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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

WANDERSON MONTEIRO DA SILVA

A SEGURANÇA JURÍDICA DO DOCUMENTO DE ARQUIVO EM AMBIENTE


DIGITAL

Niterói
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

WANDERSON MONTEIRO DA SILVA

A SEGURANÇA JURÍDICA DO DOCUMENTO DE ARQUIVO EM AMBIENTE


DIGITAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal Fluminense – PPGCI,
como requisito para a obtenção do grau de
Mestre em Ciência da Informação.
Área de concentração: Dimensões
contemporâneas da informação e do
conhecimento.
Linha de Pesquisa 2: Fluxos e Mediações
Sócio-técnicas da Informação

Orientador: Prof. Dr. Daniel Flores

Niterói
2021
WANDERSON MONTEIRO DA SILVA

A SEGURANÇA JURÍDICA DO DOCUMENTO DE ARQUIVO EM AMBIENTE


DIGITAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal Fluminense – PPGCI,
como requisito para a obtenção do grau de
Mestre em Ciência da Informação.

Banca Examinadora

____________________________________________
Prof. Dr. Daniel Flores
Orientador
Universidade Federal Fluminense

____________________________________________
Profa. Dra. Natália Bolfarini Tognoli
Membro Titular Interno
Universidade Federal Fluminense

____________________________________________
Profa. Dra. Tânia Barbosa Salles Gava
Membro Titular Externo
Universidade Federal do Espírito Santo

_____________________________________________
Profa. Dra. Clarissa Moreira dos Santos Schmidt
Membro Suplente Interno
Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________
Profa. Dra. Cintia Aparecida Chagas
Membro Suplente Externo
Universidade Federal de Minas Gerais
Dedico esta pesquisa aos meus pais,
Wanderley e Elzilene.
AGRADECIMENTOS

A realização de uma pesquisa como esta não foi tarefa fácil, principalmente em meio
a uma pandemia, e por estar longe de todos que amo em um momento tão difícil para o
mundo. Por isso, é mais que necessário registrar minha gratidão.
Agradeço, primeiramente, a Deus, por até aqui ter me acompanhado e nunca me
permitir desistir, mesmo nos momentos mais difíceis.
À minha família, meu pai, Wanderley, minha mãe, Elzilene, e meus irmãos,
Wanderlene e Ewerson, que mesmo distantes me apoiaram nessa decisão de partir para longe,
em busca de um sonho, gratidão!
Agradeço ao meu orientador, professor Dr. Daniel Flores, por ter aceitado embarcar
nessa jornada cheia de descobertas e por compartilhar comigo seus ensinamentos sobre os
documentos digitais.
Agradeço as professoras que gentilmente aceitaram fazer parte da minha banca e que
contribuíram para o fortalecimento desta pesquisa, professora Dra. Natália Tognoli e
professora Dra. Tânia Gava.
Aos meus colegas e amigos que conquistei no PPPGCI/UFF, em especial Amanda,
Lohayne, Paulo, Louise, Marcela, Roberta, Adriana e Juliana, com quem convivi e tive a
oportunidade de me aventurar com as descobertas do mundo arquivístico e da cidade sorriso,
muito obrigado!
Às minhas musas inspiradoras, professora Dra. Ana Celia Rodrigues, por gentilmente
me apresentar o mundo da Identificação Arquivística. À querida Dr. Rosely Rondinelli, por
compartilhar seu conhecimento sobre os documentos digitais comigo, em especial pelo
cuidado e atenção dados em nossas trocas de mensagens. E à professora Dra. Luciana
Duranti, sempre atenciosa em responder às minhas dúvidas aos domingos, sou eternamente
grato.
Aos amigos que acompanharam a minha jornada até aqui, Greceane, Luana, Indira,
Bruna, Cibely, Sophia, Rafaela, João de Deus, Jacqueline, Amanda Bessa, Priscila, Tati e
Mario Felipe, obrigado!
Por fim, agradeço imensamente à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) que financiou esta pesquisa de mestrado e permitiu a concretização
de um sonho.
“The road is long, we carry on
Try to have fun in the meantime”
(Lana Del Rey)
RESUMO

O cenário atual de segurança jurídica referente aos documentos digitais tem impactado
incertezas na produção de documentos de arquivo, sem levar em consideração o que
determina a Diplomática e consequentemente fragilizando as provas digitais, utilizadas pela
Ciência Forense Digital. Este estudo aborda o documento de arquivo digital enquanto
elemento da garantia da segurança jurídica para o cidadão. Tem como objetivo identificar
requisitos arquivísticos e fundamentos necessários para a garantia da segurança jurídica sob
o viés da Arquivologia, Diplomática, Direito e Ciência Forense Digital com base na
confiabilidade, autenticidade e precisão do documento de arquivo em ambiente digital.
Utiliza-se como metodologia as pesquisas qualitativa, exploratória, descritiva e bibliográfica.
Os resultados propõem que os requisitos arquivísticos que garantem a segurança jurídica são:
através da gestão de documentos digitais, os requisitos do e-ARQ Brasil; da preservação de
documentos digitais, as diretrizes de implementação de RDC-Arq; e do acesso e difusão dos
documentos digitais, as normas de descrição arquivística. Recomendou-se ainda que as
plataformas utilizadas por esses ambientes necessitam de certificação e auditoria para que a
segurança jurídica seja efetivada de forma confiável.
PALAVRAS-CHAVE: Segurança jurídica; Documento de arquivo digital; Gestão,
preservação, acesso/difusão de documentos digitais; Diplomática e Ciência Forense Digital.
ABSTRACT

The current scenario of legal security regarding digital documents has impacted uncertainties
in the production of records, without taking into account what is determined by Diplomatics
and consequently weakening the digital evidence used by Digital Forensics. This study
approaches the digital records as an element of guaranteeing legal security for the citizen. Its
aim to identify archival requirements and necessary foundations to guarantee legal security
through of the Archival Science, Diplomatics, Law and Digital Forensics based on the
reliability, authenticity and accuracy of the digital records. Qualitative, exploratory,
descriptive and bibliographic is used as a methodology. The results propose that the archival
requirement that guarantee legal security are: through the digital records management, the
requirements of e-ARQ Brasil; from the digital records preservation, the RDC-Arq
implementation guidelines; and access and dissemination of digital records, the archival
description standards. It was also recommended that the platforms use by these environments
need certification and audit so that legal security will be trust.

KEY-WORDS: Lega Security; Digital Record; Digital Records Access and Dissemination,
Preservation, Management; Diplomatics and Digital Forensics.
LISTA DE FIGURAS
Pág.

Figura 1: Camadas de Abstração do Objeto Digital ........................................................... 31


Figura 2: Ontologia do Documento de Arquivo.................................................................42
Figura 3: Modelo de Investigação do DRFWS ..................................................................55
Figura 4: Modelo de Análise Forense do DRFP ................................................................ 56
Figura 5: Modelo de Sistemas de Gestão de documentos em Sistemas de Negócio .........70
Figura 6: Entidades Funcionas do Modelo OAIS .............................................................. 79
Figura 7: Modelo de Dados PREMIS ................................................................................84
LISTA DE QUADROS
Pág.

Quadro 1: Abordagens da Diplomática ..............................................................................25


Quadro 2: Conceitos em torno do documento de arquivo digital ......................................33
Quadro 3: Conceitos da ontologia do documento de arquivo ............................................43
Quadro 4: Conceitos em torno da prova digital .................................................................49
Quadro 5: Tipos de provas na Ciência Forense Digital .....................................................52
Quadro 6: Conceitos em torno da autenticidade da prova digital ......................................54
Quadro 7: Conceitos da cadeia de custódia no contexto legal e arquivístico ....................61
Quadro 8: Conceitos em torno da credibilidade do documento de arquivo .......................64
Quadro 9: Conceitos da gestão e preservação de documentos digitais .............................. 90
Quadro 10: Conceitos da segurança e segurança jurídica ..................................................96
LISTA DE ABREVIATURAS

Archival Information Package - AIP


Cadeia de Custódia Digital Arquivística - CCDA
Conselho Nacional de Arquivos - CONARQ
Designing and Implementing Recordkeeping Systems - DIRKS
Dissemination Information Package - DIP
Records Electronic Management - REM
Records Electronic Management Software Applications Design Criteria Standard - DOD
5015.2-STD
International Research on Permanent Authentic Records in Electronic Systems -
InterPARES
Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos
- SIGAD
Modular Requirements for Records Systems - MOREQ
National Archives and Records Administration - NARA
Open Archival Information System - OAIS
Preservation Metadata: Implementation Strategies - PREMIS
Records Management Applications - RMA
Repositório Arquivístico Digital Confiável - RDC-Arq
Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos - SIGAD
Submission Information Package - SIP
Trustworthy Repositories Audit & Certification - TRAC
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................14
2 DIPLOMÁTICA E CIÊNCIA FORENSE DIGITAL ...................................21
2.1 Breve introdução sobre a Diplomática ............................................................ 21
2.2 Breve Introdução sobre a Ciência Forense Digital ........................................25
3 DOCUMENTO DE ARQUIVO EM AMBIENTE DIGITAL: ESPECIFI-
CIDADE E COMPLEXIDADE .......................................................................30
3.1 O documento de arquivo digital ......................................................................30
3.2 Ontologia do documento de arquivo ............................................................... 34
3.2.1 Componentes intelectuais ...................................................................................34
3.2.2 Os atributos .........................................................................................................40
3.2.3 Componentes digitais .......................................................................................... 42
4 O DOCUMENTO DIGITAL ENQUANTO FONTE DE PROVA: ASPEC-
TOS ARQUIVÍSTICOS E JURÍDICOS ........................................................ 46
4.1 Definição de prova digital ................................................................................46
4.2 Classificação das provas digitais......................................................................50
4.3 Autenticidade de uma prova digital ................................................................ 52
4.4 Processo de análise forense ..............................................................................55
4.5 Cadeia de custódia ............................................................................................ 57
5 INICIATIVAS DE GESTÃO E PRESERVAÇÃO DE DOCUMENTOS
DIGITAIS ..........................................................................................................63
5.1 Requisitos para a gestão de documentos digitais ...........................................65
5.1.1 Electronic Records Management Software Application Design Criteria Stan-
dard .....................................................................................................................67
5.1.2 Modular Requirements for Records Systems ......................................................68
5.1.3 Designing and Implementing Recordkeeping Systems........................................71
5.1.4 Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de
Documentos ........................................................................................................72
5.2 Requisitos de preservação de documentos digitais ........................................75
5.2.1 Modelo Open Archival Information System........................................................ 77
5.2.2 Repositórios Digitais Confiáveis ........................................................................80
5.2.3 Repositórios Arquivísticos Digitais Confiáveis (RDC-Arq) .............................. 81
5.2.4 Certificação de Auditoria de Repositório Confiável ...........................................82
5.2.5 Requisitos técnicos para entidades de auditoria e identificação de organizações
candidatas a serem Repositório Digital Confiável ..............................................83
5.2.6 Metadados de Preservação ..................................................................................84
5.2.7 Os modelos do InterPARES................................................................................86
5.2.7.1 Modelo de Cadeia de Preservação ......................................................................86
5.2.7.2 Modelo Business-Driven Recordkeeping ............................................................ 87
6 REQUISITOS ARQUIVÍSTICOS DE SEGURANÇA JURÍDICA PARA
O DOCUMENTO DE ARQUIVO DIGITAL ................................................94
6.1 Segurança e segurança jurídica .......................................................................94
6.2 Digital Records Forensics ..................................................................................96
6.3 Identificação e recomendações de requisitos arquivísticos de segurança
jurídica ...............................................................................................................99
6.3.1 Requisitos arquivísticos que garantem a segurança jurídica no que se refere a
gestão de documentos digitais ............................................................................99
6.3.2 Requisitos arquivísticos que garantem a segurança jurídica no que se refere a
preservação de documentos digitais ................................................................. 101
6.3.3 Requisitos arquivísticos que garantem a segurança jurídica no que se refere ao
acesso e difusão de documentos digitais .......................................................... 104
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 107
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 111
14

1 INTRODUÇÃO

Os estudos em torno do documento de arquivo em ambiente digital, são uma realidade


na Arquivologia desde o fim do século XX, quando a comunidade arquivística se mobilizou
para enfrentar os novos desafios do mundo tecnológico nos arquivos. Muitas publicações,
eventos e projetos foram desenvolvidos para responder as demandas da gestão, preservação
e acesso aos documentos digitais.
O documento de arquivo, conforme abordagem clássica, é um documento produzido
e recebido no decorrer das atividades de uma pessoa física ou jurídica, constituindo produto
das atividades a qual está vinculado.
Ao ser compreendido no mundo digital, o documento de arquivo apresenta
características de complexidade e especificidade. Complexo porque não mais está vinculado
em um suporte analógico, o que requer agregações de componentes digitais que estão
vinculados de maneira intrínseca e extrínseca. E específico porque a sua autenticidade deve
ser garantida ao decorrer do tempo em que precisa ser mantido, sem adulteração e sem
corrupção.
Diante deste cenário, a pesquisa científica foi desenvolvida com o objetivo de
construir e contribuir para a teoria dos documentos digitais, no intuito de preencher lacunas
que possam existir na Arquivologia, trazendo como ponte a descoberta de novos referenciais
e discussões.
A temática desta pesquisa começou a ser construída, quando da leitura de um artigo
da professora Luciana Duranti, em 2014, intitulado “From Digital Diplomatics to Digital
Records Forensics” para elaboração de um projeto de pesquisa na graduação do curso de
Arquivologia da Universidade Federal do Amazonas, cujo objetivo era estudar o campo da
Ciência Forense Digital na Arquivologia.
O projeto inicial se direcionava para entender o papel da Ciência Forense Digital para
os arquivos, através de projetos de pesquisa como o “Digital Records Forensics”, liderado
pela professora Luciana Duranti da University of Britsh Columbia; o “BitCurator”,
coordenado pelo professor Christopher Lee da University of North Carolina e o “Digital
Lives”, dirigido por Jerimy Leighton John da Biblioteca Britânica. Esses projetos
representavam uma amostra dos países Canadá, Estados Unidos e Reino Unido e abordaram
em seu núcleo o uso teórico e prático da Ciência Forense Digital aliada ao conhecimento
arquivístico.
15

Ao decorrer dos estudos no mestrado, algumas alterações foram necessárias para que
o projeto se adequasse mediante algumas reflexões e diálogos com o orientador, tendo em
vista as constantes mudanças no cenário arquivístico local. A exemplo disso, os
questionamentos no noticiário brasileiro a respeito da quebra da cadeia de custódia de
documentos digitais que eram adquiridos como prova em processos judiciais, algo que reflete
nos estudos da Diplomática e da Ciência Forense Digital.
A essa altura já se havia levantado a produção bibliográfica dos três projetos citados
e observado que o BitCurator e o Digital Lives possuíam como objeto de estudo os arquivos
pessoais digitais, logo, o documento de arquivo produzido por pessoa física. Assim aliava
ferramentas da Ciência Forense Digital e o conhecimento teórico da Arquivologia, como por
exemplo o uso dos princípios da Proveniência e Ordem Original, para a realização da
curadoria de acervos adquiridos por Arquivos, Bibliotecas e Museus.
Percebeu-se que o projeto Digital Records Forensics era calcado por meio do estudo
do documento de arquivo produzido em ambiente digital retido como prova de processo
judicial, pois os casos estudados contemplavam o que a Polícia de Vancouver mantinha das
apreensões para investigação. Este estudo utilizou-se da Diplomática, Arquivologia, Direito
e Segurança da Informação para fundamentar uma nova disciplina, capaz de atender as
demandas jurídicas aliadas ao contexto tecnológico.
Mediante essa percepção, optou-se em direcionar a pesquisa para “A segurança
jurídica do documento de arquivo em ambiente digital” utilizando-se da Arquivologia,
Diplomática Digital, Direito e Ciência Forense Digital para dar subsídios a construção deste
trabalho. Diante disso os resultados do projeto Digital Records Forensics são os que melhor
poderão contribuir para este estudo, tendo em vista a relação com a teoria e os produtos
produzidos pelo projeto International Research on Permanent Authentic Records in
Electronic Systems (InterPARES).
Desta forma, foi levantada a seguinte questão: como aplicar requisitos de produção,
manutenção, preservação, acesso e transparência ativa ao documento de arquivo em ambiente
digital de forma que seja garantida a sua segurança jurídica? Partindo do seguinte pressuposto
teórico: se um documento de arquivo digital é produzido, mantido e preservado utilizando
requisitos que reflitam os princípios da Arquivologia, Diplomática Digital, Direito e Ciência
Forense Digital, então ele pode garantir a sua segurança jurídica.
Para alcançar essa resposta e confirmar tal pressuposto nos valemos do seguinte
objetivo geral: identificar requisitos arquivísticos e fundamentos necessários para a
segurança jurídica garantida pelo documento de arquivo em ambiente digital sob o viés da
16

Arquivologia, Diplomática, Direito e Ciência Forense Digital com base nos conceitos de
confiabilidade, autenticidade e precisão. E dos seguintes objetivos específicos:
a) Contextualizar os elementos determinados pela Arquivologia e Diplomática a fim de
compreender a especificidade e complexidade do documento de arquivo em ambiente
digital;
b) Apresentar a Ciência Forense Digital, aliada ao Direito, no intuito de aproximar a sua
relação com o documento de arquivo enquanto fonte de prova no ambiente digital;
c) Sistematizar as iniciativas e requisitos de gestão e preservação de documentos de
arquivo em ambiente digital que visam determinar parâmetros de confiabilidade,
autenticidade e precisão; e
d) Identificar e recomendar requisitos arquivísticos para a garantia da segurança jurídica
baseada em documentos de arquivo digital.

A presente pesquisa justifica-se pela incipiência de estudos que abordem a


Diplomática Digital e a Ciência Forense Digital na Arquivologia, enquanto fortalecimento
teórico e prático direcionado para os requisitos arquivísticos que podem garantir uma
segurança jurídica dos documentos digitais.
Ocorre que no senso comum ainda prevalece a ideia de que para manter a
autenticidade de documentos digitais, ou representantes digitais1, apenas a assinatura digital
é necessária, portanto, podendo assim manter seu caráter legal. Negligenciando desta forma
todo o trabalho científico desenvolvido pela Arquivologia que tem se esforçado para
apresentar subsídios que ofereçam qualidade na produção de documentos digitais autênticos,
confiáveis e precisos tanto para os interesses da administração quanto para os interesses
legais e sociais.
Da administração, porque espera-se que o produtor de documentos os produza para
registrar que as atividades foram cumpridas, e consequentemente preservar aqueles que
sirvam como fonte de prova e informação, conforme imposto na Lei de Arquivos – a Lei
8.159 de 8 de janeiro de 1991.
Sabe-se que o documento de arquivo, independente do suporte, carrega consigo um
caráter de prova que é diferente daquele entendido pelo campo da perícia ou investigação
legal. Mas o que se propõe aqui é também apontar que mesmo que haja diferença, esta pode
ser de interesse para o Direito, campo que necessita de documentos de arquivo que são

1
Entende-se por representantes digitais os documentos em suporte papel que foram digitalizados.
17

produzidos em ambientes digitais mantidos por qualquer administração, pública ou privada,


quando estes precisam compor parte de um processo ou serem chamados a julgamento.
Assim, não há garantia de autenticidade, preservação e acesso a longo prazo em um
documento digital, ou representante digital, que apenas contenha assinatura digital sem levar
em consideração os referenciais impostos pela Arquivologia. Pois esta aponta, para que isso
ocorra, requisitos arquivísticos que possuem como base o método diplomático, que devem
estar contemplados em qualquer sistema que produza documentos de arquivo.
Sem esses requisitos, a cadeia de custódia digital estará comprometida na linha de
sucessão do documento de arquivo entre produtor e preservador, prejudicando assim a
verificação da autenticidade do documento digital quando este for submetido à trilha de
auditoria ou análise forense.
Por isso, a então investigação se faz necessária enquanto pesquisa científica por
proporcionar referenciais teóricos e metodológicos para a segurança jurídica sustentada no
documento de arquivo digital, no contexto arquivístico e jurídico.
É importante ainda observar qual a relação desta pesquisa com a Ciência da
Informação, afinal estamos em um programa de pós-graduação em Ciência da Informação.
Para isso, utilizamos a abordagem de Payne (2018) para a justificativa de nossos estudos. O
autor argumenta a aproximação entre as áreas de Arquivologia, Ciência da Informação e
Ciência da Computação.
A Arquivologia tem uma preocupação que vai da produção à preservação de
documentos de arquivo para uso em um contexto funcional, organizacional, pessoal, social,
legal e cultural. Enquanto isso, a Ciência da Informação tem como foco a coleta eficaz,
armazenamento, recuperação e uso das informações. Já a Ciência da Computação estaria
direcionada para o design, análise, implementação e aplicação de processos que transformam
a informação, ou seja, a automatização (PAYNE, 2018).
Essa transdisciplinaridade contribui para o corpus de uma nova área, a Arquivologia
Computacional (Computacional Archival Science). Apesar dos estudos dessa nova área ainda
se encontrarem em desenvolvimento é possível perceber que a sua intenção está direcionada
ao uso das técnicas computacionais para o tratamento de dados, informações e documentos
em larga escala. Também é evidenciado que ela pode contribuir com outras áreas, entre elas
a jurídica (PAYNE, 2018).
Desta forma, as relações com a Arquivologia e a Ciência da Informação se fazem
presentes nesta pesquisa também, assim como já foi estudado e demonstrado por autores
como Fonseca (2005), Rondinelli (2013) e Marques (2011), por exemplo.
18

Para que se alcancem os resultados esperados necessitamos traçar um percurso que é


próprio de uma pesquisa de caráter científico: a sua metodologia.
Quando a presente pesquisa começou a ser idealizada, através da leitura de um artigo
que trazia uma abordagem nova de olhar os documentos digitais, percebeu-se que os
referenciais para tais estudos eram escassos em língua portuguesa e que não havia indicativos
de pesquisa que fizessem referência a essa temática.
Desta forma, podemos assim dizer que esta pesquisa é, de acordo como seus
objetivos, de natureza teórica guiada através da revisão de literatura de materiais publicados
que representam grande pertinência para a investigação (SILVA; MENEZES, 2001). Seu
intuito é gerar novos conhecimentos para a Arquivologia, tendo como ponto de partida a
incipiência de estudos da temática e a identificação e proposta de requisitos arquivísticos que
permitem a segurança jurídica garantida através do documento de arquivo digital.
Como subsídio para a abordagem do problema a pesquisa qualitativa traduzirá a
subjetividade que é própria do estudo que aqui propomos, pois é neste tipo de pesquisa que
se “Caracteriza pela empiria e pela sistematização progressiva do conhecimento [...]”
(MINAYO, SANCHES, 1993, p. 57).
A pesquisa é de cunho exploratória, pois tem como objetivo proporcionar uma visão
geral e por se tratar, também, de um tema pouco explorado (GIL, 2008). E também descritiva
por abordar as características de um fenômeno, bem como suas relações entre variáveis (GIL,
2008).
O levantamento das fontes desta pesquisa começou a ser elaborado em 2015,
conforme mencionado anteriormente, por isso se faz pertinente apresentar as principais bases
de dados investigadas durante este percurso.
As publicações que se referem a temática que combinava “Diplomatics”, “Archival
Science” e “Digital Records” foram pesquisadas na base de dados do projeto InterPARES.
Esta base é alimentada pelos pesquisadores que participaram do projeto e contribuíram em
publicações de artigos, livros e apresentações.
As fontes referentes à temática que combinava “Diplomatics” e “Digital Forensics”
foram coletadas na base de dados elaborada a partir do projeto Digital Records Forensics.
Nesta base estão disponíveis as principais publicações e apresentações resultantes do projeto,
bem como um rigoroso levantamento bibliográfico de artigos e livros da área “Digital
Forensics”, o que torna o nosso trabalho menos árduo, tendo como entendimento de que a
busca pela temática, no próprio campo, é dispersa.
19

Outras fontes que não estavam contempladas nestas bases também foram consultadas,
como artigos e livros de renome na literatura arquivística brasileira. Neste sentido os verbetes
de interesse foram: “Arquivologia”, “Diplomática”, “Documento de arquivo digital” e
“Cadeia de custódia”.
Da mesma forma foi feito na área jurídica e da Ciência Forense Digital, onde as
temáticas pesquisadas foram: “Perícia Digital”, “Ciência Forense Digital”, “Prova Digital”,
“Cadeia de custódia” e “Segurança Jurídica”.
Após estas buscas, foram realizadas a organização destas fontes no aplicativo
Mendeley com vistas à organização por temáticas, bem como a realização de fichamentos e
traduções.
Em relação à estrutura da pesquisa, podemos dividi-la em 7 seções, incluindo a
Introdução, as quais são apresentadas a seguir:
A segunda seção trata dos principais marcos da Diplomática e da Ciência Forense
Digital. Sobre a Diplomática recuperamos a abordagem referente a Diplomática a partir da
década de 80, compreendida como uma Diplomática Digital, e sobre a Ciência Forense
Digital realiza-se uma breve contextualização sobre a história da disciplina.
Na terceira seção recuperamos os conceitos que permeiam o documento de arquivo
em ambiente digital, tais como os seus atributos determinados pela Diplomática e
Arquivologia e os estudos em torno dos resultados do projeto InterPARES, a fim de entender
a complexidade e a especificidade do documento digital.
Na quarta seção apresenta-se o documento digital como fonte de prova na perspectiva
arquivística e jurídica, tais como o ponto de vista da autenticidade e a classificação da prova
digital, o processo de análise forense e o conceito de cadeia de custódia.
Já na quinta seção foram sistematizadas as principais iniciativas de requisitos e
padrões que dão subsídios à produção, manutenção e preservação de documentos de arquivo
em ambiente digital, em apoio à gestão e preservação de documentos digitais autênticos,
confiáveis e precisos.
E na sexta seção identificamos os requisitos arquivísticos que dão garantia à
segurança jurídica do documento de arquivo em ambiente digital, os quais são estruturados
através de três entidades externas.
E por fim, as considerações desta pesquisa que percorre os resultados obtido nas
seções teóricas, bem como enfatiza os requisitos arquivísticos apontados como apropriados
para a garantia da segurança jurídica e as sugestões de pesquisa.
20

Assim, nesta seção introdutória foram abordadas nossa motivação inicial sobre a
temática de estudo, os objetivos que nos direcionam para consolidação da pesquisa, nossa
justificativa, a metodologia utilizada e a estrutura a ser seguida. Na próxima seção
revisitamos os principais marcos teóricos da Diplomática e da Ciência Forense Digital. Sobre
a Diplomática recuperaremos a sua abordagem a partir da década de 80 e sobre a Ciência
Forense Digital realizaremos uma breve contextualização sobre a disciplina.
21

2 DIPLOMÁTICA E CIÊNCIA FORENSE DIGITAL

Com o advento da tecnologia computacional e o aumento da produção de documentos


em suporte eletrônico, muitos estudos foram direcionados para a garantia dos princípios
arquivísticos, da mesma forma que eram aplicados nos documentos tradicionais, em suporte
papel.
Antes mesmo de entendermos a terminologia moderna que caracteriza o documento
de arquivo como digital ou eletrônico, na atualidade, tais documentos eram denominados
como “registros lidos por máquina” (machine readable records). As duas instituições
arquivísticas de custódia que iniciaram o tratamento de tais documentos, antes mesmo da
aceitação destes na comunidade arquivística, foram o National Archives Records and
Administration (NARA) dos Estados Unidos, em 1969, e o Public Archives of Canada2, em
1973 (ROGERS, 2016).
A grande dificuldade da comunidade arquivística de estabelecer que os registros lidos
por máquina eram potenciais documentos de arquivo, impulsionou pesquisas feitas por
Dollar (1978) e Naugler (1984) onde propunham avaliação a estes registros tendo em vista a
preservação em uma instituição de custódia arquivística, assim como os documentos
tradicionais. Duranti (2002a) entendeu que esta tentativa de inserção dos registros lidos por
máquina no tratamento arquivístico da forma que vinha sendo realizada, não era suficiente
para determinar a sua autenticidade. Isso se deu principalmente porque este tipo de
documento não transmitia tanta segurança quanto os documentos em papel. Por isso, a autora
pode ser apontada como uma das primeiras estudiosas sobre a autenticidade e confiabilidade
de documentos digitais (DURANTI, 1989).

