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I – SÍNTESE FÁTICA
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A parte autora é titular de conta do FGTS.
Entre 1991 e 2012, tudo que foi corrigido pela TR ficou abaixo do índice de inflação. Somente
nos anos de 1992, 1994, 1995, 1996, 1997 e 1998, a TR ficou acima dos índices de inflação.
Isso causou uma perda na conta do FGTS do autor.
Ano Diferença
1999 -2,49%
2000 -3,02%
2001 -6,54%
2002 -10,40%
2003 -5,20%
2004 -4,07%
2005 -2,11%
2006 -0,75%
2007 -3,53%
2008 -4,55%
2009 -3,27%
2010 -5,43%
2011 -4,59%
2012 -5,56%
Sendo assim, o autor tem tido prejuízo, o qual deve ser recomposto pelo Judiciário.
II - PRELIMINARMENTE
III – DO DIREITO
III.I - O FGTS e a TR
Está em debate, a questão referente à adequação da forma de correção dos saldos das contas
vinculadas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.
Esses saldos são provenientes dos depósitos mensais, em valor correspondente a 8% do salário,
feitos em nome dos trabalhadores e constituem a base da formação do patrimônio do Fundo. Tal
debate considera, também, os resultados econômicos alcançados pelo Fundo, nos últimos anos,
através da aplicação de seus recursos “pela Caixa Econômica Federal-CEF e pelos demais
órgãos do Sistema Financeiro de Habitação –SFH, exclusivamente segundo critérios fixados
pelo Conselho Curador do FGTS – CCFGTS”
A correção mensal dos depósitos do FGTS compreende a aplicação de duas taxas que
correspondem a diferentes objetivos. Uma dessas taxas diz respeito à correção monetária dos
depósitos nas contas vinculadas, através da aplicação da Taxa Referencial –TR, que é o
fator de atualização do valor monetário, vigente desde 1991. A segunda refere-se à
valorização do saldo do FGTS por meio da capitalização de juros à taxa de 3% ao ano.
A Taxa Referencial (TR) foi instituída na economia brasileira no bojo da Lei Nº 8.177, de
31/03/1991 - que ficou conhecida como Plano Collor II – e teve como objetivo estabelecer
regras para a desindexação da economia. À época, foi extinto um conjunto de indexadores que
corrigiam os valores de contratos, fundos financeiros, fundos públicos, bem como as dívidas
com a União, entre outros.
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Assim, foram extintos, a partir de 1º de fevereiro de 1991, o Bônus do Tesouro Nacional (BTN)
Fiscal, instituído pela Lei 7.799 de 10/07/89; o BTN referente à Lei 7.777, de 19/06/89; o Maior
Valor de Referência (MVR) e as “demais unidades de conta assemelhadas que são atualizadas,
direta ou indiretamente, por índice de preço”, conforme o artigo 3º da Lei em questão.
Simultaneamente, o artigo 4º determinou que “a partir da vigência da medida provisória que deu
origem a esta lei, a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística deixará de calcular o
Índice de Reajuste de Valores Fiscais (IRVF) e o Índice da Cesta Básica (ICB), mantido o
cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).”
Desta forma, desde a sua origem, a fórmula de cálculo da TR comporta um fator Redutor que é
arbitrado pelo Bacen.
No Gráfico 1, observam-se as médias anuais da relação das TRs com as taxas básicas
financeiras (TBFs), no período de 1995 à 2012. Como se vê, a curva é declinante, indicando a
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queda da TR em relação à TBF. Este declínio vai se acentuando com o passar do tempo,
indicando que a TR aproximou-se de zero, em 2012. Neste ano, em seis meses, observou-se
uma TR igual a zero. Também até o momento, em 2013, todas as taxas mensais da TR foram
zero, podendo assim permanecer no restante do ano.
