Você está na página 1de 3

Tudo sobre concursos

Havia um intelectual que veio a ser membro da banca examinadora de um concurso


dificílimo. Autor de vários livros e com currículo brilhante, ele era o terror dos
candidatos. Suas perguntas eram ainda mais difíceis do que o próprio concurso. Um dia,
contudo, um professor inteligentíssimo percebeu que todas as perguntas eram tiradas
das notas de rodapé de determinados livros que, por muito apreciados pelo examinador
em questão, acabavam sendo fonte constante das questões de concurso que formulava.
Então, uma apostila de poucas páginas, só com as notas de rodapé, passou a ser o
suficiente para todo mundo ser aprovado naquela disciplina.

Muito bem, este artigo é baseado em fatos reais! Agora vou contar dois casos meus. Dei
aula para um grupo de alunos que se preparava para o concurso de Delegado de
Polícia/RJ. Na véspera da prova específica discursiva, acertei 4 de 5 questões. Meus
alunos achavam que eu era oráculo, mágico, ou coisa parecida. Mas não era isso, eu
apenas fiz a pergunta: "Se eu fosse examinador desse concurso, o que eu perguntaria?"
Basta observação, pragmatismo e o desejo de fazer alguma coisa funcionar. Isso
incomoda a muitos, pois há uma tendência a querer que todos sigam os padrões
tradicionais. A Academia, a Universidade e os intelectuais não gostam do que chamam
de "listas", "receitas" e do que é rotulado como "autoajuda". O problema é que há horas
para ser acadêmico, e horas para ser pragmático (como no caso dos concursos). Somos
criticados apenas porque seguimos outro padrão. Não existe um padrão certo e outro
errado, eles apenas são diferentes. Isso vale para aulas, livros, cursos, projetos,
preferências sexuais etc.

Outro caso sobre padrões. Minha apostila de Medicina Legal, hoje livro, foi feita por
um sistema muito simples. Eu me perguntava o que seria importante para um Delegado
de Polícia saber nessa disciplina. Isso bastou para a então apostila ser considerada "ouro
em pó", pois matava todas, ou quase todas, as questões dos concursos. Isso só deixou de
funcionar no Estado do Rio de Janeiro quando a banca mudou o padrão, deixando de
perguntar o que um Delegado precisa saber e passou a indagar, numa decisão
lamentável, coisas que nem quem faz o concurso para perito é capaz de responder. A
funesta decisão da banca não matou minha apostila, pois hoje é um livro com outros
autores e muito bem recebido. Mas matou a lógica racional no concurso, prejudicou
muita gente e fez a Polícia Civil perder ótimos Delegados, reprovados numa matéria
importante, mas que não devia ser cobrada dessa maneira.

Muito bem, o fato é que a técnica utilizada pelo professor que citei, e por mim, nos dois
casos anteriores, é muito simples. Primeiro, a gente observa ou se indaga o que seria
razoável cair ou o que está caindo nas provas. Segundo, traça-se um padrão que o
examinador esteja seguindo. Em suma, o que mais comumente ele usa. Aí, por fim,
anota-se tudo que, estando dentro do Programa do Edital, se encaixa no padrão. Tudo
que estiver no padrão, a gente anota. A técnica nada mais é que se antecipar ao
examinador. Para fazer isso é preciso ter muito conhecimento e estudo, e usar a
inteligência. Vale citar que aquele examinador citado no primeiro caso é um gênio, tem
muito a dar, mas na hora de perguntar, ele seguia um padrão simples, que foi plotado
por olhos que o observavam. Eu fazia isso quando concurseiro, depois como professor.
As pessoas que às vezes criticam essas técnicas, a meu ver, não compreendem a ideia
ou, pior, se sentem ameaçadas por quem não segue os padrões que elas elegeram.
Descobrir o que vai cair e estudar o assunto é atividade inteligente. Saber "chutar",
embora criticado por tantos, tem seu lugar também. Minha aula sobre "chute" que está
na Área de Ciência e Tecnologia do YouTube, já tem mais de 250.000 exibições.
Muitos criticam as técnicas, mas se esquecem do meu pragmatismo e das orientações
que dou no livro ao tratar do assunto. Repare que o pessoal do Google, um time genial,
classificou o "chute" em Ciência e Tecnologia, o que não é correto, mas mostra que nem
todo mundo acha o "chute" uma fraude. Saber a hora de chutar, e como, e bem, é
inteligência posta a serviço do sonho. Digo que o ideal é saber a respostas, mas se isso
não acontecer...

