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COORDENADAS POLARES.

Introduziremos um novo sistema de coordenadas planas que, para certas


curvas e problemas de lugar geométrico, apresenta algumas vantagens em relação às coordenadas
retangulares, além de facilitar, em alguns casos, o cálculo de integrais (em outra disciplina).

No sistema de coordenadas retangulares a localização de um ponto P do plano é dada através da


distância de P a duas retas perpendiculares fixas denominadas de eixos coordenados. No sistema
de coordenadas polares, as coordenadas de um ponto consistem de uma distância e da medida de
um ângulo, em relação a um ponto fixo e a uma semi-reta fixa.

Fixados um ponto O , denominado pólo ou origem e uma semi-reta de origem nesse ponto,
denominada de semi-eixo polar podemos localizar qualquer ponto P do plano se conhecermos a
sua distância ao pólo e o ângulo θ que o segmento OP faz com o semi-eixo polar.
P
r

θ
O
semi-eixo polar
pólo

As coordenadas de um ponto P são representadas pelo par P (r , θ ) no qual


• r é denominado raio vetor ou raio polar e corresponde à distância de P ao pólo.
• θ é denominado ângulo vetorial ou ângulo polar ou argumento e corresponde ao ângulo de
rotação do semi-eixo polar até o segmento OP .
• θ > 0 se a rotação for no sentido anti-horário.
• θ < 0 se a rotação for no sentido horário.
• θ pode ser medido em graus ou radianos.

Denominamos
• eixo polar – a reta orientada que contém o semi-eixo polar.
• eixo a 90º ou eixo ortogonal – a reta que passa pelo pólo e é ortogonal ao eixo polar.

 π  −π 
Exemplo: Marcar no sistema polar os seguintes pontos: P  3,  ; Q  2,  ; R ( 4,90º ) e S ( 2, 0º ) .
 4  3 
P
R

π/4 S

-π/3

Podemos considerar o raio vetor como distância orientada de um ponto P ao pólo O da seguinte
maneira:
• Se r < 0 giramos o semi-eixo polar de ângulo θ e na semi-reta oposta marcamos r
unidades, a partir do pólo.

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Exemplo: Marcar os pontos P ( −2, 45º ) ; Q ( −1, −30º ) ; R ( −2,180º ) .

Q
π/4 R
O
−30°

 π  7π   −5π   −11π 
Exemplo: Representar P1 1,  ; P2  −1,  ; P3  −1,  ; P4 1, .
 6  6   6   6 

P1 P2 P4
P3 −11π/6
7π/6
π/6

−5π/6

Observamos pelo exemplo anterior que um mesmo ponto P pode ser obtido por vários pares de
coordenadas polares. De um modo geral, conhecidas as coordenadas de um ponto P (r , θ ) , r ∈ e
θ em radianos, P também pode ser representado por ( r ,θ + 2π n ) ou ( −r ,θ + 2π n + π ) que resulta

( )
na única expressão (−1) n r , θ + nπ , n ∈ . A menos que P seja o pólo, esta expressão representa
todas as possíveis coordenadas polares de P .

Observações:

1. No caso de coordenadas polares não existe uma correspondência biunívoca entre pares e
pontos, como no caso das cartesianas. É justamente este fato que leva a resultados que, em
alguns casos, diferem dos obtidos no sistema retangular.

2. Dados P1 ( r1, θ 1 ) e P2 ( r2 ,θ 2 ) então P1 = P2 ⇔ r1 = r2 = 0 ou ∃ n ∈ tal que r2 = (−1) n r1


e θ 2 = θ1 + nπ .

3. Se P é o pólo, então ( 0,θ ) representa P qualquer que seja θ .

4. Entre os infinitos pares de coordenadas polares de um ponto P diferente do pólo, existe um


único par com raio vetor r positivo e θ ∈ [ 0, 2π [ . A este par ( r0 ,θ0 ) tal que r0 > 0 e
0 ≤ θ0 < 2π denominamos par ou conjunto principal de coordenadas polares do ponto P .

5. Convencionamos que o par principal do pólo é P ( 0, 0 ) .

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Exemplos:

1) Determine mais três pares de coordenadas para os seguintes pontos:

 π  −π   5π   −7π 
a) P  3,  . Solução. P1  −3,  ; P2  −3,  ; P3  3, .
 4  4   4   4 

b) Q (1, π ) . Solução. Q1 ( −1, 0 ) ; Q2 (1,3π ) ; Q3 ( −1, 2π ) .

(
2) Determine o par principal de coordenadas polares do ponto P 2, −870o . )
Solução. O par principal P ( r0 ,θ0 ) deve ter r0 > 0 e 0 ≤ θ0 < 2π . Assim, −870o = −2360o − 150o e
−150o corresponde a 210o . Logo, as coordenadas principais do ponto são 2, 210o . ( )
Equações polares equivalentes. Uma equação polar é uma equação dada em coordenadas polares,
isto é, que contém como variáveis os parâmetros que representam o raio e o ângulo vetorial do
sistema polar. Assim, uma equação polar é escrita na forma f (r , θ ) = 0 .

