(−2, 1, 1) + h(2, 1, 1), t, h ∈ R.

Exercı́cio 3.2.10. Dê as equações paramêtricas do plano que passa por


A(2, 4, −1), com vetores diretores ~u = (−1, 2, 1) e ~v = (1, 0, 3).
3.2. EQUAÇÕES DO PLANO 95

Solução.

 x=2−t+h
y = 4 + 2t t, h ∈ R.
z = −1 + t + 3h,

Exercı́cio 3.2.11. Dê uma equação vetorial do plano cujas equações pa-
ramêtricas são:

 x = 1 + 2h − t
y = −2 + h + 3t
z = 3 + 5h,

com t, h ∈ R.
Solução.
P (x, y, z) = (1, −2, 3) + t(−1, 3, 0) + h(2, 1, 5), t, h ∈ R.

Exercı́cio 3.2.12. Dê as equações paramêtricas do plano π paralelo ao vetor


~u = (5, 1, 2) e que passa pelos pontos A(3, −1, 1) e B(2, −1, 0).
−→
Solução. Os vetores ~u = (5, 1, 2) e AB = (−1, 0, −1) são LI e possuem
representantes em π, e π passa pelo ponto A. Daı́, as equações paramêtricas
são:

 x = 3 + 5t − h
y = −1 + t
z = 1 + 2t − h,

com t, h ∈ R.
Exercı́cio 3.2.13. Dê uma equação geral do plano π que passa pelo ponto
A(3, −1, 2), com vetores diretores ~u = (−1, 1, 2) e ~v = (1, −1, 0).
Solução. Definimos ~n := ~u × ~v . Então ~n é um vetor normal de π. Temos
que

~e1 ~e2 ~e3
1 2 −1 2 −1 1
~n = −1 1 2 =

~e1 − 1 0 ~e2 + 1 −1 ~e3

1 −1 −1 0
0
= 2e1 + 2e1 + 0e3
= (2, 2, 0).
96 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Assim a equação geral é da forma 2x + 2y + d = 0, onde d é um certo número


real. Como A ∈ P , temos que

0 = 2 × 3 + 2 × (−1) + d = 4 + d

e então d = −4. Dividindo por 2, concluimos que a equação geral é dada por

x + y − 2 = 0.
3.3. POSIÇÕES RELATIVAS 97

3.3 Posições relativas


3.3.1 Reta a reta
Definição 3.3.1. Duas retas são ditas

• coplanares se estão contidas num mesmo plano,

• reversas, caso contrário.

As retas coplanares podem ser paralelas (distintas ou coincidentes) ou


concorrentes.

Proposição 3.3.2. Sejam r, s duas retas com vetores diretores ~u e ~v , res-


pectivamente. Suponha que r passa pelo ponto A e que s passa pelo ponto B.
−→ 
Então r e s são coplanares se e somente se AB, ~u, ~v = 0.
No caso afirmativo, temos as seguintes alternativas:

• ~u, ~v LI: r e s são concorentes.

• ~u, ~v LD: r e s são paralelas. Nesse caso, dado um ponto P ∈ r qual-


quer,

– Se P ∈ s, então r e s são coincidentes.


– Se P 6∈ s, então r e s são distintas.
−→ 
Demonstração. Suponha inicialmente AB, ~u, ~v = 0. Isto significa que os
−→
vetores AB, ~u e ~v são LD. Dois casos podem ocorrer:

• ~u e ~v são LD. Nesse caso as retas r e s são paralelas e portanto estão


contidas num mesmo plano.

• ~u e ~v são LI. Seja π o plano cuja equação vetorial é

P = A + t~u + h~v , t, h ∈ R.

Vamos mostrar que r e s estão contidas em π.


Tomando h = 0 na equação vetorial de π, obtemos a equação vetorial da
reta r, a saber P = A + t~u. Isto implica que r está contida em π.
98 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Seja C o ponto definido por C = B + ~v . Note que C pertence à reta s,


pois satisfaz a equação vetorial de s. Para mostrar que s está contida em π,
basta mostrar que B e C pertencem ao plano π.
−→ −→
Por hipótese, AB, ~u, ~v são LD e ~u, ~v são LI. Isto implica que AB é uma
−→
combinação linear de ~u e ~v , isto é, existem α, β ∈ R tais que AB = α~u + β~v .
Daı́,

B = A + α~u + β~v , (3.6)

e portanto B pertence ao plano π. Resta mostrar que C ∈ π. Temos que

C = B + ~v (definição de C)
= (A + α~u + β~v ) + ~v (veja (3.6))
= A + α~u + (β + 1)~v ,

onde usamos a fórmula (A + ~u) + ~v = A + (~u + ~v ) (veja exercı́cios da Aula


1). Isso mostra que C pertence ao plano π.
Segue-se que r e s estão contidas em π, e portanto são coplanares.
−→
Suponha agora que r e s sejam coplanares. Nesse caso, os vetores AB, ~u
−→ 
e ~v são coplanares e então AB, ~u, ~v = 0, pelo teste da coplanaridade.
Deixamos as alternativas como exercı́cio.

