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Niterói
2019
ALEXANDRE FABEN ALVES
"O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001"
Niterói
2019
ALEXANDRE FABEN ALVES
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana Célia Rodrigues
Orientadora / UFF
___________________________________________
Prof.ª Dr.ª Clarissa Moreira dos Santos Schmidt
Membro Titular Interno / UFF
___________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana Maria de Almeida Camargo
Membro Titular Externo / USP
___________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Celina Soares de Mello e Silva
Membro Titular Externo / MAST
___________________________________________
Prof. Dr. Renato de Mattos
Membro Suplente Interno / UFF
___________________________________________
Prof.ª Dr. ª Maria Teresa Villela Bandeira de Mello
Membro Suplente Externo / FIOCRUZ
Niterói
2019
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer imensamente a todas as pessoas que contribuíram para que esta
pesquisa pudesse existir.
À minha família e aos meus amigos, que embora sejam poucos são os melhores que eu
tenho. Em especial aos professores que se tornaram grandes amigos e aos meus amigos que se
tornaram grandes professores. Para mim é o exemplo a ser seguido.
Aos membros da banca, por terem aceitado participar da qualificação e defesa e pelas
excelentes contribuições compartilhadas.
À professora Ana Célia Rodrigues, quero agradecer de maneira especial, por acreditar
em mim, e exigir sempre o melhor. O seu conhecimento sobre a teoria e a prática em
Arquivologia é inspirador, tal como a sua generosidade e desejo de ver a Arquivologia
mudando a vida das pessoas.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por
financiar esta pesquisa.
Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que
o seu caminho é o único. Nunca podemos julgar a vida dos outros,
porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia.
Paulo Coelho
RESUMO
This research deals with the identification of archival documents and the principles adopted
for naming and grouping the record series within the scope of record management tools of the
National Archives and State Public Archives of Brazil. The identification brings with its
theoretical and methodological support new research perspectives to Archival Science, once it
studies the records in their organic and functional contexts, understanding the parameters of
Diplomatics and Documentary Typology as a grounding for the identification process. Since
the late 1980s, the theoretical and methodological bases of Diplomatics have been used to the
elaboration of record management instruments, understanding the archival documents as part
of the group to which they belong. From the discussion on the concept of archival document
and a parameter to recognize it and to group it, a necessary debate arises about the concept of
record series, nuclear to the understanding of documentary typology and identification. The
study of the record series is essential when one chooses to use documentary typology as a
methodology to identify the record through its action and to group it using this principle. All
the archival processes will fall on the series. But, if one decides to consider the series as a
general category, as a sequence of records that share the same subject, the archival
procedures, such as identification, classification and evaluation, will focus on the record
aboutness, not on the its action. In this scenario, the following questions arise: how is the
identification of documents carried out in the Brazilian archival context, specifically within
the scope of record management programs developed by the National Archives and the State
Public Archives of Brazil? What are the parameters used to recognize the documents and
denominate the record series that integrate the records management tools? To answer these
questions, this research aims to analyze the parameters that support the identification of
documents within the scope of records management developed by the National Archives and
State Public Archives of Brazil. We hope that the results can be used as parameters for the
reflections on the need to standardize the identification of documents and their correct
denomination from the action that gives rise to it, a criterion that does not allow
misinterpretations. This research is a master's thesis developed with CAPES funding, within
the scope of Line 2, Socio-technical Flows and Mediation of Information, within the
Postgraduate Program in Information Science of Federal Fluminense University, PPGCI /
UFF, and integrates the scientific production of the Research Group of Archival Science
Documentary Genesis, UFF / CNPq.
PB - Paraíba
TO - Tocantins
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 16
2 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 24
3.3 Documentos de arquivo, tipo e série documental: identificação nos parâmetros da tipologia
documental ....................................................................................................................................... 40
1 INTRODUÇÃO
Ana Célia Rodrigues (2015) aponta percepções sobre o cenário observado, ressaltando
que:
[...] os currículos dos cursos de Arquivologia são muito diferentes, visto que
não existe um padrão a ser seguido', contexto no qual coloca a seguinte
reflexão: 'será que nossos cursos de Arquivologia formam distintos
profissionais arquivistas, tendo em vista esta diferença do ensino da
Diplomática, explicita nas matrizes curriculares?'. [...] este levantamento de
dados, embora preliminar, permite concluir que 'as disciplinas ofertadas
referentes à Diplomática e/ou Tipologia Documental estão inseridas nos
currículos dos cursos de Arquivologia por influência da especialização e
campo de atuação dos docentes que as ministram, fato que se reflete na pós-
graduação, onde é possível perceber que não há um número considerável de
teses e dissertações sobre estes assuntos, visto que a quantidade de docentes
para orientar pesquisas que abordam esses temas, é escassa (RODRIGUES,
2015, p. 63-64, 66-67).
Outro marco importante para o desenvolvimento desta dissertação foi o estágio que
realizei na Divisão de Gestão de Documentos do Arquivo Público do Estado do Rio de
Janeiro, APERJ, que significou uma experiência essencial, pois foi onde tive contato com o
Sistema de Identificação de Tipologia Documental, do Programa de Gestão de Documentos
do Governo do Estado do Rio de Janeiro, PGD-RJ. Este sistema permite a identificação da
Tipologia Documental, para agrupar séries documentais tipológicas e realizar o tratamento
técnico arquivístico. O PGD-RJ, sendo um laboratório de pesquisa, acentuou minhas
inquietações sobre o documento de arquivo, ressaltando a importância de estudar sua gênese
para nomeá-lo corretamente a fim de implantar a gestão de documentos, observando a
pertinência de aplicar a metodologia da identificação com base na Tipologia Documental
como uma etapa preliminar e necessária para o planejamento da produção documental,
classificação e avaliação de documentos de arquivo.
A qualidade dos resultados obtidos a partir da elaboração dos instrumentos
arquivísticos de gestão de documentos, fundamentados nos estudos de Tipologia Documental
no contexto da identificação arquivística, forneceu parâmetros para pensar que a aplicação
prática necessita do rigor científico para a execução do trabalho arquivístico.
Na excelente oportunidade que tive de ser bolsista do Programa de Capacitação
Institucional no Museu de Astronomia e Ciências Afins, MAST, de 2015 a 2017, sendo
orientado por Maria Celina Soares de Mello e Silva, no âmbito do projeto “Identificação de
Tipologia Documental em Arquivos Pessoais de Cientistas” foi possível realizar práticas de
identificação de documentos fundamentada na Tipologia Documental, de acordo com o plano
de trabalho: “A ornitologia brasileira no arquivo Helmut Sick: identificação de documentos
18
por meio de estudo tipológico”. Como resultado, elaboramos artigos científicos que discutem
questões teóricas e compartilham as experiências do trabalho arquivístico desenvolvido no
MAST1.
No âmbito dos estágios docência nas disciplinas Diplomática I e Avaliação de
Documentos, com a professora Ana Célia Rodrigues, e Gestão de Documentos II e
Classificação em Arquivos, com a professora Clarissa Schimdt, percebi o quão necessário é
possuir o referencial teórico seguro, para a prática profissional, que permita ao arquivista
identificar e tratar o seu objeto de estudo, o documento de arquivo.
O documento de arquivo, sempre esteve no centro dos debates teóricos e profissionais
da área. O seu caráter orgânico, assim como as características que o tornam exclusivo em seu
contexto de produção, instigam a refletir sobre uma metodologia segura que permita
reconhecê-lo como prova da ação que lhe deu origem.
