DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA ICEx - UFMG

Fundamentos Geometria Plana e Desenho Geométrico

GRUPO DE ISOMETRIAS DA GEOMETRIA EUCLIDIANA

1 EXEMPLOS DE ISOMETRIAS
(a) Reflexões em relação a retas Rr ;

(b) Translações TAB ;

(c) Rotações ∆O;θ em torno do ponto O e de ângulo θ, em particular ∆O;0 = Id e ∆O;π Reflexão
em ponto (ou simetria central).

Observação 1 Lembre que composta de isometrias é uma isometria. Como foi observado ante-
riormente a composta de duas reflexões não é isometria. É fácil mostrar que a composta de duas
Translações é uma Translação.

Exemplo 1 Reflexões Deslizadas: Dada a isometria de reflexão na reta r (Rr ) e uma iso-
metria de translação na direção de r (ié, TAB , com A e B ∈ r, A 6= B) a composta TAB ◦ Rr é
uma isometria.

Dada uma transformação T : P → P; um ponto Q ∈ P é dito ponto fixo da transformação T se

T (Q) = Q. Por exemplo:
(a) para a transformação identidade Id : P → P, todo ponto é ponto fixo (Id(Q) = Q, ∀Q ∈ P);

(b) para uma Reflexão Rr , todo ponto da reta r é um ponto fixo (Rr (Q) = Q, ∀Q ∈ r);

(c) toda translação (não trivial) não possui ponto fixo (TAB (Q) 6= Q, ∀Q ∈ P).

(d) toda rotação ∆O;θ com 0 < θ ≤ π, possui um único ponto fixo O (∆O;θ (O) = O).

(e) Reflexões deslizadas não possuem ponto fixo.

Teorema 1 Seja T : P → P uma isometria do plano, se tiver três pontos fixos não colineares
então T = Id.

Prova: Sejam A, B e C três ponto fixos de T e não colineares (isto é, T (A) = A, T (B) = B e
T (C) = C e são não colineares).

Para mostrar que T = Id, temos que mostrar que T (P ) = P, ∀P ∈ P. Suponha que existe
P ∈ P tal que P 6= T (P ) = P 0 .

Como T é isometria AP = T (A)T (P ) = AP 0 , logo AP = AP 0 , então A pertence à mediatriz

(m) do segmento P P 0 , ver figura abaixo.

Da mesma forma temos: BP = T (B)T (P ) = BP 0 e CP = T (C)T (P ) = CP 0 , logo os ponto

B e C também pertencem à mediatriz m do segmento P P 0 , por tanto A, B e C são colineares,
isto é um absurdo. O que mostra o teorema.

2 Grupo de Isometria

Teorema 2 A composta de duas reflexões em retas distintas r1 e r2 é

(i) Uma translação, se r1 e r2 forem paralelas;

(ii) Uma rotação, se forem concorrentes.

Prova: Caso (i) Sejam r e s duas retas paralelas, denotemos por d = dist(r, s) = CD com C e
D sobre a reta perpendicular às paralelas, ver figura abaixo, nela colorimos de azul a reta r e
vermelho a reta s. Vamos a mostrar que a composta das reflexões Rr seguido de Rs ( Rs ◦ Rr ) é
uma translação na direção de um segmento orientado CD0 de comprimento 2d com C − D − D0 .

Seja P um ponto no semiplano inferior de r com a = dist(P, r) < d, então P 0 = Rr (P )

esta entre as duas paralelas, a = dist(P 0 , r); então P 00 = Rs (P 0 ) esta no semiplano superior
de s, denotemos por b = dist(P 0 , s) = dist(P 00 , s). Com isto P 0 P 00 esta numa perpendicular às
paralelas e P 0 P 00 = 2(a + b) = 2d.

Seja Q um ponto no semiplano inferior de r (Q0 = Rr (Q)) com a = dist(Q, r) > d e

dist(Q0 , s) < d, então Q00 = Rs (Q0 ) esta entre as duas paralelas, logo a = dist(Q0 , r) e dist(Q00 , s) =
b. Nesta situação temos que d = a − b e que Q0 Q00 esta numa perpendicular às paralelas e
Q0 P 00 = 2(a − b) = 2d.
Para todas as outras posições do ponto P (ou Q) segue o mesmo raciocinio.

