Você está na página 1de 14

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE RECUPERAÇÃO, POR SOLDAGEM, DE

COMPONENTES EM AÇO Cr - Mo, UTILIZADOS EM REATORES PARA


PROCESSAMENTO EM INDÚSTRIAS PETROQUÍMICAS.

FERRABOLI, Roberto Júnior (1), TANIGUCHI, Célio (2)

(1) Doutorando em Eng. Mecânica Escola Politécnica da Universidade de São Paulo


(2) Professor Titular do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo

Palavras chaves : recuperação, soldagem, aco de média liga.

RESUMO

Os aços do tipo Cr-Mo têm grande utilização na moderna indústria química e petroquímica.
Este trabalho tem o objetivo de apresentar um estudo dos efeitos causados por sucessivas
operações de soldagem em uma junta de material com 5% de Cr e 0,5% de Mo.
Inicialmente é feita uma apresentação da aplicação específica deste tipo de material na
fabricação de reatores utilizados em uma planta petroquímica de terceira geração e uma
descrição dos fenômenos de deterioração provocados pela operação contínua em atmosfera
rica em hidrogênio.
Os reparos propostos em ciclos repetidos, podem prejudicar as características mecânicas do
material, principalmente pela ocorrência de precipitação de carboneto de cromo.
Para analisar os efeitos dos ciclos de soldagem, foram preparados corpos-de-prova que foram
submetidos à ação de quatro e cinco ciclos completos de soldagem .
Através de ensaios mecânicos e análises metalográficas por microscopia ótica e eletrônica,
pode-se comprovar, dentro de um intervalo aceitável de tolerância, que o material pode ser
submetido até a cinco ciclos de reparo sem comprometer a sua integridade estrutural.

ABSTRACT

Chromium-molybdenium steels have many applications in modern chemical as well as


petrochemical industries.
The aim of this dissertation is to study the possible detrimental effects of repeated welding
operations in a 5Cr-0,5Mo steel, largely used in the above mentioned plants.
Initially an introduction to the utilization of this class of material in reactors components of
third generation petrochemical plant is presented, including the deleterious action of hydrogen
rich atmosphere in such components.
Thus, the reparing of those components by welding can possibly cause further deterioration of
the material properties, mainly due to carbide precipitation.
In order to analyse the effects of welding cycles, testpieces exposed to 4th and 5th complete
cycles was submitted to mechanical tests as well as metallurgical examination by mean of
optical and eletronic microscopy. Results have shown that within na acceptable range, the
material can support up to five repairs cycles without presenting any visible signs of damage
to its structural integrity.
1 INTRODUÇÃO

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26601
A moderna indústria petroquímica caracteriza-se pela produção dos mais diversificados
produtos, que cobrem uma vasta gama de aplicações, desde as matérias-primas, até os
consumíveis de uso imediato. Geralmente, estes produtos são processados em instalações
industriais complexas, onde interagem alimentadores, misturadores, caldeiras, trocadores de
calor, reatores, filtros, compressores e máquinas de fluxo, interligados por redes de tubulação
e toda a instrumentação necessária para o controle dos processos envolvidos.
Muitas destas plantas demandam um intenso trabalho de engenharia, desde o estágio de sua
concepção até a conclusão das especificações de operação e manutenção de todo o sistema.
Não raro, muitos componentes da instalação são importados, devido a problemas econômicos
de escala e, em particular, a aquisição de sobressalentes deve merecer muita atenção, face a
seu custo elevado.
Mesmo com todos estes cuidados, muitas vezes as previsões concernentes à manutenção da
instalação não seguem o padrão esperado e a empresa enfrenta o dilema, ou de interromper a
produção, ou, de ela mesma, tentar reparar localmente o dano ocorrido em alguns
componentes.
Baseado nestas premissas, é proposto, no presente trabalho, estudar o problema de
recuperação de componentes fabricados em aço cromo-molibdênio, sabidamente de alto custo
e de soldabilidade problemática , tomando-se como base as plantas de terceira geração e, no
presente caso, para a síntese de oxoálcoois, largamente utilizados em um enorme número de
outros produtos químicos, como: plastificantes, diluentes, detergentes, lubrificantes, agentes
secantes, perfumes, cosméticos e agentes anti-espumantes.

