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CAMPINAS
2019
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CAMPINAS
2019
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TESE DE DOUTORADO
COMISSÃO JULGADORA:
Profa. Dra. Mara Regina Lemes de Sordi
Prof. Dr. Luiz Carlos de Freitas
Prof. Dr. Pedro Ganzeli
Profa. Dra. Adriana Bauer
Prof. Dr. Elie George Guimarães Ghanem Júnior
Dra. Rita de Cássia Silva Godoi Menegão
A Ata da Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na
Secretaria do Programa da Unidade.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à Mara de Sordi, por ter orientado meu percurso acadêmico desde o
mestrado até o presente momento. Durante oito anos tive o privilégio de aprender com
seu profissionalismo, seriedade e integridade, que não prescindem do lado humano e
carinhoso, marcas características de sua conduta pessoal e acadêmica. Sou grata por
todo apoio, pelas discussões sempre frutíferas e instigantes, pelas palavras e gestos de
motivação e incentivo, por seus exemplos de atuação comprometida, por ter contribuído
imensamente com minha formação humana.
Aos meus amados pais, Celeste e Wanderley, que sempre me ajudaram em tudo
que precisei. Obrigada por todo amor, carinho e apoio, por serem meu porto seguro,
minha referência de esforço e superação. Ao meu irmão Mateus, que também esteve ao
meu lado nessa empreitada.
Ao Dirceu da Silva, por ter disponibilizado seu tempo para me ensinar o passo a
passo da construção do instrumento dessa pesquisa. Sua ajuda foi fundamental.
Ao Luiz Carlos de Freitas, por todos esses anos de aprendizado, por ser uma
grande referência de comprometimento, seriedade e pensamento crítico, por estar
sempre disposto a nos ajudar e a dialogar, por ter se empenhado em construir uma
referência de grupo que vai me acompanhar por toda minha trajetória. Obrigada também
pelas reflexões suscitadas na ocasião da defesa da tese.
À Rita Menegão, sou grata por sua participação em minha banca de defesa, pelas
belas palavras proferidas, pela amizade de anos, pelas trocas e parcerias acadêmicas, por
ser tão inspiradora.
À Sharon Gewirtz, que aceitou me receber no Kings´ College London para meu
estágio sanduíche. Sou grata pelas discussões instigantes, pelas indicações
bibliográficas, pela parceria de escrita, por ter acreditado no meu trabalho. Mais que
isso, obrigada pelo acolhimento na cidade e na universidade, pelos passeios, pelas dicas
e contatos, sem os quais minha estadia em Londres não teria sido tão proveitosa.
À Érika Moreira e à Sara Freitas, obrigada pela inestimável ajuda que me deram
quando cheguei em Londres para o período sanduíche do meu doutorado, por terem me
oferecido aquela sensação de amparo tão importante nesses momentos. Ao Yen-Hsiang
Huang, por ter me ajudado a decifrar os códigos e burocracias de uma universidade
inglesa, pelas ricas trocas de conhecimentos culturais e acadêmicos, pelo carinho e
amizade. À Karin e ao Klaus, que me receberam em sua casa de forma tão acolhedora,
sempre dispostos a uma conversa no fim do dia, a uma dica aqui outra ali sobre parques,
cinemas e museus, agradeço pelas trocas e aprendizados que vou levar para toda vida. À
Julia Malanchen, à Giuliana Almeida, à Patrícia Rocha e ao Rodrigo Alves, pelas novas
e velhas amizades fortalecidas em tempos difíceis em que estive me adaptando a outro
país e a uma nova fase da vida.
À Júlia Rizzi, amiga de infância, que mesmo longe sempre esteve tão próxima,
me incentivando a seguir em frente nos momentos difíceis e vibrando junto nas
conquistas e alegrias.
Aos membros das equipes gestoras e às(aos) professoras(es) das duas escolas de
campo, com destaque especial às duas professoras que coordenaram a CPA da Escola A
entre os anos de 2016 e 2017, os quais permitiram minha entrada nas escolas, e ao longo
da pesquisa foram muito solícitos respondendo às minhas dúvidas e compartilhando
seus saberes e experiências. Também agradeço às equipes gestoras e professoras(es) das
outras vinte e oito escolas da rede que aceitaram disponibilizar parte do seu horário de
trabalho para responder ao instrumento dessa pesquisa.
RESUMO
ABSTRACT
This thesis analyzes the relevance of the concept interpersonal and institutional trust to
understand the factors that affect public schools´ capacity for educational improvement.
There is a growing emphasis on how certain use of external evaluations, associated with
managerial strategies of competition and punishment/reward, has negative
consequences for assuring the right to education, and does not contribute to achieving
the intended goals of deep and lasting change. In the opposite direction to the
managerial mode of regulation, I assume that educational improvement depends on the
active involvement of the school community in processes of participatory institutional
evaluation (AIP), characterized by the principles of social quality, negotiation and
shared responsibility. Hence the aim of the thesis is to analyze how the faculty trust in
colleagues, parents, the management team, and the Municipal Department of Education,
is associated with democratic processes of quality negotiation, in the context of the
Education System of Campinas where an AIP policy has been taking place. In order to
accomplish that, the quanti-qualitative methodological approach involved interviews,
observation in two schools and the construction and validation of an instrument to
measure institutional and interpersonal trust. I argue that the participation of school
subjects in the construction of common purposes committed to social quality depends
on strengthening an specific type of trust based not only on the dynamics of reciprocity,
as predominantly featured by the literature, but also on recognition and redistribution.
Key-words: trust - participatory institutional evaluation - public school - recognition -
redistribution
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LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira Definição e Escala Likert sobre Confiança na Escola ......................... 104
Quadro 2 - Facetas da Confiança segundo Hoy e Tschannen-Moran ................................... 106
Quadro 3- Escala representativa da corrente de Wayne Hoy ................................................ 107
Quadro 4 - Tipos de Reuniões Observadas em Campo......................................................... 129
Quadro 5 - Professores entrevistados na fase exploratória ................................................... 132
Quadro 6 - Instrumento Confiança (primeira versão) ........................................................... 139
Quadro 7 - Juízes da Validação Conceitual .......................................................................... 146
Quadro 8 - O Modelo Testado: relação entre constructos e variáveis .................................. 154
Quadro 9 - Itens descartados no Teste AVE ......................................................................... 157
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LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 18
INTRODUÇÃO
objetivos supostamente consensuais que teriam sido impostos por algum grupo
específico dentro da escola? O que me instigava naquela realidade era entender os
movimentos dialéticos de verticalização/participação, mudança/manutenção, como parte
de um processo dinâmico de construção coletiva.
A pesquisa de campo mostrou que a existência de espaços, apesar de
extremamente necessária, não foi suficiente para garantir a ampla participação de todos
os segmentos na formulação do PPP daquela escola (OLIVEIRA, 2013). Havia um
“núcleo duro” de professores antigos que ingressaram na escola no início da formulação
do Projeto em 2004, e de familiares pertencentes a extratos sociais superiores, que
tomavam as decisões relativas a procedimentos e conteúdos de ensino, enquanto os
alunos em geral, familiares das camadas populares e professores recém-chegados
tendiam a ser excluídos do processo. Esses achados vieram a se somar a outros da área
que discutiam, entre outras questões, a dificuldade de envolver alunos e famílias nas
tomadas de decisões pedagógicas, seja porque os profissionais da escola resistem a
compartilhar sua área de domínio pedagógico com leigos; seja porque as famílias não se
sentem à vontade para expor suas opiniões diante de pessoas com maior status que o
seu; ou mesmo devido às condições objetivas de vida, e subjetivas de desvalorização da
construção de sentidos coletivos. Documentou-se também a resistência dos próprios
professores em tirar proveito dos momentos de trabalho coletivo, uma vez que estes
tendem a ser vistos como entraves burocráticos ou perda de tempo (GHANEM, 1996;
OLIVEIRA, 2004; PARO, 2003; GEWIRTZ, 1997; BARRETO & NOVAES, 2016).
Além da participação propriamente, tais pesquisas também analisaram os
conteúdos das tomadas de decisões nos espaços avaliativos e deliberativos,
identificando dificuldades dos colegiados em abordar coletiva e sistematicamente
questões pedagógicas relativas às práticas docentes, ao currículo e procedimentos de
ensino; em formular claramente os problemas de caráter pedagógico e equacionar
medidas que contribuam para sua superação; em utilizar índices de rendimento
(externos ou elaborados pela escola) como base para proposição de alternativas de ação
pedagógica.
Dessa forma, ainda que a gestão democrática já tenha sido regulamentada,
percebe-se que a realidade de trabalho de muitas escolas permanece pautada, grosso
modo, no isolamento, hierarquização, e em discussões superficiais que não tocam os
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1
Deve-se considerar que a existência de determinações legais não significa sua implementação de fato, o
que pode ser exemplificado com a grande quantidade de redes que ainda não implementa integralmente a
Lei do Piso Salarial Profissional Nacional nº 11.738 de 2008.
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“capital social”, formado nas relações entre professores, e entre estes e o diretor e as
famílias dos alunos, que depende do julgamento que os professores fazem em relação às
ações e intenções do outro. É preciso que o outro lado da relação cumpra determinadas
expectativas de respeito, consideração, competência e integridade para que a confiança
entre esses segmentos se aprofunde. Os pesquisadores defendem que o grande ganho do
aprofundamento das relações de confiança é fortalecer as condições organizacionais
propícias ao trabalho cooperativo, o que por sua vez influencia a conquista de melhores
resultados acadêmicos para os estudantes (proficiência em língua inglesa e matemática).
Essa pesquisa instigou meu interesse em investigar a pertinência do conceito
“confiança relacional” para entender os entraves e potencialidades da implementação de
uma política democrática brasileira, precisamente a política de Avaliação Institucional
Participativa (AIP) nas escolas de ensino fundamental da Rede Municipal de Campinas
(RMC). A intenção foi entender se e como a “confiança” poderia ajudar a explicar por
que as escolas dessa rede, igualmente submetidas à política, apresentavam níveis
diferenciados de apropriação dos princípios da AIP, como inicialmente documentado
por Sordi et al. (2013).
A proposta de avaliação institucional participativa vem sendo desenvolvida
desde 2003 na rede municipal de Campinas através de uma rede colaborativa entre
escolas, gestores da Secretaria Municipal de Educação (SME) e pesquisadores do grupo
LOED da Faculdade de Educação da UNICAMP. Devido à legitimidade política
decorrente dessas parcerias, em 2008 a proposta de AIP foi elevada à condição de
política pública, sendo implementada nas quarenta e quatro escolas de ensino
fundamental da RMC. Ao longo desse percurso, o grupo LOED vem acumulando uma
série de investigações sobre o processo de construção e implementação dessa política,
buscando entender suas fragilidades e potências e os efeitos que produz sobre a
aprendizagem política da participação, sobre o fortalecimento das responsabilidades das
variadas instâncias e atores, e sobre o conhecimento social em torno do que é e do que
afeta a qualidade educacional.
A AIP foi proposta pelo LOED como tentativa de oferecer uma alternativa aos
pressupostos e efeitos das reformas gerenciais2 que começavam a adquirir
preponderância no cenário educacional brasileiro na década de 1990. As avaliações
externas em larga escala de desempenho acadêmico dos estudantes assumiam
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Utilizaremos aqui “reformas gerenciais” e “reformas empresariais” como sinônimos.
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uma concepção coletiva do trabalho escolar assente nos princípios da qualidade social,
negociação e responsabilização compartilhada.
Guiada por esse objetivo, defenderei um tipo específico de confiança, pautado
nos pilares da reciprocidade, redistribuição e reconhecimento, como um fator associado
aos processos democráticos de negociação da qualidade, comprometidos com o alcance
de propósitos comuns socialmente justos que façam frente à fragmentação e aos
interesses mercadológicos alinhados à lógica gerencial.
Para tanto, a presente tese organiza-se em cinco capítulos mais as considerações
finais. No capítulo I, explico de forma mais aprofundada quais são os limites das
reformas empresariais da educação pública e por que é necessário desenvolver um modo
de regulação democrática que supere essas limitações. Apresento então mais
detalhadamente o histórico, princípios e formatos da política de AIP construída como
alternativa na rede municipal de Campinas. Finalizo esse capítulo com algumas
considerações sobre o processo de implementação dessa política, salientando as
potências e dificuldades da participação democrática como um todo.
Começo o capítulo II com a origem da problemática da confiança dentro da
teoria sociológica mais ampla, partindo do pressuposto de que é preciso, primeiro,
entender quais motivações têm suscitado o interesse geral no tema, para depois fazer
ponte com sua abordagem dentro da área educacional especificamente. Concentro
especial atenção em primeiro explicar e depois problematizar os limites da perspectiva
teórica do “capital social”, pois essa é a forma predominante pela qual a confiança tem
sido concebida, inclusive pelas teorias educacionais. Por outro lado, dedico-me a
explicar detidamente a confiança enquanto política de solidariedade, legitimidade e
tolerância, por acreditar que tal perspectiva defendida por Barbara Misztal, ao trazer a
categoria da negociação para o centro do debate, pode começar a oferecer uma
alternativa à do “capital social”. Por fim, apresento as duas correntes internacionais
principais que pautam o debate sobre confiança nas escolas.
O capítulo III dedica-se a explicar os limites das abordagens que entendem a
confiança nas escolas como um recurso de “capital social”, para depois desenvolver
como os pressupostos da avaliação institucional participativa podem oferecer uma base
teórica, no campo da educação, para superação desses limites. Aqui aproveito para
expor o objetivo geral e os específicos, e anuncio a tese que os dados empíricos, em
diálogo com o referencial teórico, me permitiram defender.
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4
Com a introdução do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB).
5
Emanadas, sobretudo, do Banco Mundial e da Conferência Mundial sobre Educação para Todos,
realizada em Jomtien, Tailândia, em março de 1990.
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forma positiva. Ao especificar de forma mais clara o que e como ensinar - através, por
exemplo, de estratégias de avaliação e observação de práticas de sala de aula pelos
pares, elaboração de planos de desenvolvimento pelas escolas e estabelecimento de um
currículo nacional -, a reforma teria criado um ambiente estrutural propício ou trazido
em seu bojo a necessidade de práticas colaborativas nas escolas, aproximando
professores entre si e com a comunidade mais ampla, sem o que a implementação das
prescrições da reforma é dificultada ou mesmo impossibilitada. Ele reforça, portanto,
que o sentido das reformas postas em marcha pelo Education Reform Act na Inglaterra é
teoricamente incompatível com a tradicional cultura de isolamento docente, fazendo
emergir uma possível cultura de “desenvolvimento profissional” em íntima dependência
do “desenvolvimento institucional” (HARGREAVES, 1994).
No entanto, pesquisas nacionais e internacionais têm apontado que essas
promessas não se concretizaram de forma tão positiva, pois apesar das previsões de que
as estruturas da reforma empoderariam professores e escolas fazendo-os gozar de um
clima de colaboração e satisfação profissional, há relatos de que as políticas gerenciais
significaram mais stress, insatisfação, individualismo, controle verticalizado sobre o
trabalho docente, e menos sociabilidade e cooperação entre os membros da comunidade
escolar. As classes mais lotadas devido aos cortes de verba, a sobrecarga de trabalho
burocrático e a ênfase no desempenho final em detrimento dos processos, faz com que a
construção íntima e processual da relação professor-aluno ceda lugar a um tipo de
relação de linha de produção (GEWIRTZ, 1997). Na relação entre professores, se por
um lado eles estão se encontrando mais - inclusive muitos reclamam da sobrecarga de
encontros -, por outro lado eles estão se sociabilizando menos, pois em geral esses
encontros são para discutir pautas postas pelos gestores das escolas, que respondem às
exigências da agenda de reforma (GEWIRTZ, 1997).
Outro fator que gera menor sociabilidade nas escolas é a competitividade entre
departamentos de uma mesma escola, que precisam elaborar projetos para concorrer em
programas de financiamento, no caso inglês (GEWIRTZ, 2002; BALL, 1994).
Pesquisas brasileiras documentam que o aumento da competitividade no Brasil está
mais ligado ao recebimento do bônus. Quando o pagamento é individualizado, medidas
como a exposição pública da frequência dos professores os colocam em relação de
competição entre si no interior da escola (SILVA, 2018), e quando o pagamento é
coletivo, tende a gerar competição entre escolas, o que também pode minar a
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graus de dificuldade devem ser analisados mais de perto, caso a caso, pois o grau e a
forma como essas tendências gerais se concretizam dependem de alguns fatores, como a
ideologia dos agentes individuais envolvidos, o contexto sócio-econômico no qual cada
escola se insere, e a própria posição que a escola ocupa na hierarquia de mercado,
sendo, por exemplo, maior a margem de agência dos atores em escolas beneficiadas
com mais recursos (GEWIRTZ, 1997).
De qualquer forma, esses achados de pesquisa têm motivado pesquisadores e
educadores a indagar que tipo de qualidade educacional está sendo alcançada com a
introdução dos princípios e práticas de mercado na educação pública, e quem de fato
está se beneficiando disso. Quem parece ganhar são as empresas e o mercado
financeiro, que se aproveitam cada vez mais do lucrativo mercado no qual a educação
foi transformada (BALL, 2004; FREITAS, 2012b); quem perde são os professores,
vistos cada vez mais com desconfiança e desvalorizados perante a sociedade, e os
alunos - sobretudo os provenientes das classes sociais mais desfavorecidas - que
frequentam uma escola pública empobrecida, com infraestrutura precária e formação
restrita ao básico, àquilo que é esperado nos postos de trabalho mais simples
(FREITAS, 2012b). Quando escolas e estudantes são valorizados de acordo com custos
e resultados, transformados em mercadorias e consumidores, e encorajados a competir
por posições de vantagem em relação aos outros, o resultado é o aumento da divisão,
hierarquia e desigualdade no sistema educacional e na sociedade, e a naturalização da
lógica dos “vencedores versus perdedores” (BALL, 1994, 2003; GEWIRTZ, 2002;
RANSON, 2018; FREITAS, 2002, 2007).
Stephen Ball (1994; 2005), Stewart Ranson (2018) e Sharon Gewirtz (2002)
reforçam que o modelo gerencial de regulação promove uma nova ética de mercado que
valoriza determinados comportamentos e valores em detrimento de outros. No âmbito
de uma matriz de avaliações, comparações e incentivos relacionados ao desempenho, os
indivíduos e as organizações farão o que for necessário para se distinguir ou sobreviver,
remodelando-se à imagem daquilo que se espera deles, o que envolve pautar suas
práticas pelos valores morais do individualismo competitivo e do interesse privado,
elevado à condição de principal motor da vida. Deixa de ser importante, por exemplo, o
quanto todas as escolas estão providas com recursos suficientes; o que importa é se a
‘minha’ escola se destaca em relação às outras. Deixa de ser importante que todos os
professores desfrutem de condições adequadas de trabalho, ou que todos os alunos se
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desenvolvam de forma plena; o que importa é que a ‘minha’ escola atinja uma média de
desempenho elevada e ‘eu’ ganhe ‘meu’ bônus no final do mês.
A preocupação central das políticas governamentais passou da maximização do
bem-estar geral para a promoção de empresas, a excelência e a lucratividade tanto no
setor privado como no público (BALL, 2004). Nessa lógica, novas formas de disciplina
são instituídas pela competição, eficiência e produtividade, e novos sistemas éticos são
introduzidos com base no interesse próprio da instituição, no pragmatismo e no valor
performativo. Essas mudanças, que instituem uma nova era denominada pelos autores
de “pós-bem-estar”, acabam por erodir o compromisso com os princípios da
integridade, da justiça social, do respeito igualitário, do profissionalismo ético e
reflexivo, tornando obsoleta e menos importante a busca coletivamente deliberada pelo
“bem comum” (BALL, 1994; GEWIRTZ, 2002; RANSON, 2018). Este, na verdade,
passa a ser visto como resultado não planejado de um agregado de escolhas e bens
privados.
Na era do “pós-bem-estar”, a ética da competição e da “performatividade” estão
pautadas pela lógica da razão instrumental, que substitui a ética da cooperação e o
compromisso humanístico do verdadeiro profissional, capaz de julgamento crítico e
reflexão, pela “promiscuidade do profissional técnico” - o gerente - que é recompensado
pela sua “esperteza” e pela medida em que consegue atender às exigências funcionais
ou instrumentais do sistema, seja por qual meio for (BALL, 2005). Nessa lógica, as
ações e relações são pautadas por uma “moralidade fraca”, esvaziada, meramente
utilitária, que se opõe a uma “moralidade robusta” caracterizada por valores
compartilhados e interesses comuns (BALL, 1994).
Diante desse quadro, Stewart Ranson (2018) lança a pergunta: como podemos
resistir à cultura do individualismo predatório exacerbada com o ethos neoliberal e
começar a articular uma concepção de bem comum que valorize a justiça social, a
solidariedade e o reconhecimento da capacidade de todos os cidadãos? Nesse contexto
em que a cultura do interesse privado está prevalecendo sobre a busca deliberada do
interesse público, levando a uma sociedade extremamente estratificada na qual impera a
desigualdade cultural, social e econômica, a autora defende que é necessário reconstruir
a socialdemocracia, fortalecendo sua esfera pública de deliberação, reflexão e diálogo.
Ranson (2018) parte do pressuposto de que a democracia é essencial para
construção de bens comuns socialmente justos. Os bens comuns incluem desde serviços
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públicos como a iluminação pública das ruas de uma cidade, a virtudes morais e
políticas que servem ao propósito de desenvolver o bem-estar de todos. Em relação a
essa última categoria, ela sublinha três “bens comuns” necessários para a recriação da
socialdemocracia. Primeiro, o “reconhecimento mútuo”, baseado no pressuposto que os
indivíduos são seres relacionais cujo senso de identidade, capacidade e autoestima se
desenvolve através de um processo de encontro e comunicação, pelo qual são
reconhecidos pelos outros e reconhecem os outros em troca. Segundo, a “razão
pública”, que é uma linguagem de racionalidade característica da comunicação pública
guiada pelos princípios da veracidade, integridade, razoabilidade e validade
argumentativa. Terceiro, as práticas cooperativas da socialdemocracia vão depender da
“igualdade prática” entre os cidadãos, o que implica maior igualdade tanto na
distribuição material de riquezas quanto no reconhecimento do valor das pessoas. A
menos que os cidadãos sejam reconhecidos como iguais em sua humanidade, o espaço
da experiência comum não será valorizado.
A construção desses bens comuns exige espaços públicos democráticos de
participação e deliberação, caracterizados por um comprometimento com a linguagem
da “razão pública” e da civilidade, nos quais os cidadãos possam discutir e acordar
propósitos comuns como a distribuição de funções e recursos. Para que essas
disposições sejam realizadas, eles precisam gozar de condições materiais de base
igualitárias e de um reconhecimento igualitário de sua humanidade. Isso não significa
abolir as diferenças entre as pessoas. As diferenças precisam ser celebradas, desde que
não impliquem desigualdade no reconhecimento da humanidade de cada um, não
neguem respeito aos outros e aos bens comuns, e não conduzam à opressão de uns sobre
os outros (RANSON, 2018).
Percebe-se que o argumento incorre em certa circularidade: os bens comuns do
“reconhecimento mútuo”, “razão pública” e “igualdade prática” são condições
necessárias para recriação da democracia, e ao mesmo tempo devem ser construídos
pela deliberação pública nos espaços democráticos.
Nancy Fraser (2003) nos permite entender as razões dessa circularidade.
Primeiramente, ela postula que o “reconhecimento” é a dimensão cultural da busca por
justiça social, que, em conjunto com a esfera da distribuição de bens e recursos
provenientes da estrutura econômica, tem como objetivo garantir a “paridade
participativa”, ou seja, que todos os membros da sociedade possam interagir entre si
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como pares. Como Ranson (2018), ela também reforça que a busca por reconhecimento
e redistribuição só pode ocorrer por meio de processos democráticos de deliberação, que
se baseiem na paridade participativa como critério de razão pública, e nos quais os
demandantes possam discutir como as atuais normas culturais e arranjos econômicos
negam-lhes injustamente as condições intersubjetivas e objetivas para sua participação
plena na vida social, e como sua substituição por novas normas e arranjos pode
representar um avanço em direção à conquista da paridade participativa. Ou seja, essas
interações sociais pautadas pelo diálogo e razão pública constituem condição essencial
para acabar com padrões econômicos e culturais injustos que institucionalizam a
depreciação das pessoas, a exploração, as disparidades de renda, riqueza e tempo de
lazer.
Por outro lado, a possibilidade dessa discussão pública para alcance da justiça
social requer as condições da distribuição justa e do reconhecimento recíproco. Ou seja,
é preciso que as pessoas já gozem de respeito igualitário e de recursos suficientes para
terem sua independência e voz garantidas nos processos de deliberação democráticos.
No entanto, Fraser (2003) defende que tal circularidade não reflete uma
deficiência teórica, apenas expressa o caráter reflexivo dessa perspectiva democrática.
Ou seja, a justiça social não é um requerimento dado a priori; ao invés, ela é
socialmente construída, de forma que seus destinatários também são seus autores.