2.1 Breve introdução sobre a Diplomática

O nascimento da Diplomática é identificado em meados do século XVII, na Idade


Média, para analisar a existência de falsificação de diplomas de posses de terras entre
disputas travadas entre ordens religiosas na Europa.
Este período é conhecido como guerras diplomáticas (bella diplomática), conforme
Duranti (1989, p. 13, tradução nossa), “Na Alemanha as guerras diplomáticas foram

2
Atualmente a denominação a esta instituição é de Library and Archives Canada.
22

[ocasionadas por] controvérsias judiciais sobre a afirmação de um direito, enquanto na França


assumiram um caráter doutrinal com uma séria preocupação científica [...]”.
O principal marco teórico da Diplomática foi a publicação do tratado De re
diplomatica, em 1681, pelo monge beneditino Dom Jean Mabillon (TOGNOLI, 2018). Essa
obra teve um grande impacto para a crítica documental, por elaborar os primeiros elementos
da Diplomática e por ser considerada a certidão de nascimento da disciplina.
Seu objeto de estudo, o diploma, foi apontado por Sickel como o documento
diplomático apenas em meados do século XIX sendo entendido mais tarde, por Bautier, no
século XX que tal objeto deveria ser estendido aos documentos de arquivo (TOGNOLI,
2018).
Para Duranti (1989, p, 17, tradução nossa) a Diplomática pode ser compreendida
então como a “[...] a disciplina que estuda a gênese, a forma e a transmissão dos documentos
de arquivo e a sua relação com os fatos representados neles e com seu criador, a fim de
avaliar, identificar e comunicar a sua verdadeira natureza”. Esta seria uma definição mais
moderna sobre a área, que veio a se consagrar como uma área relacionada à Arquivologia.
Já a formação da Arquivologia enquanto disciplina se deu no fim do século XIX. Mas
Duranti (1996) aponta a ligação do campo com a Diplomática desde meados do século XVII.
A autora enfatiza que antes mesmo deste encontro, os arquivos e o fazer arquivístico
alcançaram lugar de interesse ainda no século XI quando a legislação romana, no Código
Justiniano, fez menção à criação e preservação de arquivos.
A Arquivologia, portanto, é a ciência que estuda os arquivos, ou seja, os conjuntos
documentais que são produzidos por uma pessoa física ou jurídica. Pearce-Moses define que
esta seja “Um corpo teórico sistemático que apoia a prática de avaliar, adquirir, autenticar,
preservar e fornecer acesso aos materiais registrados” (2005, p. 28, tradução nossa). Alguns
marcos também podem ser apontados para a consolidação da disciplina no campo científico.
Conforme é demonstrado em sua história, a área ganhou força com a
institucionalização do primeiro curso oferecido na École de Chartes, na França, onde se
considerou um dos primeiros marcos para a consolidação do pensamento arquivístico
(MARQUES, 2011).
Outro ponto importante, foi a aceitação do princípio de respeito aos fundos, enquanto
base fundamental para a organização dos arquivos, e consequentemente para manter e
preservar seu contexto orgânico com os documentos de um mesmo fundo (DUCHEIN, 1982-
1986).
23

E o Manual dos Arquivistas Holandeses, que fundamentou e elaborou regras para a


descrição e arranjo dos arquivos, que levando em conta o princípio de respeito aos fundos,
lançou a Arquivologia no cenário internacional (MARQUES, 2011).
Estas contribuições que fortaleceram a Arquivologia, destacam-se na discussão
quando tem seu ponto de encontro com a renovação da Diplomática para os documentos
contemporâneos.
Isto se dá porque anteriormente à metade do século XX, somente os documentos
oriundos de atos jurídicos eram merecedores da análise diplomática, ficando de fora aqueles
que não possuíam tal natureza. Aliás, o objetivo principal da análise nesse período era
identificar elementos na forma documental, intrínsecos e extrínsecos, a fim de determinar o
valor de autenticidade dos documentos.
Com o surgimento das ideias de Bautier, para uma “nova” Diplomática, seu objeto se
expande para todos os documentos de caráter arquivístico (TOGNOLI, 2018). Sua proposta
era baseada na cooperação dos princípios tanto da Diplomática como os da Arquivologia.
É neste mesmo sentido que surge, na Itália, as ideias de Paola Carucci por meio da
publicação “Il documento contemporaneo. Diplomatica e criteri di edizione”, em 1987. A
mesma lança uma abordagem que privilegia os estudos diplomáticos para entender o contexto
de produção dos documentos.
Enquanto isso, na América do Norte, Duranti apresenta a Diplomática para o Canadá
e Estados Unidos publicando seis artigos, entre 1989 a 1992, sobre a teoria e prática da
disciplina e com a possibilidade de abordagem aos documentos lidos por máquina,
posteriormente denominados de documentos eletrônicos.
Diante disso, nasce um projeto intitulado “The Protection of the Integrity of
Electronic Records”3 hospedado pela University of British Columbia e liderado por Duranti,
também conhecido como Projeto UBC, realizado entre 1994 a 1997. O objetivo do projeto
era “[...] identificar e definir os requisitos para criar, manusear e preservar documentos de
arquivo eletrônicos fidedignos e autênticos” (UBC PROJECT, s/d, tradução nossa). Este
projeto foi realizado em parceria com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e
resultou em um padrão que apresentava requisitos para sistemas que produziam documentos
de arquivo4, com metodologia calcada nos princípios e conceitos da Diplomática e
Arquivologia.

3
Posteriormente chamado de “The Preservation of Integrity of Electronic Records”.
4
Na seção 5, abordaremos sobre a norma.
24

Posteriormente a essa pesquisa, percebeu-se a necessidade de avaliar e preservar esses


documentos, a fim de manter sua autenticidade a longo prazo. Surge, então, o projeto
InterPARES, que se desdobrou em outras fases.
A primeira fase (1999-2001) buscou “[...] estabelecer os meios para avaliar e manter
a autenticidade dos documentos de arquivo eletrônicos, uma vez que estes se tornavam
inativos e deveriam ser selecionados para a preservação permanente” (INTERPARES, s/d,
tradução nossa). Resultando em modelos para a seleção e preservação dos documentos
eletrônicos, essa fase foi centrada principalmente em documentos textuais.
Na segunda fase (2002-2007) o objetivo era

[..] desenvolver e articular os conceitos, princípios, critérios e métodos que


pudessem assegurar a criação e manutenção de documentos arquivísticos precisos
e confiáveis e a preservação a longo prazo de documentos de arquivo autênticos no
contexto das atividades artísticas, científicas e governamentais que são conduzidas
usando a tecnologia computacional, experimental, interativa e dinâmica
(INTERPARES, s/d, tradução nossa).

Nesta fase foram desenvolvidos os modelos de Cadeia de Preservação e Business-


Driven Recordkeeping, estes serão apresentados posteriormente.
Já a terceira fase (2007-2012) se direcionava a

[...] permitir que programas e instituições arquivísticas, públicas ou privadas, de


médio e pequeno porte responsáveis por documentos arquivísticos digitais
oriundos do governo, negócios, pesquisa, artes e entretenimento, atividades
comunitárias e/ou sociais, preservasse a longo prazo, documentos de arquivo
autênticos (INTERPARES, s/d, tradução nossa).

Esta fase se encarregou de testar toda a metodologia adquirida e dos modelos


desenvolvidos pela pesquisa da fase anterior.
E na quarta fase (2012-2020) o foco foi

[...] explora[r] questões de confiança e confiabilidade de documentos arquivísticos


e dados em ambientes online. [...] gerar[ando] arcabouço teórico e metodológico
para desenvolver políticas, procedimentos, regulamentações, padrões e legislação
local a fim de garantir a confiança” (INTERPARES, s/d, tradução nossa).

Com a preocupação dos arquivos mantidos em nuvens e o uso da tecnologia


blockchain.
Mediante esta introdução às áreas da Diplomática e Arquivologia, bem como os
principais trabalhos desenvolvidos com o uso destas, é pertinente ainda destacar que a
25

terminologia sobre a integração desse conhecimento recebeu algumas variações, tais como
Diplomática Especial, Diplomática Arquivística, Diplomática Arquivística Contemporânea
e, mais recentemente, Diplomática Digital.
Para entender melhor a contribuição da Diplomática, por exemplo, Tognoli (2013) a
dividiu em Diplomática Clássica, Diplomática Moderna e Diplomática Contemporânea para
sistematizar seus marcos teóricos. Em outra percepção Silva e Tognoli (2019) consideram a
existência de quatro abordagens da Diplomática, as quais são: Diplomática Clássica,
Diplomática Moderna, Diplomática Arquivística e Diplomática Digital. E assim apontam
seus objetos e objetivos, conforme figura abaixo:

Quadro 1: Abordagens da Diplomática

Fonte: Silva e Tognoli (2019)

Dentre as abordagens sistematizadas pelas autoras, a que mais se aproxima dos


estudos desenvolvidos nesta pesquisa está relacionado a Diplomática Digital, que direciona
a Diplomática para os estudos dos documentos de arquivo digitais através dos estudos
desenvolvidos pelo InterPARES.
Dito isto, passemos ao entendimento do que é a Ciência Forense Digital.

2.2 Breve introdução sobre a Ciência Forense Digital

Diplomática e Direito são disciplinas que já possuíram relações bem próximas no


século XVII. Conforme Duranti (1989) a História, Paleografia, Arquivologia e o próprio
26

Direito sofreram influências científicas da Diplomática utilizando-se de seus princípios e


metodologias para se tornarem autônomas.
É importante esclarecer que o Direito enquanto disciplina, é compreendido como

[...] a ciência que estuda as regras obrigatórias, que presidem as relações dos
homens em sociedade, encaradas não somente sob o seu ponto de vista legal, como
sob o seu ponto de vista doutrinário, abrangendo, assim, não somente o direito no
seu sentido objetivo como subjetivo (SILVA, 2016, p. 470).

Isto se faz necessário porque não nos propomos a estudar e contextualizar o Direito
em sua amplitude, mas é de grande valia entendermos o seu papel no contexto arquivístico e
para o campo da Ciência Forense, no qual ambas sofrem influências.
Duranti (1989) afirma, por exemplo, que na metade do século XVII a Diplomática
era oferecida nos cursos de Direito da Europa, um período que possibilitou a publicação de
inúmeras obras e contribuiu para a produção do conhecimento da Diplomática. Esse fato
revela que as suas relações eram fortes e que mesmo com o distanciamento do Direito, mais
tarde, a Diplomática se manteve fiel estudando os documentos, que em sua perspectiva
sempre transmitiram uma relação jurídica com os fatos.
Por outro lado, pouco se sabe sobre a Ciência Forense Digital. Enquanto que observar
as relações da Arquivologia e Diplomática com o Direito é muito mais compreensivo na
comunidade arquivística, com a Ciência Forense Digital isso se torna um pouco difícil. Os
estudos de aproximação com essa área e o campo dos arquivos só surgem no fim da primeira
década dos anos 2000, por hora iremos explorar a perspectiva da Ciência Forense Digital
com os documentos digitais.
A história da Ciência Forense Digital é muito recente se comparada a da Diplomática,
e seu desenvolvimento ganhou grande impulso com as mudanças tecnológicas no fim do
século XX. Da mesma forma que os profissionais dos arquivos acompanharam as discussões
em torno da mudança de suporte dos documentos em papel para o meio eletrônico nesse
mesmo período.
Aparentemente, são trajetórias distintas e que ocorreram de forma paralela que, no
entanto, parecem se cruzar à medida que seus passos são apontados. Duranti (1989), por
exemplo, mencionou o esquecimento da Diplomática pelos tribunais, observando que seu
método fora deixado de lado com o surgimento dos documentos eletrônicos como fonte de
prova, pois a alegação era de que os mesmos não serviriam mais para a nova realidade.
Aqui percorremos o campo da Ciência Forense Digital, na tentativa de esclarecermos
às suas práticas para os documentos digitais que são fonte de prova no Direito.
27

É difícil identificar na literatura uma unanimidade e uma história concisa da Ciência


Forense Digital. O que se sabe é que as primeiras práticas surgiram ainda quando os
computadores ganharam popularidade no século passado, e que em consequência desse
desenvolvimento surgiram criminosos denominados “hackers”.
Pollitt (2010) argumenta que o termo para a área só seria cunhado mais tarde, pois em
meados de 1980, quem atuava neste campo não estava interessado, por exemplo, em
documentar uma história.
Diante disso o autor identifica que o campo pode ser visto a partir das seguintes
etapas: pré-história (pre-history), primeira infância (infancy), infância (childhood) e
adolescência (adolescence).
Cada uma marcada por acontecimentos que levaram ao desenvolvimento da área,
como é sintetizado a seguir, conforme Pollitt (2010):

● Pré-história (Anterior a 1985) – pouca documentação sobre esse período, sendo


inexistente um termo para as práticas realizadas na época, os computadores eram de
uso industrial, governamental e de pesquisa, as primeiras instituições, como o Federal
Bureau of Investigation (FBI), começavam a ter iniciativas sobre o assunto;
● Primeira infância (1985 a 1995) – fabricação dos computadores portáteis pela
International Business Machines (IBM), criação de uma instituição dedicada à
pesquisa em Ciência Forense Digital, período centrado na recuperação de dados, a
internet ainda não era popular e os crimes eram cometidos por jovens;
● Infância (1995 a 2004) – entendido como a maturidade da área, foi subdividida em
três marcos, 1) a explosão tecnológica, 2) os casos de pornografia infantil e o 3)
atentado de 11 de setembro de 2001;
● Adolescência (2005 a 2010) – o crescimento do campo com mais profissionais
atuantes, padronização das atividades e a extensão da atuação.

O autor é um dos poucos que se dedica a explicar os fatos ocorridos na história que
justificam o crescimento e desenvolvimento da Ciência Forense Digital ao longo dos últimos
anos, tudo isso embasado em sua experiência profissional no FBI e acentuando os marcos
em acontecimentos de acordo com um limite cronológico.
Há ainda outros autores como Charters, Smith e McKee que também contribuem para
a história da Ciência Forense Digital. Estes a dividem em três fases (CHARTERS; SMITH;
MCKEE, 2009):
28

● Ad hoc – caracterizada pela falta de estrutura, de objetivos claros e de ferramentas,


processos e procedimentos adequados;
● Estruturada – esta foi estruturada em três áreas primárias - 1) programas baseados
em políticas, 2) processos definidos e coordenados de acordo com as políticas e 3)
requisitos para ferramentas forenses;
● Corporativa – as coletas feitas em tempo real, as ferramentas de coletas sendo
adaptadas às necessidades de quem as coletava e a forense como um serviço.

Os autores realizam esse percurso para demonstrar que desde o seu surgimento, como
um campo empírico até alcançar um rigor científico, a área enfrentou inúmeras barreiras de
estruturação, chegando a ser nos dias atuais um serviço lucrativo.
No que se refere a uma definição deste campo, em 2001 o primeiro Digital Research
Conference Workshop (DFRCW), realizado na cidade de Utica, no estado de Nova York,
reuniu pesquisadores e profissionais para discutir questões pertinentes às lacunas existentes
na área. No evento foi apresentada uma definição para a Ciência Forense Digital, tendo em
vista que a mesma se estabeleceria como uma disciplina científica. A definição proposta foi
a seguinte:

O uso de métodos cientificamente derivados e comprovados para a preservação,


coleta, validação, identificação, análise, interpretação, documentação e
apresentação de provas digitais derivadas de fontes digitais com a finalidade de
facilitar ou promover a reconstrução de eventos considerados criminosos; ou
ajudando a antecipar ações não autorizadas que demonstram ser prejudiciais às
operações planejadas (PALMER, 2001, p. 16, tradução nossa).

Esta definição tratava-se de um aspecto mais amplo da disciplina, na tentativa de ir


além da compreensão de uma área que estava ligada apenas aos tribunais, mas também com
as operações militares e os ambientes corporativos (PALMER, 2001).
No que se refere ao uso da terminologia “Ciência Forense Digital”, percebe-se que
não é de unânime aceitação entre a comunidade de peritos que atuam neste campo, podendo
ser encontrados termos como “Forense Digital” (digital forensics), “Computação Forense”,
“Informática Forense” e “Forense Computacional”. No Brasil, por exemplo, Vecchia (2019),
em recente atualização de seu livro “Perícia Digital: da investigação à análise forense” ao
abordar o ponto terminológico opta pelo uso de “Perícia Digital” e “Computação Forense”,
tratando-os como sinônimos.
29

Desta maneira, entende-se que a Ciência Forense Digital é uma disciplina científica
ligada à grande área da Ciência Forense, a qual outros campos também fazem parte; como a
Antropologia Forense, a Arqueologia Forense, a Biologia Forense entre outras. O verbete
“Ciência Forense” sinaliza para “[...] a aplicação da ciência e de técnicas científicas com o
objetivo de fornecer provas imparciais sobre questões perante um tribunal” (PHILLIPS;
BOWEN, 1989, p. 7).
Cohen (2015), diante da base da Ciência Forense, esclarece através da análise de
traços que um determinado objeto ao entrar em contato com outro, deixa traços de si mesmo.
Explicando desta forma o método de transferência, proposto através dos estudos de Locard,
onde tal objeto é visto por meio do contato (causa) que transfere (mecanismo) e produz
determinado efeito (os rastros). Isso para explicar o objeto da Ciência Forense Digital: a
prova digital.
A Diplomática e a Ciência Forense Digital são áreas preocupadas com a autenticidade
do objeto digital, esta perspectiva ficou evidente em suas apresentações. Desta maneira, sua
relação pode contribuir para o fortalecimento tanto dos estudos de autenticidade para o
documento de arquivo digital como para a prova digital.
A próxima seção irá tratar da complexidade e especificidade do documento de
arquivo digital, utilizando-se para isso muito dos resultados do projeto InterPARES.
30

3 DOCUMENTO DE ARQUIVO EM AMBIENTE DIGITAL: ESPECIFICIDADE E


COMPLEXIDADE

A seção que se segue tratará da complexidade e especificidade do documento de


arquivo digital que, por sua vez, subdivide-se no conceito de documento de arquivo em
ambiente digital e na ontologia do documento de arquivo, proposta pelo projeto InterPARES.
Não é o nosso objetivo discorrer sobre todos os conceitos encontrados na literatura
arquivística a respeito do documento de arquivo em ambiente digital, até porque Rondinelli
(2013) já o fez em sua obra intitulada “O documento de arquivo ante a realidade digital: uma
revisitação necessária”. No entanto é necessário que essa compreensão seja feita nesta
pesquisa, para assim apresentarmos a importância que o documento de arquivo em ambiente
digital representa no entendimento de nossa proposta final.

3.1 O documento de arquivo digital

Antes de abordamos o conceito de documento de arquivo digital faz-se necessário,


primeiramente, compreender o que é um objeto digital.
Um objeto digital pode ser uma “Unidade de informação em formato digital composta
de uma ou mais cadeia de bits e de metadados que a identificam e descrevem suas
propriedades” (CONARQ, 2020, p. 37). Ou ainda, “Uma unidade de informação que inclui
propriedades (atributos ou características do objeto) e pode incluir métodos (meio de executar
operações no objeto) (PEARCE-MOSES, 2005, p. 117, tradução nossa). É interessante
complementar que o conceito de objeto digital é oriundo da programação orientada a objetos,
podendo ser de natureza simples ou complexa e que, de uma forma geral, trata-se de uma
abstração que se refere a qualquer tipo de informação.
Ferreira (2006), ao argumentar sobre os objetos digitais, contextualiza as camadas de
abstração envolvidas em sua constituição, as quais fazem parte do processo de compreensão
que envolve sua preservação digital. Estas camadas são também entendidas como níveis,
conforme representação da Figura 1.
31

Figura 1: Camadas de Abstração de um Objeto Digital

Fonte: Ferreira (2006)

O autor divide o objeto digital em níveis, os quais são: físico, lógico e conceitual. No
nível físico temos os hardwares, que transportam consigo os dados que serão reproduzidos e
manifestados, o nível lógico trata-se do software que irá fazer a leitura de determinado
formato e a imagem formada e visualizada pelo receptor se constitui como o nível conceitual,
que deve ser preservado (FERREIRA, 2006). Com isso, sigamos para a interpretação de
documento.
A noção de documento no campo da Arquivologia e da Ciência da Informação possui
inúmeras discussões. Autores como Buckland (1997), Ortega (2010) e Briet (2016) são
destaques no campo da Ciência da Informação ao conceituarem o que seria um documento.
Briet (2016) considera que qualquer objeto pode ser considerado um documento. O exemplo
mais famoso é o de um antílope em um museu, o qual segundo a autora pode transmitir
inúmeras informações.
Desta forma, pode-se inferir em uma compreensão genérica, que documento é toda
informação registrada em um suporte. Esta afirmativa pode se referir a qualquer tipo de
documento, seja este o de arquivo, o de biblioteca ou o de museu, por exemplo. No entanto,
não nos revela a peculiaridade e especificidade que cada tipo de documento carrega.
32

Na Arquivologia o documento é tratado como de arquivo, ou arquivístico, por


registrar as ações de seu produtor e por possuir relação com os demais documentos, daí o seu
tratamento como um conjunto, ou um fundo. Estes e os demais atributos serão apresentados
posteriormente.
A literatura anglo-saxã comumente aborda em sua terminologia o conceito de registro
(record), que conforme Duranti, Eastwood e MacNeil (2002b) é sinônimo de documento de
arquivo, ou documento arquivístico (archival document), oriundo da língua latina.
Para a Diplomática o documento de arquivo é tratado no singular, ou seja, no nível
do item. E para a Arquivologia os documentos de arquivo são tratados como agregações e
não individualmente (DURANTI; EASTWOOD; MACNEIL, 2002b, p.10).
Assim, em uma tradicional definição, o documento de arquivo é um “[...] documento
produzido (ou seja, elaborado ou recebido e retido – ou seja, mantido, salvo – para ação ou
referência) por uma pessoa física ou jurídica no curso de uma atividade prática, como um
instrumento ou subproduto de tal atividade” (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p. 15,
tradução nossa). Quanto à variação do suporte, esta é válida tanto para o documento em papel
quanto para o documento digital, ou eletrônico. Estes últimos, conforme a literatura, se
diferenciam em seus conceitos.
Antes de trazermos o conceito de documento de arquivo em ambiente digital, façamos
uma breve distinção do que é documento eletrônico e documento digital.
O documento eletrônico é entendido como uma informação analógica. Podendo, ou
não, conter dígitos binários, acessível e interpretável por equipamento eletrônico (CONARQ,
2020). Já o documento digital é aquele cuja a “Informação [é] registrada, codificada em
dígitos binários, acessível e interpretável por meio de sistema computacional” (CONARQ,
2020, p. 25).
Para Rondinelli (2013, p. 234) os termos são utilizados como sinônimos na literatura
arquivística internacional, mas que, no entanto, apresentam diferenças técnicas, refletindo
que “[...] todo documento digital é eletrônico, mas nem todo documento eletrônico é digital”,
um exemplo disso seria a fita cassete, que embora necessite de uma máquina para ser
interpretada, não possui dígitos binários.
Tendo isso em mente, um documento de arquivo digital é, portanto, “[...] um
componente digital ou um grupo de componentes digitais que é salvo, tratado e gerenciado
como um documento de arquivo”. Ou seja, é um “[...] registro cujo conteúdo e forma são
codificados usando valores numéricos discretos (como os valores binários 0 e 1)”
(DURANTI, 2009, p. 44, tradução nossa).
33

Por sua vez, um componente digital é entendido como “[...] entidades digitais que
contêm um ou mais documentos ou estão contidos no documento e requerem uma ou mais
medidas de preservação específica” (DURANTI, 2009, p. 46, tradução nossa). Este foi um
conceito elaborado tendo em vista que não é possível preservar um documento digital da
mesma forma que é feita com um documento em papel (DURANTI; THIBODEAU, 2006).
Retornaremos sobre o assunto, mais adiante.
Quanto ao fator complexidade e especificidade do documento digital isto é
impulsionado principalmente pelo avanço das tecnologias.
Duranti argumenta, por exemplo, que “Enquanto no ambiente tradicional era fácil
entender rapidamente quando a entidade que se estava observando era um documento de
arquivo ou não, no ambiente digital tal empreendimento pode ser bastante complexo e requer
etapas adicionais no procedimento de análise” (DURANTI, 2009, p. 61, tradução nossa). Por
isso, foi definido um modelo de análise no InterPARES que identificava os metadados e
componentes digitais os quais estão aliados aos conceitos e princípios da Diplomática Digital.
Complexidade quer dizer que os documentos digitais possuem muitos componentes
digitais, logo é algo vinculado a sua forma fixa, que deve ser mantida sem alteração ao longo
do tempo. Especificidade porque se trata de documentos de arquivo digital e não
simplesmente de dados, informações ou até mesmo apenas um objeto digital.
Rocha e Rondinelli (2016, p. 63) recorrem à Diplomática e argumentam que esta “[...]
reconhece a especificidade do documento gerado em ambiente computacional e muda a
condição de elemento intrínseco do documento, própria do suporte papel, passando a inseri-
lo no contexto tecnológico dos documentos digitais, mais especificamente como hardware”.
Isso se dá porque nesse contexto o suporte antes era elemento norteador da análise
diplomática e que mesmo com essa mudança imposta pela tecnologia a Diplomática se
mantém firme em identificar, através da sua metodologia, a entidade arquivística em um
objeto digital.
A seguir podemos observar os conceitos utilizados para se chegar ao entendimento
do documento de arquivo em ambiente digital.

Quadro 2: Conceitos em torno do documento de arquivo digital

Termo Autores Conceito


Unidade de informação em formato digital composta
Objeto digital CONARQ (2020) de uma ou mais cadeia de bits e de metadados que a
identificam e descrevem suas propriedades.
34

Uma unidade de informação que inclui propriedades


Pearce-Moses (2005) (atributos ou características do objeto) e pode incluir
métodos (meio de executar operações no objeto).
Documento produzido (ou seja, elaborado ou recebido
e retido – ou seja, mantido, salvo – para ação ou
Documento de Duranti & Thibodeau
referência) por uma pessoa física ou jurídica no curso
arquivo (2006)
de uma atividade prática, como um instrumento ou
subproduto de tal atividade.
Uma informação analógica podendo, ou não, conter
Documento
CONARQ (2020) dígitos binários, acessível e interpretável por
eletrônico
equipamento eletrônico.
Informação registrada, codificada em dígitos binários,
Documento digital CONARQ (2020) acessível e interpretável por meio de sistema
computacional.
Registro cujo conteúdo e forma são codificados
Documento de
Duranti (2009) usando valores numéricos discretos (como os valores
arquivo digital
binários 0 e 1).
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021

Recorremos, deste modo, aos elementos que compõem o documento de arquivo em


ambiente digital, através da ontologia proposta pelo projeto InterPARES.

3.2 Ontologia do documento de arquivo

O termo “ontologia”, originário da Filosofia, foi adotado no âmbito da Ciência da


Computação nos anos 80. Seu uso está comumente relacionado à existência de objetos e
conceitos sobre o domínio de um sistema (WELTY, 2003; VIANA; NABUCO, 2007).
Para explicarmos como um documento se constitui como um documento de arquivo,
o projeto InterPARES elaborou uma ontologia que se divide em: componentes intelectuais,
atributos e componentes digitais. Desta maneira, seguiremos esta estrutura para abordarmos
os elementos do documento de arquivo digital, logo, sua especificidade e complexidade.