Por definição, de acordo com o Dicionário de Terminologia Arquivística, publicado
pela Associação de Arquivistas de São Paulo, os documentos de arquivo “independente do
suporte, são reunidos por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou jurídicas,
públicas ou privadas” (CAMARGO; BELLOTTO, 1996, p. 41).
Neste sentido, na tradição arquivística brasileira, os documentos de arquivo
identificados nos parâmetros da Diplomática são reconhecidos pela espécie documental, que é
“a configuração que assume um documento de acordo com a disposição e a natureza das
informações nele contidas” (CAMARGO; BELLOTTO, 1996 p. 46), e pelo tipo documental,
por definição, a “configuração que assume uma espécie documental, de acordo com a
atividade que a gerou” com o objetivo de reunir a série documental, portanto “a sequência
seriada de unidades de um mesmo tipo documental” (CAMARGO; BELLOTTO, 1996, p.80).
E, de forma coerente, a série é a “sequência de unidades de um mesmo tipo documental”
(CAMARGO; BELLOTTO, 1996 p. 47).
Já para o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, publicado pelo Arquivo
Nacional, a série é definida como a “subdivisão do quadro de arranjo que corresponde a uma
sequência de documentos relativos a uma mesma função, atividade, tipo documental ou
1
Disponível em:
<http://site.mast.br/hotsite_anais_ivspct_2/pdf_03/33%20%2034%20IVSPCT%20_FABEN&SILVA_%20-
%20Texto%20completo%20_2_.pdf>. Acesso em: 22 jul 2018.
assunto” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 153). Esta definição mostra uma discrepância,
pois este conceito assume o agravante de colocar no mesmo nível, sem diferenciá-los, tipos
documentais, espécies, assuntos e elementos estruturais e/ou funcionais do órgão produtor. Da
mesma forma que este dicionário, elaborado pelo Arquivo Nacional do Brasil, define o tipo
documental como uma “divisão de espécie documental” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.
162).
Tais problemas conceituais observados são nucleares para o debate arquivístico, pois
interferem no próprio entendimento do que é o documento de arquivo, como denominá-lo e
de que modo ocorre o agrupamento por série documental.
A metodologia adotada pelo Arquivo Nacional, a partir da concepção dos conceitos do
Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, identifica o documento de arquivo
genericamente por assunto, porém estudos fundamentados na Diplomática e Tipologia
Documental reconhecem o documento de arquivo pela ação que determina sua produção.
Desta forma, infere-se que a escolha de determinados conceitos compromete o
desenvolvimento do tratamento técnico arquivístico e, portanto, seus resultados.
Perspectivas abertas nos estudos desenvolvidos por Rodrigues (2003; 2008), destacam
a importância da identificação do documento de arquivo realizada nos parâmetros da
Diplomática e Tipologia Documental para a gestão de documentos e tratamento de
documentos acumulados, conhecimento considerado base para a formação profissional do
arquivista.
Por esta razão, os documentos de arquivo não devem ser reconhecidos pelo
assunto, mas pela ação que determinou sua produção em determinado
contexto. O tipo documental, denominação dada ao documento de arquivo,
sintetiza esta perspectiva. A necessidade de identificar documentos em seu
contexto de produção conduz a área à reflexão sobre a identificação como
processo arquivístico e seus instrumentos, somam-se às discussões sobre a
22
2 METODOLOGIA
2
Disponível em: < http://www.conarq.gov.br/o-cadastro.html>. Acesso em: 02 out. 2018.
25
da Paraíba (PB) e de Tocantins (TO) que não possuem Arquivo Público Estadual registrado
no Cadastro Nacional de Entidades Custodiadoras de Acervos Arquivísticos - CODEARQ.
Os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa serão apresentados a partir
de métodos específicos que foram utilizados para o desenvolvimento da dissertação e estão
divididos nas etapas a seguir.
3
Disponível em: <http://www.conarq.gov.br/o-cadastro.html>
27
Paola Carucci (1987, p.11) define a Diplomática como “a disciplina que estuda o
documento único ou, se quisermos, a unidade arquivística elementar, analisando seus aspectos
formais para definir sua natureza jurídica, tanto em relação a sua formação quanto em seus
efeitos”.
Para o professor da École Nationale des Chartes, Bruno Delmas (2015, p. 33), a
Diplomática é a “ciência que estuda os documentos de arquivo propriamente ditos, em sua
condição de documentos a partir de sua elaboração, sua forma e sua transmissão, para julgar
sua autenticidade e considerar seu valor de testemunho e de informação”.
Luciana Duranti (1989, p. 17), esclarece que a Diplomática é a “disciplina que estuda
a gênese, formas e transmissão dos documentos de arquivo e sua relação com os fatos e seus
criadores, a fim de identificar, avaliar e comunicar sua verdadeira natureza”.
Ao discutir sobre os aspectos de autenticidade dos documentos de arquivo, relação
essa que é plenamente explorada no nível teórico pela Diplomática e pela Arquivologia,
Luciana Duranti (1992, p. 47), constata que essa capacidade que é inerente aos documentos de
arquivo, “a de capturar os fatos, suas causas e consequências, e de preservar e estender no
tempo a memória e a evidência desses fatos, deriva da relação especial entre os documentos e
a atividade da qual eles resultam”.
Ao analisar as correntes teóricas que estudam a Diplomática, Ana Célia Rodrigues,
(2008, p.119) contextualiza que “a definição de Diplomática esteve intimamente ligada ao
conceito de documento, o que caracteriza seu objeto de estudo, entendido como peça singular
ou integrante de um conjunto”. Esta concepção é fundamental para explicar as correntes
teóricas que se formaram em torno da Diplomática e sua aproximação com a arquivística.
29
Têm sua raiz no verbo grego diploo que significa "eu dobro" ou "eu dobrei",
que deu origem à palavra diploma, que significa "dobrado" ou "dobrável".
Na antiguidade clássica, a palavra diploma se referia a documentos escritos
em duas tábuas presas com uma dobradiça e chamadas de díptico; e, durante
o período do Império Romano, especificava tipos de documentos emitidos
pelo Imperador ou pelo Senado, como os decretos que conferem privilégios
de cidadania e casamento a soldados que cumpriram seu tempo de serviço.
Com o tempo, o diploma passou a significar um ato emitido por uma
autoridade soberana e foi ampliado para incluir geralmente todos os
documentos emitidos de forma solene (DURANTI, 1989, p. 12, tradução
nossa).
Seu segundo volume apareceu em 1675 com uma introdução escrita por
Daniel Van Papenbroeck, na qual os princípios gerais para estabelecer a
autenticidade de antigos pergaminhos foram rigorosamente enunciados. No
entanto, aplicando esses princípios aos diplomas dos reis francos,
Papenbroeck declarou erroneamente que um diploma de Dagoberto I era
uma falsificação e, ao fazê-lo, desacreditou todos os diplomas merovíngios,
a maioria dos quais foram preservados no mosteiro beneditino de Saint-
Denis. Dom Jean Mabillon, beneditino da Congregação de Saint-Maur, que
havia sido chamado do mosteiro de Saint-Denis para a abadia de Saint-
Germain-des-Pres para publicar a vida dos santos beneditinos, respondeu a
acusação de Papenbroeck seis anos depois, em 1681, em um tratado de seis
partes, De Re Diplomática Libri VI, que estabeleceu as regras fundamentais
da crítica textual (DURANTI, 1989, p. 13, tradução nossa).