Observação 3.3.3 (Retas reversas). Sejam r e s duas retas com vetores


diretores ~u e ~v , respectivamente, e tais que A ∈ r e B ∈ s. Se r e s são
reversas, então necessariamente ~u e ~v são LI e portanto podemos considerar
os seguintes planos:

π1 : P = A + t~u + h~v , t, h ∈ R,
π2 : P = B + t~u + h~v , t, h ∈ R.

A reta r está contida em π1 enquanto s está contida em π2 . Os planos π1


e π2 são paralelos no sentido que qualquer vetor diretor de um é colinear a
qualquer vetor diretor do outro. Além disso, a interseção dos planos π1 e π2
é vazia (pois senão r e s seriam coplanares).
3.3. POSIÇÕES RELATIVAS 99

π2
~v s
B

π1
A
~u • r

Resumindo, temos os seguintes casos:

Coplanares:

• Paralelas:

• Distintas: r ∩ s = ∅ • Coincidentes: r = s

s
r=s
π r π

• Concorentes: r ∩ s = {P }

P
π r s

Reversas: Veja acima.

Observação 3.3.4. Se dois vetores diretores de duas retas forem LD, então
as retas são coplanares.

Exercı́cio 3.3.5. Estude a posição relativa das retas

r : (x, y, z) = (1, 2, 3) + t(0, 1, 3), t ∈ R,


s : (x, y, z) = (0, 1, 0) + t(1, 1, 1), t ∈ R.
100 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Solução. Sejam

~u = (0, 1, 3),
~v = (1, 1, 1),
A = A(1, 2, 3),
B = B(0, 1, 0).

Então ~u e ~v são vetores diretores de r e s, respectivamente, e A ∈ r e B ∈ s.


Claramente, ~u e ~v são LI, e temos que

−1 −1 −3
−→
[AB, ~u, ~v ] = 0 1 3 = ... = 2 6= 0.
1 1 1

Logo r e s são reversas.

Exercı́cio 3.3.6. Estude a posição relativa das retas

r : (x, y, z) = (1, 2, 3) + t(0, 1, 3), t ∈ R,


s : (x, y, z) = (1, 3, 6) + t(0, 2, 6), t ∈ R.

Solução. Sejam

~u = (0, 1, 3),
~v = (0, 2, 6),
A = A(1, 2, 3),
B = B(1, 3, 6).

Então ~u e ~v são vetores diretores de r e s, respectivamente, e A ∈ r e B ∈ s.


Claramente, ~u e ~v são LD o que significa que r e s são paralelas (em particular
são coplanares). Além disso, o ponto A satisfaz a equação vetorial

A = B − 21 ~v ,

e portanto A ∈ s. Assim r e s são paralelas e r ∩ s 6= ∅. Logo r e s são


coincidentes.
3.3. POSIÇÕES RELATIVAS 101

3.3.2 Reta a plano


Sejam r uma reta e π um plano. Temos três alternativas:

• r está contida em π ⇔ r⊂π ⇔ r ∩ π contém infinitos pontos


• r é paralela a π ⇔ r π ⇔ r∩π =∅
• r e π são concorrentes ⇔ rtπ ⇔ r ∩ π contém um único ponto

Em todos os casos, devemos estudar a interseção r ∩ π.

Fixamos um sistema de coordenadas cartesianas Σ = {O, B}, onde B é


uma base ortonormal positiva. Suponha que

(x, y, z) = (a1 , a2 , a3 ) + t(u1 , u2 , u3 ), t ∈ R.

seja uma equação vetorial de r e que

ax + by + cz + d = 0,

seja uma equação geral de π. Então ~n = (a, b, c) é uma vetor ortogonal a π.


Um ponto P = P (x, y, z) pertence à interseção r ∩π se e somente se existe
um númerao real t tal que as coordenadas de P sejam solução do seguinte
sistema:


 x = a1 + tu1 ,
y = a2 + tu2 ,

(S) :

 z = a3 + tu3 ,
ax + by + cz + d = 0,

O sistema (S) pode ser visto como um sistema de 4 equações com 4


incógnitas, a saber x, y, z, t.
Mostra-se em álgebra linear que (S) possui uma única quádrupla solução
(x, y, z, t) se e somente se au1 + bu2 + cu3 6= 0.
Deduzimos que

rtπ ⇔ ~n · ~u 6= 0 ,

ou equivalentemente,

~n · ~u = 0 ⇔ r ⊂ π ou r π .
102 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