3.2.1 Componentes intelectuais

O conjunto de elementos em torno dos componentes intelectuais são aqueles


determinados pela Diplomática e Arquivologia, tais como: forma fixa, conteúdo estável,
pessoas, ação, vínculo arquivístico, suporte e contextos. Seguimos com a apresentação de
cada um.
35

A forma fixa “[...] significa que o conteúdo da entidade deve ser armazenado para
que permaneça completo e inalterado, e sua mensagem deve ser apresentada com a mesma
forma documental que tinha quando foi definida pela primeira vez (DURANTI;
THIBODEAU, 2006, p. 15-16, tradução nossa). Podendo ser representada em dois tipos,
documentos armazenados e manifestados.
O documento armazenado é aquele “[...] constituído de componentes digitais
vinculados, que são usados na reprodução do documento, que compreende os dados a serem
processados para manifestar o documento [...]” (DURANTI, 2009, p. 46, tradução nossa).
Ou seja, essa manifestação do documento se daria por meio do que é entendido como dados
de conteúdo e dados de forma. E as regras de processamento dos dados onde inclui-se as
variações, que são permitidos por meio dos dados de composição.
Já o documento manifestado caracteriza-se como “[...] a visualização ou
materialização de um documento em um formato adequado para a apresentação a uma pessoa
ou sistema” (DURANTI, 2009, p. 46, tradução nossa). Duranti explica que não
necessariamente um documento com forma documental manifestada possui um documento
que corresponda a uma forma documental armazenada, pois este é recriado por meio dos
dados fixos de conteúdo viabilizada pela ação de um usuário que relaciona tais dados aos
dados específicos de forma e composição, um exemplo disso seria um documento produzido
a partir de uma consulta a um banco de dados (DURANTI, 2009).
O conteúdo estável, como o próprio termo diz, está ligado à estabilidade que o
conteúdo, ou as informações, devem possuir em um documento. É uma definição, que do
ponto de vista da Arquivologia entende que para o documento ser considerado um documento
de arquivo seus dados e informações devem estar registrados em uma forma fixa (DURANTI;
THIBODEAU, 2006).
E como determinar a estabilidade de um conteúdo, tendo em vista as várias formas
dinâmicas que este pode assumir? Isso é explicado no conceito de variabilidade limitada, o
qual é assim entendida:

Uma entidade tem variabilidade limitada quando as alterações em sua forma são
limitadas e controladas por regras fixas, de modo que a mesma consulta ou
interação sempre gera o mesmo resultado e quando o usuário pode ter visualizações
diferentes de subconjuntos diferentes de conteúdo, devido a interação do autor ou
ao caráter dos sistemas operacionais ou aplicativos. Enquanto a primeira definição
de conteúdo estável se aplica a entidades digitais estáticas, a segunda é significativa
quando as entidades que estamos vendo são interativas (DURANTI, 2009, p. 47,
tradução nossa).
36

E o que seriam essas entidades estáticas e interativas? Demonstraremos a seguir.


Para a Diplomática, uma entidade estática

[...] é aquela que não oferece possibilidades de alterar seu conteúdo ou forma
manifestada além de abrir, fechar e navegar; por exemplo, e-mails, relatórios,
gravações sonoras, vídeos e snapshots de páginas da web. Essas entidades, se todos
os requisitos foram atendidos, são documentos de arquivo, porque possuem forma
fixa e conteúdo estável (DURANTI, 2009, p. 47, tradução nossa).

Ou seja, as regras de apresentação desse tipo de entidade digital, são aquelas


determinadas pela tecnologia. Esta é uma das formas mais comuns de entender um
documento de arquivo digital.
Por outro lado, uma entidade interativa “[...] apresenta conteúdo variável, forma
variável, ou ambos, e as regras que regem o conteúdo e a forma de apresentação podem ser
fixas ou variáveis. Entidades interativas podem ou não ser documentos de arquivo,
dependendo se elas são dinâmicas ou não-dinâmicas” (DURANTI, 2009, p. 47, tradução
nossa).
Para que estas sejam consideradas não-dinâmicas “[...] as regras que regem a
apresentação do conteúdo e da forma não variam, e o conteúdo apresentado a cada vez é
selecionado a partir de um armazenamento fixo de um dado (DURANTI, 2009, p. 47,
tradução nossa). Exemplos desse tipo de entidade são as páginas web ou catálogos on-line.
Já as entidades dinâmicas

São aquelas para as quais as regras que regem a apresentação de conteúdo e forma
podem variar: essas entidades podem ser componentes de sistemas de informação
ou “documentos de arquivo em potencial”, pois podem se tornar documentos de
arquivo se o sistema digital em que existem, dado o objetivo que ele cumpre, devem
conter documentos de arquivo e, portanto, é redesenhado de forma a produzir e
gerenciar documentos ou se as entidades que deveriam existir como registro forem
movidas para outro sistema que apenas mantenha documentos digitais (por
exemplo, entidades estáticas e não-dinâmicas) (DURANTI, 2009, p. 47-48,
tradução nossa).

Desta forma, o conteúdo estável está ligado ao conceito de variabilidade limitada, que
por sua vez se aplica em entidade digital estática e entidades digitais interativas dinâmicas e
não-dinâmicas, que a depender do contexto podem se tornar um potencial documento de
arquivo digital.
Outra característica de um documento de arquivo são as pessoas que compõem a sua
produção, as quais são: um originador, um autor, um redator, um destinatário e um produtor.
37

Este conceito de “pessoas” foi determinado pela Diplomática Digital para “[...]
distinguir documentos de arquivo de objetos digitais resultantes da simples consulta de um
banco de dados [...]” (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p. 16, tradução nossa, grifo nosso).
Assim temos o seguinte entendimento sobre estas pessoas:

[....] autor é a pessoa que emite o registro, o redator é a pessoa que determina a
articulação do discurso no documento e o destinatário é a pessoa a quem o
documento se destina. Como um documento de arquivo deve participar de uma
ação e qualquer ação deve recair sobre alguém, o destinatário é necessário para a
existência do documento (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p. 16, tradução nossa,
grifo nosso).

Estas são as três pessoas que no mínimo devem ser identificadas na produção de um
documento de arquivo. As outras duas, que não são obrigatórias, mas podem se fazer presente
são: o originador que é “A pessoa física ou jurídica designada [atribuída] no endereço
eletrônico no qual o documento foi gerado e/ou enviado” e o produtor que é “A pessoa física
ou jurídica em cujo fundo o documento existe” (DURANTI, 2009, p. 45).
É importante esclarecer que a Diplomática, no século XIX, havia determinado a
existência de três pessoas: o autor, o destinatário e o redator. Posteriormente, duas pessoas
foram acrescentadas pela Diplomática Digital: originador e produtor.
Enquanto a característica “ação”, pode-se dizer que é aquela “[...] em que o
documento de arquivo participa ou que o mesmo apoia procedimentalmente como parte do
processo de tomada de decisão” (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p. 16, tradução nossa),
Para Duranti (2009, p. 48, tradução nossa) é ainda necessário

[...] determinar se as entidades [...] são documentos de arquivo, é essencial


estabelecer de que maneira eles participam das atividades, se houver, no contexto
das funções de seu produtor. Existem diferentes maneiras pelas quais um
documento pode participar de uma ação e, dependendo de sua função com relação
à ação em que participa, um documento pode adquirir um qualificador específico
(DURANTI, 2009, p. 48, tradução nossa)

É por isso que os documentos podem ser qualificados como documentos jurídico-
administrativos, documentos não-jurídicos e documentos do ambiente digital.
Os documentos jurídico-administrativos são divididos em probatórios e dispositivos.
Nessa categoria o documento é considerado probatório ao “[...] fornecer prova de um ato que
veio à existência e foi completo antes de se manifestar por escrito [...] (DURANTI, 2009, p.
48-49, tradução nossa). Alguns exemplos são os certificados, transcrições e recibos. Por outro
lado, o documento dispositivo é aquele que “[...] se destina a colocar o ato em prática e,
38

portanto, constitui a essência e substância do ato [...] (DURANTI, 2009, p. 48-49, tradução
nossa). Os contratos, concessões, solicitações e ordens de pagamento são exemplos de
documentos dispositivos.
Os documentos não jurídicos (ou legais) são aqueles “Documentos cuja existência
não é exigida pelo sistema jurídico-administrativo para a execução de ações cuja forma
escrita é discricionária, são considerados registros não-legais” (DURANTI, 2009, p. 49).
Encontram-se divididos em documentos de apoio e narrativos.
Os documentos de apoio são aqueles “[...] cuja função é informar a atividade em que
participam [...] (DURANTI, 2009, p. 49, tradução nossa). A exemplo disso temos as notas
de ensino (teaching notes) e mapas. Já os documentos narrativos a “[...] função é a de
comunicação livre de informações (DURANTI, 2009, p. 49, tradução nossa). Os exemplos
deste tipo de documentos são as notas, relatórios não solicitados e relatos informais de
eventos.
E por último, a categoria de documentos do ambiente digital que são aqueles de
instrução e de capacitação.
Aqueles considerados de instrução “[...] indicam a maneira pela qual os dados,
documentos, ou documentos de arquivo devem ser apresentados (por exemplo, formulários
como instruções incorporadas para preencher e formatá-los) (DURANTI, 2009, p. 49,
tradução nossa).
E os documentos de capacitação

[...] permitem uma apresentação, como o desempenho de obras artísticas (exemplo,


softwares patches), execução de transações comerciais (exemplo, aplicativos de
negócios em interação) realização de experimentos (por exemplo, um fluxo de
trabalho gerado e usado para realizar um experimento do qual é instrumento,
subproduto e resíduo) ou análise de dados observacionais (por exemplo, softwares
de interpretação) (DURANTI, 2009, p. 49, tradução nossa).

De acordo com Duranti (2009, p. 49, tradução nossa), o documento instrutivo à


medida que é armazenado, se diferencia do documento que se manifesta na tela do
computador e o documento de capacitação não possui um documento correspondente
manifestado, na maioria das vezes.
Já o vínculo arquivístico (ou relação orgânica) trata das “[...] ligações explícitas a
outros documentos dentro e fora do sistema digital, através de um código de classificação ou
outro identificador exclusivo” (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p. 16, tradução nossa).
39

Duranti (1997) nos explica que o vínculo arquivístico é considerado originário em


um documento de arquivo quando este é produzido, logo, recebido e mantido em um fundo;
necessário, porque existe em cada documento de arquivo, isto é o que o diferencia de
qualquer documento; e determinado já que é qualificado pela função do documento de
arquivo na agregação a qual este pertence no conjunto documental.
O contexto identificável se trata da “[...] categorização dos contextos dos documentos
de arquivo e a lista do que os revelaria, correspondem a uma hierarquia de estruturas que vai
do geral ao específico [particular]” (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p.18, tradução nossa).
Estes são assim dispostos em cinco tipos, os quais são:

[...] (1) contexto jurídico-administrativo (manifestado, por exemplo, em lei e


regulamentações), (2) contexto de proveniência (manifestado, por exemplo, em
organogramas, relatórios anuais, tabela de usuários em um banco de dados), (3)
contexto de procedimentos (manifestado, por exemplo, em regras de fluxos de
trabalho, códigos de procedimentos administrativo), (4) contexto documental
(manifestado, por exemplo, em planos de classificação, inventário, tesauros) (5)
contexto tecnológico (manifestado, por exemplo, hardware, software, modelagem
de sistema, administração de sistema) (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p.18,
tradução nossa).

E por fim, temos como elemento intelectual da ontologia o suporte, que apesar de
contemplado foi necessário realocá-lo. Duranti e Thibodeau (2006) argumentam que é
importante levar em consideração que embora o documento digital seja uma entidade
necessária, seu suporte não está inextricavelmente vinculado à mensagem, são cadeias de bits
que o reproduzem e o tornam inteligível. Isso foi discutido no projeto InterPARES, que ao
levar em consideração os objetivos do projeto, de avaliar a autenticidade do documento de
arquivo digital, identificou que o suporte não era um fator relevante para a análise, inserindo-
o desta forma no âmbito dos contextos, mais especificamente, o contexto digital.
Até aqui apontamos boa parte do que se entende pela complexidade e especificidade
do documento de arquivo digital. Grande parte influenciada pelos conceitos desenvolvidos
na Diplomática e na Arquivologia aliada aos estudos interdisciplinares de profissionais de
inúmeras áreas, entre elas a tecnologia. No entanto, necessitamos ainda observar os demais
elementos da ontologia.
40

3.2.2 Os Atributos

Estes elementos foram especificados pelo InterPARES 1 e constituem como parte dos
conceitos de integridade e identidade de um documento de arquivo.
Segundo o Glossário do InterPARES 1 (2001, p. 6, tradução nossa) atributos tratam-
se de “Uma característica definidora de um documento de arquivo ou de um elemento do
documento de arquivo”. Estes estão relacionados à forma documental (espécie), seus
elementos extrínsecos e intrínsecos, conforme explica MacNeil et al (2000, p. 2, tradução
nossa):

Um elemento de documento de arquivo é uma parte constituinte da forma


documental e pode ser extrínseco ou intrínseco. Um atributo pode se manifestar em
um ou mais elementos da forma documental de um documento de arquivo. Por
exemplo, o nome do autor de um documento é um atributo que pode ser expresso
como uma subscrição ou assinatura, os quais são elementos intrínsecos da forma
documental. [...] Um atributo também pode se manifestar na forma de anotações a
um documento, em metadados vinculados a este, ou em um ou mais dos vários
contextos.

A forma documental, que também pode ser entendida como a espécie documental, é
definida “[...] como as regras de apresentação segundo os quais o conteúdo de um documento
de arquivo, seu contexto administrativo e documental e sua autoridade são comunicados
(DURANTI; THIBODEAU, 2006, p.17, tradução nossa). Esta traz consigo os seus elementos
extrínsecos e intrínsecos.
Já os elementos extrínsecos são “Os elementos de um documento de arquivo que
constituem sua aparência externa” (DURANTI; THIBODEAU, 2006, p.17, tradução nossa).
Os elementos extrínsecos constituem-se dos recursos de apresentação, que são “Um
conjunto de recursos perceptíveis (gráficos, auditivos, visuais) gerados por meio de
instruções de codificação de programa e capazes, quando usados individualmente em
combinação, de apresentar uma mensagem em todos os sentidos” (MACNEIL et al, 2000, p.
1, tradução nossa). Podendo estes estarem concentrados em 1) apresentação em geral – texto,
gráfico, imagem, som – e 2) apresentação específica – layout especiais, fontes de tipos
empregadas deliberadamente, cores empregadas deliberadamente, hiperlinks, indicação
gráfica de anexo, taxa de amostragem de arquivos de som, resolução de arquivos de imagens,
escalas de mapas (MACNEIL et al, 2000).
Outro elemento extrínseco é a assinatura eletrônica que se configura como uma marca
digital que pode ter uma ‘‘[...] função de assinatura, associada ou logicamente associada a
41

um registro, usada por um signatário para assumir responsabilidade ou dar consentimento ao


conteúdo desse registro e que pode ser usada para verificar sua autenticidade (MACNEIL et
al, 2000, p. 2) Como exemplo disso há a assinatura digital que é baseada em chaves públicas.
O carimbo de data/hora emitido por uma terceira parte confiável (Trusted Third
Party) que é “Um atestado por um TTP de que um registro foi recebido em um determinado
momento” (MACNEIL et al, 2000, p. 2) e os sinais especiais “Símbolo que identifica uma
ou mais pessoas envolvidas na compilação, recebimento ou execução do registro” são
representados por marca d’água digital, brasão da organização, logotipo pessoal e
identificador de originador (MACNEIL et al, 2000, p. 2), também fazem parte destes
elementos.
Os elementos intrínsecos são “Os elementos de um documento que transmitem a ação
da qual o documento de arquivo participa e seu contexto imediato” (DURANTI;
THIBODEAU, 2006, p.17, tradução nossa). Ou seja, constituem os elementos internos de
um documento. Sendo estes: nome do autor, nome do originador, data cronológica, nome do
local de origem do documento (data tópica), nome(s) do(s) destinatário(s), nome(s) do(s)
receptor(es), indicação da ação ou do fato, nome do redator, corroboração, atestação,
qualificação da assinatura (MACNEIL et al, 2000).
As anotações 1) feitas no curso de execução dos documentos de arquivo (records),
tais como; prioridade de transmissão, data de transmissão de hora e/ou lugar, indicação de
anexos; 2) anotações feitas no curso de tratamento do ato/fato (matter) dos negócios à qual o
registro se refere e 3) anotações feitas no curso do gerenciamento dos registros para objetivos
da gestão de documentos, como; a data de arquivamento, rascunho ou número de versões,
identificador do item do registro, identificador do dossiê, código de classe, número de
registro e nome do produtor (MACNEIL et al, 2000).
Os metadados que, segundo o Glossário do Projeto InterPARES 2 (2021, p. 30,
tradução nossa), podem ser “Informações que caracterizam outro recurso de informações,
especialmente para fins de documentação, descrição, preservação ou gerenciamento desse
recurso” e “Qualquer arquivo (file) ou banco de dados que contém informações sobre um
documento, registro, agregação de registros ou a estrutura, atributos, processamento ou
alterações de outro banco de dados”. Constituem grande parte da estrutura dos documentos
e são parte importante, como mencionado, para a preservação dos documentos digitais.
42

3.2.3 Componentes Digitais

Os componentes digitais, de acordo com o Glossário do InterPARES 2 (2021, p. 16),


trata-se de “Um objeto digital que faz parte de um ou mais documentos digitais e os
metadados necessários para ordenar, estruturar ou manifestar seu conteúdo e forma, exigindo
uma determinada ação de preservação”.
Em mais detalhes Duranti e Thibodeau (2006, p. 20, tradução nossa), explicam esse
conceito através dos elementos de um e-mail (mensagem eletrônica) que contém mensagem
de texto, imagem e assinatura digital. Este pode possuir pelo menos quatro componentes, os
quais são: dados do cabeçalho, o texto da mensagem, a imagem e assinatura.
A figura 2 sistematiza os componentes e atributos apresentados e que compõem a
ontologia do documento de arquivo, determinados pelo InterPARES, com apoio da
metodologia da Diplomática Digital.

Figura 2: Ontologia do Documento de Arquivo

Fonte: InterPARES 2 (s/d)

Finalizada nossa abordagem, podemos inferir a grande contribuição dada pelas duas
etapas do projeto InterPARES, um resultado que recuperou conceitos tradicionais da
43

Diplomática e Arquivologia, assim como fundamentou novos conceitos, para aplicar na


realidade digital a qual se encontram os documentos de arquivo.
Conceitos estes que utilizamos para compreender o documento de arquivo digital em
sua complexidade e especificidade. Onde uma entidade digital produzida e recebida no curso
de suas atividades para fins de prova em um ambiente digital que não se apresenta apenas
como um mero objeto digital. Mas sim como um documento de arquivo que é constituído de
metadados e componentes digitais.
O quadro a seguir sistematiza os conceitos empregados para entender os componentes
intelectuais, os atributos e os componentes digitais do documento de arquivo.

Quadro 3: Conceitos da ontologia do documento de arquivo

Componentes intelectuais

Termo Autores Conceito


Significa que o conteúdo da entidade deve ser
armazenado para que permaneça completo e inalterado,
Duranti & Thibodeau e sua mensagem deve ser apresentada com a mesma
Forma fixa
(2006) forma documental que tinha quando foi definida pela
primeira vez. Existem dois tipos: documentos
armazenados e manifestados.
Constituído de componentes digitais vinculados, que
Documento são usados na reprodução do documento, que
Duranti (2009)
armazenando compreende os dados a serem processados para
manifestar o documento.
A visualização ou materialização de um documento em
Documento
Duranti (2009) um formato adequado para a apresentação a uma pessoa
manifestado
ou sistema.
Estabilidade que o conteúdo, ou as informações, devem
Duranti & Thibodeau
Conteúdo estável possuir em um documento. Aplicado as entidades
(2006)
estáticas.
Uma entidade tem variabilidade limitada quando as
alterações em sua forma são limitadas e controladas por
regras fixas, de modo que a mesma consulta ou interação
Variabilidade
Duranti (2009) sempre gera o mesmo resultado e quando o usuário pode
limitada
ter visualizações diferentes de subconjuntos diferentes
de conteúdo, devido a interação do autor ou ao caráter
dos sistemas operacionais ou aplicativos.
Aquela que não oferece possibilidades de alterar seu
Entidade estática Duranti (2009) conteúdo ou forma manifestada além de abrir, fechar e
navegar.
Apresenta conteúdo variável, forma variável, ou ambos,
e as regras que regem o conteúdo e a forma de
Entidade interativa Duranti (2009)
apresentação podem ser fixas ou variáveis. Dividida em
não-dinâmica e dinâmica.
As regras que regem a apresentação do conteúdo e da
Entidade não- forma não variam, e o conteúdo apresentado a cada vez
Duranti (2009)
dinâmica é selecionado a partir de um armazenamento fixo de um
dado.
São aquelas para as quais as regras que regem a
Entidade dinâmica Duranti (2009)
apresentação de conteúdo e forma podem variar: essas
44

entidades podem ser componentes de sistemas de


informação ou “documentos de arquivo em potencial”.
Autor é a pessoa que emite o registro.
Redator é a pessoa que determina a articulação do
discurso no documento.
Duranti & Thibodeau Destinatário é a pessoa a quem o documento se destina.
Pessoas
(2006) Originador é pessoa física ou jurídica designada no
endereço eletrônico no qual o documento foi gerado
e/ou enviado.
Produtor é a pessoa física ou jurídica em cujo fundo o
documento existe.
Aquela em que o documento de arquivo participa ou que
Duranti & Thibodeau
Ação o mesmo apoia procedimentalmente como parte do
(2006)
processo de tomada de decisão.
Documento jurídico-
Fornece prova de um ato que veio à existência e foi
administrativo Duranti (2009)
completo antes de se manifestar por escrito.
probatório
Documento jurídico-
Se destina a colocar o ato em prática e, portanto,
administrativo Duranti (2009)
constitui a essência e substância do ato.
dispositivo
Documento não-
São aqueles cuja função é informar a atividade em que
jurídico Duranti (2009)
participam.
de apoio
Documento não-
Duranti (2009) São aqueles cuja função é a de comunicação livre de
jurídico
informações.
narrativos
Indicam a maneira pela qual os dados, documentos, ou
Documento do
Duranti (2009) documentos de arquivo devem ser apresentados (por
ambiente
exemplo, formulários como instruções incorporadas
digital de instrução
para preencher e formatá-los).
Permitem uma apresentação, como o desempenho de
obras artísticas (exemplo, softwares patches), execução
de transações comerciais (exemplo, aplicativos de
Documento do
negócios em interação) realização de experimentos (por
ambiente
Duranti (2009) exemplo, um fluxo de trabalho gerado e usado para
digital de
realizar um experimento do qual é instrumento,
capacitação
subproduto e resíduo) ou análise de dados
observacionais (por exemplo, softwares de
interpretação).
Ligações explícitas a outros documentos dentro e fora
Duranti & Thibodeau
Vínculo arquivístico do sistema digital, através de um código de classificação
(2006)
ou outro identificador exclusivo.
Contexto jurídico-administrativo (manifestado, por
exemplo, em lei e regulamentações).
Contexto de proveniência (manifestado, por exemplo,
em organogramas, relatórios anuais, tabela de usuários
em um banco de dados).
Contexto de procedimentos (manifestado, por exemplo,
Contexto Duranti & Thibodeau
em regras de fluxos de trabalho, códigos de
identificável (2006)
procedimentos administrativo).
Contexto documental (manifestado, por exemplo, em
planos de classificação, inventário, tesauros).
Contexto tecnológico (manifestado, por exemplo,
hardware, software, modelagem de sistema,
administração de sistema).
Os atributos
45

Termo Autores Conceitos


InterPARES 1 Uma característica definidora de um documento de
Atributos
Glossary (2001) arquivo ou de um elemento do documento de arquivo.
Regras de apresentação segundo os quais o conteúdo de
Duranti & Thibodeau
Espécie documental um documento de arquivo, seu contexto administrativo
(2006)
e documental e sua autoridade são comunicados.
Elementos Duranti & Thibodeau Os elementos de um documento de arquivo que
extrínsecos (2006) constituem sua aparência externa.
Os elementos de um documento que transmitem a ação
Duranti & Thibodeau
Elementos intrínsecos da qual o documento de arquivo participa e seu contexto
(2006)
imediato.
Informações que caracterizam outro recurso de
informações, especialmente para fins de documentação,
descrição, preservação ou gerenciamento desse recurso.
Glossário do Projeto
Metadados Qualquer arquivo (file) ou banco de dados que contém
InterPARES 2 (2021)
informações sobre um documento, registro, agregação
de registros ou a estrutura, atributos, processamento ou
alterações de outro banco de dados.
Componentes digitais

Termo Autores Conceito


Um objeto digital que faz parte de um ou mais
Glossário do Projeto documentos digitais e os metadados necessários para
Componente digital
InterPARES 2 (2021) ordenar, estruturar ou manifestar seu conteúdo e forma,
exigindo uma determinada ação de preservação
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Esta seção nos trouxe um panorama do geral para o particular sobre a relação do
documento de arquivo com o ambiente digital, através da ontologia do projeto InterPARES,
o que contribuiu para entendermos sobre a questão de complexidade e especificidade que
estes carregam na atualidade. Diante disso, passemos para a próxima seção que abordará a
questão de prova do documento digital em uma perspectiva arquivística e jurídica.
46

4 O DOCUMENTO DIGITAL ENQUANTO FONTE DE PROVA: ASPECTOS


ARQUIVÍSTICOS E JURÍDICOS

Nesta seção será apresentada a perspectiva do documento digital enquanto fonte de


prova no contexto arquivístico e jurídico com direcionamento, em especial, na literatura da
Ciência Forense Digital. A qual se estrutura na abordagem da prova digital, na classificação
da prova digital, no processo de análise forense e no conceito de cadeia de custódia.

4.1 Definição de prova digital

Há uma diferença na perspectiva do objeto da Diplomática Digital e da Ciência


Forense Digital, enquanto que para a primeira um objeto digital é compreendido como o
documento de arquivo digital para a segunda este é visto como uma prova digital.
A definição de prova para Duranti, Eastwood e MacNeil (2002b, p. 9, tradução nossa)
é “A relação demonstrada entre o julgador de um fato - um juiz ou júri - entre o fato a ser
provado e o fato que o prova”. Enquanto que para Pearce-Moses (2005, p. 152) é “Algo que
é usado para apoiar um entendimento ou um argumento” ou “[...] Um registro, um objeto,
testemunho ou outro material que é usado para provar ou refutar um fato”.
Duranti, Eastwood e MacNeil (2002b) explicam que essa concepção de prova que é
adotada pela Diplomática, com relação jurídica, não é entendida como uma entidade mas sim
como uma relação que é encontrada em um documento, ressaltando ainda que tal
interpretação pode variar de acordo com o sistema jurídico de cada país. Nos países que
adotam o direito comum (Common law) prevalece as regras de relevância e exclusão da
prova, enquanto que nos países de direito civil a relação de prova só existe se esta for
relevante para o caso, como explica os autores.
Nas definições apresentadas por Pearce-Moses (2005) a primeira é de cunho
arquivístico, compartilha o que é entendido por Duranti, Eastwood e MacNeil (2002b), ou
seja, como uma relação com os documentos. Enquanto que a segunda, de origem jurídica,
está relacionada de fato com um objeto. O autor ressalta ainda, em nota, que um registro para
ser admitido como prova necessita ser autêntico, confiável e preciso.
Sobre a diferença conceitual entre prova e evidência, Rondinelli (2021), em
mensagem eletrônica recebida em 19 de julho de 2021, nos explica que estas podem diferir
no âmbito jurídico e linguístico.
47

Do ponto de vista linguístico, no caso o nosso português, os termos prova e


evidência são sinônimos, significando demonstração da verdade. Já do ponto de
vista jurídico, em relação ao Direito Civil (no qual o Brasil se insere), o termo
“evidência” não existe, não é sequer dicionarizado, sendo “prova” o utilizado. Já
no Direito Comum (Estados Unidos, Inglaterra etc) o termo evidência é utilizado
no sentido de elementos que fazem prova, sendo que uma vez provado, o termo
muda para proof.
Assim, o uso do termo evidência como prova só é válido no âmbito linguístico. No
âmbito jurídico seria equivocado, primeiro porque o termo não existe no nosso
direito e segundo porque no Direito Comum há essa diferença entre prova e proof.

Este esclarecimento serve para refletir sobre esta temática, tendo em vista a confusão
que os termos prova e evidência podem gerar, a autora reforça a necessidade de estudos que
abordem essa preocupação.
Silva (2019) também reflete sobre o assunto, onde

[...] deve se frisar a diferença entre a prova (evidence) e os documentos, uma vez
que a primeira se refere a um objeto coletado em alguma circunstância, que precisa
ser protegido e mantido inalterado a fim de ser apresentado em juízo. Os
documentos não são coletados, mas transmitidos pelo produtor e seus legítimos
sucessores até o arquivista.