Esta acepção aceita pelos historiadores e juristas dos séculos XVI e XVII foi
consagrada por Jean Mabillon, como resposta ao tratado de Papenbroeck e publicado em
1681, estabelecia o método da crítica textual, instituindo a ciência da Diplomática e
Paleografia.
A partir deste relato inicial, é possível perceber que Mabillon é quem efetua a
primeira sistematização rigorosa sobre a autenticidade dos documentos de arquivo. A sua
metodologia foi usada para comparar documentos de épocas diferentes, assim, analisou a
estrutura formal e verificou o que tinham em comum, para estabelecer os critérios de
autenticidade. Os resultados obtidos neste estudo passaram a se configurar como os
pressupostos teóricos da Diplomática (RODRIGUES, 2008, p.122).
Segundo Bruno Delmas (2015, p.34), em meados do século XVIII, o método
diplomático foi alargado por dois beneditinos:
32
Segundo Rodrigues (2008 p. 130), próximo aos anos 1980, começa a se formar uma
nova geração de estudiosos de Diplomática, que “aplicando os princípios teóricos e
metodológicos da Diplomática à Arquivística, estabeleceram um profícuo diálogo entre as
áreas, contribuindo para a construção teórica em Arquivologia”.
A partir de então surgem novas abordagens teóricas e metodológicas da Diplomática,
ou como preferem assim dizer alguns teóricos, Diplomática Arquivística, Contemporânea ou
Tipologia Documental.
Embora conheçamos estas perspectivas ou abordagens da Diplomática, é preciso
esclarecer, nas palavras de Luciana Duranti “há apenas uma Diplomática que, quando usada
35
para propósitos de outra disciplina, torna-se uma com ela, assim como um metal em uma liga
metálica” (DURANTI, 1989, p. 24, tradução nossa).
Desta forma é possível inferir que a Diplomática e a Arquivologia estão mutuamente
ligadas ao possuírem um objeto de estudo em comum, os documentos de arquivo.
É possível considerar que a Diplomática, em sua perspectiva clássica, estuda a
estrutura formal dos documentos que possuem validade jurídica como requisito de garantia de
autenticidade. Em sua perspectiva moderna, considera todo documento que seja prova e
resultado de uma ação. E em sua perspectiva contemporânea, denominada Tipologia
Documental por alguns estudiosos, analisa os elementos que manifestam a organicidade
expressa na relação entre os documentos de arquivo e seu contexto de produção.
A partir de 1980 ocorre uma revisão da Diplomática, cujos princípios teóricos e
procedimentos metodológicos passaram a ser utilizados para o estudo da gênese dos
documentos de arquivo, aplicados à elaboração dos instrumentos de gestão de documentos e
ao tratamento de documentos acumulados em arquivos.
É nos anos 80, a partir dos modernos estudos arquivísticos que a diplomática
ressurge, “reinventada”, para alguns, ou “adaptada”, para outros, com o
objetivo de aplicar os princípios teóricos e metodológicos aos documentos
de arquivo, que em seu contexto de produção são por excelência, coletivos.
Uma nova abordagem do uso da metodologia preconizada pela diplomática,
bastante difundida na arquivística nacional e internacional, que deu origem a
um novo campo de estudos, a tipologia documental. As experiências
metodológicas desenvolvidas na Espanha no campo da tipologia documental,
como o de Vicenta Cortés Alonso e o Grupo de Arquivistas Municipais de
Madri para classificar e descrever documentos públicos se tornaram
referência para estes estudos arquivísticos em países latino-americanos
(RODRIGUES, 2008, p. 133).
Antonia Heredia Herrera (1991, p. 61) define a Diplomática como “a ciência que
estuda o documento, sua estrutura, suas cláusulas, para estabelecer as diferentes tipologias e
sua gênese dentro das instituições escriturárias a fim de analisar sua autenticidade”. Posiciona
a Diplomática como ciência auxiliar da Arquivística, dizendo que a Diplomática é um
referencial teórico-metodológico importante para a identificação dos documentos porque
“contém em si todas as informações indispensáveis para a análise, portanto os diplomatistas
não dependem de uma organização prévia do acervo, mas sim a Arquivologia retira desse
método de análise fontes para a realização da classificação ou da avaliação”.
36
Para Luciana Duranti (1995, p.179), a finalidade desta crítica é “compreender a ação
da qual participa o documento e o documento em si mesmo”. Segundo a autora, os princípios,
conceitos e método da Diplomática:
denominação dos documentos de arquivo e identificar sua gênese, o que permite, por
comparação, chegar ao agrupamento das séries documentais.
A Diplomática explicita os vínculos entre os componentes intelectuais de um
documento e os elementos de uma ação específica.
aspecto que não havia sido tratado anteriormente por Vicenta Cortés, em 1986, ao divulgar a
metodologia.
Neste momento, se produz um estreitamento entre a Diplomática e a Arquivologia,
que encontra na construção teórica da identificação um espaço para a reflexão sobre os
estudos de gênese documental e sua pertinência para a normalização da gestão de documentos
e tratamento técnico dos documentos acumulados em arquivos.
A Diplomática é uma disciplina investigativa, que fornece à Arquivologia os
parâmetros metodológicos necessários para identificar a gênese dos documentos de arquivo,
na busca de soluções que superem os desafios impostos para seu reconhecimento, gestão de
documentos, bem como a recuperação e o acesso (RODRIGUES, 2015, p. 69).
O procedimento de identificação parte do conceito de documento, dos elementos que
o constituem, que expressam as atividades e a relação estabelecida com o seu órgão produtor.
“A identidade do documento de arquivo se mostra por meio dos elementos que o integram:
sua estrutura e substância. Estão representadas através de regras, que contêm elementos
intrínsecos e extrínsecos”. Esses caracteres são estudados do ponto de vista da Diplomática e
também da Arquivística (RODRIGUES, 2013a, p.74).
Ao ampliar a discussão sobre os documentos de arquivo e seus vínculos de
proveniência e organicidade no seu contexto de produção, o estudo de identificação
arquivística reflete os princípios e as qualidades dos documentos no conjunto ao qual
pertencem.
Identificar o documento de arquivo é reconhecê-lo dentro do seu contexto de
produção. A Diplomática, base teórica que possibilita analisar a estrutura do documento,
permite esta identificação. A Tipologia Documental vista como uma extensão dos estudos
diplomáticos, tem por finalidade demonstrar a força probatória do documento de arquivo,
quando o reconhece pela ação que lhe deu origem, além disso, expressa a organicidade,
inerente a sua própria gênese.
O arquivista canadense Terry Eastwood, explica que cada documento tem um lugar
único na estrutura de um arquivo:
É por isso que a teoria arquivística se concentra no elo vital entre atividade funcional e o
documento de arquivo, ou seja, o contexto em que os documentos de arquivo foram produzidos e
acumulados.
Por isso, um documento autêntico é aquele que pode provar que é o que pretende ser,
ou seja, possui formalidades necessárias para que se reconheçam a sua proveniência e
organicidade. “O documento só é de arquivo se os vínculos de proveniência e organicidade se
reservarem autênticos em seu conteúdo” (RODRIGUES, 2008, p.43). “Por isso não ocorre
nascimento de documento de arquivo algum, se não, dentro do seu lugar de proveniência e de
organicidade” (BELLOTTO, 2010, p. 167). “A organicidade diz respeito à qualidade que os
arquivos devem ser organizados conforme a competência, as funções e as atividades da
entidade produtora” (DURANTI, 1994, p.12).
