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Acordou na mesma neutralidade de sempre: acostumara-se com uma rotina que não fazia
mais sentido. Suspirou, olhando o espelho uma última vez antes de passar pela
porta. O corpo era impecável, sem marcas, cicatrizes, manchas, ou quilos extras. Os
cabelos, normalmente, tinham uma cor negra, brilhante, caindo-lhe pelos ombros. Os
olhos eram amarelos como o sol, mas sem o mesmo brilho: eram foscos em todos os
sentidos. Desceu as escadas e já foi recebida pela senhora. Senhora que ela chamava
de dona, e obedecia cegamente, pelo mero fato de não ter mais ninguém. Já enfiava-
lhe um vestido vermelho, apertado, puxando-a para que terminasse de se arrumar.
Sentou num banco, colocando a mochila sobre o colo, voltando a observar a vitrine
com os olhos azul-céu, enquanto terminava de comer um pão torrado que era parte de
seu café da manhã. Olhou o relógio: logo seria hora de ir para a escola. Suspirou.
Não queria ir naquele dia. "Meu pai não precisa saber.", pensou, tentando deixar as
preocupações de lado.
Quando a música acabou, e ela teve de mudar a pose novamente, o fez de forma a
poder observá-lo, ver o que ele planejava. Era como se, após tanto tempo, voltasse
a sentir algo. Uma curiosidade, uma esperança. Talvez uma admiração, pela beleza
dos olhos, pela inocência da expressão, pela força de vontade... Talvez algo.
Myako diz:
Ela cora violentamente, assumindo - com certa dificuldade - uma expressão de
espanto enquanto levava a mão a boca. Permaneceu assim por alguns instantes, até
ser girada de costas para ele, olhando a loja, e lembrando-se do que deveria fazer.
Suspirou internamente, sentindo uma certa tristeza, e voltou à pose e à
neutralidade.
Myako diz:
Luna hesita, pensando em como responder. E permaneceu silenciosa por alguns
minutos, até que uma letra dourada, feita de energia, surgida do nada, passou a
escrever na vitrine, desaparecendo rapidamente.
"Não almoço".
Myako diz:
"Eu tenho.", e a cauda apareceu e desapareceu em instantes. "Mas pra manequim, não
posso mostrar."
Myako diz:
"Quando a loja fecha. Pra dormir."
Myako diz:
"Não sei se a dona deixa."
Myako diz:
A garota hesita, empalidecendo.
"Não...!", pensa, temendo o que ele iria aprontar.
-=-
- Bom dia, o senhor já foi atendido? - uma jovem provavelmente pouco mais velha que
ele, se aproxima.
Myako diz:
Ela hesita, encarando-o.
- Algum assunto em particular...?
Myako diz:
- ...huh... só... só um momento. - murmura, afastando-se.
Myako diz:
A espírito nega com a cabeça, um tanto horrorizada, reassumindo a expressão de
outrora quando vê a dona se aproximar dele. Era alta, esguia, e o observava com
desprezo.
- Em que posso ajudá-lo...? - murmura, seca.
Myako diz:
- Ela só sai após a meia-noite.
Myako diz:
- Se algo acontecer a ela, saiba que a culpa é sua. - sibila. - E ela precisa estar
de volta antes das cinco. Sem nenhum grama a mais.
Myako diz:
- ...agora suma.
Myako diz:
Ela sorri, tentando conter a felicidade, sem sucesso.
"=)?"
Myako diz:
"...sorriso?"
Myako diz:
"\o/...?"
Myako diz:
Ela ainda hesita, encarando-o por alguns instantes antes de assentir com a cabeça,
sinalizando que entendera.
Myako diz:
"...outros o quê?"
Myako diz:
"Ah... Entendi."
Myako diz:
"Certo. Até logo."
Myako diz:
O dia parecia ter se arrastado. O costume com a neutralidade dera lugar a
esperança, e a ausência de Luen a levara embora. Anoitecera, e Luna estava deitada,
ainda no mesmo lugar, agora com um longo vestido negro que caía pelo pedestal.
Passara de meia-noite, e a dona a proibira de sair... "Precisamos chamar mais
atenção!", dissera. Passaria a noite ali, provavelmente sendo acordada pouco antes
do amanhecer para se arrumar...