O lugar geométrico determinado por uma equação polar f (r , θ ) = 0 é formado por todos os pontos
e somente aqueles que tiverem pelo menos um par de coordenadas polares que satisfaça a equação.
Assim, é possível que um ponto P ( r0 ,θ0 ) esteja no lugar geométrico sem que suas coordenadas
satisfaçam a equação.

Exemplos:
1. A equação r = 2 corresponde à circunferência de centro no pólo e raio 2. O ponto
 π
P  −2,  pertence à circunferência, mas não satisfaz a equação. Mas, este mesmo ponto
 2
 3π 
tem coordenadas  2,  que satisfaz a equação. Por outro lado, a equação r = −2
 2 
representa a mesma circunferência. As equações r = 2 e r = −2 são ditas equivalentes.

2. A equação θ = 0 é a equação do eixo polar. As equações θ = nπ são equações equivalentes


do eixo polar.

Equação polar × Equação cartesiana. Dado um ponto P do plano tendo como coordenadas
polares P (r , θ ) e coordenadas cartesianas P ( x, y ) temos as seguintes relações entre x, y, r e θ .

P(x,y)

r  x = r cos θ  y
  tg θ = x
θ  y = r sen θ e 
 2 r = ± x 2 + y 2
x + y = r
2 2

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Exemplos:

1) Encontre o conjunto principal de coordenadas polares para o ponto P − 3,1 . ( )


π π
(− 3) 1 1
2
Solução. r = + 1 = 2 e tg θ = =− ⇒ θ = + . O conjunto principal de
− 3 3 2 3
 5π 
coordenadas é portanto  2,  .
 6 

 3π 
2) Encontre as coordenadas cartesianas do ponto P  2, −  .
 4 
  −3π   2
 x = r cos θ = 2 cos   = 2  −  = −1
  4   2 
Solução. Temos que 
  −3π   2
 y = r sen θ = 2 sen  4  = 2  − 2  = −1
    
O ponto P tem, portanto, coordenadas cartesianas P ( −1, −1) .

3) Encontre uma equação polar para as curvas cujas equações cartesianas são
a) x 2 + y 2 = 1
Solução. x = r cos θ e y = r sen θ ⇒ ( r cos θ ) + ( r sen θ ) = 1 ⇒ r 2 = 1 . Portanto, r = 1 e
2 2

r = −1 são equações polares equivalentes da circunferência de centro na origem e raio 1.

b) x 2 − y 2 = 16
Solução. x = r cos θ e y = r sen θ ⇒ ( r cos θ )2 − ( r sen θ )2 = 16 ( )
⇒ r 2 cos 2 θ − sen 2 θ = 16

⇒ r 2 cos(2θ ) = 16 .

c) y = 3 x
Solução. r sen θ = 3r cos θ ⇒ tg θ = 3 ou θ = arctg(3) .

4) Encontre uma equação cartesiana das curvas cuja equação na forma polar é dada por:

a) r 2 = 2sen(2θ )
Solução. r 2 = x 2 + y 2 e sen(2θ ) = 2 sen θ cos θ implicam em

( x2 + y2 )
x y 4 xy 2
4 x 2 + y 2 = 4sen θ cos θ = 4 = 2 ⇒ = 4 xy .
x +y
2 2
x +y
2 2 x + y 2

6
b) r =
2 − 3sen θ
6
Solução. r = ⇒ 2r − 3r sen θ = 6 ⇒ ±2 x 2 + y 2 − 3 y = 6 ⇒ 4 x 2 − 5 y 2 − 36 y = 36 .
2 − 3sen θ

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Equação de algumas curvas em coordenadas polares

1. Reta

1.1 Reta que passa pelo pólo.

A equação θ = k representa uma reta que passa pelo pólo. θ


O

1.2 Caso geral

Seja l uma reta e tracemos do pólo até l a normal ON , sendo N ( p, ω ) o ponto de intersecção de
l com a reta ON .

Se P(r , θ ) é um ponto sobre l então r cos(θ − ω ) = p é a equação polar da reta l .

P(r, θ)

r N(p,w)

θ−w p

w
O

Alguns Casos Particulares

Reta perpendicular ao eixo polar

r cos θ = p ( p > 0) – Reta à direita do pólo


N O N
r cos θ = − p ( p > 0) – Reta à esquerda do pólo

Reta perpendicular ao eixo a 90°


N
r sen θ = p ( p > 0) – Reta acima do eixo polar

r sen θ = − p ( p > 0) – Reta abaixo do eixo polar


O

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2 Circunferência

2.1 Circunferência com centro no pólo

A equação da circunferência com centro no pólo e raio a é r = a ou r = − a .

2.2 Circunferência com centro C ( r0 , θ0 ) e raio a .

P(r, θ)

a
C
r
ro
θ − θo

θo

Usando a lei dos cossenos temos a 2 = r 2 + r02 − 2rr0 cos(θ − θ0 ) (I) que é chamada equação padrão
da circunferência.

Casos particulares

Circunferência passa pelo pólo e tem centro no eixo polar.