Considerando o poder de agência dos sujeitos, mesmo uma sociedade capitalista - que
jamais permitiria poder real de decisão às classes dominadas (WOOD, 2003) - contém o
germe das possibilidades de ruptura via diversas formas de participação na arena
pública, que vão desde os movimentos sociais às instituições participativas. Não se
trata, portanto, de abolir a circularidade na teoria, mas de trabalhar progressivamente
para aboli-la na prática através da transformação social provocada pelos próprios
sujeitos.
Por fim, Ranson (2018) reforça que as forças imperativas do mercado, ao
valorizarem o individual em detrimento do coletivo e demolirem as estruturas
democráticas - como as autoridades públicas comunitárias - que provêm políticas
coadunadas ao bem comum, conduzem a uma situação de aumento da desigualdade
econômica e falta de reconhecimento mútuo, o que de alguma forma se aplica a todas as
sociedades ocidentais dominadas pelo ethos neoliberal mercadológico.
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É crescente o escopo de autores que questionam o pressuposto por trás das atuais
iniciativas de reforma verticalizadas de que a melhoria da qualidade resulta de pressão,
punição e accountability externa.
Fullan (2009), Mclaughlin (1987), Forsyth et al. (2011) e Bryk & Schneider
(2002) partem do pressuposto de que a melhoria da qualidade escolar é um processo
social, que não pode ser reduzido à adoção de pacotes ou prescrições externas. Eles
defendem que se desloque o foco das políticas para o apoio a condições que permitam o
desenvolvimento da capacidade humana e social, uma vez que são as pessoas e relações
os principais responsáveis por conduzir processos de melhoria. Para eles, a mudança
educacional sustentável é um empreendimento coletivo e colaborativo, que necessita do
envolvimento ativo de todos os membros da comunidade escolar, inclusive professores,
na apropriação dos sentidos da mudança. Para que práticas e crenças sejam de fato
modificadas, é necessário que os professores participem de interações sociais pautadas
pela confiança, pelo apoio mútuo, pelo reconhecimento, pela aprendizagem e
responsabilidade coletivas, nas quais se discute o desenho da reforma e se chega a
acordos quanto aos objetivos e planos de ação.
Patrick Forsyth, Curt Adams e Wayne Hoy (2011) reforçam que as reformas de
accountability verticalizadas, ou os modelos de avaliação de alto-impacto, caminham na
contramão dessa tendência, acabando por minar a possibilidade de construção de
interações sociais pautadas pela confiança. Isso porque essas reformas se baseiam em
medidas limitadas de qualidade; usam os resultados dessas medidas para promover
avaliações taxativas; transformam o processo de avaliação num jogo estatístico que
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tipo dessa instrução. Esse movimento instaura uma contradição entre educar e explorar,
cuja resolução parecia estar na centralidade que a avaliação assumia nas políticas
públicas educacionais, uma vez que a avaliação é o mecanismo que permite controlar os
objetivos, os métodos e conteúdos da escola (FREITAS, 2012a).
A temática da “avaliação” se tornou, assim, categoria central de análise do
LOED a partir da década de 1990, entendida como a chave tanto para compreender os
mecanismos de reprodução de desigualdades - permitindo desvelar os objetivos reais da
escola e não somente os proclamados - quanto para transformar a escola.
À época, Freitas (2012a) analisava como a avaliação da aprendizagem em sala
de aula é uma das categorias centrais da organização da escola capitalista, encarregada -
se nenhum movimento contrário for feito - de legitimar a exclusão e subordinação dos
alunos cujo capital cultural mais se distancia daquele valorizado pela escola. Isso ocorre
por meio tanto das avaliações formais da aprendizagem, manifestas nas notas/conceitos,
quanto das informais, caracterizadas pelos juízos de valor que o professor faz sobre
comportamentos e atitudes dos alunos. Juntas, elas cumprem a função de sancionar
determinadas posturas, conteúdos, valores e excluir outros que não estejam em
conformidade com aqueles desejados pela escola, o que acaba por produzir um processo
de “eliminação adiada” das classes populares no interior do sistema educacional
(FREITAS, 2007).
Em relação à avaliação externa em larga escala, ele defendia que o emergente
sistema nacional de avaliação e os usos dele que se anunciavam, no bojo do que ele
chamou de reforma “neoliberal/neotecnicista”, já traziam os ingredientes para
“desenvolver-se um programa puramente de adequação da escola pública brasileira às
necessidades do capitalismo contemporâneo”, o que provocaria entrega da educação
pública aos interesses privados e aumentaria a exploração da classe trabalhadora
(FREITAS, 2012a).
Já nessa época, Freitas (2012a) estava atento às pesquisas internacionais e
apontava indícios de que as avaliações externas e as políticas a elas associadas não
contribuiriam para a melhoria efetiva da qualidade social oferecida pelas escolas à
população em geral. O LOED considerava, então, que o momento era importante tanto
para desenvolver uma investigação a respeito das possibilidades e limitações desse tipo
de política de avaliação no campo da educação, quanto para refletir sobre propostas
alternativas que pudessem superar as limitações observadas.
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“longa história de pensá-los como sub-humanos”, o que implica disputar a forma como
os coletivos populares são retratados nos conteúdos curriculares.
Isso também implica reconfigurar os processos de gestão da escola. É por isso
que a AIP defende não só a participação dos professores, mas também dos alunos e suas
famílias nas tomadas de decisão relativas à formulação e avaliação do projeto político-
pedagógico da escola. A escola e o currículo tornam-se, assim, um campo democrático
de negociação pelos sentidos e concepções de educação e de qualidade. Isso não
significa desvalorizar o saber dos profissionais da educação, mas ajudar esses
profissionais a construir seus saberes em diálogo com os usuários do sistema
educacional, o que supõe “deixar de pensá-los e tratá-los como folhas em branco, como
contas bancárias ou como sem experiências, sem indagações, sem modos de pensar e de
pensar-se” (ARROYO, 2011, p.286,).
Na contramão dessa concepção bancária, a perspectiva emancipatória considera
as experiências sociais, vivenciadas cotidianamente por professores, alunos e suas
famílias, como a base viva que levanta indagações, angústias, questionamentos, que são
os motivadores da produção histórica do conhecimento, no passado e no presente
(ARROYO, 2011; FREIRE, 2011). Tais experiências, no entanto, não bastam por si
mesmas, ou seja, elas devem necessariamente entrar em diálogo entre si e com os
saberes acumulados historicamente para negociar os sentidos do conteúdo e da
qualidade educacional. Como lembra Freitas (2010, p.97), as experiências e práticas
sociais “ora precedem e ora corporificam o conteúdo escolar que deve avançar em
direção à análise, sistematização e teorização em níveis mais elevados de
compreensão”, que permitam compreender a totalidade da realidade social e suas
contradições como condição para sua superação.
Vale ressaltar que as reformas empresariais não caminham nesse sentido da
qualidade social e da formação humana. Considerando que o fim último da educação é
favorecer uma vida com maior satisfação individual e melhor convivência social, Paro
(2000) denuncia a incapacidade da escola de realizar uma educação comprometida com
o efetivo bem viver dos educandos e com uma sociedade mais humana e justa, uma vez
que as políticas públicas hegemônicas estariam se preocupando mais com resultados de
testes e com a meta de preparar para o mercado de trabalho.
Hoje, a principal falha da escola com relação à sua dimensão social parece
ser a omissão na função de educar para a democracia. Sabendo-se da
gravidade dos problemas e contradições sociais presentes na sociedade
49
guiadas por uma concepção de qualidade socialmente relevante, que não esteja restrita a
servir aos interesses de mercado.
Uma proposta de AIP nesses moldes começou a se desenvolver a partir de
discussões entre os gestores da Rede Municipal de Educação de Campinas e os
pesquisadores do grupo LOED. Iniciadas em 2002, elas foram impulsionadas, por um
lado, pela vontade da então Secretária de Educação de construir uma política
democrática de avaliação que pudesse oferecer alternativa ao modelo hegemônico
vigente no país, e, por outro, pelo engajamento histórico do LOED em defesa da
educação pública.
Essas discussões levaram à criação, em 2003, do Conselho Gestor de Avaliação
da Rede Municipal de Campinas, um espaço de negociação que marcou o começo da
parceria entre o LOED e a Secretaria Municipal de Educação. À criação do Conselho
seguiu a formulação de uma Carta de Princípios em 2005, cujo conteúdo foi
amplamente debatido e validado em audiências públicas nas quais estiveram presentes
as equipes gestoras das escolas. Basicamente, a Carta de Princípios abarcava um
conjunto de princípios relacionados à avaliação institucional participativa, incluindo as
concepções de qualidade e de avaliação que orientariam as ações políticas e discussões
subsequentes. O propósito era estabelecer as bases éticas da proposta que começava a se
desenhar, garantir transparência e legitimidade e deixar claros os compromissos e
intenções subjacentes.
O desenho do modelo de AIP começou a se tornar mais estruturado em 2005
quando o LOED se envolveu no Projeto Geração Escolar 2005 (Geres) - Estudo
Longitudinal sobre Qualidade e Equidade no Ensino Fundamental Brasileiro, financiado
pelo governo federal e a Fundação Ford e conduzido em 312 escolas espalhadas em
cinco grandes cidades brasileiras, entre elas as escolas da rede municipal de Campinas.
Assente sobre a perspectiva do valor-agregado, o estudo mediu a proficiência em
Português e Matemática de 35.538 estudantes cujo desempenho foi rastreado ao longo
de um período de quatro anos. O estudo também coletou informações variadas sobre os
estudantes e suas famílias, professores, diretores e escolas, com objetivo de identificar
as variáveis que afetam o aprendizado dos estudantes, particularmente aquelas
relacionadas à origem socioeconômica, às práticas pedagógicas de sala de aula e
condições estruturais da escola.
51
formas criativas de pensar e intervir na realidade, o que, por sua vez, contribuirá para
fortalecer o compromisso de todos com o trabalho e desenvolvimento da escola.
A Carta de Princípios (Freitas et al., 2009), mencionada anteriormente, resume
como os conceitos de “avaliação” e “qualidade” são concebidos nessa perspectiva:
Qualidade, portanto, não deve ser vista apenas como ‘domínio de português e
matemática’, mas, além disso, incluir os processos que conduzam à
emancipação humana e ao desenvolvimento de uma sociedade mais justa.
Neste sentido, a qualidade da escola depende, também, da qualidade social
que se consegue criar no entorno da escola. A escola não pode dar conta de
gerar eqüidade se fora dela se gera ineqüidade, desigualdade, violência,
insegurança e revolta. Não menos importante, portanto, é a dimensão
emancipadora dos processos avaliativos que visa inserir os professores e as
crianças em seu tempo e espaço, bem como dotá-las de capacidade crítica e
criativa para superar seu tempo – a capacidade de auto-organizar-se para
poder organizar novos tempos e espaços.
7
A CPA é uma instância colegiada de caráter avaliativo que foi regulamentada pela Resolução SME nº
05/2008, cuja realização deve ser minimamente mensal, podendo realizar-se quinzenal/semanalmente
mediante as demandas/necessidades.
8
Os profissionais recebem uma hora adicional chamada Hora Projeto (HP) para comparecer a essas
reuniões.
56
9
O Conselho de Escola é uma instância deliberativa que foi instituída em Campinas com a Lei 6.662 de
10 de outubro de 1991, e nacionalmente com a LDBEN 9.394/1996.
10
Considerando o período de coleta de dados da presente pesquisa, que vai até julho de 2017.
11
Os NAEDs são a parte descentralizada da Secretaria Municipal de Educação. Há cinco NAEDs em
Campinas, cada um sendo responsável por um grupo de escolas que pertencem a mesma área geográfica.
Sua responsabilidade é estabelecer uma relação mais próxima entre a esfera central e as escolas, com
objetivo de zelar pela implementação das políticas públicas municipais.
57
12
Os resultados da primeira pesquisa (2009-2012) foram relatados em Sordi et al. (2013). Os resultados
da segunda pesquisa (2013-2017) podem ser encontrados em Sordi et al. (2017), também disponível
online no e-book https://www.editoranavegando.com/qualidade-s-da-escola-publica, acesso em
09/01/2019.
13
Na prática, algumas escolas acabaram cumprindo a função da CPA no espaço do Conselho de Escola.
Esse fato não foi necessariamente mal visto pelos idealizadores da política, pois se considerou que o mais
importante é estarem cumprindo a função avaliativa nos espaços encontrados para tal. Para discussão
mais detalhada sobre essas questões, ver Sordi et al. (2016).
58
CPAs puderam discutir e negociar com o poder central suas metas e necessidades, além
de terem sido um espaço de aprendizagem do exercício da participação (Sordi, 2012b).
Na ocasião da reunião de 2011, por exemplo, a Secretaria Municipal de
Educação solicitou às escolas que cada uma “elaborasse uma apresentação que (...)
deveria conter os índices de qualidade escolhidos pelas escolas e suas estratégias para
monitorarem seus processos de melhoria” (SORDI, et al., 2013, p.262), o que foi
avaliado pelos pesquisadores do LOED como positivo à medida que provocou
mobilização da comunidade escolar para se colocar frente à SME:
essa influência tenha passado a ocorrer com menor centralidade, sobretudo, após o
grupo ter formalmente se retirado da assessoria de avaliação institucional em 201414.
Apesar disso, o LOED continua realizando projetos em parceria com as escolas e a
SME. O último deles foi sobre construção de indicadores quantitativos de “qualidade
social”, que envolveu desde grupos focais com equipes gestoras de oito escolas,
aplicação do instrumento, a oficinas de interpretação dos dados, o que ajudou a
desenvolver uma maior atenção das escolas a dimensões da qualidade que não são
valorizadas pelos atuais índices externos (SORDI et al., 2017). Nota-se que o
envolvimento do Departamento Pedagógico da SME na organização dessas etapas do
projeto denotou certa abertura a continuar dialogando com o LOED e com os princípios
da avaliação institucional participativa.
Outro exemplo do contínuo movimento de negociação entre rede municipal e
universidade - e da consequente capilaridade dos princípios da AIP na rede - foi a
realização do encontro das CPAs em 201715, no qual membros das CPAs das escolas se
encontraram para compartilhar os resultados de seus trabalhos. Parte desse evento foi
acompanhada por mim em pesquisa de campo. Nele pude perceber professores
mudando sua percepção negativa sobre uma escola16 que possui um dos IDEBs mais
baixos da rede, à medida que tomaram conhecimento de seu projeto político-pedagógico
e da(s) outra(s) qualidade(s) que ele produz.
Por fim, vale citar a retomada das Reuniões de Negociação no segundo semestre
de 2018, como outro exemplo do enraizamento da AIP na estrutura da rede. Os dados
dessa reunião, no entanto, não serão discutidos na presente pesquisa17.
Como parte do movimento dialético de implementação da política, as pesquisas
do LOED também revelaram descontinuidades e dificuldades manifestas na falta de
apoio institucional por parte da Secretaria, que, devido a constantes mudanças de gestão
e ao alinhamento com políticas de gestão empresarial, deixou de organizar alguns
insumos necessários à consecução da política. As reuniões de negociação, por exemplo,
ficaram três anos seguidos sem ocorrer (2015, 2016 e 2017), não ocorrendo também em
2013. Como ressalta Sordi et al. (2013, p. 219) em relatório da primeira pesquisa
OBEDUC:
14
Pretendeu-se desvincular o nome do grupo daquela administração que firmou o convênio com a
iniciativa privada.
15
Esse encontro foi organizado pelo núcleo de avaliação institucional da SME.
16
Essa foi uma das duas escolas nas quais realizei pesquisa de campo.
17
A coleta de dados ocorreu até julho de 2017, não abarcando o período da última reunião de negociação.
60
próprios sujeitos na sua prática cotidiana (LEITE, 2005; LIMA, 2008). E aqui também
se observam constrangimentos à prática democrática. Dalben e Sordi (2009) identificam
a existência de uma visão patrimonialista de escola, segundo a qual a população
considera a escola pública como propriedade exclusiva do governo ou, no máximo, dos
profissionais que nela atuam. Essa visão leva à autoexclusão de alunos e familiares e à
predominância dos profissionais da escola em relação aos demais segmentos nos órgãos
colegiados.
Os profissionais da escola, por sua vez, também acabam excluindo de várias
formas a participação dos alunos, familiares e funcionários, seja através da falta de
convite, da inadequação de horários escolhidos para as reuniões, ou do não
reconhecimento do aumento da participação da comunidade como meta da escola. Essa
atitude é influenciada em grande medida pela concepção de participação predominante
entre esses profissionais: em geral, eles esperam que a participação da comunidade
esteja mais ligada à execução de tarefas do que à tomada de decisões, o que ocorre, em
partes, pela falta de legitimidade que a participação do leigo tem nos assuntos
pedagógicos.
Por fim, os autores ressaltam que os próprios professores acabam se eximindo do
compromisso político com a participação (DALBEN & SORDI, 2009). Nesse sentido,
retomamos os estudos apresentados no tópico anterior desta tese, que procuram explicar
esse fato através dos processos de intensificação e individualização do trabalho, e da
conformação das pautas tratadas nos espaços coletivos às exigências postas pelas
reformas verticalizadas. Barroso (1996) nos lembra que, para as pessoas se motivarem a
participar, elas precisam perceber também um “sentido instrumental” na participação,
finalizado e traduzido em conquistas concretas. Precisam, assim, perceber que possuem
algum poder de influenciar os rumos do que é decidido, e que sua participação é útil e
necessária, capaz de trazer benefícios para elas e para a organização em seu conjunto.
Se os professores não sentem que têm poder real de influenciar as pautas nem percebem
retornos concretos de sua participação, a tendência é que continuem a ver esses
processos como uma sobrecarga de trabalho burocrático que pouco acrescenta à
melhoria do ensino.
A mesma lógica se aplica à participação da comunidade. Muitos estudos
desmentem o mito da falta de interesse dos familiares dos alunos pela qualidade de
ensino, ressaltando as várias formas pelas quais eles demonstram interesse, ao se
64
olhar atentou-se, então, para as relações sociais e bases culturais das sociedades e
organizações, entre elas, a confiança interpessoal e institucional (SZTOMPKA, 1999;
MISZTAL, 1996).
Enquanto conceito, a confiança já foi referida, no contexto da Sociologia, como
a crença na honestidade ou no amor de outra pessoa, e na probidade de sistemas
abstratos (GIDDENS, 1991); como uma forma de aposta em uma possível ação futura
de outra pessoa (SZTOMPKA, 1999); como um recurso particularmente relevante nas
condições de incerteza em relação ao desconhecido e às ações imprevisíveis dos outros
(GAMBETTA apud SZTOMPKA, 1999, ano). Para Talcott Parsons (apud MISZTAL,
1996), a confiança reside na crença de que o outro indivíduo colocará seu próprio
interesse de lado em favor de uma orientação de ação coletiva, enquanto para James
Coleman (1988), confiar é um recurso racional do qual se valem indivíduos racionais
para maximizar as oportunidades de ganho pessoal.
Misztal (1996, p.24, tradução minha) define confiança como “uma expectativa
positiva de que os resultados das ações intencionais do outro serão apropriados do meu
ponto de vista”. Ela pontua que a confiança, definida assim genericamente, desempenha
um papel importante em quaisquer tipos de troca social nos quais cada parte da relação
tenha expectativas em relação às outras. Citando um exemplo, a confiança é necessária
para as trocas cooperativas, pois as pessoas só entram numa relação de cooperação
quando confiam que o outro tem capacidade e vontade de cumprir as obrigações ou
expectativas nele depositadas, definidas informalmente ou na forma de contratos. Mas a
confiança também é importante em outros tipos de relações e com outros propósitos,
por exemplo, enquanto expectativa de estabilidade da ordem social, quando, por
exemplo, precisamos confiar que o sistema de transporte público vai funcionar
normalmente para podermos desempenhar nossas rotinas, o que se refere mais à
previsibilidade do que ao caráter cooperativo da ordem social.
Para confiar, as pessoas precisam ter alguma oportunidade de construir
julgamentos sobre a capacidade e vontade do outro de cumprir o que dele se espera. A
teoria da escolha racional pressupõe que esses julgamentos, bem como as motivações do
ato de confiar, são racionalmente orientados. Segundo essa teoria, a pessoa A escolhe
confiar na pessoa B com base numa aposta racional de que os interesses de A serão
levados em consideração por B, cujas motivações próprias também supõem que seus
interesses sejam contemplados por A. Trata-se de uma relação de troca orientada pelo
67
pensamento “eu faço o que você espera que eu faça se você fizer o que eu espero que
você faça”, de forma que ambos saiam com seus interesses individuais satisfeitos.
Assume-se, então, que toda ação é racionalmente orientada a escolher a alternativa que
melhor satisfaz o próprio interesse, dado o suposto conhecimento que se tem sobre
como o outro envolvido vai agir.
No entanto, autores críticos a essa perspectiva sugeriram que a confiança
corresponde a uma variável de implicações normativas e que a sua escolha não é sempre
racional, nem se determina pelo montante de informação disponível a respeito do
comportamento dos outros. Ou seja, questionou-se que a decisão de confiar seja
puramente baseada em cálculo estrito de custos/benefícios, argumentando que os
indivíduos teriam capacidade cognitiva limitada para acessar, na quantidade e na
qualidade necessárias, as informações a respeito da conduta dos outros ou para avaliar
adequadamente a utilidade da interação em que se envolveriam. Argumentou-se, então,
que valores sociais - como o republicanismo cívico, a solidariedade social, o desejo de
reconhecimento, o altruísmo - também formam a base da decisão de confiar, sobretudo,
quando os atores situam-se em contextos que incluem insuficiente ou nenhum
mecanismo de controle sobre o comportamento dos outros.
Trata-se de um contexto típico das complexas sociedades modernas, nas quais a
confiança tem sido considerada elemento indispensável de coesão social diante das
incertezas e riscos de desintegração característicos desse tipo de sociedade. Aqui, a
confiança manifesta-se, sobretudo, em sua forma “generalizada”, com vistas à
realização de objetivos coletivos de alcance social.
Neste caso, a confiança social estende os seus efeitos não apenas a amigos ou
conhecidos integrantes de grupos específicos, mas a estranhos que, na
condição de cidadãos, integram a comunidade política. Confiar em estranhos,
em quem é diferente ou em pessoas com quem não se tem familiaridade,
implica em disposição potencial para agir e cooperar com vistas a objetivos
coletivos, cuja definição extrapola o estrito terreno do interesse individual
dos envolvidos. A confiança funciona, neste caso, como uma alternativa para
indivíduos que se sentem vulneráveis em face de sua inserção em contextos
de crescente complexidade e interdependência típicos das sociedades
modernas, mas que, ao mesmo tempo, compartilham uma perspectiva comum
definida por sua condição de cidadãos. Como não podem controlar
individualmente os fatores que influenciam ou definem a sua vulnerabilidade,
nem se informar completamente sobre as circunstâncias que a produzem, eles
usam a confiança como recurso facilitador da coordenação de ações que são
indispensáveis para a realização de objetivos sociais de amplo alcance e que
são relativos aos direitos de cidadania (MOISÉS, 2005, p. 41).
68
Robert Putnam (2015) tenta explicar por que a partir da metade da década de
1960, com aceleração nos anos 1980 e 1990, o “tecido da vida comunitária” americana -
ou seja, a conectividade social e o engajamento cívico, expressos em inúmeras medidas
de capital social - começa a desfiar. Houve uma tendência de declínio em praticamente
todas as medidas em conjunto, que vão desde conexões sociais informais como
socializar com vizinhos e participar de jogos de cartas e ligas de boliche, passando pela
disposição em votar e filiar-se a partidos políticos, clubes, associações comunitárias,
entidades religiosas e sindicatos, até os padrões de confiança e altruísmo expressos na
adesão à filantropia e voluntariado e no comportamento honesto e recíproco. O
afrouxamento deste último estaria sendo observado, por exemplo, no declínio da
civilidade na estrada e nas altas taxas de criminalidade.
Para o autor, as características da vida contemporânea que explicariam as
tendências observadas são o intenso atarefamento das pessoas que precisam se dedicar
cada vez mais ao trabalho para se manter economicamente em tempos incertos; a
dispersão geográfica que acarreta, entre outras coisas, mais tempo gasto de locomoção
no trajeto casa-trabalho; o entretenimento eletrônico, especificamente a TV, em seu
papel de privatizar o tempo de lazer; e a mudança geracional, com a substituição de uma
geração cívica por filhos e netos mais ausentes da vida pública comunitária. Tendo em
vista essa conjuntura, Putnam (2015) coloca a pergunta: quem teria tempo e disposição
para se conectar com o outro em prol de objetivos comuns?
Mizstal (1996) defende que determinadas características da modernidade pós
1980 dificultam a emergência da confiança, vista como sinônimo de consenso em torno
de valores, o que reforça ainda mais a necessidade de persegui-la. Para a autora, a
coesão social não era uma questão de preocupação no momento pós-segunda guerra
mundial, em que o Estado de bem-estar social, e a consequente expansão dos direitos de
cidadania nos países ocidentais de capitalismo central, traziam certo consenso nacional.