Myako diz:
Ela se levanta, encarando-o por vários segundos antes de sair do pedestal, tocando
o vidro.
"...o que houve?"
Myako diz:
"...o que houve?", repete.
Myako diz:
"Não posso. Desculpe...", e hesita. "O que houve no rosto?"
Myako diz:
"Não, não me deixou sair...", e estremece, colocando as duas mãos no vidro. Parecia
preocupada. "O que te aconteceu...?"
Myako diz:
"É. O que houve....?"
Myako diz:
"Encosta o rosto no vidro."
Myako diz:
"Serve.", responde, e a energia amarelada parece se acumular em um ponto da
vitrine... até que desaparece, enquando o corte parecia diminuir, um calor
confortável tomando conta de parte de seu rosto.
Myako diz:
"De nada. Por que brigaram?"
Myako diz:
"Quero. Não."
Myako diz:
"...isso machuca."
Myako diz:
Luna estremece violentamente.
"...não sorri assim. Dói."
Myako diz:
"Se afasta."
Myako diz:
"Se afasta. Bastante."
Myako diz:
"Anda!"
Myako diz:
A garota respira fundo, hesitando por alguns instantes antes de recuar...
...e correr, se lançando contra o vidro. A vitrine se quebra, e ela cai no chão,
com vários cortes que logo se fecham - arrancando-lhe uma exclamação de dor - sem
deixar cicatrizes.
- ...v-vamos... - diz. A voz dela era baixa, quase como um sussurro, aveludada...
Myako diz:
- ...desculpe. - suspira, se levantando. - Podemos ir, agora... - adiciona,
fechando os olhos, e fraquejando, enquanto consertava o vidro.
Myako diz:
- Não precisa. - murmura. Era um tanto neutra, até mesmo perdida, como se jamais
tivesse saído daquela vitrine...
Myako diz:
- ...mesmo. - e o segue sem hesitar, observando a rua.
Myako diz:
Ela assente com a cabeça.
- ...seu pai... deixou...?
Myako diz:
A garota repete o gesto.
Myako diz:
- ...volta. - pede, segurando-lhe as mãos. - Sem briga. Sem machucados.
Myako diz:
- ...não importa. - e faz um sinal negativo com a cabeça. - ...volta.
Myako diz:
- ...já viu. Volta.
Myako diz:
- ...sem machucados, sem briga... eu fico bem...
Myako diz:
Ela assente com a cabeça.
Myako diz:
- ...prometo...
Myako diz:
- ...sem problema... - e sorri. Um sorriso igual ao dele, dolorido, mas
conformado.
Myako diz:
Luna hesita.
- ...eu vou esperar...
Myako diz:
Ela o segue, segurando-lhe a mão.
Myako diz:
A garota beija a testa dele, gentil. O encara nos olhos, enfim, confiante.
- ...eu confio.
Myako diz:
- ...vai... - murmura, fazendo-lhe um último carinho na mão antes de soltá-lo,
afastando-se.
Myako diz:
Ela se levanta, ajoelhando fora do pedestal, tocando a vitrine com a mão direita
enquanto a esquerda repousava sobre o coração.
Myako diz:
Luna permanecia imóvel, impassível, como uma verdadeira modelo diante do artista.
Ignorava os outros transeuntes, os funcionários da loja, o mundo ao redor.
Naquele momento, naquele breve momento, só haviam os dois, ligados pelo olhar e
pelo sentimento, e mais nada.
Myako diz:
Ela abaixa o olhar, assentindo com a cabeça.
"Divirta-se."
Myako diz:
Mantivera a pose durante todo o fim de semana, como um tributo ao jovem desenhista.
E, depois, os dias voltavam a rotina normal...até que ele não apareceu.
A hora passava, alguns dos antigos espectadores estranhavam, e ela não fazia nada
além de permanecer na pose "dele" por todo o dia, esperando que, em algum momento,
ele fosse aparecer...
Myako diz:
E o estado de Luna piorava rapidamente. Antes, ainda tinha forças para se manter na
pose do rapaz. Agora, ficava caída sobre o pedestal, com um aspecto doente. Os
cabelos negros cascateavam por cima do corpo, e a cauda de gato já podia ser vista.
