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A idealização de Pasárgada por Manuel Bandeira e Osvaldo Alcântara

Jacqueline Miryan e Vitória Carolina

Resumo: O ensaio visa evidenciar as semelhanças e diferenças presentes nas nos obras poemas
“Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira e “Evangelho segundo o rei de Pasárgada”,
de Osvaldo Alcântara. Objetivo claro e bem escrito. Incluir, também, as escolhas teóricas que vão
amparar a leitura. )

Palavras-chave:  Literatura; Brasil; Cabo Verde; Modernismo; Idealização; Pasárgada; Manuel


Bandeira; Osvaldo Alcântara.

Introdução

A literatura Brasileirabrasileira, com o modernismoModernismo, exerceu grande influência sobre os


autores africanos que, espelhando-se no modelo modernista brasileiro, transformaram a literatura
africana em países de língua portuguesa, libertandoinspirando-a dos modelos coloniais para abraçar
o que Oswald de Andrade (1924), no seu Manifesto da poesia Pau-Brasil, declara como “a língua
sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica”. Todavia, tal inspiração valeu-se valendo-se de
aspectos positivos do antigo modelo que estava determinado pelos moldes coloniais, ou seja, em um
movimento dialético utilizando o que havia de bom e descartando o que havia de “ruim”. Como é
dito por Tânia Macêdo (2008, Pp.138):

“Será esse modelo (dizer qual para contextualizar a citação), principalmente, que
sofrerá a rejeição dos produtores africanos quando elaborarem os seus textos
visando à construção de uma literatura nacional. Não se pode, todavia, falar de
uma negação in totum da Literatura Portuguesa, já que, por exemplo, houve
um produtivo diálogo dos autores angolanos dos anos 1950 com a literatura
neo-realista portuguesa.” (a retomada ao texto da autora ficou muito bem acertada
aqui).

E foi exatamente o que Osvaldo Alcântara fez em seu poema “Evangelho segundo o rei de
Pasárgada”:, inspirou-se em “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira, mas sem
rejeitar completamente o modelo português, criando algo novo a partir de sua própria visão de
mundo. E agora iremos conhecer mais sobre os autores para em seguida observarmos as
semelhanças e diferenças entre as obrasos dois poemas tomados como corpus de análise neste
ensaio.

Sobre os autores

Manuel Bandeira, grande nome do modernismo brasileiro, nascido em 19 de abril de 1886, na


cidade de Recife, Pernambuco,; foi poeta, crítico literário, crítico de arte, tradutor e professor de

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literatura na Universidade do Brasil. Suas obras contribuíram para o movimento modernista
especialmente na semana de Arte Moderna em 1922 com o seu poema “Os sapos” que criticava o
parnasianismoParnasianismo. O autor expressava em algumas de suas obras a melancolia por ser
tuberculoso, o que o impedia de viver certos momentos e é exatamente disso que seu poema “Vou-
me embora pra Pasárgada” trata, da idealização de um espaço onde é possível desfrutar de todos os
prazeres. (aqui seria o caso de trazer algum estudioso na crítica literária que já tenha apontado essa
correlação entre a doença e a produção artística de Bandeira. Mas isso não é algo que comprometa o
ensaio de vocês).

Osvaldo Alcântara, pseudônimo de Baltasar Lopes da Silva, nascido em 23 de abril de 1907, na ilha
de São Nicolau em Cabo Verde, foi um poeta, linguista e escritor. Alcântara juntamente com Jorge
Barbosa fundou a revista de ensaio, poemas e contos chamada: Claridade, centro do movimento de
emancipação cultural em Cabo Verde. A revista Claridade denunciava os problemas enfrentados
pela sociedade cabo-verdiana, promovendo uma reflexão a respeito de suas raízes. O autor foi muito
influenciado por Manuel Bandeira e escreveu diversos poemas com a temática de Pasárgada, mas
com um tom religioso. (mesmo comentário anterior)

As semelhanças entre os poemas (desenvolver um pouco mais e melhor)

Os poemas “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira e “Evangelho segundo o


rei de Pasárgada” de Osvaldo Alcântara são construídos através de versos simples, que fluem de
forma rápida, corrida, com um ar musical animado e sem seguir a métrica parnasiana, pois eles não
têm uma quantidade de estrofes e versos padronizadas. Ambos os poemas são escritos em um tom
de exaltação aà Pasárgada, por meio do uso do pronome com função adjetiva “tudo” como no verso
que está presente nos dois poemas que diz “Em Pasárgada tem tudo, lá é outra civilização”, além de
outros adjetivos utilizados pelos autores, desenhando Pasárgada como um lugar único onde há
coisas muito além do que possamos imaginar, e há também em ambos os poemas a estratégia da
repetição (citar ou reiterar o verso da repetição) usada para dar ênfase. à ideia de completude.

