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Parte 2

Considerações Teóricas

Objectivo: Estudar o significado económico da marginalidade avaliando: o custo marginal, custo


médio, receita marginal, lucro marginal. O conceito de elasticidade associado ao preço e à
procura (demanda) de um produto e a sua relação com a receita, bem como a elasticidade
associada à demanda, etc.

Funções Marginais:

O significado económico da palavra marginal: - Consideremos por exemplo que numa indústria
de electrodomésticos, na produção de q unidades de um certo tipo de aparelho, o custo C em
dólares foi estudado e pode se estabelecer através da fórmula
C = 0.1q − 18q + 1500q + 10000 . Nessas condições podemos então responder e relacionar as
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respostas às seguintes perguntas:

a) Qual é o custo quando são produzidos 50 aparelhos?


b) Qual é o custo na produção do 51o aparelho?
c) Qual é a taxa de variação do custo em relação à quantidade q = 50 ?

Donde, para responder às questões apresentadas temos a seguinte resolução:

Resolução:
a) Para determinar o custo neste caso quando são produzidos 50 aparelhos, basta substituir
q = 50 na função custo e obter-se:
C (50) = 0,1 ⋅ (50) 3 − 18 ⋅ (50) 2 + 1500 ⋅ 50 + 10 000 = 52 500,00

b) Para determinar o custo na produção do 51o aparelho, como já se sabe qual é o custo para
fabricar 50 aparelhos, basta calcular o custo para fabricar 51 unidades e achar a diferença dos
custos. Assim, teremos:
C (51) = 0,1 ⋅ (51) 3 − 18 ⋅ (51) 2 + 1500 ⋅ 51 + 10 000 = 52 947,10 ,
donde
C (51) − C (50) = 52 947,10 = 52 500,00 = 447,10
ou seja, para a fabricação do 51o aparelho, o custo é de $447,10. Isto é, neste caso, gastou-se
$447,10 por uma unidade.
Este resultado pode ser interpretado doutra maneira dizendo que, no nível de produção de 50
unidades, o custo adicional para a produção de mais uma unidade é de $447,10.
c) Para determinar a taxa de variação do custo, em relação a q, quando q = 50 , isto é,

C ' (50) = 0,3 ⋅ (50) 2 − 36 ⋅ (50) + 1500 = 450 ; significando que a taxa de variação do custo
de produção no nível q = 50 é C ' (50) = 450 /unidade.
Donde, comparando o valor obtido em b) para a produção do 51o aparelho, pode notar-se que
esse valor $447,10 é “próximo” da taxa de variação $450,00/unidade no nível q = 50 e, isto
pode ser justificado considerando que:

C (51) − C (50) C (50 + 1) − C (50)


Taxa de Variação = = = 447,10
51 − 50 1

C (50 + h) − C (50)
e, se tiver e calculando o limite quando h → 0 ter-se-á,
h

C (50 + h) − C (50)
C ' (50) = lim = 450 / unidade .
h→0 h

Isto significa portanto que o valor $447.10 é uma aproximação deste limite quando se considera
h = 1 . A este acréscimo de $447.10 que se verifica na produção de uma unidade para além das 50
produzidas, é chamado custo marginal ou seja, custo adicional para a produção de mais um
electrodoméstico quando já se produziram 50 electrodomésticos. Este valor pode ser então
aproximado pelo cálculo da derivada C ' (50) . Assim, os economistas, por uma questão prática e
pela rapidez nos cálculos, costumam considerar Custo Marginal, num determinado nível de
produção, como a derivada da função custo num ponto dado. Com efeito, apesar de que no nível
q = 50 o resultado não seja exactamente o mesmo, considera-se aqui a aproximação feita e
chamaremos então, Custo Marginal em q = 50 = C ' (50) .

Tome-se de novo a função custo C = 0.1q 3 − 18q 2 + 1500q + 10000 e preencha-se a tabela que
se segue e depois calcule-se a diferença entre C (a + 1) − C (a ) e C ' (a ) .

Quantidade Custo Calcular Custo Calcular Custo


Produzida Marginal por Marginal por
C (a)
q=a [ C (a + 1) − C (a ) ] C ' (a)

... ... ... ...

50 52 500,00 ? 450,00
51 52 947,00 447,10 ?

... ... ... ...