O princípio da proveniência é o “princípio segundo o qual os arquivos originários de
uma instituição ou de uma pessoa devem manter sua individualidade, não sendo misturado
aos de origem diversa” (CAMARGO; BELLOTTO, 1996, p. 69). “Proveniência é a marca de
identidade do documento relativamente ao produtor/acumulador” (BELLOTTO, 2014, p.
367). O princípio da proveniência determina, assim, a organicidade dos fundos e dos
arquivos. E isto implica que nenhum fundo4 deverá ser tratado como uma coleção5.
Francisco Fuster Ruiz, professor de Arquivística na Universidade de Murcia reflete
que:
4
Fundo: unidade constituída pelo conjunto de documentos acumulados por uma entidade que, no arquivo
permanente passa a conviver com arquivos de outras proveniências (CAMARGO; BELLOTTO, 1996, p.51).
5
Coleção: reunião artificial de documentos que, não mantendo relação orgânica entre si, apresentam alguma
característica em comum (CAMARGO; BELLOTTO, 1996, p.31).
45
OBRAS DE REFERENCIA
A particularidade de cada série a torna única, mas, ao mesmo tempo, faz parte de uma
categoria funcional mais geral que dá razão para serem os documentos ligados ao seu
produtor. Em suma, a identificação da série documental tem o objetivo de situar as
competências, funções e atividades atribuídas por uma legislação vigente em uma entidade e,
em seu interior, às unidades responsáveis, que são quem as aplicam, para especificar que
documentos, evidenciam e testemunham essas ditas responsabilidades (AGUILERA
MURGUÍA, 2011, p. 120).
Ramón Aguilera Murguía (2011, p. 131) ainda explica que as séries documentais são a
base para atribuir à classificação e o respectivo código de classificação, estabelecer os prazos
de guarda e a disposição documental, a fim de determinar o destino final dos documentos de
arquivo.
O objetivo da identificação dos tipos documentais de um organismo produtor
é o estabelecimento das séries que compõem o fundo documental. Parece
conveniente, portanto, expor as razões pelas quais precisamos determinar a
série de um fundo: a série documental constitui o testemunho das funções e
atividades desenvolvido por uma entidade produtora ao longo do tempo. As
séries, portanto, constituem o nível essencial de classificação e descrição dos
documentos de arquivo (BARBADILLO ALONSO, 2007, p. 16, tradução
nossa).
6
Disponível em: <http://www.ciscra.org/mat/mat/term/3706>. Acesso em: 10 out 2019. (Multilingual Archival
Terminology)
49
longa tradição administrativa e prática diária não haviam se preocupado com a transferência
sistemática de seus fundos documentais” ressalta a professora de Arquivologia da
Universidade Complutense de Madrid, Concepción Mendo Carmona (2004, p. 41).
Na literatura Arquivística, o termo identificação, aparece como resultado de
experiências metodológicas desenvolvidas por grupos de arquivistas que se formaram em
países ibero-americanos, para solucionar problemas de acumulação irregular de documentos
em arquivos, contexto em que se inserem as práticas arquivísticas espanholas e brasileiras. A
aparição do termo identificação na literatura da área ocasionou certa confusão em um
primeiro momento, já que não se encontrava muito bem sua posição dentro das tarefas
arquivísticas (LA TORRE MERINO; MARTÍN-PALOMINO y BENITO, 2000, p. 14).
A existência e acumulação de grandes massas documentais em arquivos históricos,
sem identificação e sem avaliação, é algo que caracteriza de maneira geral todos os países
ibero-americanos, como aponta Pedro Lopez Gómes (1998, p. 76).
Neste cenário surge o Grupo Ibero-Americano de Gestão de Documentos
Administrativos, do qual inicialmente participavam Espanha, Portugal, Brasil e México,
coordenado pela arquivista espanhola María Luisa Conde Villaverde (1992). Este grupo
buscava soluções metodológicas para tratar o problema arquivístico em comum enfrentado
pelos países ibero-americanos. Conde Villaverde (1992, p.15) enfatiza que “era preciso ter
uma base empírica suficientemente ampla que permitisse a definição dos princípios teóricos
de identificação e avaliação”. Os resultados implicavam em contrastar as experiências
espanholas com as de outros países de tradição arquivística semelhantes.
O grupo formulou o conceito de identificação divulgado por María Luisa Conde
Villaverde na Primeira Jornada de Metodologia para a Identificação e Avaliação de Fundos
Documentais das Administrações Públicas, realizadas em Madri, 1991, designando as
pesquisas desenvolvidas por grupos de arquivistas preocupados com a formulação de métodos
que solucionassem o problema da acumulação irregular de documentos, caracterizando a
identificação como fase independente no âmbito da metodologia arquivística (CONDE
VILLAVERDE, 1992, p.17-18).
A partir deste momento o conceito de identificação se consolidou na Arquivologia
espanhola, sendo incorporada pelo Diccionário de Terminología Archivística, publicado em
1993, que a define como “fase do tratamento arquivístico que consiste na investigação e
sistematização das categorias administrativas e arquivísticas em que se sustenta a estrutura de
um fundo” (DICCIONARIO, 1993, p. 37).
52
Sobre a realidade espanhola, Pedro Lopez Gomes (1998, p. 77) explica que a Direção
de Arquivos Estatais, teve grande influência nos arquivos espanhóis, pois manteve Grupos de
Trabalho, envolvidos na identificação e avaliação de fundos documentais da Justiça, dos
Serviços Sócios Profissionais e da documentação econômica nas Administrações Públicas,
cujos objetivos eram a elaboração de manuais de avaliação para a eliminação de documentos.
No campo da teoria Arquivística, a identificação tem como um de seus principais
objetivos assegurar, por meio de seus resultados, a avaliação da série documental (CONDE
VILLAVERDE, 1992, p. 18).
Apesar de ser um tema relativamente recente na literatura em Arquivologia, cujas
discussões da área iniciam nos anos 1980, observa-se que a identificação arquivística é cada
vez mais imprescindível para as soluções de tratamento de documentos acumulados em
arquivos e para a elaboração de instrumentos de gestão de documentos.
Ana Célia Rodrigues (2008, p. 232), estudando as questões que envolvem a
construção teórica do conceito de identificação no contexto arquivístico, afirma que “o Brasil
integrou o movimento internacional em busca de referenciais metodológicos para resolver a
superlotação dos arquivos”.
A autora analisa os trabalhos desenvolvidos no âmbito do Programa de Modernização
Administrativa do Arquivo Nacional, como ficou conhecido, no qual se destacam as propostas
metodológicas desenvolvidas pelos Grupos de Identificação de Fundos Internos (GIFI) e o do
Grupo de Identificação de Fundos Externos (GIFE), para solucionar as questões de
transferências e recolhimentos de fundos, assim como a metodologia de levantamento da
produção documental realizada pela divisão de pré-arquivo, para fins de avaliação de
documentos (RODRIGUES, 2008, p. 232).
53
Ana Célia Rodrigues (2008, p.15) demonstra preocupação ao relatar que “embora o
Brasil tenha participado dos debates para a formulação do conceito de identificação nos anos
80, a Tipologia Documental não vem sendo aplicada a todos os processos de identificação de
documentos de arquivos”.