No caso ~n · ~u = 0, para saber se r ⊂ π ou r π, basta considerar um


ponto P ∈ r qualquer e verificar se ele pertence ou não a π.
Exemplo 3.3.7. Estude a posição relativa da reta r e do plano π cujas
equações vetoriais são dadas por:
r : (x, y, z) = (1, 1, 1) + t(3, 2, 1), t ∈ R,
π : (x, y, z) = (1, 1, 3) + t(1, −1, 1) + h(0, 1, 3), t, h ∈ R.
Solução. Sejam ~u = (3, 2, 1), ~v = (1, −1, 1) e w
~ = (0, 1, 3). Então ~u é um
~e1 ~e2 ~e3
vetor diretor de r e ~n = ~v × w
~ = 1 −1 1 = (−4, −3, 1) é um vetor otorgonal
0 1 3
a π, e temos que
~n · ~u = 3 × (−4) + 2 × (−3) + 1 × 1 = −17 6= 0.
Logo r e π são concorrentes.
Exemplo 3.3.8. Estude a posição relativa da reta r e do plano π cujas
equações vetoriais são dadas por:
r : (x, y, z) = (2, 2, 1) + t(3, 3, 0), t ∈ R,
π : (x, y, z) = (1, 0, 1) + t(1, 1, 1) + h(0, 0, 3), t, h ∈ R.
Solução. Sejam ~u = (3, 3, 0), ~v = (1, 1, 1) e w
~ = (0, 0, 3). Então ~u é um
~e1 ~e2 ~e3
vetor diretor de r e ~n = ~v × w
~ = 1 1 1 = (3, −3, 0) é um vetor ortogonal
0 0 3
a π. Como
~n · ~u = 3 × 3 − 3 × 3 + 0 × 1 = 0,
temos que r ⊂ π ou r π. Para decidir isso, considere o ponto A = A(2, 2, 1).
Claramente, A ∈ r, e então r ⊂ π se e somente A ∈ π. Visto que ~n =
(3, −3, 0) é um vetor ortogonal a π, uma equação geral é da forma
3x − 3y + d = 0
para um certo número real d. Como (1, 0, 1) ∈ π, temos que
3×1−3×0+d=0 ⇒ d = −3.
Dividindo por 3, obtemos assim a seguinte equação geral de π:
x − y − 1 = 0.
Daı́ vê-se que A 6∈ π. Segue-se que r π.
3.3. POSIÇÕES RELATIVAS 103

Exemplo 3.3.9. Estude a posição relativa da reta r e do plano π cujas


equações vetoriais são dadas por:

r : (x, y, z) = (1, 1, 0) + t(1, −1, 1), t ∈ R,


π : x + y − 2 = 0.

Solução. Sejam ~u = (1, −1, 1), ~n = (1, 1, 0). Então ~u é um vetor diretor de
r e ~n é um vetor ortogonal a π. Como

~n · ~u = 1 × 1 + 1 × (−1) + 0 × 1 = 0,

temos que r ⊂ π ou r π. Para decidir isso, considere o ponto A = A(1, 1, 0).


Claramente, A ∈ r e é imediato verificar que A ∈ π. Logo r ⊂ π.

3.3.3 Plano a plano


Sejam π1 e π2 dois planos. Temos três alternativas:

• π1 e π2 são paralelos coincidentes ⇔ π1 = π2


• π1 e π2 são paralelos distintos ⇔ π1 ∩ π2 = ∅
• π1 e π2 são concorrentes ⇔ π1 ∩ π2 = uma reta.

Fixamos um sistema de coordenadas cartesianas Σ = {O, B}, onde B é


uma base ortonormal positiva. Suponha que π1 e π2 sejam descritas pelas
seguintes equações gerais:

π1 : a1 x + b1 y + c1 z + d1 = 0,
π2 : a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0.

Proposição 3.3.10. Sejam π1 e π2 dois planos com equações gerais como


acima. Temos as seguintes alternativas.
• Se existir λ ∈ R tal que (a1 , b1 , c1 , d1 ) = λ(a2 , b2 , c2 , d2 ), então π1 = π2 .

• Se existir λ ∈ R tal que (a1 , b1 , c1 ) = λ(a2 , b2 , c2 ) e d1 6= λd2 , então π1


e π2 são paralelos distintos.

• Se ~n1 = (a1 , b1 , c1 ) e ~n2 = (a2 , b2 , c2 ) são LI, então π1 e π2 são concor-


rentes, e a interseção deles é uma reta com vetor diretor ~n1 × ~n2 .
104 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Demonstração. Seja λ ∈ R.

• Se (a1 , b1 , c1 , d1 ) = λ(a2 , b2 , c2 , d2 ), então claramente as equações gerais


de π1 e π2 são equivalentes e portanto π1 = π2 .

• Suponha que exista λ tal que (a1 , b1 , c1 ) = λ(a2 , b2 , c2 ) e d1 6= λd2 . Note


que λ é necessariamente diferente de zero. Para mostrar que π1 e π2 são
paralelos distintos, basta mostrar que π1 ∩ π2 = ∅. Suponha por absurdo que
exista um ponto P = P (x, y, z) tal que P ∈ π1 ∩ π2 . Temos então que


a1 x + b1 y + c1 z + d1 = 0,
P ∈ π 1 ∩ π2 ⇔
a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0,

λa2 x + λb2 y + λc2 z + d1 = 0,

a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0,

a2 x + b2 y + c2 z + dλ1 = 0,


a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0,
d1

= d2 ,
⇔ λ
a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0,

donde d1 = λd2 , o que é absurdo.