Sua reflexão de prova e documentos está pautada na ideia da cadeia de custódia que
é compartilhada entre o Direito e a Arquivologia, assunto que será abordado mais adiante.
Retornando para a definição de prova, no contexto jurídico brasileiro, recorremos a
Silva (2016, p. 1134) que nos diz:

Do latim proba, de probare (demonstrar, reconhecer, formar juízo de), entende-se,


assim, no sentido jurídico, a demonstração, que se faz, pelos meios legais, da
existência ou veracidade de um fato material ou de um ato jurídico, em virtude da
qual se conclui pela existência do fato ou do ato demonstrado. A prova consiste,
pois, na demonstração da existência ou da veracidade daquilo que se alega como
fundamento do direito que se defende ou que se contesta.

O mesmo aponta ainda que a prova pode ser entendida como uma confissão, dada a
partir da coleta de depoimentos; perícias, constituídas de exames, vistorias e arbitramento5 -
por exemplo; documentos de proveniência pública ou particular e pelas presunções que
devem estar vinculadas à lei (SILVA, 2016).
São apresentados outros tipos de prova que para Silva (2016) são provas que recebem
denominações especiais, algumas merecem destaque:

5
Na linguagem jurídica, trata-se da apreciação de determinar o valor de fatos ou coisas que não possuem
elementos de avaliação determinados (SILVA, 2016).
48

● Prova documental ou literal: “[...] estruturada por documento, ou a demonstração


do fato alegado por meio do documento [...]” (SILVA, 2016, p. 1136)
● Prova testemunhal: “É a que se produz ou se forma pelo depoimento ou declaração
das testemunhas” (SILVA, 2016, p. 1138)
● Prova pericial: “É a que se produz por ofício dos peritos, ou por meio de exames,
vistorias, arbitramentos (SILVA, 2016, p. 1137)
● Prova indireta: “[...] é a que afirma numa presunção legal, como força probante
atribuída por lei, ou no indício, de que conclui a existência do fato legado” (SILVA,
2016, p. 1137)

É importante ressaltar que não foi observado a existência de nenhuma definição que
abordasse a questão da prova digital, constituída de documentos, vestígios e traços digitais.
Trazendo desta forma, definições amplas e genéricas.
A prova digital, na concepção jurídica da Ciência Forense Digital é, portanto,
compreendida como qualquer objeto ou material passível de prova legal diante de um
tribunal, seja esta uma cópia autenticada ou um original. Em uma definição do Scientific
Working Group on Digital Evidence (SWGDE) da International Organization on Digital
Evidence (IODE), apresentada em 1998, a mesma foi interpretada como “[...] qualquer
informação de valor probatório que é armazenada ou transmitida em forma binária”
(WHITCOMB, 2002, p. 4, tradução nossa). Posteriormente “binária” foi alterado para
“digital”.
Cohen (2011) utiliza-se do conhecimento combinado da Diplomática, Arquivologia
e Ciência Forense para enriquecer o Campo da Ciência Forense Digital, apresentando os
conceitos definidos e elaborados pelo projeto InterPARES para uso e tratamento de forma
científica das provas digitais.
Fruto disso é a definição proposta pelo autor para rastro, evento e registro que por sua
vez estão relacionados à prova digital (COHEN, 2011, p. 10, tradução nossa):

● Rastro (trace): (Ciência Forense Digital) conjunto de sequências de bits produzidas


a partir da execução de uma máquina de estado finito (finite state machine).
● Evento: (Forense) um estado de coisas ou ato reivindicado, afirmado ou estipulado.
● Registro (record): (Arquivologia) um documento produzido (ou seja, feito ou
recebido e reservado para ação ou referência) no curso da atividade como um
49

instrumento ou subproduto dela (todos os registros digitais são rastros, mas nem todos
os rastros são registros)

Segundo Cohen (2015) esses laços fortaleceriam a realização de um exame digital


nos registros nato digitais, tendo em vista a complexidade e a especificidade carregada por
estes. Outros elementos são desenvolvidos para dar suporte à estas definições, como a de
registro, ou documento de arquivo, que carrega consigo muito dos conceitos apresentados na
seção anterior quando abordamos as características do documento de arquivo digital.
O quadro abaixo demonstra os conceitos utilizados até aqui para entendermos sobre
a prova digital.

Quadro 4: Conceito em torno da prova digital

Termo Autores Conceito


A relação demonstrada entre o julgador de um fato - um
Duranti, Eastwood &
juiz ou júri - entre o fato a ser provado e o fato que o
MacNeil (2002b)
prova.
Algo que é usado para apoiar um entendimento ou um
Pearce-Moses (2005)
argumento.
Um registro, um objeto, testemunho ou outro material
Pearce-Moses (2005)
que é usado para provar ou refutar um fato.
Do latim proba, de probare (demonstrar, reconhecer,
Prova
formar juízo de), entende-se, assim, no sentido jurídico,
a demonstração, que se faz, pelos meios legais, da
existência ou veracidade de um fato material ou de um
Silva (2016) ato jurídico, em virtude da qual se conclui pela
existência do fato ou do ato demonstrado. A prova
consiste, pois, na demonstração da existência ou da
veracidade daquilo que se alega como fundamento do
direito que se defende ou que se contesta.
Prova documental ou Estruturada por documento, ou a demonstração do fato
Silva (2016)
literal alegado por meio do documento.
É a que se produz ou se forma pelo depoimento ou
Prova testemunhal Silva (2016)
declaração das testemunhas.
É a que se produz por ofício dos peritos, ou por meio de
Prova pericial Silva (2016)
exames, vistorias, arbitramentos.
É a que afirma numa presunção legal, como força
Prova indireta Silva (2016) probante atribuída por lei, ou no indício, de que conclui
a existência do fato legado
Qualquer informação de valor probatório que é
Prova digital Whitcomb (2002)
armazenada ou transmitida em forma binária (digital).
Para a Ciência Forense Digital é o conjunto de
Rastro Cohen (2011) sequências de bits produzidas a partir da execução de
uma máquina de estado finito (finite state machine).
Para a Ciência Forense é um estado de coisas ou ato
Evento Cohen (2011)
reivindicado, afirmado ou estipulado.
Para a Arquivologia é um documento produzido (ou
seja, feito ou recebido e reservado para ação ou
Registro Cohen (2011) referência) no curso da atividade como um instrumento
ou subproduto dela (todos os registros digitais são
rastros, mas nem todos os rastros são registros).
50

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

A Ciência Forense Digital possui um papel importante na apresentação de provas


digitais aos tribunais, para isso, critérios de autenticidade são de extrema importância nesse
percurso que vai da coleta à apresentação. A Arquivologia, através dos estudos diplomáticos,
pode contribuir para a Ciência Forense Digital com a produção de documentos digitais
autênticos, uma ideia corroborada por Duranti (2009) e que tem sido propagada por Cohen
(2015), como visto anteriormente.
Adentremos sobre a classificação das provas digitais.

4.2 Classificação das provas digitais

Assim como a Diplomática Digital classifica os documentos de arquivo, algo válido


tanto para o ambiente tradicional quanto para o digital, como vimos na seção anterior, a
Ciência Forense Digital também tem se preocupado em identificar os diferentes tipos de
registros em sistemas digitais ao admitir um registro produzido em um ambiente tradicional
como prova.
Primeiramente abordamos duas entidades que levam um entendimento muito
semelhante ao de documento digital dinâmico e interativo, explicadas por Mocas (2004, 64-
63), que diz:

[...] criar imagens de um único disco rígido e, em seguida, realizar uma pesquisa
nessa imagem fornece um ambiente técnico estático. Em contraste, um ambiente
técnico dinâmico é aquele em que um ou mais dos componentes dos quais os dados
são recuperados têm potencial para modificação, independentemente de quaisquer
mudanças no sistema que possam ser introduzidas durante o processo investigativo.
Em outras palavras, sistemas ''vivos6'' e sistemas conectados à Internet se
qualificam como dinâmicos.

Esta classificação é utilizada para a Ciência Forense Digital como um ponto de partida
para o contexto técnico de extração de dados para se diferenciar do contexto investigativo.
As outras categorias encontradas na Ciência Forense Digital são as de registros
armazenados em computador e registros armazenados por computador.

6
Este termo é utilizado quando se trata de equipamentos ligados (Lives Forensics) onde se realiza a coleta de
dados com equipamento ainda funcionando no intuito de adquirir informações voláteis (VECCHIA 2019).
51

Na primeira, registros armazenados em computador, “[...] inclui os escritos de


pessoas físicas que estão em formato eletrônico. Exemplos são mensagens de e-mail,
documentos de processamento de texto e mensagens da sala de bate-papo na internet.
(DURANTI, 2009, p. 50). A autora ressalta que qualquer registro tradicional que contenha
declarações humanas é considerado pela lei da prova7 como boatos (Hearsay Rule)8,
distinguindo-se dos registros comerciais, e apenas sendo admitidos em tribunais se forem
consideradas exceções.
Já a categoria, registros gerados por computador,

[...] contém a saída de programas de computador, produzidos sem interferência


humana direta. Esses registros podem ser eventos gravados por computador, como
transações registradas por caixas eletrônicos; conjuntos de dados produzidos por
um sistema que realiza análises ou cálculos de dados fornecidos por seres humanos;
simulações de modelagem de comportamentos ou previsão de resultados de
eventos; [...] (DURANTI, 2009, p. 50).

Este tipo de registro entendido pela Ciência Forense Digital como gerado por
computador é também contemplado pela Diplomática Digital, no entanto, na categoria dos
documentos armazenados e de capacitação. Os registros gerados por computador ao contrário
dos registros armazenados em computador, não possuem declarações humanas por serem
produzidos por programas computacionais. Isso demonstra que um registro com declarações
humanas, para estas regras, implica em questões de confiabilidade enquanto que as
produzidas por programas computacionais implicam como autênticas (DURANTI, 2009).
E por fim, há uma terceira categoria de registros gerados e armazenados por
computador que se enquadram no típico exemplo de “[...] uma planilha que recebeu entrada
humana seguida de processamento por computador (as operações matemáticas do programa
de planilhas) (DURANTI, 2009, p. 51). Esta pode se enquadrar tanto nas regras de boatos
quanto no teste de Daubert9, que é um teste que apura prova científica ou prova pericial.
Os conceitos sobre o tipo de prova, de acordo com a literatura da Ciência Forense
Digital, são sistematizados no quadro 5.

7
A lei da prova (Evidence Act) regulamenta as regras de prova no Canadá, já nos Estados Unidos prevalece as
Regras Federais de Prova (Federal Rules of Evidence), ambas em conformidade com o direito comum
(Common Law).
8
A Regra do Boato (Hearsay Rule) - do direito norte-americano - equivale no direito brasileiro ao “ouvi
dizer”. Disponível em: https://congressonacional2017.ammp.org.br/public/arquivos/teses/90.pdf. Acesso em
23 ago 2020.
9
Regra norte-americana que trata da prova científica, aquela que é elaborada por um perito mediante
metodologia com aceitação da comunidade científica Disponível em:
http://www.pge.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019-
10/002ojuizeaanalisedaprovapericial.pdf . Acesso em 20 ago. 2020.
52

Quadro 5: Tipos de provas na Ciência Forense Digital

Termo Autores Conceito


Criar imagens de um único disco rígido e, em seguida,
realizar uma pesquisa nessa imagem fornece um
ambiente técnico estático. Em contraste, um ambiente
técnico dinâmico é aquele em que um ou mais dos
Documento digital componentes dos quais os dados são recuperados têm
dinâmico e interativo Mocas (2004) potencial para modificação, independentemente de
quaisquer mudanças no sistema que possam ser
introduzidas durante o processo investigativo. Em
outras palavras, sistemas ''vivos'' e sistemas conectados
à Internet se qualificam como dinâmicos.
Inclui os escritos de pessoas físicas que estão em
Registros
Duranti (2009) formato eletrônico. Exemplos são mensagens de e-mail,
armazenados em
documentos de processamento de texto e mensagens da
computador
sala de bate-papo na internet.
Contém a saída de programas de computador,
produzidos sem interferência humana direta. Esses
registros podem ser eventos gravados por computador,
Registros gerados por como transações registradas por caixas eletrônicos;
Duranti (2009)
computador conjuntos de dados produzidos por um sistema que
realiza análises ou cálculos de dados fornecidos por
seres humanos; simulações de modelagem de
comportamentos ou previsão de resultados de eventos.
Registros gerados e Uma planilha que recebeu entrada humana seguida de
armazenados por Duranti (2009) processamento por computador (as operações
computador matemáticas do programa de planilhas).
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

4.3 Autenticidade da prova digital

Na Ciência Forense Digital o conceito de credibilidade (trustworthiness) não é


compreendido como o conceito trabalhado na Diplomática Digital. As ocorrências para
confiar em uma prova digital estão relacionadas à autenticidade, precisão, confiabilidade e
integridade que, conforme os estudos de Duranti (2009) são qualidades que garantem a
credibilidade.
Mocas (2004) apresenta duas definições de autenticação (authentication): a primeira
é uma definição geral e a segunda uma adaptação relacionada a busca e apreensão de prova
eletrônica. As quais são: 1) “Autenticação (segurança do computador): saber que o autor
aparente do texto é de fato o autor verdadeiro” e “Autenticação (legal): saber que a prova
eletrônica é o que seu proponente alega” (MOCAS, 2004, p. 66, tradução nossa).
A autora julga que, para a primeira definição, é importante relacionar uma pessoa a
uma informação através de mecanismos técnicos, que identificam a conexão entre uma
pessoa com uma máquina. Basicamente seria como apontar o autor de um determinado
documento, e também declarar se o sistema de origem é verdadeiro (MOCAS, 2004).
53

Na segunda definição, Mocas (2004) explica que autenticação e integridade estariam


extremamente ligadas, mas criticando que não podem ser entendidas como a mesma coisa,
tendo em vista que nem sempre autenticação implica integridade.
O termo “autenticação” não equivale a “autenticidade”, mas as definições apontadas
pela autora se aproximam desta última, para isso entendamos melhor o termo nas palavras de
Duranti.

O termo autenticidade, que é utilizado no contexto das regras de admissibilidade,


é uma pré-condição para a admissibilidade da prova relacionada ao assunto em
questão, e se refere ao fato de que ‘os dados ou conteúdo do registro’ são o que
pretendem ser e foram produzidos por/ou vieram da ‘fonte’ que afirmam ter sido
produzidos por/ou de onde vêm (DURANTI, 2009, p. 56, tradução nossa, grifo do
autor).

Desta forma, Duranti (2009) conclui que observando essa explicação e o que foi
exposto por Mocas (2004), percebe-se que do ponto de vista da Diplomática Digital o
conceito de integridade também não implica em autenticidade.
Na Ciência Forense Digital existem ainda outros meios de entender uma prova digital
enquanto autêntica. Por exemplo, o entendimento sobre a prova de autenticidade (proof of
authenticity), ou autenticação da prova (authentication of evidence), que estariam também
relacionadas à declaração de uma testemunha sobre a prova gerada por um sistema. Os seus
metadados de data e hora tais como os registros de recebimento e envio de mensagem, bem
com a indicação dos computadores que criaram e receberam tais mensagens. E também, a
importância de se manter uma cadeia de custódia legítima (DURANTI, 2009).
A precisão (accuracy) não é muito bem definida na Ciência Forense Digital, mas
Duranti (2009) afirma que os especialistas a utilizam como um componente de autenticidade,
ou mais especificame nte de integridade.
Já a confiabilidade de uma prova é usada em referência à fonte do registro, ou seja,
em apontar se o software de origem é confiável. Para isso, os especialistas usam testes
empíricos sujeitos à revisão por pares, determinando desta forma a taxa de erro e sua
aceitação pela comunidade legal (DURANTI, 2009).
A integridade é um conceito que se divide entre integridade de dados e integridade da
duplicação. A integridade de dados é a garantia “[...] que as informações digitais não sejam
modificadas (intencionalmente ou acidentalmente) sem a devida autorização” (LAND-
WEHR, 2001 apud MOCAS, 2004, p. 56, tradução nossa). E a integridade de duplicação,
segundo Mocas (2004, p. 56, tradução nossa), é representada quando “[...] dado um conjunto
54

de dados, o processo de criação de uma duplicata dos dados não os modificou (seja
intencionalmente ou acidentalmente) e a duplicata seja uma cópia exata do conjunto de dados
original”.
Outros dois princípios muito importantes para a Ciência Forense Digital e que
contribuem para a proteção da integridade de uma prova digital, são os de não interferência
e interferência identificável. A não interferência significa que “[...] o método usado para
coletar e analisar os dados, ou registros digitais, não altera as entidades digitais originais”. E
a interferência identificável significa que “[...] se o método utilizado altera as entidades
originais, as alterações serão identificáveis” (DURANTI, 2009, p. 60).
Apresentados estes conceitos, observemos o processo pelo qual uma prova digital
deve perpassar para que seja útil aos tribunais.

Quadro 6: Conceitos em torno da autenticidade da prova digital

Termo Autores Conceito


Referente a segurança do computador trata-se de saber
que o autor aparente do texto é de fato o autor
Autenticação Mocas (2004) verdadeiro.
Referente ao contexto legal trata-se de saber que a
prova eletrônica é o que seu proponente alega.
Prova de
Declaração de uma testemunha sobre a prova gerada
autenticidade/ Duranti (2009)
por um sistema.
autenticação da prova
Precisão Duranti (2009) Componente de autenticidade ou de integridade.
Usada em referência à fonte do registro, ou seja, em
Confiabilidade Duranti (2009)
apontar se o software de origem é confiável.
Garantia que as informações digitais não sejam
Integridade de dados Duranti (2009) modificadas (intencionalmente ou acidentalmente)
sem a devida autorização.
Dado um conjunto de dados, o processo de criação de
Integridade de Land-Wehr (2001) uma duplicata dos dados não os modificou (seja
duplicação apud Mocas (2004) intencionalmente ou acidentalmente) e a duplicata seja
uma cópia exata do conjunto de dados original.
Método usado para coletar e analisar os dados, ou
Não interferência Duranti (2009) registros digitais, não altera as entidades digitais
originais.
Interferência Significa que o método utilizado altera as entidades
Duranti (2009)
identificável originais, as alterações serão identificáveis.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.
55

4.4 Processo de análise forense

O processo de análise forense remete ao modelo adotado pelas instituições atuantes


na área criminal e fundamenta-se em regras a serem adotadas mediante o primeiro contato
com a prova até a sua interpretação.
No campo da Ciência Forense Digital existem inúmeras ferramentas tecnológicas que
podem subsidiar uma análise forense digital, a depender do tipo de objeto encontrado, mas
que devem estar aliadas a um processo que permita a integridade da prova digital.
O DFRWS definiu algumas etapas para esse processo, as quais foram analisadas e
apontadas como pertinentes para o momento da perícia, as quais são: identificação,
preservação, coleta, exame, análise, apresentação e decisão.

Figura 3: Modelo de Investigação do DFRWS

Fonte: Palmer (2001)

Esta representação tem sido a base para outras interpretações do processo, ou


inúmeros outros modelos. Carrie e Spafford (2003) apresentam, por exemplo, três modelos
de análise forense digital que se integram ao modelo de investigação tradicional, tendo como
pressuposto as mesmas regras que tratam a cena de um crime com provas físicas para os
crimes com prova digital.
Para Vecchia (2019) cinco etapas podem ser determinadas para a realização da perícia
digital, as quais são: 1) identificação, 2) coleta, 3) exame, 4) análise e 5) resultados. Estes
56

passos podem ser tomados como base e adaptados à determinada realidade, conforme
entendimento do autor.
Pode-se dizer que a identificação consiste na descrição de informações no ato da
apreensão de mídias e na etapa da coleta é realizada a duplicação forense com o intuito de
gerar a cópia e/ou extração de dados desse objeto, sem que ocorra alteração. Posteriormente
é realizado o exame, no intuito de aplicar filtros que reduzam a quantidade massiva de dados
e que facilitem a análise propriamente dita, tendo em vista que esta é realizada manualmente
pelo perito. E por fim são apresentados os resultados encontrados, mediante parecer ou laudo
técnico (VECCHIA, 2019).
Duranti e Rogers (2013) apresentam um modelo de análise forense, oriundos dos
estudos do projeto Digital Records Forensics (DRF), que consiste em seis etapas, conforme
figura 4:

Figura 4: Modelo de Análise Forense do DRFP

Fonte: Duranti e Rogers (2013)

As etapas desenvolvidas no núcleo do modelo são: 1) preparação para análise forense,


2) coleta autorizada de material digital, 3) análise dos materiais digitais, 4) chegar a
conclusões, 5) enviar pacote de provas e 6) gerenciar materiais do caso (DURANTI;
57

ROGERS, 2013). Estas são atividades desenvolvidas na análise forense norteada por outras
atividades descritas no modelo.
A diferença dessa análise apresentada pelas autoras seria de que, combinada com
referenciais proporcionados pela Arquivologia, asseguraria a produção de documentos de
arquivo digitais autênticos para serem usados como prova. É diante disso que surge a
proposta de integração da cadeia de preservação (arquivologia) com a cadeia de custódia
(forense).
Passemos para compreensão de cadeia de custódia a partir da Ciência Forense Digital
e da Arquivologia.

4.5 Cadeia de custódia

A cadeia de custódia é um termo muito utilizado no âmbito da Ciência Forense e


aplicada na especificidade de cada subárea (Antropologia Forense, Medicina Forense etc).
Trata-se de uma ação que documenta todas as etapas pela qual passa uma determinada prova
e os responsáveis legalmente em mantê-la íntegra.
No âmbito da Ciência Forense Digital este trabalho se torna ainda mais complexo,
pois uma prova para a área não possui uma identificação muito fácil, como uma bala ou
documentos em papel em cenas de crimes, mas sim cadeias de bits mantidas em dispositivos,
por exemplo.
Na perspectiva de Giova (2011, p. 1, tradução nossa) uma prova digital é “[...]
complexa, difusa, volátil e pode ser acidentalmente ou indevidamente modificada após a sua
aquisição, a cadeia de custódia deve garantir que a prova coletada pode ser aceita como
verdadeira no tribunal”.
O mesmo ainda explica que a existência da cadeia de custódia em uma prova digital

[...] significa controle sobre os nomes dos indivíduos que coletam as provas e cada
pessoa ou entidade subsequentemente sob custódia, as datas em que os itens foram
coletados ou transferidos, o número da agência e do processo, o nome da vítima ou
do suspeito e uma breve descrição de cada item (GIOVA, 2011, p. 1).

Tratando-se dessa forma, como “Um processo usado para manter e documentar a
história cronológica da prova”, conforme o National Institute of Justice do Estados Unidos
(2011 apud GIOVA, 2011).
58

Esta atividade, de documentar, gira em torno dos seguintes termos: onde, quando, por
quê, quem e como (PRAYUDE; SN, 2015). Sendo um escopo que inclui todos os envolvidos
no processo de análise forense e trata-se de um importante recurso para preservar a
autenticidade de uma prova digital, até que esta seja válida perante o tribunal.
A cadeia de custódia deve ser alinhada ao modelo de análise forense digital, de acordo
com a realidade de cada sistema jurídico.
No Brasil, conforme Vecchia (2019), não há uma legislação específica para tal
processo, mas bem recentemente a cadeia de custódia foi contemplada na lei 13.964 de, de
24 de dezembro de 2019, que aperfeiçoa a legislação penal e o processo penal e tem sido
denominada lei anticrime.
A referida lei traz um capítulo (Capítulo II) dedicado à cadeia de custódia, intitulado
“Do Exame de Corpo de Delito, da Cadeia de Custódia e das Perícias em Geral”, o qual a
entende como “[...] o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e
documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes,
para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte” (BRASIL,
2019, art. 158-A). No entanto, não se referindo especificamente a cadeia de custódia digital,
mas sim um entendimento amplo que se aplique a todas as áreas que necessitam utilizá-la.
Analisemos alguns elementos.
No mesmo artigo (158-A), que aborda essa definição da cadeia de custódia, são
apontados três importantes elementos que a complementam: a preservação da prova ainda no
local do crime, o agente público como responsável pela preservação da prova e o próprio
objeto ou material que se relacione com a infração (BRASIL, 2019).
A lei também menciona etapas a serem observadas no processo da cadeia de custódia,
as quais são: reconhecimento, isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte,
recebimento, processamento, armazenamento e descarte (BRASIL, 2019). Servindo como
uma forma de padronizar os procedimentos que vão do início ao fim do uso dessa prova nos
centros de custódia dos institutos criminais.
Parodi (2020) ao refletir a omissão na referida lei sobre as provas digitais que
compõem grande parte das investigações, tais como as dos casos de corrupção, nos alerta que
não seria apropriado falar desta especificidade ali, tendo em vista as constantes mudanças
das tecnologias. O ideal seria que uma lei própria para tal assunto dispusesse de conceito e
critérios de cunho geral.
59

Enquanto isso não acontece, estes conceitos e princípios no âmbito brasileiro são
contemplados na norma da ABNT/ISO 2703 de 2014, mesmo que ainda não se tenha um
reconhecimento em lei.
Na Arquivologia, a cadeia de custódia também possui destaque para as discussões de
autenticidade do documento de arquivo. Um dos primeiros teóricos a abordar tal assunto foi
Jenkinson, em seu livro “A manual of archives administration”, de 1922. O autor, na verdade,
faz referência à custódia para sinalizar que, quando mantida nos arquivos, transmite a
autenticidade dos conjuntos documentais.
Silva (2015) explica que para o autor os arquivos estão sempre em risco e que estes
dependem de procedimentos rigorosos de controle para que sua proteção seja mantida. É
diante disso que o mesmo argumenta que duas importantes características são fundamentais
nesse contexto: a imparcialidade e a autenticidade.
A imparcialidade quer dizer que os arquivos devem estar livres de qualquer
julgamento pessoal e manter sua fiel relação com a atividade que o gerou. A autenticidade
diz respeito à preservação sob um custodiante confiável em uma sucessão legítima que é
mantida em uma linha, a cadeia de custódia ininterrupta, entre o produtor e o responsável
pela preservação (SILVA, 2015).
Em relação ao conceito na teoria arquivística, Pearce-Moses (2005, p 67, tradução
nossa) aponta para duas perspectivas do que é uma cadeia de custódia. A primeira, de cunho
arquivístico, é entendida como “A sucessão de cargos ou pessoas que detiveram materiais
desde o momento em que foram criados” e a segunda, oriunda do Direito, seria “A sucessão
de oficiais ou indivíduos que tenham detido provas reais desde o momento em que são obtidas
até a sua apresentação em tribunal”. Ressaltando que para ambas, demonstrar a existência de
uma cadeia de custódia ininterrupta implica em autenticidade tanto para os documentos de
arquivo quanto paras as provas.
Na definição da base de dados terminológica do projeto InterPARES Trust (s./d.,
s./p.) a cadeia de custódia é apresentada com duas definições: a primeira trata-se de uma
“Lista cronológica de entidades que mantiveram documentos arquivísticos ao longo do
tempo que pode ser usada para demonstrar a autenticidade desses documentos” e uma
segunda, onde “Num contexto legal, cada entidade de custódia pode ser chamada a atestar o
recebimento, a guarda e o manuseio adequados, e a destinação dos documentos
arquivísticos”.
Essas abordagens não trazem uma especificação para o documento de arquivo em
ambiente digital. A cadeia de custódia que perpassa a ideia de Jenkinson, num período em
60

que ainda não se produziam documentos digitais, tem sido recuperada e introduzida num
contexto contemporâneo, exemplo disso são autores como Flores, Rocco e Santos (2016) e
Luz e Flores (2018) que a apresentam sob a perspectiva da teoria arquivística aliada ao
Modelo Open Archival Information System (OAIS)10.
O modelo contempla, basicamente, três ambientes digitais; o ambiente de gestão, de
preservação e de acesso. Na atualidade os sistemas estão produzindo documentos de arquivo,
como apresentado anteriormente, que os configuram como documentos digitais complexos e
específicos. Estes documentos, se levada em consideração toda teoria sobre a cadeia de
custódia explicada acima, devem ser recolhidos do ambiente de gestão (produtor) para um
ambiente de preservação (preservador). Esta compreensão será melhor desenvolvida
posteriormente. Por ora o que nos interessa é demonstrar o conceito de cadeia de custódia
para os documentos de arquivo digital, ou o que se tem convencionado chamar por Flores,
como Cadeia de Custódia Digital Arquivística (CCDA). Esta seria:

Princípio aplicável aos documentos digitais, considerando suas especificidades e


complexidades, garantindo que os documentos de arquivo não tiveram ruptura de
sua custódia arquivística digital, mantendo-os sempre confinados em ambientes
digitais com requisitos arquivísticos homologados, desde sua produção ou
representação, transmissão, arquivamento, até sua guarda permanente, acesso ou
eliminação, registrando todas as alterações de forma sistêmica, assegurando assim,
a garantia da Autenticidade, Confiabilidade, Integridade e Fixidez ao longo do
tempo, em uma abordagem de Preservação Digital Sistêmica (FLORES, 2018 apud
FLORES, 2020, p. 10).

