Você está na página 1de 10

GEOMATRIA NÃO EUCLIDIANA E

APLICAÇÕES

Equivalentes Quinto Postulado de Euclides

Fernando Henrique Vital Filho


Universidade Federal de Uberlândia
2023

1
Proposições Equivalentes ao 5º Postulado de Euclides

Proposição 5.1 (Axioma de Playfair). ”Por um ponto fora de uma reta pode-se
traçar uma única reta paralela à reta dada”.

Proposição 5.2. ”A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a um ângulo


raso”.

Proposição 5.3. ”Existe um par de triângulos semelhantes e não congruentes”.

Proposição 5.4. ”Existe um par de retas equidistantes”.

2
Outras Proposições Equivalentes ao 5º Postulado de Eu-
clides
Proposição 5.5. (Transitividade do Paralelismo) Se a reta r é paralela à reta s e a
reta s é paralela à reta t, então a reta r é paralela à reta t.

Resumidamente, a proposição nos diz que:

r//s e s//t ⇒ r//t .

Mostraremos que P5.1 ⇔ P5.5. Como P5.1 ⇔ P5, temos P5.5 ⇔ P5.

Demonstração das implicações P5.1 ⇒ P5.5 e P5.5 ⇒ P5.1.


P5.1 ⇒ P5.5) Se r = t (ou s = t ou s = r), o resultado é trivial.

Sejam, então, as retas distintas r e t, ou seja, r 6= t. Temos duas possibilidades para


as retas:
• r ∩ t = ∅ (r//t) ou
• r ∩ t = P (r e t concorrem em um ponto P).
Suponhamos que r ∩ t = P.

P t

Pela hipótese, como s//r e s//t, P ∈/ s. Pela proposição P5.1 (Axioma de


Playfair), temos que pelo ponto P (P ∈
/ s) passa uma única reta paralela a s. Como
s//r e s//t, temos que r=t. Absurdo!
Logo, r ∩ t = ∅ ⇒ r//t.

P5.5 ⇒ P5.1) Seja r uma reta e P um ponto fora dela (P ∈ / r). Conseguimos
construir uma reta paralela a r passando pelo ponto P sem usar o P5. Para tal,
basta traçar uma perpendicular r’ a r passando por P e uma outra perpendicular s
a r’ passando por P. Pela Proposição 3.3, temos s paralela a r.

r’
P
s

3
. Suponhamos t 6= s uma outra reta paralela a r que passe por P. Assim, temos que
s//r e r//t. Por P5.5, temos que s//t, o que é um absurdo, uma vez que elas se
intersectam no ponto P. Logo, não existe uma outra reta t paralela a r e s é unica.

P t
s

Proposição 5.7. A soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo é sempre
a mesma.

Demonstração das implicações P5.1 ⇒ P5.5 e P5.5 ⇒ P5.1.


P5.2 ⇒ P5.7) Segue diretamente, por P5.2, que a soma dos ângulos internos de
um triângulo é igual a um ângulo raso. Logo, a soma dos ângulos internos é sempre
a mesma.

P5.7 ⇒ P5.7)

4
Proposição 5.8. Dados quaisquer três pontos não colineares, existe um cı́rculo pas-
sando por estes três pontos.

Demonstração das implicações P5.1 ⇒ P5.7 e P5.7 ⇒ P5.1.


P5.5 ⇒ P5.7) Sejam os pontos não colineares P, Q e R e, dessa forma, conside-
remos o triângulo PQR. Sejam as mediatrizes AB e CD dos segmentos QR e RP,
respectivamente.

P
B

C
Q R

Como P, Q e R são não colineares, temos que as mediatrizes AB e CD não são


paralelas. Seja O o ponto de interseção de AB e CD e consideremos os segmentos
OP, OQ e OR.

Q R

Como O está na mediatriz de QR, temos que:

OQ = OR .

Além disso, temos que O também está na mediatriz de PR. Logo,

OP = OR .

Assim, seja OP = OQ = OR = r.
Tomando O como o centro de um cı́rculo de raio r, por P3, temos que o cı́rculo de
centro O e raio r passa por P, Q e R.

5
.
P

Q R

P5.8 ⇒ P5.7) Sejam um cı́rculo de centro O e raio r e P, Q e R três pontos sobre


esse cı́rculo. Consideremos o triângulo PQR.

O r

Q R

Como O é o centro da circunferência, temos que OP = OQ e, assim, O está sobre a


←→ ←→ ←→
mediatriz de P Q. Da mesma forma, O está sobre a mediatriz de QR e de RP .
Sejam as mediatrizes AB e CD dos segmentos QR e RP, respectivamente.