O crescimento econômico da “era do ouro” e a ameaça militar da guerra fria também
favoreciam esse consenso. No entanto, as reformas neoliberais dos anos 1980,
caracterizadas pela privatização e pelo fortalecimento da cultura individualista,
mostraram que os direitos sociais não estavam firmemente estabelecidos, e também que
o antigo consenso e solidariedade não mais existiam.
Segundo a autora, o enfraquecimento do Estado de bem-estar social, somado ao
colapso de referências tradicionais relacionadas à família, ao trabalho e à disciplina, o
72
tomamos. Nesse sentido, quanto mais decidimos ativamente sobre os eventos futuros,
mais pensamos em termos de “risco”, e para enfrentarmos um futuro incerto e
necessariamente “arriscado”, a modernidade nos obriga a viver de um modo mais
reflexivo e a desenvolver uma confiança ativa, seja nas pessoas com as quais lidamos
cotidianamente ou em estranhos, seja em sistemas comerciais e instituições abstratas
dos quais dependemos cada vez mais.
Diferente dos tipos anteriores de confiança que estavam mais intimamente
associados a referentes tradicionais de compromisso e moralidade, esse tipo moderno
envolve uma relação mais voltada para o futuro com a pessoa ou coisa em que se confia
e passa a ser ativamente construído, seja através de uma atitude de abertura mútua e
revelação emocional entre as pessoas, seja através da atitude autônoma e reflexiva de
tomar decisões de baixo para cima que afetem o modus operandi de sistemas e
instituições (GIDDENS, 2000).
O autor reforça que a característica de “distanciamento tempo-espaço” dos
tempos modernos fez emergir a necessidade de confiança em sistemas abstratos, a qual
cumpre a função de nos assegurar segurança ontológica em termos de constância do
nosso ambiente externo e previsibilidade dos nossos encontros e ações rotineiras. No
entanto, apesar de necessária, a confiança nos sistemas não é fonte de satisfação
emocional. Por isso, Giddens (2013) ressalta a importância de fortalecer a confiança
interpessoal e reconstruir a “intimidade” em novas bases, pois é esse tipo de confiança
que pode servir à construção da nossa autoidentidade. Vista como um projeto reflexivo
e ativo de “abertura para o outro”, a confiança nas pessoas envolve necessariamente
mutualidade, reflexividade, diálogo e autonomia:
Para além dos relacionamentos amorosos sexuais, ou entre pais e filhos e entre
amigos, a confiança interpessoal deve se concretizar no nível mais amplo da sociedade
na forma de ativismo social, representado pela emergência dos movimentos sociais
como uma resposta radical no contexto da modernidade tardia. Através deles, Giddens
(2000) defende que é possível encontrar aquele senso de segurança que permite às
74
pessoas construir estratégias para a preservação do mundo como um lugar viável diante
da constante iminência dos vários tipos de “risco”, que vão desde a instabilidade
econômica e social às catástrofes nucleares.
Seguindo a linha de Anthony Giddens, Misztal (1996) reforça que a construção
da confiança nos tempos atuais depende necessariamente de processos ativos de
encontro, diálogo e negociação, o que vale tanto para o universo particular da família
quanto para o nível mais amplo da sociedade civil e suas relações com as instituições
democráticas. Isso porque, entre outras questões, a natureza dessas relações
interpessoais e institucionais mudou, da mesma forma que mudaram as expectativas
associadas a instituições e papéis sociais. Uma vez que a confiança é construída a partir
do cumprimento de expectativas e obrigações vinculadas a papéis sociais, as quais não
estão mais mecanicamente assentes sobre as bases da tradição, comunidade local e
religião, é necessário diálogo e um processo de “abertura mútua” para construção
coletiva das expectativas e da confiança.
Para deixar esse ponto mais claro, é útil explicar a categorização feita pela
autora em relação aos três tipos de confiança e suas diferentes funções relativas a cada
característica da ordem social.
Em primeiro lugar, como já mencionado, a confiança enquanto “habitus”
desempenha um papel de garantia de “estabilidade”, regularidade, e previsibilidade da
ordem social. Para construir a percepção de que o mundo é coerente, legível e estável,
as pessoas precisam recorrer aos mecanismos do hábito, reputação e memória, que no
mundo contemporâneo estão também embutidos nas relações impessoais e nos sistemas
abstratos. É esse tipo de confiança que nos permite desempenhar nossas rotinas diárias,
fornecendo-nos a segurança ontológica de que precisamos para sobreviver. Como
poderíamos, por exemplo, enviar documentos pelo correio sem confiar que eles
chegarão intactos ao destino final?
Em segundo lugar, a confiança enquanto “paixão” (ou “afiliação”) cumpre a
função de garantir a “coesão” da ordem social, através das conexões entre pessoas da
mesma família, entre amigos ou pessoas que compartilham valores semelhantes, ou
pertencentes a um mesmo grupo social. Trata-se de uma percepção normativa da
confiança necessária para desenvolver nosso senso de autoidentidade, reconhecimento e
segurança emocional e psicológica (MISZTAL, 1996; HONNETH, 2013b).
75
Quanto à família, Misztal (1996) afirma que, uma vez que sua constituição está
mudando e seus membros assumindo novas aspirações e necessidades, a confiança entre
eles deve ser constantemente renegociada para acomodar os novos papéis e obrigações
emergentes. As expectativas associadas aos papéis do marido, da esposa, do homem ou
da mulher, ou mesmo dos filhos e da madrasta/padrasto, não estão mais definidas a
priori baseadas nos referentes dos costumes tradicionais, tornando hoje necessários
processos de constante comunicação e negociação para construção da confiança nesse
âmbito.
Quanto à amizade, a autora explora a pergunta sobre a possível perda da
capacidade de conexão genuína com as pessoas em um mundo globalizado,
individualista e utilitarista. Ela conclui que os novos meios de comunicação e as
oportunidades de interagir com pessoas de diferentes culturas e trajetórias, na verdade,
ampliam nossas oportunidades de contatos bem como a qualidade das novas interações
e a própria função da amizade, que deixa de estar restrita ao provimento de segurança e
autoestima e passa a ser vista também como um meio de exploração, construção de
empatia e entendimento mútuo.
Tanto num caso como no outro, a categoria da comunicação é central:
operação dos mercados e garantam igualdade formal e real nos direitos de cidadania,
incluindo os direitos sociais dos trabalhadores. As estruturas e procedimentos
institucionais também devem educar os cidadãos para o bem comum, explicitando seus
vínculos e fomentando a consciência da dependência mútua, ou seja, o entendimento
entre as pessoas de que seu bem-estar individual depende do bem-estar coletivo e de que
elas possuem deveres e obrigações em relação aos outros. Além disso, precisam ser
caracterizados pela abertura democrática, criando condições e oportunidades para a
participação, negociação, e deliberação pública, pelas quais as pessoas aprendam a
trabalhar suas diferenças de posicionamento, valores e crenças em direção à construção
de consensos sobre o bem comum.
No sentido oposto à construção dessa base institucional, a aplicação do
receituário neoliberal nas sociedades ocidentais modernas contribuiu para minar a
solidariedade e a construção de um sentido público e coletivo para a vida, enquanto o
estado de bem-estar social foi o exemplo prático capaz de gerar solidariedade através da
criação de vínculos entre as pessoas, garantia de direitos sociais universais e cobrança
do cumprimento de responsabilidades mútuas (MISZTAL, 1996).
Algumas teorias do “capital social” tentam incorporar essa noção de
solidariedade, ao considerar, para além dos laços fortes/próximos formados entre iguais
dentro de comunidades específicas, aqueles laços mais fracos/distantes que transcendem
as clivagens sociais, mas que são mais poderosos no sentido de serem capazes de
fomentar a cooperação mais ampla (GRANOVETTER, 1973). No entanto, essas teorias
ainda possuem limitações, como abordaremos no tópico seguinte.
É certo que a confiança depende da solidariedade para gerar cooperação social,
mas Misztal (1996) sugere que a solidariedade deve ser perseguida de forma
complementar à “justiça social” e construída à luz da ideia de negociação e “formação
discursiva”, pois somente assim a noção de “solidariedade” - e suas correlatas
“consenso” e “coesão” - perdem seu caráter etnocêntrico e impositivo.
Nesse sentido, a formação de ordens cooperativas depende também de uma
“política de tolerância” que demande respeito igualitário a todas as pessoas
independentemente de suas filiações particulares. Misztal (1996) ressalta a positividade
do multiculturalismo e do respeito às diferenças, à medida que permitem expandir
nossos horizontes e desenvolver ação responsável em relação ao outro através da
valorização dos espaços públicos de diálogo e negociação. No entanto, não podem
78
resultar em negação dos valores comuns que nos unem enquanto seres humanos,
baseados na tolerância, igualdade de valor e de oportunidades, respeito, comunicação e
entendimento mútuo, e responsabilidade compartilhada.
Um exemplo prático de país multicultural que promoveu política de tolerância
baseada na confiança - não na indiferença - foi a Austrália, através da aprovação de
proteções legais às minorias, bem como de processos educacionais que reconhecem
positivamente a contribuição dos grupos minoritários ao legado cultural nacional, e de
processos de participação desses grupos em projetos sociais, políticos e econômicos
(MISZTAL, 1996). Esse caso mostra a importância das estruturas e procedimentos
democráticos e o papel da legislação e da regulação governamental em proteger as
crenças e direitos das pessoas, reconhecer seu valor e dignidade, bem como em cobrar o
cumprimento de deveres e obrigações em relação à coletividade.
Por fim, uma ordem assente na cooperação depende da “legitimidade” de suas
instituições públicas e das decisões por elas tomadas, ou do quanto os cidadãos em geral
percebem a ordem social como “justa”, o que depende do quanto sentem que as
demandas e aspirações coletivas são levadas em conta pelas instituições e governos. O
Estado precisa, pois, ser percebido como promotor e protetor dos interesses públicos,
sobretudo em termos de provisão do bem-estar social e econômico, ao invés de uma
agência a serviço das preferências privadas de grupos de interesse.
A redefinição dos papéis do Estado-nação e a internacionalização da governança
criam problemas de legitimidade política, uma vez que a falta de clareza quanto aos
critérios para tomada de decisões bem como a complexa sobreposição dos múltiplos
níveis de governança faz com que as pessoas comuns sintam que possuem um controle
muito ínfimo sobre essas decisões. Então em quem devemos confiar para nos
representar? Em quem devemos confiar para tomar as decisões nesse mundo de
múltiplas autoridades?
Os partidos políticos como um todo, junto com as instituições democráticas de
forma geral, enfrentam uma crise de confiança por parte da população; os novos
partidos políticos e os novos movimentos sociais, apesar de superarem alguns limites da
velha política convencional ao adotarem formas mais diretas de participação popular,
ainda não se mostraram suficientes para garantia da legitimidade política nos tempos
contemporâneos, talvez devido a sua dificuldade em assumir pautas de mais amplo
alcance.
79
autores como Pierre Bourdieu, segundo o qual o capital social interage com outros
capitais para perpetuar desigualdades de todo tipo.
Adentremos agora na explicação desses autores e de seus frutos para a prática
política e para outras teorias. Robert Putnam (2006) aposta na importância dos fatores
socioculturais para a estabilidade e eficácia da democracia, seguindo o legado teórico de
Alexis de Tocqueville, segundo o qual as associações cívicas são as principais
responsáveis por desenvolver nos membros de uma sociedade os hábitos democráticos
de cooperação, solidariedade e espírito público.
Para Putnam, o capital social é formado em “comunidades cívicas” fortes,
caracterizadas pela participação dos cidadãos nos negócios públicos (“interesse pelas
questões públicas e devoção às causas públicas”); pela igualdade política entre cidadãos
que possuem os mesmos direitos e deveres; pelo sentimento de solidariedade, confiança
e tolerância que desenvolvem entre si; e pela existência de associações, que seriam as
estruturas sociais da cooperação. Na prática, o grau de civismo de uma comunidade se
expressa nas manifestações horizontalmente organizadas de solidariedade social, a
exemplo dos clubes e associações locais, bem como nas práticas de participação cívica,
como comparecimento a referendos e às urnas.
Essas características desenvolvem normas de reciprocidade, sentimentos de
confiança, e predisposição para os cidadãos se engajarem na ação coletiva com vistas à
resolução de problemas comuns, fatores que afetam positivamente o desenvolvimento
socioeconômico e o desempenho das instituições democráticas em garantir boas
legislações e políticas a serviço dos cidadãos. A tese central é que “as tradições cívicas
podem influenciar fortemente o desenvolvimento econômico e o bem-estar social, bem
como o desempenho institucional18” (PUTNAM, 2006, p. 167).
Para chegar a essa conclusão, o cientista político norte-americano analisa a
experiência de regionalização das instituições democráticas ocorrida na Itália a partir de
1970. Diante da variedade de desempenho institucional apresentada pelas vinte novas
regiões ao longo dos anos 70-80, ele procura compreender quais fatores influenciam o
18
Desenvolvimento econômico e bem-estar são medidos com base nos valores da força de trabalho
empregada na indústria em comparação à empregada na agricultura, e nos índices de mortalidade infantil.
Desempenho das instituições democráticas é medido por meio de doze indicadores, referentes à
capacidade organizacional de condução dos negócios internos, às políticas e programas, e ao atendimento
às necessidades dos cidadãos: estabilidade do gabinete; presteza orçamentária; serviços estatísticos e de
informação; legislação reformadora; inovação legislativa, clínicas familiares; instrumentos de política
industrial; capacidade de efetuar gastos na agricultura; gastos na comunidade sanitária local; sensibilidade
da burocracia às demandas dos cidadãos. Esses doze indicadores compuseram um único índice de bom
desempenho institucional, que se mostrou abrangente e internamente coerente.
81
de que todos vão violar as regras coletivas (de trânsito, do fisco), sentem-se impelidas a
recorrer à hierarquia e às forças estatais ou paraestatais (como a polícia, ou mesmo a
Máfia em alguns casos) como a única saída à anarquia.
Assim, as sociedades carentes de estoque de capital social, nas quais os
indivíduos são incapazes de confiar uns nos outros, possuem um tipo de equilíbrio
social baseado na não cooperação, que tende a se reforçar e necessita de uma solução
hierárquica hobbesiana - a coerção, exploração e dependência - para resolver os dilemas
da ação coletiva de forma a coibir o oportunismo, a trapaça, a transgressão. Putnam
(2006) reforça que esse tipo de solução hierárquica não é o ideal. Sobretudo em
sociedades complexas e desiguais - nas quais as vantagens do oportunismo, da trapaça e
da transgressão aumentam - o recurso à cooperação, que depende dos estoques de
capital social, é a melhor saída para a resolução de problemas comuns.
Ainda segundo Putnam (2006), o capital social emana das regras de
reciprocidade generalizada (“farei isso pra você agora, sabendo que um dia você
retribuirá”) e dos sistemas de participação cívica caracterizados por relações
horizontais, que congregam agentes com o mesmo status e poder, como grupos
orfeônicos, clubes desportivos, partidos de massa, cooperativas, associações
comunitárias e culturais, sindicatos, sociedades de mútua assistência. Quanto mais
desenvolvidos forem essas regras e sistemas numa comunidade, maior será a
probabilidade de que seus cidadãos sejam capazes de cooperar em benefício mútuo. Ou
seja, a participação em organizações cívicas desenvolve o espírito de cooperação e o
senso de responsabilidade comum para com os empreendimentos coletivos, porque,
entre outras coisas, favorece o sistema de comunicação e o fluxo de informações sobre a
confiabilidade dos indivíduos.
Em suma, a confiança, formada a partir dos intercâmbios sociais e da interação
interpessoal proporcionada nos sistemas de participação cívica, favorece a disposição
das pessoas para agir em comum, estimula a cooperação e o surgimento de virtudes
cívicas, reforçando a capacidade dos grupos envolvidos de obter benefícios comuns
desejados. Esses estoques de capital social tendem a ser cumulativos na comunidade
cívica e a reforçar-se mutuamente, de forma que os círculos virtuosos redundam em
equilíbrios sociais com crescentes níveis de cooperação, confiança, reciprocidade,
civismo e bem-estar coletivo.
83
social inclui não somente as relações interpessoais dentro de associações no nível local,
mas busca atingir o nível macro das redes que ligam o nível local com organizações e
instituições de todo tipo (empresas, ONGs, Estado) e com normas legais, regras e
valores sociais mais amplos.
Essa abordagem trazida pelo Banco Mundial aposta em estratégias deliberadas
de intervenção que ajudem a construir e acumular capital social, transformando
comunidades com baixo “grau de civismo” em comunidades vivas no desenvolvimento
daquelas múltiplas conexões para além da associação em pequenos grupos horizontais.
O fortalecimento das redes sociais e dos fluxos de confiança entre esses diversos atores
traria benefícios como o acesso das comunidades a bens e serviços, o desenvolvimento
econômico de regiões, a redução dos níveis de violência e hostilidade entre grupos
étnicos, como fica claro nos diversos projetos financiados pelo fundo. Seguem alguns
exemplos de projetos, que tiveram os seguintes objetivos (WORLD BANK, 2016):
Exemplo 1 - Compreender como a descentralização das funções governamentais
de planejamento e financiamento interage com o capital social local, ajudando as
comunidades nos Estados mais subdesenvolvidos do México a formar organizações
locais, interagir com os programas do governo, e fazer uso do seu novo poder de
decisão para alocar fundos ao desenvolvimento sustentável da agricultura em áreas
rurais remotas;
Exemplo 2 - Identificar as características de comunidades de áreas pobres
urbanas em Bangladesh que conseguiram se organizar autonomamente para contratar
uma empresa privada de coleta de lixo, num contexto em que o serviço público provido
pelo município era muito intermitente e pouco confiável. Apostou-se que um fator
essencial que permitiu essa organização foi a coesão e a homogeneidade da comunidade
em termos de valores e crenças;
Exemplo 3 - Criar fontes novas de renda para pessoas que foram realocadas
devido à expansão de atividades extrativistas de mineração, a partir do estabelecimento
de uma rede social de confiança e cooperação entre governo local, ONGs, empresa
mineradora de carvão e trabalhadores da comunidade;
Exemplo 4 - Estudar o esgotamento e a restauração do capital social - em termos
de coesão social, níveis de confiança manifestos na propensão para a troca e
cooperação, redes locais e associações cívicas - em duas sociedades, Ruanda e
Camboja, que foram devastadas pela guerra civil entre grupos étnicos;
88
comunidades para que resolvam os problemas que enfrentam, pois “[...] only when
people and communities are given more power and take more responsibility can we
achieve fairness and opportunity for all.”19
Nesse sentido, Flint (2011) enxerga a escola como uma fonte crucial de recursos
para comunidades carentes, pois através da abertura de seus espaços, de suas atitudes
respeitosas e apoiadoras, de suas reuniões e rodas de conversa, de seu currículo
inclusivo e sensível ao entorno, as escolas são capazes de fortalecer as relações entre as
diversas famílias e destas com seus profissionais, gerando o capital social de que
famílias e a ampla comunidade necessitam. O objetivo é empoderá-las para que
assumam o controle de suas vidas, fortalecendo sua resiliência, autoestima e senso de
autoeficácia, e melhorar as oportunidades de vida das crianças e jovens. A escola
possuiria, assim, o papel de “construir o cimento da sociedade civil” (FLINT, 2011, p.
03).
São várias as formas concretas mencionadas no estudo de se promover capital
social dentro da escola e na comunidade mais ampla: quando os pais se sentem
acolhidos, ouvidos e respeitados pelos professores e gestores; quando a escola abre seus
espaços nos finais de semana para que a comunidade celebre seus eventos
comemorativos; a realização de workshops ou cafés da manhã para recepcionar as
famílias, como oportunidades que as colocam em contato umas com as outras para se
conhecerem melhor, podendo eventualmente se tornar uma rede informal de pais que se
encontram para discutir preocupações e trocar informações além dos assuntos da vida
escolar; a realização de oficinas culinárias nas quais famílias de diferentes etnias
cozinham umas para as outras, o que é um exemplo do tipo “bridging” de capital social,
contribuindo para a “coesão comunitária” (FLINT, 2011); a promoção de programas de
treinamento para as famílias desenvolverem habilidades, autoestima e senso de
autoeficácia; a existência de equipes pastorais multidisciplinares nas escolas, com a
função de prover informação, apoio e orientação às crianças/jovens e suas famílias
carentes quando estas necessitam, por exemplo, de encaminhamento psicológico e
contatos com agências externas, o que seria um tipo “linking” de capital social.
Pode-se dizer que a mesma orientação estava presente na Inglaterra uma década
antes, em 1990, na política do New Labour encabeçada pelo então primeiro-ministro
19
Parte do documento publicado pelo governo de coalizão conservador liberal-democrata inglês (2010-
2015). Disponível em https://www.gov.uk/government/publications/building-the-big-society, acesso em
23/11/2018.
93
Tony Blair. Aqui, o discurso do capital social também é apresentado como um antídoto
tanto para os problemas de exclusão social decorrentes do neoliberalismo desenfreado,
como para a “cultura da dependência” produzida pelo Estado de bem-estar social.
Ambas as demandas seriam atingidas através do fortalecimento das comunidades locais,
o que traria benefícios coletivos como a redução do crime e da violência e benefícios
individuais relativos à melhoria do desempenho escolar e maior mobilidade social.
Para tanto, os defensores dessa política pretendiam encorajar, por meio de
programas e cursos promovidos pelas Education Action Zones20, a criação de capital
social dentro da família, manifesto no apoio dado pelos pais aos filhos, e daquele capital
social referente ao envolvimento dos pais com a escola, sobretudo nas comunidades em
situação de vulnerabilidade, partindo do pressuposto de que:
(...) as crianças são menos propensas a evadir, faltar nas aulas, ter
desempenho ruim, cair no mundo das drogas ou se tornarem delinquentes,
quando seus pais estão envolvidos com elas e com a escola, frequentam
programas promovidos pela escola, ajudam seus filhos na lição de casa e
monitoram seu comportamento fora da escola. (GEWIRTZ et al., 2005,
p.654, tradução minha)21.
20
As EAZs foram estabelecidas por essa política com objetivo de integrar os diferentes setores da
comunidade - escolas, autoridades educacionais, empresas, organizações comunitárias e religiosas,
agências governamentais etc. - para pensar formas inovadoras de implementar planos locais de melhoria
dos resultados educacionais.
21
“Children are less likely to drop out of school, truant, perform badly in an academic sense, get hooked
on drugs or become delinquent if their parents are involved with them and their school, attend
programmes at their children’s schools, help with their homework and monitor their behaviour outside
school”.
94
O que está por trás de boa parte do discurso da política é a visão de que as
famílias pobres não valorizam a educação, não se envolvem de forma alguma com o
sistema educacional, e são totalmente carentes de redes e organizações sociais de apoio,
necessitando, portanto, de uma espécie de remédio para seus déficits em termos de
isolamento social ou falta de habilidade em dar suporte à educação dos filhos. No
entanto, Gewirtz et al. (2005) apontam evidências não só de que essas famílias
valorizam a educação, mas se engajam de diferentes formas no sistema educacional e
estão conectadas por diversas redes em suas comunidades e famílias.
Essas evidências também mostram como é o próprio sistema educacional que
não responde efetivamente às demandas das famílias. Elas muitas vezes se sentem
desrespeitadas no reconhecimento de sua identidade, e percebem que seus filhos são
22
“At one end of the continuum, social capital embraces progressive, liberal and civic notions of co-
operation, empowerment, participation and community action in the construction of needs and priorities.
Here there is space for an active, confident and empowered citizenry, and civic engagement and political
participation thrive. At the other extreme social capital may be realised in a normative order of
traditional institutional forms, for instance, favouring two-parent nuclear families; locating the
‘parenting deficit’ in women’s increased labour market activity and linking this to educational failure;
and arguing for a collective non-relativist moral regime of duties and responsibilities to which all are
expected to conform”.
95
23
“Recognition is not just about inclusion in other people’s agendas. Rather, it is about valuing whatever
it is that is important to people and ensuring that policy agendas reflect and do not deny the breadth and
depth of people’s experiences and perspectives”.
96
24
Critics argue that social exclusion stems from poverty and the unequal distribution of wealth and
resources in society. This critical strand is reflected in the work of Pierre Bourdieu who believes that
economic capital underpins social capital and interacts with wider structures to reproduce social
inequalities. Social capital, he says, enables individuals and groups to access valued resources (Bourdieu
1993:68). These resources are connected to class advantage, and different forms of social interaction
connect to and reinforce class inequalities, for example being a football fan rather than a member of the
Rotary Club. Thus social capital ideas may conceal the effects of ‘real’ capital and power, and may
reinforce a culture of ‘blame’ of those who fail to observe middle class norms.
97
O capital social está promovendo uma agenda moral particular que sugere
que os valores da classe média são intrinsicamente os melhores e que o
desvio deles é indesejável/condenável? Em outras palavras, está sendo usado
para culpar a vítima? Podemos concordar com normas que sejam aceitas por
todos os envolvidos (pais, alunos, professores, membros da comunidade,
decisores da política), por exemplo, engajamento com o aprendizado,
cidadania ativa, bem-estar, acesso a empregos? (CATTS & OZGA, 2005,
p.2-3, tradução minha)25
25
Is social capital promoting a particular moral agenda that suggests that middle class values are
intrinsically good and that deviation from them is undesirable/blameworthy? In other words, is social
capital used to blame the victim? Can we agree on norms that are acceptable to all involved (parents,
pupils, community members, teachers and policy-makers), for example, engagement with learning, or
active citizenship, or well-being, or access to employment?