2 OBJETIVO DO TRABALHO

Investigar a possibilidade de reutilização de componentes e acessórios de equipamentos de


indústrias químicas, petroquímicas e de petróleo, fabricados em aço de média liga, do tipo 5Cr
0,5Mo, recuperados por processo de soldagem, avaliando a influência dos repetidos ciclos de
soldagem para se efetuar os reparos.
Estes ciclos podem acarretar transformações de caráter metalúrgico, prejudicando as
propriedades mecânicas do material, como seu limite de resistência, dureza e tenacidade e,
assim, inviabilizar tecnicamente a reutilização do acessório ou componente do equipamento.
O presente trabalho pretende, portanto, estabelecer subsídios seguros para a execução de
reparos por soldagem nos materiais do tipo 5Cr-0,5Mo.

3 ASPECTOS METALÚRGICOS DO AÇO 5Cr- 0,5Mo

Os aços do tipo Cr-Mo são materiais que necessariamente requerem cuidados especiais
durante as operações de soldagem, em função de suas características metalúrgicas peculiares,
principalmente pela presença de elementos de liga como o Cr que tem a capacidade de ativar
fenômenos que prejudicam a propriedade de resistência mecânica destes aços, como a
fragilização e a precipitação de carbonetos.
A zona termicamente afetada ( ZTA ) , é a região do metal de base que embora não tenha
sofrido fusão, foi aquecida a temperaturas próximas ao ponto de fusão, suficientemente
elevadas para que modificações microestruturais, se manifestem. No aquecimento, a ZTA
abriga toda a sorte de fenômenos de estado sólido, podendo ocorrer nos metais ou ligas, tais
como : crescimento de grão, recristalização, precipitação, coalescência ou transformações
alotrópicas. No resfriamento, uma vez afastada a fonte de calor, a ZTA experimentará
transformações de fase como têmpera e re-precipitação, decorrentes em grande parte, pelo
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26602
tempo de permanência a altas temperaturas, pela velocidade de resfriamento e pela
temperatura máxima atingida.
Recorda-se que estes três fatores variam de um ponto a outro da ZTA [ 1 ] . Os pontos da
ZTA mais próximos do cordão de solda serão aqueles que experimentarão as mais altas
temperaturas durante os mais longos períodos de tempo. Logo, nestes pontos é que os
fenômenos termicamente ativados, tais como o crescimento de grão, coalescência de
precipitados, homogeinização de soluções sólidas, dissolução de precipitados, ocorrerão com
maior intensidade [ 1 ] .
Aços Cr-Mo são termicamente endurecíveis mesmo com baixas velocidades de resfriamento.
A soldagem proporciona elevadas velocidades de resfriamento e o efeito do endurecimento
são as trincas durante e após a soldagem.
Outro aspecto importante no processamento por soldagem destes aços, refere-se aos
Tratamentos Térmicos. não consegue ser feito em soldagem em operação
No caso analisado por este trabalho, o objetivo do tratamento térmico é melhorar a segurança
da construção soldada, através da diminuição das tensões residuais, promoção de melhorias e
ajustes da micro-estrutra sob o aspecto metalúrgico e promover a rápida diminuição dos
esforços durante a fase de aquecimento.
O recozimento afeta características tais como o Limite de Escoamento, Limite de Resistência,
Dureza, Resistência à Ruptura Frágil, Resistência à Corrosão Sob Tensão e Alongamento.
As operações de soldagem normalmente são efetuadas sob a forma contínua, até a sua
conclusão efetiva.
Outro problema que torna importante a necessidade de se controlar a operação de soldagem e
efetuar os tratamentos térmicos adequados, é a prevenção da corrosão sob tensão induzida
pela contaminação com o hidrogênio.
É conveniente que sejam minimizadas as regiões com altos níveis de tensão residual, para se
diminuir a possibilidade de ocorrência deste fenômeno.