P
B

C O

Q R

6
Proposição 5.9. Se três ângulos internos de um quadrilátero são retos, então o
quarto ângulo também é reto.

Demonstração das implicações P5 ⇒ P5.9 e P5.9 ⇒ P5.


π
P5 ⇒ P5.9) Seja um quadrilátero ABCD tal que A
b=Bb=C b=
2. Consideremos
←→ ←→ ←→ ←→
as retas r = AB, s = CD, m = AD e n = BC.
Pela Proposição 3.3, temos que r//s.
m n

D C
s
θ

r
A B

π π
Pela contrapotiviva de P5, temos que, como r//s, A
b+D
b =θ+
2 =π⇒θ= 2.

←→
P5.9 ⇒ P5.1) Sejam uma reta r = AB e um ponto C fora dela (C ∈ / r). Con-
seguimos contruir, a partir da Proposição 3.3, uma reta s//r. Para tanto, seja uma
reta perpendicular n à reta r no ponto B e uma outra reta perpendicular s à reta n
no ponto C.
Isto posto, consideremos uma reta perpendicular m à reta r no ponto A e seja D o
ponto de intersecção entre as retas m e s.

m n

D C
s

r
A B

7
. Por P5.9, temos que ∠ADC = π2 .
Devemos mostrar, agora, que s é a única reta paralela à reta r passando pelo ponto
D∈ / r.
Assim, seja t6=s uma outra reta paralela a r que passa pelo ponto D.
m n
t
D C
s

r
A B

8
Proposição 5.10. Uma reta que corta uma de duas paralelas, corta também a outra.

Resumidamente, a proposição nos diz que:

r//s e t intersecta r (t 6= r) ⇒ t intersecta s .

Mostraremos que P5.1 ⇔ P5.10. Como P5.1 ⇔ P5, temos P5.10 ⇔ P5.

Demonstração das implicações P5.1 ⇒ P5.10 e P5.10 ⇒ P5.1.


P5.1 ⇒ P5.10) Se r = s, o resultado é trivial.
Dessa forma, sejam as retas paralelas distintas r e s. Seja t 6= r uma reta tal que t
intersecta r no ponto P.

s
P
r

Por P5.1 (Axioma de Playfair), existe somente uma reta paralela a s que passa
por P. Como r//s e t 6= r, temos que t ∦ s e, portanto, t intersecta s.

P5.10 ⇒ P5.1) Seja r uma reta e P um ponto fora dela (P ∈ / r). Conseguimos
construir uma reta paralela a r passando pelo ponto P sem usar o P5. Para tal,
basta traçar uma perpendicular r’ a r passando por P e uma outra perpendicular s
a r’ passando por P. Pela Proposição 3.3, temos s paralela a r.

r’
P
s

Devemos mostrar agora que s é a única reta paralela a r passando por P. Assim,
seja t 6= s uma reta que passa por P. Por P5.10, como t intersecta s, também deve
intersectar r. Logo, t não pode ser paralelo à r.
Portanto, só pode haver uma reta paralela a r que passe por P.

t
P
s

9
Proposição 5.13. Existem retângulos.
(retângulo: quadrilátero com quatro ângulos retos)

Demonstração das implicações P5.1 ⇒ P5.7 e P5.7 ⇒ P5.1.


←→
P5.1 ⇒ P5.13) Seja uma reta r = AB e um ponto C fora dela (C ∈ / r). Por P5.1,
temos que existe uma única reta s paralela à r que passa pelo ponto C. Seja uma reta
transversal m tal que m intersecta r no ponto A e intersecta s no ponto D. Agora,
seja uma reta n paralela à m, tal que n intersecta r no ponto B e intersecta s no
ponto C.

m n

D C
s

r
A B

b = π.
Consideremos o quadrilátero ABCD e suponhamos que B AD 2
Pela contrapositiva de P5, temos que, como r//s, B AD b = π + ADC
b + ADC b = π.
2
b = π.
Logo, ADC 2
b = π . Assim, podemos concluir que
De forma análoga, como m//n, temos que DCB 2
b = π.
C BA 2

m n

D C
s

r
A B

Portanto, é garantido a construção de um retângulo.

P5.13 ⇒ P5.1) Consideremos um retângulo ABCD, ou seja, A


b=B
b=C b=D b = π.
2
←→ ←→ ←→ ←→
Sejam r= AB, s= CD, m= AD e n= BC. Pela Proposição 3.3, temos que r//s e
m//n.
Queremos mostrar P5.1, assim, suponhamos que exista

10

Você também pode gostar