98
Trata-se de uma linha reta entre simetria e intercâmbio sem passar pela
redistribuição ou, o que é mais problemático ainda, acreditar que o
intercâmbio feito sobre normas de reciprocidade elimina os problemas de
redistribuição em grande escala social. Podemos suspeitar que se trata de uma
nova versão do liberalismo econômico para aclimatar suas velhas idéias de
que (a) as relações do mercado acontecem em mundos sociais onde os
indivíduos são simétricos, (b) o mercado é a forma mais eficiente de localizar
os recursos produtivos, e (c) o mercado em si mesmo é redistribuidor ao
conseguir o “the social optimum” (idéia da mão invisível). Parodiando o
evangelho, seria um “vinho velho em odres novos” (HIGGINS, 2005, p.
122).
Ozga (2002) reforça que a ideia de capital social tem sido bastante explorada por
políticas e iniciativas que pretendem diminuir os investimentos estatais na garantia de
direitos sociais. Ela analisa que o governo da Terceira Via inglesa foi atraído por essa
teoria que confere suporte à criação dos “laços da comunidade cívica de um jeito
compatível com a natureza individualista da moderna vida econômica, social e cultural”
(BLAIR apud OZGA, 2002). A autora analisa que, com a intenção de combater a
99
Como, para o autor [Anthony Giddens], as classes sociais não são mais
importantes para a análise de um mundo sem inimigos e para além da direita
e da esquerda (...), é possível defender uma cultura cívica, onde os
empresários estariam envolvidos com o bem comum e não apenas com o
lucro (PERONI, 2013, p. 239).
Dessa forma, os críticos a essa perspectiva reforçam que ela cumpriria a função
de escamotear as causas dos problemas das sociedades capitalistas, estando, assim, mais
comprometida com a manutenção de uma ordem social injusta do que com a
transformação social e o questionamento das desigualdades sociais (NEVES, 2005;
PERONI, 2013; MONTAÑO, 2008).
Em suma, o principal problema com essa forma de conceber a confiança e o
capital social é que esses conceitos são utilizados de uma forma prescritiva para advogar
soluções políticas estritamente comunitárias aos problemas de “exclusão social”, as
quais não levam em consideração a reprodução social das desigualdades, ignoram a
responsabilidade estatal na garantia de direitos sociais universais, e não contribuem para
capacitar os sujeitos a trabalhar coletivamente por mudanças sistêmicas ou pela
melhoria das injustiças estruturais embutidas nos sistemas educacionais, contribuindo
até para fortalecer essas estruturas de desigualdade (GEWIRTZ et al., 2005;
GAMARNIKOW & GREEN, 2009; HIGGINS, 2005). Isso se deve, por fim, ao fato de
que essas teorias e políticas focam exclusivamente no padrão da reciprocidade,
deixando de lado as esferas da redistribuição e do reconhecimento via participação
democrática.
Veremos no Capítulo 3 que as limitações aqui apresentadas se estendem para as
teorias que abordam especificamente o conceito de “confiança” no ambiente escolar,
uma vez que essa literatura aborda a confiança do ponto de vista do capital social. Antes
disso, no próximo tópico explicaremos um pouco mais detidamente esses referenciais.
102
26
A diferença mais substantiva de ambas as correntes é que aquela primeira baseia-se no conceito de
“confiança coletiva”, enquanto a segunda aborda a questão pelo conceito de “confiança interpessoal”.
Apesar dos pesquisadores da primeira abordagem argumentarem que a sua perspectiva é mais sociológica
que a segunda, criticada por estar supostamente assente sobre um ponto de vista meramente psicológico,
103
28
Trust in the principal: the faculty has confidence that the principal will keep his or her word and act in
the best interest of teachers. -The teachers in this school have faith in the principal’s integrity. - The
principal takes unfair advantage of teachers in this school. Trust in teachers: the faculty believe that
teachers can depend on each other in difficult situations and that teachers can rely on the integrity of
105
their colleagues. - Even in difficult situations teachers in this school can depend on one another. -
Teachers in this school are suspicious of each other.
106
Reliability: Sentimento de que se pode contar com o outro para fazer o que dele se
espera. O quanto se acredita que os resultados virão e serão positivos.
Benevolence: Confiança de que o meu bem-estar, ou algo que me é caro, será
protegido pelo outro. Poder contar com a boa vontade do outro para me fazer bem. O
outro preocupar-se com meus interesses e bem-estar.
Openness: A medida em que as informações são compartilhadas e não retidas.
Competence: Boas intenções não são suficientes. Confiar requer que o outro tenha
habilidade para cumprir as expectativas depositadas.
Honest: Expectativa de que se pode confiar na palavra, promessa verbal ou escrita, do
outro. Correspondência entre o que se fala e o que se faz.
Willing to Risk: Disposição em se arriscar em uma situação de vulnerabilidade,
sabendo que há risco, que isso pode resultar em consequências negativas, mas
29
Trust is an individual’s or group’s willingness to be vulnerable to another party based on the confidence
that the later party is benevolent, reliable, competent, honest, and open.
107
PROFESSOR-DIRETOR
FACETA ITEM
- Teachers in this school can rely on the principal
RELIABILITY
- The principal in this school keeps his or her word.
- The principal of this school does not show concern for the teachers
- The principal in this school typically acts with the best interests of
BENEVOLENCE
the teachers in mind.
- The principal in this school is unresponsive to teacher´s concern.
COMPETENCE - The principal in this school is competent in doing his or her job.
30
Essa corrente não considera os estudantes.
109
31
Com a Reforma de 1988, o Conselho Escolar passou a ser composto pelo diretor, seis pais, dois
professores, dois membros da comunidade, e um aluno no caso da middle school.
32
Buscou-se abarcar escolas diversas nos seguintes critérios: racial (escolas african-american e hispanic),
composição econômica dos estudantes (escolas de classe média e pobre); características de matrícula
(escolas que matriculam estudantes do entorno e escolas que não); escolas cuja comunidade é
politicamente ativa; escolas localizadas em bairros passando por transições étnicas. Também incluíram
critérios como defasagem idade-série, freqüência, test scores etc.
110
se sentirem mais confortáveis, elas passam a entender que o corpo da escola possui um
senso genuíno de cuidado e consideração por elas e que realmente se preocupa com
seus filhos. Esse discernimento de intenções tem efeitos muito positivos na qualidade
dessas relações.
4) Integridade: além da avaliação da consistência entre o que se fala e o que se
faz, avalia-se quanto o outro possui comprometimento moral com os princípios da
instituição e os interesses das crianças. Esse aspecto da confiança está baseado em
entendimentos comuns sobre os propósitos do coletivo escolar, a respeito do que os
estudantes devem aprender, como o aprendizado deve ser conduzido, como professores
e estudantes devem proceder. Trata-se de realizar ações que reforcem o
comprometimento do indivíduo com esses entendimentos comuns que são acordados
entre todos.
a) Professor-Gestor: o diretor mostra possuir integridade quando, por exemplo,
enfrenta alguma política que ele acredita ferir os propósitos do trabalho da escola. Ao
articular uma visão do que seja “a nossa escola” e executar ações que sejam
interpretadas como condizentes com essa visão, o gestor consegue fomentar o senso de
engajamento da equipe docente;
b) Professor-Professor: para que os professores sintam que os colegas possuem
integridade, eles precisam compartilhar visões comuns e perceber que as ações tomadas
pelos outros estão de acordo com essas visões. No entanto, as oportunidades são
pequenas para que isso ocorra nas escolas, uma vez que os professores passam a maior
parte do tempo isolados em suas salas de aula, havendo poucos momentos de interações
significativas com os colegas. Além disso, existe pouco controle quanto à contratação e
demissão dos professores. Eles ocupam posições na escola com base apenas no direito
de ‘senioridade’, o que significa que não se formam equipes com base no propósito de
criar coerência em torno de uma visão compartilhada. Não existe a ideia de um corpo
docente como uma equipe de trabalho deliberadamente formada. Assim, faltando os
mecanismos organizacionais que promovem a coletividade, poucas oportunidades
existem para os professores trabalharem suas diferenças pessoais e desenvolverem
entendimentos comuns. Ao invés disso, as diferenças em crenças, valores e experiências
de trabalho anteriores não são trabalhadas e os conflitos interpessoais ficam latentes. As
interações podem ser respeitosas, eles podem falar bom dia uns pros outros, colaborar
em torno de algumas questões pequenas, mas o cerne do trabalho ainda é organizado
113
No entanto, segundo Bryk e Schneider (2002), para que uma escola seja
eficiente do ponto de vista de promover melhorias substantivas e duradouras, nenhuma
dessas duas formas de confiança deve predominar. Nas escolas é imperativo que se
desenvolva, pois, a confiança do tipo “relacional”. Isso porque nelas existem poucas
crenças assumidas automaticamente por todos os membros, devido à diversidade das
experiências de vida e bagagens familiares. Trata-se, assim, de um ambiente em que é
difícil nutrir consensos. Além disso, os mecanismos para se alcançar os objetivos da
escolarização são complexos, difíceis de serem medidos e claramente cobrados em
contrato. E apesar de a escola também incluir motivações de origem instrumental (os
professores se interessam pela conquista de resultados pessoais relativos, por exemplo, a
melhores salários), aqui as pessoas interagem entre si motivadas também pela satisfação
da autoestima, do status social, pela identificação com a instituição (o “sentir-se parte”),
e por interesses éticos e morais de buscar realizar o melhor para as crianças.
Bryk e Schneider (2002) reconhecem, portanto, a escola enquanto um lugar a
princípio não consensual e plural. No entanto, ao invés de considerar os conflitos como
inerentes à negociação que permeia a produção de entendimentos comuns, essa teoria
enxerga a pluralidade de visões de mundo como um “obstáculo” que deve ser removido
através de políticas de escolha e de demissão e contratação de professores, ou como um
“problema” facilmente “resolvível” com a busca pela “melhoria da qualidade” ou pelo
“melhor para as crianças”. Dessa busca, o consenso derivaria naturalmente. A busca por
esses objetivos vistos como inquestionáveis é constantemente reiterada cumprindo a
função de abafar qualquer divergência ou pluralidade de concepções do que venha a ser
“o melhor”.
Dessa forma, ao mesmo tempo em que a definição de “confiança relacional”
consegue escapar ao princípio da “solidariedade mecânica”, parece atrelar-se ao da
“solidariedade orgânica” (DURKHEIM, 1999), pois a escola é vista como um
organismo portador de diversos órgãos diferenciados, cada um com sua função, que se
executadas corretamente concorrem juntas para a manutenção da ordem e estabilidade
do sistema. Isso se manifesta na concepção de “trabalho coletivo” enquanto filiação,
adaptação, adesão de toda comunidade escolar a objetivos de aprendizagem e papéis
sociais dados a priori, previamente definidos de fora.
Por fim, a terceira limitação dessas teorias é que nenhuma delas considera o
papel do poder público em prover condições adequadas de trabalho para as escolas e
119
Tendo em vista esses objetivos, a pesquisa foi realizada em uma rede que de
alguma forma implementa, por meio de movimentos dialéticos de ruptura e
continuidade, os princípios da AIP, o que tenciona o entendimento corrente sobre
qualidade educacional, coletividade e confiança, dados os limites da literatura
sinalizados em tópico anterior.
A “responsabilização compartilhada” pressupõe que não podemos ignorar a
parte de responsabilidade do poder público - no caso a Secretaria Municipal de
Educação - em prover condições adequadas de trabalho para as escolas e seus
profissionais. Por esse motivo incluímos na presente pesquisa, além dos pares
“professores-professores”, “professores-pais” e “professores-equipe gestora” abordados
na literatura, o par “professores-Secretaria Municipal de Educação”, com objetivo de
compreender a relação entre os dois níveis de confiança interno e externo à comunidade
escolar.
A “qualidade social e negociada” pressupõe que a definição de qualidade vai
muito além do alcance de melhores notas em testes padronizados de português e
matemática. Existem múltiplos objetivos para a educação, e a definição do que é “o
melhor” para as crianças é necessariamente um campo em disputa. Como discutiremos
no capítulo 5, as observações em campo mostraram que as escolas, de forma mais ou
menos explícita, tocam inevitavelmente em questões espinhosas relativas à concepção
de educação, que não se encontram resolvidas a priori por políticas externas.
Por exemplo, em uma mesma escola, há professores que afirmam com toda
convicção que “o melhor” para os alunos é serem reprovados, enquanto outros
121
construção de relações de confiança in loco. Essa etapa permitiu, junto com as trinta
entrevistas, compreender com mais profundidade como as características e dimensões
da confiança, confirmadas no instrumento, manifestam-se na complexidade do
cotidiano.
O cronograma da pesquisa pode ser resumido na tabela abaixo:
Construção Instrumento*
Aplicação Instrumento
(30 escolas)
Observação (2 escolas)
Validação Estatística
(Análise Fatorial Confirmatória)
*Análise de conteúdo das entrevistas, revisão da literatura, elaboração de categorias e itens iniciais,
validação conceitual e semântica.
Fonte: elaboração própria
33
A definição mais detalhada de cada dimensão, com seus respectivos itens, encontra-se em Anexo 2.
34
Os detalhes da validação estatística e composição dos valores estão descritos em SORDI et. al. (2016).
127
35
As médias das escolas foram comparadas a partir do Independent-Samples t-Teste realizado em SPSS.
Foram comparadas entre si as escolas próximas aos valores mínimo e máximo, até que o valor de ‘p’
passasse a ser menor que 0,05, indicando diferenças significativas entre elas (DANCEY, REIDY, 2006).
Dessa forma chegamos a dois grupos, das piores classificadas e das melhores, sendo que não há
diferenças significativas entre as escolas de um mesmo grupo, à medida que na comparação entre elas ‘p’
foi maior que 0,05.
36
Disponível no site do INEP em http://idebescola.inep.gov.br/ideb/escola/dadosEscola, último acesso
em 04/12/2018.
128
Ações para cumprimento das metas: mais integração entre a equipe gestora, corpo docente,
equipe de apoio, CPA, Conselho de Escola e equipe do NAED Sudoeste (Relatório de auto-
avaliação entregue à SME na ocasião de Reunião de Negociação, 2014).
37
Disponível no site do INEP em http://idebescola.inep.gov.br/ideb/escola/dadosEscola, último acesso
em 04/12/2018.
38
O núcleo de avaliação institucional da Secretaria Municipal de Educação nos disponibilizou
documentos relativos às reuniões de negociação de 2010, 2011 e 2014: planilhas e tabelas organizadas
pela SME contendo as demandas das CPAs por escola; slides apresentados pelas escolas na ocasião das
reuniões, bem como seus relatórios de auto-avaliação que embasaram a produção dos slides. Esses
documentos serviram, sobretudo, para categorização de demandas elaboradas pelas CPAs e direcionadas
ao poder público, com objetivo de mapear, junto com os dados provenientes das entrevistas, as
expectativas dos professores em relação ao poder público, o que serviu de base para elaboração dos itens
da escala sobre confiança, relativos ao par “professores-SME”. No entanto, parte desses documentos foi
usada também na presente fase de escolha das escolas, para confirmar os achados da escala de qualidade
social da pesquisa OBEDUC.
129
É importante enfatizar que tal classificação foi realizada meramente para fins de
seleção das escolas, e para oferecer subsídios à análise dos processos observados em
campo. No entanto, estamos cientes das limitações desses números, que não são capazes
de captar toda a complexidade do trabalho escolar, devendo sempre ser analisados em
diálogo com dados provenientes de diversas fontes.
. . .
Essas foram, portanto, as duas escolas escolhidas, por apresentarem indícios de
que proveriam ambientes diversificados, nos quais se poderiam observar diferenças no
processo de construção de relações de confiança.
A observação iniciou-se em 25 de julho de 2016 e foi finalizada em 06 de julho
de 2017, totalizando dez meses. Acompanhei os seguintes momentos de trabalho
coletivo:
ESCOLA A ESCOLA B
TDCs (1º a 5º anos) 13 10
TDCs (6º a 9º anos) 9 13
CPAs 18 2
Reuniões de Pais 3 4
Conselhos de Escola 2 2
Conselhos de Classe 3 2
131
RPAIs 2 3
Outras39 0 1
TOTAL (reuniões) 50 37
TOTAL (dias) 42 37
TOTAL (horas) 100 horas 74 horas
174 horas de observação
Fonte: elaboração própria
privilegiem outros grupos como “confiantes”40, na presente tese optamos por reforçar a
centralidade conferida ao professorado, e, mais que isso, incluímos a escuta de suas
vozes como parte da construção do instrumento, pois compartilhamos a posição de
Simões (2018), segundo a qual:
40
Pesquisadores ligados à corrente de Wayne Hoy introduziram na década de 2000, a partir da
Universidade do Estado de Oklahoma, os primeiros estudos que usavam outros grupos como
“confiantes”: eles investigaram a confiança dos pais na escola e no diretor, e dos estudantes no diretor, e
suas correlações com a já conhecida confiança dos professores e com uma série de resultados escolares
como eficácia docente coletiva (FORSYTH et al., 2011).
41
As escolas A e B do campo não estão entre as nove escolas escolhidas para as entrevistas exploratórias.
133
ESCOLA D
Ciclo I 20 anos
(1 professora)
ESCOLA E 7º ano.
24 anos
(1 professor) História
7º anos e EJA.
15 anos.
Português.
SUDOESTE 9º e 8º anos
(5 professores) 15 anos
ESCOLA F Português.
(4 professoras) 6º ao 9º e do EJA.
12 anos
Artes.
6º e 8º. Português. 7 anos
Ciclo II 5 anos
ESCOLA G
(3 professores) Ciclo I. 15 anos
Ciclo I e II 5 anos
NORTE
(6 professores) Ciclo I 5 anos
ESCOLA H
(3 professores) 6º e 7º anos. História. 15 anos
1º ano 12 anos
3º ano 12 anos
2º ano 15 anos
Ciclo I 12 anos
SUL ESCOLA K
(6 professores) (6 professores) Ciclo I 3 anos
5º ano. 5 anos
1 ano
Ciclos III e IV (experiência anterior na rede
estadual: entrou em 1992)
Fonte: elaborado pela pesquisadora.
42
As perguntas marcadas com hífen representam uma forma alternativa de perguntar a mesma coisa,
visando a confirmar/reforçar as respostas à pergunta anterior e introduzir novos elementos não captados
pela pergunta anterior.
135
procedimento, já que ele permite maior rapidez em coletas extensas e agiliza a análise
(LUDKE, 1986). Buscamos minimizar a desvantagem de perda de informações, uma
vez que o registro foi feito de forma bastante atenta pela pesquisadora, visando a
preservar o essencial das falas dos sujeitos entrevistados.
As respostas dos sujeitos foram categorizadas segundo procedimento de análise
de conteúdo descrito por Bardin (2004). Primeiro, fizemos uma leitura atenta a cada
entrevista individualmente, organizando os tipos de expectativas dos sujeitos para cada
par de relação (professores - professores; professores - equipe gestora, professores -
pais/responsáveis, professores - SME). Posteriormente, realizamos uma leitura
transversal dessas expectativas sistematizadas, o que nos permitiu formar categorias
gerais que dessem conta de agrupar, por semelhança de conteúdo, os tipos de
expectativas de todos os sujeitos entrevistados.
Em relação à equipe gestora, por exemplo, as categoriais emergentes foram:
Apoio aos professores (materiais, ideias); Mediação com SME; Abertura a mudanças;
Preocupação com os alunos; Consideração (com o ser humano e com o profissional);
Respeito (à competência profissional e às características individuais); Abertura ao
diálogo; Compromisso com trabalho coletivo; Sintonia dentro da equipe gestora;
Integridade (intersecção entre discurso e prática, clareza no que acredita e nas próprias
ações, compromisso com a educação e com a escola); Competência; Flexibilidade.
Construímos uma tabela com três colunas, relacionando 1. o nome da categoria; 2. as
falas dos entrevistados que caracterizam a categoria; 3. os entrevistados responsáveis
pelas falas de cada categoria. Aquelas com poucas falas/sujeitos, como “Flexibilidade”,
quando não se mostravam claras ou não tinham relação com a literatura, foram
descartadas.
Por fim, após construção dessas categorias iniciais para cada par de relação,
chegou o momento de construir as categoriais finais, que dessem conta de perpassar
todos os pares. Nesse momento, fizemos o diálogo entre nossas categorias e as da
literatura. Percebemos que as quatro categorias da corrente de Chicago (Integridade,
Competência, Consideração, Respeito) eram mais completas e densas quando
comparadas com as seis facetas da corrente de Wayne Hoy (Reliability, Benevolence,
Openness, Competence, Willing to Risk, Honesty), uma vez que aquelas primeiras
conseguiam abranger tanto as nossas categorias elaboradas a partir das entrevistas,
136
inovação; 2. colaboração entre os pares; 3. diálogo reflexivo; 4. foco nos estudantes 43,
entre outros. Esse constructo relaciona-se com a ‘confiança relacional’ na medida em
que as escolas caracterizadas por essas condições costumam apresentar graus elevados
de confiança44.
Da mesma forma, a corrente de Wayne Hoy considera outro constructo,
chamado “clima escolar”, no qual aparecem algumas menções ao trabalho coletivo.
Tarter et al. (1989) definem “clima engajado” como aquele no qual os professores são
extremamente orgulhosos de sua escola, gostam de trabalhar uns com os outros, se
apoiam mutuamente, se preocupam uns com os outros e são comprometidos com os
estudantes. O “clima apoiador”, por sua vez, é definido como aquele no qual o diretor
ajuda os professores, preocupa-se com seu desenvolvimento profissional e pessoal, e
motiva-os usando críticas construtivas. Os autores concluem que há uma relação entre
os constructos ‘clima’ e ‘confiança’, à medida que quanto mais “engajado” e “apoiador”
for o clima, maior a confiança nos pares e no diretor.
No entanto, em nossos dados essas questões apareceram como fazendo parte
intrinsecamente do processo de construção da confiança. Os professores diziam que,
para confiarem em seus pares, por exemplo, estes precisavam comprometer-se com as
crianças, estar dispostos a trabalhar coletivamente, compartilhar experiências, e repensar
constantemente o próprio trabalho, uma vez que isso é considerado um sinal de
comprometimento com a educação.
Assim, itens relacionados a essas questões foram incluídos em nosso
instrumento, na dimensão “Integridade”. Além dessa dimensão, nossa definição das
outras (Respeito, Competência, Consideração) também bebeu nas fontes de Bryk e
Schneider (2002); porém julgamos importante refinar as definições de cada dimensão
para atender aos nossos princípios, relacionados a um tipo de trabalho coletivo que
envolve, além do “compartilhamento de visões”, os processos de negociação que
permitem chegar a objetivos comuns socialmente referenciados. Referir-se meramente a
“compartilhamento de visões” pode remeter a que apenas uma pessoa ou um grupo
43
1. Se os professores estão dispostos a assumir riscos e buscar novas ideias; 2. Se os professores fazem
projetos juntos, coordenam seu trabalho com o de outros anos; 3. Se os professores conversam sobre os
objetivos da escola, concepções de ensino-aprendizagem, desenvolvimento de novos currículos, sobre
práticas que ajudam os alunos a aprenderem melhor; 4. Se a escola foca no que é melhor para o
aprendizado dos estudantes, estabelece objetivos elevados de aprendizagem acadêmica, e preocupa-se em
desenvolver habilidades sociais nos estudantes.
44
A correlação entre os constructos foi feita com base em sucessivas medidas ao longo do tempo, e
controlando variáveis relacionadas a diversos aspectos da composição e características escolares.
138
dentro da escola decide o que deve ser feito e os outros necessariamente aderem à ideia,
que pode limitar-se à busca pelo aumento dos índices de proficiência em português e
matemática.
Por fim, foi nesse diálogo entre nossas concepções, os dados provenientes das
entrevistas, e a literatura da área que construímos nossos itens, e confirmamos a
pertinência daquelas quatro dimensões para caracterizar o fenômeno da confiança. Foi
dado, assim, o primeiro passo na confirmação de que a construção da confiança
depende, na visão dos professores, de manifestações de respeito, consideração,
integridade e competência. Essas dimensões fizeram sentido para todos os pares de
relação, inclusive para o par “professores - Secretaria Municipal de Educação (SME)”,
mesmo este não sendo abordado pela literatura. Ou seja, as categorias iniciais que
elaboramos para todos os pares mantinham relação clara com a definição das quatro
dimensões, ainda que estas tenham adquirido novas nuances para conseguir abarcar
todas as categorias provenientes das entrevistas.
Os itens relacionados à “confiança institucional” surgiram da análise das
entrevistas e das demandas negociadas pelas CPAs nas Reuniões de Negociação com a
SME. Tivemos acesso a essas demandas através dos documentos das reuniões de 2010,
2011 e 2014 disponibilizados pelo Núcleo de Avaliação Institucional da Secretaria45.