As diferenças entre os poemas

Apesar de os poemas tratarem da idealização de Pasárgada e possuírem a forma de


composição parecida, eles se diferem em alguns aspectos. A Pasárgada de Bandeira é um local de
idealização, pois os desejos carnais do eu lírico poderão ser saciados por mais complexos que
sejam, colocando sua amizade com o Rei, figura humana, como um passe livre e garantido para que

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tais desejos possam ser realizados, ou seja, o eu lírico coloca o rei como uma figura de autoridade
que poderia lhe conceder acesso a tudo. O eu lírico de Bandeira é uma figura masculina, o que pode
ser identificado no verso “Lá sou amigo do rei”, e esse eu lírico demonstra insatisfação com sua
localidade vivida no presente, podemos ver isso no verso em que ele diz: ‘’Aqui eu não sou feliz
[...]’’ sendo seguido de um verso que reafirma mais uma das tantas qualidades que o eu lírico usa
para descrever Pasárgada: “Lá a existência é uma aventura”, construindo um lugar ideal, perfeito,
que só possui coisas boas.
A forma que o eu lírico se comunica se assemelha a um desabafo, pois ele narra os motivos
de sua partida e todas as coisas que almeja fazer quando chegar em à Pasárgada. Sendo assim,
podemos dizer que o eu lírico se comunica conosco através do poema de forma direta passando
claramente as informações que deseja transmitir: ele está infeliz e sente falta de Pasárgada, o local
onde terá tudo nas melhores condições - e já teve no passado - sem limitação alguma, já que possui
amizade com o Rei e isso lhe garante segurança. No poema de Bandeira há também a presença de
diversas imagens femininas como “mulher”, “Joana a Louca da Espanha”, “Rainha”, “Nora”, “Mãe-
d’água”, “Rosa” e “prostitutas bonitas”, e o eu lírico desejo deseja ter para si alguma dessas figuras.
(tendo em vista as referências teóricas estudadas, como esse desejo poderia ser interpretado? Ao
apontar as imagens femininos vocês fazem uma boa análise, mas falta o salto para a interpretação!)
Já no poema de Alcântara, a Pasárgada é um local que transcende o espaço físico, pois há no
poema o uso de elementos bíblicos como “Deus Nosso Senhor” “Cristo Nosso Senhor”, “Pedro e
Paulo", "Apóstolos" e "Irmãos de Cristo”, enfatizando que a Pasárgada do eu lírico é o paraíso
cristão. O eu lírico não está fazendo um desabafo sobre Pasárgada, mas um convite a todos os
homens, o que explica o título do poema ter a palavra “Evangelho” que significa boas novas, ou
seja, o eu lírico está comunicando o que há de bom em Pasárgada para que os homens creiam e
tenham a esperança de um dia habitarem nesse lugar. (Reparem que, pelo tom do erotismo, claro, o
eu lírico de Bandeira, também comunica uma boa nova, ainda que em tom de desabafo como vocês
bem pontuaram!) O trecho:

“Deixa a tua coroa, ó Rei!