GRÁFICO 1
Relação entre TR e TBF – média anual
Fonte: Bacen
Elaboração DIEESE
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Ainda, o autor Letácio Jansen diz que Bulhões Pedreira teria conseguido
institucionalizar e colocar em prática a sua doutrina principalmente através da Lei nº 4.357, de
1964, que criou o primeiro indexador da Economia Brasileira – a ORTN (obrigação reajustável
do tesouro nacional), uma obrigação monetária cuja função era fazer variar, periodicamente, a
moeda nacional segundo a perda de seus respectivos poderes aquisitivos
http://www.scamargo.adv.br/scripts/forum/textoTema.asp?
id=81&tema=nvalidade+da+taxa+referencial+(TR)%3A+o+Significado+da+ADI+493-0-df).
Pois bem. Quando o STF enfrentou o tema da natureza da TR, disse através
do voto vencedor da ADI 493-0/DF que:
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Mesmo assim, naquela oportunidade, o STF entendeu que a TR possuía
natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o artigo 18 da Lei nº 8.177/91, cujo texto
original estabelecia que os saldos devedores e as prestações dos contratos integrantes do SFH,
passariam a ser atualizados pela taxa aplicável à remuneração básica dos Depósitos de
Poupança. Vale a pena transcrever a ementa deste julgado:
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SFH. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS
PRESTAÇÕES. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. NULIDADE DO
ACÓRDÃO. INOCORRÊNCIA. VANTAGENS PESSOAIS. INCLUSÃO.
CORREÇÃO PELA TR. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.(...)4.
Inaplicável a TR como fator de correção monetária Entendimento
consagrado nesta Corte na esteira de orientação traçada pelo STF.5.
Recurso especial conhecido e parcialmente provido.(REsp 209.466/BA,
Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 07/08/2001, DJ 17/06/2002, p. 231) (grifamos)
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repassados ao fundo. (Súmula 459, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
25/08/2010, DJe 08/09/2010)
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EREsp 1252558/RS, Rel. Ministro SERGIO KUKINA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 13/03/2013, DJe 21/03/2013)(grifos nossos)
Não podemos nos esquecer de que a cultura da correção monetária está de tal
forma arraigada ao nosso sistema econômico, que o próprio Código Civil de 2002, traz diversos
dispositivos garantindo atualização monetária:
Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa,
mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a
outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as
arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua
devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será
obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos
valores monetários.
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Hoje, no país, há dois tipos de índices de correção monetária. Índices que
refletem a inflação e, portanto, recuperam o poder de compra do valor aplicado, como o IPCA e
o INPC, e um índice que não reflete a inflação, e consequentemente não recupera o poder de
compra do valor aplicado – a Taxa Referencial/TR.
O sentimento geral é que há muito tempo o FGTS é um fundo iníquo por ele
não ter recomposição inflacionária dos seus recursos. Na verdade, o trabalhador não está
financiando programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana, ele
está subsidiando.
Ora, mas a própria Lei do FGTS diz em seu artigo 2º que é garantida a
atualização monetária e juros. Quando a TR é igual a zero este artigo é descumprido.
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Quando a TR é mínima e totalmente desproporcional em relação à inflação, este artigo
também é descumprido e o patrimônio do trabalhador é subtraído por quem tem o dever
legal de administrá-lo.
Conforme se vê no Gráfico 6, nos anos de 1997 e 1998, estes resultados também foram
negativos. A partir de 2000, a arrecadação líquida torna-se positiva e crescente representando
um indicador positivo do desempenho do FGTS.
GRÁFICO 6
Evolução da arrecadação Real do FGTS (R$ bilhões de 2012)
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O significativo desempenho financeiro do FGTS também pode ser visto através da evolução do
Patrimônio Líquido registrado no período de 1999 a 2012, como mostra o Quadro 1, no qual se
observa que o crescimento apresentado em seu valor real, que foi de 164% , no período.
QUADRO 1
FGTS: Patrimônio Líquido(*)
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Nota: (*) em reais 2012-IPCA
No quadro 2, ficam evidentes as diferenças entre o retorno das aplicações do FGTS, e o retorno
dos cotistas indicando claramente “que há uma forte discrepância entre o rendimento do Fundo
e o rendimento dos cotistas.” Ou seja, o rendimento das aplicações dos recursos do fundo é bem
superior ao rendimento pago aos titulares do fundo. Além disso, o quadro mostra também que o
rendimento dos cotistas (Juros +TR) tem sido inferior à inflação no período.