• Suponha que ~n1 = (a1 , b1 , c1 ) e ~n2 = (a2 , b2 , c2 ) sejam LI. Então o


produto vetorial deles é diferente de zero, isto é, ~n1 × ~n2 = (α, β, γ) 6= ~0,
onde


b1 c 1 a1 c 1 a1 b 1
α = , β = − , γ = .
b2 c 2 a2 c 2 a2 b 2

Sem perda de generalidade, suponha γ 6= 0. Seja agora P = P (x, y, z).


3.3. POSIÇÕES RELATIVAS 105

Temos que:

a1 x + b1 y + c1 z + d1 = 0,
P ∈ π1 ∩ π2 ⇔
a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0,

a1 x + b1 y = −c1 z − d1 ,

a2 x + b2 y = −c2 z − d2 ,

 d 1 b1
 αz −
d 2 b2




 x=
γ





 a1 d1
βz −




 a2 d2
 y=

γ

Assim, P (x, y, z) ∈ π1 ∩ π2 se e somente se


z
P = A + ~n1 × ~n2 ,
γ

onde
 
1 d 1 b 1 a1 d 1
A=− d 2 b 2 , a2 d 2 , 0 .

γ

Resulta daı́ que π1 ∩ π2 ⊂ r, onde r é a reta cuja equação vetorial é dada por

P = A + t~n1 × ~n2 , t ∈ R.

Um cálculo simples (mas longo) mostra também que r ⊂ π1 ∩ π2 . Logo


π1 ∩ π2 = r.

Exemplo 3.3.11. Estude a posição relativa dos planos

π1 : (x, y, z) = (1, 0, 1) + t(1, 1, 1) + h(0, 1, 0), t, h ∈ R,


π2 : (x, y, z) = (0, 0, 0) + t(1, 0, 1) + h(−1, 0, 3), t, h ∈ R.

Solução. Sejam ~u1 = (1, 1, 1), ~v1 = (0, 1, 0), ~u2 = (1, 0, 1) e ~v2 = (−1, 0, 3).
Então ~u1 , ~v1 são vetores diretores de π1 e ~u2 , ~v2 são vetores diretores de π2 .
106 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Sejam ~n1 = ~u1 × ~v1 e ~n2 = ~u2 × ~v2 . Temos que



~e1 ~e2 ~e3
1 1 1 1 1 1
~n1 = 1 1 1 = ~e − ~e + ~e = (−1, 0, 1)
0 1 0 1 0 1 0 0 2 0 1 3

e

~e1 ~e2 ~e3
0 1 1 1 1 0
~n2 = 1 0 1 = ~e1 − −1 3 ~e2 + −1 0 ~e3 = (0, −4, 0).

−1 0 3 0 3

Segue-se que −x + z + d1 = 0 e −4y + d2 = 0 são duas equações gerais de


π1 e π2 , respectivamente, onde d1 e d2 são certos números reais. Visto que
~n1 e ~n2 são LI, os planos π1 e π2 são concorrentes.

Exemplo 3.3.12. Estude a posição relativa dos planos

π1 : 2x − y + z − 1 = 0 e
1 1
π2 : x − 2 y + 2 z − 9 = 0.

Solução. Sejam ~n1 = (2, −1, 1) e ~n2 = (1, − 12 , 12 ) e sejam d1 = −1 e


d2 = −9. Visto que ~n1 = 2~n2 e d1 6= 2d2 , os planos são paralelos distintos.

Exemplo 3.3.13. Estude a posição relativa dos planos

π1 : x + 10y − z − 4 = 0 e
π2 : 4x + 40y − 4z − 16 = 0.

Solução. Multiplicando a primeira equação por 4, obtemos a segunda equação.


Logo π1 e π2 são paralelos coincidentes.
3.4. ÂNGULOS 107

3.4 Ângulos
Lembramos que:
• Por convenção, o ângulo entre dois vetores ~u e ~v satisfaz 0 ≤ (~u, ~v ) ≤ π.

• A função arccos : [−1, 1] → [0, π] é a função inversa da função cosseno


restrita ao intervalo [0, π]:

y
• π

π
2

• x
−1 1

Figura 3.2: Gráfico de arccos(x).

Em particular, dados um ângulo θ ∈ [0, π] e um número real y ∈ [−1, 1],


vale a equivalência:

cos(θ) = y ⇔ θ = arccos(y).

3.4.1 Entre retas


Definição 3.4.1. Sejam r e s duas retas com vetores diretores ~u e ~v , respec-
tivamente. O ângulo entre r e s, denotado por (r, s), é o menor dos ângulos
(~u, ~v ) e (~u, −~v ).

r (~u, −~v ) r
~u
(~u, ~v ) ~u
−~v
~v s s
108 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Note que os ângulos (~u, ~v ) e (~u, −~v ) são suplementares, isto é, a soma
deles é π.
Terminologia 3.4.2. Duas retas r e s são ditas
• ortogonais se (r, s) = π/2; escreve-se então r ⊥ s.

• perpendiculares se são ortogonais e concorrentes.


Observação 3.4.3.
(a) r e s são paralelas se e somente se (r, s) = 0.