Caso (ii) sejam r e s duas retas concorrentes com ponto de interseção O ∈ r ∩ s, denotemos
por θ = ∠(r, s), ver figura abaixo, nela colorimos de vermelho a reta r e azul a reta s. Vamos a
mostrar que a composta das reflexões Rr seguido de Rs ( Rs ◦ Rr ) é uma rotação em torno do
ponto O e ângulo 2θ. Veja a figura abaixo e complete todos os casos.

Teorema 3 Seja T uma isometria do plano, se tiver pelo menos um ponto fixo então T é uma
reflexão ou uma rotação.
Prova: Seja O um ponto fixo (T (O) = O) e A um ponto qualquer, se for ponto fixo T (A) = A,
←→
a reta r = OA é levada por T na mesma reta r = T (r) (T é isometria), mais ainda como T
fixa O e A, então para qualquer X ∈ r temos que T (X) = X. Agora seja P no plano (P ∈ / r),
como OP = OP 0 , então P 0 pertence à circunferência com centro O e raio OP , da mesma forma
AP = AP 0 , então P 0 pertence à circunferência com centro A e raio AP , ver figura abaixo à
esquerda. Logo P 0 pertence ao semiplano oposto com relação a r e é equidistante com elação a
r. Assim T é uma reflexão na reta r (T = Rr ).
 No outro caso, se T (A) = A0 6= A. Como OA = T (O)T (A) = OA0 , então O pertence
à mediatriz m do segmento AA0 , denotemos por Rm a reflexão em m ver figura acima, então
a composta Rm ◦ T possui dois pontos fixos Rm ◦ T (O) = O e Rm ◦ T (A) = A, ver figura
←→
acima à direita. Pelo item anterior Rm ◦ T é uma reflexão em torno da reta f = OA, logo
−1
Rm ◦ T = Rf ⇒ T = Rm ◦ Rf , pelo teorema 2(ii) T é uma rotação.

Nota: Da demonstração anterior temos que, se T possui dois pontos fixos, então é uma
reflexão. No caso que tiver um único ponto fixo é uma rotação.

Teorema 4 Grupo de Isometria. Qualquer Isometria da Geometria Euclidiana é uma re-

flexão, translação ou rotação ou composição das aplicações anteriores, além da aplicação identi-
dade e reflexão em ponto.

Prova: Pelos teoremas anteriores só falta caracterizar isometria sem pontos fixos. Seja L : P → P
uma isometria sem pontos fixos. Seja P ∈ P denotemos por P 0 = L(P ); fixemos um segmento
−→
orientado AB paralelo e congruente a P P 0 , denotemos por TAB a translação, pela definição
−1
TAB (P ) = P 0 e TAB (P 0 ) = P .
−1
A composta H = TAB ◦ L é uma isometria com pelo menos um ponto fixo (H(P ) = P ),
ver figura abaixo, do teorema anterior H é uma reflexão ou uma rotação, então L = TAB ◦ H,
consequentemente nossa isometria L ou é composta de translação com reflexão ou é composta
de translação com rotação.

Mostre que: se H for uma rotação então L é uma rotação da mesma amplitude que H. se H
for uma reflexão então mostre que L é uma reflexão deslizada.

Exercı́cio 1: Mostrar que a composta (por alguma ordem) das reflexões nas três bissetrizes
de um triângulo é a reflexão na reta perpendicular a um dos lados que passa pelo incentro do
triângulo.

Exercı́cio 2: (a) Mostre que a composta (por alguma ordem) das tres reflexões nas mediatrizes
de um triângulo é uma reflexão na reta que une algum dos vértices ao circucentro do triângulo.

(b) Seja ABCD um paralelogramo, e sejam h1 , h2 e h3 as alturas de 4ABC por A, B e

C respectivamente. Seja Rhi a reflexão na reta hi para i = 1, 2, 3. Mostre que a composta
←→
Rh1 ◦ Rh2 ◦ Rh3 é a reflexão na reta DH, onde H é o ortocentro de 4ABC.