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GEOMETRIA

ANALÍTICA

Cristiane da Silva
O sistema de
coordenadas polares
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar o que são coordenadas polares.


„„ Determinar as coordenadas polares de um ponto, tendo conhecidas
suas coordenadas cartesianas, e vice-versa.
„„ Identificar a equação em coordenadas polares de retas e circunfe-
rências e vice-versa.

Introdução
Neste capítulo, você estudará as coordenadas polares e sua relação com
coordenadas cartesianas. Veremos que, enquanto um ponto no plano
tem apenas um par de coordenadas cartesianas (x,y), ele tem infinitos
pares e coordenadas polares. Além disso, estudaremos a definição de
coordenadas polares e aprenderemos a identificar a equação em coor-
denadas polares de retas e circunferências. Busca-se, assim, aprofundar
os conhecimentos em geometria analítica para que você compreenda
as coordenadas polares.

Coordenadas polares
Thomas (2009) define as coordenadas polares da seguinte forma: fixamos
primeiro uma origem O (chamada polo) e uma semirreta orientada (denomi-
nada eixo polar) a partir de O, como mostra a Figura 1. Então, cada ponto P
pode ser localizado associando a ele um par de coordenadas polares (r,θ), no
qual r é a distância orientada de O a P e θ é o ângulo orientado a partir do
eixo polar até OP.
2 O sistema de coordenadas polares

P(r, θ)
r
Origem (polo)
θ
O x
Eixo polar
Figura 1. Definindo coordenadas polares. Para definir coordenadas
polares no plano, começamos com uma origem, chamada polo, e uma
semirreta orientada, o eixo polar.
Fonte: Adaptada de Thomas (2009).

Outro ponto importante destacado por Thomas (2009) é o fato de que, em


trigonometria, θ é positivo quando medido no sentido anti-horário e negativo
quando medido no sentido horário. O ângulo associado a dado ponto não é
único.

Observe as Figuras 2 e 3.

π 11π
P 2, = P 2, –
6 6
11π

6

θ = π/6
O x
Eixo polar
θ=0

Figura 2. Coordenadas polares.


Fonte: Adaptada de Thomas (2009).
O sistema de coordenadas polares 3

θ = π/6
7π/6

π/6
x
O θ=0

7π π
P 2, = P –2,
7π 6 6
θ=
6

Figura 3. Coordenadas polares com valores negativos de r.


Fonte: Adaptada de Thomas (2009).

O ponto a duas unidades da origem, na semirreta θ = π , tem coordenadas polares


6
π
r = 2, θ = 6 , mas também tem coordenadas r = 2, θ = – 11π como mostra a Figura 2. Há
6
ocasiões em que desejamos permitir que r seja negativo, por isso usamos a distância

orientada na definição de P(r,θ). O ponto P 2, 7π
6 pode ser alcançado rodando 6 radianos
P 2,
no sentido anti-horário a partir do raio inicial e indo duas unidades em frente, como
π
mostra a Figura 3. Ele também pode ser alcançado rodando θ = radianos no sentido
6
anti-horário e voltando 2 unidades. Então o ponto tem também as coordenadas
polares r = –2, θθ == π .
6

π
Determine todas as coordenadas polares do ponto P 2, .
6
Solução:
Esboçamos o eixo polar do sistema de coordenadas, desenhamos a semirreta a
π
partir da origem que forma um ângulo de θ = radianos com o raio inicial e marcamos
π 6
o pontoP 2, 6 , como mostra a Figura 4. Determinamos então os ângulos para os outros
pares de coordenadas polares para o ponto P nos quais r = 2 ou r = –2.
4 O sistema de coordenadas polares

π 5π
7π/6 2, = –2, –
6 6

= –2,
π 6
6 etc.
x
O Eixo polar

–5π/6
π
Figura 4. Ponto P 2, com infinitos pares de coordenadas polares.
6
Fonte: Adaptada de Thomas (2009).

Para r = 2, a lista completa de ângulos é θ.