(b) r e s são ortogonais se e somente se ~u · ~v = 0.


Proposição 3.4.4. Sejam r e s duas retas, com vetores diretores ~u e ~v ,
respectivamente. Valem as seguintes afirmações.
(a) (r, s) ≤ π/2.
 | ~u · ~v | 
(b) (r, s) = arccos .
k~uk k~v k
Demonstração. (a) Suponha por absurdo que (r, s) > π/2. Visto que (r, s)
é o menor dos ângulos (~u, ~v ) e (~u, −~v ), isso implica (~u, ~v ) > π/2 e (~u, −~v ) >
π/2, donde

(~u, ~v ) + (~u, −~v ) > π/2 + π/2 = π.

Isso é absurdo, pois os ângulos (~u, ~v ) e (~u, −~v ) são suplementares.


(b) Devemos mostrar que
|~u · ~v |
cos(r, s) = . (3.7)
k~uk k~v k
Visto que ~u · ~v = k~uk k~v k cos(~u, ~v ), isso é equivalente a mostrar que

cos(r, s) = | cos(~u, ~v )|. (3.8)

Vamos considerar dois casos.

CASO 1: (r, s) = (~u, ~v ). Nesse caso, temos imediatamente que

cos(r, s) = cos(~u, ~v ). (3.9)


3.4. ÂNGULOS 109

Pelo primeiro item da proposição, (r, s) ∈ [0, π/2], donde cos(r, s) ≥ 0, o que
implica cos(~u, ~v ) ≥ 0. Logo

cos(~u, ~v ) = | cos(~u, ~v )|. (3.10)

Comparando (3.9) e (3.10), obtemos cos(r, s) = | cos(~u, ~v )|.

CASO 2: (r, s) = (~u, −~v ). Nesse caso,

cos(r, s) = cos(~u, −~v ) = cos(π − (~u, ~v )) = − cos(~u, ~v ). (3.11)

O ângulo (~u, ~v ) é necessariamente maior ou igual a π/2, pois senão terı́amos

π = (~u, ~v ) + (~u, −~v ) = (~u, ~v ) + (r, s) < π/2 + π/2 = π,

o que é absurdo. Assim (~u, ~v ) ∈ [π/2, π]. Segue-se que cos(~u, ~v ) ≤ 0, ou


equivalentemente,

− cos(~u, ~v ) = | cos(~u, ~v )|. (3.12)

Comparando (3.11) e (3.12), obtemos novamente cos(r, s) = | cos(~u, ~v )|.

Exemplo 3.4.5. Calcule o ângulo entra as retas


r : P = (1, 1, 9) + t(0, 1, −1); t ∈ R,

x − 1 = y,
e s:
z = 4.

Solução. Obviamente, ~u = (0, 1, −1) é um vetor diretor de r. Para achar


um vetor diretor de s, repare que os pontos A = A(0, −1, 4) e B = B(1, 0, 4)
−→
pertencem a s e são distintos. Logo ~v = AB = (1, 1, 0) é um vetor diretor de
s. Pela Proposição 3.4.4,
 |~u · ~v | 
(r, s) = arccos
k~uk k~v k
0 × 1 + 1 × 1 − 1 × 0
= arccos √ √
2 2
1 π
= arccos = .
2 3
110 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

Exemplo 3.4.6. Considere a reta

s : P = t(1, 1, 0), t ∈ R.

Seja r uma reta que passa por A(1, 0, 0), que é concorrente com s e tal que
(r, s) = π/4. Encontre uma equação de r.
Solução. Seja r uma reta satisfazendo as condições do ununciado. Seja
B o ponto de interseção entre r e s. Esse ponto existe, já que as retas são
concorrentes, e é único, pois a condição (s, r) = π/4 implica que r e s não são
paralelas. Como B ∈ s, existe t0 ∈ R tal que B = B(t0 , t0 , 0). Claramente,
A 6= B (pois senão terı́amos t0 = 0 = 1) e portanto A e B são dois pontos
distintos de r. Logo
−→
~u = AB = (t0 − 1, t0 , 0)

é um vetor diretor de r.
Seja ~v = (1, 1, 0); é um vetor diretor de s. Calculemos

|~u · ~v | |(t0 − 1, t0 , 0) · (1, 1, 0)|


=
k~uk k~v k k(t0 − 1, t0 , 0)k k(1, 1, 0)k
|(t0 − 1) × 1 + t0 × 1 + 0 × 0|
= p √
(t0 − 1)2 + t20 + 02 × 12 + 12 + 02
|2t0 − 1|
= p 2 √ .
2t0 − 2t0 + 1 2

Pela
√ Proposição 3.4.4, a última expressão acima é igual a cos(r, s) = cos(π/4) =
2/2. Assim,

2 |2t0 − 1|
=p 2 √ ,
2 2t0 − 2t0 + 1 2

isto é,

|2t0 − 1|
1= p 2 ,
2t0 − 2t0 + 1

ou ainda
q
2t20 − 2t0 + 1 = |2t0 − 1|.
3.4. ÂNGULOS 111

Elevando ao quadrado, obtemos a equação

2t20 − 2t0 + 1 = 4t20 − 4t0 + 1,

a qual é equivalente a

t2 (1 − t0 ) = 0.