( )
Neste caso C a, 0o , a > 0 . Substituindo em (I): r 2 = 2ra cos θ . Uma vez que, para r = 0 o ponto
é o pólo, que pertence à circunferência, podemos simplificar e obter r = 2a cos θ .

r = 2a cos θ r = −2a cos θ

C C O
O

Centro à direita do pólo Centro à esquerda do pólo

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Circunferência passa pelo pólo e tem centro no eixo a 90°.

( )
Neste caso C a,90o , a > 0 . Substituindo em (I) temos r 2 = 2ra sen θ . Uma vez que para r = 0 o
ponto é o pólo que pertence à circunferência podemos simplificar e obter r = 2a sen θ .

r = −2a sen θ
r = 2a sen θ
O

C
C

Centro acima do eixo polar Centro abaixo do eixo polar

3. Algumas curvas clássicas em coordenadas polares

3.1) r = 2 + 2 cos θ (cardióide) 3. 2) r = 3cos(2θ ) (rosácea)

3.3) r 2 = 4 cos(2θ ) (lemniscata) 3.4) r = θ (Espiral de Arquimedes)

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Gráficos em coordenadas polares

Circunferências. Considerando a = 2 .

r=a r = 2a cos θ r = 2a sen θ

Limaçons. Considerando a = 3 e b = 2 (a > b) .

r = a + b cos θ r = a − b cos θ

r = a + b sen θ r = a − b sen θ

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Considerando a = 2 e b = 3 (a < b) .

r = a + b cos θ r = a − b cos θ

r = a + b sen θ r = a − b sen θ

Considerando a = 2 .

r = a (1 + cos θ ) r = a (1 − cos θ )

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r = a (1 + sen θ ) r = a (1 − sen θ )

Rosáceas

Considerando a = 2 , n = 3 ( n ímpar).

r = a cos(nθ ) r = a sen(nθ )

Considerando a = 2 , n = 4 ( n par).

r = a cos(nθ ) r = a sen(nθ )

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Espirais

Considerando a = 2 .

a a
r= (θ > 0) r= (θ < 0)
θ θ

r = eaθ (a = 0,1) r = aθ (a = 1)

r= θ r=− θ

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Lista de Exercícios – Coordenadas polares

1. Utilizando um papel de coordenadas polares, posicione os pontos no plano, dadas suas


 π π 3π 3π 4π
coordenadas polares: A  2,  , B(-3, ), C(-5, ), D(6, ), E(1,5, - ), F(-2, 315º),
 3 2 4 4 3
π π
G(4, - ), H(- 2 , - ), I(-3, 15º).
3 6

2. Dados os pontos P1(3, 5π/3), P2(-3, 330o), P3(-1, -π/3), P4(2, -315o), P5(0, 53o), P6(0, eπ) e
P7(1,3), determine:
2.1. a representação gráfica de cada um desses pontos no plano polar;
2.2. três outros conjuntos de coordenadas polares para os pontos P3 e P4;
2.3. as coordenadas retangulares dos pontos P1, P5 e P7;
2.4. quais desses pontos coincidem com o ponto P(3, 2310o);

3. 3.1)Um ponto se move de maneira que, para todos os valores de seu ângulo vetorial, seu raio
vetor permanece constante e igual a 4. Identifique o gráfico do lugar geométrico de P.
3.2) Um ponto se move de maneira que, para todos os valores de seu raio vetor, seu ângulo
vetorial permanece constante e igual a 45o. Identifique e faça o gráfico do lugar geométrico
de P.

4. Um triângulo eqüilátero possui como vértices o pólo e o ponto A(4,0). Determinar as


coordenadas do outro vértice. (dois casos).

5. Um quadrado com centro na origem tem como um dos vértices o ponto A(3, 60º).
Determinar as medidas dos lados e as coordenadas dos outros vértices.

6. Verifique se o ponto P pertence à curva C, quando:


6.1) P(-1, π/6) e C: r2 – 2cos2θ = 0 6.2) P(-1, π/2) e C: r(1 – 3senθ) = 4
6.3) P(4, π/2) e C: r = 4sen3θ 6.4) P(0, π/11) e C: r – 3cosθ + rsenθ = 0

7. Transforme a equação retangular dada em sua forma polar.


7.1) 2x – y = 0 7.2) x2 + y2 – 2y = 0 7.3) xy = 2 7.4) x2 – 4y = 4

8. Transforme a equação polar dada em sua forma retangular (cartesiana).


4 θ
8.1) r cosθ – 2 = 0 8.2) r = 8.3) r = 2 sec2 8.4) r2 = 4 cos2θ
1 + 2 cos θ 2

9. Determine os pontos do eixo polar distando 5 unidades do ponto P(4, 4π/3).

10. Determine a equação polar da reta r que passa pelo ponto P(3, 60o), sabendo que o segmento
OP é normal à reta r.

11. Determine a equação polar da reta r que passa ponto P(-2, 330o) e que:
11.1) é paralela ao eixo a 90o.
11.2) é perpendicular ao eixo polar.
11.3) é paralela à reta s: θ = π/6.

11.4) é perpendicular à reta t : =


1 2
(cos φ + sen φ) .
ρ 2

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