Consideramos basicamente essas duas fontes (entrevista e análise documental) para
compor os itens da relação “professores - SME”, dado que a literatura sobre confiança
política nas instituições não destrincha as expectativas que os professores possuem em
relação a esse órgão específico (NEWTON & NORRIS, 2000; MOISÉS &
CARNEIRO, 2010).
Ao invés, a metodologia de pesquisa principal utilizada por essa literatura é a
análise de dados provenientes de questionários (Latinobarômetro ou World Values
Survey) que medem valores e adesão das pessoas à democracia. Para captar o grau de
confiança dos cidadãos nas instituições democráticas, as pesquisas geralmente recorrem
à seguinte pergunta dos questionários: “Qual seu grau de confiança nas seguintes
instituições: polícia, parlamento, partidos etc”? Ou seja, trata-se de perguntas muito
diretas, que não destrincham os componentes da construção de relações de confiança, e
abrangentes, que não se referem a órgãos municipais de áreas de atuação específicas.
45
O núcleo de AI nos cedeu: slides apresentados pelas escolas na ocasião da RN em 2014; planilhas com
as demandas de 2014 organizadas por tipo de demanda; folhas impressas com tabelas das demandas de
2010 e 2011 organizadas por escola; vídeos das Reuniões de Negociação de 2014.
139
PROFESSOR-DIRETOR
Dimensões Itens
RESPEITO
7. A equipe gestora sempre respeita
Avalia como a conversa ocorre entre as partes, se os professores.
existe um senso de escuta em relação ao que as
pessoas pensam e dizem. Os professores precisam
sentir-se à vontade para expressar suas inquietações e 8. A equipe gestora dá bastante
preocupações relativas à educação das crianças e ao liberdade para os professores se
ambiente de trabalho. Essa abertura assinala que os colocarem, pautarem questões,
pensamentos e ideias de cada pessoa têm valor. opinarem.
COMPETÊNCIA
Competência na execução das responsabilidades que 9. A equipe gestora é competente na
a função requer. Avalia-se quanto a equipe gestora é execução de suas responsabilidades.
capaz de atingir objetivos de aprendizagem para as
140
RESPEITO
21. Os professores respeitam uns aos
Inclui avaliar como a conversa ocorre entre as partes outros.
e se existe um senso de escuta e de consideração em
relação ao que os colegas pensam e dizem. Trata-se 22. Os professores estão sempre
de um respeito às diferenças de pensamento; ter dispostos a se ouvir para aprender
educação e cautela na forma de abordar questões e uns com os outros.
resolver problemas; estar aberto a ouvir o que o outro
pensa e aprender com o outro, afastando a postura de
achar que já se sabe tudo e está sempre certo. 23. Os professores nunca ouvem uns
aos outros, pois acham que os outros
professores têm pouco a contribuir.
COMPETÊNCIA
algum problema;
2. Quando ajudam a pensar junto o que a escola pode
fazer para o aluno melhorar seu aprendizado e seu
relacionamento com as pessoas e, quando é o caso,
agilizam ações de articulação intersetorial para 50. O(a) supervisor(a) nunca está
encaminhar questões de saúde, familiares, de conosco nos momentos em que a
violência, que afetam a vida escolar dos alunos. escola está passando por dificuldades.
3. Pela ajuda que oferecem para lidar com problemas
de evasão e infrequência;
4. Quando ajudam a resolver questões de
relacionamento interpessoal entre a equipe através de
conversas e reuniões com o coletivo escolar;
5. Oferecem apoio quando a escola está passando por 51. O(a) supervisor(a) zela pelas
alguma mudança e precisa repensar a organização necessidades da nossa escola.
dos tempos e turmas.
RESPEITO
52. A SME cria espaços e
Inclui avaliar como ocorre a conversa entre as partes. oportunidades para ouvir a opinião
Os professores esperam que a SME os chame para dos professores sobre questões que
“construir junto”, considerando sua voz no processo impactam a qualidade da educação.
de tomada de decisões a respeito de questões que
impactam seu trabalho e a qualidade da educação.
Trata-se de uma postura de escuta e consideração - 53. A voz dos professores é
por meio de Conselhos, Comissões, Conferências - considerada pela SME nos processos
em relação ao que a comunidade escolar pensa e de tomada de decisões.
julga necessário para a melhoria da educação.
COMPETÊNCIA 54. A SME cumpre adequadamente
sua parte de responsabilidade na
Diz respeito à competência na execução das garantia de uma educação pública de
responsabilidades que a função requer. Avalia-se qualidade.
quanto a SME é capaz de atingir condições
adequadas de trabalho, que valorizem o professor 55. No que se refere à infra-estrutura,
enquanto profissional e garantam o atendimento das a SME oferece boas condições de
necessidades da escola. Manifesta-se nos seguintes trabalho para nossa escola.
aspectos:
- Infra-estrutura física (quadras cobertas, salas de
56. No que se refere a recursos
aula em número suficiente, laboratórios de
humanos, a SME oferece boas
informática e de ciências bem equipados etc);
condições de trabalho para nossa
- Recursos humanos (quadro completo de professores
escola.
e funcionários);
- Recursos, equipamentos e materiais adequados;
57. Em termos de
- Condições adequadas para formação profissional e
salário/jornada/formação, os
realização de projetos na escola
professores têm boas condições de
- Valorização do professor em termos de salário,
trabalho nessa rede.
carreira, jornada.
- Número adequado de alunos por sala.
58. A Secretaria de Educação me
valoriza enquanto profissional.
INTEGRIDADE
Avalia-se quanto a SME assume uma postura de 59. Eu confio na Secretaria Municipal
defesa da qualidade da educação, colocando “os de Educação.
alunos em primeiro lugar”. Ou seja, os entrevistados
145
46
Os OPs são membros das equipes gestoras das escolas, junto com a diretora e as vices.
47
Os CPs são profissionais lotados no nível central da SME, ou no Departamento Pedagógico ou na
Secretaria de Educação Básica.
146
expectativas dos professores quanto a esse aspecto específico. Essa última entrevista foi
realizada em maio de 2016.
PROFESSORES ATUAÇÃO/JUSTIFICATIVA
É Coordenadora Pedagógica na Secretaria Municipal de
Educação de Campinas. Participou da Assessoria de Avaliação
Profa. Dra. Eliana da Silva Institucional dessa mesma Secretaria, oferecendo formação às
Souza escolas como parte do processo de implementação da política
de Avaliação Institucional Participativa. Seus estudos
acadêmicos também estiveram focados nessa área.
It has been our experience that 5- or 7-point formats suffice, and providing
more response alternatives may not enhance scale reliability or validity. If the
researcher wants to provide a “label” for each scale, it is easier and probably
more meaningful for both scale developer and respondent if 5- or 7-point
formats are used. More alternatives may require more effort on the
respondent’s behalf by forcing him or her to make finer distinctions. This, in
turn, can produce random responding and more scale error variance
(NETEMEYER et al, 2003. p.101).
Por favor, em cada item marque apenas uma nota, numa escala gradativa de zero (0)
a seis (6), onde zero indica discordância máxima e seis indica concordância
máxima. Nos itens que você não tem opinião, não se aplicam à sua realidade ou sua
posição é de indiferença, coloque a nota três (3).
0 1 2 3 4 5 6
Discordo Discordo Discordo Concordo Concordo Concordo
plenamente um pouco um pouco plenamente
Por outro lado, uma breve análise das falas das equipes gestoras nos indica que
algumas escolas não confiam na universidade, seja porque possuem certas expectativas
em relação ao seu papel que não veem serem cumpridas, ou porque acreditam que não
ganharão nada expondo suas fraquezas. Ao contrário, talvez até acreditem que perderão
prestígio, pois talvez pensem que os pesquisadores da universidade estão lá somente
para julgá-los e apontar falhas, ao invés de ajudá-los a resolver seus problemas.
Ao que tudo indica, de uma forma ou de outra esses apontamentos convergem
para se pensar: qual papel a universidade desempenha na visão das equipes gestoras e
professores? Qual papel deveria desempenhar? Essas expectativas são claramente
negociadas entre sujeitos das escolas e da universidade? Seguindo os pressupostos dessa
tese, acreditamos que é necessária uma negociação coletiva e transparente na
formulação dessas expectativas para que se construam relações de confiança mais fortes
e duradouras entre escolas e instituições de ensino superior.
No Anexo 6, consta o modelo impresso do instrumento, tal como foi aplicado
nos professores. O Anexo 7 traz o modelo dos Termos de Consentimento Livre e
Esclarecido de acordo com as exigências do Comitê de Ética da Unicamp, que foram
assinados pelos respondentes do instrumento e também das entrevistas realizadas na
etapa anterior.
153
48
Ou seja, aquelas nas quais quanto mais próximo a zero o sujeito responder, mais confiança possui.
154
CONSTRUCTOS ITENS/VARIÁVEIS
Confiança na1. Sinto que posso contar com o apoio dos pais/famílias dessa escola
relação para realização do meu trabalho.
Professores- 2. Os professores realmente se importam com a comunidade que
Pais/famílias atendem.
(PA) 3. A escola empenha-se constantemente em convidar os pais/famílias
para participar da CPA e/ou Conselho de Escola.
4. Os pais/famílias sentem-se à vontade nas reuniões da escola,
expondo suas opiniões, anseios, necessidades.
5. Avaliamos coletivamente, com alunos e pais/famílias, quais são as
potências, as dificuldades, e o que podemos melhorar no trabalho da
escola.
6. Os professores dessa escola têm consideração pelas opiniões dos
pais/famílias.
7. Sinto-me respeitada(o) pelos pais/famílias.
8. Sinto que os pais/famílias não educam seus filhos e, portanto, eles
não se comportam adequadamente na escola. (INVERTIDO)
9. Sinto que os pais/famílias têm consideração pelo que nós professores
dizemos sobre a educação de seus filhos.
10. Os pais/famílias confiam no trabalho dos professores dessa escola.
11. Os pais/famílias se esforçam para ajudar seus filhos a aprender.
12. Os pais/famílias mostram interesse pelos assuntos da escola.
13. Os professores e pais/famílias dessa escola estão juntos na educação
das crianças/jovens.
14. Os pais/famílias dessa escola preocupam-se em acompanhar a vida
escolar de seus filhos.
15. Os pais/famílias estão sempre participando das reuniões, festas e
eventos dessa escola.
Confiança na 16. Tenho autonomia para organizar minha prática pedagógica em sala
relação de aula.
Professores- 17. Sinto que posso contar com o apoio do(a) diretor(a) para realização
Equipe gestora do meu trabalho.
(G) 18. O(a) diretor(a) compartilha informações importantes com os
professores (por ex. sobre nossa vida funcional, sobre o que está
acontecendo na rede etc.)
19. Sinto-me como se estivesse sozinha(o) nas minhas atividades
155
Esse modelo foi montado e analisado no software Smart PLS 2.0, seguindo as
orientações de Ringle, Silva e Bido (2014), Silva et al. (2016) e Hair et al. (2009). O
primeiro passo da análise do ajuste do modelo foi a mensuração da Validade
Convergente através do teste AVE (Variância Média Extraída). Esse teste pretende
avaliar quanto, em média, as variáveis/itens se correlacionam positivamente com seus
respectivos constructos. Para se obter o valor AVE, é calculada a média das correlações
(entre cada item e seu constructo) elevadas ao quadrado. Os valores devem ser maiores
que 0,50 para que o modelo seja satisfatório.
Fizemos três rodadas desse teste: na primeira, os construtos PA (Pais/famílias),
PR (Professores) e G (Equipe Gestora) apresentaram valores de AVE menores que 0,50,
destacados em vermelho, como se pode visualizar na primeira coluna da tabela abaixo:
157
Composite
AVE Reliability R Square Cronbachs Alpha
49
O círculo azul central representa o constructo de segunda ordem “Confiança interpessoal e
institucional”. Os valores dispostos nas setas entre os círculos azuis periféricos e central (ou seja, entre os
constructos de primeira ordem e o constructo de segunda ordem) são os “coeficientes de caminho”, cuja
análise será apresentada mais adiante.
159
Figura 2 - Modelo ajustado após eliminação das variáveis com carga inferior a 0,50
Composite Cronbachs
AVE Reliability R Square Alpha
G PA PR S
G 0,727
PA 0,379 0,737
PR 0,345 0,267 0,717
S 0,470 0,416 0,309 0,723
Fonte: gerado em Smart PLS 2.0 com dados da pesquisa
quatro constructos estão acima de 0,30. Pode-se afirmar, então, que há um “efeito
grande” do modelo estrutural sobre cada um desses constructos de primeira ordem.
Dando sequência, deve-se avaliar se as relações do modelo são significantes. Há
dois tipos de relações no modelo de segunda ordem com o qual estamos trabalhando: as
correlações (relações entre variáveis e constructos) e regressões lineares (relações entre
constructos). Com objetivo de avaliar as significâncias das correlações e regressões, o
Smart PLS calcula Testes t-Student a partir do módulo Bootstrapping. Os valores t
precisam ser maiores ou iguais a 1,96 para que as relações sejam consideradas
significantes/válidas. Nesse caso, as setas da Figura 3 mostram que todos os valores das
relações constructo-variável e das relações constructo-constructo estão acima do valor
de referência.
Q² F²
G 0,385 0,478
PA 0,219 0,431
PR 0,187 0,423
S 0,286 0,432
Fonte: gerado em Smart PLS 2.0 com dados da pesquisa
G PA PR S
50
Os dados foram obtidos selecionando-se Analyze > Descriptive Statistics > Frequencies, no SPSS 15.0.
As frequências das respostas a cada item encontram-se no Anexo 8.
166
14. A gente perdeu muito o caráter da escola, autonomia escolar pra decisões escolares. O que
era escolar não é mais, é decidido na SME e depois rebate aqui. Eu percebo que existem
algumas coisas que são levadas muito a ferro e fogo. Que o pessoal dá uma razão pros pais e
pra pessoas que não entendem nada de educação, dão razão pra essas pessoas, e quem tem anos
de experiência fica relegado ao nada [...] A SME deveria confiar nos professores e nos gestores,
deixar ousar, tem que buscar dos professores e gestores a melhoria.
13. Eles só vêm pra impor. Sempre acontece de uma forma muito truculenta. Tão sempre
distantes, e quando vem é pra impor. Causa na gente certa aversão. Deveriam dar respaldo pra
que todos trabalhassem de uma forma melhor na escola [...].Vejo como uma instância de
cobrança e não de assistência.52
1. Tem que auxiliar pedagogicamente, estar mais presente na escola, mas não para pressionar,
para ajudar.
4. Eles têm que ter contato mais próximo com a escola, percepção do cotidiano escolar, da
especificidade de cada escola, das necessidades e características reais de cada escola.
8. Penso na SME como um prédio distante onde as coisas são decididas pensando mais no peso
econômico, em reduzir gastos.
13. Falta vínculo da Secretaria com o trabalho pedagógico, com o que acontece na escola, estar
presente nas reuniões, Conselho, espaços da escola, fazer parte do coletivo, pra entenderem por
que reprovamos, por exemplo, como o processo de dá.
17. Deveriam ter uma relação mais próxima com a comunidade, participar das reuniões,
palestras pra comunidade, pra mostrar que somos uma equipe. Assim comunidade se sentiria
mais segura.
29. Pra ter confiança na SME, eles deveriam estar mais próximos da realidade da escola,
mostrar a cara, ir mais à escola.
3. Quero respaldo, apoio. Na educação especial isso se manifesta em recursos, por exemplo,
mais fonos e psicólogos para dar atendimento adequado ao aluno.
11. Quero suporte para amparar o trabalho da escola, quando a escola tem problema e não dá
conta de resolver. Agilidade na resposta ao problema. NAED poderia ter procedido de outra
forma no caso de aluno com problema de agressividade, encaminharam pra abrigo ao invés de
pensar em algo que a escola pudesse fazer para ajudá-lo.
52
Cada número corresponde a um professor entrevistado. Lembrando que foram trinta professores.
170
17. Atender às necessidades da comunidade escolar, nas questões além das pedagógicas, que
envolvam saúde, questão familiar, articulação intersetorial, pra dar maior atenção ao aluno.
18. A lei deveria ter flexibilidade para se ajustar ao que a escola precisa. Por exemplo, CHP
(hora de reforço com aluno) poderia ser usada pra planejamento.
18. Deveria se preocupar com questões pedagógicas, ter mais tempo pra conversar com o
professor, reuniões focadas nas dificuldades de grupos menores (profs. do 1º ano por ex), para
ver o que se pode fazer para o aluno melhorar, planejar estratégias a longo prazo.
19. Dar resposta para questões como problemas de alunos (saúde, família, violência).
22. Precisam olhar mais o lado do professor. Ouvem mais o pai, por exemplo, quando querem
matricular mais alunos mesmo a escola já estando no limite.
26. Falta apoio na questão pedagógica, saber lidar com alunos que precisam de atendimento
especializado. Pra onde encaminho, o que faço?
Os professores esperam que eles venham mais à escola no dia a dia pra conhecer a comunidade,
conhecer as situações reais, pra não mandar mais aluno pra um espaço que não comporta.
Estar aqui conosco, ver que preciso de uma sala, não tenho infra-estrutura, quais adequações a
gente faz.(Orientador Pedagógico E)
28. O supervisor vem à escola quando é chamado, por exemplo, no caso do fechamento do
período intermediário. E ouvem as demandas, ainda que não atendam sempre. Há uma
negociação, veem o que é possível fazer. As turmas fecharam, não teve jeito, mas ajudaram a
gente na transição, alugando um barracão bem perto da escola.
o PPP passava pela análise do CP, que subsidiava e dava um parecer: o que a escola colocou
no PPP? Essas ações vão dar conta de atingir a meta? Essa escola tem muitos alunos sem
conceito, o que ta havendo? Auxiliava a escola a pensar seu Projeto. Era mais próximo, ia lá e
analisava, “essa classe ta com muitos alunos sem conceito, sem bom desempenho, o que ta
acontecendo?”. Todos trabalhavam o PPP. E também ajudava a implementar a política, fichas
descritivas, diretrizes curriculares. (Coordenador Pedagógico 1)
[os CPs] estavam muito próximos a escola, iam à escola, participavam das reuniões, tinha um
apoio pedagógico próximo, acompanhavam organização da escola, tempos pedagógicos, TDCs,
planejamento dos professores, CPAs, planejamento do trabalho dos OPs. (Coordenador
Pedagógico 2)
vão com pouca frequência às escolas, só para resolver problemas pontuais diretamente
com a equipe gestora referentes, por ex., à matrícula, fechamento de turmas,
transferência de alunos, tendo pouco contato com a equipe docente.
Segundo uma Orientadora Pedagógica entrevistada, os supervisores cobram “o
cumprimento de determinações legais (preenchimento de ficha, do PPP online,
reposição de aula)”, o que ela considera um trabalho “muito legalista, pautado em
números, quantidade, não é orientação pedagógica”. Um coordenador pedagógico
entrevistado concorda que “o olhar ainda é legal, administrativo, ver se falta professor,
se o aluno ta sem escola, se o ponto escola foi entregue no prazo, se tem aula pra repor,
transferência pra aluno”, o que ele considera uma “carga burocrática intensa, que
toma muito tempo, enquanto o trabalho mais pedagógico, olhar pras fichas descritivas,
pro Projeto Pedagógico, fica em segundo plano”.
O instrumento confirmou que a proximidade da SME em relação às escolas,
manifesta de forma pessoalizada na figura do supervisor, influencia a construção da
confiança dos professores em relação ao poder público. Nos três itens 40, 41 e 42,
relativos a essa questão, a maior percentagem de respondentes alegou ser
indiferente/não sei/não se aplica (resposta 3). Como alguns salientaram, “não existe
muito contato entre SME/Supervisor e os professores, tanto que nem sei o nome dele”;
“vejo pouco a supervisora... quando está na escola, não fico sabendo que assunto veio
tratar ou resolver”, segundo comentários por escrito deixados por professores na parte
aberta do questionário.
MÉDIA
ITEM
(0-6)
40. O(a) supervisor(a) conhece a realidade de nossa escola. 3
41. O(a) supervisor(a) mostra prontidão em comparecer à escola quando é solicitado
3,18
para ajudar a resolver algum problema.
42. O(a) supervisor(a) nos ajuda a defender as necessidades da nossa escola. 2,91
43. A SME cria espaços e oportunidades para ouvir a opinião dos professores sobre
2,03
questões que impactam a qualidade da educação.
44. A voz dos professores é considerada pela SME nos processos de tomada de decisões. 1,64
45. A SME cumpre adequadamente sua parte de responsabilidade na garantia de uma
2,06
educação pública de qualidade.
46. A SME compromete-se com a melhoria da minha qualificação profissional, criando
3,33
espaços e oportunidades para isso.
47. No que se refere à infra-estrutura, a SME oferece boas condições de trabalho para
2,36
nossa escola.
48. A SME oferece boas condições de trabalho para nossa escola, no que se refere à
2,31
garantia de quadro completo de docentes, funcionários, e equipe gestora.
172
54
Quanto às demandas de 2014, utilizamos tabelas organizadas pela SME com as demandas das escolas
das regiões NOROESTE, NORTE e SUL. Algumas escolas destas regiões, bem como escolas da LESTE
e SUDOESTE, não constavam nessas tabelas, e para estas escolas recorremos às apresentações/slides que
as escolas enviaram à SME. Quanto a 2010 e 2011, utilizamos folhas impressas que a SME nos
disponibilizou, nas quais constavam as demandas por escola. Esses dados dispersos nos permitiram
173
sistematização, concluímos que as RNs são utilizadas para a escola colocar suas
demandas individuais a respeito das condições estruturais de seu funcionamento, sendo
as questões mais frequentes aquelas relativas à infraestrutura física e recursos humanos -
44,8% e 29,7% respectivamente, das 575 demandas.
300
250
200
150
100
50
0
Fo ola
os
Se o
s
s
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montar, primeiramente por escola, tabelas com as demandas de todos os anos (2010, 2011, 2014). Depois,
categorizamos as demandas de todas as escolas e de todos os anos de acordo com a semelhança de
conteúdo observada entre elas (BARDIN, 2004).
174
Vejo essa situação de confiança localizada no ano passado [2016], quando você aplicou o
questionário. Porque tínhamos uma equipe completa de professores e a equipe gestora completa,
e também o quadro de apoio administrativo completo. Nessas condições havia de fato essa
confiança aqui dentro: tínhamos alguns combinados, quando surgia alguma questão que
precisávamos discutir, fazíamos isso nas RPAIs, CPA. Conseguimos trazer apoio das famílias...
a família tinha uma visão que aqui era uma bagunça, aí depois criamos procedimentos pra tudo.
A figura do diretor era importante pra isso. Ele também era o responsável por fazer compra dos
materiais que os professores pediam... Hoje [sem diretor/a] os professores precisam de lista de
material, mas a gente não consegue comprar. Aí cria uma apatia: professor bravo falando da falta
de condição de trabalho... e a gente [OP e vices] ta dando jeitinho em tudo, tivemos que pedir
pro diretor da outra escola assinar a compra, porque a gente não pode assinar papelada pra
compra. Nesse ano também tivemos muita situação de pais querendo agredir a gente. Teve
semana passada reunião com a supervisora pra essa mãe entender que ela não pode entrar
qualquer hora na escola....com o diretor aqui ele conseguia segurar esses problemas. Chegava um
175
pai desse jeito, e ele que resolvia. Ele dava o tom da música, a gente negociava... e agora a gente
ta apagando fogo... A gente tem que fazer de tudo agora, questões de relacionamento,
comportamento... estamos vivendo um momento de descaracterização da nossa função. Isso
fragiliza nossa confiança na SME. Ano passado a gente tinha condições melhores, por isso deu
que a confiança aqui era alta (Orientadora Pedagógica da escola com maior grau de confiança
segundo nosso instrumento, 13/04/2017).
Até 2014, havia muitas mudanças nos cargos inclusive na equipe gestora, as pessoas eram
transitórias e faltava comprometimento. Havia muito enfrentamento, falta de diálogo, de gestor
com aluno, professor com aluno, polícia vinha sempre tirar aluno da escola. Agora a SME
mudou o olhar, a partir de 2014, completou quadro com professores efetivos. Alunos passaram a
ter rotina, e uma equipe gestora olhando pra eles o tempo todo (Diário de Campo, Escola A,
04/08/2016).
Ao discutir jornada em 2013, e fui da comissão que sistematizou as propostas da rede, vimos que
há grandes resistências dos professores em ampliar jornada, colocar na carga obrigatória a
formação etc. Vieram à tona as várias visões: dos que querem jornadas mais coerentes com uma
dedicação ao trabalho, como profissão de alta responsabilidade, que viam isso como
potencializador da escola e do trabalho do professor; e dos que não querem muito envolvimento
com a escola, querem dar sua aula e sair correndo, se cansavam dessas horas, faltavam,
reclamavam, queriam abrir mão. Era penoso também pra quem acumulava trabalho com outras
redes; outros preferiam mais tempo com a família, por isso não queriam formação ou horas de
trabalho coletivo na jornada. Não era assim tão simples, a polêmica era grande. (Coordenadora
Pedagógica, grifo meu).
