A resistência de aproximação do Direito com a Antropologia acontece
porque o Direito é com frequência reproduzido a ser visto como um conhecimento
estritamente lógico-formal. Ou seja, o Direito seria um saber autônomo em que todas as informações partem dali sem qualquer contestação do que está sendo proposto A idéia de unir o estudo de direito com a pesquisa empírica possibilita uma visão mais complexa dos institutos. E mais do que isso, essa junção formaria uma noção maior de auto reflexão do que se tem produzido nessa área. E essa resistência é ampliada ao passo que os Tribunais Superiores corroboram a visão de um Direito estritamente normativo e abstrato, o qual não cabem críticas ou ponderações sobre o que está sendo posto. Para ilustrar, competem muitos exemplos, mas aqui vale citar apenas um. Um ministro da Corte Especial do Supremo Tribunal de Justiça declarou: “o conteúdo da norma não é, necessariamente, aquele sugerido pela doutrina, ou pelos juristas ou advogados. O conteúdo da norma é aquele, e tão somente aquele, que o Poder Judiciário diz que é.” Então, é possível observar que essa visão de que o Direito não está aberto a debates e juízos é reiterada pelos Tribunais. Nessa análise, vale refletir também sobre quais saberes do Direito se tornaram autônomos no decorrer da história. E aqui eu estou usando como base a teoria da Objetividade mais forte da Sandra Harding, em que a autora explica como no desenrolar da humanidade muitos grupos atribuíram-se à própria ciência como correta e ideal, sem abrir espaço para o diálogo entre saberes, porque, segundo esses grupos dominantes, a pesquisa empírica abria espaço para subjetividade, o que não era agradável nas ciências. Essa conduta conversa com o que os autores Lima e Baptista defendem ao dizer : “O estilo do Direito é a padronização pelo poder, não pelo saber, e o que não se amolda a esse formato é descartado.”. É importante identificar que o Direito não está desagregado da sociedade e também reconhecer que valores interferem na construção de conhecimento. Sobre as consequências, ao admitir o Direito como apenas dogmática e não observar a realidade da sociedade, ocorre que esse campo do conhecimento acaba produzindo desigualdades na aplicação da lei, interferindo diretamente na sua legitimidade e confiança. Dessa forma, o Direito se torna apenas uma reprodução acrítica de quem o opera, imobilizando qualquer tentativa de criar novas boas práticas em detrimento das práticas antigas.
Projeção da Autonomia Privada no Direito Processual Civil e sua contribuição para a prestação de uma tutela jurisdicional efetiva: autonomia privada e processo civil