4 PRECIPITAÇÃO DE CARBONETOS [ 2 ]

Se em um aço estiverem presentes elementos fortemente formadores de carbonetos em


concentração suficiente, pode-se esperar que os respectivos carbonetos se formem
preferencialmente à cementita. Contudo, durante o revenido dos aços ligados, os carbonetos
de liga só se formam quando se atinge o intervalo de temperatura 500 a 600oC, porque em
temperaturas inferiores, os elementos de liga metálicos não se difundem de forma
suficientemente rápida para permitir a nucleação de carbonetos de liga.
O aumento da quantidade de carbonetos nos aços ( fração volumétrica ), é um fenômeno que
depende das características termodinâmicas envolvidas. Este fenômeno é muito importante,
pois influencia marcadamente as propriedades mecânicas. Em termos gerais, a formação de
carbonetos de liga é acompanhada por um aumento marcante da resistência, freqüentemente
superior ao que resulta da têmpera para a martensita.
A velocidade de resfriamento pode também afetar a intensidade do endurecimento por
precipitação, por alterar a temperatura de transformação. O Nb é largamente utilizado para
prevenir grãos grosseiros na soldagem. Velocidades de resfriamento intermediárias causam
endurecimento por envelhecimento. Velocidades lentas de resfriamento juntamente com a
formação de grãos grosseiros produzidos pelas altas temperaturas de transformação, produzem
baixa resistência e pouca energia absorvida por impacto [ 3 ] .
Este fenômeno é, sobretudo, evidenciado em aços contendo Mo, V, Ti, W e ainda em aços
cromo com altas concentrações de elementos de liga.
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26603
Pesquisar: endurecimento por envelhecimento
crescimento de grão -> baixa resistência e baixa energia absorvida por impacto
Com o aumento da precipitação, a resistência aumenta até um limite, a partir do qual a
resistência diminui.

5 DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL

Após a apresentação e discussão de problemas que podem afetar a integridade física e


metalúrgica dos componentes e materiais que são objeto deste trabalho, passar-se-á
imediatamente à execução do desenvolvimento experimental, definindo-se as amostras, os
corpos-de-prova e os procedimentos de soldagem utilizados.
Conforme as explanações anteriores, serão ensaiados corpos-de-prova preparados com o
material ASTM A 335 Gr P5, aço de média liga, 5%Cr e 0,5%Mo.
A execução da soldagem deve seguir os procedimentos de fabricação, como já mencionado,
envolvendo as etapas de simulação da desgaseificação, preparação do material, pré-
aquecimento, soldagem propriamente dita, pós-aquecimento e tratamento térmico, que, em
conjunto seqüencial, serão consideradas como um “ ciclo” completo de soldagem.
Como premissa principal, admitir-se-á que o comportamento dos materiais obtido nos ensaios
mecânico-metalúrgicos se reproduzirá em escala real no conjunto em estudo, após a execução
das operações de soldagem seguindo-se todos os passos descritos.
A Figura 1 mostra o croqui básico, utilizado para a confecção das amostras para a soldagem.

1 ciclo = pré-aquecimento + soldagem


+ pós-aquecimento + tratamento térmico

. . P5 5" #6,6 mm AWS E 502-15

250 150 AWS E 502-15 é um elétrodo revestido básico


significado especialmente soldando os aços de 5%
Cr-0.5%Mo usados para as tubulações e os tubos
que são usados principalmente no produto químico,
- Tubo ASTM A 335 Gr P5 Diam. nominal 5” SCH 40 no óleo e nos setores petroleiros.
∅ Externo = 141,3 mm
∅ Interno = 128,1 mm
Espessura = 6,6 mm
Chanfro : ângulo 65o, abertura 3mm, altura do nariz 3mm

Figura 1 : Croqui da amostra básica. 3 passes. Não entendi o que é, então, um ciclo.
É a soldagem de um quadrante aplicando todas as
etapas descritas?
6 REGISTRO EXPERIMENTAL DA SOLDAGEM

O preenchimento do volume de solda do chanfro projetado para a junta foi completado após a
execução de 03 passes: raiz, e dois passes de enchimento. A Figura 2 mostra
esquematicamente o preenchimento da junta soldada.