Jornada, Carreira e Formação (2013), o qual traz propostas de todas as escolas da rede a
respeito dessa questão. O Relatório documenta que “a grande maioria dos professores
(87%), sejam eles da educação infantil ou fundamental/EJA do ensino fundamental,
defende a proposta que a formação esteja incluída na jornada semanal”; e que, apesar da
baixa indicação de ampliação dos Tempos de Trabalho Coletivos (TDC), 54% dos
professores dos anos iniciais e 55% dos anos finais do Fundamental propuseram a
criação de outros tempos de trabalho coletivo direcionados especificamente para
planejamento dentro do mesmo ciclo, período, ou área curricular (COMISSÃO DE
ESTUDOS SOBRE JORNADA, CARREIRA, FORMAÇÃO, 2013).
Esses dados corroboram o que temos observado em campo. Os professores
ressentem a falta de momentos de planejamento entre pares, sem a presença da equipe
gestora como no TDC, nos quais possam trabalhar em conjunto com os colegas de ciclo,
ou sentar com a professora de educação especial e planejar atividades para os alunos
com deficiência: “eles querem que a gente trabalhe em ciclo, mas não conseguimos
sentar junto!” (Diário de Campo Escola B, 13/03/2017).
Os professores também reclamavam que havia cada vez mais cobrança da
Secretaria sem a contrapartida do apoio necessário em termos de tempo e condições
materiais. Por exemplo, durante boa parte do ano de 2017 eles tentaram se adaptar a
uma nova exigência de registrar as faltas/presenças dos alunos em um sistema online, o
que gerou bastante insatisfação. Eles reclamavam que os computadores das salas de
informática eram precários, o sinal de wifi não chegava às salas de aula, nem todos os
professores receberam tablets, e que o sistema era muito ruim e demorado. Diante dessa
situação, pediam às equipes gestoras se podiam usar algum tempo pedagógico para
transportar os registros do papel impresso ao sistema, o que era dificilmente atendido
dado que o escopo de atividades permitidas nesses tempos tornava-se cada vez mais
limitado.
Em 2017, a jornada do professor de ensino fundamental incluía, além do tempo de
aula propriamente (TDA), o Trabalho Docente Coletivo de reunião entre professores e
equipe gestora (TDC), o Trabalho Docente Individual, utilizado para atendimento aos
pais (TDI) e o Trabalho Docente Preparação de Aulas (TDPA). O TDEP (Trabalho
Docente entre os Pares) existe apenas para as escolas de Educação Integral.
56
O objetivo do relatório era subsidiar a SME Campinas na implementação da Lei 11.738 de 16 de
julho de 2008, que regulamenta o Piso Salarial Nacional para os Profissionais do Magistério Público da
Educação Básica.
179
57
Apenas três escolas responderam em 2017.
180
58
O WVS é uma grande investigação sobre mudanças socioculturais e políticas, executada por uma rede
global de cientistas sociais a partir de surveys aplicados a amostras nacionais representativas de mais de
oitenta nações espalhadas por todos os continentes do planeta.
181
avaliação do governo, em termos das consequências que suas escolhas políticas geram
na vida privada (RIBEIRO, 2011).
Na mesma linha, Newton e Norris (1999) também utilizam dados do WVS
(1981-84; 1990-93) para documentar a crescente desconfiança política nas instituições
públicas da democracia representativa, desta vez nos países centrais de industrialização
avançada, considerando o parlamento, sistema legal, forças armadas, polícia, e serviços
civis. A explicação para o declínio da confiança foca no desempenho dos governos e
instituições políticas. Por meio de regressões estatísticas e influenciada pela teoria de
Robert Putnam, a pesquisa mostrou que, no nível agregado nacional, redes densas e
vibrantes de capital social, e os elevados níveis de cooperação e confiança a elas
associados, conduzem a instituições eficientes e responsivas às demandas dos cidadãos.
O bom desempenho dessas instituições, por sua vez, gera níveis elevados de confiança
política, o que sinaliza para uma relação entre confiança social e confiança institucional
mediada pelo desempenho das instituições.
Especificamente sobre o caso brasileiro, pesquisas recentes mostram que, apesar
do apoio ao regime democrático per se, cerca de 2/3 dos brasileiros não confiam - em
diferentes graus - em parlamentos, partidos políticos, órgãos executivos, tribunais de
justiça e serviços públicos de saúde, educação e segurança (MOISÉS, 2005a), o que
sinaliza para a multidimensionalidade do conceito de confiança: confiar nos princípios
do regime é diferente de confiar no desempenho concreto de suas instituições.
O autor busca as raízes dessa desconfiança nas teorias institucionais, segundo as
quais a explicação da confiança política radica na experiência dos cidadãos com as
instituições. A confiança é gerada, assim, pela avaliação crítica que eles fazem do
funcionamento concreto das instituições a partir do que aprenderam que é a sua missão
fundamental. A confiança depende, então, tanto da internalização de valores
normativos, ou seja, da identificação das pessoas com as instituições, aprendida através
de processos sucessivos de transmissão de seu significado de geração a geração, quanto
das experiências dos indivíduos ao longo de suas vidas adultas, o que os qualifica para
fazer avaliações racionais.
Os cidadãos confiam em instituições que funcionam de forma compatível com as
expectativas suscitadas por sua justificação normativa e seus fundamentos legais, ou
seja, que sinalizem imparcialidade, universalismo, justeza e probidade, decorrentes do
princípio da igualdade de todos perante a lei. Por outro lado,
182
59
Considerando os trinta professores e os cinco OPs inicialmente escolhidos.
60
Para uma análise completa sobre a política de educação desse governo, ver tese de Oliveira (2005).
61
A construção do Plano Municipal de Educação envolveu um momento de consulta às escolas e
discussão de suas propostas em cinco pré-conferências e uma Conferência Municipal de Educação,
convocadas pelo Fórum Municipal de Educação, ocorridas em maio de 2015.
185
4. Espero que ouçam nas mudanças relacionadas ao cotidiano escolar, porque parece que é
uma realidade distante deles, e como a gestão conhece melhor a escola, ela poderia propor
soluções que seriam mais produtivas ao invés de seguir uma receita. O que ta acontecendo
agora são várias reuniões sobre a organização das escolas integrais, eles querem mais
uniformidade...foi aberto o diálogo com os professores, mas muito do que foi pedido e proposto
pelas escolas [professores e direção] não foi atendido. Então ficou impressão de que tava tudo
pronto e que a abertura foi só uma máscara.
2. Espero que ofereçam recursos de acordo com o que a escola precisa...e deem maior
autonomia pras escolas. Formaram a comissão de escola integral consultiva... a escola vota
uma coisa, mas decidem outra....espero que realmente levem em consideração a consulta que
eles resolveram fazer. Acho que é isso, ouvir as escolas, o que ela aponta como necessidade.
8. Quando eu entrei [época em que Corinta estava à frente da SME] eu me sentia mais
valorizada do que agora, em relação a plano de carreira, em relação ao cumpra-se. Se a
educação é feita por nós, é a gente que tem que pautar as coisas. E obviamente a SME pode
dizer ‘isso é legal, mas não temos dinheiro’, mas eu só vejo o ‘isso vai ser assim e assado’. O
fechamento do período intermediário é um exemplo...(...), quando fecha período fecha sala de
aula (...) não fizeram rasgado como ta sendo do Alckmin63, mas teve caso de escola que a
prefeitura pagou ônibus pra estudar longe...acho isso ruim, fechar número de sala sem construir
escola...alunos perdem vínculo (...) tem uma sala aqui que tem um degrauzinho, é escura, e a
gente tem que por aluno lá (...), são condições de trabalho que impedem diálogo que nem tem...
quando diz que quer dialogar... mas como dialogar se a gente não tem condição de trabalho?
11. Por exemplo a questão do Plano Municipal de Educação... eles têm que promover os debates
dentro das escolas, fazer com que haja o diálogo, não podia ser uma opção de cada diretor. Tem
que ter essa discussão. Só depois de pressão que liberaram dois dias pra discussão, esse
espacinho precisou ser cavado.
24. Eu espero fomento, no sentido de garantir tempos e espaços de diálogo pra construção
participativa das políticas públicas da cidade, e isso não tem ocorrido (...) não só o espaço pra
discussão, mas pra avaliação, retorno, construção de ações, e retorno dessas ações (...) Hoje
não é um tom de vamos trabalhar juntos. Na época da Corinta existia tensão também, porque
tem os limites de verbas e tal. Mas hoje é só tensão, ta difícil. As últimas semanas a SME decidiu
padronizar os projetos de Ed. Integral. E isso mexeu muito com o projeto dessa escola. A nossa
escola tem um projeto diferente em termos de matriz. Eles mudaram a matriz, tiraram
62
Sobre a chegada dessa assessoria à RMC e os embates gerados com os educadores, ver Oliveira (2016).
63
Referindo-se à política do Estado de São Paulo de implementação das escolas de ciclo único, proposta
pelo então governador Geraldo Alckmin em 2015, que gerou muita polêmica entre educadores e
estudantes que reclamavam da forma autoritária como a decisão havia sido tomada.
186
profissionais. Já informaram do fechamento de turmas, não com plano de abrir outras, vão
aumentar o número de crianças na sala (...). Nenhuma das propostas que nós levamos foi
discutida, analisada. Eles queriam propostas que mudassem um pouquinho o formato dentro da
lógica que eles já tavam querendo.
5. Teria que olhar pra demanda da educação. Quando teve o Plano Municipal de Educação,
eles ouviram nossas vontades, mas na hora H fecharam com as entidades [organizações sociais].
Não ouvem nossa demanda, não atendem, não valorizam a educação pública.
16. A impressão que dá é que eles não têm uma total consciência do ambiente escolar. Escola
integral por ex. veio a ordem da implementação da escola integral, sem que tivesse a menor
condição física, pessoal, de funcionários, e às vezes a SME toma algumas atitudes arbitrárias
que vão contra tudo que a gente já ta desenvolvendo na escola, desconsidera...(...) e teve a
Falconi....uma decisão que vem sem consultar a escola, sem conhecer as reais necessidades da
escola (...) Pra ter confiança... que as ações sejam realmente democráticas, que os professores
sejam ouvidos. Normalmente são ouvidos...até tem aquela cara democrática...eles vem e
propõem...aí a gente dá o retorno, mas as coisas acontecem da forma como iam acontecer
mesmo, independente do que a gente pensou praquela ação.
23. o PME foi levado, foram levadas as propostas, aí vai lá na Câmara, o projeto aprovado tem
trocentos cortes. “A gente deu oportunidade”... mas e daí? Que oportunidade foi essa que a
gente vê que não tem encaminhamentos, que não é respeitado. Ocorreram discussões sérias em
várias escolas....e aí? Pelo menos um retorno a gente tinha que ter.
Solicitamos construção de sala, laboratório de informática. Mas até agora nada. Reunião de
negociação não avança nisso, não tem continuidade na gestão. Ir lá é expor nossa parte sem
acreditar que vai ter retorno (Orientadora Pedagógica B).
Espero que atenda às demandas da CPA. Nossa CPA fez umas reivindicações pra Secretaria,
mas não responderam... cobertura da quadra, questões de infra-estrutura. Às vezes não dá pra
atender, mas ao menos dar um retorno (Orientadora Pedagógica E).
20. Pedimos computadores na sala de informática, quadra de esportes. A CPA fez documento e
levou lá, mas até hoje nada.
22. Tivemos caso de demanda da CPA por quadra coberta, que nesse caso foi positivo porque
foram pra escola medir o espaço e hoje a escola é a segunda da lista.
que haja um retorno com clareza e registro dos encaminhamentos dados pela SME, e
listas que explicitem/acompanhem o compromisso de atendimento das demandas.
Quanto a isso, uma coordenadora pedagógica entrevistada ressalta a necessidade
de haver esse retorno, pois a falta dele desmobilizou tanto o núcleo de avaliação
institucional da SME que em 2015 não marcou reuniões de negociação, quanto as
próprias escolas, cujas CPAs passaram a se concentrar exclusivamente em demandas
internas.
Falta clareza em termos de política de rede, por parte de Secretaria e DEPE pra fortalecer
algumas coisas. Por ex., quando faz Reunião de Negociação, não precisa necessariamente
atender tudo, mas dar um retorno. Primeira reunião [em 2010] tinha só o Tadeu, o Secretário.
Não ficava nenhum registro de como as demandas iam ser encaminhadas, ele só falava na
reunião informalmente. Depois [reunião de 2011] tinha representante do CGP 64, que cuida dos
recursos humanos, outro representante que cuida da arquitetura escolar, do CAE. Aí quando as
escolas apresentavam as demandas, tinha a fala do Secretário e do fulano da área, mas ainda não
tinha retorno pra escola. A última [2014] foi no mesmo modelo, também acho que não teve
retorno. Teria que organizar a reunião da seguinte forma: CAE fala “temos 20 escolas”, organiza
uma lista, “nossa verba é tanto, esse ano vamos atender tal, tal e tal escola, primeiro atender a
escola Edson que ta mais precária”. E publiciza isso, dá a devolutiva pra todo mundo saber. Tem
que dar visibilidade pra isso e estar claro. Como não tem retorno, isso contamina outras coisas.
Como fazer reunião de negociação esse ano [2015] se não temos o retorno do ano passado?
(Coordenadora Pedagógica responsável pelo Núcleo de Avaliação Institucional, 2015).
A Orientadora Pedagógica conta aos professores que acabou de chegar de uma reunião com a
Supervisora, que informou sobre a mudança no CHP que agora é pra ser usado exclusivamente
com o aluno: “falei pra ela [supervisora] que vocês precisavam de um espaço pra conversar
com a professora de educação especial. Ela falou que a gente tem que documentar essa
necessidade, ou mandar um projeto de acordo com a carga de cada um”. As professoras
estavam indignadas que o horário CHP não poderia mais ser usado para planejamento e
formação. Diante disso, a diretora sugeriu: “vamos documentar que precisa desse momento de
planejamento, senão ano que vem vai ser igual”. Junto com uma professora, a Orientadora
Pedagógica reforça: “Temos que mandar um ofício, requerimento. Se não mandamos nada, fica
por isso mesmo!”. (Diário de Campo, ESCOLA B, 10/03/2017).
Quando terminou essa parte inicial [do evento de recepção aos pais, em que se falou sobre as
regras da escola, mostrou-se vídeo enaltecendo o trabalho dos alunos, e a Secretária de Educação
e o diretor do Departamento Pedagógico noticiaram à comunidade que a escola foi escolhida
para receber uma biblioteca, por meio de parceria entre uma ONG, a CPFL e a prefeitura], as
famílias presentes começaram a se dispersar. Alguns foram embora para trabalhar, outros
64
CGP: Coordenadoria de Gestão de Pessoas. CAE: Centro de Arquitetura Escolar.
188
procuraram os professores da turma de seu filho para conversar, e alguns alunos aproveitaram a
presença da Secretária de Educação para pedir a tão sonhada quadra coberta e ampliação da
cozinha. Depois de um tempo, em um cantinho, sentamos eu, o Orientador Pedagógico, alguns
alunos e uma professora participantes da CPA. Uma das alunas comentou como foi conversar
com a Secretária: “ela disse que não tem dinheiro esse ano, quem sabe ano que vem”. Nisso, a
professora indignou-se, cobrando que a CPA formalizasse mais uma vez o pedido, dessa vez
enviando um ofício à SME exigindo resposta formal por escrito, pois “não é de hoje que a gente
tenta, uma vez disseram pra CPA que a escola tava na lista, mas cadê que nunca chega nossa
vez?”. O Orientador Pedagógico (OP) interveio nessa hora, dizendo que foi dito ao diretor que a
escola não pode mais fazer o mesmo pedido, sendo que já tiveram uma resposta... insistir nisso
enviando um ofício de cobrança configuraria incitação ao poder público quando feito pelos
servidores públicos, sendo passível de processo legal. Mais uma vez a professora indignou-se,
desta vez questionando: “então qual é a função da CPA?”, ao que o OP respondeu que somente
a comunidade poderia fazer essa solicitação: “os pais/famílias teriam que se unir pra mandar um
ofício questionando sobre uma verba parte do Programa de Aceleração do Crescimento do
governo federal, que tem sido enviada aos municípios e usada pra cobrir a quadra das escolas.
O problema é que a verba vem em partes, uma escola por vez, daí você acha que eles vão
preferir cobrir aqui ou uma escola de tempo integral, que é o que gera visibilidade pro
governo?”. (Diário de campo, ESCOLA A, 20/04/2017).
dos professores com a SME também depende dessa mediação feita pelo diretor, que
acaba centralizando em suas mãos os canais de reivindicação, o que pode ser percebido
na situação acima e outras vezes em que a CPA foi desincentivada a encaminhar ofícios
na Escola A.
A observação das duas escolas autoriza a conclusão de que, na ausência/carência
das reuniões de negociação e outros espaços institucionalizados de negociação com o
poder público, os professores: 1. ficam dependentes do contato pessoal da equipe
gestora com os supervisores para manifestar suas demandas, porém esse contato, pelo
seu próprio caráter, fica mais restrito ao repasse de novas normas e à manifestação de
dúvidas; e, como veremos, 2. ficam reféns da disposição da equipe gestora de se
envolver em relações de troca do tipo mercadológicas (ex. troca de favores) com a SME
e com organizações do terceiro setor para conseguir certas condições de infraestrutura,
como parquinho e biblioteca.
Quanto a esse segundo aspecto, na Escola B não havia essa disposição,
predominando o clima de insatisfação e desconfiança internamente e nas relações com a
SME. Já na Escola A foi observada uma relação peculiar entre SME e equipe gestora.
Apesar da reivindicação histórica da escola em receber uma quadra coberta, ainda não
atendida, a SME parece dar uma atenção especial à escola em outros aspectos, quando,
por exemplo, a escolheu para receber um projeto de construção de biblioteca através de
parceria do poder público municipal com uma empresa, e também quando a indicou
para receber outro projeto, de protagonismo juvenil, coordenado por uma Fundação.
Parece que essas “benesses” são obtidas dentro de uma relação de troca, na qual a
equipe gestora, por sua vez, tem feito sua parte ao “fazer” o IDEB da escola subir, e
também ao ser uma das poucas escolas que aceitaram receber uma assessoria privada de
gestão que a prefeitura queria impor à rede (OLIVEIRA, 2016).
A equipe gestora mostra ter uma preocupação grande com a imagem da Escola
A e sua visibilidade, pois, como já me disse algumas vezes, trata-se de uma escola
localizada em região de alta vulnerabilidade que sempre foi conhecida por seus aspectos
negativos: pobreza, baixos índices no IDEB, violência. Alguns alunos mesmo já
comentaram “quando toca no nome da escola, o pessoal já se assusta: por que você
estuda lá? É uma escola que não presta”. Já ouvi também dizerem que os moradores do
bairro têm dificuldade de conseguir emprego quando colocam no currículo onde moram.
Certa vez, acompanhando o evento de Encontro das CPAs promovido pelo
190
“Antes os alunos falavam muito palavrão, não se respeitavam. Hoje as pessoas se respeitam, tem
amizade, é isso que eu vou levar da escola”. Ela lembrou que os amiguinhos cantaram parabéns
pra ela no dia do seu aniversário. Ressaltou que sente que todo mundo se importa com ela, desde
a equipe gestora aos professores e colegas (Diário de Campo, Escola A, 04/08/2016).
A escola não mede esforços para buscar inclusive recursos de outras fontes
através da exibição de seu trabalho. Um exemplo é quando o diretor instigou a CPA a
organizar atividades de desenvolvimento sustentável como parte da parceria da escola
com um projeto da Fundação Depaschoal. A professora coordenadora da CPA deixou
clara a intenção dessa atividade na escola: “precisamos fazer os projetos [sabão
artesanal, vassoura com material reciclável, caixa de captação de água da chuva] e
apresentar no evento que vai ter em outubro pra nossa escola ser a melhor e ganhar o
prêmio [da Fundação]”. Além da CPA, o grêmio da escola é constantemente
reconhecido, tendo já ganho prêmio em dinheiro de uma Fundação que foi utilizado
para fazer a reforma do parquinho.
191
pelo objetivo da “partilha efetiva do poder” entre Estado e sociedade, por meio do
exercício da negociação e da deliberação no interior de espaços públicos institucionais.
A cidadania seria, assim, um processo de constituição de sujeitos sociais pelo
fortalecimento da sociedade civil, à medida que essa última passaria a dividir com os
atores estatais a arena de formulação de políticas públicas fundamentais à garantia e
ampliação de direitos de todo tipo (direitos humanos, direitos sociais, e os “novos
direitos”, como à autonomia sobre o próprio corpo e o direito à diferença) (DAGNINO,
2004; PAULA, 2005).
Tais características essenciais do projeto democrático historicamente situado,
com todos os embates e lutas que empreendeu pra se fazer reconhecer no nível
institucional, oferecem um parâmetro que nos permite situar teorias e experiências
dentro de um projeto social mais amplo. A partir daí podemos afirmar que, ao sequer
mencionar esses espaços públicos deliberativos tampouco os movimentos sociais, as
teorias e políticas respaldadas no conceito de “capital social” acabam vinculando-se a
outro projeto, o neoliberal da terceira via, que esvazia os sentidos público e político da
participação e da cidadania, caros ao projeto democrático.
O projeto da terceira via, cujas implicações e características foram discutidas no
item 2.1.2, vale-se das mesmas palavras (cidadania, democracia, participação) para
defender uma corresponsabilização entre “sociedade civil” e Estado no que diz respeito
à garantia e à ampliação do acesso aos direitos sociais básicos. Essa
corresponsabilização ocorre, no entanto, transferindo-se a responsabilidade estatal pela
gestão e execução desses serviços a determinados atores da sociedade civil, como
ONGs e Organizações Sociais. Além desses atores do chamado “terceiro setor”, os
institutos e fundações, representantes da “nova filantropia”, tornaram-se os
interlocutores preferenciais do Estado no nível da elaboração de políticas públicas,
tendo influenciado fortemente a formulação, por exemplo, da Base Nacional Curricular
Comum através do Movimento pela Base Nacional Comum (AVELAR & BALL,
2017).
O projeto democrático não defende o Estado como único protagonista da gestão
pública. Pelo contrário, nele também se reivindica o fortalecimento do papel da
sociedade civil na condução da vida política do país. Esse fortalecimento, no entanto,
assume aqui outro caráter, pois envolve a elaboração de formatos institucionais que
possibilitem a cogestão e a participação dos cidadãos comuns no nível da deliberação e
193
Esses apontamentos nos fazem desconfiar das intenções democráticas das teorias
do capital social, por não sublinharem a importância de determinadas formas de
194
MÉDIA
ITEM
(0-6)
1. Sinto que posso contar com o apoio dos pais/famílias dessa escola para realização do
3,39
meu trabalho.
2. Sinto-me respeitada(o) pelos pais/famílias. 4,23
3. Sinto que os pais/famílias têm consideração pelo que nós professores dizemos sobre
3,87
a educação de seus filhos.
4. Os pais/famílias confiam no trabalho dos professores dessa escola. 4,4
5. Os pais/famílias se esforçam para ajudar seus filhos a aprender. 2,9
6. Os pais/famílias mostram interesse pelos assuntos da escola. 3,07
7. Os professores e pais/famílias dessa escola estão juntos na educação das
3,22
crianças/jovens.
8. Os pais/famílias dessa escola preocupam-se em acompanhar a vida escolar de seus
2,96
filhos.
9. Os pais/famílias estão sempre participando das reuniões, festas e eventos dessa
3,5
escola.
MÉDIA GERAL 3,5
Fonte: dados da pesquisa. O programa SPSS calculou as médias das respostas para cada item, lembrando
que o intervalo é de 0 a 6 (0-discordo totalmente; 6-concordo totalmente).
200
11. Tem pai que não vai conseguir acompanhar o filho em casa, não tem o tempo... não pode
colocar isso como determinante.
5. Você acha que pela condição de vida de algumas mães, tem alguma condição de eu condenar
que ela não ajuda em casa? Professores têm que entender a questão social que está por trás da
participação das famílias.
Essas falas explicitam consideração em relação à forma pela qual as famílias dos
estudantes se organizam, suas dificuldades e contextos particulares. Porém, no geral,
idealiza-se um modelo de famílias que saibam ajudar os filhos nas lições de casa e
garantam que eles cheguem à escola “prontos para aprender”. Os professores também
esperam que as famílias ensinem regras e princípios básicos de convivência e de
valorização dos estudos. Seguem as ocorrências a esse respeito:
2. Acompanhar o filho na vida escolar, dar suporte em casa, perguntar pro filho o que ele fez na
escola, mostrar interesse, construir junto com a escola.
3. Participar mais da vida escolar dos filhos, saber o que ta acontecendo.
4. O pai precisa se preocupar com o filho, saber sobre o cotidiano escolar dele, se tem mochila,
estojo, em que série está, quem são os professores.
8. Ver lição, olhar o caderno, mostrar que ta preocupado, dar atenção, cuidar, querer conhecer
o que ta acontecendo.