Logo t0 = 0 ou t0 = 1. Segue-se que ~u = (−1, 0, 0) ou ~u = (0, 1, 0). Isto


significa que existem duas retas r1 e r2 que satisfazem as condições do enun-
ciado, com vetores diretores respectivos ~u1 = (−1, 0, 0) e ~u2 = (0, 1, 0), e que
intersectam s no ponto B1 = B1 (0, 0, 0) e B2 = B2 (1, 1, 0), respectivamente.
Visto que essas retas passam pelo ponto A = A(1, 0, 0), as equações vetoriais
correspondentes são dadas por:

r1 : P = (1, 0, 0) + t(−1, 0, 0), t ∈ R,


r2 : P = (1, 0, 0) + t(0, 1, 0), t ∈ R.

~e3

~e2
B1 •
~e1
• • r2
A B2 s
r1

3.4.2 Entre planos


Definição 3.4.7. Sejam π1 e π2 dois planos, com vetores normais ~n1 e ~n2 ,
respectivamente. O ângulo entre π1 e π2 , denotado por (π1 , π2 ), é o menor
dos ângulos (~n1 , ~n2 ) e (~n1 , −~n2 ).
112 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

~n1 ~n2

θ π1

π2

θ = (π1 , π2 )

Terminologia 3.4.8.
• Dois planos π1 e π2 são ortogonais se (π1 , π2 ) = π/2 (⇔ ~n1 · ~n2 = 0).
Escreve-se então π1 ⊥ π2 .
• Uma reta normal ao plano π1 é qualquer reta que tem ~n1 como vetor
diretor.
Proposição 3.4.9. Sejam π1 e π2 dois planos, com vetores normais ~n1 e ~n2 ,
respectivamente. Valem as seguintes afirmações.
(a) (π1 , π2 ) ≤ π/2.
 | ~n · ~n | 
1 2
(b) (π1 , π2 ) = arccos .
k~n1 k k~n2 k
Demonstração. Análogo à demonstração da Proposição 3.4.4.
Exemplo 3.4.10. Determine o ângulo entre os seguintes planos:

 x = t + h,
π1 : y = t, , t, h ∈ R,
z = 1+h

π2 : 2x + y + z − 1 = 0.
Solução. Os vetores ~u1 = (1, 1, 0) e ~u2 = (1, 0, 1) são vetores diretores de
π1 . Logo

~e1 ~e2 ~e3

~n1 = ~u1 × ~u2 = 1 1 0 = ~e1 − ~e2 − ~e3 = (1, −1, −1)
1 0 1
3.4. ÂNGULOS 113

é um vetor normal ao plano π1 . O vetor ~n2 = (2, 1, 1) é normal ao plano π2 ,


e um cálculo simples mostra que n1 · n2 = 0. Logo
(π1 , π2 ) = arccos(0) = π/2.
Os planos são ortogonais.
Exemplo 3.4.11. Sejam r e π, a reta e o plano definidos por

x − 2y + 2z = 0,
r:
3x − 5y + 7z = 0,
π: x + z = 0.
Encontre a equação geral do plano π1 que contém a reta r e tal que (π, π1 ) =
π/3.
Solução. Seja ~n1 = (a, b, c) um vetor unitário normal ao plano π1 . A
equação geral de π1 é da forma
ax + by + cz + d = 0,
onde d é um certo número real. Claramente, d = 0 se e somente se o ponto
A = A(0, 0, 0) pertence ao plano π1 , o que é o caso, pois A ∈ r, e r está
contida em π1 , por hipótese. Assim d = 0. Resta calcular ~n1 .
É fácil verificar que B = B(−4, −1, 1) pertence à r e é distinto de A. Logo
−→
~u = AB = (−4, −1, 1) é um vetor diretor de r. Como r ⊂ π1 , necessaria-
mente ~u · ~n1 = 0, donde
−4a − b + c = 0. (3.13)
Agora o vetor ~n = (1, 0, 1) é normal ao plano π, e como (π, π1 ) = π/3, temos
que
1 | ~n1 · ~n | |a + c|
= cos(π/3) = = √ ,
2 k~n1 k k~nk 2
donde
1
√ = |a + c|,
2
ou equivalentemente,
ε
√ = a + c,
2
114 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

onde ε = 1 se a + c ≥ 0 e ε = −1 caso contrário. Assim


ε
a = √ − c.
2

Substituindo em (3.13), obtemos

−4( √ε2 − c) − b + c = 0 ⇔ b = 5c − 4ε

2
.

Segue-se que ~n1 é da forma

√ε 4ε

~n1 = (a, b, c) = 2
− c, 5c − √
2
,c . (3.14)

Para encontrar o valor de c, vamos usar o fato de ~n1 ser unitário:

( √ε2 − c)2 + (5c − 4ε 2



2
) + c2 = 1.