Esta tem sido aplicada juntamente com os ambientes digitais trabalhados na


Arquivologia para gerenciar, preservar e dar acesso aos documentos digitais, levando em
consideração os conceitos e princípios da Diplomática Digital.
Conforme Hirtle (2001.) em abordagem tradicional sobre a custódia ininterrupta dos
documentos de arquivo, este afirma que quando mantida na linha de sucessão, entre o
produtor e o arquivista, garantirá a autenticidade.
No entanto, a CCDA apresenta uma ruptura de paradigma, diferente da abordagem
analógica da custódia arquivística apresentada por Hirtle (2001), que se preocupa com os
documentos digitais confinados em sistemas.
Na percepção de Silva (2019), a cadeia de preservação11 pode ser compreendida como
uma extensão da cadeia de custódia ininterrupta, um produto do projeto InterPARES 2, que
trata das “[...] práticas do produtor para apoiar a presunção de autenticidade; processos de

10
Trataremos do modelo OAIS na próxima seção.
11
Trataremos da cadeia de preservação na próxima seção.
61

transferência e/ou recolhimento aos arquivos; processos de sua manutenção ao longo do


tempo e reprodução de cópias autênticas” (p. 61). Com isso, é possível identificar se a linha
foi interrompida ou não, através de sua história de custódia, como menciona a autora.
Santos e Flores (2020) corroboram sobre fundamentos teóricos para a consolidação
da CCDA através da linha ininterrupta entre o Sistema Informatizado de Gestão Arquivística
de Documentos (SIGAD) e o Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq), no
intuito de assegurar a autenticidade dos documentos digitais. Estes últimos serão melhor
explorados mais à frente.
Os conceitos em torno da compreensão da cadeia de custódia, cadeia de custódia
digital e CCDA são sistematizados no quadro 7.

Quadro 7: Conceitos da cadeia de custódia no contexto legal e arquivístico

Termo Autores Conceito


National Institute of
Cadeia de custódia Um processo usado para manter e documentar a
Justice (2011) apud
digital história cronológica da prova.
Giova (2011)
A sucessão de cargos ou pessoas que detiveram
materiais desde o momento em que foram criados
(Arquivologia).
Pearce-Moses (2005)
A sucessão de oficiais ou indivíduos que tenham
detido provas reais desde o momento em que são
obtidas até a sua apresentação em tribunal (Direito).
Lista cronológica de entidades que mantiveram
Cadeia de custódia
documentos arquivísticos ao longo do tempo que pode
ser usada para demonstrar a autenticidade desses
InterPARES Trust documentos
(s.d.) Num contexto legal, cada entidade de custódia pode
ser chamada a atestar o recebimento, a guarda e o
manuseio adequados, e a destinação dos documentos
arquivísticos
Princípio aplicável aos documentos digitais,
considerando suas especificidades e complexidades,
garantindo que os documentos de arquivo não tiveram
ruptura de sua custódia arquivística digital, mantendo-
os sempre confinados em ambientes digitais com
Cadeia de Custódia requisitos arquivísticos homologados, desde sua
Flores (2018) apud
Digital Arquivística produção ou representação, transmissão,
Flores (2020)
(CCDA) arquivamento, até sua guarda permanente, acesso ou
eliminação, registrando todas as alterações de forma
sistêmica, assegurando assim, a garantia da
Autenticidade, Confiabilidade, Integridade e Fixidez
ao longo do tempo, em uma abordagem de
Preservação Digital Sistêmica.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Percebe-se, desta maneira, que tudo apresentado nesta seção nos leva a compreender
a aproximação de diversos conceitos entre a Ciência Forense Digital e a Diplomática Digital,
62

que são influenciados pelo contexto jurídico, um reflexo também vislumbrado pela
Arquivologia.
Esta seção buscou explorar a literatura comum às áreas estudadas nesta pesquisa, por
vez, a Diplomática possui notório lugar de destaque na Arquivologia, enquanto que a Ciência
Forense Digital é compartilhada entre o Direito e a Ciência da Computação e até pouco tempo
desconhecida pela comunidade arquivística. Espera-se que assim ao adentrarmos as próximas
seções possamos estar aptos a entendermos o conhecimento gerado pela integração destas
áreas a fim de compreendermos diante do objetivo principal deste trabalho, quais são os
requisitos arquivísticos que contribuem para a segurança jurídica garantida pelo documento
de arquivo digital. Para isso, necessitamos ainda estabelecer os ambientes que aqui
mencionamos. Assim, dividiremos desta a próxima seção em duas partes, na gestão e na
preservação de documentos digitais, atrelando a cada uma os principais modelos e padrões
para os ambientes digitais.
63

5 INICIATIVAS E REQUISITOS DE GESTÃO E PRESERVAÇÃO DE


DOCUMENTOS DIGITAIS

O grande desafio da gestão e preservação de documentos digitais tem sido a forma


como os sistemas computacionais produzem e mantêm documentos digitais. Isso se explica
porque a forma de produção de registros da humanidade mudou significativamente com o
desenvolvimento das tecnologias, ocasionando uma ausência de implementação de requisitos
arquivísticos e consequentemente fragilizando as plataformas digitais que não transmitem
confiança e autenticidade.
Para isso, iniciativas surgiram com o intuito de determinar parâmetros e requisitos
que pudessem dar subsídio para a construção de sistemas que pudessem apresentar elementos
de confiança e autenticidade aos documentos digitais, tanto no momento de sua gestão como
de sua preservação, alguns exemplos são o modelo OAIS e os modelos do Projeto
InterPARES, que serão descritos mais à frente. Antes, iremos apresentar os elementos
necessários para a credibilidade dos documentos de arquivo no ambiente digital.
Para Duranti a base teórica da gestão de documentos está na Diplomática, tendo em
vista que esta se desenvolveu para fins arquivísticos (DURANTI, 2010). A autora realiza tal
afirmação no intuito de apresentar os conceitos basilares da Diplomática para a gestão de
documentos digitais, os quais demonstraremos a seguir.
A credibilidade (trustworthiness) é uma característica macro dada ao documento de
arquivo quando este possui a capacidade de transmitir confiabilidade, precisão e
autenticidade (DURANTI, 2009). Estes são conceitos desenvolvidos e estudados pela
Arquivologia e Diplomática, desde os primórdios desta última e, que ganharam força com os
estudos que integravam estas duas disciplinas em prol dos documentos digitais. O
InterPARES tem sido um dos projetos que mais produziu conhecimento sobre tais estudos e,
por isso, possui conceitos muito bem definidos e comprovadamente alinhados com a teoria e
prática arquivística. Discorremos sobre cada conceito.
A ideia de precisão (accuracy) para o documento digital pode ser entendida da
seguinte forma: “O grau em que dados, informações, documentos ou documentos de arquivo
são precisos, corretos, verdadeiros e livres de erros e distorções, ou pertinentes ao assunto”
(INTERPARES 2 GLOSSARY, 2021, p. 3, tradução nossa). A precisão não era um elemento
de credibilidade considerada na Diplomática Geral, porque estava diluída entre os conceitos
de confiabilidade e autenticidade. Conforme Duranti (2009), a necessidade da precisão para
o mundo digital se fez porque se considerava que esta era uma qualidade que estava separada
64

do documento e porque os dados podem ser facilmente corrompidos durante o processo de


transmissão no espaço e tempo quando, por exemplo, são feitas migrações entre os sistemas.
Para o conceito de confiabilidade (reliability) a literatura evidencia que se
corresponde como “A credibilidade de um documento como uma declaração de fato. Existe
quando o documento pode representar o fato que trata, e é estabelecido examinando-se a
integridade do formulário do documento e a quantidade de controle exercido no processo de
sua criação” (INTERPARES 2 GLOSSARY, 2021, p. 71, tradução nossa). Uma
característica que atesta os fatos tratados no conteúdo de um documento, tendo como base a
completude; que é exercida pelos elementos formais extraídos do sistema jurídico-
administrativo, e o controle na produção do documento; atividade exercida pelo produtor que
é a pessoa encarregada, ou competente, para tal ato (DURANTI, 2009).
Na autenticidade (authenticity) de um documento de arquivo, o conceito está atrelado
“A credibilidade de um documento de arquivo como documento de arquivo; ou seja, a
qualidade de um documento que é o que pretende ser e que está livre de adulteração ou
corrupção” (INTERPARES 2 GLOSSARY, 2021, p. 15, tradução nossa). Ou seja, este deve
preservar a mesma identidade que tinha quando da sua produção e manter sua integridade ao
longo do tempo (DURANTI, 2009). A identidade e a integridade são atributos vinculados à
autenticidade.
Em definição do projeto InterPARES a identidade é “Todas as características de um
documento ou registro que o identificam de maneira única e o distinguem de qualquer outro
documento ou registro. Com integridade, um componente de autenticidade” (INTERPARES
2 GLOSSARY, 2021, p. 46, tradução nossa). Estas características são traduzidas em seus
metadados que podem estar, por exemplo, na face do documento. Já a integridade “[...]
refere-se à [...] integridade e solidez: um registro tem integridade quando está completo e não
corrompido em todos os seus aspectos essenciais” (INTERPARES 2 GLOSSARY, 2021, p.
48, tradução nossa).
Sistematizamos estes conceitos em torno da credibilidade do documento de arquivo
no quadro 8.

Quadro 8: Credibilidade do documento de arquivo

Termo Autores Conceito


Característica macro dada ao documento de arquivo
Credibilidade Duranti (2009) quando este possui a capacidade de transmitir
confiabilidade, precisão e autenticidade.
InterPARES 2 O grau em que dados, informações, documentos ou
Precisão
Glossary (2021) documentos de arquivo são precisos, corretos,
65

verdadeiros e livres de erros e distorções, ou


pertinentes ao assunto.
A credibilidade de um documento como uma
declaração de fato. Existe quando o documento pode
InterPARES 2 representar o fato que trata, e é estabelecido
Confiabilidade
Glossary (2021) examinando-se a integridade do formulário do
documento e a quantidade de controle exercido no
processo de sua criação.
A credibilidade de um documento de arquivo como
InterPARES 2 documento de arquivo; ou seja, a qualidade de um
Autenticidade
Glossary (2021) documento que é o que pretende ser e que está livre de
adulteração ou corrupção.
Todas as características de um documento ou registro
InterPARES 2 que o identificam de maneira única e o distinguem de
Identidade
Glossary (2021) qualquer outro documento ou registro. Com
integridade, um componente de autenticidade.
InterPARES 2 Um registro tem integridade quando está completo e
Integridade
Glossary (2021) não corrompido em todos os seus aspectos essenciais.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Os documentos digitais devem carregar este comprometimento de serem confiáveis


desde sua gênese, quando são produzidos em sistemas por seus gestores, e manter tal
qualidade até o momento em que precisam permanecer íntegros para fins de prova e/ou
quando são selecionados para serem preservados em outro ambiente digital. Daí a ideia de
uma cadeia de custódia ininterrupta que possa preservar tais características tendo em vista a
fragilidade a qual estes estão expostos no ambiente tecnológico.
Para entender estes ambientes que precisam manter documentos digitais confiáveis,
autênticos e precisos em uma cadeia de custódia digital arquivística iremos identificar as
principais iniciativas que determinam requisitos de gestão e preservação no ambiente
tecnológico. Apesar de tratarmos separadamente, sabemos que ambos se inter-relacionam.

5.1 Requisitos para a gestão de documentos digitais

A gestão de documentos digitais em sistemas informatizados é marcada pelo


surgimento de modelos e padrões com requisitos funcionais, as quais foram elaboradas para
contemplar os requisitos de confiabilidade e autenticidade da informação digital produzida
no âmbito das administrações pública e privada.
Por ora, nos atentemos às definições de requisitos, função, requisitos funcionais,
requisitos não funcionais e regras de negócio, termos muito utilizados nos âmbitos dos
requisitos para construção de softwares e que são considerados basilares na Engenharia de
Software.
66

O termo requisito, conforme o IEEE Standard Glossary of Software Engineering


Terminology (1990, p. 62, tradução nossa), pode ser definido como:

(1) Uma condição ou capacidade necessária para um usuário resolver um problema


ou atingir um objetivo.
(2) Uma condição ou capacidade que deve ser satisfeita ou possuída por um sistema
ou componente do sistema para satisfazer um contrato, norma especificação ou
outros documentos formalmente impostos.
(3) Uma representação documentada de uma condição ou capacidade como em (1)
ou (2).

Ou seja, trata-se de uma necessidade ou exigência a ser realizada ou cumprida por um


sistema. Outro termo a ser observado neste glossário é o de função, que se difere das funções
arquivísticas. Esta se caracteriza como:

(1) Um objetivo definido ou ação característica de um sistema ou componente. Por


exemplo, um sistema pode ter o controle de estoque como sua função principal.
(2) Um módulo de software que executa uma ação específica, é invocado pelo
aparecimento de seu nome em uma expressão, pode receber valores de entrada e
retorna um único valor. (IEEE STANDARD..., 1990, p. 35, tradução nossa).

Já por outro lado os requisitos funcionais são definidos como “Um requisito que
especifica uma função de um sistema ou componente do sistema que deve ser capaz de
realizar'' (IEEE STANDARD…, 1990, p. 35, tradução nossa).
Enquanto aos requisitos não-funcionais, entende-se como

[...] aqueles que atuam para restringir a solução. Os requisitos não-funcionais às


vezes são conhecidos como restrições ou requisitos de qualidade. Eles podem ser
classificados como requisitos de desempenho, requisitos de segurança, requisitos
de interoperabilidade ou um dos muitos outros tipos de requisitos de software
(BOURQUE; FAIRLEY, 2014, p. 1, tradução nossa).

E por fim o entendimento sobre o que seria uma regra de negócio, que

São declarações que definem ou restringem algum aspecto da estrutura ou do


comportamento do próprio negócio. “Um aluno não pode se inscrever nos cursos
do próximo semestre se ainda houver algumas mensalidades não pagas” seria um
exemplo de uma regra de negócio que seria uma fonte de requisito para um
software de registro de curso de uma universidade (BOURQUE; FAIRLEY, 2014,
p. 6, tradução nossa).

Estas definições fazem-se necessárias justamente por serem empregadas em muitas


normas ou padrões que especificam as funcionalidades de requisitos para sistemas de gestão
de documentos ou sistemas de negócios.
67

Passemos a apresentação dos principais padrões que sustentam as especificações para


que a gestão de documentos aconteça em tais sistemas.
Por conseguinte, um padrão “[...] descreve as características de uma especificação de
um sistema (IEEE STANDARD… 1990, p. 62, tradução nossa).” Na teoria arquivística, eles
surgiram principalmente aliados aos princípios e conceitos oferecidos pela Arquivologia para
orientar os fornecedores de softwares de gestão de documentos na construção ou adaptação
conforme os requisitos determinados por cada padrão. A seguir abordaremos quais são estes.

5.1.1 Electronic Records Management Software Applications Design Criteria Standard

A Electronic Records Management Software Applications Design Criteria Standard


– DoD 5015.2-STD, é um padrão desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados
Unidos para softwares de gestão de documentos ou, como são denominados na própria DoD
5015.2-STD de Records Management Applications (RMA).
Considerada uma dos primeiros padrões para fins de padronização de requisitos
funcionais de sistemas de gestão de documentos eletrônicos, a DoD 5015.2-STD, entrou em
vigor em 1997, foi revisada em 2003 e atualmente encontra-se em sua segunda versão,
publicada em 2007. Sua consolidação foi resultado da parceria com a University of British
Columbia, através do projeto UBC.
A DoD 5015.2-STD em seu escopo tem como objetivo ser: “1) Visível ao
desenvolvedor e registrar metadados padronizados; 2) Acessível por meio de serviço web
com interfaces padronizadas e utilizáveis; 3) Compreensível por meio da disponibilidade e
uso de metadados ricos que descrevam os registros e seus contextos (DOD 5015.2-STD,
2007, p. 30, tradução nossa).
Sua estrutura divide-se em seis capítulos, denominados (DOD 5015.2-STD, 2007):
capítulo 1 - informações gerais: propósito e limitações; capítulo 2 - requisitos obrigatórios:
requisitos gerais e requisitos detalhados; capítulo 3 - gestão de registros classificados: gestão
de requisitos classificados e recursos de segurança opcionais; capítulo 4 - gerenciamento para
a lei de privacidade e liberdade de informação: gestão de registros da lei de privacidade,
gestão de registros da lei de liberdade de informação e controle de acesso para registros da
lei de privacidade e liberdade de registro; capítulo 5 - transferência: transferência por
interoperabilidade de RMA para RMA, suporte de interoperabilidade de segurança,
elementos de transferência opcional e controle de acesso de transferência; capítulo 6 -
68

recursos não-obrigatórios: requisitos definidos pela atividade de aquisição e uso, outros


recursos úteis de RMA, pesquisa e descoberta de interoperabilidade e controle de acesso não
obrigatório.
O NARA em seu boletim interno tem orientado as agências federais a adotarem o
padrão DoD 5015.2-STD, onde em sua última versão o grande destaque está na instrução dos
requisitos de transferência dos registros permanentes para o próprio NARA.
Esta recomendação do padrão americano também leva em conta a conformidade com
as disposições da lei de registros federais e os regulamentos do NARA em relação à criação,
manutenção e uso, eliminação e transferência de registros eletrônicos.
Para que a implantação do RMA seja eficaz o NARA orienta que as agências
implementem práticas específicas, tais como a sugestão do uso de dois guias intitulados
“Recommended Practice: Developing and Implementing an Enterprise-wide Electronic
Records Management (ERM) Proof of Concept Pilot”, que contribui para o planejamento das
agências ao implementarem a gestão de documentos eletrônicos através de um projeto piloto
com o sistema desejável para uso, e o “Recommended Practice: Evaluating Commercial Off-
the-Shelf (COTS) Electronic Records Management (ERM) Applications”, que se constitui de
uma orientação para o desenvolvimento dos requisitos funcionais específicos das agências
para implementar a sua gestão de documentos eletrônicos. Ambas compõem recomendações
que fazem parte do foco estratégico das iniciativas de governo eletrônico (E-Gov).
Outra recomendação é o relatório denominado “A Survey of Federal Agency Records
Management Applications", que se trata do estudo de casos de agências apresentando seus
resultados e estratégias ao implementar o RMA. A orientação do NARA segue indicando que
o programa de gestão de documentos é de suma importância também para a implementação
do RMA. E por fim, é indicado também a certificação atribuída aos softwares que atendem
aos requisitos do padrão DoD 5015.2-STD e são considerados um RMA, dada pela Joint
Interoperability Test Command (JITC).

5.1.2 Modular Requirements for Records Systems

No início dos anos 90 a Comissão Europeia buscava promover uma cooperação entre
os arquivos dos governos europeus, um dos resultados disso foi a realização de um fórum
denominado DLM, “Données Lisibles par Machine” ou "machine-readable data”, para a
criação de um modelo de requisitos para a gestão de documentos eletrônicos.
69

As especificações da primeira versão do Modular Requirements for Records Systems


(MoReq) começaram a ser elaboradas em 2000 e foram finalizadas em 2001. Sua primeira
publicação foi feita pela Comissão Europeia em 2002, a segunda versão do padrão começou
a ser revisada em 2007 e foi publicada em 2008. Em 2010 outra versão do padrão foi
publicada, o MoReq2010.
Em sua última atualização o padrão europeu identificou os sistemas de gestão de
documentos como MoReq2010 Compliant Records System - MCRS (inglês), sistem de
administrare a actelor conform cu MoReq2010 (romeno), Sistema Electrónico de Gestão de
Arquivos em Conformidade com o MoReq2010 (português). Esta nova denominação dada
aos sistemas visava substituir a antiga denominação, Electronic Records Management
Systems (EDRMS), contemplada nas versões anteriores.
O MoReq2010 traz em seu escopo a seguinte proposta: “[...] fornecer um abrangente,
mais simples e fácil conjunto compreendido de requisitos para um sistema de documentos
que se destina a ser adaptável e aplicável a informações e atividades de negócios divergentes,
setores da indústria e tipos de organização” (MOREQ, 2010, p. 14, tradução nossa).
Segundo a padrão isso evita a existência de uma única abordagem para apenas uma
solução específica, desta forma é apresentado um conjunto de serviços em comum que
possam ser compartilhados com qualquer tipo de sistema de documentos.
O MoReq2010 é dividido em duas partes, uma direcionada aos serviços essenciais e
outra aos módulos de plug-in.
Os serviços essenciais, conforme numeração do MoReq2010, são: 3) Serviço de
usuário e grupo, 4) Serviço de regra de modelo, 5) Serviço de classificação, 6) Serviço de
documentos, 7) Serviço de metadado de modelo, 8) Serviço de agendamento de eliminação,
9) Serviço de manutenção de eliminação, 10) Serviço de pesquisa e relatórios e 11) Serviço
de exportação.
Conforme Lappin (2011), o MoReq2010 foi desenvolvido para adotar uma estrutura
modular onde os sistemas que são compatíveis com o modelo, são aqueles que contemplam
o conjunto básico de requisitos, o que não obriga os desenvolvedores a possuírem apenas um
único sistema que realiza a gestão de documentos.
A segunda parte da especificação não é considerada obrigatória, chamada de módulos
de plug-in, e oferece extensões de funcionalidades complementares.
O padrão europeu se destaca, também, por apresentar em seu escopo situações onde
seus requisitos são aplicados em sistemas de negócio (business systems). Este tipo de sistema,
por sua vez, “É um sistema informatizado projetado e construído para atender a processo
70

específico da organização” (CONARQ, 2020, p. 44), no âmbito da Arquivologia tem-se


entendido como um sistema que possui ou realiza uma ou mais atividades.
Tal abordagem foi considerada uma inovação que o padrão trouxe, em relação aos
outros padrões, como as versões antigas do MoReq e a DoD 5015.2. Estas últimas, segundo
Lappin (2011), se preocupavam em especificar um sistema que pudesse atender as
necessidades de gestão de documentos de qualquer organização independentemente de sua
área de atuação.
Para o MoReq2010, existem três situações em que se pode aplicar os seus requisitos
nestes sistemas, como é demonstrado na figura 5.

Figura 5: Modelos de sistemas de gestão de documentos em sistemas de negócio

Fonte: MoReq (2010)

As três situações são descritas abaixo, conforme o MoReq2010:

• Gestão de documentos centralizada: trata-se da arquitetura tradicional de um


sistema de gestão de documentos que captura os registros dos sistemas de negócio
em seu repositório e os gerencia de forma centralizada.
• Gestão de documentos in loco: neste modelo o sistema de gestão de documentos
gerencia os registros no próprio sistema de negócios, sem a necessidade de capturá-
los em um repositório central.
• Gestão de documentos no aplicativo: neste tipo de arquitetura a adoção dos
controles do registro é feita pelo próprio sistema de negócios, ou seja, ele é
simultaneamente o seu próprio sistema de gestão de documentos.

Desta forma, isso se trata de uma ruptura de paradigma, pois os modelos vigentes
sempre referenciaram um repositório central por trás dos sistemas que produziam os
71

documentos. Lappin (2012) afirma que o MoReq2010 tem um grande potencial de ser um
modelo mais influente do que o DoD 5015.2-STD.

5.1.3 Designing and Implementing Recordkeeping Systems

Em 1996, a Austrália lançou um dos primeiros padrões de gestão de documentos, o


Australian Standard AS 4390-1996. Posteriormente ao seu lançamento o Archives of New
South inicia um projeto denominado Electronic Recordkeeping Project, o qual objetivava
produzir um manual intitulado Designing and Implementing Recordkeeping Systems
(DIRKS), no intuito de orientar a construção de sistemas de manutenção de registros
(Recordkeeping Systems).
O manual teve como parceria o State Records Authority of New South Wales e o
National Archives of Australia, sendo publicado a primeira versão em 2000 e no ano seguinte
ganhando uma revisão. O National Archives, responsável pela revisão, acabou publicando no
âmbito da Commonwealth uma versão denominada “DIRKS: a approach to managing
business information”.
A DIRKS tem como proposta “[...] criar práticas de negócios mais eficientes e
responsáveis por meio do projeto e do incentivo à boa manutenção de registros. No coração
do manual está uma metodologia de melhores práticas para o projeto e implementação de
sistemas de manutenção de registros (a metodologia ‘DIRKS’)” (NATIONAL
ARCHIVES..., 2018, p. 2, tradução nossa).
A metodologia do padrão se baseia em oito etapas, as quais são: Investigação
preliminar (Etapa A), Análise da atividade de negócio (Etapa B), Identificação de requisitos
de manutenção de registros (Etapa C), Avaliação de sistemas existentes (Etapa D),
Identificação de estratégias para a manutenção de registros (Etapa E), Projeto de um sistema
de manutenção de registros (Etapa F), Implementação de um sistema de manutenção de
registros (Etapa G), Revisão pós-implementação (Etapa H).
A metodologia DIRKS nas três primeiras etapas não se direciona para os documentos
e nem para os sistemas em si, mas na construção do modelo de como tais documentos devem
ser mantidos e estruturados na organização como um todo. O envolvimento com as
tecnologias só é contemplado quando na etapa D, os sistemas existentes na organização são
avaliados e são identificados aqueles que mantêm documentos. Já nas próximas etapas (E e
72

F) são redesenhadas ou implementadas as estratégias visando atender os requisitos. E nas


últimas etapas, G e H, trata-se da implementação, manutenção e revisão das estratégias.
Conforme Nguyen, Swatman e Fraunholz (2008) a DIRKS é a metodologia oficial do
National Archives of Australia e foi desenvolvida para orientar as agências australianas na
construção de seus sistemas de recordkeeping em conformidade com requisitos de gestão de
documentos. Já para Hofman (2008) o padrão australiano tem seu mérito por ser um dos
primeiros a surgirem com a proposta de regulamentar sistemas que produziam, mantinham
ou gerenciavam documentos tanto analógico como digital, isso refletiu na discussão e atenção
dada pela comunidade arquivística, em especial por ser um padrão ISO, mas não ocasionou
uma aceitação universal pois outros padrões surgiram com diferentes propostas e
metodologias conforme a realidade cada país.
No Brasil, por exemplo, há duas normas: o e-ARQ Brasil e o MoReq-Jus. Estas
possuem como referência a ISO 15489, o DoD 5015-ST e o MoReq. Vejamos como se
consolida o padrão brasileiro que propõe requisitos para os sistemas de gestão de
documentos.

5.1.4 Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de


Documentos

O Brasil conta com duas normas que propõem requisitos para sistemas de gestão de
documentos, o Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística
de Documentos (e-ARQ Brasil) e o Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de
Gestão de Processos e Documentos do Poder Judiciário brasileiro (MoReq-Jus).
O e-ARQ Brasil é uma norma produzida pela Câmara Técnica de Documentos
Eletrônicos, do Conselho Nacional de Arquivos, sua primeira versão foi publicada em 2006
e atualmente encontra-se em sua segunda versão, ainda não publicada oficialmente, mas
disponível para consulta pública em 2021. É um padrão que pode ser utilizado por qualquer
entidade independente de sua esfera, seja ela pública ou privada.
O MoReq-Jus foi elaborado por um grupo de trabalho interdisciplinar com o objetivo
de estabelecer requisitos mínimos para os sistemas informatizados do Poder Judiciário, foi
publicado em 2009 pelo Conselho Nacional de Justiça. Por ser uma norma que compila outras
normas, como o próprio e-ARQ Brasil, não iremos explicar seus componentes, nossa
73

preocupação será demonstrar o e-ARQ Brasil que assume um lugar de destaque como o
padrão brasileiro mais importante para os sistemas de gestão de documentos.
Em uma citação mais adequada o e-ARQ Brasil trata-se de

[...] uma especificação de requisitos a serem cumpridos pela organização


produtora/recebedora de documentos, pelo sistema de gestão arquivística e pelos
próprios documentos, a fim de garantir sua confiabilidade e autenticidade, assim
como sua acessibilidade.
Além disso, o e-ARQ Brasil pode ser usado para orientar a identificação de
documentos arquivísticos digitais (CONARQ, 2020, p. 15).