13. Acompanhar o aprendizado do filho, estar próximo ao que o aluno faz, à leitura de bilhetes,
ao trabalho que a gente manda pra casa (lição de casa, projetos), ler caderno do filho.
14. Conversem com os filhos, participem da vida escolar, olhem caderno e mandem bilhete caso
percebam algo errado, se preocupem com o que ele faz na escola. Venham pelo menos à reunião
de pais pra saber da vida do filho, não só pra reclamar.
15. Acompanhe e se preocupe com a educação dos filhos, dividindo com a gente as
responsabilidades, observe como ta o filho, se interesse pelo que o filho faz na escola, se
preocupe que o filho não falte.
16. Participar da vida escolar dos filhos, perguntar sobre a atividade, como foi o dia, olhar o
caderno. Levar filho no posto quando fazemos agendamento.
17. Precisa dar atenção ao filho, olhar caderno, estabelecer horário de estudo, ainda que não
saiba ler, isso já mostra cuidado.
18. Comprometimento com a escola: não deixar o filho faltar, saber como pode ajudar na lição
de casa sem dar a resposta.
20. Olhar caderno do filho, se preocupar se estão fazendo o que é pedido.
25. Parceria, que cumpram os combinados, olhem caderno do filho, mochila.
26. Tem que participar mais na escola, ter comprometimento com os estudos do filho, ver
caderno, lição.
201
27. Dar suporte de material e na lição de casa, se preocupar com o que o filho ta aprendendo na
escola.
28. Cumprir combinados, acompanhar a vida escolar dos filhos (olhar mochila, acompanhar
caderno), pois mostra que valoriza a educação, que não enxerga a escola somente como o lugar
onde vai deixar o filho enquanto trabalha.
30. Que acompanhem a vida escolar dos filhos, as tarefas, as dificuldades, os sucessos.
2. Reforçar a ideia de que educação é importante, valorizar a escola.
13. Mostrar ao filho que a escola é importante.
15. Valorizar a escola, pensar como a gente, que aqui é um lugar de socialização do
conhecimento.
3. Eles têm que fazer sua parte na educação dos filhos, dar limite pros filhos, não deixá-los tão
soltos.
7. Que saibam dizer ao filho que não pode ficar até altas horas da noite na internet, senão chega
apático no dia seguinte na escola. Eles são responsáveis por essa educação dos filhos.
16. Cumprir a função dele de passar educação básica e princípios éticos pro filho dele.
17. Exercer a responsabilidade própria da família, de formação da criança em casa, passar
valores ao filho de respeito ao outro, aos professores, aos colegas.
30. Que se responsabilizem por sua parte na educação das crianças: valores éticos, respeito,
limites, higiene, alimentação.
22. Entender que eles têm uma parte na responsabilidade de ajudar o filho, pôr regras e limites,
saber dizer não.
29. Assumam a parte de sua responsabilidade na educação das crianças: cobrem a importância
de estudar, respeitar os outros, fazer tarefa, respeitar regras.
responsável sobre o desempenho do filho, uma mãe reclamou para a diretora que uma
professora foi grosseira com sua filha, ao dizer para um colega de turma dela:
“problema dela que ela não veio fazer a prova!”. Essa reclamação foi feita no ambiente
externo do corredor com várias pessoas olhando, inclusive a professora envolvida. Essa
professora depois me confessou que naquele momento esperou que a diretora a
defendesse das agressões verbais da mãe; a diretora, por sua vez, me confessou que não
sabe como agir nesses momentos, que as duas são adultas e deveriam se entender
sozinhas, e que aquela professora nem mereceria ser defendida.
Além do olhar da escola, que julga com razão essas situações como
desrespeitosas e como sinal de que as famílias mimam demais seus filhos, poderíamos
enxergar a situação também pelo lado das famílias, que, ao contrário do que o senso
comum preconiza, estariam demonstrando como se preocupam com seus filhos, ao
zelarem para que sejam respeitados pelos professores. A situação acaba sendo
canalizada apenas no sentido de “acalmar” as famílias, mas pouco se observa no sentido
de acolher sua preocupação fazendo disso um disparador de diálogos coletivos entre os
próprios profissionais da escola, e entre estes e as famílias que se sentem desrespeitadas.
Dialogar sobre essas questões seria muito profícuo na Escola B, pois, como narraremos
mais adiante, a forma como muitos professores dirigem-se aos alunos e suas famílias
nessa escola é de fato desrespeitosa.
Em geral, as falas dos entrevistados remetem mais ao que a família deve fazer.
Mesmo quando mencionam “parceria”, é mais no sentido de “entender o trabalho que
realizamos”, ajudar a escola cumprindo os combinados, estando presentes quando são
chamados e “ouvindo nossas orientações”, “nos ajudando a resolver problemas
relacionados ao filho”. Isso nos remete à observação de Almeida et al. (2016, p.650):
O Orientador dizia: “essa é a cultura deles, os filhos ficam aqui e os pais não vêm buscar,
querem que o filho volte sozinho pra casa. Temos que começar a mudar algumas coisas no
204
longo prazo, senão daqui a pouco vamos ta apanhando”. Um professor perguntou se existe uma
possibilidade de fazer palestras pros pais em relação à violência, respeito, pra que eles saibam o
que fazer com os filhos, já que o problema é a cultura do bairro. O Orientador respondeu: “é
questão de capital cultural. Acho interessante, sim, a gente passar nosso conhecimento
agregado pra eles, não é discriminatório. Temos que fazer um ponto de ruptura, porque daí vão
passando de geração pra geração” (Diário de Campo, Escola A, 26/09/2016).
Nessa linha, existe uma expectativa de que as famílias sejam inseridas dentro da
escola na perspectiva de aceitar uma proposta de trabalho que já foi previamente
definida. É nesse sentido que os professores esperam que os pais se mobilizem mais
para participar das reuniões da escola, desde reuniões de pais a Conselho de Escola e
CPA, onde poderiam indagar aos professores: “Como você ensinou isso?”, “O que a
criança ta aprendendo?”, “Por que faltam professores na escola?”, bem como
“entender qual escola estamos construindo”.
4. Escola tem que promover momentos, chamar os pais pra escola, não só pra falar sobre mau
comportamento do filho, mas ter um diálogo constante em que possam falar sobre a educação dos
filhos, suas dificuldades, e possamos ajudá-los, passar nossos conhecimentos. (ex. higiene,
vacinação)
5. Temos que chamar os pais, chamar pros eventos na escola, comentar em relação às atividades.
Deveríamos trabalhar com todos os pais, respeitá-los, deixá-los entrar na escola e opinar, e não
achar que eles vêm pra atrapalhar. A escola tem que ir pra comunidade e vice-versa.
8. Tem que ter prontidão das duas partes, o professor atender o pai quando o pai quer vir
conversar.
8. Dificuldade dos pais participarem... Cita condições de trabalho, não podem faltar no trabalho.
Escola cria horários alternativos pros pais darem conta de vir.
9. A escola estar com as portas abertas (tem o “leia e leve” na biblioteca). É essencial que tenha
essa convivência, que é a chave de tudo, o diálogo com a comunidade. Temos a CPA, um espaço
pra pais e professores verem problemas e pensarem juntos como encaminhar os problemas.
10. Pais confiam no professor quando percebem que o filho gosta do professor.
10. Que estejam presentes na escola, quero conhecer os pais, não só quando o aluno ta dando
muito trabalho. Quero trazê-los para a sala de aula. Eles têm que descobrir o poder que têm, mas
o que acontece hoje é que eles se inferiorizam, vêm à CPA e só a gestão fala, ficam com medo do
enfrentamento.
11. [sobre os pais que opinaram contrariamente aos professores em reunião para discutir a chegada
de uma assessoria de gestão na escola]: significa que eles têm abertura pra se posicionar no
Conselho. O OP chamou pra participar do Conselho.
12. A escola tem que dar o acolhimento, construir um vínculo fortalecido, dar abertura pra que os
pais contem a vida deles. Principalmente pais que tiveram vida conturbada, que não acreditam na
escola. Eles não vão dar, é a escola que tem que oferecer. Ouvir esses pais, pra entender por que
o filho deles tem determinado comportamento na escola.
13. Movimento contínuo de trazer os pais pra escola, ter ações comunitárias, mas os professores
muitas vezes são resistentes porque dá trabalho.
14. Professor tem que ser acolhedor, beijar o pai no rosto, saber como falar do filho, não falar só
coisa ruim, saber reconhecer o que o aluno tem de bom.
15. Professor tem que mostrar seriedade e coerência no que ele faz, que se preocupa com o filho
dele.
16. Responsabilidade da escola também de fazer chamamento, palestras, feira cultural.
18. Quero fazer uma dinâmica pra conversar sobre como ensinar o filho em casa, acho que
poderia sintetizar desempenho do aluno numa nota para que eles entendam melhor a descrição
dos saberes.
20. Por parte do professor: tem que mostrar que se preocupa com o aprendizado da criança, ser
sério, não faltar, passar atividade.
24. Nós também temos que ouvir os pais e saber ceder, passar atividades que eles gostam. Temos
que ir negociando os sentidos do que é educar.
25. Tem que estar dispostos a ouvir os pais e orientá-los, e respeitá-los.
26. De nossa parte, temos que trazer mais os pais pra escola, gincana, oficina, festas.
206
27. Saber ouvir o pai, conversar, acalmar quando chegam nervosos e querem proceder de formas
que não apoiamos. Fazer eventos, festas, pra chamar mais os pais, ajudar a divulgar o trabalho
que as crianças fazem. E promover atividades para os pais (ex. artesanato).
28. Professor tem que mostrar preocupação com o filho deles, tratar bem a criança, de forma
respeitosa.
29. O professor tem que respeitar o pai, respeitar o filho dele, não falar só coisa ruim do filho,
saber enxergar o lado bom. Isso muda o olhar do pai sobre o filho.
30. E que os pais sejam ouvidos também, sobre como educar os filhos.
5. As pessoas na escola têm que entender um pouco de história, entender a pessoa humana,
respeitar as diferenças. Mas ninguém gosta de pai de aluno, porque “pai só reclama, vem
atrapalhar”. Eles têm que entender que o pai é classe trabalhadora, e que nós professores
também! O nosso inimigo não é o pai do nosso aluno. Temos que trabalhar junto com eles,
pensar junto. Mas os professores têm boa relação só com os pais de nível sócio-econômico
melhor... já aqueles alunos que realmente precisam, que tem dificuldade em casa...quando esses
pais não vêm pra escola, os professores reclamam; quando vêm, não recebem bem, falam só mal
do filho: “o senhor tem que dar um jeito nele, tem que educar”. Os professores têm que entender
que existe um problema social. Ficar culpando a família de tudo não dá. Fizeram aqui um
questionário pra conhecer a comunidade, perguntando quantos livros o pai lê por ano, mas nem
o próprio professor lê! E você não conhece a comunidade por um questionário. Medem a
participação da comunidade pela ida às festas, mas só querem nas festas, e aquela parte da
comunidade que sabem que não vai atrapalhar. Será que querem mesmo toda a comunidade
dentro da escola? Vamos mandar também questionário pra comunidade avaliar a gente? Os
professores não querem, disseram que a comunidade não tem condição de avaliar a escola. No
TDC, só falam de indisciplina, falta de lição... Na CPA também, tem 5 ou 6 professores
pensando nessas ações....e os pais que vêm no Conselho de Escola são das crianças brilhantes.
Os professores querem expulsar algumas “laranjas podres”, mas o diretor não deixa....diz que a
escola é o último vínculo da criança, a hora que sair da escola, cai na vida.
11. As conversas informais dizem muito também... a partir disso, eu balizo que tipo de problema
levo ou não pro gestor. Dependendo do problema que eu tenho em sala, eu levo pro orientador
pedagógico, não pra diretora, porque eu sei que ele vai conduzir a coisa de uma forma mais
humana, que vai respeitar o aluno, a família do aluno... Chego pro OP e digo: como eu conduzo
a situação com esse aluno? Porque nele tenho confiança.
6. Quando começou a política de inclusão, ficamos horas debatendo se a palavra todos deveria
ou não aparecer no Projeto. Porque sabíamos que “todos” ia implicar um compromisso outro
de todos. Aí a gente votava. Agora, se você tem uma equipe gestora que zela para que a escola
funcione em função do que está posto no Projeto, isso gera confiança. Pelo que está posto como
princípio no PPP da escola, é o que agrega os profissionais que estão ali. Outra coisa que
gerava confiança, é o foco muito grande nos alunos que não aprendiam, que aprendiam menos,
aprendiam pouco...Tinha essa proximidade de concepção de escola. Com a troca de equipe
gestora, a escola entrou numa crise de identidade, vários colegas acabaram se aposentando.
Estamos hoje experimentando a construção de outra escola. Aí numa primeira conversa, chega
a OP e diz que “se o aluno aprende, aprende, se não aprende, reprova”. Fiquei muito chateado.
Isso fortalece as posições mais conservadoras dentro da escola, deixa de trabalhar pela lógica
da aprendizagem pra trabalhar pela lógica da repetência. Agora estamos acostumando a uma
escola que reprova...por conta da equipe gestora. É feita pouca pergunta do porquê esse aluno
não aprendeu. E “ah, agora sim a escola ta boa”. São concepções de educação diferentes.
Tivemos reunião de sétimo ano pra saber como resolver alunos que vão reprovar. Eram muitos.
207
Fizemos mediação a três: o aluno, o professor que se da bem com o aluno, e a professora que
tem problema com o aluno. A professora disse que já tinha desistido do aluno... é concepção que
não bate.
ESCOLA 2: Depois da aplicação, voltei outro dia à escola para socializar com os professores os
resultados da pesquisa do LOED (...). A Orientadora Pedagógica falou que a escola piorou no
IDEB, e que os dados que eu expus sobre as várias dimensões da qualidade ajudam a escola a se
olhar e a entender suas fragilidades. Comentou que, de fato, como aparecem nos dados, os alunos
não frequentam as ações de apoio pedagógico oferecidas pela escola. Alguns professores
reforçaram que as famílias não se interessam em participar... A diretora comentou que os
alunos não valorizam a escola, não se interessam pelos conteúdos, e que os pais não têm
controle sobre eles.
ESCOLA 3: Uma professora me chama de canto e diz: “você vai encontrar que a gente ta
totalmente desamparado pelos pais e pelo poder público”.
ESCOLA 4: Um professor me chamou pra conversar. Referindo-se ao item “se os pais educam
seus filhos...”, achou perigoso, pois há um senso comum que diz que os pais não educam, e os
professores acabam sentindo que toda a responsabilidade foi transferida pra escola.
ESCOLA 5: Assisti ao TDC da escola enquanto aguardava o próximo TDC para aplicar o
instrumento na outra metade dos professores. Uma professora se pronunciava, a respeito dos seus
alunos: “Eles dormem na minha aula, como vou lutar contra isso? Eles dormem três da manhã,
porque pras famílias isso é normal”. Uma professora então sugeriu chamar esses pais para
ouvi-los e entender o que pensam, ao que outra professora respondeu: “não é assim, a gente
chama e eles não vem, eles não valorizam nosso trabalho, parece que fora da escola o aluno é
ensinado a valorizar um monte de coisa e aqui a gente tenta fazer ele valorizar a escola e não
consegue, parece que estamos enxugando gelo”.
ESCOLA 6: Voltei à escola, depois da aplicação do instrumento, para dar devolutiva dos dados
da pesquisa do LOED. Observando os gráficos da escola, a conclusão a que professores e equipe
gestora chegaram é que precisam melhorar no aspecto da relação com a comunidade e da
participação. Pontuaram que os alunos não frequentam as ações de reforço e que há uma
dificuldade imensa em envolver a família. A vice diretora interviu: “ok, a gente sabe disso,
209
mas a questão é como resolver... a dificuldade dessa escola é que atende muitos bairros,
então não temos essa sensação de que a escola pertence à comunidade”.
65
As médias das escolas (para cada par de relação) foram comparadas a partir do Independent-Samples T
Teste realizado em SPSS. Fomos comparando entre si as escolas próximas aos valores mínimo e máximo,
até que o valor de ‘p’ passasse a ser menor que 0,05, indicando diferenças significativas entre elas
(DANCEY, REIDY, 2006). Dessa forma chegamos a dois grupos, das piores classificadas em cada par, e
das melhores, sendo que não há diferenças significativas entre as escolas de um mesmo grupo, à medida
que na comparação entre elas ‘p’ foi maior que 0,05.
210
Nesse aspecto, portanto, as duas escolas são parecidas, pois em nenhuma delas
foram observados momentos coletivos em que os pais pudessem se aproximar entre si e
dos professores e gestores para avaliar e discutir questões substantivas que impactem o
Projeto Político Pedagógico da escola. As oportunidades de conversa são mais
individuais, quando professores e gestores chamam as famílias ou são procurados
pontualmente por elas para tirar alguma dúvida, fazer alguma reclamação etc.
No entanto, na Escola A há mais interações de “baixo risco” do que na Escola B.
As reuniões de pais da Escola A são bastante cheias, marcadas pela divulgação e
exaltação dos trabalhos dos alunos e pela entrega de presentes, por exemplo, quando
numa delas (junho/2017) o diretor sorteou algumas cestas básicas para presentear os
pais. Nelas os alunos e suas famílias parecem se sentir valorizados. Na reunião de
outubro/2016, a equipe gestora projetou, na ampla parede do pátio interno, um vídeo
sobre a escola feito por uma rede de TV, interessada em entender os fatores que a
levaram a melhorar seu IDEB. Na reunião de abril/2017, projetou uma gravação, feita
pelos próprios professores, de uns seminários apresentados pelos alunos nas salas de
aula explicando conteúdos de algumas disciplinas, depois outro vídeo de uma aluna com
deficiência visual dando seu depoimento de como é gostoso estudar naquela escola,
porque ela se sente respeitada pelos colegas e professores.
Também entre si os professores dessa escola estão sempre divulgando e
exaltando os trabalhos dos alunos, compartilhando com orgulho fotos e vídeos na
página do facebook, enfeitando as paredes da escola com diversos tipos de produções
realizadas pelos próprios alunos. Os dois jornais da escola (o “Informafricativo”, sobre
o projeto de educação em africanidades, e o Jornal geral da escola) são outro importante
veículo que divulga suas produções para toda a comunidade, que vão desde poemas
sobre temas discutidos em sala de aula a recados de amizade e agradecimento dirigidos
a colegas e professores.
O projeto de educação em africanidades vem sendo desenvolvido nessa escola
há muitos anos, sob coordenação de um professor que é pessoalmente engajado e
militante da causa, com objetivo de construir um currículo mais democrático no qual a
cultura africana seja de fato valorizada. As atividades do projeto incluem desde estudos
na perspectiva da etnomatemática, passando pela realização de exposições e eventos na
escola, a passeatas pelo bairro com entrega dos jornais à comunidade. A leitura dos
testemunhos de alunos sobre essas e outras atividades, publicados no jornal, mostra que
212
Africanidades trata sobre diversos assuntos tanto do início da nossa história, como dos tempos
atuais, pois até hoje ainda é possível ver desigualdades sociais, econômicas. Portanto quanto
mais puder ser divulgada e explicada o que é africanidades, mais pessoas terão a possibilidade de
não só saber suas raízes e sua real história, mas também de saber seus direitos e deveres.
Eu ajudei a preparar uma exposição sobre africanidades. Eu adorei participar do projeto e acho
muito bonito o trabalho do professor [fulano]. Preservando a cultura africana e conscientizando
as pessoas a respeitar ao próximo independente da raça ou da cor. Isso é muito importante,
porque enfrentamos uma sociedade cheia de preconceitos. Eu cresci em uma família
maravilhosa, tenho primos e irmãos negros e desde cedo adoro as pessoas negras e brancas,
independente da sua orientação sexual. Temos que respeitar o próximo sempre, porque ninguém
é melhor que o outro. Somos todos iguais.
Bom, eu particularmente não tive a oportunidade de participar das últimas ações desenvolvidas,
mas conheço um pouco do trabalho, pois eu já recebi alguns informafricativos, que fala do
assunto. Acho muito importante ter esse diálogo sobre africanidades, afinal a maioria dos
brasileiros tem antecedentes africanos. Por isso é interessante nós estudarmos este assunto, para
conhecer mais sobre a África e sobre africanidades, para ter mais conhecimento sobre o Brasil,
Palmares, Quilombos, etc
Eu acho que esse projeto é preciso se espalhar nas escolas de todo o Brasil e de todo o mundo.
Porque nas escolas se prega que todos têm direitos e deveres, porque somos uma sociedade, mas
nunca conta a nossa história (sou negra) do quanto o povo negro sofreu e ainda tem sofrido até
hoje.
Os livros didáticos em minha opinião deveriam ter mais desenhos e imagens com pessoas negras,
por que nas figurinhas que eu vi nos livros só tem desenhos que apresenta pessoas brancas e
também deveria ter mais professorxs conscientes que aqui ainda tem racismo na nossa escola, na
cidade de Campinas, no estado de São Paulo, no Brasil e também no mundo.
(...) cada dia com mais esperança nesta escola, soube que na África não é tudo ruim. São ruins os
nossos pensamentos cheios de racismo e preconceito com os negros.
(...) Africanidades incentiva os negros a terem orgulho de sua cor e da sua religião.
(...) Foi importante principalmente para muitas adolescentes que aprenderam a se ver de uma
maneira diferente e respeitando o seu cabelo e sua cor.
Os professores deram o informe aos demais: “Hoje eu e a [nome da professora] estamos com um
projeto na escola: segunda feira, a partir do segundo TDC, vamos atender alunos de ciclos III e
IV. Por exemplo, tem meninos assediando meninas... então a professora vai pegar um grupo de
alunos e levar pra gente trabalhar. Nosso objetivo é dirimir preconceitos, levar informações,
formar o aluno pra que ele multiplique pros colegas” (Diário de Campo Escola A. Momento de
TDC. 13/03/2017. Grifo meu).
Analisamos que não é à toa que essa escola consegue realizar projetos que tocam
em temas tão espinhosos, e ao mesmo tempo caros aos debates sobre justiça social e
reconhecimento, como sexualidade, gênero e raça (FRASER, 2003). De forma geral,
não só através dos projetos pedagógicos que realiza, mas também na forma como a
escola relaciona-se com seus alunos e comunidade, percebe-se que a categoria do
“reconhecimento”, tanto do ponto de vista da “justiça social” (FRASER, 2003) quanto
da “auto-realização” (HONNETH, 2013b), se fez presente de alguma maneira nessa
escola, que está no grupo das melhores classificadas em nossa escala de confiança.
Além disso, aqueles três eixos do Projeto Político Pedagógico da Escola A, em
conjunto com as atividades da CPA, fornecem elementos que nos permitem identificar
nessa escola nuances de um trabalho pedagógico pautado nos pilares da qualidade social
e da formação humana, à medida que busca garantir a todos/as o direito à educação na
perspectiva de formar sujeitos capazes de compreender e atuar sobre a realidade, rumo
ao alcance de relações e condições mais humanas e socialmente justas.
Quanto à CPA, durante o período de campo, pude observar que uma média de
quinze alunos de vários anos mais três professores frequentam suas reuniões todas as
semanas desde início de 2016, e nelas discutem, planejam e põem em prática ações com
vistas a tornar a escola um “ambiente melhor para todos”, nas palavras da professora
coordenadora. Segundo ela, uma das coisas que “ajudou muito na questão do
rendimento e evasão escolar foi o trabalho dos alunos na CPA... a autoestima deles
melhorou quando puderam ser ouvidos” (Diário de Campo, 26/10/2016); além disso, a
CPA colaborou em “ensinar a importância de respeitar, conviver. Tinha muita
depredação, muita quebração de porta, cadeira, lixo, desperdício de alimento. Isso
melhorou. Agora tudo que acontece, a gente discute” (Diário de Campo, 27/07/2016).
Entre as ações/projetos realizados pela CPA, destacamos a pesquisa do “eu
critico”, “eu solicito”, “eu felicito”, preenchida por todas as turmas da escola, de onde
214
Um aluno sugere que tire alguma coisa que eles [alunos faltosos] gostam, por exemplo, não
deixar jogar bola, ao que a professora coordenadora responde: “vocês não acham que a pessoa
que ta faltando muito, tem alguma coisa que ta fazendo ela faltar? Vamos analisar. Um faltou
porque ficou com alguém que ta doente. Mas tem alguns casos que tão enforcando mesmo.
Quem falta sempre é quem tem mais dificuldade... se a gente fizer esse negócio de punir, a gente
vai afastar mais a pessoa do que ajudar. Temos que bolar um jeito de aproximar, perguntar:
‘por que você faltou?’, não esperar eu perguntar. Temos que pensar o que podemos fazer pra
deixar a escola mais interessante. Gincana? Vamos ver se a gente monta tipo um campeonato
brasileiro...”(...) Um aluno comenta: “eles faltam porque não tem apoio, vê que ninguém vai
ajudar”. Professora: “isso que eu to falando, trazer apoio, verificar quem ta faltando e destacar
pessoas pra ajudar... eles adoram ouvir os mais velhos”. Uma aluna lembrou que foi numa sala
conversar com eles e eles respeitaram ela. O aluno anterior reforçou: “tem que ser insistente, não
desistir na primeira patada”. Outra aluna disse: “você podia ir conversando com o Vinícius, ele
é muito inteligente, mas tem uma necessidade de aparecer” (Diário de Campo, reunião CPA,
10/08/2016).