A mão esquerda, porém, continuava sobre o peito, e a direita buscava, inutilmente,
tocar o vidro da vitrine...
Myako diz:
E nada. Nada trazia felicidade a espírito. Estava muito mais magra, menor, pálida e
doente. Em vários momentos do dia podiam se ver médicos próximos a ela, invadindo a
vitrine, cuidando dela. A garota sequer se movia, observando o banco com um olhar
de desespero e tristeza profundos. Não fazia mais nada... Não conseguia fazer mais
nada.
Myako diz:
- Lu... en... - sussurra, sorrindo levemente. Sentia as lágrimas lhe correrem pelo
rosto, ofegando, enquanto observava o que parecia ser ele...
Myako diz:
- ...por... por que.... foi... em... bora...?
Myako diz:
- V-vai ficar... ficar comigo...?
Myako diz:
Ela sorri, colocando a mão sobre a dele, desajeitada.
- ...eu confio...
Myako diz:
- ...eu vou... eu vou ficar... - sussurra, estremecendo. - ...você... você voltou
de... de vez, certo...?
Myako diz:
- E o... o seu... pai....?
Myako diz:
- ...eu... - sussurra, perdendo a consciência novamente. - ...eu a...
Myako diz:
A garota só acorda várias horas depois, sentindo-se bem melhor. Se senta quase no
mesmo instante, estremecendo, enquanto procurava o rapaz com os olhos.
"Luen....!"
Myako diz:
Ela sorri, hesitando por vários minutos antes de acariciar-lhe os cabelos,
cuidadosa. Ainda não sabia bem como agir, mas... queria fazer bem a ele, e
aproveitar todos os instantes que teriam juntos.
Myako diz:
- ...eu... - ri.
Myako diz:
- Não se preocupa... Acabei de acordar...
Myako diz:
- ...melhor...
Myako diz:
- ...mesmo...
Myako diz:
- ...que nem... aquele dia...?
Myako diz:
- Luen... - ela sorri, beijando-lhe a testa, gentil.
Myako diz:
A garota fica em silêncio.
- ...preciso voltar.
Myako diz:
- ...vitrine.
Maianne Ribeiro diz:
- ...não! - exclama, encarando-a. - Aquele lugar te faz mal! É uma... uma prisão!
Myako diz:
- ....é? - murmura, encarando-o de volta.
Myako diz:
- ...eu me divirto.
Myako diz:
- ...você.
Myako diz:
- ...mas...
Myako diz:
- ...mas isso faz mal. - murmura, enfim.
Myako diz:
- ...isso tudo. - estremece. - ...engorda. Deixa marca.
Myako diz:
- ...é.
Myako diz:
- ...não...?
Myako diz:
- ...é. - ela cutuca a própria barriga por cima da roupa, pensativa. - ...mas todas
são assim.
Myako diz:
- ...eu não tenho nada... - e volta a encará-lo - ...fora de lá...
Myako diz:
A garota estremece.
- ...tenho...?
Myako diz:
Luna suspira, segurando-lhe a mão.
- ...confio.
Myako diz:
- ...fica comigo?
Myako diz:
- ...bom... - ela fecha os olhos, pendendo um pouco a cabeça na direção da mão
dele.
Myako diz:
- ...obrigada... - sussurra, estremecendo violentamente enquanto o rubor lhe subia
pelo rosto.
Myako diz:
- ...n-não... - responde, hesitante.
Myako diz:
A manequim estremece violentamente, se encolhendo. Sentia aquela tristeza voltar,
como uma memória que deve ser esquecida, ao mesmo tempo que agarrava-lhe as roupas,
temerosa que ele fosse embora de novo.
- ...d-doeu...
Maianne Ribeiro diz:
- ...em m-mim também... - sussurra, apertando o abraço. - ...esquece. É passado. Já
foi. Não adianta ficar lembrando.
Myako diz:
- ...m-mesmo....?
Myako diz:
- ...t-tá...
Myako diz:
- ...n-não... - responde, recuando alguns passos ao ver os jornalistas.
- ...eles... dormiram... dormiram aqui...?
Myako diz:
- ...q-quê?!