ER 502 15

ER 502 15
Figura 2 : Conjunto soldado ( esquemático ).
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26604
7 PROGRAMAÇÃO DE ENSAIOS MECÂNICOS

Para o presente estudo, foram produzidas duas amostras, a primeira simulando o quarto ciclo,
e a segunda simulando o quinto ciclo completo de soldagem.
A série de ensaios programados para estas duas amostras, tem a finalidade de investigar as
propriedades mecânicas e a microestrutura do material em estudo, sob diferentes condições,
após terem sido submetidos a 04 e 05 ciclos completos de reparo, respectivamente.

MATERIAL DA AMOSTRA ANTES DA REALIZAÇÃO DOS “CICLOS” DE


SOLDAGEM
Para o material original, antes de ser submetido aos ciclos de soldagem, foram realizados os
seguintes ensaios :
a ) Análise Química
b ) Tração
c ) Impacto : “Charpy V” à temperatura ambiente
d ) Análise metalográfica
e ) Levantamento de medidas de dureza

AMOSTRA SOLDADA “D” : QUATRO CICLOS


Para a amostra submetida a quatro ciclos completos de soldagem, foram realizados os
seguintes ensaios :
a ) Análise macrográfica para definição das regiões : material de solda, zona
de diluição e zona termicamente afetada;
b ) Análise metalográfica e medidas de dureza na zona de solda após tratamento térmico;
c ) Ensaio de tração após tratamento térmico;
d ) Ensaio de impacto “Charpy V” na zona de solda após tratamento térmico;
e ) Microscopia eletrônica.
AMOSTRA SOLDADA “E” : CINCO CICLOS
Da mesma forma, para a amostra que sofreu cinco ciclos térmicos completos, foram
realizados os ensaios enumerados de ( a ) a ( e ) , no item anterior .

8 JUSTIFICATIVA TÉCNICA PARA A ESCOLHA DOS ENSAIOS

As propriedades mecânicas dos materiais prevêem o seu comportamento quando submetidos a


qualquer dos modos de solicitação estrutural, seja tração, compressão, torção, flexão ou
fadiga.
A escolha dos ensaios mecânicos, aplicados à análise proposta neste trabalho, objetivou o
conhecimento das características quantitativas dos corpos-de-prova soldados, que mostrassem
algum possível desvio de propriedades causado por alterações microestruturais, após a
realização da severa sucessão de ciclos de soldagem.
Os ensaios metalúrgicos propostos, visam a identificação de ocorrências a nível
microestrutural que pudessem justificar a alteração dos valores das propriedades mecânicas
investigadas, e também, a iniciação de qualquer manifestação diferenciada imprevista,
originada ou decorrente da grande quantidade de energia absorvida pela junta.

9 RESULTADOS DA ANÁLISE QUÍMICA E ENSAIOS MECÂNICOS

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26605
Os resultados obtidos na análise química e ensaios mecânicos são apresentados em forma de
tabelas para facilitar sua compreensão.
A Tabela 1 apresenta os resultados da análise química realizada com o material original
empregado na confecção das amostras para a soldagem dos ciclos sucessivos e os resultados
mostram o perfeito atendimento à especificação ASTM A 335 Gr P5, conforme previsto.
Não foram realizadas análises químicas para as amostras “D” e “E” , pois elas foram
produzidas do mesmo material original.
Composição química do eletrodo? e da zona fundida?

Elemento
C Mn Si P S Cr Mo
Condição
Especificação 0,15 0,30 0,50 0,030 0,030 4,00 0,45
ASTM A 335 Gr máx. 0,60 máx. máx. máx. 6,00 0,65
P5
Material 0,094 0,457 0,246 0,009 0,005 4,88 0,469 *P5 LPTS
Original 0,10 0,48 0,24 0,025 0,015 4,80 0,48

Tabela 1 : Dados da análise química realizada no material original [ % ] .

A Tabela 2 mostra os resultados obtidos nos ensaios mecânicos dos corpos-de-prova


submetidos a quatro e cinco ciclos completos de soldagem, incluindo na primeira coluna, os
resultados obtidos para o material original.
Da mesma forma, a Tabela 3 apresenta os resultados de microdureza realizadas nos corpos-de-
prova preparados para estes exames, após o tratamento térmico pós-soldagem ( com exceção
do material original ) .