No âmbito da produção científica em Arquivologia, a identificação realizada nos
parâmetros da Diplomática e da Tipologia Documental tem se destacado com reflexões
teóricas e estudos de aplicação. Na pós-graduação, surgem cada vez mais trabalhos
acadêmicos sobre este tema, o que demonstra a efetividade da identificação como uma
metodologia de pesquisa para a Arquivologia.
Para compreender um campo de estudos é necessário considerar o processo de
produção científica do conhecimento e a literatura resultante deste processo. A literatura
científica possibilita aos pesquisadores compartilharem informações sobre as pesquisas
desenvolvidas, proporcionando interação e reconhecimento no campo científico.
A questão da construção teórica de metodologias sempre foi objeto de reflexão para a
Arquivologia. Como destaca Rodrigues (2008, p. 235), “é na construção teórica sobre o
processo de identificação de documentos desenvolvidos no contexto da identificação
arquivística que a formulação do método está estreitamente associada a um conceito de
documento que o fundamenta”.
Sobre o encontro da Diplomática nos estudos arquivísticos e sua importância no
ensino para a formação do arquivista, a autora reflete que:
organizá-los utilizando a metodologia arquivísticas que com bases científicas lhe permite
pisar em terreno firme e seguro”.
Preservar a ordem original significa manter o documento e as suas relações orgânicas
no contexto das atividades que o geraram. Pela descrição feita da realidade arquivística
brasileira, percebe-se que é necessária, na maior parte dos casos, uma atuação ativa do
arquivista, elaborando os instrumentos que devolvam os documentos a seu lugar de origem.
Lugar intelectual e, não necessariamente, físico (SOUSA, 2007, p. 130-131).
A identificação arquivística é uma metodologia que permite a manutenção da ordem
orginal, na medida em que seus instrumentos refletem a gênese documental, estabelecia nas
relações orgânicas entre os documentos de arquivo e o produtor.
Na metodologia da identificação arquivística se sustenta todo o tratamento arquivístico
que os documentos de arquivo devem receber ao longo de todo seu ciclo de vida, desde a
criação até a destinação final. O método se concentra na identificação do organismo, o
produtor do fundo documental, com o objetivo de compilar toda a informação possível sobre
ele, e na identificação de cada um dos tipos documentais produzidos e acumulados (MENDO
CARMONA, 2004).
Sobre esta metodologia, o professor da Universidade de Coruña, explica que:
Para este estudo considera-se toda informação da legislação vigente relacionada com
as competências, funções e atividades atribuídas ao órgão produtor, dados compilados a partir
de leis, regulamentos de serviços entre outros atos legais e normativos que dispõem sobre a
estrutura e funcionamento do produtor. Os dados obtidos no estudo do órgão produtor serão
registrados em instrumentos que hierarquizam as competências, funções e atividades
administrativas, constituindo-se como a base para a elaboração do plano de classificação e
tabela de temporalidade, conforme veremos adiante.
O quadro 2 sintetiza o contexto de produção e acumulação dos documentos de
arquivo. A identificação do órgão produtor permite reconhecer as competências, funções,
atividades e tarefas que originaram a tipologia documental, que possui o mesmo nome da
série documental e reflete o conjunto dos tipos documentais, que possuem idêntico modo de
produção.
58
Tipo Documental:
Espécie Documental:
Caracteres externos:
Gênero:
Suporte:
Formato:
Forma:
Órgão Produtor:
Competência:
Função:
Atividade:
Tarefa:
Objetivo da Produção:
59
Conteúdo:
Fundamento Legal:
Tramitação:
Prazo de Arquivamento:
Destinação:
A autora adverte que a identificação não é classificação, não é descrição, assim como
não é localização, e sem a identificação, as funções arquivísticas de classificação e avaliação
não são possíveis. A identificação e a classificação equivocadamente são sobrepostas,
tornando-as equivalentes, mas, estando relacionada, a identificação precede a classificação.
Competência: 1
Competência: 2
Função: 2.1
Atividades: Tipologia documental:
2.1.01
2.1.02
2.1.03 2.1.03.001 Espécie + ação = Nome da série documental
2.1.04
2.1.05
2.1.06
2.1.07
2.1.08
Função: 2.2
Função: 2.3
INVENTÁRIO (PARCIAL)
Competência: 2
Função: 2.1
Atividade: 2.1.03
Nº Tipologia Documental Data – Limite Quantidade Notação Obs.
2.1.03.01
Fonte: FABEN; RODRIGUES, 2017b.
Para Schellenberg (2006, p.88), a classificação pode ser realizada por meio de três
maneiras distintas: funcional, organizacional e por assuntos. O autor, entretanto, afirma que a
classificação por assuntos não é recomendada para os arquivos.
Fiorela Foscarini (2010), defende o uso da classificação funcional ao afirmar que:
7
Disponível em: <http://www.rj.gov.br/web/casacivil/exibeConteudo?article-id=2998476> Acesso em: 22 jul
2018
67
Todo documento de arquivo possui um valor probatório, inerente a sua própria gênese,
enquanto tem por objetivo principal provar a ação de uma atividade em desenvolvimento de
uma função.
Assim, o desenvolvimento da gestão de documentos e da Diplomática estão
intrinsecamente ligados. Quando existem regras que regem a gênese, formas, tramitação e
classificação de documentos. “A Diplomática pode verificar as regras através da crítica dos
documentos. Com base nessas regras, é possível estabelecer o valor dos documentos de
arquivo” (DURANTI, 1989, p. 10).
Dois conceitos norteiam a função avaliação arquivística: valor primário e valor
secundário dos documentos. O valor primário representa o valor imediato de todo documento
que é produzido para provar uma ação, servindo como elemento de prova. O valor secundário
representa uma atribuição ao documento de arquivo e por isso deve ser preservado para fins
históricos, culturais, de informação ou pesquisa.
O valor primário, inerente ao documento de arquivo, refere-se ao aspecto de prova do
documento e à demanda de uso que recebe por conta do seu produtor. Detectar o valor
primário dos documentos de arquivo é, como tal, identificar o potencial de uso para a tomada
de decisão, considerando sua dimensão probatória. "O valor pelo qual os documentos nascem
como testemunho e garantia de tarefas administrativas, legais, fiscais, de comunicação, daí as
possibilidades como evidências administrativas, legais, financeiras ou fiscais" (HEREDIA
HERRERA, 2011, p.191).
O valor secundário diz respeito à atribuição de um determinado valor ao documento
de arquivo, que ultrapassa os fins de sua criação, ou seja, diz respeito às possibilidades de
utilização do documento de arquivo por usuários que o procuram por razões distintas e
posteriores àquelas do seu produtor. “Valor adquirido por documentos que podem ser
científicos, históricos ou testemunhos" (HEREDIA HERRERA, 2011, p.191).
A gestão de documentos se caracteriza como um conjunto de procedimentos técnicos
aplicados para controlar os documentos de arquivo durante todo o seu ciclo vital, desde o
momento da produção e acumulação, da sua gênese até a destinação final.
Para Ana Célia Rodrigues (2013, p. 65), a gestão de documentos se caracteriza como
“um conjunto de procedimentos aplicados no controle dos documentos durante todo o seu
ciclo de vida, incidindo sobre o momento da produção e acumulação na primeira e na segunda
idade, ou seja, nos arquivos correntes e no intermediário".