Para r = –2, os ângulos são:

Os pares correspondentes de coordenadas polares de P são, então:

π 5π
Quando n = 0, as fórmulas fornecemP 2,
6
e –2, –
6 . Quando n = 1, as fórmulas fornecem
13π
2,
6
e –2, 7π
6
, e assim por diante.

Coordenadas polares de um ponto


Observe a Figura 5, na qual o polo do sistema de coordenadas polares coin-
cide com a origem do sistema de coordenadas cartesianas, e o eixo polar foi
sobreposto ao semieixo positivo das abscissas. Conhecidas as coordenadas
O sistema de coordenadas polares 5

polares r e θ de um ponto, podemos determinar suas coordenadas cartesianas


x e y por meio das relações:

x
Figura 5. Coordenadas polares e coordenadas cartesianas.
Fonte: Adaptada de Santos e Ferreira (2009).

Note que as equações e


são válidas somente se r ≠ 0. Em particular, se r = 0, as coordenadas polares
(0,θ), para qualquer valor de θ, sempre se referem ao polo, cujas coordenadas
cartesianas são (0,0) (SANTOS; FERREIRA, 2009).

π
Determine as coordenadas cartesianas do ponto P cujas coordenadas polares são P 4, .
x y 6
Das equações cos(θ) = ∴ x = r cos(θ) e sen(θ) = ∴ y = r sen(θ), temos:
r r
6 O sistema de coordenadas polares

Assim, as coordenadas cartesianas de P são P(2√3,2).


Fonte: Santos e Ferreira (2009).

Analogamente, conhecidas as coordenadas cartesianas de x e y de um ponto,


é possível determinar suas coordenadas polares r e θ por meio das equações:

Quando usarmos essas equações, devemos atentar para que os valores


de r e θ sejam consistentes com o quadrante em que se encontra o ponto de
coordenadas cartesianas (x,y). Sem perda de generalidade, podemos considerar
r ≥ 0, isto é, (SANTOS; FERREIRA, 2009).
Santos e Ferreira (2009) destacam ainda que a função arco-tangente tem
imagens restritas ao intervalo aberto , e o valor do ângulo θ pode ser
obtido por meio de uma das expressões:

Vejamos, no exemplo, como Thomas (2009) relaciona as coordenadas


polares e cartesianas.
O sistema de coordenadas polares 7

Quando usamos coordenadas polares e cartesianas em um plano, colocamos as duas


origens juntas e fazemos o eixo polar coincidir com o eixo x positivo. A semirreta
θ = π2 , r > 0 fica sendo então o eixo y positivo, como mostra a Figura 6. Os dois sistemas
de coordenadas estão, portanto, relacionados pelas equações a seguir.

π
Raio θ =
2

P(x, y) = P(r, θ)

Origem r
y
comum θ = 0, r >_ 0
θ
x
0 x Eixo polar

Figura 6. Maneira usual de relacionar coordenadas polares e cartesianas.


Fonte: Adaptada de Thomas (2009).

x = rcosθ, y = rsenθ, x2 + y2 = r2

As duas primeiras equações determinam as coordenadas cartesianas x e y quando


são dadas as coordenadas polares r e θ. Por outro lado, quando x e y são dadas, a
terceira equação fornece duas escolhas possíveis de r (um valor positivo e um negativo).
Para cada seleção, existe um único θϵ[0,2π) satisfazendo as duas primeiras equações,
cada uma fornecendo, então, uma representação em coordenadas polares do ponto
cartesiano (x,y). As outras representações do ponto em coordenadas polares podem
ser obtidas a partir dessas duas.
O quadro a seguir apresenta algumas equações equivalentes.
8 O sistema de coordenadas polares

Equação polar Equação cartesiana equivalente

rcosθ = 2 x=2

r2cosθsenθ = 4 xy = 4

r cos θ – r sen θ = 1
2 2 2 2
x2 – y 2 = 1

r = 1 + 2rcosθ y2 – 3x2 – 4x – 1 = 0

r = 1 – cosθ x4 + y4 + 2x2y2 + 2x3 + 2xy2 – y2 = 0


Fonte: Adaptado de Thomas (2009).