65 58 912,50 ? 427,50

66 59 341,60 429,10 ?

... ... ... ...

150 167 500,00 ? 2 850,00

151 170 377,10 2 877,10 ?

Ora, para o nível q = 65 electrodomésticos tem-se o custo marginal C ' (65) = 427,50 que é
uma boa aproximação para o custo real (429,10) na produção do 66o electrodoméstico.

Função Custo Marginal e outras Funções Marginais:

Assim, como foi possível notar, para cada nível de produção tem-se um custo marginal, o que
motiva a determinação da função Custo Marginal. E, em análises feitas em economia e gestão,
define-se a função Custo Marginal, simbolizada por Cmg , como a derivada da função Custo,
isto é, Cmg = C ' (q ) . Donde, se tivermos:

C (q) = 0.1q 3 − 18q 2 + 1500q + 10000 ,


então,
Cmg = C ' (q) = 0.3q 2 − 36q + 1500 .

Com este tipo de função, os economistas e os gestores têm o interesse em avaliar como variam os
custos em determinados níveis de produção na medida em que ocorrem variações nas quantidades
produzidas.

Este conceito de custo marginal pode também ser estendido para a análise de outras funções
como: Receita Marginal, Lucro Marginal, Custo Médio Marginal, Produção Marginal, etc. Assim,
formulamos em seguida as correspondentes definições.

Função “Receita Marginal”:


Dá-nos a variação da receita correspondente ao aumento de uma unidade na venda de um
produto. A função Receita Marginal, designada por Rmg , é obtida pela derivada da
Função Receita R (q ) e escreve-se: Rmg = R' (q ) .

N.B.: A Receita na venda de um produto é dada por R = p ⋅ q onde p é o preço em função da


quantidade demandada q.

Função “Lucro Marginal”:

Dá-nos a variação do lucro correspondente ao aumento de uma unidade na venda de um


produto. A função Lucro Marginal, designada por Lmg ou π mg , é obtida pela derivada da
Função Lucro L(q ) ou π (q ) e escreve-se: Lmg = L' (q ) ou π mg = π ' (q ) .

Função “Custo Médio Marginal’:

A função “Custo Médio”, designada por C me é obtida dividindo-se a função Custo C (q )


C (q)
pela quantidade q produzida, ou seja, C me = .
q
A função “Custo Médio Marginal” dá-nos a variação do custo médio de um produto
correspondente ao aumento de uma unidade na produção dele. Esta é obtida pela derivada
da função Custo Médio e escreve-se: C me mg = C ' me (q)

Função “Produção Marginal”:

Dá-nos a variação da produção correspondente ao aumento de uma unidade na


quantidade de insumos (factor de produção = ou capital; ou mão-de-obra; ou matéria-
prima; etc.), utilizado na produção. A função Produção Marginal, designada por Pmg é
obtida pela derivada da função Produção P (q ) e escreve-se: Pmg = P ' (q ) .

De forma análoga são também estudadas funções marginais como as funções: “Propensão
Marginal a Consumir”; Propensão Marginal a Poupar.

Propensão Marginal a Consumir e a Poupar


Designando o consumo c como função da renda y por c = f ( y ) e a poupança s em função da
renda y por s = f ( y ) . Como seria de imaginar, o aumento da renda das famílias pode resultar
nos aumentos do consumo e da poupança. Assim, pode-se dizer que para as famílias, por
exemplo, o consumo somado à poupança se iguala à renda, ou seja, y = c + s . Isto permite por
sua vez dizer que a poupança das famílias é igual à diferença entre a renda e o consumo, ou seja,
s = y − c . E, sendo o consumo uma função da renda, é comum analisar a variação do consumo
correspondente à renda. Tal análise relativa à taxa de variação do consumo em relação à renda é,
portanto, a derivada do consumo em relação à renda e é conhecida por Propensão Marginal a
Consumir e mede em quanto aumenta o consumo quando há aumento de uma unidade na renda e
escreve-se,
dc
Propensão Marginal a Consumir: c mg = c' ( y ) = .
dy
De forma análoga, também pode-se analisar a variação na poupança relativamente à variação da
renda, isto é, a taxa de variação da poupança em relação à renda; ou seja, a derivada da poupança
em relação à renda e que é conhecida por Propensão Marginal a Poupar e mede em quanto
aumenta a poupança quando há o aumento de uma unidade na renda. Simbolicamente escreve-se,
ds
Propensão Marginal a Poupar: s mg = s ' ( y ) = .
dy
Ora, tomando em conta o que foi anteriormente referido que y = c + s , e derivando esta
expressão em relação a y obtém-se:
dy dc ds dc ds
= + ou seja, 1 = + ,
dy dy dy dy dy