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DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.
“ÍNDICE OFICIAL DE REMUNERAÇÃO BÁSICA DA
CADERNETA DE POUPANÇA”: INCONSTITUCIONALIDADE
DA EXPRESSÃO. ACÓRDÃO RECORRIDO DISSONANTE DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
ÍNDICE DE CORREÇÃO MONETÁRIA: OFENSA
CONSTITUCIONAL INDIRETA. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. Relatório 1. Recurso extraordinário interposto com base
na alínea a do inc. III do art. 102 da Constituição da República contra
julgado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que decidiu:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO.
EXECUÇÃO. PRECATÓRIO/RPV COMPLEMENTAR. EC N.
62/2009. ART. 100, § 12, DA CF. CONSTITUCIONALIDADE.
INCIDÊNCIA IMEDIATA. 1. O § 12 do artigo 100 da Constituição
Federal, introduzido pela EC n. 62, de 09/11/2009 (publicada em
10/12/2009), tem aplicação imediata aos feitos de natureza
previdenciária, sendo constitucional. 2. Entendimento firmado no
sentido de que a TR mostra-se válida como índice de correção
monetária. 3. Nada impede o legislador constitucional ou
infraconstitucional de dispor sobre correção monetária e taxa de juros
e, em se tratando de relação de direito público, não há óbice a
incidência imediata da lei, desde que respeitado período anterior à
vigência da nova norma (vedação à retroatividade), pois não existe
direito adquirido a regime jurídico” (fl. 68). 2. O Agravante alega que
o Tribunal a quo teria contrariado os arts. 1º, inc. III, 5º, caput e incs.
XXII, XXXVI, e 37, caput, da Constituição da República. Argumenta
que: “A EC n. 62/2009, em seu art. 1º, § 12, instituiu que ‘A partir da
promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores
de requisitórios , após sua expedição, até o efetivo pagamento,
independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de
remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de
compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual
de juros indecentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a
incidência de juros compensatórios’. Como se sabe, o índice de
remuneração básico da poupança é a Taxa Referencial – TR, índice
controlado pelo Estado, e utilizado como instrumento de controle da
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economia – vide os sucessivos índices mensais zerados, a fim de
controle de aporte de capital nas poupanças. Tanto a TR não se presta
como índice de correção monetária, que o STF já decidiu nesse
sentido: ‘A taxa referencial (TR) não é índice de correção
monetária (...) não constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda’ (ADI 493-0/DF, Relator Min. Moreira Alves,
Plenário, DJ 4.9.1992). (...) Assim sendo, texto tão danoso ao cidadão
não poderá ser tolerado pelo Judiciário, merecendo a declaração de
inconstitucionalidade do § 12 do artigo 100 da Constituição Federal,
adicionado pela EC n. 62/2009. (...) Assim, declarada a
inconstitucionalidade do índice aplicado ao precatório pago nos autos,
deve ser tomado como vigente e aplicado ao caso concreto o índice
IPCA-E” (fls. 72-73). Apreciada a matéria trazida na espécie,
DECIDO. 3. Razão jurídica assiste, em parte, ao Recorrente. O
Desembargador Relator no Tribunal Regional Federal da 4ª Região
afirmou: “Quando da análise do pedido de efeito suspensivo, foi
proferida a seguinte decisão: ‘(...) Firmou-se na 3ª Seção deste
Tribunal o entendimento de que a Lei n. 11.960, de 29/06/2009
(publicada em 30/06/2009), que alterou o art. 1º-F da Lei n. 9.494/97,
determinando a incidência nos débitos da Fazenda Pública, para fins
de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da
mora, uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de
remuneração básica e juros da caderneta de poupança, aplica-se
imediatamente aos feitos de natureza previdenciária, sendo
constitucional. Não há razão para tratamento diferenciado em relação
ao § 12 do artigo 100 da Constituição Federal, introduzido pela EC n.