10 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Face ao grande número de ciclos térmicos a que os corpos-de-prova foram submetidos, era de
se esperar que os resultados dos ensaios revelassem alterações significativas das propriedades
mecânicas, a ponto, inclusive, de se detectar possíveis indícios de total deterioração do
material. Entretanto, este receio parece estar superado, podendo-se destacar os seguintes
pontos principais na discussão dos resultados :
a ) O limite de resistência se manteve, praticamente, em valores bastante próximos em relação
ao do material original e mais ainda, se comparados à especificação ASTM A 335 Gr P5;
b ) Igualmente, os valores do alongamento, tanto para a amostra “D” como para a amostra
“E”, são equivalentes ou maiores que o do material original e bem superiores ao mínimo
especificado;
c ) Exceção é feita ao limite de escoamento que apresentou desvios, a menor, de cerca de
25% em relação ao material original, indicando que deve ter ocorrido uma significativa
precipitação de carbonetos, que ocasionou a diminuição da ductilidade.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26606
Corpo-de- Especificação Material Quatro Cinco *P5 LPTS
prova ASTM Original Ciclos Ciclos
A 335 Gr P5 “D“ “E“

Propriedade Fora da junta =


na ZAC?
Limite de Fora da Junta Fora da Junta Na junta = na
Resistência à 480,67 515,00 470,00 505,00 ZF?
Tração Na Junta Na Junta
579,79
[ N / mm2 ] 491,00 470,00
Limite de
Escoamento 264,86 272,00 197,00 202,00
[ N / mm2 ]
Alongamento
40
[%] 20 29 29 32
Impacto à
Temperatura
Ambiente “Charpy
V” [ J ]
Metal Base 1 Não requerido 154,00 45,00 89,00
2 - 89,00 57,00 128,00
3 - 151,00 55,00 148,00
M - 131,00 52,00 122,00

Centro Solda 1 - - 42,00 89,00


2 - - 40,00 78,00
3 - - 40,00 86,00
M - - 41,00 84,00

ZTA 1 - - 73,00 151,00


2 - - 84,00 75,00
3 - - 55,00 89,00
M - - 71,00 105,00

Tabela 2 : Resultados dos ensaios mecânicos .

Corpo-De- Especificação Material Original Quatro Cinco


Prova ASTM Ciclos Ciclos
A 335 Gr P5 “D“ “E“
Localização
Metal Base - 157 147 – 150 137 – 142
Eixo Superior
Metal Base 157 147 – 148 136 – 143
Eixo Central
Metal Base - 157 147 – 148 138 – 143
Eixo Inferior
ZTA - - 148 – 192 137 – 195
Eixo Superior

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26607
ZTA - - 157 – 192 142 – 188
Eixo Central
ZTA - - 171 – 192 144 – 175
Eixo Inferior
Centro da Solda - - 175 – 180 171 – 203
Eixo Superior
Centro da Solda - - 169 – 178 188 – 193
Eixo Central
Centro da Solda - - 172 – 180 164 – 168
Eixo Inferior

Eixo Superior : 1,5 mm Face ES Carga da indentação?


Localização da ZAC? Que dureza "baixa" na ZAC é essa???
Eixo Inferior : 1,5 mm Face EI Diferença de 30HV, como pode?
Eixo Central : Espessura / 2 EC

ES
EC
EI

Tabela 3 : Resultados dos ensaios de dureza [ Hv ] .

Os resultados da microscopia ótica, resumidos na Tabela 4, mostram regiões com grande


elevação do volume de carbonetos precipitados, tanto no contorno como no interior dos grãos,
no metal de base, zona termicamente afetada e zona fundida dos corpos-de-prova retirados das
amostras submetidas a quatro e cinco ciclos térmicos completos.
Este fenômeno já era esperado, uma vez que o material original foi submetido a uma intensa e
sucessiva ação do calor, proveniente dos ciclos térmicos de soldagem. A seqüência de Figuras
3, 4 e 5, por exemplo, que representa o material base em seu estado original, e após quatro e
cinco ciclos, respectivamente, já revela esta intensa precipitação acima mencionada.
Referindo-se, agora, às Figuras 6 e 7, correspondentes às zonas de fusão das amostras “D” e
“E” , respectivamente, nota-se uma acentuada presença de estruturas que se assemelham à
esferoidita, sugerindo a ocorrência de fenômeno de coalescimento.