Myako diz:
Ela ainda hesita, assentindo com a cabeça antes de fazer como ele pedira. A
gritaria, as perguntas, o assédio... Nada daquilo a assustava...
Myako diz:
- ...c-cuidado... sem... sem machucados... - pede, fechando os olhos, preocupada.
Myako diz:
- ...você... ficou famoso... - murmura, entreabrindo os olhos para observar o que
passavam...
Maianne Ribeiro diz:
- Nós ficamos. Tinha gente vendo as nossas conversas, os dias que eu ia desenhar...
E aí essas pessoas começaram a me procurar, quando você adoeceu. A história
cresceu, e agora temos jornalistas na nossa cola. - brinca. - Já andou de metrô?
Myako diz:
- ...nós...? - sussurra, espantada. - ...t-tinha...? É-é... t-temos... - sorri de
leve, corando, sentindo o peito se aquecer. - ...metrô...? ...nunca...
Myako diz:
- ...t-tá... - responde, voltando ao chão. Parecia plenamente recuperada, apesar de
um pouco abatida, e observava tudo a sua volta com curiosidade e inocência. - ...é
grande...
Myako diz:
- ...eu não tenho dinheiro. - murmura.
Myako diz:
- ...mas...
Myako diz:
- ...c-certo...
Myako diz:
- ...c-certo... m-metrô, e-entendi... - murmura, prestando atenção onde pisava,
apesar de ainda atenciosa ao mundo ao redor, cuidadosa.
Myako diz:
- ...n-não deixa...? - sorri de leve, acariciando-lhe as mãos, arrepiada.
Myako diz:
- ...não mais...?
Myako diz:
- ...certo... - sorri, corando.
Myako diz:
- ...Luen... você está cansado... - murmura, encarando-o, preocupada.
Myako diz:
- ...mas...
Myako diz:
- ...mesmo?
Myako diz:
- ...eu já andei neles. - murmura. - ...pra festas.
Myako diz:
- ...é? Isso é bom...
Myako diz:
- ...Luen... descansa...
Myako diz:
- ...comer... - murmura, pensativa. - ...vai lá. - sorri. - Eu espero.
Myako diz:
- ...uhum. - e o segue.
Myako diz:
- ...não. Comer faz mal.
Myako diz:
- ...eu não como. - murmura, encarando-o.
Myako diz:
Ela nega com a cabeça, observando-o.
Myako diz:
- ...eu sei disso...
Myako diz:
- ...sem pressa...
Myako diz:
- ...ah...
Myako diz:
- ...vamos.
Myako diz:
- ...por que estão aplaudindo...?
Myako diz:
- ...entendo...
Myako diz:
- ...por que pediram aquilo...? - sussurra, encarando-o, violentamente corada,
quando enfim entram na loja.
Myako diz:
- ...namorados... - ela hesita, pensando no significado da palavra.
Myako diz:
- ...certo... - murmura. A mulher estava no fundo da loja, conversando com um homem
mais velho, de terno, parecendo respeitável.
Myako diz:
Ela nega com a cabeça.
- ...preciso voltar.
Myako diz:
- ...oh. Senhor Luen, como vai?
Myako diz:
- Melhor que nunca, ouso dizer. Em que posso ajudá-lo?
Myako diz:
- O que precisa? - ela o encara, pensativa. - Como assim, rapaz?
Maianne Ribeiro diz:
- Exatamente isso. Ficar várias horas de pé numa vitrine, sem ao menos poder sair,
se divertir, nem sequer comer.. isso não é vida. Eu quero dar uma vida de verdade
pra ela. Uma vida lá fora.
Myako diz:
- ...você quer comprar a liberdade dela, é isso?
Myako diz:
A mulher dá um sorriso cruel, pedindo um minuto enquanto se afastava com o homem.
Conversavam baixo, parecendo discutir algo...
Myako diz:
- ...desculpe a demora. - sorri, encarando-o. - Você quer tirá-la da vitrine, é?
Myako diz:
- O que acha de meio milhão, em dinheiro vivo?
Myako diz:
- Eu vou perder muito dinheiro com isso, entende? Ela é minha principal
publicidade. - sorri.
Myako diz:
- ...deseja mais alguma coisa?
Myako diz:
- Não. - sorri.