62, de 09/11/2009 (publicada em 10/12/2009), que trata
especificamente da situação a atualização de valores de requisitórios,
após sua expedição, até o efetivo pagamento. A Taxa Referencial,
segundo entendeu o Superior Tribunal de Justiça, pode ser utilizada
como índice de correção monetária. O que não se mostra possível é
sua substituição em pactos já firmados, de modo a violar o direito
adquirido e o ato jurídico perfeito. A Súmula n. 295 do Superior
Tribunal de Justiça, a propósito, enuncia: A Taxa Referencial (TR) é
indexador válido para contratos posteriores à Lei n. 8.177/91, desde
que pactuada. Colhe-se da jurisprudência desta Corte: (...). A situação
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dos autos é um pouco diversa, pois se discute sobre a incidência
imediata de norma que dispôs sobre os acréscimos aplicáveis aos
débitos previdenciários. Apropriada, contudo, a aplicação do
entendimento de que a TR mostra-se válida como índice de correção
monetária. Por outro lado, nada impede o legislador constitucional ou
infraconstitucional de dispor sobre correção monetária e taxa de juros.
Em se tratando de relação de direito público, nada obsta a incidência
imediata da lei, desde que respeitado período anterior à vigência da
nova norma (vedação à retroatividade), pois não existe direito
adquirido a regime jurídico. Assim, tratando-se de norma nova que
dispôs, para o futuro, sobre os acréscimos aplicáveis a créditos
previdenciários, não se cogita de violação à cláusula constitucional
que assegura o direito de propriedade (art. 5º, XXII, CF), ou mesmo
àquela que protege o direito adquirido e o ato jurídico perfeito (art. 5º,
XXXVI, CF). Como não se cogita de violação do princípio da
isonomia, certo que situações díspares podem receber tratamento
diferenciado, de modo que a utilização de indexadores diversos, mas
idôneos, para atualização de créditos de naturezas diversas, não
contraria o artigo 5º, caput, da Constituição Federal. Da mesma forma,
como a norma produz efeitos para o futuro, não está a ofender a coisa
julgada (art. 5º, inciso XXXVI CF), certo que a coisa julgada somente
incide em relação às situações especificamente na decisão judicial, de
modo que a definição do índice de correção monetária referente a
período posterior não está forrada ao advento de mudança normativa.
Consigno, por fim, que a norma que validamente dispõe sobre os
acréscimos aplicáveis a débito do poder público evidentemente não
está a violar os princípios da moralidade e da eficiência (art. 37 da
CF). Oportuna a referência a precedentes do Superior Tribunal de
Justiça: (...). Segue em sentido assemelhado precedente do Supremo
Tribunal Federal que espelha a posição daquela Corte: ‘Agravo
regimental em agravo de instrumento. 2. Execução contra a Fazenda
Pública. Juros de mora. Art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, com redação
dada pela MP n. 2.180-35/2001. 3. Entendimento pacífico desta Corte
no sentido de que a MP n. 2.180-35/2001 tem natureza processual.
Aplicação imediata aos processos em curso. 4. Agravo regimental a
que se nega provimento’ (AgR no AI n. 776.497. Relator: Min.
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GILMAR MENDES Julgamento: 15/02/2011. Órgão Julgador:
Segunda Turma STF). Diante de todo o exposto, defiro o pedido de
efeito suspensivo’. Não havendo novos elementos a ensejar a alteração
do entendimento acima esboçado, deve o mesmo ser mantido por seus
próprios fundamentos, dada a sua adequação ao caso concreto” (fls.