Desenvolvendo e simplificando, obtemos a seguinte equação do segundo grau

42ε 15
27c2 − √ c + = 0.
2 2

Um cálculo direto mostra que o discriminante é ∆ = 72 = (6 2)2 . As raı́zes
são dadas por

 √1 ou 5
√ , se ε = 1,
2 9 2

 − √12 ou − 5

9 2
, se ε = −1.

Substituindo esses valores em (3.14), vemos que

~n1 = ± 0, √12 , √12 4


, 11 5
 
ou ~n1 = ± − √ √ ,− √
9 2 9 2 9 2
.

Daı́, obtemos duas soluções para o problema:

π1 : y + z = 0,
e π1 : 4x − 11y + 5z = 0.
3.4. ÂNGULOS 115

3.4.3 Entre retas e planos


Lembramos que dois ângulos são complementares se a soma deles é π/2.
Neste caso, diz-se que um é o complemento do outro.

Definição 3.4.12. Sejam r uma reta e π um plano. O ângulo entre r e


π, denotado por (r, π), é o complemento do ângulo formado por r e por uma
reta n normal ao plano π.

n r

(r, π)

Proposição 3.4.13. Sejam r uma reta e π um plano. Suponha que ~u seja


um vetor diretor de r e que ~n 6= ~0 seja um vetor normal ao plano π. Valem
as seguintes afirmações.

(a) (r, π) ≤ π/2.

 | ~u · ~n | 
(b) (r, π) = arcsen .
k~uk k~nk

Demonstração. Sejam ~u um vetor diretor de r e n uma reta normal ao plano


π, com vetor director ~n.
π
(a) Sabemos que (r, n) ∈ [0, π/2], e por definição, (r, π) = − (r, n). Logo
2
(r, π) ∈ [0, π/2].
(b) Levando em conta a Proposição 3.4.4, temos que:

π π  | ~u · ~n | 
(r, π) = − (r, n) = − arccos
2 2 k~uk k~nk
116 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

donde
π  | ~u · ~n | 
sen(r, π) = sen − arccos
2 k~uk k~nk
  | ~u · ~n | 
= cos arccos
k~uk k~nk
| ~u · ~n |
= .
k~uk k~nk

Segue-se que (r, π) = arcsen k~u| ~uk·~k~


n| 
nk
, como querı́amos mostrar.
Exemplo 3.4.14. Calcule (r, π), onde

x−y+2 = 0,
r:
2x + 2y − z + 1 = 0,
π: x − 2y − 2z + 1 = 0.
Solução. Seja P = P (x, y, z) um ponto. Temos que:

x−y+2 = 0,
P ∈r ⇔
2x + 2y − z + 1 = 0,

x − y + 2 = 0,

4y − z − 3 = 0, (L2 ← L2 − 2L1 )

x = y − 2,

z = 4y − 3.
Assim, o ponto P pertence à reta r se e somente se P = P (y−2, y, 4y−3) para
algum y ∈ R. Tomando y = 0 e y = 1, vemos que os pontos A(−2, 0, −3) e
B(−1, 1, 1) pertencem à r. Como A 6= B, o vetor
−→
~u = AB = (1, 1, 4)
é um vetor diretor de r. Por outro lado, o vetor
~n = (1, −2, −2)
é um vetor normal ao plano π. Pela Proposição 3.4.13,
 | ~u · ~n |   −9   √2  π
(r, π) = arcsen = arcsen √ √ = −arcsen =− .
k~uk k~nk 18 9 2 4

Assim, (r, π) = π/4 .


3.4. ÂNGULOS 117

Exemplo 3.4.15. Encontre uma equação vetorial da reta r que passa pelo
ponto A(1, 1, 1), que é paralela ao plano π1 : x + 2y − z = 0, e tal que
(r, π2 ) = π/3, onde π2 : x − y + 2z = 1.
Solução. Seja ~u = (a, b, c) um vetor diretor unitário de r. Por hipótese,
(r, π2 ) = π/3, e como ~n2 = (1, −1, 2) é um vetor normal ao plano π2 , a
Proposição 3.4.13 implica que

3 | ~u · ~n1 | |a − b + 2c|
= sen(π/3) = = √ ,
2 k~uk k~n2 k 6

e então

3 2
|a − b + 2c| = .
2

Sem perda de generalidade, podemos supor que a − b + 2c ≥ 0 (senão, use −~u


em vez de ~u). Assim,

3 2
a − b + 2c = . (3.15)
2

Por outro lado, o fato de r ser paralela ao plano π1 implica que (r, π) = 0,
e como ~n1 = (1, 2, −1) é um vetor normal ao plano π1 , a Proposição 3.4.13
implica que

| ~u · ~n1 | a + 2b − c
0 = sen(0) = sen(r, π1 ) = = √ ,
k~uk k~n1 k 6

donde

a + 2b − c = 0. (3.16)

As equações (3.15) e (3.16) formam um sistema


 √
a − b + 2c = 3 2 2 ,
a + 2b − c = 0,
118 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

o qual é equivalente a
 √
a − b = 3 2 2 − 2c,
a + 2b = c,
( √
a − b = 322 − 2c,
⇔ √
2
b =c− 2 , (L2 ← (L2 − L1 )/3)
 √
a = −c +√ 2,

b = c − 22 .

