Você está na página 1de 4

​ Os super agudos do Sax

12/04/2005

Para se tocar no registro dos superagudos, é preciso conhecer e dominar as embocaduras do


saxofone. Estas podem ser comparadas à de um trompete, que, na mesma posição de
dedilhado, fazem várias notas com mudanças na embocadura.

Esse mecanismo é desconhecido pela maioria dos saxofonistas que tentam em vão tocar os
superagudos lançando mão somente das posições, criando uma concepção errada de que,
apertando ao máximo o lábio, conseguiremos atingir os agudos. Dessa forma, o que resulta
são os apitos.

As posições dos agudos são pouco divulgadas e ajudam a frustrar o estudante, que então
começa a atribuir a culpa por não dominar os superagudos às posições, à boquilha, à
palheta, ao instrumento, namorada, cachorro, síndico, etc. Então ele espera que, com os
anos de estudo, sua embocadura fique mais fiel. Mas os anos passam, o saxofone passa de
pai para filho e nada de sair os superagudos.

De vez em quando sai um agudo, mas ele sempre falha na hora que se precisa dele. Então,
começa a achar que os superagudos é dom de alguns.

Os saxofonistas têm que conhecer e dominar as suas várias embocaduras que se diferenciam
por :

● Pressão dos lábios sob a palheta


● Velocidade do ar
● Espaço interno da boca
● Posição da língua, que, dependendo do lugar onde se posicionar (mais para cima ou
para baixo), mudará a emissão do harmônico e, conseqüentemente, a nota emitida.

Com a mesma posição de agudo, podemos fazer 4 ou 5 notas diferentes.

Antes de começar com os exercícios para dominar os agudos, é preciso ter consciência de
alguns fatos :

● o motor do saxofone é a boquilha, a estabilidade é a palheta e a aerodinâmica é o


instrumento. Nós somos o condutor.

1ª parte - Boquilhas

A primeira coisa que um saxofonista fala a outro é: que boquilha você usa? Essa tal boquilha
já é uma lenda. O que sabemos é que a mesma boquilha tem som diferente (timbre),
dependendo de quem a toca.

Existem boquilhas que têm o som mais brilhante e outras com o som mais fosco
(aveludado). Há boquilhas de metal ,massa, fechada, com a câmara aberta ou fechada,
coloridas, enfim, uma variedade que nos deixa confusos. Estão inclusive inventando
boquilhas com acessórios, é uma confusão só!

Agora, certeza mesmo é que cada pessoa tem uma arcada dentária e uma boca diferente,
fazendo com que a mesma boquilha seja ótima para uns e ruim para outros.

Algumas boquilhas foram inventadas com o intuito de facilitar a emissão de agudos


(harmônicos) e outras são mais apropriadas para os graves. O que você precisa, juntamente
com seu professor, é encontrar uma boquilha bem equilibrada para o seu tipo de
embocadura.

Em São Paulo, muitos conheceram o mestre Bove, que consertou por décadas os saxofones
de diversos músicos. Uma das coisas interessantes que ele fazia era mexer nas boquilhas,
colocando Durepox dentro para alterar a câmara interna. Conseguia assim mudar as
características de som da boquilha (de grave/aveludado para um som mais brilhante),
facilitando a emissão dos agudos e liberando o músico da mudança de boquilha. Atualmente,
Aldo Bove Filho continua executando esta arte.

A boquilha é uma das peças mais importantes para a emissão dos agudos. Seus preços são
muito variados.

Há boquilhas desenvolvidas para projetar harmônicos que, com certeza, são mais fáceis para
a execução dos agudos. Isso não quer dizer que boquilhas que têm som mais aveludado ou
grave não toquem nos agudos. Elas tocam, mas com o som mais apagado, sem brilho.
Tem-se a impressão de soar menos nos agudos.

Procure uma boquilha que seja mais brilhante. Seu professor deverá conhecer várias com
essas características.

2ª Parte - Palhetas

Palhetas. Gosto de todas, desde que possa prepará-las a meu gosto! (consulte a matéria
técnica do Informativo Weril nº 120 - Regulagem De Palhetas).

Em uma caixa com 10 palhetas, é muito difícil encontrar duas iguais. Cada uma tem sua
personalidade. Umas são boas para graves, outras para agudos, outras um horror.