Corpo-de-Prova Especificação Material Quatro Cinco


ASTM Original Ciclos Ciclos
Região Examinada A 335 Gr P5 “D“ “E“
Metal Base Matriz ferrítica, Matriz ferrítica, Matriz ferrítica, Matriz
com grãos de com grãos de com um grande ferrítica, c/ um
aumento de
perlita perlita volume de grande volume carbonetos nos
distribuídos distribuídos pela precipitação de de precipitação contornos
pela matriz e matriz, com a carbonetos de carbonetos
um volume de observação de dispersos pelos dispersos pelos
carbonetos pequena contornos e contornos e
precipitados quantidade de interiores dos interiores dos
nos contornos carbonetos grãos, grãos.
de grãos. [4 ] distribuídos pela
matriz.
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26608
Zona Matriz ferrítica, Matriz ferrítica,
Termicamente - - apresentando apresentando
Afetada grãos pequenos grãos pequenos,
com porém maiores
precipitação de que os obser- grãos menores que
carbonetos no vados no no MB, mas
5 ciclos grãos
contorno e corpo-de-prova maiores e mais
interiror dos subme- tido a precipitados que 4
ciclos
grãos, quatro ciclos de
solda- gem.
Pode ser
observada tam-
bém, precipita-
ção de carbo-
netos em grande
volume no com-
torno e interior
dos grãos,
Zona de Fusão Matriz ferrítica, Matriz ferrítica,
- - apresentando apresentando
grãos grandes, grãos grandes,
com grande com alto
volume de volume de grãos grandes,
precipitação de precipitação de 5 ciclos
precipitados
carbonetos por carbonetos por maiores
toda a matriz, toda a matriz
no interior e apresentando
contorno dos um tamanho
grãos, maior para os
preci-pitados,
em todo o
interior e com-
torno dos grãos,

Tabela 4 : Resultados da microscopia ótica realizada nos corpos-de-prova : material original,


amostras com quatro ciclos de soldagem e com cinco ciclos de soldagem .
Isto é possível se for lembrado que a etapa final de cada ciclo térmico se encerra com um
tratamento térmico de alívio de tensões, com temperaturas de patamar em torno de 7250C, o
que corresponde a um recozimento sub-crítico, podendo portanto levar ao coalescimento do
material em processamento.
Este fenômeno poderia explicar os relativamente baixos valores dos limites de escoamento
encontrados nos ensaios de tração das amostras “D” e “E” , embora os valores de alongamento
obtidos sugiram, ainda, a preservação de uma ductilidade bastante aceitável, mesmo após o
quarto e quinto ciclos de soldagem.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26609
Figura 3 : Micrografia realizada em um corpo-de-prova do material original, utilizado para a
realização da soldagem. Ataque Nital, aumento 500 X .

Figura 4 : Micrografia realizada em um corpo-de-prova no metal de base, após a submissão


do material original a quatro ciclos completos de soldagem.
Ataque Nital, aumento 500 X.

Figura 5 : Micrografia realizada em um corpo-de-prova no metal base, após a submissão do


material original a cinco ciclos completos de soldagem.
Ataque Nital, aumento 500 X .

Figura 6 : Micrografia realizada na zona fundida após a submissão do material original a


quatro ciclos completos de soldagem.
Ataque Vilella, aumento 1000 X.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26610
Figura 7 : Micrografia realizada na zona fundida, após a submissão do material original a
cinco ciclos completos de soldagem .
Ataque Vilella, aumento 1000 X .