Retas e circunferências
Santos e Ferreira (2009) apontam duas estratégias para obtermos a equação
em coordenadas polares de um dado lugar geométrico: a partir da equação
cartesiana do lugar geométrico, utilizar as relações e
para obter a equação correspondente em coordenadas
polares e obter diretamente a equação polar do lugar geométrico a partir de
sua propriedade geométrica.
Vamos identificar agora a equação em coordenadas polares de retas e
circunferências e vice-versa.

Retas
Obtemos as equações polares de retas a partir de suas equações cartesianas.
Vamos considerar as retas verticais que possuem equação cartesiana da forma
x = a. Assim, pela relação , teremos rcos(θ) = a (SAN-
TOS; FERREIRA, 2009). Ao restringir θ ao intervalo , de modo
que cos(θ) ≠ 0, podemos escrever:
O sistema de coordenadas polares 9

Essa é a equação em coordenadas polares de uma reta vertical que passa


pelo ponto de coordenadas cartesianas (a,0). Note que, quando θ varia sobre o
intervalo aberto , obtêm-se todos os pontos da reta vertical. Se a reta
for horizontal, sua equação cartesiana será da forma y = a. E, usando a relação
, teremos rsen(θ) = a (SANTOS; FERREIRA, 2009).
Restringindo θ ao intervalo 0 < θ < π, de modo que sen(θ) ≠ 0, podemos
escrever:

Essa é a equação em coordenadas polares de uma reta horizontal que


passa pelo ponto de coordenadas cartesianas (0,a). Note que, quando θ varia
sobre o intervalo aberto 0 < θ < π, obtêm-se todos os pontos da reta horizontal
(SANTOS; FERREIRA, 2009). Se a reta tem equações cartesianas da forma
y = ax (reta não vertical e que passa pela origem), obtemos:

rsen(θ) = a r cos(θ)  ∴  sen(θ) = acos(θ)  ∴  tg(θ) = a

Considerando que o coeficiente angular é a reta tangente da inclinação ∝


da reta, temos:

tg(θ) = tg(a)  ∴  θ = ∝

Essa é a equação em coordenadas polares de uma reta (não vertical) que


passa pela origem.

Circunferências
Considere um ponto P qualquer, de coordenadas polares P(r,θ), sobre a
circunferência de raio a e centro no ponto C, de coordenadas polares C(b,∝),
como mostra a Figura 7. Aplicando a lei dos cossenos no triângulo POC,
obtemos a 2 = b 2 + r 2 – 2brcos(θ – ∝). Isolando r 2 nessa equação, obtemos a
equação polar geral da circunferência com centro no ponto C(b,∝) e raio a:
r 2 = a 2 – b 2 + 2br cos(θ – ∝).
Nessa última equação, obtemos todos os pontos da circunferência quando
o ângulo θ varia no intervalo 0 ≤ θ < 2π. A partir dessa equação, podemos
obter as equações polares de várias circunferências.
10 O sistema de coordenadas polares

P(r, θ)
a
r C(b, α)

θ b
α

O
Figura 7. Circunferência com centro em C(b,∝) e raio a.
Fonte: Adaptada de Santos e Ferreira (2009).

1. Tomando b = 0 na equação r2 = a2 – b2 + 2br cos(θ – ∝), circunferência de raio a


com centro sobre o polo, como mostra a Figura 8, obtemos:
r2 = a2  ∴ r = a

C(0,0) (a,0)

Figura 8. Circunferência em coordenadas polares com centro em C(0,0) e raio a.


Fonte: Adaptada de Santos e Ferreira (2009).
O sistema de coordenadas polares 11

2. Tomando b = a e ∝ = 0 na equação r2 = a2 – b2 + 2brcos(θ – ∝), circunferência de


raio a com centro em (a,0), como mostra a Figura 9, obtemos:
r2 = 2arcos(θ)  ∴  r = 2acos(θ)

C(a,0)

Figura 9. Centro(a,0).
Fonte: Adaptada de Santos e Ferreira (2009).