8
Disponível em: <http://www.ciscra.org/mat/mat/term/297>. Acesso em: 13 jan 2019. ( Multilingual Archival
Terminology )
73
Essa nova realidade apresentada aos arquivistas gerou uma ruptura na teoria
e na prática arquivística, no momento em que separou seu objeto, o
documento de arquivo, diferenciando-o para os record managers e o para os
archivists. Nesse momento, cabia, portanto, aos record managers gerenciar a
documentação corrente e intermediária produzida pelas instituições,
enquanto que aos archivists estavam ligados aos documentos que poderiam
ser considerados de cunho histórico permanente (TOGNOLI;
GUIMARÃES, 2011, p.27).
Heloisa Belotto (2014) relata que só a partir dos anos de 1960 que cresceram em
número e importância, os arquivistas voltados para a gestão de documentos no Brasil, os
nossos records managers.
O reflexo destas mudanças ocorridas, primeiramente nos Estados Unidos e Canadá, se
fez sentir na Arquivística pelo enunciado de uma nova concepção de arquivo, fundamentada
na Teoria das Três Idades, princípio pelo qual os documentos passam por fases estabelecidas
de acordo com sua vigência administrativa e frequência de consulta (RODRIGUES, 2003,
p.26).
Duas instituições de caráter internacional contribuíram para que profissionais e órgãos
desenvolvessem a gestão de documentos, a Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura (UNESCO) e o Conselho Internacional de Arquivos (CIA).
Através da publicação do Programa para a gestão de Documentos e Arquivos
(RAMP), (1983) apontou as diretrizes para a implantação do programa de gestão de
74
Carol Couture (1999, p.37) assegura que o arquivista tem a missão “de definir o que
constituirá a memória de uma instituição ou de uma organização”. Da mesma forma, Elio
Lodolini (1995, p. 45), afirma que “o arquivista sabe que os documentos que nascem hoje, são
os que constituirão amanhã o arquivo permanente”.
O arquivo é, antes de tudo, uma unidade de gestão dentro das organizações e o
documento de arquivo nunca perde sua dimensão administrativa, sem prejuízo do fato de que
alguns chegam ao arquivo permanente (HEREDIA HERRERA, 2008, p.44).
75
9
Disponível em: <http://www.fpc.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=116>. Acesso em: 13
jan 2019.
10
Disponível em: <http://www.apmt.mt.gov.br/site/instrumentos-tecnicos>. Acesso em: 13 jan 2019.
11
Disponível em: <http://www.sad.ms.gov.br/temporalidade-de-documentos/>. Acesso em: 13 jan 2019.
12
Disponível em: <http://www.arpdf.df.gov.br/planos-de-classificacao-e-tabelas-de-temporalidade-e-destinacao-
de-documentos/>. Acesso em: 13 jan 2019.
13
Disponível em: <http://www.proged.es.gov.br/>. Acesso em: 13 jan 2019.
14
<http://www.rj.gov.br/web/casacivil/exibeConteudo?article-id=2998476>. Acesso em: 13 jan 2019.
15
Disponível em: < http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/gestao/sistema/plano>. Acesso em: 13 jan 2019.
16
Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/gestao_documentos/>. Acesso em: 13 jan
2019.
17
Disponível em: < http://www.sea.sc.gov.br/index.php/institucional/diretorias/dioesc/gestao-
documental/legislacao>. Acesso em: 13 jan 2019.
77
Quadro 8 - Levantamento dos instrumentos de gestão de documentos nos Arquivos Públicos Estaduais
18
Disponível em: <http://www.arquivopublico.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=148>.
Acesso em: 13 jan 2019.
19
Disponível em: < http://www.apers.rs.gov.br/portal/siarq.php>. Acesso em: 13 jan 2019.
20
Disponível em: <http://www.arpdf.df.gov.br/planos-de-classificacao-e-tabelas-de-temporalidade-e-destinacao-
de-documentos/>. Acesso em: 13 jan 2019.
21
Disponível em: <http://www.apmt.mt.gov.br/site/instrumentos-tecnicos>. Acesso em: 13 jan 2019.
22
Disponível em: <http://www.proged.es.gov.br/>. Acesso em: 13 jan 2019.
23
Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/gestao_documentos/>. Acesso em: 13 jan
2019.
78
24
Disponível em: <http://www.arquivopublico.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=148>.
Acesso em: 13 jan 2019.
25
Disponível em: < http://www.apers.rs.gov.br/portal/siarq.php>. Acesso em: 13 jan 2019.
26
Disponível em: <http://www.fpc.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=116>.
27
Disponível em: <http://www.sad.ms.gov.br/temporalidade-de-documentos/>. Acesso em: 13 jan 2019.
28
Disponível em: < http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/gestao/sistema/plano>. Acesso em: 13 jan 2019.
29
Disponível em: <http://www.rj.gov.br/web/casacivil/exibeConteudo?article-id=2998476>. Acesso em: 13 jan
2019.
30
Disponível em: < http://www.sea.sc.gov.br/index.php/institucional/diretorias/dioesc/gestao-
documental/legislacao>. Acesso em: 13 jan 2019.
79
31
Distrito Federal (Brasil). Secretaria de Estado de Planejamento e Orçamento do Distrito Federal – SEPLAN – Manual de gestão de documentos administrativos do Governo
do Distrito Federal/ Secretaria de Estado de Planejamento e Orçamento. Ed. Rev. E atual. – Brasília: SEPLAN, 214. 247P.
81
ARQUIVO Parágrafo único - Entende-se por § 3º - Entende-se por Coleta e levantamento de dados
PÚBLICO DO classificação de documentos o ato ou Série, a sequência de
ESTADO DO efeito de analisar e identificar o documentos relativos à Elaboração de diagnósticos
RIO GRANDE conteúdo do documento, mesma função/atividade.
DO SUL relacionando-os à função, subfunção, Estudos de viabilidade Elaboração do plano
série e subsérie da atividade de ação-
responsável por sua produção ou § 4º - Entende-se por
acumulação. Subsérie, a subdivisão da Proposições e deliberações
série, podendo ser
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 01 utilizada em razão das Realização de consulta
/ 2017. variantes da
(Publicada no DOE de 18 de maio de função/atividade. Deliberação da participação social
2017 – páginas 16 a 24.)
Dispõe sobre o Plano de INSTRUÇÃO
Classificação de Documentos – PCD NORMATIVA Nº 01 /
e a Tabela de Temporalidade de 2017.
Documentos – TTD, para os Órgãos (Publicada no DOE de 18
da Administração Pública Direta do de maio de 2017 –
Estado e dá outras providências. páginas 16 a 24.)
ARQUIVO 01.01.01.01. Decreto, diretrizes, estatuto,
PÚBLICO DA código, regulamento, regimento, instrução
BAHIA normativa, norma, resolução, deliberação,
portaria,
01.01.02.01. Convênio, termo de
cooperação, acordo, protocolo de intenções
84
termo de parceria.
ARQUIVO Trata-se de levantamento de dados Documento criado ou A denominação da série Correspondência interna de solicitação de
PÚBLICO DO sobre o órgão produtor, seu elemento recebido por uma pessoa documental obedece à saldos
ESTADO DO orgânico (estrutura organizacional) e física ou jurídica no curso fórmula do tipo: espécie
RIO DE funcional (competências, funções e de uma atividade prática + atividade (verbo + Ofício de informação da regularidade de
JANEIRO atividades) que determinam as (MANUAL, 2012, p. 53). objeto da ação), sob a contas
características que apresentam a qual incide os critérios de
tipologia documental. A classificação, avaliação, Processo de Comprovação de adiantamento
identificação da tipologia descrição e planejamento
documental é uma etapa importante de produção (MANUAL, Processo de concessão de adiantamento
desta função arquivística. 2012, p. 14).