Veste no teu ombro 

a melancolia diáfana dos poetas,

vem dizer novamente aos homens

que Pasárgada tem imigração aberta para todos os homens…”

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(ALCÂNTARA, Osvaldo. Cântico da manhã futura. Praia: Banco de Cabo Verde,
1986, p.123-124.)

remete às passagens bíblicas que falam sobre Jesus ter deixado seu trono e se vestido da dor do
próximo e os chamado para seu reino como no trecho a seguir presente:

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo


Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como
usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens;
e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-
se obediente até à morte e morte de cruz.” (BÍBLIA, Filipenses, 2, 5-
8) 

(observar coesão aqui) Mostrando o rei como uma figura divina. No poema há também a
presença de imagens masculinas como “homens”, “meninos”, “rei”, “poetas”, “Pedro e Paulo” e
“irmãos de Cristo”, o que nos faz pensar que o eu lírico é masculino apesar de não haver algo
concreto que indique essa suposição. E há verbos indicando que a temporalidade é o presente como
no verso “os meninos riem e brincam”. Ok

A citação bíblica é pertinente. Faltou, no entanto, uma melhor relação dela com o trecho
citado do poema.

Conclusão
Tendo em vista o exposto, é possível perceber que quando falamos em texto é difícil encontrar
pureza, e por pureza digo um texto unicamente com características criadas apenas em seu país de
origem. (Aqui caberia a retomada ao Manifesto antropofágico e o texto do João Cezar) A inspiração
que inevitavelmente traz à semelhança sempre vem, feliz ou infelizmente, de algum lugar. Os
poetas africanos se inspiravam nos brasileiros pela semelhança do momento histórico que eles
estavam vivenciando e que o Brasil já havia vivenciado anteriormente como é dito por Tania
Macêdo (2008, p.139), tendo em vista que o modernismo Modernismo brasileiro abriu portas para
que os escritores africanos pudessem pensar literatura de um modo diferente.
Portanto, é perceptível que muitas semelhanças, não apenas entre os poemas estudados no
artigo, mas também em outros poemas africanos, se devem a questões relacionadas à identificação
dos africanos com os brasileiros, que pode ser justificada pelo pouco espaço de tempo entre a
colonização do Brasil e da África e pelas semelhantes opressões colocadas pelos colonizadores

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portugueses sobre brasileiros e africanos. Os poetas africanos encontravam nos poemas brasileiros
grande identificação para sua escrita e a pegaram como inspiração tanto na forma de escrita, quanto
no conteúdo (exposição de sentimentos como: sofrimento, dores, angústias e desejos).
É possível dizer que os africanos realizaram então a própria antropofagia da forma que é
posta no manifesto antropófago de Oswald de Andrade (1928): 

“Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente.


Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos
os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De
todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra
todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que
não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.’’ (Aqui confirma o
que comentei anteriormente)

Eles devoravam nossos textos com base em nossas semelhanças históricas, da mesma
maneira que os poetas brasileiros se aprimoraram dos textos que vinham do exterior os deglutindo e
utilizando apenas aquilo que convinha, aquilo que havia de melhor, aprimorando-se cada vez
mais. Os africanos, também, deglutiram nossos textos fazendo o mesmo processo antropofágico,
livrando-se (não livrando-se, mas olhando-a criticamente) da perspectiva eurocêntrica que como é
dito por Aníbal Quijano (2005, p.130) nos faz ser o que não somos, e não enxergar e resolver os
nossos verdadeiros problemas. (a retomada ao Quijano aqui não ficou bem amarrada).

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Referências bibliográficas

BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada. 8.ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2001

ALCÂNTARA, Osvaldo. Cântico da manhã futura. Praia: Banco de Cabo Verde, 1986, p.123-124.

ANDRADE, Oswald. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1974.


MACÊDO, T. C. de. (2008). A PRESENÇA DA LITERATURA BRASILEIRA NA FORMAÇÃO DOS SISTEMAS
LITERÁRIOS DOS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA. Via Atlântica, 1(13), 123-152. 
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocetrismo e América Latina. LANDER, Edgardo
(org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas.
CLACSO, Buenos Aires, Argentina. 2005.
BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil 2 ed
Barueri SP, Sociedade Bíblica do Brasil, 1988, 1993.

Observar ordem alfabética nas referências.

Meninas,

O ensaio de vocês cumpriu o objetivo da disciplina. Existem reparos, claro, a serem feitos. Deixei
os comentários no corpo do texto de vocês.

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Vocês fizeram um bom uso do repertório teórico, associando-o à análise proposta. Mesmo assim,
tanto o uso desse repertório, quanto as análises precisariam de uma melhor sustentação.

Para um trabalho final de disciplina, este ensaio é suficiente.

Abraços,

Vinícius.

30/40

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