d ) Embora não seja requisito exigido pela especificação do material em estudo, optou-se por
realizar uma série de ensaios de impacto “Charpy V”, à temperatura ambiente, pois a
tenacidade das diferentes zonas de solda dá uma boa idéia da ductilidade do material nas
regiões examinadas.
Voltando à Tabela 8, verifica-se que, em relação ao material original, os valores das energias
absorvidas pelo material base apresentaram uma queda, acentuadamente para a amostra “D” ,
que passou por quatro ciclos completos de soldagem .
Já para as regiões do centro da solda e ZTA, era esperada uma queda de tenacidade, o que
realmente aconteceu, ocasionada principalmente pela significativa precipitação de carbonetos
já mencionada anteriormente. Entretanto, a tendência de queda mais acentuada para a amostra
“D” continua inalterada, sugerindo que deve Ter havido uma diferença no grau de
coalescimento entre as duas amostras durante os ciclos de soldagem.
Para dirimir esta dúvida, as superfícies de fratura resultantes nos ensaios de impacto foram
examinadas por microscópio eletrônico de varredura, tendo seus resultados apresentados nas
Figuras 8, 9, 10 e 11.
As regiões examinadas foram o centro da solda e a ZTA, que apresentaram os valores de
energia absorvida mais reduzidos durante os ensaios de impacto, e o primeiro fato que chama
a atenção nas Figuras é o aspecto das fraturas ocorridas, todas de modo totalmente dúctil.
Além disso, uma comparação mais cuidadosa das Figuras 37 e 39 com as Figuras 38 e 40,
revela que, de fato, houve um grau de coalescimento diferenciado entre as amostras “D”e “E”
, fazendo com que tanto no centro da solda, como na ZTA, a quantidade de precipitação na
amostra “D” fosse maior que na amostra “E” , embora de menores dimensões. Assim, a maior
quantidade de carbonetos precipitados na amostra “D”, deve ter ocorrido para as diferenças
abservadas na condução dos ensaios de impacto.
Apesar das diferenças, não foram obtidas, nos ensaios de impacto, valores que poderiam ser
considerados preocupantes, situando-se, para o caso da amostra “D”, entre 40 a 70 Joule,
sendo o extremo superior o correspondente à ZTA, região em que, geralmente, os problemas
de fragilização são mais ativos.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26611
Figura 8 : Fratura dúctil ocorrida no corpo-de-prova durante o ensaio de impacto, no centro
da solda do material submetido a quatro ciclos de soldagem.
Observação feita em Microscópio Eletrônico de Varredura, com aumento de 2700 X ,
podendo ser observada a ocorrência de carbonetos dispersos no interior e contorno dos grãos.
Pode ser também observada um rede cristalina com a ocorrência de grãos relativamente
grandes.

Figura 9 : Fratura dúctil ocorrida no corpo-de-prova durante o ensaio de impacto no centro da


solda do material submetido a cinco ciclos de soldagem.
Observação feita em Microscópio Eletrônico de Varredura, com aumento 2700 X, podendo
ser observados carbonetos dispersos no interior dos grãos, com dimensões muito maiores que
os carbonetos observados para quatro ciclos. Nota-se que o tamanho do grão também é maior
e a quantidade de carbonetos observados é menor, caracterizando a maior quantidade de
energia absorvida.

Figura 10 : Fratura dúctil ocorrida no corpo-de-prova durante o ensaio de impacto na ZTA da


solda do material submetido a quatro ciclos de soldagem.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26612
Observação feita em Microscópio Eletrônico de Varredura com aumento 2700 X, podendo ser
observado um grande volume de carbonetos irregulares dispersos no interior e contorno dos
grãos.
Pode ser observado um misto de carbonetos, mas com predominância de pequenos. A rede
cristalina apresenta grãos pequenos.

Figura 11 : Fratura dúctil ocorrida no corpo-de-prova durante o ensaio de impacto na ZTA da


solda do material submetido a cinco ciclos de soldagem.
Observação feita em Microscópio Eletrônico de Varredura com aumento 2700 X , podendo
ser observados os carbonetos em menor número, porém bem maiores quando comparados aos
carbonetos visualizados na ZTA do corpo-de-prova soldado com quatro ciclos, assim como o
tamanho dos grãos.

e ) Quanto aos ensaios de microdureza, pode-se dizer, a princípio, que eles também
apresentaram uma boa coerência em relação aos resultados obtidos naos outros exames.
Assim, os valores mostrados na Tabela 9, para o metal base ( três primeiras linhas ) , revelam
uma redução pequena, mas sensível dos calores medidos, a partir do material original, e
caminhando-se em direção à amostra “E” . Este fato é indicativo da ocorrência de
coalescimento nas amostras “D” e “E” , uma vez que este fenômeno, regra geral, provoca uma
redução da dureza dos aços, sendo ele mais pronunciado na amostra “E”.
Esta tendência também se observa nos valores obtidos para as ZTA’s e os centros de solda das
amostras “D” e “E”, regiões em que , devido à maior concentração de precipitados,
apresentam durezas superiores às do metal de base, fato que, de certa forma leva à
confirmação dos resultados anteriormente analisados, em relação às características de
tenacidade e ductilidade das amostras em estudo.