Estes requisitos contribuem para a criação, implantação ou adequação de um Sistema


Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos (SIGAD), nome dado ao sistema de
gestão de documentos no âmbito brasileiro.
Os objetivos da norma concentram-se em: 1) “Orientar a implantação da gestão
arquivística de documentos arquivísticos digitais e não digitais”; e 2) “Fornecer
especificações técnicas e funcionais, além de metadados para orientar a aquisição e/ou
especificação e desenvolvimento de sistemas informatizados de gestão arquivística de
documentos” (CONARQ, 2020, p. 16).
O e-ARQ Brasil está dividido em duas partes: 1) Gestão arquivística de documentos
e 2) Especificações de requisitos para sistemas informatizados de gestão arquivística de
documentos.
Na primeira parte da norma é abordada a necessidade de um programa de gestão de
documentos, bem como sua política, planejamento e implantação, além dos seus
instrumentos e dos procedimentos necessários a um SIGAD. Na segunda parte são tratados
os requisitos propriamente ditos, divididos em funcionais, não funcionais e metadados.
Para o e-ARQ Brasil um SIGAD se difere de outros sistemas porque este é “Um
sistema informatizado que apoia a gestão arquivística de documentos” (CONARQ, 2020, p.
26). Sendo assim, controla o ciclo de vida dos documentos, desde sua produção até a sua
destinação, garantido relação orgânica, elementos de confiabilidade, autenticidade e acesso
a longo prazo.
O e-ARQ Brasil aponta quais seriam os requisitos arquivísticos que caracterizam um
SIGAD, os quais são:

- captura, armazenamento, indexação e recuperação de todos os tipos de


documentos arquivísticos;
- captura, armazenamento, indexação e recuperação de todos os componentes
digitais do documento arquivístico como uma unidade complexa;
74

- gestão dos documentos a partir do plano de classificação para manter a relação


orgânica entre os documentos;
- registro de metadados associados aos documentos para descrever os contextos
desses mesmos documentos (jurídico-administrativo, de proveniência, de
procedimentos, documental e tecnológico);
- estabelecimento de relacionamento entre documentos digitais e não digitais;
- manutenção da autenticidade dos documentos;
- aplicação de tabela de temporalidade e destinação de documentos, permitindo a
seleção dos documentos para eliminação ou para guarda permanente;
- exportação de documentos para realizar a transferência ou recolhimento;
- apoio à preservação dos documentos (CONARQ, 2020, p. 27-28).

Estes requisitos diferenciam um SIGAD de outros tipos de sistemas que gerenciam


documentos, conhecidos como Gestão Eletrônica de Documentos (GED) e Enterprise
Content Management (ECM), que não possuem uma abordagem arquivística.
O documento traz também uma preocupação com os sistemas de negócio, assim como
o padrão europeu MoReq2010, onde são apresentadas três situações, descritas a seguir:

- Implementação de funcionalidades para que os sistemas de negócio exportem os


documentos arquivísticos e seus metadados para um SIGAD (nesse caso os
documentos são mantidos e gerenciados no SIGAD);
- Integração dos sistemas de negócio com um SIGAD (nesse caso os documentos
são mantidos no sistema de negócio e a gestão arquivística é realizada pelo SIGAD
por meio da interação entre os dois sistemas);
- Implementação de funcionalidades de gestão arquivística de documentos no
próprio sistema de negócio (nesse caso os documentos são mantidos e gerenciados
no sistema de negócio até a destinação final, ou seja, eliminação ou guarda
permanente) (CONARQ, 2020, p. 30).

Estas situações descritas no e-ARQ Brasil se assemelham às apresentadas no


MoReq2010, onde são apontados três tipos: a gestão de documentos centralizados, a gestão
de documentos in loco e a gestão de documentos nos aplicativos, como foi apresentado no
item direcionado ao modelo europeu.
O padrão brasileiro possui uma relevância na comunidade arquivística e apesar dos
inúmeros debates em torno da sua importância para garantir a segurança dos documentos em
um ambiente digital, não são todos os órgãos ou agências que o utilizam. Na verdade, o
grande problema gira em torno da falta de uma ferramenta capaz de ser difundida e utilizada
por todos em código aberto, por exemplo. Poucos são os casos de sucesso que
implementaram os requisitos propostos pelo e-ARQ Brasil, como a Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp), a Câmara dos Deputados e a Empresa de Tecnologia e Informações
da Previdência (DATAPREV) que tiveram o acompanhamento da implementação por
membros da CTDE, além de outras soluções que foram avaliadas por contemplarem os
requisitos como a Advocacia Geral da União (AGU) e o Tribunal Regional Federal da 2ª
75

região (TRF2) (CONARQ, 2020). Destes SIGADs, o que é utilizado pelo TRF2, conhecido
como Sistema Integrado de Gestão Documental (SIGA-DOC), foi adotada pelo governo do
Estado de São Paulo tendo como órgão gestor o Arquivo Público do Estado de São Paulo
(APESP).
Isso tem ocasionado um cenário disruptivo12 com a adoção de ferramentas que não
contemplam os requisitos do e-ARQ Brasil, por parte de muitas instituições e que
futuramente poderá ocasionar problemas na gestão dos documentos digitais e
consequentemente em sua preservação.
Abordado os principais padrões de gestão de documentos digitais e a forma como
estes se estruturam em cada contexto, é identificada a preocupação em possuir um ambiente
digital que seja seguro para os documentos digitais. Posteriormente a esse momento, o que
se deve fazer quando os prazos para se manter tais documentos indicam a eliminação ou a
preservação? Se há um ambiente regulamentado com requisitos adequados de algumas dessas
normas a eliminação adequada ocorrerá, mas a preservação permanente deve ser competência
de outro ambiente, o qual será apresentado em seguida.

5.2 Requisitos de preservação de documentos digitais

A preservação de documentos digitais, ou preservação digital, tem sido uma


preocupação desde o fim do século XX, tanto quanto as iniciativas em padronizar a produção
de documentos digitais no ambiente digital. Muitas entidades se mobilizaram em projetos de
forma a evitar a obsolescência e garantir a confiabilidade destes registros.
A preservação digital, desta forma, consiste no “Conjunto de ações gerenciais e
técnicas exigidas para superar as mudanças tecnológicas e a fragilidade dos suportes,
garantindo o acesso e a interpretação de documentos digitais pelo tempo que for necessário”
(CONARQ, 2020, p. 39).
A prática de preservação digital é conhecida por meio de estratégias de preservação
digital. Conforme Ferreira (2006) estas estratégias podem ser sistematizadas da seguinte
forma:

12
A disrupção tecnológica ocorre “[...] quando uma tecnologia altera as regras do jogo de um mercado, a vida
das pessoas ou uma sociedade inteira”. Disponível em https://www.iberdrola.com/inovacao/disrupcao-
tecnologica. Acesso em 27 set. 2021.
76

• Preservação de tecnologia: conserva todo o contexto tecnológico no intuito de


preservar o objeto digital, sendo necessário para isso a manutenção do hardware e do
software, conhecida também como museu tecnológico esta estratégia não se
concentra no objeto conceitual.;
• Refrescamento: centrada no suporte que preserva o objeto digital, ou seja, transfere
a informação de um suporte obsoleto para um mais atual;
• Emulação: trata-se de um software emulador que reproduz o comportamento de um
outro hardware ou software tidos como obsoletos, age na preservação lógica do
objeto digital;
• Migração/conversão: transferência periódica de informação digital de uma
determinada tecnologia para uma outra, concentra-se na preservação lógica do objeto.
Existem outras variações como: migração para suportes tecnológicos, atualizações de
versões, conversão para formatos concorrentes, normalização, migração a pedido e
migração distribuída;
• Encapsulamento: preserva o objeto digital com sua informação necessária para a
posteridade (metadados);
• Pedra de Roseta digital: estratégia que se propõe a recuperar objetos digitais sem
nenhuma informação de seu formato.

A depender do contexto ou do problema apresentado para se envolver o uso da


preservação digital, afinal tanto arquivos, bibliotecas e museus podem utilizá-las, o uso pode
variar conforme a necessidade de cada instituição, nos primórdios de suas práticas,
ferramentas foram desenvolvidas com estes fins específicos pois não possuíam sistemas que
pudessem contemplar todas estas funcionalidades.
Tendo em vista as inúmeras iniciativas que podem tratar da especificação destas
estratégias, optamos aqui por direcionar nossa abordagem aos sistemas, ou repositórios, que
realizam a preservação digital sistêmica13, para isso recorremos a uma trajetória que
demonstra esse processo e viabiliza a prática e os modelos mais importantes.

13
Entende-se por preservação digital sistêmica, a preservação de documentos digitais feita em Repositórios
Arquivísticos Digitais Confiáveis.
77

5.2.1 Modelo Open Archival Information System

O Open Archival Information System (OAIS) é um modelo de referência que


começou a ser desenvolvido, em 1990, a pedido da International Standards Organization
(ISO) ao Consultative Committee for Space Data Systems (CCSDS). Sua aprovação se deu
em 2002, pela ISO, e atualmente encontra-se atualizada na ISO 14721:2012.
Inicialmente, a intenção do modelo era tratar do arquivamento de dados espaciais, no
entanto acabou se tornando uma linguagem básica e universal para várias iniciativas de
preservação digital.
Um OAIS é definido como “[...] um Arquivo, que consiste em uma organização, que
pode fazer parte de uma organização maior, de pessoas e sistemas que aceitaram a
responsabilidade de preservar informações e disponibilizá-las para uma comunidade
designada” (CCSDS, 2012, p. 1-1, tradução nossa, grifo do autor).
O modelo OAIS consiste em três partes que se relacionam: o ambiente externo,
componentes funcionais e objetos de informação.
No Arquivo OAIS os ambientes externos dividem-se em três, descritos a seguir:

• Produtor: “[...] pessoas, ou sistemas de clientes, que fornecem as informações a


serem preservadas”;
• Gestão: “[...] função desempenhada por aqueles que definem a política do OAIS”;
• Consumidor: “[...] pessoas, ou sistemas de clientes, que integram com o serviço
OAIS para encontrar e adquirir informações de interesse preservadas” (CCSDS,
2012, p. 2-2, tradução nossa).

Já o modelo funcional, também entendido como mecanismo interno, trata das


responsabilidades de preservação do OAIS. Sua divisão é composta por:

• Admissão: “[...] fornece os serviços e funções para aceitar Pacotes de Submissão de


Informações (SIP) dos produtores [...] e prepara o conteúdo para armazenamento e
gerenciamento dentro do arquivo” (CCSDS, 2012, p. 4-1, tradução nossa);
• Armazenamento em arquivo: “[...] fornece os serviços e funções para o
armazenamento, manutenção e recuperação de [Pacotes de Arquivamento de
Informações] AIP’s” (CCSDS, 2012, p. 4-2, tradução nossa);
78

• Gestão de dados: “[...] fornece os serviços e funções para preencher, manter e acessar
as informações descritivas que identificam e documentam acervos de Arquivos e
dados administrativos usados para gerenciar o Arquivo” (CCSDS, 2012, p. 4-2,
tradução nossa);
• Administração: “[...] fornece os serviços e funções para a operação geral do
Arquivo” (CCSDS, 2012, p. 4-2, tradução nossa);
• Planejamento da preservação: “[...] serviços e funções para monitorar o ambiente
OAIS, fornecendo recomendações e planos de preservação para garantir que as
informações armazenadas [...] permaneçam acessíveis para, e compreensíveis pela,
comunidade designada a longo prazo, mesmo que o ambiente de computação original
se torne obsoleto” (CCSDS, 2012, p. 4-2, tradução nossa);
• Acesso: “[...] fornece os serviços e funções que apoiam os Consumidores na
determinação da existência, descrição, localização e disponibilidade de informações
armazenadas no OAIS e permitindo que [...] solicitem e recebam produtos de
informação” (CCSDS, 2012, p. 4-3, tradução nossa)

O modelo de informação do OAIS traz consigo o conceito de informação, que é a


combinação de dados e representação da informação. Este é composto por um objeto de
informação que contém um objeto de dados e representação da informação.
O objeto de dados, conforme o modelo, é expresso pelo objeto físico ou objeto digital
que deve estar acompanhado de sua representação de informação. Esta representação da
informação, por sua vez, acompanha o objeto para dar um significado adicional.
Outro ponto importante do modelo lógico são os pacotes de informação, estruturados
em três. Estes são:

• Pacote de Submissão de Informação: “[...] é entregue pelo produtor ao OAIS para


uso na construção ou atualização de um ou mais AIP’s e/ou Informações Descritivas
associadas” (CCSDS, 2012, p. 1-15, tradução nossa);
• Pacote de Arquivamento de Informação: “Um pacote de informações que consiste
nas Informações de Conteúdo e nas Informações de Descrição de Preservação (PDI)
associadas, que são preservadas em um OAIS” (CCSDS, 2012, p. 1-9, tradução
nossa);
79

• Pacote de Descrição de Informação: “Um Pacote de Informações, derivado de um


ou mais AIP’s, e enviado pelo Arquivo ao Consumidor em resposta ao OAIS”
(CCSDS, 2012, p. 1-11, tradução nossa).

Gava e Flores (2020) explicam a importância destes pacotes e suas implicações em


relação ao objeto e seus respectivos metadados. O pacote SIP identificado com objetos e
metadados de origem do produtor, carrega consigo o formato original ao qual um documento
digital foi produzido, por exemplo em .DOC, e que quando recolhido para a plataforma de
preservação, e ao ser gerado seu pacote AIP, deverá ser migrado para um outro formato,
considerado apropriado para a preservação digital, como o PDF/A. O último pacote, DIP, se
encarrega de entregar ao consumidor uma derivada de acesso que se difere da mantida para
a preservação, ou seja, este receberá através da plataforma de acesso um objeto digital em
PDF e com apenas alguns metadados que devem estar em conformidade com a norma de
descrição local.
A sistematização destes três componentes, o ambiente externo, componentes
funcionais e objetos de informação, encontram-se dispostos na figura 6.

Figura 6: Entidades funcionais do modelo OAIS

Fonte: OAIS (2012)

O modelo OAIS tem sido adotado como a base de uma preservação digital sistêmica,
apesar de tal relevância este não se consolida como uma solução tecnológica, trata-se apenas
dos elementos necessários para se pensar e pôr em prática a preservação de documentos
digitais, sendo referência para muitas instituições arquivísticas que desenvolvem seu
80

programa de preservação digital. Apesar disso, ele por si só não é a solução de todos os
problemas. Vejamos no próximo item a ideia do que seja uma Repositório Digital Confiável.

5.2.2 Repositórios Digitais Confiáveis

O Research Libraries Group e o Online Computer Library Center (OCLC), em 2000,


se reuniram para elaborar um relatório que ficou conhecido como Trusted Digital
Repositories: Attributes and Responsibilities, publicado em 2002. O seu objetivo era
estabelecer atributos para Repositórios Digitais Confiáveis (RDC) levando em consideração
o modelo OAIS.
Para os pesquisadores, um RDC “[...] é aquele cuja missão é fornecer acesso confiável
e de longo prazo para gerenciar recursos digitais para sua comunidade designada, agora e no
futuro” (RLG/OCLC, 2002, p. 3, tradução nossa). Assim, o relatório apresentado pelo grupo
buscou sistematizar a estrutura e responsabilidade para que um repositório transmitisse
confiabilidade.
Os atributos apontados pelo relatório e que devem ser observados em um RDC são:
1) conformidade com o modelo de referência OAIS: contempla toda a estrutura comum
oferecida pelo modelo; 2) Responsabilidade administrativa: corresponde ao compromisso em
implementar padrões que objetivam as melhores práticas de operação do RDC; 3) viabilidade
organizacional; trata-se do compromisso que a organização que assume ser um RDC deve
assumir; 4) sustentabilidade financeira; 5) adequação tecnológica e processual; 6) segurança
do sistema e 7) responsabilidade processual.
As recomendações apresentadas pelo relatório são expressas a seguir:

1. Desenvolver um processo de certificação de repositórios digitais;


2. Pesquisar e criar ferramentas para identificar os atributos significativos dos
materiais digitais que devem ser preservados;
3. Pesquisar e desenvolver modelos para redes e serviços de repositórios
cooperativos;
4. Desenvolver sistemas para identificação única e persistente de objetos digitais
que apoiem expressamente a preservação a longo prazo;
5. Investigar e divulgar informações sobre a complexa relação entre preservação
digital e direitos de propriedade intelectual;
6. Determinar as estratégias técnicas que melhor fornecem acesso contínuo;
7. Definir os metadados de nível mínimo necessários para a gestão a longo prazo e
desenvolver ferramentas para gerar e/ou extrair automaticamente o máximo [de
metadados necessários] possível (RLG/OCLC, 2002, p. 3, tradução nossa).
81

Desta forma o RDC é o ambiente capaz de transmitir a credibilidade aos documentos


digitais mantidos para a preservação permanente, seus elementos tratam-se de uma
preocupação em construir ambientes seguros para a preservação digital aliado ao modelo
OAIS, devendo ser também auditado e certificado. Esta preocupação resultou em uma lista
de requisitos, conforme a seguir.

5.2.3 Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq)

No Brasil os sistemas de preservação de documentos digitais são conhecidos como


Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq). Esta ideia foi apresentada pela
resolução 39, de 2014, e alterada pela resolução 43, de 2015, do CONARQ. Que apresenta
as diretrizes para os RDC-Arq’s, arquivamento e manutenção para os documentos de arquivo
nas fases corrente, intermediária e permanente.
A resolução aponta três conceitos primordiais, os quais são demonstrados a seguir:

• Repositório digital: “[...] é um ambiente de armazenamento e gerenciamento de


materiais digitais”;
• Repositório arquivístico digital: “[...] é um repositório digital que armazena e
gerencia esses documentos, seja nas fases corrente e intermediária, seja na fase
permanente”;
• Repositório digital confiável: “[...] é um repositório digital que é capaz de manter
autênticos os materiais digitais, de preservá-los e prover acesso a eles pelo tempo
necessário” (CONARQ, 2015a, p. 9).

Estes conceitos se complementam e traduzem a ideia de um repositório arquivístico


digital confiável que é entendido como aquele que é “[...] capaz de atender aos
procedimentos arquivísticos em suas diferentes fases e aos requisitos de um repositório
digital confiável” (CONARQ, 2015a, p. 10, grifo do autor).
Os requisitos de um RDC-Arq estão estruturados em três conjuntos: infraestrutura
organizacional; gerenciamento do documento digital; e tecnologia, infraestrutura técnica e
segurança. Os quais contemplam os seguintes modelos e padrões: 1) Modelo de referência
OAIS, 2) Relatório da Research Library Group (RLG) e da Online Computer Library Center
(OCLC) – Repositórios digitais confiáveis: atributos e responsabilidades, 3) Certificação e
82

auditoria de repositórios confiáveis: critérios e checklist – TRAC, 4) Requisitos técnicos para


entidades de auditoria e certificação de organizações candidatas a serem repositórios digitais
confiáveis, 5) Metadados de preservação – PREMIS, 6) Norma Geral Internacional de
Descrição Arquivística – ISAD(G), 7) Norma Brasileira de Descrição Arquivística –
NOBRADE, 8) Metadados do e-ARQ Brasil, 9) Protocolo para coleta de metadados – OAI-
PMH, 10) Padrão de codificação e transmissão de metadados – METS e 11) Descrição
arquivística codificada – EAD.

5.2.4 Certificação e Auditoria de Repositórios Confiáveis

Em 2003, o RLG e o NARA se reuniram para criar uma força tarefa de certificação
de repositórios confiáveis, o que originou o Trustworthy Repositories Audit and Certification
Checklist (TRAC), em 2007. O trabalho é oriundo da motivação em auditar e certificar
repositórios que estivessem em conformidade com o modelo OAIS e que transmitisse
confiança.
As métricas desenvolvidas na TRAC são divididas em três grupos (CRL/OCLC,
2007):
• A) Infraestrutura organizacional: A1) Governança e viabilidade organizacional,
A2) Estrutura organizacional e pessoal, A3) Responsabilidade processual e estrutura
política, A4) Sustentabilidade financeira, A5) Contratos, licenças e
responsabilidades;
• B) Gestão de objetos digitais: B1) Fase inicial da ingestão que aborda a aquisição
inicial, B2) A fase final da ingestão que coloca o conteúdo digital adquirido nos
formulários, chamados de AIP’s usado pelos repositórios para a preservação a longo
prazo, B3) Estratégias de preservação atuais, sólidas e documentadas, juntamente
com mecanismos para mantê-las atualizadas em face das mudanças do ambiente
técnico, B4) Condições mínimas para a preservação a longo prazo de AIP’s, B5)
Metadados de nível mínimo para permitir que objetos digitais sejam localizados e
gerenciados dentro do sistema, B6) A capacidade do repositório de reproduzir e
disseminar versões precisas e autênticas dos objetos digitais;
• C) Tecnologias, infraestrutura técnica e segurança: C1) Requisitos gerais de
infraestrutura do sistema, C2) Tecnologias adequadas com base nos requisitos de
infraestrutura do sistema, com critérios adicionais especificando as tecnologias de uso
83

e estratégias apropriadas para a(s) comunidade(s) designada(s) do repositório, C3)


Segurança - desde sistemas de TI, como servidores, firewalls, ou roteadores, até
sistemas de proteção contra incêndio e detecção de inundação, até sistemas que
envolvem ações de pessoas.

A TRAC é ainda acompanhada de quatro princípios básicos: documentação (prova),


transparência, adequação e mensurabilidade.
A lista TRAC está contemplada também nas recomendações para práticas em
sistemas de dados espaciais do CCSDS, através do documento intitulado “Audit and
Certification of Trustworthy Digital Repositories” e da ISO 16363, de 2012, de mesmo
nome.
Outra iniciativa para a certificação RDC foi mobilizada pela comissão europeia, que
definiu o “European Framework for Audit and Certification of Digital Repositories”, que
engloba além da ISO 16363, o CoreTrustSeal, antes Data Seal of Approval, e o Nestor - Seal
for Trustworthy Digital Archives.
A certificação de repositório tem recebido a mesma preocupação, assim como os
sistemas de gestão de documentos digitais. Na verdade, a TRAC teve reflexões de sua
construção através de certificações como as utilizadas pelo Estados Unidos em seus sistemas,
no entanto, com foco nos sistemas que preservam documentos em fase permanente.
Um documento que pode complementar a TRAC, no entanto é direcionado para
entidade que certifica e audita um RDC, é descrito a seguir.

5.2.5 Requisitos técnicos para entidades de auditoria e certificação de organizações


candidatas a serem repositórios digitais confiáveis

O Requirements for bodies providing audit and certification of candidate trustworthy


digital repositories é um uma recomendação do CCSDS, que foi publicado como ISO/IEC
17021, cujo objetivo é estabelecer critérios de auditoria para avaliar a confiança de
repositórios digitais através de certificação.
É estruturado em seções, as quais são: seção 1) fornece o objetivo e o escopo, a
justificativa, estrutura, terminologia e conceitos; seção 2) fornece a visão geral das práticas
de auditoria; seção 3) descreve o órgão de autorização do repositório digital confiável
84

primário; e as seções de 4) a 10) fornecem as regras normativas para as organizações que


fornecem as auditorias e certificações.
A norma, assim como outras, adota como referência o modelo OAIS, no entanto
optando por utilizar o termo “repositório” ou repositório digital” para se referir ao “arquivo
digital” do modelo, indicando que ambas possuem o mesmo sentido atribuído a esta entidade,
que é a organização responsável pela preservação digital.
Uma outra iniciativa que merece destaque por se relacionar com a temática aqui
apresentada, é a que trata do padrão de metadados, o PREMIS.

5.2.6 Metadados de preservação

A OCLC e a RLG formaram um grupo de trabalho, entre 2003 a 2005, denominado


Preservation Metadata: Implementation Strategies (PREMIS), o que resultou no Data
Dictionary for Preservation Metadata: Final Report of the PREMIS Working Group, cujo
objetivo era orientar a aplicação de metadados de preservação para acompanhar os objetos
digitais em repositórios, que conta com um dicionário de dados, um esquema XML e
documentação de apoio.
Como muitos padrões desenvolvidos, o PREMIS se baseou no modelo OAIS, em
especial em seu modelo de informação, sendo desta forma traduzido como uma estrutura
conceitual para implementação (PREMIS, 2015).
O modelo define quatro entidades importantes, as quais são: objetos, eventos, agentes
e direitos. A figura 7 demonstra como estas se relacionam.
Figura 7: Modelo de dados PREMIS

Fonte: PREMIS (2015)


85

Os elementos do modelo são definidos da seguinte forma (PREMIS, 2015, p. 6,


tradução nossa):
• Objeto: “uma unidade discreta da informação sujeita a preservação digital”;
• Ambiente: “tecnologia (software e hardware) que suporta um objeto de alguma
forma”;
• Evento: “uma ação que envolve ou afeta pelo menos um objeto ou agente associado
ou reconhecido pelo repositório de preservação”;
• Agente: “pessoa, organização ou programa/sistema de software associado a eventos
na vida de um objeto ou com direitos associados a um objeto. Também pode estar
relacionado a um objeto de ambiente que atua como agente”;
• Declaração de direitos: “afirmação de um ou mais direitos ou permissões
pertencentes a um objeto e/ou agente”.

O PREMIS é mantido pela Library of Congress (LoC) e suas atualizações são feitas
por um comitê. A LoC possui uma ferramenta para implementação do PREMIS, a PREMIS
in METS (PIM) Toolbox, que automatiza a criação de metadados de preservação.
O padrão tem sido utilizado por muitos países, no intuito de não apenas especificar
os elementos necessários apenas para a preservação, mas também completar os padrões de
metadados específicos para serem implantados nos seus respectivos sistemas de gestão de
documentos em ambiente digital.
As demais normas estipuladas nas diretrizes de um RDC-Arq não serão apresentadas
aqui porque são de suporte para a descrição e o acesso, não que estas não possam estar no
fluxo de trabalho da preservação digital, mas para a delimitação desta seção o nosso objetivo
é demonstrar as iniciativas apenas de gestão e preservação dos documentos digitais.
É de valia ainda mencionar dois modelos que se diferenciam das iniciativas que
apresentamos e foram desenvolvidos pelo projeto InterPARES, pensando exclusivamente
nos documentos de arquivo em ambiente digital mantidos de forma segura e confiável ao
longo do tempo.
86

5.2.7 Os modelos do InterPARES

Os modelos a seguir foram elaborados tendo em vista os modelos de gestão de


documentos utilizados na teoria arquivística, o ciclo de vida dos documentos e o records
continnum, possuindo uma preocupação que vai da gênese à preservação de documentos de
arquivo digitais confiáveis e autênticos. Tratam-se de modelos conceituais que podem ser
implementados independentemente da estrutura tecnológica.