3. Tomando b = a e ∝ = π na equação r2 = a2 – b2 + 2brcos(θ – ∝), circunferência de


raio a com centro em (a,π), como mostra a Figura 10, obtemos:
r2 = 2arcos(θ – π)  ∴ r = –2acos(θ)

C(a,π)

Figura 10. Centro (a,π).


Fonte: Adaptada de Santos e Ferreira (2009).
12 O sistema de coordenadas polares

π
4. Tomando b = a e α = na equação r2 = a2 – b2 + 2br cos(θ – ∝), circunferência
2 π
de raio a com centro em a, , como mostra a Figura 11, obtemos:
2

C(a, π )
2

Figura 11. Centro C(a, π ) .


2
Fonte: Adaptada de Santos e Ferreira (2009).

π
5. Tomando b = a e αα==– na equação r² = a² – b² + 2br cos(θ – ∝), circunferência
2 π
de raio a com centro em a, – , como mostra a Figura 12, obtemos:
2

π
C(a, – )
2

Figura 12. Centro C(a, – π ) .


2
Fonte: Adaptada de Santos e Ferreira (2009).
O sistema de coordenadas polares 13

Acompanhe, a seguir, alguns exemplos envolvendo o sistema de coorde-


nadas polares.

Exemplo 1 — Determine as coordenadas polares do ponto P cujas coordenadas


cartesianas são . Pela equação , temos:

Pela equação , temos:

Assim, uma das coordenadas polares de P é .


Fonte: Santos e Ferreira (2009, p. 114); Thomas (2009, p. 33–34).

Exemplo 2 — Determine uma equação polar do círculo x2 + (y – 3)2 = 9, como


mostra a Figura 13.

y
x²+ (y – 3)² = 9
ou
r = 6 senθ

(0,3)

x
0

Figura 13. Círculo.


Fonte: Adaptada de Thomas (2009).
14 O sistema de coordenadas polares

x2 + y2 – 6x + 9 = 9
x2 + y2 – 6x = 0
r2 – 6r senθ = 0
r = 0 ou r – 6 senθ = 0
r = senθ

Fonte: Santos e Ferreira (2009, p. 114).

Exemplo 3 — Substitua as equações polares a seguir por equações cartesianas


equivalentes e identifique os gráficos correspondentes.

a)  r cosθ = –4
b)  r2 = 4r cosθ
c) 

Solução:
Usamos as substituições x = rcosθ, y = rsenθ, x2 + y2 = r2.

a)  r cosθ = –4

A equação cartesiana:

r cosθ = –4
x = –4

O gráfico é uma reta vertical que passa por x = –4 no eixo x.

b)  r² = 4r cosθ

A equação cartesiana:

r2 = 4r cosθ
x2 + y2 = 4x
x – 4x + y2 = 0
2

x2 – 4x + 4 + y2 = 4
(x – 2)2 + y2 = 4

O gráfico é o círculo de raio 2, centro (h,k) = (2,0).


O sistema de coordenadas polares 15

c) 

A equação cartesiana:

r(2cosθ – senθ) = 4
2r cosθ – r senθ = 4
2x – y = 4
y = 2x – 4

O gráfico será uma reta com coeficiente angular m = 2, e com interseção


com o eixo y em b = –4.

Fonte: Santos e Ferreira (2009, p. 114); Thomas (2009, p. 33–34).

Exemplo 4 — Encontre a equação polar da reta y = –2.

Solução:
Devemos usar a fórmula que relaciona y com as variáveis de coordenadas
polares:

y = r senθ

Assim, obtemos:

Para terminar, devemos apresentar a variação de θ. Não queremos que senθ


seja igual a zero. Para cobrirmos toda a reta y = –2, devemos fazer θ∈(–π,π).

Fonte: Santos e Ferreira (2009, p. 114); Thomas (2009, p. 33–34).


16 O sistema de coordenadas polares

SANTOS, F. J.; FERREIRA, F. S. Geometria analítica. Porto Alegre: Bookman, 2009.


THOMAS, G. B. Cálculo. 11. ed. São Paulo: Addison-Wesley, 2009. v. 1.

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