Assim ~u é da forma
√ √
2
~u = (a, b, c) = (−c + 2, c − 2
, c), (3.17)

onde c é um certo número real. Para encontrar o valor de c, usamos o fato


de ~u ser unitário:
√ √
(−c + 2)2 + (c − 22 )2 + c2 = 1.

Desenvolvendo e simplificando, obtemos a seguinte equação do segundo grau


√ √
c2 − 2c + 12 = (c − 22 )2 = 0.

2
A única raiz é c = 2
. Substituindo esse valor em (3.17), obtemos
√ √ √
2 2 2
~u = ( 2
, 0, 2
) = 2
(1, 0, 1).

Esse vetor ~u é um vetor diretor particular de r, mas qualquer outro vetor


não nulo colinear é também um vetor diretor de r. Em particular, o vetor
~u0 = (1, 0, 1) é um vetor diretor de r. Resulta disso e do fato da reta r passar
pelo ponto A(1, 1, 1) que uma equação vetorial de r é dada por

(x, y, z) = (1, 1, 1) + t(1, 0, 1), t ∈ R.


3.5. EXERCÍCIOS 119

3.5 Exercı́cios
Em todos os exercı́cios abaixo, está fixado um sistema de coordenadas carte-
sianas Σ = {O, B}, onde B = {~e1 , ~e2 , ~e3 } é uma base ortonormal e positiva.
A não ser que seja explicitamente dito, todas as coordenadas são expressadas
em relação à Σ e B.
3.5.1. Escreva uma equação da reta r nos casos a seguir:
(a) r passa pelo ponto P (−2, −1, 3) e tem a direção do vetor ~u = (2, 1, 1).
(b) r passa pelos pontos A(1, 3, −1) e B(0, 2, 3).
3.5.2. Escreva uma equação do plano α nos casos a seguir:
(a) α passa pelos pontos A(1, 0, 2) e B(2, −1, 3) e é paralelo ao vetor ~v =
(0, 1, 2);
−−→
(b) α passa pelos pontos A(3, 1, −1) e B(1, 0, 1) e é paralelo ao vetor CD,
sendo C(1, 2, 1) e D(0, 1, 0);
(c) α passa pelos pontos A(1, 0, 2), B(1, 0, 3) e C(2, 1, 3).
3.5.3.
(a) Dê uma equação vetorial do plano determinado pelos pontos A(1, 1, 0),
B(−1, 2, 1) e C(3, 2, 1).
(b) Dê as equações paramétricas do plano paralelo aos vetores ~u = (−1, 2, 1)
e ~v = (1, 0, 3) e que passa pelo ponto P (2, 4, −1).
(c) Dê uma equação vetorial do plano cujas equações paramétricas são dadas
por:

 x = 1 + 2t − h,
y = −2 + t + 3h, t, h ∈ R.
z = 3 + 5t,

(d) Dê as equações paramétricas do plano paralelo ao vetore ~u = (5, 1, 2) e


que passa pelos pontos A(3, −1, 1) e B(2, −1, 0).
(e) Dê uma equação geral do plano que passa pelo ponto P (3, −1, 2) e é
paralelo aos vetores ~u = (−1, 1, 2) e ~v = (1, −1, 0).
120 CAPÍTULO 3. RETAS E PLANOS

3.5.4. Determine un vetor normal ao plano α nos seguintes casos:

(a) α : P (x, y, z) = (1, 0, 1) + t(2, −1, 3) + h(1, 1, 0); t, h ∈ R.



 x = 2 + 3t,
(b) α : y = 1 + 2t − h, t, h ∈ R.
z = −t + 2h,

(c) α : 2x − 3y + z − 1 = 0.

 x = 1 + h + 2t
3.5.5. Determine a equação geral do plano β paralelo ao plano α : y = 2 + 2h + t ;
z = 3t

t, h ∈ R, e que

(a) passa pelo ponto P (3, 2, 0);

(b) passa pela origem.

3.5.6. Sejam A(1, 2, −1), B(3, 2, 0), C(2, 1, −1) e D(1, 0, 4). Seja π1 o plano
que passa pelos pontos O, A, B e seja π2 o plano que passa pelos pontos
O, C, D. Determine uma equação vetorial da reta r = π1 ∩ π2 .

3.5.7. Seja r a reta cujas equações paramétricas são dadas por



 x = 2 + 3t,
r : y = −t, , t ∈ R.
z = 1 + t,

Sejam π1 e π2 os planos cujas equações paramétricas são respectivamente


dadas por:
 
 x = 1 + 2λ + µ,  x = −5 − ν,
π1 : y = −1 − 3λ + 2µ, e π1 : y = 3 + ν + 3η, ,
z = 1 + λ, z = ν + η,
 

onde t, λ, µ, ν, η ∈ R. Estude as posições relativas dos pares (r, π1 ), (r, π2 ) e


(π1 , π2 ).

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