O melhor é saber preparar suas palhetas para o seu jeito de tocar e não ter que se adaptar a
cada palheta. Isso atrapalha, pois seu som não cria uma personalidade. Numa determinada
semana está metálico, noutra dá apitos ou não tem som nos graves. Assim não dá pé!

Temos várias marcas, todas muito boas para serem reguladas como você gosta. Algumas
palhetas se parecem com bambu, mas são de fibra. Seu som assemelha-se às de bambu. O
interessante é que esta palheta dura até seis meses ou mais, mantendo-se estável sem
envergar ou perder suas características sonoras. Você não perde tempo regulando palhetas e
estuda mais, conhecendo melhor o seu som (elas também são bem diferentes entre si e
podem ser reguladas. Utilize uma lixa d'água bem fina e umedecida para fazer os ajustes).

Saiba que as palhetas são de lua e também mudam com as marés. Existem palhetas que
liberam mais harmonia que as outras. Com o tempo, ao emitir uma única nota rapidamente,
você notará se ela é boa para agudos, graves ou bem equilibrada.

3ª Parte - Embocadura

Aqui mora o perigo. A embocadura é tudo no agudo. Comparo-a à construção de um prédio:


quanto mais alto ele for, mais profunda deve ser sua base.

A embocadura para se tocar em 2 oitavas utilizada pela maioria dos saxofonistas não é a
mesma para se tocar em 4 oitavas. Aquela que você usa para tocar com sucesso até hoje
deve estar funcionado bem entre o Ré da primeira oitava e o Ré da terceira oitava. Agora, se
você tem problemas fora desta região, significa que a sua embocadura está fora de lugar.
Não diria errada, pois a embocadura que uso para tocar nos agudíssimos é a que você está
usando, enquanto adoto uma outra para tocar nessa região mais grave.

Aí está o segredo! Para tocar nos superagudos, começo pelos graves. Quanto mais relaxados
os graves, mais campo para os agudos, ou seja, quanto mais aberto o ângulo entre boquilha
e palheta na região grave, maior será minha margem de extensão, pois, à medida que subo
para os agudos o ângulo da boquilha se fecha. Se você começar com ela fechada, ao chegar
nos agudos terá tal esmagamento da palheta com a boquilha que nenhum ar passará. O
segredo é começar os graves o mais relaxado possível, quer dizer, com o ângulo entre a
palheta e a boquilha o mais aberto possível. Você terá que descobrir que pode tocar a nota
do meio tom abaixo soando um Si sem mexer na boquilha, somente relaxando o lábio
inferior em relação à palheta, como se fosse uma batata quente na boca. Toque a nota Ré
mantendo a relação de um tom entre o Dó, mas não esqueça que este Dó está com a
afinação meio tom abaixo do normal. Isso foi feito com o relaxamento do lábio inferior. Se
você tocar o Mi, ele também terá que manter a afinação relativa ao Dó, que, por sua vez,
continua baixo.

Ao completar uma oitava fazendo a relação acima, e mantendo a afinação das notas entre
elas, o Dó oitavado acima estará mais relaxado, com mais volume e brilho.

Em relação à boquilha e à palheta, o ângulo agora é maior. Então, você terá mais ângulo de
boquilha para os agudíssimos. Da outra forma, você não teria mais ângulo entre palheta e
boquilha.

4ª Parte - Afinação

Como resolver a afinação do sax em relação ao diapasão?

Após abaixar a afinação da posição de Dó no saxofone, fazendo soar um Si, você agora afina
pela boquilha, abrindo ou fechando. É importante não mexer a boca. Com isso, você
conseguirá tocar os graves com mais facilidade, pois sua boquilha está aberta na boca.

Antes você estava com a afinação do Dó alta em relação à afinação real do saxofone. Em vez
de abaixar a afinação do sax com o relaxamento da embocadura, você afinava seu
instrumento pelo todel, mas agora aprendeu que se pode afinar pela boca. Isto é,
conseguindo o ângulo mais aberto da embocadura, você estará na posição correta para ir até
os agudos, fechando relativamente sem o perigo de, ao chegar na região superaguda, não
existir mais ângulo.

Só irá tocar os agudos quem conseguir tocar os supergraves, pois eles são a base para se
alcançar o alto.
Conheça o Fórum de Sax do Cifra Club!

Você também pode gostar