Os tipos documentais formam as Relatório de análise processual de
séries documentais próprias de cada adiantamento
órgão produtor, porque possuem
igual modo de produção, de Relatório de exame da execução de contas
tramitação e de resolução final do
procedimento que lhe deu origem no
contexto das atribuições
(competências, funções, atividades e
tarefas) desempenhadas por um
órgão administrativo (MANUAL,
2012, p. 14).
ARQUIVO 01.01.01.01.01.029 Autógrafo de Lei sobre
PÚBLICO DO Ouvidoria
ESTADO DE 01.01.01.01.01.030 Autógrafo de Lei sobre
SANTA Gestão Organizacional
CATARINA 01.01.01.01.01.046 Ofício sobre Medida
Provisória
01.01.01.01.01.047 Comunicado de Viagem
do Governador
86
Após esta pesquisa inicial, optou-se por analisar como o Arquivo Nacional,
considerando que sua metodologia de gestão de documentos influenciou outros arquivos, e os
Arquivos Públicos Estaduais do Brasil, reconhecem e denominam os documentos, procedendo
ao levantamento de dados nos instrumentos de gestão de documentos (PCD, TTD) cujo
resultado permitiu ter uma dimensão de como os documentos de arquivo são identificados no
contexto arquivístico brasileiro.
Dewey enfatizou mais de uma vez que seu sistema não representa nenhuma
estrutura além da sua; não existe nenhuma 'dedução transcendental'. O CDD
é um sistema puramente semiótico com expansão de dez códigos de
assuntos. Nele, um assunto é totalmente constituído em termos de sua
posição no sistema. A característica essencial de um assunto é um símbolo
de classe que se refere apenas a outros símbolos (FROHMANN 1994, s/p,
tradução nossa, grifo do autor).
Os debates sobre assuntos se fecharam porque Dewey e seus aliados foram bem-
sucedidos na construção de um ambiente em que asseguraram a sua progressão desde a
concepção até a entrega, mas também a sua sobrevivência como Sistema de Organização do
Conhecimento para bibliotecas.
O CDD tornou-se naturalmente um Sistema de Organização do Conhecimento, porque
os elementos discursivos pelos quais ele constrói seus assuntos eram os mesmos que os
usados para construir sua rede de instituições de apoio específico e as formas sociais
dominantes e hegemônicas dos dias de Dewey (FROHMANN, 1994). O CDD foi criado para
ser utilizado como classificação em bibliotecas. O sistema Decimal de Classificação de
Dewey, propõe uma representação por assuntos, o que não deveria ser aplicado a classificação
dos documentos de arquivo.
O autor mostra que o sucesso da CDD foi consolidado pelo estabelecimento de
vínculos com um contexto social e político mais amplo.
32
Disponível em: <http://www.arpdf.df.gov.br/planos-de-classificacao-e-tabelas-de-temporalidade-das-
atividades-fim/>. Acesso em 13 jan. 2019.
94
O sistema adotado para sua elaboração foi o Decimal, que é o preconizado pela
Resolução nº 14 do CONARQ, constituído de um código numérico dividido em 10 (dez)
classes e estas, por sua vez, em 10 (dez) subclasses. As classes correspondem às principais
funções da atividade fim, tendo sido utilizadas as classes 100 a 300, ficando as de 400 a 800,
disponíveis para utilização futura.
Além da estrutura, este instrumento apresenta equívocos, pois não sabemos quais
documentos realmente são produzidos e acumulados. A maioria dos documentos recebe o
nome somente da espécie documental, e outros documentos relativos a alguma atividade
desempenhada pelo Arquivo Público.
Ao analisar a Tabela de Temporalidade, percebemos que não há como distinguir o que
é função ou atividade, e nem perceber a relação hierárquica entre classes subclasses e
atividades, pois o instrumento apresenta apenas códigos numéricos relacionados ao campo
assunto, e não indica quais documentos são produzidos, e por quem são produzidos, conforme
é possível observar na Figura 5:
95
33
Disponível em: <http://www.apmt.mt.gov.br/site/instrumentos-tecnicos>. Acesso em: 13 jan 2019.
96
34
Disponível em: <http://www.apmt.mt.gov.br/site/instrumentos-tecnicos>. Acesso em: 13 jan 2019.
97
É possível constatar que a metodologia australiana foi utilizada como base para
desenvolvimento do Plano de Classificação e Tabela de Temporalidade e Destinação de
Documentos de Arquivo no governo do Estado de Minas Gerais. “Os roteiros, procedimentos
e formulários foram adaptados para a realidade brasileira e, especificamente, para os órgãos
do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais” (CRUZ, 2013, p. 34).
ato ou transação. O método decimal foi escolhido por duas razões: primeiro
porque, o Plano de Classificação para as atividades mantenedoras do Estado
de Minas Gerais, publicado em 1997, utilizou esse método (foram anos de
aplicação do Plano e consequentemente a familiarização com este tipo de
método nos órgãos que classificavam, organizavam e avaliavam seus
documentos); segundo porque o sistema de numeração decimal é o mais
comum e mais conhecido pelos usuários (PLANO DE CLASSIFICAÇÃO,
2013, p.58).
diversos documentos em classes abrangentes que ora são denominadas pela espécie, ora por
uma atividade. Esta falta de rigor demonstra inconsistência metodológica no instrumento.
Figura 16 - Tabela Básica de Temporalidade de Documentos das Atividades Meio do Arquivo Público do Estado
do Paraná.
Figura17 - Plano de Classificação de Documentos do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul
35
Disponível em: <http://www.apers.rs.gov.br/arquivos/1495132337.2017.05.18_Instrucao_Normativa_01.pdf>.
109
Figura 18 - Tabela de Temporalidade de Documentos do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul
Embora a proposta seja agrupar os documentos pela Tipologia documental, isto não
acontece na prática, tendo em vista que os documentos são denominados e agrupados, em
diversos casos, pela espécie documental, como é o caso da classe 01.01.01.01. Decreto,
diretrizes, estatuto, código, regulamento, regimento, instrução normativa, norma, resolução,
deliberação, portaria. A todos estes documentos são atribuídos à destinação final como
arquivo permanente, sem levar em consideração as ações que deram origem a estes
documentos, conforme observamos em seguida na Figura 20.
112
Fonte: <http://www.fpc.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=116>
pelo tipo, ao visualizá-lo na tabela de temporalidade, sabemos por quem foi produzido e qual
a razão da sua produção.
Este é um instrumento que representa uma proposta diferente ao realizar uma
equivalência com os assuntos, porém há diversos equívocos com relação à denominação do
documento de arquivo, ao omitirem a natureza probatória do documento de arquivo,
identificando-o somente pela espécie documental. É possível perceber que foi inspirado pelos
instrumentos de gestão de documentos do Arquivo Público do Estado de São Paulo.
36
Disponível em: <https://governo-sp.jusbrasil.com.br/legislacao/144760/decreto-48898-04>. Acesso em 13 jan
2019.