66-67 v. - grifos nossos). O acórdão recorrido destoa da jurisprudência
deste Supremo Tribunal, que declarou a inconstitucionalidade da
expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança”, constante do § 12 do art. 100 da Constituição da
República (acrescentado pela Emenda Constitucional n. 62/2009): “o
Tribunal julgou procedente a ação para declarar a
inconstitucionalidade da expressão ‘na data de expedição do
precatório’, contida no § 2º; os §§ 9º e 10; e das expressões ‘índice
oficial de remuneração básica da caderneta de poupança’ e
‘independentemente de sua natureza’, constantes do § 12, todos
dispositivos do art. 100 da CF, com a redação dada pela EC n.
62/2009, vencidos os Ministros Gilmar Mendes, Teori Zavascki e
Dias Toffoli. Votou o Presidente, Ministro Joaquim Barbosa” (ADI
4.357, Relator o Ministro Luiz Fux, Plenário, DJe n. 59/2013, de
2.4.2013 – grifos nossos). 4. Quanto à determinação do índice a ser
aplicado na correção monetária do precatório, trata-se de matéria a ser
decidida com base em norma infralegal (Resolução n. 122/2010 do
Conselho da Justiça Federal), não afeta a este Supremo Tribunal:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
TRIBUTÁRIO. PRECATÓRIO. ATUALIZAÇÃO. ÍNDICE DE
CORREÇÃO. A REPERCUSSÃO GERAL NÃO DISPENSA O
PREENCHIMENTO DOS DEMAIS REQUISITOS DE
ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS. ART. 323 DO RISTF C.C.
ART. 102, III, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. REEXAME DE
MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
INVIABILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. (...). 3.
Deveras, entendimento diverso do adotado pelo acórdão recorrido –
como deseja o recorrente – quanto ao índice de correção monetária
adequado para a atualização do valor do presente precatório,
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demandaria a análise da legislação infraconstitucional que disciplina a
espécie (Resolução n. 115/2010, do CNJ), bem como o reexame do
contexto fático-probatório engendrado nos autos, o que inviabiliza o
extraordinário, a teor do Enunciado da Súmula n. 279 do Supremo
Tribunal Federal, que interdita a esta Corte, em sede de recurso
extraordinário, sindicar matéria fática, ‘verbis’: (...). (Precedentes: RE
n 404.801-AgR, Relator o Ministro Cezar Peluso, 1ª Turma, Dj de
04.03.05; AI n. 466.584-AgR, Relator o Ministro Nelson Jobim, 2ª
Turma, DJ de 21.05.04, entre outros). 4. ‘In casu’, o acórdão
originariamente recorrido assentou: ‘AGRAVO DE INSTRUMENTO
– PRECATÓRIO – NÃO INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA –
INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 17, DO STF – ATUALIZAÇÃO –
ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA
– RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1) É vedada a
incidência de juros no cálculo da atualização dos valores de
precatórios, exceto se houver mora no seu pagamento (STF: Súmula
Vinculante n. 17). 2) Após o advento da emenda Constitucional n.
62/2009, a atualização de valores de precatórios, após sua expedição,
até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, passou a
ser feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança (CF/88: art. 100, § 12º). 3) Recurso conhecido e
parcialmente provido’. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento” (RE 684.571-AgR, Relator o Ministro Luiz Fux,
Primeira Turma, DJe 30.10.2012 – grifos nossos). 5. Pelo exposto,
dou parcial provimento a este recurso extraordinário (art. 557, § 1º-A,
do Código de Processo Civil e art. 21, § 2º, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal) para reafirmar a inconstitucionalidade da
expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de
poupança”, constante do § 12 do art. 100 da Constituição da
República e determinar que o Tribunal de origem julgue como de
direito quanto à aplicação de outro índice que não a taxa referencial
(TR). Publique-se. Brasília, 13 de junho de 2013. Ministra CÁRMEN
LÚCIA Relatora
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13/06/2013, publicado em DJe-124 DIVULG 27/06/2013 PUBLIC
28/06/2013)
No dia 27 de maio, o ministro Castro Meira, do STJ, proferiu decisão semelhante, favorável a
uma credora da União que teve a indenização reconhecida pela Justiça por violação de direitos
fundamentais. E foi além: determinou a aplicação do IPCA para atualizar o valor dos
precatórios. A União recorreu da decisão alegando que a decisão do Supremo ainda não havia
sido publicada. No dia 26 de junho, a 1ª Seção do STJ rejeitou o recurso.