significando isto que a soma da Propensão Marginal a Consumir com a Propensão Marginal a
Poupar é igual à unidade. Isto é, c mg + s mg = 1 . E, sendo as funções c e s crescentes, as referidas
derivadas são positivas e portanto teremos:
c mg = 1 − s mg ou s mg = 1 − c mg ; (com 0 < c mg < 1 e 0 < s mg < 1 ).
Em geral usa-se funções do primeiro grau para expressar as funções do consumo e da poupança.
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ELASTICIDADE: Considerações Teóricas

Elasticidade–preço da Demanda
Usa-se para avaliar a “sensibilidade” da demanda em relação às mudanças de preços e
dq p
denota-se por E = ⋅ e dá-nos aproximadamente a variação percentual da demanda
dp q
mediante o aumento de 1% no preço.

Classificação da Elasticidade–preço da Demanda:

i. Se | E |< 1 ; então a demanda é inelástica em relação ao preço, ou seja, a demanda é


pouco “sensível” à variação do preço em um determinado nível.
ii. Se | E |> 1 ; então a demanda é elástica em relação ao preço, isto é, a demanda é
bastante “sensível” à variação do preço em determinado nível.
iii. Se | E |= 1 ; então a demanda tem elasticidade unitária em relação ao preço.

Exemplo/Exercício: A demanda para um certo produto é dada por q = 100 − 5 p , onde o preço
varia no intervalo 0 ≤ p ≤ 20 .
a) Obtenha a função que dá a elasticidade-preço da demanda para cada preço:
dq p (100 − 5 p )'. p − 5p
{Resolução: E = ⋅ = = }
dp q (100 − 5 p ) 100 − 5 p
b) Obtenha a elasticidade para os preços p = 5 , p = 10 e p = 15 e interprete as respostas.

[Sol.: Para p = 5 ⇒ E ≅ −0.33 , indicando que, se ocorrer um


aumento de 1% para o preço p = 5 , a demanda diminuirá 0.33%
aproximadamente. Para p = 10 ⇒ E = −1 , indicando que se ocorrer
um aumento de 1% no preço p = 10 , a demanda cairá 1%
aproximadamente. Para p = 15 ⇒ E = −3 , indicando que se ocorrer
um aumento de 1% no preço p = 15 , a demanda cairá 3%,
aproximadamente]
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Elasticidade–renda da Demanda

A Elasticidade-renda da Demanda mede a sensibilidade da demanda mediante o aumento em


1% na renda do consumidor. Ora, se a demanda q é uma função da renda r, então a
dq r
elasticidade-renda da Demanda será dada por, E = ⋅ . Assim, como para a maioria dos
dr q
produtos, a demanda aumenta quando a renda aumenta, considera-se aqui apenas a
elasticidade positiva que pode ser classificada como:

Classificação da Elasticidade–renda da Demanda:

(i) Se E < 1 ; então a demanda é inelástica em relação à renda.


(ii) Se E > 1 ; então a demanda é elástica em relação à renda, isto é, a demanda é bastante
“sensível” à variação da renda em determinado nível.
(iii) Se E = 1 ; então a demanda tem elasticidade unitária em relação à renda.

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Relação entre receita e Elasticidade–preço da Demanda

A partir da elasticidade podemos tirar conclusões a respeito do aumento ou da diminuição da


receita. Para tal, vamos estabelecer a receita como função do preço e obter a derivada em relação
ao preço:

R ( p ) = p.q
R ' ( p) = ( p.q)' = p '.q + p.q'
q
R' ( p) = q + p.q ' = ⋅ (q + p.q' )
q
q q p
R' ( p) = ⋅ q + p.q ' = q + q ⋅ ⋅ q'
q q q
⎛ p ⎞
R ' ( p ) = q⎜⎜1 + q ' ⎟⎟ ,
⎝ q ⎠
ou melhor,
⎛ p dq ⎞ p dq
R ' ( p) = q⎜⎜1 + ⋅ ⎟⎟ . Sendo ⋅ =E,
⎝ q dp ⎠ q dp
temos,

R ' ( p ) = q (1 + E )
Esta última expressão R ' ( p ) = q (1 + E ) usa-se para estabelecer o comportamento da receita a

= q(1 + E ) . Considerando a receita como função


dR
partir dos valores da elasticidade e anota-se
dp
do preço e E a elasticidade-preço da Demanda ocorrendo num pequeno aumento no preço, então:

(i) Se | E |< 1 ; a receita aumenta.