117
37
Disponível em: < http://www.sea.sc.gov.br/index.php/institucional/diretorias/dioesc/gestao-
documental/legislacao>. Acesso em: 13 jan 2019.
120
Quadro 10: Identificação de documentos de arquivo no Arquivo Nacional e nos Arquivos Públicos
Estaduais do Brasil
INSTITUIÇÃO ARQUIVÍSTICA PRINCIPIO QUE PRESIDE A
IDENTIFICAÇÃO DOS
DOCUMENTOS
Arquivo Nacional Temático
Arquivo Público do Distrito Federal Temático
Arquivo Público de Mato Grosso Temático
Arquivo Público Mineiro Temático
Arquivo Público do Estado do Paraná Temático
Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul Temático
Arquivo Público do Estado da Bahia Tipologia Documental
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo Tipologia Documental
Arquivo Público Estadual de Mato Grosso do Sul Tipologia Documental
Arquivo Público do Estado de São Paulo Tipologia Documental
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro Tipologia Documental
Arquivo Público do Estado de Santa Catarina Tipologia Documental
Fonte: Elaboração do autor.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
identificação é utilizado, muitas das vezes, de maneira genérica, sem que tenhamos
consciência sobre o seu conceito e sua real importância para a Arquivologia. O agrupamento
tipológico dos documentos de arquivo permite que o tratamento técnico arquivístico incida
sobre a série documental tipológica e não sobre cada documento, conferindo rigor e qualidade
ao tratamento técnico arquivístico.
Este trabalho não pretende burocratizar a gestão de documentos, muito menos forçar
alguma instituição a proceder de uma determinada maneira. O que se espera com essa
pesquisa, no contexto da gestão de documentos, é apresentar os modelos de plano de
classificação e tabela de temporalidade, instrumentos de gestão de documentos, para verificar
a denominação dos documentos de arquivo evidenciados nestes instrumentos e, desta forma,
seguir os princípios estabelecidos pela Arquivologia, além de detectar e ponderar possíveis
equívocos.
Com o intuito de demonstrar como a nomeação de documentos de arquivo e,
sobretudo, a consequente nomeação da série documental incidem sobre o próprio
entendimento do que é o documento de arquivo, analisamos os resultados obtidos a partir
desta denominação. Esta dissertação expõe como a identificação de documentos de arquivo é
realizada no âmbito do Arquivo Nacional e Arquivos Públicos Estaduais do Brasil,
mostrando, desta forma, uma dimensão conceitual e prática da identificação de documentos
de arquivo no contexto arquivístico do Brasil, a partir da análise de como os documentos de
arquivo, e a série documental, aparecem nos instrumentos de gestão de documentos, Plano de
Classificação e Tabela de Temporalidade Documental.
Observa-se nestes resultados, que a sistematização conceitual e metodológica da
identificação como processo arquivístico, presente nos instrumentos norteadores de gestão de
documentos no âmbito do Arquivo Nacional e dos Arquivos Públicos Estaduais do Brasil,
trazem em seu aporte teórico novas perspectivas de investigação. Além disso, permitem
refletir sobre as questões que envolvem o ensino e a pesquisa em arquivística em consonância
ao desenvolvimento de metodologias para identificar o documento de arquivo como requisito
para a gestão de documentos.
Vale ressaltar que o modelo metodológico de gestão de documentos apresentado pelo
Arquivo Nacional influenciou algumas tradições arquivísticas, e atualmente a metodologia de
cinco (5) destes Arquivos Públicos Estaduais, consistem em identificar os documentos de
arquivo de modo genérico, por assuntos, o que impacta diretamente no agrupamento das
123
séries documentais. Entretanto, seis (6) Arquivos Públicos Estaduais consideram o tipo
documental para identificação dos documentos de arquivo, desta forma, agrupando-os em
série documental tipológica.
O conceito de série adotado pelo Arquivo Nacional não chega ao nível da tipologia
documental ao reconhecer os documentos de arquivo, por uma questão muito objetiva: As
bases teóricas e epistemológicas do Arquivo Nacional não estão fundamentadas na
Diplomática, conforme é possível observar ao analisar seus instrumentos de gestão de
documentos. É importante destacar que o Arquivo Nacional utiliza um conceito de documento
diferente da abordagem Diplomática, em sua perspectiva clássica e contemporânea, a
Tipologia Documental.
Além disso, a identificação, para o Arquivo Nacional, está muito mais ligada às
políticas públicas arquivísticas do que propriamente para identificar documentos e resolver
problemas arquivísticos de gestão de documentos. Por isso, a identificação no Brasil, no
âmbito do Arquivo Nacional, é para normalizar transferências e recolhimentos de arquivos.
Diferentemente da metodologia de identificação arquivística, que estuda o órgão produtor e os
tipos documentais produzidos, com o objetivo de estudar a produção documental para realizar
a gestão de documentos e tratar documentos acumulados em arquivos.
No campo empírico foram coletadas e sistematizadas algumas informações que
possibilitaram a caracterização do universo de pesquisa e o alcance da aplicação dos estudos
propostos, a partir da evolução do uso do termo e do conceito de identificação que
fundamentam as práticas arquivísticas e os instrumentos norteadores da gestão de
documentos, demonstrando o estado da arte desta discussão no contexto brasileiro.
A partir destas reflexões, considera-se importante o investimento nos cursos de
Arquivologia do Brasil para que sejam formados profissionais arquivistas capazes de
identificar o documento de arquivo, nos parâmetros da Diplomática, para que aprendam a
reconhecer os tipos documentais, que permitem expressar a força probatória inerente ao
documento de arquivo dentro do seu contexto de produção e posteriormente realizar as
funções arquivísticas de classificação e avaliação.
É necessário que a disciplina “Identificação Arquivística” seja inserida nos cursos de
Arquivologia do Brasil, para que os alunos tenham uma base teórico-metodológica
consistente e compreendam os documentos de arquivo, estudando a sua gênese, em seu
contexto de produção e acumulação, na perspectiva da Diplomática e Tipologia Documental.
124
Considerando que é um conteúdo fundamental na formação do arquivista, para que ele tenha
um referencial teórico e metodológico que permita reconhecer e tratar o objeto de estudo da
área, o documento de arquivo desde a sua gênese.
A pesquisa é uma construção constante. Assim, encerramos esta dissertação, propondo
uma reflexão sobre a necessidade de estudar a identificação de documentos de arquivos no
contexto ibero-americano, partindo da possibilidade de conhecer as práticas em arquivologia
destes países, algo ainda pouco explorado na literatura arquivística.
As questões abordadas até o momento nesta pesquisa indicam a necessidade de
ampliação dos temas através de revisão de literatura de teses, dissertações, artigos e manuais
de arquivísticas em âmbito internacional, para em seguida caracterizar a identificação de
documentos de arquivo no contexto ibero-americano, ampliação que pretendemos
desenvolver no âmbito do Doutorado.
125
RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUTIER, Robert Henry. Leçon d’ouverture du cours de diplomatique à l’École des Chartes.
Bibliotèque de l’École des Chartes, n.CXIX, p.194-225, 1961. Disponível em:
<http://www.persee.fr/doc/bec_0373-6237_1961_num_119_1_449619>. Acesso em: 21 abr.
2018.
______. Arquivos: estudos e reflexões. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. 477P.
CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Sobre espécies e tipos documentais. In: SEMINÁRIO
DAR AOS DOCUMENTOS: da teoria à prática. São Paulo: Instituto Fernando Henrique
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