5.2.7.1 Modelo de Cadeia de Preservação

O modelo da cadeia de preservação14 (Chain of Preservation - COP) é entendido


como “Um sistema de controles que se estende por todo o ciclo de vida dos documentos para
garantir sua identidade e integridade ao longo do tempo” (INTERPARES GLOSSARY,
2021, p. 11, tradução nossa). Trata-se de um produto desenvolvido pelo projeto InterPARES
2 e que tem como perspectiva gerenciar o documento digital de forma confiável desde sua
gênese até a sua preservação.
A COP é um modelo que unificou outros três modelos: o modelo produzido pelo
projeto UBC, com perspectiva do produtor para gerenciar os documentos; e os modelos
funcionais de seleção e preservação, desenvolvidos pelo InterPARES 1 com perspectiva do
preservador.
O modelo divide-se em quatro grandes atividades, que são:
• 1) Gestão da estrutura para cadeia de preservação: ‘[...] envolve os requisitos de
projeto, estrutura e implementação da COP, isso implica utilizar elementos de
política, estratégia e métodos” (DURANTI; PRESTON, 2008, p. 200);
• 2) Gestão para a produção de documentos: “[...] envolve a supervisão e
coordenação de todas as atividades referentes a produção de um registro digital,
transferência para um sistema de manutenção e monitoramento das operações desse
sistema de produção” (DURANTI; PRESTON, 2008, p. 207);

14
Modelo desenvolvido com base na teoria do ciclo de vida dos documentos, que trata de distintas fases da
existência do documento, desde a produção até a destinação. Disponível em:
https://dictionary.archivists.org/entry/life-cycle.html. Acesso em 28 set. 2021.
87

• 3) Gestão de documentos em um sistema de manutenção: “[...] supervisão e


coordenação do sistema de manutenção visando a garantia da autenticidade de um
registro digital” (DURANTI; PRESTON, 2008, p. 211);
• 4) Preservação dos documentos selecionados: “[...] envolve todas as atividades
associadas à preservação de documentos no sistema de preservação permanente
visando a garantia da preservação contínua sob a custódia do preservador”
(DURANTI; PRESTON, 2008, p. 221).

Para Duranti e Preston (2008) o modelo COP indica uma preservação a longo prazo
duradoura, onde todas as atividades em torno dos registros ao longo de sua existência estão
em uma cadeia. Se algo compromete esta cadeia, ela não poderá executar seu trabalho, o que
indicaria a perda da confiança e consequentemente colocaria os registros em perigo.
Sobre a implementação do modelo COP, Duranti em mensagem eletrônica enviada
em 4 de outubro de 2020 indica duas instituições que têm trabalhado com o modelo: o NARA
e o City of Vancouver Archives. Este último foi a gênese do desenvolvimento do sistema de
preservação digital Archivematica, que contempla o modelo COP.

5.2.7.2 Modelo Business-Driven Recordkeeping

O modelo Business-Driven Recordkeeping15- BDR foi influenciado pelo modelo da


COP do InterPARES 2, o modelo de preservação do InterPARES 1, o projeto DELOS, o
projeto Clever Recordkeeping Metadata, o grupo de pesquisa Records Continuum16 da
Monash University, os padrões ISO 15489:2001 e ISO 23081-1:2006, a metodologia DIRKS
e o modelo OAIS.

15
Nas diretrizes do produtor, traduzida pela equipe brasileira do projeto InterPARES 3, o BDR ficou
conhecido como Modelo de Manutenção de Documentos Orientada pelas Atividades do Produtor. Disponível
em: http://www.siga.arquivonacional.gov.br/images/publicacoes/diretrizes_produtor_digital.pdf. Acesso em
28 set. 2021
16
O records continuum, desenvolvido na Austrália, é um modelo de prática de manutenção de documentos
(recordkeeping) que conceitua as interações dos documentos em dimensões e eixos inter-relacionados, sem
distinguir onde termina a produção e a gestão de ativos de documentos e onde começa a gestão arquivística
destes documentos. As dimensões rastreiam os documentos na produção, captura, organização e pluralização
(tornando os documentos disponíveis como prova). Os eixos representam diferentes facetas da
responsabilidade: a identidade da entidade envolvida em uma transação documentada pelos documentos, o
que esta entidade fez, do que os documentos fornecem prova e como eles são encontrados e recuperados para
uso posterior. Disponível em: https://dictionary.archivists.org/entry/records-continuum.html. Acesso em: 28
set. 2021.
88

Este modelo tem como ideia estar dentro das organizações abordando o seu próprio
negócio em diferentes contextos (jurídico, econômico e cultural) e consequentemente seus
registros (DURANTI; PRESTON, 2008).
Seus objetivos concentram-se em:

1. [...] oferecer uma visão integrada do negócio de uma organização e manutenção


de registros;
2. [...] apoiar contextos paralelos e múltiplas visões e perspectivas (ou seja, não
apenas aquelas dentro das organizações, mas também aquelas que podem ser partes
interessadas, clientes, parceiros, etc., também como outros, como arquivistas, que
podem ter interesse nos documentos gerados pelos negócios;
3. [...] fornecer uma estrutura para: [3.1] identificar os requisitos legais, jurídicos,
éticos, comerciais, organizacionais e arquivísticos de linhas de negócios
específicas e seus contextos jurídicos; [3.2] ilustrar as relações (nexos/conexões) e
dependências entre atividades de negócios meta-processo de captura de registros
(provas) dessas atividades e processos de gerenciamento dos próprios registros;
[3.3] integrar os requisitos de manutenção de registros nas atividades de negócios,
de modo que os registros necessários forneçam provas de que as atividades de
negócios podem ser capturas e preservadas de maneira mais adequada; e gestão de
registros (autênticos e confiáveis) ao longo de sua existência e dentro de diferentes
contextos de uso e interpretação (DURANTI; PRESTON, 2008, p. 48-49, tradução
nossa).

Diferente da COP que possui uma perspectiva do preservador, o modelo BDR possui
a perspectiva do produtor. Conforme Duranti e Preston (2008), na COP o arquivista olha para
o "negócio" de uma organização que produz os registros e identifica aqueles de interesse
histórico e social que são necessários para a preservação. Assim, o arquivista é considerado
uma terceira parte confiável (trusted third party) com responsabilidade na preservação a
longo prazo de documentos confiáveis, as outras duas partes seriam o produtor (records
creator) e o usuário (user of records external) que também são interessados em manter a
integridade dos registros.
Já no modelo BDR, Duranti e Preston (2008) explicam que se trata de uma
perspectiva do “negócio”, onde a base da narrativa é o próprio produtor, ou da organização
produtora dos documentos. Nesta perspectiva os documentos são produzidos por atividades
e processos de negócios para apoiar os objetivos da organização e são de interesse, também,
por partes interessadas (stakeholders) que possuem seu próprio objetivo. Estes interessados
seriam clientes, parceiros e a sociedade em geral, e o papel do arquivista estaria englobado
neste grupo.
O modelo BDR pode, ser assim, sistematizado da seguinte forma (DURANTI.
PRESTON, 2008, p. 249, tradução nossa):
89

• A visão do negócio: “[...] assumindo a perspectiva (organizacional) de um negócio


em suas atividades e produção de registros; o item central do negócio é a transação.
Deste ponto de vista a manutenção dos registros é feita como uma função dos
negócios”;
• A visão da manutenção do registro: “[...] assumindo a perspectiva de captura da
gestão de registros produzidos em um negócio; o item central para a manutenção
(recordkeeping) são os registros. Deste ponto de vista uma atividade de negócios
fornece o contexto dos registros”;
• A visão da estrutura: “[...]assumindo a perspectiva da necessidade de integrar tanto
o ponto de vista do negócio como a da manutenção para que fiquem devidamente
alinhados. Isso reflete a camada que controla [...] ou integra as duas perspectivas
anteriores”;
• A visão da sociedade: “[...] assumindo a perspectiva do ambiente contextual,
necessária para atender as influências externas em um negócio e suas práticas de
manutenção (recordkeeping). Esta camada tem sua própria dinâmica e (geralmente)
está fora do controle da organização que dirige um negócio”.

No modelo BDR, apresentado por Duranti e Preston (2008), são enunciadas duas
modelagens: uma que englobaria as três primeiras perspectivas, tendo em vista que estas
podem acontecer em qualquer situação do negócio; e uma outra direcionada apenas para a
última camada.
Nas três primeiras etapas, entendidas como o núcleo, estariam os eixos transacional,
identidade e evidência, na última etapa seria o eixo referente à sociedade (pluaralizar). O
modelo enfatiza que estes estariam interligados e representariam a visão multidimensional
do records continuum.
A respeito da aplicabilidade do modelo BDR, Duranti em mensagem eletrônica
recebida em 14 de março de 2021 nos explica: “O Australian National Archives parece ter a
intenção de usá-lo, uma vez que não aceita mais registros para a preservação das agências,
que agora devem preservar seus próprios registros seguindo recomendações arquivísticas”.
Questionada se isso seria parte da teoria do records continuum Duranti afirma que não, o
Australian National Archives na verdade está desistindo do esforço da preservação de
documentos, mesmo isso sendo responsabilidade de um arquivo nacional.
Desta forma, a seção enunciou dois importantes ambientes, considerando o modelo
OAIS, conhecidos como de gestão e preservação, os quais estão aqui direcionados para o
90

tratamento dos documentos de arquivo digital. O ambiente de gestão de documentos digitais


(SIGAD) deve estar regulamentado com os padrões determinados em cada país, conforme
esfera de jurisdição, para assim garantir elementos de confiabilidade em sua produção.
Posteriormente a esse momento, estes devem ser recolhidos via pacote SIP para o ambiente
de preservação de documentos digitais (RDC-Arq) no intuito de manter a integridade dos
documentos digitais por meio do pacote AIP.
Como vimos, estas garantias são asseguradas por meio de normas e modelos que
através de requisitos, contribuem para que os documentos digitais possam ser acessíveis e
preservados sem nenhuma alteração ao longo do tempo. O acesso deve ser garantido via
pacote DIP por uma plataforma de acesso, difusão e transparência ativa, mas para que isso
ocorra de forma efetiva as plataformas de gestão e preservação de documentos digitais devem
estar em conformidade com requisitos a fim de garantir uma cadeia de custódia arquivística
digital confiável.
Esta cadeia de custódia digital arquivística também pode ser garantida através da
adoção dos modelos do projeto InterPARES, seja o modelo COP voltado para o ciclo de vida
dos documentos ou o BDR voltado para records continuum, apesar de não difundidos no
âmbito brasileiro, não podia deixar de ser mencionada sua pertinência para a gestão,
preservação e acesso aos documentos digitais.
Com isso, podemos inferir que tais referenciais podem nos levar a refletir o quão
importante é a presença de modelos e padrões no ambiente digital onde são mantidos
documentos de arquivo, podendo isso impactar em sua segurança jurídica. Vale lembrar que
esta é uma preocupação antiga da comunidade arquivística e que atualmente tem se tornado
cada vez mais pertinente, tendo em vista o rápido avanço das tecnologias digitais e
consequentemente sua disrupção.
O quadro a seguir demonstra os principais conceitos utilizados nesta seção.

Quadro 9: Conceito da gestão e preservação de documentos digitais

Termo Autores Conceito


(1) Uma condição ou capacidade necessária para um
usuário resolver um problema ou atingir um objetivo.
2) Uma condição ou capacidade que deve ser
IEEE Standard
satisfeita ou possuída por um sistema ou componente
Glossary of Software
Requisito do sistema para satisfazer um contrato, norma
Engineering
especificação ou outros documentos formalmente
Terminology (1990)
impostos.
(3) Uma representação documentada de uma
condição ou capacidade como em (1) ou (2).
91

(1) Um objetivo definido ou ação característica de


um sistema ou componente. Por exemplo, um
IEEE Standard sistema pode ter o controle de estoque como sua
Glossary of Software função principal.
Função
Engineering (2) Um módulo de software que executa uma ação
Terminology (1990) específica, é invocado pelo aparecimento de seu
nome em uma expressão, pode receber valores de
entrada e retorna um único valor.
IEEE Standard
Um requisito que especifica uma função de um
Glossary of Software
Requisitos funcionais sistema ou componente do sistema que deve ser
Engineering
capaz de realizar
Terminology (1990)
Aqueles que atuam para restringir a solução. Os
requisitos não-funcionais às vezes são conhecidos
como restrições ou requisitos de qualidade. Eles
Requisitos não-
Bourque; Fairley podem ser classificados como requisitos de
funcionais
(2014) desempenho, requisitos de segurança, requisitos de
interoperabilidade ou um dos muitos outros tipos de
requisitos de software.
São declarações que definem ou restringem algum
aspecto da estrutura ou do comportamento do próprio
negócio. “Um aluno não pode se inscrever nos cursos
Bourque; Fairley do próximo semestre se ainda houver algumas
Regra de negócio
(2014) mensalidades não pagas” seria um exemplo de uma
regra de negócio que seria uma fonte de requisito
para um software de registro de curso de uma
universidade
IEEE Standard
Glossary of Software Descreve as características de uma especificação de
Padrão
Engineering um sistema.
Terminology (1990)
Arquitetura tradicional de um sistema de gestão de
Gestão de documentos documentos que captura os registros dos sistemas de
MoReq2010 (2010)
centralizada negócio em seu repositório e os gerencia de forma
centralizada.
Modelo onde o sistema de gestão de documentos
Gestão de documentos in gerencia os registros no próprio sistema de negócios,
MoReq2010 (2010)
loco sem a necessidade de capturá-los em um repositório
central.
Tipo de arquitetura onde a adoção dos controles do
Gestão de documentos registro é feita pelo próprio sistema de negócios, ou
MoReq2010 (2010)
no aplicativo seja, ele é simultaneamente o seu próprio sistema de
gestão de documentos.
Conjunto de ações gerenciais e técnicas exigidas para
superar as mudanças tecnológicas e a fragilidade dos
Preservação digital Ferreira (2006)
suportes, garantindo o acesso e a interpretação de
documentos digitais pelo tempo que for necessário.
Conserva todo o contexto tecnológico no intuito de
preservar o objeto digital, sendo necessário para isso
Preservação de
Ferreira (2006) a manutenção do hardware e do software, conhecida
tecnologia
também como museu tecnológico esta estratégia não
se concentra no objeto conceitual
Centrada no suporte que preserva o objeto digital, ou
Refrescamento Ferreira (2006) seja, transfere a informação de um suporte obsoleto
para um mais atual
Trata-se de um software emulador que reproduz o
comportamento de um outro hardware ou software
Emulação Ferreira (2006)
tidos como obsoletos, age na preservação lógica do
objeto digital
92

Transferência periódica de informação digital de


uma determinada tecnologia para uma outra,
concentra-se na preservação lógica do objeto.
Existem outras variações como: migração para
Migração/conversão Ferreira (2006)
suportes tecnológicos, atualizações de versões,
conversão para formatos concorrentes,
normalização, migração a pedido e migração
distribuída
Preserva o objeto digital com sua informação
Encapsulamento Ferreira (2006)
necessária para a posteridade (metadados)
Estratégia que se propõe a recuperar objetos digitais
Pedra de roseta digital Ferreira (2006)
sem nenhuma informação de seu formato
No modelo OAIS são pessoas, ou sistemas de
Produtor CCSDS (2012) clientes, que fornecem as informações a serem
preservadas.
Função desempenhada por aqueles que definem a
Gestão CCSDS (2012)
política do OAIS.
Pessoas, ou sistemas de clientes, que integram com o
Consumidor CCSDS (2012) serviço OAIS para encontrar e adquirir informações
de interesse preservadas.
Fornece os serviços e funções para aceitar Pacotes de
Submissão de Informações (SIP) dos produtores e
Admissão CCSDS (2012)
prepara o conteúdo para armazenamento e
gerenciamento dentro do arquivo.
Fornece os serviços e funções para o
Armazenamento em
CCSDS (2012) armazenamento, manutenção e recuperação de
arquivo
Pacotes de Arquivamento de Informações (AIP)
Fornece os serviços e funções para preencher, manter
e acessar as informações descritivas que identificam
Gestão de dados CCSDS (2012)
e documentam acervos de Arquivos e dados
administrativos usados para gerenciar o Arquivo
Para o modelo OAIS é onde se fornece os serviços e
Administração CCSDS (2012)
funções para a operação geral do Arquivo.
Serviços e funções para monitorar o ambiente OAIS,
fornecendo recomendações e planos de preservação
Planejamento da para garantir que as informações armazenadas
CCSDS (2012)
preservação permaneçam acessíveis para, e compreensíveis pela,
comunidade designada a longo prazo, mesmo que o
ambiente de computação original se torne obsoleto.
Fornece os serviços e funções que apoiam os
Consumidores na determinação da existência,
Acesso CCSDS (2012) descrição, localização e disponibilidade de
informações armazenadas no OAIS e permitindo que
solicitem e recebam produtos de informação.
É entregue pelo produtor ao OAIS para uso na
Pacote se submissão de
CCSDS (2012) construção ou atualização de um ou mais AIP’s e/ou
informação
Informações Descritivas associadas.
Um pacote de informações que consiste nas
Pacote de arquivamento Informações de Conteúdo e nas Informações de
CCSDS (2012)
de informação Descrição de Preservação (PDI) associadas, que são
preservadas em um OAIS.
Um Pacote de Informações, derivado de um ou mais
Pacote de descrição de
CCSDS (2012) AIP’s, e enviado pelo Arquivo ao Consumidor em
informação
resposta ao OAIS.
É aquele cuja missão é fornecer acesso confiável e de
Repositório Digital
RLG/OCLC (2002) longo prazo para gerenciar recursos digitais para sua
Confiável
comunidade designada, agora e no futuro
93

É um repositório digital que é capaz de manter


CONARQ (2015a) autênticos os materiais digitais, de preservá-los e
prover acesso a eles pelo tempo necessário

É um ambiente de armazenamento e gerenciamento


Repositório digital CONARQ (2015a)
de materiais digitais
É um repositório digital que armazena e gerencia
Repositório arquivístico
CONARQ (2015a) esses documentos, seja nas fases corrente e
digital
intermediária, seja na fase permanente
Aquele que é capaz de atender aos procedimentos
Repositório arquivístico
CONARQ (2015a) arquivísticos em suas diferentes fases e aos
digital confiável
requisitos de um repositório digital confiável.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

O contexto jurídico sempre esteve presente no fazer arquivístico, fruto disso é que
padrões de gestão de documentos digitais, como o e-ARQ, levam em consideração a
legislação do país. A próxima seção irá apontar de forma holística os requisitos arquivísticos
que contribuem para a segurança jurídica sustentada em documentos de arquivo digital. Para
isso serão enunciadas as três camadas externas que contribuem para a consolidação destes
requisitos.
94

6 REQUISITOS ARQUIVÍSTICOS QUE SUBSIDIAM A SEGURANÇA JURÍDICA


ATRAVÉS DO DOCUMENTO DE ARQUIVO DIGITAL

Esta seção se encarregará do quarto objetivo específico desta pesquisa, a identificação


e recomendação de requisitos arquivísticos que subsidiam a segurança jurídica através dos
documentos de arquivo em ambiente digital. Primeiramente, trataremos brevemente sobre a
noção de segurança, o conceito de segurança jurídica e a relação existente com o documento
de arquivo.
Partiremos ainda da análise do projeto Digital Records Forensics e de sua
contribuição para a reflexão de integração do conhecimento arquivístico fundamentado pela
Arquivologia e Diplomática com o da Ciência Forense Digital, Direito e Segurança da
Informação.
E por fim, mediante o levantamento destes referenciais e tendo como partida o cenário
arquivístico atual, apresentaremos quais os requisitos arquivísticos possibilitam essa
segurança jurídica e contribuem para a proteção do documento de arquivo digital.

6.1 Segurança e a segurança jurídica

Antes de mais nada é importante apresentar um conceito de segurança que nos


direcione para o então conceito de segurança jurídica aqui estudado.
Segundo o dicionário digital Aulete a segurança (s./p., s.d.) é definida como “A ação
ou o ato de segurar”, no entanto, para Herington (2012) a segurança não possui um único
conceito e transmite polissemia em sua compreensão. Para entender a ideia de segurança o
autor a estrutura em três concepções, as quais são: “[...] (i) segurança como prática, (ii)
segurança como um estado complexo de ser para uma entidade, e (iii) segurança como
qualidade de confiabilidade” (HERINGTON, p. 45, 2012, tradução nossa).
Sobre a segurança como prática, esta é direcionada para a forma verbal “proteger”
(secure), como por exemplo proteger alguém de algo. Isto pode ser feito através de câmeras
de circuito fechado, alarmes, guarda de patrulha, etc, assim pode-se pensar nestes atores e
objetos que capturam as coisas que pessoas e instituições fazem em nome da segurança, desta
maneira temos a “[...] segurança como um campo específico de prática” (HERINGTON, p.
46, 2012, tradução nossa).
95

A segurança como um estado de ser é apontada através da forma adjetiva “seguro”,


ou seja, alguém ou algo sendo seguro. Assim traz a ideia de um estado de ser, por exemplo,
estar livre de violência, sentir-se seguro, estar estável etc. Estes estados motivam a ideia de
segurança [...] que capturam propriedades do estado de ser de uma entidade” (HERINGTON,
p. 47, 2012, tradução nossa).
Já a segurança como qualidade de confiabilidade é entendida por meio do advérbio
“com segurança”, por exemplo, algo sendo protegido, garantido ou assegurado. A segurança
que captura a qualidade de confiabilidade está inserida em um contexto onde “[...] um
indivíduo desfruta ou não de um determinado bem com segurança” (HERINGTON, p. 48,
2012, tradução nossa).
Das três concepções de segurança a que nos chama atenção é a que se relaciona com
a ideia de qualidade de confiabilidade, justamente por já termos abordado a confiabilidade
como um dos atributos do documento de arquivo. Mesmo que ao discorrermos sobre a
segurança em uma perspectiva conceitual, afastada do contexto arquivístico, percebemos que
não intencionalmente esta possui uma relação com o que estamos abordando. Desta forma,
passaremos para o entendimento do conceito de segurança jurídica.
A ideia de segurança jurídica é oriunda do Direito. Silva (2016, p. 1275) a conceitua
como:
O princípio da segurança jurídica é tido como elemento constitutivo da noção do
Estado Democrático de Direito e é considerado pelo constitucionalista português
J. J. Gomes Canotilho como a afirmação de que os indivíduos têm o direito de
poder contar com o fato de que aos seus atos ou às decisões públicas concernentes
a seus direitos, posições ou relações jurídicas fundadas sobre normas jurídicas
válidas e em vigor, se vinculem efeitos previstos e assinados por estas mesmas
normas; o que exige a confiabilidade, a clareza, a razoabilidade e a transparência
dos atos do poder.

A segurança jurídica, apesar de não ser especificamente direcionada para os


documentos de arquivo, nos leva a entender através deste conceito, que os documentos
transmitem segurança jurídica, pautada em uma aceitação no âmbito legal, quando são
dotados de confiabilidade, ou seja, possuem garantia de que são verdadeiros e não foram
corrompidos. Com isso temos, também, a garantia de um direito comum se entendermos que
o cidadão, ao gozar de tal segurança necessita que documentos produzidos por uma
determinada entidade sejam confiáveis.
O quadro 10 apresenta os conceitos apresentados para compreender a segurança e a
segurança jurídica.
96

Quadro 10: Conceito de segurança e segurança jurídica

Termo Autores Conceito

Aulete (s.d.) A ação ou o ato de segurar.


Pode ser entendida como: (i) segurança como
Segurança
prática, (ii) segurança como um estado complexo de
Herington (2012)
ser para uma entidade, e (iii) segurança como
qualidade de confiabilidade.
O princípio da segurança jurídica é tido como
elemento constitutivo da noção do Estado
Democrático de Direito e é considerado pelo
constitucionalista português J. J. Gomes Canotilho
como a afirmação de que os indivíduos têm o direito
de poder contar com o fato de que aos seus atos ou
Segurança jurídica Silva (2016)
às decisões públicas concernentes a seus direitos,
posições ou relações jurídicas fundadas sobre
normas jurídicas válidas e em vigor, se vinculem
efeitos previstos e assinados por estas mesmas
normas; o que exige a confiabilidade, a clareza, a
razoabilidade e a transparência dos atos do poder.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

O cenário atual tem apresentado muita insegurança com alternativas disruptivas. A


administração pública tem passado a produzir documentos de arquivo digital sem levar em
consideração requisitos arquivísticos, o que deixa a segurança jurídica entre o Estado e o
cidadão cada vez mais comprometida, pois no ambiente analógico os documentos produzidos
transmitiam uma presunção de autenticidade e confiabilidade.
Considerando que possuímos requisitos para tal garantia, pois o mundo se direcionou
para a solução destes problemas, no momento que estes não são devidamente implementados
a tendência é de um cenário com relação jurídica fragilizada.
Como abordado nas seções anteriores, a segurança jurídica sustentada em
documentos de arquivo em ambiente digital, a qual nos referimos nesta pesquisa, requer a
contribuição e integração de áreas disciplinares do conhecimento, como a Diplomática,
Arquivologia, Ciência Forense Digital e o Direito.

6.2 Digital Records Forensics

O projeto denominado Digital Records Forensics (DRF), realizado pela Faculdade


de Direito e a Escola de Biblioteconomia, Arquivologia e Estudos da Informação, da
University of British Columbia, entre 2008 e 2011, em colaboração com o Departamento de
Polícia de Vancouver tinha como intuito integrar estas áreas para construir referenciais que
97

juntos pudessem colaborar para manter a autenticidade de documentos digitais produzidos


em ambientes digitais complexos, que apresentassem desafios das tecnologias - e que
garantisse a confiabilidade de provas em ações judiciais. Para ser mais preciso o projeto DRF
possuía os seguintes objetivos:

[1] Desenvolver conceitos e métodos que permitirão que profissionais de gestão de


documentos, arquivo, direito, jurídico e polícia reconheçam documentos de
arquivo entre todos os tipos de objetos digitais produzidos pelas tecnologias
digitais, uma vez que tenham sido removidos de seu sistema original;
[2] Desenvolver conceitos e métodos para determinar a autenticidade de
documentos que não estão mais no sistema original e/ou no formato original;
[3] Desenvolver métodos de manutenção de documentos de arquivo adquiridos em
cenas de crime ou criados pela polícia para perseguir o crime a longo prazo, de
modo que sua autenticidade não seja questionada; e
[4] Desenvolver conteúdo teórico-metodológico de uma nova disciplina,
denominada Digital Records Forensics, resultante da integração da Diplomática
Arquivística, Computação Forense e da Lei de Prova com os conhecimentos recém
desenvolvidos do projeto (DRF PROJECT s./d., s./p., tradução nossa)

Para Xie (2011) o DRF, pode contribuir para dotar os profissionais de um


conhecimento suficiente para os desafios impostos pela tecnologia. A mesma menciona, por
exemplo, um caso interessante onde um custodiante dos registros foi chamado para atestar a
autenticidade de documentos digitais, enquanto prova, perante o tribunal, mas que foi
impedido por não possuir um conhecimento técnico básico sobre o hardware e software,
onde os documentos haviam sido produzidos e mantidos.
Sobre a Digital Records Forensics, se fossemos traduzi-la para o português sua
denominação seria Ciência Forense em Documentos de Arquivo Digitais ou Perícia em
Documentos de Arquivo Digitais, conforme já mencionado sobre a terminologia usada para
Ciência Forense Digital ou Perícia Digital. Duranti, em mensagem eletrônica enviada em 27
de junho de 2021, nos explica sobre a denominação da DRF bem como se Arquivística
Forense (Archival Forensics) ou Diplomática Forense (Diplomatic Forensics) não seriam
denominações similares para a área.

A forense é a análise para fins jurídicos (Fórum=Tribunal). A Ciência Forense


Digital é a análise de objetos digitais. A Digital Records Forensics é a análise de
documentos de arquivo digitais e a Arquivística Forense é a análise de material de
arquivo. [...] A Diplomática é também um método de análise, não o objeto de
análise, por isso não existe a Diplomática Forense. [...] Mais do que uma ciência,
a [ciência] forense digital é uma metodologia. A teoria que a apoia, como escrevi
várias vezes, é a teoria da diplomática geral.

Esta explicação se faz necessária porque até o momento desta pesquisa nos referimos
a complexidade e especificidade do documento de arquivo digital e o seu uso enquanto fonte
98

de prova. O que nos leva a refletir o papel desta nova disciplina para reforçar a avaliação da
autenticidade de objetos digitais, os quais podem ser considerados para a Diplomática como
documento de arquivo e para a Ciência Forense Digital como prova digital.
Diante disso, apresentemos alguns requisitos para a confiabilidade do documento de
arquivo, que garantem a segurança do ambiente digital onde tais registros são produzidos e
mantidos. Estes são:

- compilar registros de acordo com formatos e modelos padrão pré-definidos;


- autenticar registros usando métodos pré-estabelecidos, dependendo do tipo de
registro e função;
- incorporar privilégios de acesso ao sistema de registros eletrônicos, atribuindo a
cada pessoa que tem acesso ao sistema eletrônico, com base em competências
claramente identificadas, a autoridade para compilar, classificar, anotar, ler,
recuperar, transferir ou destruir apenas grupos específicos de registros;
- incorporar no sistema de registros eletrônicos “regras de fluxo de trabalho”
segundo as quais o sistema apresentará apenas a pessoa competente para cada ação
com os registros relacionados e solicitará a realização do registro apropriado no
momento adequado no desenvolvimento automático do procedimento;
- limitar o acesso à tecnologia ou a partes dela por meio de cartões magnéticos,
senhas, impressões digitais, etc.; e
- projetar dentro do sistema eletrônico uma trilha de auditoria, de modo que
qualquer acesso ao sistema e suas consequências (por exemplo, uma modificação
no registro, uma exclusão, uma adição) possam ser documentados à medida que
ocorrem (DURANTI, 2010, p. 84, tradução nossa).