Além da previsão do futuro e do "chute", o modelo de livros para concursos também foi
criado a partir da análise de padrões. Ao criar os livros para concursos, eu quis ajudar os
concurseiros que, como eu, sofriam por falta de material adequado. Sem saber, estava
quebrando um paradigma e criando um novo nicho editorial. Na minha época, só havia
apostilas e livros espessos - as primeiras com menos do que o candidato precisava; os
livros, com muito mais que o necessário para passar. Então, sugeri ao Sylvio Motta que
incluísse uma nova parte no livro de questões de Direito Constitucional que ele estava
preparando. Sugeri que ele fizesse uma teoria resumida, do tamanho adequado para
concurseiros. Em resposta, ele disse que topava a proposta se eu participasse do projeto
da parte teórica. Aceitei, e dali saiu um livro em co-autoria que foi aquele que começou
a série "Provas & Concursos", que revolucionou o mercado. Até o dia em que paramos
de publicar aquela obra juntos, mais de 50.000 livros já tinham sido vendidos. Mais que
isso, chamamos os amigos professores e saiu dali toda uma série. Claro que apareceu
gente para criticar a "indústria dos concursos", mas o fato é que, até aquela época,
ninguém se preocupava com os concurseiros. Hoje, o cenário mudou e até as editoras
jurídicas já estão cuidando de ter séries para concursos públicos. Mais uma vez, tudo
aconteceu a partir da identificação de um padrão e de uma simplificação, qual seja,
atender não a tudo, mas apenas ao padrão. Isto é muito eficiente.

Descobrir o padrão simplifica o trabalho e isso não serve apenas para concursos. A
técnica funcionará tanto melhor quanto mais razoável for quem estiver do "outro lado".
O macete é: identifique o padrão utilizado pela outra pessoa e você saberá o futuro. O
que vai cair na prova, o que uma pessoa fará amanhã, como ela reagirá a uma dada
situação, como ela se sairá em um negócio. Prever comportamento só não funciona
muito com os loucos. Eles não seguem necessariamente um padrão. Mas, se definirmos
que o sujeito é maluco, então já teremos um padrão para ele: nesse caso, não se pode
usar os padrões anteriores porque ele não segue padrões. Felizmente, não é o caso da
maior parte dos examinadores e humanos. Somos uma raça de padrões. Muitos padrões
diferentes, mas padrões. Infelizmente, contudo, existem pessoas e bancas, e alguns
governos, loucos.

O desafio é descobrir o padrão. Se a banca, o sócio, o cônjuge, o cliente etc. não seguir
um padrão, seguirá outro. Descubra qual é o padrão e você poderá prever o futuro. O
resultado só vai mudar se a pessoa mudar o padrão, mas para isso ela tem que estar
observando, querendo mudanças, precisa estudar, ou fazer terapia, ou sofrer muito, ou
se converter a algum credo, ou ver a morte de perto... Por falar em mudar padrões, se
você está sendo reprovado em concursos, veja o que precisa fazer para mudar seu
padrão de atitudes-pensamentos-comportamentos e, assim, poderá mudar o padrão dos
resultados também.

Descobrir o que vai cair na prova pode ser feito de várias formas. Isso inclui estudar o
Programa todo, fazer as provas anteriores, entender como cada instituição trabalha
(Cespe/Unb, Esaf, FCC, por exemplo), desenvolver e analisar estatísticas, reparar o que
está acontecendo na época da prova, ouvir os professores especializados (acessíveis nos
livros, cursos e na internet)... Falo sobre isso nos meus livros para concurso e no meu
site, e há muito material disponível sobre o tema.

Fazer provas não tem tanto a ver com saber a matéria, quanto tem com saber fazer
provas, saber estudar com foco. Por enquanto, claro. Um dia, os examinadores evoluirão
e aglutinarão os conceitos de "saber" com "saber fazer provas". Enquanto eles não
aprendem a fazer isso, estamos diante de dois assuntos diferentes. De minha parte,
quero ajudar a educação a evoluir e a melhorar as provas, mas, até lá, quero ver meus
alunos, leitores e amigos conseguindo resultados. E, para isso, precisamos aprender a
jogar o jogo e a dançar a música que está tocando. Um dia, quebraremos o disco e
poremos música melhor, advirto.

Quando intelectuais criticam os livros para concursos, se esquecem que tais livros são
perfeitos para o fim a que se destinam. Se querem mudar os livros para concursos, basta
mudar a forma de se indagar nas provas. Nós, concurseiros, alunos e professores, somos
muito adaptáveis. Para concluir, assim como a academia tem muito a aprender com os
concursos, o serviço público tem muito a aprender com a iniciativa privada. Mas este já
é outro assunto. Precisamos melhorar o serviço público e minha maior esperança é
contar com você, concurseiro.

Por fim, outra pergunta ótima é, além de "qual é o padrão?", indagar "o que é o mais
importante?". E, se o tema for administração do tempo, "o que é de fato importante, é
urgente?" Essas reflexões, mais do que "apenas" fazer você passar em concurso, pode
nos ajudar a melhorar o país, a nossa vida, o amanhã. Com esforço e inteligência, é
possível produzir um hoje mais saudável e um amanhã bem melhor para todos.

Você também pode gostar