(ii) Se | E |> 1 ; a receita diminui.
(iii) Se | E |= 1 ; a receita permanece constante.
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Problema de Controlo de Stock:

Um problema enfrentado por diversas companhias é o de controlo de stock de mercadorias.


Idealmente o gerente deve garantir que a companhia tenha stock suficiente para atender à
demanda dos clientes em todos os momentos. Ao mesmo tempo, ele deve garantir que isso
aconteça sem excesso de stock (que incorre em custos de armazenagem desnecessários) e sem ter
de encomendar dos fornecedores com muita frequência (que incorre em custos de transporte
desnecessários). Assim, um problema de stock refere-se então ao Lote Económico de Compra
(LEC) e trata da determinação da quantidade ideal a ser comprada a um custo mínimo para um
período de tempo t, que na maioria dos casos é dotado anualmente. Com efeito, considerando:

D - como representando a demanda anual de mercadorias ou materiais em unidades a


serem vendidas ou consumidas no período de tempo t pelos seus clientes, considerando
que a taxa de consumo é constante ao longo do tempo, consumindo quantidades iguais
por unidade de períodos,
CP – representando os custos do pedido ou de aquisição, (o que inclui os custos de
preparação e inspecção durante a entrega, mais os custos de transportes, que incluem
taxas e fretes),
CT – representando o custo associado à existência de stock ou custo unitário de
manutenção, ou ainda custo de armazenagem;

Então, o custo total neste caso é dado por: CT = C P + C E ,


onde,
CP = (custos de pedidos) x (número de pedidos anuais)
CE = (custo de armazenar uma unidade /ano) x (no médio de unidades no armazém)
D Q
A fórmula anterior ( CT = C P + C E ) também poderá tomar a forma : CT = C P ⋅ + CE ⋅ ,
Q 2
sendo
D – a demanda anual

Q – a quantidade a ser comprada

Q
- o stock médio (definido intuitivamente)
2

C P ( anual ) = C P ⋅ Q
D = custo de pedido

Q
C E ( anual ) = C E ⋅ 2
= custo de armazenagem anual relativo à armazenagem do stock
médio.
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Exemplo/Exercício:

A Direcção da única empresa de Importação-Exportação e revenda de motocicleta de 250cc


estima que a demanda dessas motocicletas é de 10 000 unidades por ano e que elas serão
vendidas a uma taxa uniforme ao longo do ano. O custo de encomenda de cada carregamento de
motocicletas é de $10 000, e o custo anual de stock de cada motocicleta é de $200. Ora, a
Direcção da empresa enfrenta o seguinte problema: Encomendar muitas motocicletas de uma só
vez ocupa valioso espaço de armazenagem e aumenta o custo de stock. Por outro lado, fazer
encomenda com muita frequência aumenta o custo de encomendas. Qual a quantidade que deve
ser encomendada, e com que frequência, para minimizar os custos de encomenda?
D Q
Resolução: - Recorrendo à fórmula CT = C P ⋅ + CE ⋅ .
Q 2
Seja: D = 10 000 unidades ,
Q = x,
C P = $10 000 ,
C E = $200 .
10000 x 100.000.000
Então, CT = $10000 ⋅ + $200 ⋅ = + 100 x .
x 2 x

Donde, para minimizar o custo total da encomenda faz-se:


100.000.000
CT' = 100 −
x2
e, CT' = 0 ⇔ x = ±1000 ,

servindo apenas o valor positivo x = 1000 .

Calculando agora a segunda derivada, tem-se:

200.000.000
CT" ( x) = > 0 para x = 1000 ,
x3
significando isso que o custo mínimo será obtido quando a encomenda for de 1000
motocicletas em cada lote, totalizando 10 lotes ao ano e o preço de cada lote neste caso
seria de $200.000.

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