Myako diz:
A multidão que se faz em volta dele é quase instantânea.
- O que você foi fazer?
- Qual a sua relação com ela?
- Tudo voltou a ser como antes?
- Como se conheceram?
Uma onda de perguntas se fazia ouvir, de vozes agitadas e repórteres quase loucos.
Myako diz:
Silêncio total, enquanto os jornalistas se encaravam, como se tentando entender o
que acontecia. Até que uma voz se ergueu, abrindo caminho.
- ...como assim "pra tirar ela de lá"?
Myako diz:
- Como assim?
- Ela é obrigada?
- Meio milhão?!
- Ela não recebe nada?
- Escravidão? Isso é crime!
Myako diz:
- Isso é um absurdo!
- Por que ela não vai embora?
- Por que não tiram ela dali?
- Ela é um espírito, certo? Ela pode sumir!
- Chamem a polícia, isso é um crime terrível! Terrível!
Myako diz:
A garota se levanta, encarando-o com lágrimas nos olhos, antes de repetir a pose.
- ...o-bri-ga-da. - murmura, sorrindo...
...e caindo no chão, em seguida, se contorcendo de dor.
"Volte para o seu lugar.", uma voz dizia em sua mente. "Agora."
Ela respira fundo, voltando a se ajeitar no pedestal, ofegante e levemente trêmula.
Myako diz:
- O que aconteceu?
- Chamem um médico, ela ainda não se recuperou!
Myako diz:
- ...Luen... sai... - a manequim se aproxima dele, tocando-lhe o ombro. - ...sai.
Myako diz:
- ...nada...
Myako diz:
- ...sai.
Myako diz:
- ...eu confio.
Myako diz:
- ...agora sai.
Myako diz:
- Uma entrevista, rapaz!
- No que você trabalha?
- O que acha de um especial?
- Já pensou em fazer publicidade da sua história?
- Internet, internet!
Myako diz:
- Vem comigo. - um homem o segura pelo braço, puxando-o para longe dos repórteres.
- Eu tenho uma empresa, e estamos precisando de uma ajuda extra na área de design.
Não sei se vou poder pagar muito, mas já é um começo. - ele sorri. - E a sua
publicidade fica garantida.
Myako diz:
- Não se preocupe. Eu que agradeço, pela sua determinação. Você é uma raridade,
nesses tempos tão parados.
Myako diz:
- Amiga?! Ora, tudo foi divulgado como "amantes separados por um vidro"!
Myako diz:
- Não leu os jornais?
Myako diz:
- ....como você vai se manter aqui?!
Myako diz:
- Você pode ficar na minha casa por uns dias, até achar um lugar pra ficar. -
suspira. - E é melhor aprender a usar os repórteres como vantagem. Eles podem te
dar tudo que você, sozinho, não conseguiria.
Myako diz:
- Posso tentar. Só tentar.
Myako diz:
- Vamos, então, que temos um longo trabalho pela frente!
Myako diz:
Ao contrário de antes, a manequim não mais saía da vitrine. Agora era mesmo uma
escrava, mantida imóvel sobre aquele pedestal, 24 h por dia. E tudo que aliviava
aquela dor enorme eram as palavras e a memória do desenhista. O carinho e a
dedicação dele.
A promessa.
Myako diz:
"Que bom. =)"
- Luen, não é? - um dos repórteres do dia anterior se senta ao lado dele,
observando-os, curioso. - Já arrumou um emprego, pelo visto.
Myako diz:
- O que acha de uma entrevista, ao vivo, em um programa?
Myako diz:
- O que acha de depois de amanhã? Precisaremos que você chegue cedo, pra preparamos
tudo.
Myako diz:
O homem tira um cartão do bolso, estendendo-o ao rapaz.
- 7h lá. - e sorri. - Agora eu tenho que ir, preciso resolver tudo. E boa sorte:
soube que os repórteres estão voltando pra cá!
Myako diz:
"Sério? Isso é ótimo!", pausa. "E o trabalho?"
Agora, já haviam se passado quase dois meses após a prova, e era o dia do
resultado. Ele chega no banco, se largando nele, o corpo jogado pra trás, olhando
para o alto. "Eu... eu nem acredito...", pensa.