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As análises efetuadas no capítulo 5 foram muito úteis para explicar os resultados dos ensaios
mecânicos e exames metalográficos realizados. A rigor, estes últimos serviram para elucidar
alguns fenômenos que se mostraram inconsistentes à primeira vista, como foram os dados
obtidos nos ensaios de impacto, já devidamente analisados.
De qualque maneira, em um estudo deste tipo, no qual um determinado aço Cr-Mo é
submetido a uma avalanche de ciclos, envolvendo uma seqüência de operações de soldagem e
distintos tratamentos térmicos, não é nada fácil traduzir as diversas relações de causas e
efeitos envolvidas nos fenômenos estudados. Assim, baseado nas análises conduzidas, as
seguintes conclusões parecem ser válidas como resultados deste trabalho de dissertação :

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26613
a ) Não houve grande variação nos valores dos limites de resistência e dos alongamentos,
mesmo na amostra submetida a cinco ciclos de soldagem;
b ) Embora os limites de escoamento das amostras submetidas a quatro e cinco ciclos de
soldagem tenham apresentado uma sensível redução em relação ao material original, os
exames metalográficos, principalmente a microscopia eletrônica de varredura, comprovaram
que elas conservam boas características de ductilidade e tenacidade;
c ) A ocorrência do fenômeno de coalescência explica as diferenças existentes nos resultados
dos ensaios mecânicos das amostras com quatro e cinco ciclos completos de soldagem. Isto
também é confirmado pelos resultados obtidos nos perfis de microdureza;
d ) A manutenção de todos os procedimentos especificados para os sucessivos ciclos de
soldagem é indispensável para a obtenção das prorpiedades desejáveis aos materiais
submetidos a até cinco ciclos, e
e ) Como corolário das quatro conclusões anteriores, e dentro dos limites do presente estudo, é
possível submeter o material analisado a até cinco ciclos de soldagem, ou seja, ele é capaz de
suportar até o limite de cinco reparos, sem apresentar problemas aparentes de deterioração.

Quanto às recomendações que poderiam ser lançadas em um trabalho deste tipo, referem-se
mais aos cuidados operacionais que devem ser tomados na realização dos reparos, sempre que
necessários durante a vida útil do equipamento.
Não obstante, do ponto de vista da continuação do presente estudo, as seguintes
recomendações parecem ser válidas :

a ) Estender a pesquisa para possibilitar uma maior número de reparos, mas antes precedida
por um cuidadoso estudo de custo-benefício, e
b ) Mais como uma advertência, manter proibida a realização de mais que cinco reparos, face
às incertezas técnicas que cercam a execução do sexto trabalho de recuperação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[ 1 ] REBELLO, J.M.A.. Aspectos Térmicos da Soldagem. Rio de Janeiro, notas de aula da disciplina “Metalurgia da
Soldagem” ministrada ao curso de Pós-Graduação UFRJ, 1989.

[ 2 ] ASM – AMERICAN SOCIETY FOR METALS - METALS HANDBOOK “Mettalurgical Instabilities - Failure Analysis and
Prevention” Volume 11 pg 266 , Ninth Edition, American Society for Metals, 1986 .

[ 3 ] PICKERING,F.B., “Physical Metallurgy and the disign of steels”, first edition , London, Appied Science Publishers
LTD, 1978.

[ 4 ] ASM – AMERICAN SOCIETY FOR METALS - METALS HANDBOOK “Microestructure of Low-Carbon Sheet Steel -
Atlas of Microestructures of Industrial Alloys - Pipe Steels ASTM A 335 ”, 8th edition American Society for
Metals, Second Printing, February 1973, Ohio, USA, February 1973.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 14., 2000, São Pedro - SP. Anais 26614

Você também pode gostar