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Federal, no julgamento da ADI 4357, acórdão pendente de publicação,
julgou parcialmente inconstitucional o § 12 no tocante às expressões
"índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança" e
"independentemente de sua natureza" e, por arrastamento, essas
mesmas expressões constantes no art. 1°-F da lei n. 9.494/1997,
alterado pelo art. 5° da lei n. 11.960/2009 (Ata n° 5, de 14/3/2013,
publicada no DJe n. 59, de 1/4/2013), excluindo, desse modo, a Taxa
Referencial - TR como fator de atualização das condenações impostas
à Fazenda Pública.
Registre-se, ainda, que nessa ADI também foi declarada a
inconstitucionalidade dos §§ 9° e 10 do art. 100 da Constituição
Federal, que tratam da compensação de débitos dos beneficiários de
precatórios junto á Fazenda Pública devedora.
Diante do exposto, submetemos estes autos à consideração de Vossa
Excelência com a proposição de que sejam intimadas as partes para se
manifestarem sobre o cálculo atualizado por esta Unidade para
expedição do respectivo precatório (e-STJ fl. 343).
Instadas, as partes manifestaram-se. A exequente aprovou os cálculos
(e-STJ fl. 352), enquanto a União discordou no ponto em que "foi
considerada a variação do IPCA-e para correção monetária para todo o
período quanto o correto seria aplicar a variação da TR a partir de
julho de 2009, nos termos da Lei 11.960/2009 e Manual de Cálculos
da Justiça Federal" (e-STJ fl. 355).
É o relatório. Decido.
Corretos são os cálculos apresentados pela CEJU, porquanto, além de
ter sido o IPCA-E o índice empregado na conta homologada, olvida-se
a União de que o Supremo Tribunal Federal, na ADI 4.357/DF, em
14.3.2013, declarou a inconstitucionalidade, por arrasto, das
expressões "independentemente de sua natureza" (para efeito de
correção monetária) e "índices oficiais de remuneração básica",
contidos no art. 1º F da Lei 9.494/97, com a redação da Lei
11.960/2009.
Significa dizer que, no tocante à correção monetária, mesmo a partir
de julho/2009, continuará sendo adotado o IPCA-E/IBGE, e não mais
o índice previsto no Manual de Orientação de Procedimentos para os
Cálculos na Justiça Federal.
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Ante o exposto, expeça o precatório nos termos da planilha de
cálculos elaborada pela CEJU às e-STJ fls. 343-344.
Publique-se. Intime-se.
Brasília, 27 de maio de 2013.
Ministro Castro Meira
Presidente da Seção
(Ministro CASTRO MEIRA, 31/05/2013)
Sendo assim, Excelência, é pacífico nos Tribunais Superiores que não se aplica a TR como
índice de correção.
IV - CONCLUSÕES
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Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a totalidade da
correção monetária. O trabalhador não pode ser obrigado a subsidiar ainda mais os projetos do
Governo Federal. O “ainda mais” decorre do fato de os juros de 3% do FGTS serem os menores
do mercado, o quê, por si só, demonstra que ele já está fazendo sua parte sob a perspectiva
social.
Posto que desde janeiro de 1999 o redutor criado pelo Banco Central/CMN
promoveu o completo distanciamento da TR dos índices oficiais de inflação, temos que desde
então ela perdeu sua condição de repor as perdas inflacionárias dos depósitos do FGTS,
devendo desde esta data ser substituída pelo INPC, alternativamente, pelo IPCA.
VI - DOS PEDIDOS
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II. condenar a Ré proceder essa correção desde 1999, data em que a TR parou de
recompor as perdas com a inflação;
Requer a citação da CEF - Caixa Econômica Federal, no endereço de sua sede, para responder
no prazo legal, querendo, a presente ação.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, principalmente
prova documental.
ADVOGADO
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