Estes requisitos permitem dar suporte na garantia da organização ou do seu sucessor


legítimo em verificar a autenticidade dos documentos digitais e apontar a trilha de auditoria
como um dos elementos chave que pode prever, impedir ou detectar adulterações destes
documentos no sistema em que estão (DURANTI, 2010). Para a Ciência Forense Digital esta
verificação da autenticidade é realizada através da análise forense digital ou perícia digital
(ROGERS, 2016).
Um dos produtos do DFR integrou a cadeia de custódia, da Ciência Forense Digital,
e a cadeia de preservação, da Arquivologia, visando a confiabilidade que os documentos
digitais pudessem transmitir para ambos os fins (ROGERS, DURANTI, 2013).
Os requisitos de confiabilidade, que foram apresentados, estão contemplados nas
normas que padronizam a produção de documentos em plataformas de gestão de documentos.
Tais documentos também devem ser mantidos confiáveis e seguros em outros ambientes
digitais, tais como o de preservação e acesso de documentos digitais.
Apresentaremos desta forma, os requisitos arquivísticos que podem garantir a
segurança jurídica por meio dos documentos de arquivo.
99

6.3 Identificação e recomendação de requisitos arquivísticos de segurança jurídica

A identificação dos requisitos arquivísticos que proporcionam a segurança jurídica


está pautada através das entidades externas do modelo OAIS, que são: gestão (producer),
preservação (adminstration of preservation) e acesso/difusão (consumer).
Para recomendar os requisitos arquivísticos que possibilitam a segurança jurídica dos
documentos de arquivo digital utilizaremos como referência o Modelo de Requisitos para
Sistemas Informatizados de Gestão Arquivísticos de Documentos, as Diretrizes para
Implementação de Repositórios Arquivísticos Digitais Confiáveis e as normas de descrição
arquivística. As quais comentaremos a seguir apontando-as como elementos em cada
entidade externa do modelo OAIS.

6.3.1 Requisitos arquivísticos que garantem a segurança jurídica no que se refere a gestão
de documentos digitais

O e-ARQ-Brasil, como mencionado anteriormente, regulamenta os requisitos dos


sistemas de gestão de documentos, ou SIGAD’s. Bem recentemente passou por uma revisão,
tornando-se o modelo mais atual do mundo, apesar de ainda não ter sido publicado
oficialmente até o término desta pesquisa. Como mencionado anteriormente, também, há
ainda o Moreq-Jus que, no entanto, é direcionado para o Poder Judiciário, mas que ainda não
passou por nenhuma revisão até então. Desta forma, nossa abordagem será apenas pautada
nos elementos do e-ARQ Brasil.
A divisão do modelo está estruturada em requisitos distribuídos entre funcionais e
não funcionais. Os requisitos funcionais especificam a função que o sistema deve ser capaz
de realizar sob o ponto de vista do usuário final, estes são: organização de documentos,
captura, avaliação, recuperação da informação, elaboração de documentos, tramitação,
segurança e preservação. Os requisitos não funcionais, por sua vez, não estão diretamente
relacionados à funcionalidade do sistema, mas são relevantes para a implementação do
SIGAD, estes são: armazenamento, funções administrativas, conformidade com a legislação
e regulamentações, usabilidade, interoperabilidade, disponibilidade, desempenho e
escalabilidade.
A apresentação do novo modelo foi oficialmente feita no Simpósio Internacional de
Arquivos, promovido pela Associação de Arquivistas de São Paulo, em 2020, onde
100

explicadas as mudanças e novidades que o e-ARQ-Brasil 2.0 traz na nova versão17. Para este
item é pertinente apontar que sua fala explicitou o core do SIGAD, ou núcleo, apresentando
os elementos que não podem deixar de ser contemplados no sistema, estes são:
1. Organização dos documentos arquivísticos
2. Captura
3. Avaliação: temporalidade e destinação
4. Segurança
5. Preservação
A organização dos documentos arquivísticos deve ser feita tendo como suporte o
plano de classificação, instrumento da gestão de documentos, que demonstra a relação
orgânica entre os demais documentos que compõem o conjunto documental. Assim como no
ambiente analógico, essa regra deve ser respeitada no ambiente digital.
A captura de documentos trata da regra que retira o documento produzido em um
sistema de negócio para ser mantido em um SIGAD e assim contempla a gestão de
documentos, ou seja, a manutenção pelo período necessário em que cumpre seus prazos de
guarda, para fins de prova e/ou até que este seja enviado para a preservação permanente em
outro ambiente apropriado. Essa regra também segue outras formas de proteção do
documento de arquivo, que podem ser o SIGAD que vai ao sistema de negócios fazer a gestão
de documentos ou o sistema de negócios que contempla os requisitos do SIGAD.
O elemento da avaliação, relacionada à pré-existência de uma tabela de
temporalidade, como mencionada anteriormente, deve estar na regra do SIGAD, conforme
as maneiras de se contemplar o sistema macro que realiza a avaliação dos documentos
capturados ou que realiza tal avaliação nos próprios sistemas de negócios. Isso permite que
não se mantenha documentos desnecessários por períodos além do previsto pela legislação.
A segurança tem recebido um destaque e importância especial, conforme o título
principal desta pesquisa. Tal requisito confere proteção aos documentos de arquivo digital,
os quais devem carregar a credibilidade que é suportada pela confiabilidade, autenticidade e
precisão. Duranti no mesmo simpósio, dando ênfase ao assunto, declarou que “A segurança
é a nova autenticidade”.
E por fim, a preservação que é requisito responsável em manter os documentos
digitais preservados pelo tempo em que precisam ser mantidos no ambiente de gestão, bem
como acessíveis, este não se trata especificamente da preservação permanente, mas da

17
Apresentação feita por Claudia Carvalho Masset Lacombe Rocha no Simpósio Internacional de Arquivos,
em São Paulo, em dezembro de 2021.
101

utilização dos Repositórios Arquivísticos Digitais Confiáveis para dar suporte a preservação
dos documentos de caráter corrente e/ou intermediário através da integração com o SIGAD.
Outros elementos que podem ser considerados, além destes mencionados, são a
elaboração de documentos e tramitação e fluxo de trabalho. O SIGAD não necessariamente
precisa dar suporte à produção dos documentos, mas em grande tem sido muito comum a
adoção desta prática para dar suporte a gestão de documentos, mas quando este possuir essa
intenção deve levar em conta os dois elementos acima mencionados.
Além destes requisitos o novo modelo adota a possibilidade de uso do SIGAD com
os sistemas de negócios, como já demonstrado anteriormente. As seções de elaboração de
documentos e assinatura cadastrada por meio de login e senha. E uma das grandes mudanças
foi a revisão de seus metadados, em especial no que se refere aos metadados de gestão.
Desta forma, o e-ARQ-Brasil 2.0 se consolida como uma garantia de produção ou
manutenção de documentos de arquivo em ambiente digital. Logo é entendido como um
requisito indispensável para a segurança jurídica, por se tratar do ambiente que gerencia os
documentos de arquivo digital, de forma segura, quando consolidado em um SIGAD, desde
sua gênese até a sua destinação final.
Assim, recomenda-se que os requisitos arquivísticos que possibilitam a garantia da
segurança jurídica na gestão de documentos digitais sejam os requisitos do e-ARQ-Brasil.
O próximo item abordará a segurança jurídica da perspectiva da preservação dos
documentos em um ambiente adequado de proteção, conforme o modelo OAIS, é entendido
como o Arquivo Digital.

6.3.2 Requisitos arquivísticos que garantem a segurança jurídica no que se refere a


preservação de documentos digitais

No cenário da gestão de documentos digitais, onde atua o SIGAD, há a possibilidade


de uso do RDC-Arq. No entanto, este não se configura como de uso para a preservação
permanente, mas sim para apoiar a preservação a longo prazo, tendo em vista o grande
período que os documentos devem se manter acessíveis ao longo do tempo até que sejam
destinados para a eliminação ou preservação permanente. Estes cenários de uso do RDC-Arq
com o SIGAD são descritos pela orientação técnica n.º 03 da antiga CTDE do CONARQ.
Estes são assim entendidos:
102

• Cenário 1: “Um SIGAD pode gerenciar documentos digitais nas idades corrente e
intermediária, armazenando determinados documentos em sistemas de storage, e
encaminhando outros documentos para um RDC-Arq, de acordo com a política
arquivística adotada” (CONARQ, 2015b, p. 4);
• Cenário 2: “Um sistema informatizado de processos de negócios, no ambiente do
produtor, pode interoperar com um SIGAD, e este com um RDC-Arq e/ou um sistema
de storage” (CONARQ, 2015b, p. 5);
• Cenário 3: “Um sistema informatizado de processos de negócio no ambiente do
produtor que incorpora as funcionalidades de um SIGAD e interopera com um RDC-
Arq e/ou um sistema de storage” (CONARQ, 2015b, p. 6).

Desta maneira, temos a diferença entre um RDC-Arq voltado para apoiar a gestão de
documentos digitais e um RDC-Arq voltado para a preservação permanente digital. Este
último foi contextualizado anteriormente, através das inciativas internacionais e traduzido
em diretrizes para o âmbito brasileiro.
Um RDC-Arq é antes de tudo um RDC, no entanto esta peculiaridade foi adotada no
Brasil para adjetivar os repositórios que possuem a missão de manter o material arquivístico
digital de acordo com normas e princípios da Arquivologia (GAVA; FLORES, 2020).
Assim, temos uma abordagem de RDC-Arq’s que são necessários para a preservação
digital sistêmica no ambiente de gestão arquivística e ainda um Arquivo Permanente Digital
capaz de capaz de confinar documentos de arquivo digital complexos e específicos, conforme
Gava e Flores (2020).
As Diretrizes para a Implementação de Repositórios Arquivísticos Digitais
Confiáveis, conhecida também por meio das resoluções nº 39 e 43 do Conarq, tratam da
regulamentação e das orientações para a consolidação de um ambiente de preservação digital
ou Arquivo, conforme modelo OAIS, o Arquivo Permanente Digital ou simplesmente um
Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq), como já apresentado.
A presente resolução trata da indicação de um modelo básico de requisitos a serem
levados em consideração na consolidação do RDC-Arq, aponta o modelo OAIS como de
grande relevância para a estrutura de um repositório.
No modelo OAIS, como já é sabido, descreve o modelo funcional e o modelo de
informação, ou seja, das funções de um repositório digital e dos metadados para a
preservação e o acesso dos documentos digitais. A Trustworthy Repository Audit &
103

Certification: criteria and checklist (TRAC) também é referenciada como um requisito para
a consolidação de um RDC-Arq.
Sobre as considerações de um RDC-Arq, as diretrizes mencionam elementos que
devem ser levados em consideração, tais como a responsabilidade, o tratamento arquivístico,
a consideração dos princípios de preservação digital, a independência de repositórios e a
interoperabilidade.
E por fim, os requisitos essenciais que se estruturam na infraestrutura organizacional,
subdividida em governança e viabilidade organizacional, estrutura organizacional e de
pessoal, transparência de procedimentos e arcabouço político, e sustentabilidade financeira e
contratos, licenças e passivos.
O gerenciamento do documento digital é pautado nos pacotes de informações (SIP,
AIP e DIP). A TRAC reforça ainda requisitos que envolvem o gerenciamento do documento
no repositório, categorizado em seis grupos: admissão: captura de documentos; admissão:
criação de pacote de arquivamento; planejamento de preservação; armazenamento e
preservação/manutenção de AIP, gerenciamento de informação e gerenciamento de acesso.
O último requisito é direcionado para a tecnologia, infraestrutura técnica e segurança
descreve as melhores práticas para a gestão de dados e segurança que devem estar no
repositório digital. A infraestrutura de sistema deve apoiar a preservação dos AIP’s. Esses
aspectos são listados pelas diretrizes do RDC-Arq, as tecnologias do repositório, tais como o
software e hardware, devem ser apropriadas para apoiar o serviço de preservação e a
segurança não deve se limitar apenas aos aspectos tecnológicos, mas toda a estrutura física e
de pessoas envolvidas.
Desta maneira, julgamos como necessário e importante o papel que as diretrizes de
implementação de um RDC-Arq possuem para a garantia, segurança, proteção,
confiabilidade que deve ser contemplada em um ambiente de preservação digital que mantém
documentos de arquivo digital, logo a segurança jurídica. Tendo em vista que esta contempla
os principais padrões e modelos oferecidos pela comunidade arquivística.
Por conseguinte, recomendamos como requisitos arquivísticos que podem viabilizar
a segurança jurídica por meio da preservação de documentos digitas as diretrizes de
implementação de um RDC-Arq.
É importante ressaltar que as diretrizes se comunicam com os padrões de metadados,
oferecidos pelo e-ARQ Brasil e os padrões de metadados de descrição arquivística, que são
oferecidos pelas normas de descrição, abordaremos estas últimas a seguir.
104

6.3.3 Requisitos arquivísticos que garantem a segurança jurídica no que se refere ao


acesso e difusão dos documentos digitais

Neste item nos direcionamos a dois elementos importantíssimos para os arquivos, o


acesso e a difusão. O acesso trata de uma demanda feita pelo usuário para a entidade que
mantém a informação, já a difusão, não necessariamente demandada pelo usuário,
disponibiliza tal informação por um canal de comunicação.
O acesso à Informação é um direito garantido, no Brasil, pela Constituição Federal e
regulamentado pela Lei de Acesso à Informação - LAI (Lei 12.527 de 18 de novembro de
2011). No Decreto que regulamenta a LAI são enunciadas a transparência ativa e passiva, a
primeira se refere ao dever do Estado de promover e divulgar as informações mantidas e
custodias pela Administração Pública de interesse coletivo e a segunda, trata da
disponibilização das informações a pedido do cidadão. Desta maneira, podemos entender que
a transparência ativa está vinculada a difusão.
Na teoria arquivística o acesso e a difusão dos documentos remontam ao Arquivo
Nacional da França, como uma das primeiras instituições a oferecerem tal serviço. A
comunidade arquivística caminhou para a busca de uma padronização na descrição de
documentos através de normas, as quais veremos a seguir.
As normas de descrição arquivística são produtos elaborados pela comunidade
arquivística, através de grupos de trabalho formados no âmbito do Conselho Internacional de
Arquivos. São elas: Norma geral internacional de descrição arquivística - ISAD (G), Norma
internacional de registro de autoridade arquivística para entidades coletivas, pessoas e
famílias - ISAAR (CPF), Norma internacional para a descrição de instituições com acervos
arquivísticos - ISDIAH e a Norma internacional para descrição de funções - ISDF. Há ainda
a norma de descrição elaborada no âmbito do Brasil que é denominada Norma brasileira de
descrição arquivística - NOBRADE.
Entendemos que para se prover o acesso, a difusão e a transparência ativa através da
segurança jurídica transmitida pelo documento de arquivo digital, bem como o respeito a
cadeia de custódia digital arquivística, a qual se consolida com a produção de documentos
autênticos desde sua gênese até a sua transmissão, manutenção e destinação para um RDC-
Arq, é necessário que se tenha uma forma confiável de oferecer as informações contidas em
tais documentos. Por isso, as normas de descrição podem oferecer tal garantia, recorremos à
identificação de cada uma.
105

A ISAD (G) uma das primeiras normas de descrição arquivística, traz consigo a tarefa
de descrever todas as entidades relacionadas a fundo documental, o que ficou compreendido
como descrição multinível. Esta ideia parte da perspectiva de um todo, ou seja, do geral para
o particular através de uma hierarquia que compõem o fundo (fundo, seção, série, subsérie,
dossiê/processo, item documental). São determinados vinte e seis elementos, no entanto
apenas seis são considerados essenciais (código de referência, título, produtor, data,
dimensão da unidade de descrição e nível de descrição) e está organizada em sete áreas
(identificação, contextualização, conteúdo e estrutura, condições de acesso e uso e fontes
relacionadas).
No Brasil, a NOBRADE foi elaborada para contextualizar a realidade local, esta
possui todos os elementos da ISAD (G), no entanto com vinte e oito elementos e oito áreas.
Dos vinte e oito elementos, sete são obrigatórios (código de referência, título, produtor, data,
nível de descrição, dimensão e suporte, nome do produtor e condições de acesso) e das oito
áreas em que ela está organizada apenas a área de ponto de acesso e descrição foi
acrescentada.
A ISAAR (CPF) tem por objetivo registrar as entidades que estão relacionadas com
a produção e manutenção do fundo. Sua organização se divide em áreas (identificação,
descrição, relacionamentos e controle) e com vinte e sete elementos, dos quais apenas quatro
são essenciais (tipo de entidade, forma autorizada do nome, data de existência, identificador
do registro de autoridade).
Já a ISDIAH tem como propósito normatizar a descrição das instituições
custodiadoras de acervos. Sua estrutura está dividida em seis áreas (identificação, contato,
descrição, acesso, serviços e controle) e trinta e um elementos, mas apenas três obrigatórios
(identificador, forma autorizada do nome e endereço).
A ISDF descreve as funções das entidades relacionadas à produção e manutenção dos
arquivos. Sua divisão está organizada em quatro seções (identificação, descrição,
relacionamentos e controle) e vinte e dois elementos disponíveis, onde apenas três são
obrigatórios (tipo, forma autorizada do nome e identificador da descrição da função).
E por fim, vale ressaltar o Records in Contexts (RiC), que é um padrão de descrição
arquivística desenvolvido pelo Conselho Internacional de Arquivos com o intuito de permitir
a descrição em múltiplas camadas de contexto e que contempla as normas de descrição
arquivística. Este ainda se encontra em uma versão rascunho e em estudo de sua possível
implantação.
106

Recomendamos assim os padrões de descrição, como os requisitos arquivísticos que


oferecem uma extensão de garantia de uma segurança jurídica dos documentos de arquivo
digital, tendo em vista que se trata da parcela que contempla o acesso, a difusão ou
transparência ativa para com a sociedade.
Desta forma, identificamos e recomendamos neste item, através das três entidades
externas, gestão, preservação e acesso/difusão dos documentos digitais, os requisitos
arquivísticos e elementos necessários para a consolidação da segurança jurídica. Este são
observados através das normas vigentes no país, como o e-ARQ Brasil, as diretrizes de
implementação de RDC-Arq e as normas de descrição arquivística - NOBRADE, ISAD (G),
ISAAR (CPF), ISDIAH, ISFD. Percebe-se que para os dois primeiros ambientes, de gestão
e preservação de documentos, são contemplados com um modelo que regulamenta a maneira
e a forma de produção e preservação dos documentos de arquivo digital, o que não é
contemplado no ambiente de acesso, difusão ou transparência ativa. Isto reforça a reflexão
de que essa camada, por não estar amparada por um modelo, incentiva a propagação de
informações em ambientes que não garantem segurança, tais como websites ou até mesmo
por meio do correio eletrônico, isso não garante uma segurança jurídica pautada em
transparência ativa.
Estes ambientes também precisam ser auditados e certificados, até o momento não há
nem uma iniciativa de certificação para SIGAD’s. Mas bem recentemente o Conarq instituiu
uma Câmara Técnica Consultiva para a elaboração de requisitos de certificação e regras de
auditoria para RDC-Arq’s, o que caminha para o fortalecimento da segurança jurídica através
dos documentos digitais, algo que infelizmente ainda carece ser observado para o ambiente
de acesso.
Levando em consideração tudo o que foi apresentado nesta seção, os requisitos
arquivísticos que garantem a segurança jurídica viabilizada pelos documentos de arquivo
digital estão divididos em três entidades externas, conforme o modelo OAIS. Os requisitos
arquivísticos que asseguram a gestão, preservação e acesso/difusão para os documentos de
arquivo digital estão vinculados aos modelos e padrões desenvolvidos para a proteção dos
documentos digitais em ambiente digital, tal como enfatizamos aqui, estes são: o e-ARQ
Brasil, as diretrizes de implementação de RDC-Arq e as normas de descrição arquivística.
Na próxima seção trataremos das considerações finais de nossa pesquisa, perpassando
o caminho percorrido até a entrega dos resultados que esta visou alcançar.
107

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário dos arquivos e o campo da Arquivologia tem sofrido inúmeras mudanças,


rupturas e transições paradigmáticas desde os impactos das tecnologias na sociedade digital.
As primeiras iniciativas preocupadas com o documento de arquivo em ambiente digital, hoje
em dia se demonstram pioneiras pelo trabalho que realizaram.
Nsta pesquisa nos direcionamos primeiramente para acompanhar os passos da
Diplomática e da Arquivologia, sendo utilizadas para o estudo da autenticidade do
documento de arquivo digital, através de um dos maiores projetos de cooperação
internacional entre a comunidade arquivística: o InterPARES.
Os resultados apresentados na terceira seção contribuíram para entender a
complexidade e especificidade do documento de arquivo em ambiente digital. O qual não
considera que uma entidade digital produzida em um ambiente digital seja apenas um objeto
digital quando produzida com propósitos arquivísticos relacionados ao produtor. É por isso
que esta entidade ao ser considerada um documento de arquivo digital, constitui-se de
metadados e componentes digitais, que aqui foram apresentados por meio da ontologia
elaborada pelo InterPARES.
A ontologia dos documentos de arquivos se constitui dos elementos intelectuais,
atributos e componentes digitais, que por sua vez consideram os conceitos e princípios da
Diplomática e da Arquivologia. Estes são elementos importantes para compreender o porquê
de aqui dizermos que o documento de arquivo digital é complexo e específico.
Outra contribuição alcançada por esta pesquisa é identificada pela quarta seção, a qual
se encarregou de recuperar os fundamentos sobre o documento digital enquanto fonte de
prova em uma perspectiva arquivística e jurídica. Os resultados alcançados apontam para a
aproximação entre a Diplomática, Arquivologia, Direito e Ciência Forense Digital em
especial quando se trata da autenticidade de um documento de arquivo digital.
As discussões em torno da prova digital e seu reflexo com a teoria arquivística e
jurídica, suscitaram reflexões interessantes e que podem ser fruto de novos estudos, em
especial sobre a terminologia de prova e evidência aplicada às áreas da Arquivologia e
Direito.
Uma das contribuições desta pesquisa foi apresentar a Ciência Forense Digital, tendo
em vista que é uma disciplina pouco explorada na comunidade arquivística, mas que estudos
demonstraram uma similaridade enquanto aos seus propósitos e conceitos com a
108

Diplomática, que é uma disciplina consagrada na Arquivologia e nos estudos de autenticidade


dos documentos digitais.
Conseguinte, a cadeia de custódia nos parece ser um ponto bastante em comum entre
as áreas, mesmo que com propósitos diferentes, sua manifestação entre estes campos parece
um ponto de intercessão para uni-las. A arquivologia tem desenvolvido trabalhos que
caracterizam uma abordagem que pode beneficiar o documento digital tanto em uma questão
arquivística quanto jurídica, talvez sendo um passo para apontar a pertinência que isto pode
estabelecer para uma segurança jurídica.
Na quinta seção foram apresentadas as principais iniciativas de requisitos que
envolvem a gestão e a preservação de documentos digitais. Na primeira parte apresentamos
alguns dos padrões utilizados para a gestão de documentos digitais: DoD5015-STD, DIRKS
e MoReq2010. A nova versão do e-ARQ Brasil, por sua vez, tem como referência estes
padrões e a realidade local, oriunda da experiência adquirida com o uso da primeira versão
do modelo. O reflexo dos modelos de gestão de documentos, ciclo de vida dos documentos
e records continuum, também se vinculam aos padrões apresentados, algo que se estende aos
modelos desenvolvidos pelo projeto InterPARES, cadeia de preservação e business-driven
recordkeeping.
Na segunda parte da quinta seção foram apontadas quais as principais iniciativas e
requisitos de preservação digital, o destaque está no modelo OAIS, que apesar de descrever
os requisitos básicos de um ambiente para a administração da preservação digital, contempla
além desta entidade outras duas, o produtor e o consumidor, que podem ser traduzidas como
os ambientes de gestão e de acesso/difusão de documentos. O modelo influenciou o
desenvolvimento de outras inciativas direcionada para a preservação digital, como a que
determina a auditoria e certificação de repositórios digitais confiáveis, conhecida como
TRAC, o padrão de metadados PREMIS e os modelos do InterPARES, estes últimos seriam
uma adaptação específica para os arquivos, tendo em vista que o modelo OAIS se aplica a
qualquer entidade que mantem dados e documentos digitais.
Por fim, vale ressaltar que o Brasil refletiu estas iniciativas em diretrizes para a
implementação de repositórios digitais, que receberam uma qualificação específica de
repositório arquivístico digital confiável.
Na sexta seção foram identificados os requisitos arquivísticos que contemplam a
segurança jurídica do documento de arquivo em ambiente digital. Mas primeiramente
demonstramos a noção de segurança, que pode ser entendida como qualidade de
109

confiabilidade, isso reforça os conceitos de credibilidade, confiabilidade, autenticidade e


precisão assegurados pela Diplomática, já contemplados na quinta seção.
Essa ponte nos levou ao conceito de segurança jurídica, oriundo do Direito, mas que
também contempla a ideia de confiabilidade garantida pelo Estado para a sociedade. Desta
forma, foram identificados os requisitos arquivísticos que corroboram para a segurança
jurídica do documento de arquivo digital, tendo como partida as entidades externas do
modelo OAIS, os quais se resumem na seguinte proposta:
1. Requisitos arquivísticos que subsidiam a segurança jurídica para a gestão de
documentos digitais: Adoção dos requisitos determinados pelo modelo e-ARQ Brasil para
implantação e/ou avaliação de SIGAD’s;
2. Requisitos arquivísticos que garantam a segurança jurídica para a preservação de
documentos digitais: Adoção das diretrizes de implementação de um RDC-Arq; e
3. Requisito arquivístico que contemplam a segurança jurídica para o acesso e a
difusão/transparência ativa de documentos digitais: Adoção das normas de descrição
arquivística para plataformas de acesso e difusão/transparência ativa.
É importante ressaltar que estes requisitos arquivísticos apresentados nesta proposta,
se tratam de uma representação holística, ou seja, de um todo. Os dois primeiros grupos de
requisitos se direcionam para modelos e padrões existentes para a implementação de
plataformas de gestão e preservação de documentos digitais (SIGAD e RDC-Arq), enquanto
que o último não possui um modelo ou padrão regulamentado que se direcione para o uso de
plataformas de acesso, difusão e transparência ativa de documentos digitais.
Levando em consideração esses requisitos arquivísticos, teríamos um cenário
sustentado e baseado nos referencias da ciência para a segurança jurídica subsidiada pelo
documento de arquivo em ambiente digital. Este por sua vez deve contemplar os ambientes
externos do modelo OAIS, os quais se interligam entre os padrões e modelos desenvolvidos
para a gestão, preservação e acesso/difusão dos documentos digitais e que devem se manter
em uma cadeia de custódia digital arquivística confiável, durante a custódia do produtor e a
custódia do preservador.
Desta forma, há que ressaltar que a contribuição desta pesquisa busca fortalecer os
laços entre a Arquivologia, Diplomática, Direito e Ciência Forense Digital. Pois como foi
demonstrado, o impacto de uma gestão, preservação e acesso/difusão de documentos digitais
com segurança garantida, tende a tornar-se um documento de arquivo confiável e autêntico,
consequentemente uma fonte de prova também.
110

Por fim, é importante salientar que a continuidade de estudos voltados para a auditoria
e certificação das plataformas de gestão, preservação e acesso/difusão de documentos digitais
possibilitariam novo elementos e estudos que garantiriam a segurança jurídica para as
relações do cidadão com o Estado, favorável para a consolidação da credibilidade do
documento de arquivo em ambiente digital e a sua relação com a sociedade.
111

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