66
Ceasa: Centrais de abastecimento de Campinas. Conutri: Coordenadoria de Nutrição da prefeitura
Municipal de Campinas.
215
(...) “ter consciência da importância da comunidade é uma coisa, mas fazer na prática é outra. A
escola ta ainda blindada dessa comunidade. Quando ela vier aqui pra dentro com a totalidade de
problemas que ela tem, talvez a gente não suporte a experiência. Será que a gente quer isso de
fato? Tem alguns lugares que eu me blindo... eu vou pro shopping, pra biblioteca... temos algumas
maneiras de expurgar: temos alvos, reprovação... O que os alunos que tão fora da nota nos dizem,
incomoda” (Diário de Campo, Escola A, set/2016).
Conversando mais tarde com o diretor sobre isso, ele me disse que “não adianta
explicar muito por que eles não vão entender mesmo”. Nesse caso, o pressuposto de que
as famílias são deficitárias motivou uma atitude de desistência ao invés de gerar
esforços de orientação.
Certa vez em horário de Trabalho Docente Coletivo, presenciei as professoras
dos ciclos III e IV discutindo quais pais deveriam ser convocados para tomarem ciência
de problemas relacionados à infrequência do filho ou a questões comportamentais, na
esperança que a família “dê um jeito” na criança.
Os professores de sexto ano foram com a professora coordenadora de ciclo pensar juntos quais
pais eles vão chamar para conversar. Começaram então a separar, aluno por aluno, quem são os
alunos com problema de comportamento e quem são os faltosos. Em reunião passada, uma
professora havia lembrado que não pode deixar de falar do comportamental: “Isso vem da
família!”. E completa: “Também temos que mostrar o IDEB pra eles, dizer que eles estão em
último. Se somos os últimos no IDEB, vamos ser os últimos a conseguir posto de saúde, quadra
na escola”. Na presente reunião, discutindo caso a caso, comentam: “Esse é frequente, mas é
indisciplinado, conversa demais, atrapalha a aula”. “Ele não faz as atividades, enrola. Vamos
chamar o pai dele por indisciplina e frequência. Ele não pára no lugar!”. “Mas vocês sabem
que vamos convocar 30, vão vir uns 10”. “Tem que chamar esses pais, fazer pressão pra
cuidarem do filho. Porque aqui não é depósito!”. “Esse precisa chamar denovo porque combinei
da mãe acompanhar a vida escolar dele. Esse é o tipo de aluno que tem que acompanhar senão
perde... O pai falou que ele permite o filho fazer tudo que quiser. Ele não vai escutar a gente.
Ele diz que criou um filho autônomo... e a gente fala que não é bem assim, mas ele não quer
entender. Pior que ele é um dos melhores alunos, mas vamos acabar perdendo ele... não adianta
conversar com o pai... o pai veio na reunião já”. “A mãe tal veio pra mim e perguntou se a gente
não tem lista pras coisas boas que eles fazem. Eu disse que mesmo se tivesse, não ia ser o filho
dela... Falei que temos os alunos destaques, mas não chamamos mesmo pra falar disso, né.
Deveria, mas é outra história”. “Esse tem que chamar de novo, eu me responsabilizo. Esse
menino ta mentindo pro pai que ta vindo no reforço, mas não ta....o problema dele é
comportamento, sem contar o que ele ta falando pras meninas”. “A gente tem que orientar os
pais a lavar direito o sovaco pra não chegar fedido, a saber o que é essa história de criar filho
com autonomia”. “A Fulana ta com bastante falta... a mãe já veio, disse que quem passa a mão
na cabeça é o pai e ela não tem mais o que fazer”. (Diário de Campo, 10/10/2016. Momento de
TDC. ESCOLA A).
[...] A diretora falou orgulhosa sobre uma aluna da escola que passou na ETECAP. Reforçou que
foram os professores que deram essa oportunidade, mas que também existe a parte da família e o
mérito do aluno. “Se todos trabalharmos juntos, eles vão ter ótimos resultados”. Passou a
palavra para a Guarda Municipal. O guarda falou sobre a importância de dar atenção aos filhos,
que mesmo trabalhando muito, a gente precisa chegar à noite em casa e dizer que os ama, dar-
lhes atenção, senão depois pode ser tarde demais. Depois falou sobre a importância dos limites,
de saber falar ‘não’, transferir valores morais e éticos pra eles, porque a vida lá fora não é fácil,
ele vai encontrar um monte de ‘não’, vai ter várias frustrações, e como vai lidar com elas? Às
vezes eles entram em situações complicadas por não terem aprendido a ter limites. “Vocês
conhecem o Cortela? Ele conta história de um pai que contou que o segredo da vida é: a vaca
não dá leite, é a gente que tira dela. Temos que ensinar que ele tem que correr atrás das coisas:
filho, vai lavar seu prato, vai arrumar sua cama. É passar algumas responsabilidades pra eles,
pra eles não sofrerem lá na frente, pra aprenderem a respeitar, dar valor pro trabalho dos
outros. Onde ta a raiz da violência? Um dos ramos está na família. É duro dizer isso, mas muito
dela ocorre dentro de casa... Quantas ocorrências nós atendemos de violência doméstica? Uma
história mais triste que a outra... é onde nossos filhos deveriam ter proteção, segurança, amor,
carinho, mas eles tão sofrendo violência. A sociedade acaba sendo vítima da criança que sofreu
violência na vida dela. Por que isso ocorre? Se eu recebo violência a vida toda, o que eu
devolvo pra sociedade? Não vou dar amor”. Falou sobre os tipos de violência: física,
psicológica, sexual. “Precisamos tomar alguns cuidados com a internet, TV. Quando a criança
entra na internet, elas encontram pedófilos, gente ruim. É uma ferramenta muito boa, mas
também tem coisas terríveis. Temos que supervisionar, é o mais importante. De vez em quando,
temos que convidar a família pra jantar, olhar pro filho, perguntar como ele ta, o que fez na
escola. Às vezes a gente pára pra olhar pro filho, e vê como ele cresceu, e o que a gente fez com
ele? Temos que jogar bola, conversar, enquanto dá tempo. A sociedade hoje é muito consumista,
individualista, às vezes a gente deixa de lado coisas importantes do “ser” pra correr atrás do
“ter”. Moral da historia é ter tempo pra família”. Depois da palestra, a equipe gestora
dispensou as famílias. Nenhuma delas colocou questões durante a palestra, não houve perguntas
no coletivo. Algumas foram depois procurar os guardas para conversar individualmente. Os
professores achavam que o assunto era de algum tema delicado, relativo a algum tipo de
violência que elas sofrem em casa (Diário de Campo, 17/02/2017. Reunião de Recepção aos
Pais. ESCOLA B).
Além disso, esse tipo de iniciativa não seria um problema tão fundamental na
Escola B se não viesse associado com a baixa frequência67 de manifestações de
reconhecimento, e com a recorrência de outras formas de estigmatização e de
responsabilização unilateral dos alunos e suas famílias.
Aqui é constante a referência aos alunos como desinteressados, sem foco,
preguiçosos, apáticos, “perdidos, não sabem pra onde vão, não tem limites”, ou como
violentos, agressivos, mal educados, o que nos remete à denúncia feita por Arroyo
(2011) de como a escola tende a se referir aos coletivos populares, inferiorizando-os. A
forma como alguns professores dos ciclos III e IV referem-se aos alunos e famílias nos
momentos de TDC são bastante pejorativas e em geral são corroboradas pelos colegas
com risos e sinais de concordância:
“Mas também, não sabe nem ler nem escrever, daí o que sobra é ter que mostrar o corpo!”;
“Fico impressionado, eles não sabem nem entender o que a gente fala!”; “Falei pra ela: ‘copia
da lousa e responde depois as perguntas’, e a aluna ‘mas é pra copiar?’. Gente!!!”; “Ela [OP]
vai ficar falando do problema da casa do aluno, que a mãe dele não pintou a parede de verde,
que o papagaio morreu... não aguento!”; “E a professora [cita o nome] que ficou lá ouvindo a
mãe falar não sei o que da vida dela, credo, parecia terapia!”; “Ela é quietinha, esforçada, mas
é limitada, coitada”. (Diário de Campo, Escola B. Momentos de TDC)
Ao final da reunião, algumas mães tomaram a palavra: “eles acham que são donos do nariz. Eles
sempre acham que sabem o que é melhor pra eles. Tenho certeza que a maioria aqui cobra os
filhos, mas eles mentem, esquivam, a gente se sente chata de cobrar muito... eles têm preguiça
de tudo, estão sempre cansados”; “Ela não trabalha, não peço pra me ajudar, não faz nada, só
67
Ao menos nos espaços coletivos que pude observar.
220
peço pra focar nos estudos! Tem perigo de reprovar esse ano?”; “ele é muito apático, pergunto
as coisas e ele só responde sim ou não. Vou por ele pra trabalhar pra ver se anima!”; “não sei o
que é, se é a idade, ou as amizades” (Diário de Campo, Escola B, 09/09/2016).
A Orientadora Pedagógica falava com os dez alunos presentes, uma professora, dois funcionários
e duas mães: “A CPA vai analisar o que ta por trás das notas. Vou trazer as provas pra vocês
verem, sem nome dos colegas. Vocês sabem que vocês são da CPA, temos que ser éticos... é pra
ficar aqui o que foi conversado aqui. Por ex. falar de resultado de avaliação... estamos falando
da escola, não de fulano e beltrano... por que os alunos foram tão mal nessas provas? Nós
professores temos discutido bastante sobre isso. A última reunião foi até difícil. Teve aluno de
nono ano que marcou várias alternativas. Na hora de prestar vestibulinho, se errar já era. Aqui
errar é aprender, mas lá não tem como. Então a gente não vai abolir o provão... a gente tem que
trabalhar mais com vocês o provão. Pensar o tempo... teve aluno que fez muito rápido... a gente
encontrou redação de uma linha. Alguma coisa ta errada. Vamos pensar junto? De repente
trabalhar mais com produção de texto... fazer alguma coisa pensando em leitura e
interpretação... O tema era olimpíada, e a pessoa tava falando de paraolimpíada. Vocês como
multiplicadores podem falar isso pros colegas. Muitos entregaram de qualquer jeito. A gente já
ta reavaliando essa coisa de fazer interdisciplinar... mas é uma pena pra vocês, porque é estilo
Enem. Aí a gente vai voltar.... mas não vai perder isso de ter atividade avaliativa no final, com
objetivo de fazer alunos se prepararem... esse retorno vocês podem dar pros colegas”. Os alunos
se mostraram apáticos e não interviram. Ao final, tiraram a data da próxima reunião para
continuar a discutir índices externos e notas de provas da escola (Diário de Campo. Reunião de
CPA. Escola B. 29/09/2016).
Havia cinco alunos, dois funcionários, e duas professoras. A orientadora pedagógica explicou
pros alunos sobre a ANA [avaliação nacional de alfabetização], como funcionam os níveis de
aprendizagem em língua portuguesa e matemática, quais são as habilidades requeridas pra cada
nível, e mostrou os gráficos de desempenho da escola, comparando-os com a rede, e fazia
perguntas: “vocês acham que a escola ta bem? A intenção é pensar depois num plano de ação
pra fazer os alunos dos níveis mais baixos avançarem”. Os alunos estavam apáticos e não se
manifestaram. Uma delas falou que não gosta de matemática, ao que uma professora respondeu:
“do que você gosta também?” E ela: “nada, gosto de dormir na minha cama”. Ao final, a OP
disse que ficou chateada porque muita gente não foi pro dia da consciência negra. Explicou que é
um dia importante, que eles precisavam valorizar; disse que muitos alunos não foram porque
“ah, minha mãe precisou fazer compra”. Falou que o que foi exposto foram os trabalhos deles
mesmos! Uma das alunas disse que não teve trabalho da sala dela. A professora e a OP insistiram
que teve sim. (Diário de Campo. Reunião de CPA. Escola B. 24/11/2016).
Da mesma forma, a minha relação com a CPA da Escola B foi distante, ou seja,
ali minha ajuda não era demandada, diferente da Escola A, na qual me senti mais
acolhida e acabei me envolvendo com várias ações da CPA, ajudando-os a confeccionar
vídeos, elaborar ofício, distribuir cartazes pela comunidade.
Com a saída da antiga OP que conduziu as reuniões da CPA em 2016, estas
deixaram de ocorrer no primeiro semestre de 2017. Em nenhum momento a nova OP
sinalizou vontade de retomar essas reuniões. Conversando com uma professora, ela
comentou que em 2017 estava tentando implementar grêmio na escola, mas que o
processo ainda estava muito incipiente: “fizemos uma primeira reunião com quem
topou participar, pra começar a compor as chapas... mas eu queria que eles tomassem
mais as rédeas, vejo que se eu deixo acontecer, não acontece”.
222
28. Um posicionamento autoritário (aí faço a diferença entre autoridade e autoritário) traz pra
quem recebe as ordens um sentimento que pode gerar um comportamento de obediência, mas
não de confiança. E quando exerce autoridade considerando o posicionamento e as
características... vou dizer individuais... esse relacionamento de confiança, acredito que ele se
faça de maneira mais sólida.
28. Tem que dar liberdade das pessoas falarem, sugerirem, se colocarem (por ex. sobre a data
de envio de bilhete aos pais, sobre a forma como é escrito).
7. Nível justo no tratamento com alunos e professores.
9. Respeitar as diferenças, reconhecer as potencialidades de cada um.
10. Trabalhar com todos, inclusive com quem pensa diferente.
14. Tratar os professores de forma igual, sem diferenciar. Tem que ser perspicaz, valorizar os
talentos dos professores. Por mais que a pessoa seja difícil no trato, a diretora pega a parte boa
dele e diz “faz esse cartaz pra mim, pra escola, essa arte gráfica, esse filminho pra mim”.
28. Respeitar as características individuais dos professores.
21. Saber conduzir conflitos, delegar funções e cobrar seu cumprimento adequado, ouvir os
clamores da comunidade e filtrar o que é possível, ter a visão do todo da escola e tomar atitudes
pro bom funcionamento da escola (por ex. não deixar professores saírem mais cedo).
23. Profissionais competentes em gerir recursos humanos, administrar questões legais, articular
os professores, saber ouvir e ao mesmo tempo tomar decisões e conversar duro quando for
preciso.
30. Saber ler e administrar conflitos.
3. Confiar e valorizar o trabalho do professor, quando a gente faz propostas diferentes.
5. Acreditar no trabalho dos professores.
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16. Confiar no nosso trabalho, saber que a gente ta fazendo nosso melhor.
18. Dar autonomia pra que os professores escolham seus próprios métodos pedagógicos.
29. Respeito à competência profissional do professor. Autoridade na sala de aula sou eu,
ninguém vai me dizer o que vou fazer com meus alunos. Essa cátedra merece respeito.
3. Saber fugir do quadradinho, do certinho, bonitinho, quando professor propõe coisa diferente.
10. Viabilizar ações criativas, do aluno, do professor, ter posturas e falas aprovando e
defendendo novas ideias.
1. Preocupar-se com o que ta sendo ensinado, o que o aluno ta aprendendo.
5. Saber ouvir e respeitar a criança, ter compromisso com a criança.
6. Foco grande nos alunos que tem mais dificuldade, fazer o máximo por esses alunos,
investigar por que não estão aprendendo.
4. A diretora ta sempre andando pela escola. Isso é um ponto positivo, essa relação de portas
abertas pra receber os alunos... até na entrada, dizer: “oi, boa tarde, o que aconteceu, você
machucou?”.
9. Conhecer os alunos, se preocupar com os alunos (cita recebê-los na entrada e estar sempre
circulando pela escola).
11. Respeitar o aluno, a família do aluno, conduzir os problemas de uma forma humana.
23. Não perder de vista as crianças.
6. Zelar para que os combinados coletivos sejam cumpridos.
9. Estar sempre atenta ao que está acontecendo na escola, ao que os professores estão fazendo.
10. Dar voz aos alunos, que possam decidir sobre questões, avaliar qualidade do trabalho dos
professores.
8. Discutir coletivamente como vai ser o plano pedagógico, fazer avaliação, e comprometer-se a
aplicar.
11. Propiciar momentos coletivos de discussão, não trazer decisões prontas.
13. Comparecer às reuniões; ter compromisso com a escola, com as crianças.
15. Discutir com professores, procurar soluções em conjunto, sem tirar a autoridade que é dela.
Pensar na escola como um trabalho coletivo, usar as reuniões pra discutir trabalhos, projetos,
planejamento, avaliação, que exigem discussões coletivas.
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22. União com a gente pra melhorar a escola, resolver juntos os problemas, trabalhar em
conjunto. Por ex, não deixar tudo pra gestão resolver. Alunos e professores na CPA fazem
projetos e encaminham certas coisas (troca de cortina, curso vestibulinho) que ajudam a livrar a
gestão para correr atrás de coisas que não podemos resolver.
24. Alimente o trabalho coletivo, permita espaço destinado à produção coletiva (em que todos
tenham voz, possam pautar questões, avaliem quais são os objetivos dos trabalhos que
realizamos, como as oficinas, por exemplo); cuide dos tempos de formação, ajude todos a
pensarem no trabalho da escola como um todo.
25. Articular o trabalho da equipe, pra ter coerência no trabalho da escola como um todo. Que
apoie e acolha as decisões tomadas pelo grupo, não seja impositiva.
8. Fazer aquilo com que se compromete nas discussões pedagógicas.
11. Ter critérios claros pras escolhas que faz.
13. Ter um posicionamento político claro, mantendo esse posicionamento diante da SME.
15. Não atuar de forma diferente nos bastidores e na frente dos professores.
24. Honestidade, ter clareza quanto ao projeto que se está trabalhando, agir de forma coerente.
25. Adequar os mandos da SME à realidade da escola.
28. Agir de forma coerente com aquilo que foi combinado e acordado entre a equipe, ter clareza
quanto a normas e regras, o que é pra ser feito e respeitado.
30. Tem que ter pulso firme, ter claro quais são os objetivos da escola, os combinados, as regras
de convivência, os direitos e deveres, deixar isso claro pra todos.
A Orientadora Pedagógica (OP) manifestava indignada que não gostou da postura de dois
professores especialistas, que parecem ter decidido entre eles montar turmas de alunos de acordo
com o grau em que se apropriaram do conteúdo, contrariando uma regra da escola que parece já
ter sido deixada clara pela equipe gestora. O professor justificava que aqueles com mais
dificuldade precisam de atenção individualizada, da mesma forma que os mais avançados não
podem ser segurados pra trás pelos outros. Salientava que a única intenção havia sido essa, que
não fizeram por mal. A OP deixou claro que o que a tinha deixado irritada não era a concepção
em si por trás dessa prática, com a qual ela não concordava, mas a maneira individual como eles
tomaram a decisão sem trazer isso pra discussão. Defendeu que uma decisão como essa tem que
ser trazida pro coletivo, discutida, e que se mesmo assim continuassem achando benéfico montar
turmas homogêneas de alunos, tudo bem. Mas não poderiam achar isso com base em “achismo”,
sendo que há todo um corpo de pesquisa dizendo que a diversidade é boa, que os alunos
precisam conviver com a diferença e inclusive ajudar uns aos outros. Ela dá bastante valor à
pesquisa, aos estudos, e é nisso que fundamenta o valor de toda discussão, como um momento
das pessoas trocarem conhecimentos, aprenderem umas com as outras, ainda mais o professor
novo que acabou de entrar e poderia, antes de tomar essa decisão, conversar com as professoras
mais experientes. Depois da discussão, esses professores especialistas foram embora, pois estava
na hora do fretado sair. Ela continuou a conversa com as professoras de ciclos I e II. Perguntou a
elas se acharam que ela foi grossa. As professoras pareciam concordar com a postura dela. Senti
que, apesar das discordâncias, houve respeito na fala de todos os lados. (Diário de Campo de
aplicação do instrumento, Escola Y, 12/12/2016).
A escola tem um projeto com oficinas (de teatro, dança, MMA, pintura, leitura) e precisava
encaixar esse trabalho dentro da jornada. Um professor se manifestou, disse que não daria pras
oficinas acontecerem sempre no mesmo dia e horário da semana, senão iria prejudicar o
conteúdo da disciplina dele. A diretora explicou que não são coisas separadas: que as oficinas
também são conteúdos. De toda forma, considerou a fala do professor e disse que vai pensar em
diversificar os horários. Discutiram também como compor o provão da escola. A diretora queria
convencê-los a fazer a prova baseada num único texto, pois segundo ela isso é
interdisciplinaridade e trabalho coletivo, tal como preconizado pelas diretrizes curriculares: “eu
não estou inventando a roda”. Os professores acharam que isso seria muito difícil, de um único
texto extrair questões para todas as disciplinas. Pensaram em pegar a prova do SARESP.
Algumas professoras ressalvaram que podem usá-la como base, mas que necessariamente tem
que haver um cuidado de pensar as questões à luz da realidade da rede municipal. A diretora
reforçou que usar uma inspiração não exime os professores daquela escola de fazerem eles
próprios o trabalho de pensar a prova. Combinaram que alguém traria o modelo do SARESP
xerocado para que pudessem trabalhar em cima (Diário de Campo de aplicação do instrumento,
Escola X, 10/11/2016).
Tantos nos itens como nas entrevistas, os professores demonstram esperar dos
colegas que tenham compromisso com a educação, o que se manifesta basicamente na
vontade de trabalhar coletivamente, compartilhando visões comuns relativas ao trabalho
pedagógico e às regras de conduta e agindo de acordo com essas visões; na preocupação
constante com o aprendizado dos alunos e no tratamento respeitoso dispensado a eles e
suas famílias; na abertura para repensar o próprio trabalho. Chamamos essa dimensão
de “integridade”.
2. Minha confiança depende muito... da forma como o professor lida com o aluno, como se
refere a ele no TDC, porque aí você vê a visão de mundo da pessoa.
19. Precisa ter compromisso profissional, comprometimento político (refletir sobre mudanças na
escola e na sociedade). Ter um olhar atento pro aluno, perceber a questão social que está por
trás das manifestações e conflitos, por ex., os problemas na família.
5. Professor tem que ter formação política e social, respeitar as diferenças, o ser humano,
querer trabalhar perto da comunidade.
23. Tem que assumir posições políticas claras (enfrentamento com SME).
13. Envolvimento e preocupação com a qualidade da educação.
4. Não pensar só no próprio horário, nas próprias questões pessoais.
5. Não colocar as questões pessoais em primeiro lugar (de casa, de disputa de ego). Pensar na
escola, no trabalho coletivo (planejar junto atividades, fazer parceria com outras áreas, fazer
projetos pensando na escola).
231
17. Questões profissionais tem que falar mais alto que as pessoais, mas muitos deles pensam em
si: “porque to chegando agora, porque to próximo de aposentar”. Alguns são individualistas.
Educação melhoraria se a gente trabalhasse de forma coletiva, interdisciplinar, se todos
pensassem no aluno e na melhoria do trabalho que se desenvolve na escola como um todo.
10. Não pensar apenas no salário. Tem que ter compromisso com a educação. Isso envolve
repensar constantemente as próprias práticas, e ter comprometimento com os alunos, relação de
afeto.
21. Professor precisa se atualizar, acompanhar o que é novo na educação (novas formas de
trabalhar conteúdo).
11. Disposição de estar sempre repensando o trabalho. Preocupar-se com os problemas da
escola, e com as crianças.
3. Estejam dispostos a construir coisas novas.
12. Sempre vai haver diferenças entre os professores, mas tem que ter comprometimento com os
alunos, investir no aluno.
6. Não desistir do aluno, tentar pensar sempre o que fazer pro aluno melhorar.
23. Não precisa pensar todo mundo igual, mas tem que pensar no que é importante pra escola e
pro aluno.
15. Ajam de acordo com o que foi combinado no coletivo, mesmo que isso contrarie o que ele
tava querendo.
2. Ouvir o outro, participar dos projetos coletivos, saber abrir mão do que pensa em nome do
que foi decidido coletivamente.
17. Executar o que foi combinado.
23. Ter abertura para conhecer coisas novas, querer trabalhar junto, entender que as pessoas
pensam de forma diferente e nem sempre sua opinião vai ser acatada pelo grupo.
24. Posso confiar em quem pensa diferente, desde que a pessoa seja coerente e deixe às claras, e
tenha compromisso com o outro, com o trabalho, comigo, e principalmente com a criança,
respeite a criança.
26. Comprometimento, querer fazer com que o aluno aprenda.
28. Arriscar novas formas de trabalhar, pensando no aluno, ainda que isso traga insegurança
ao professor acostumado a trabalhar sempre da mesma maneira.
1. Tem que sair um pouco da sala de aula, pensar outros movimentos na escola (aqueles que
vêm com as mudanças da educação integral, por exemplo).
4. Aberto ao diálogo, a sair da sua zona de conforto e repensar formas de trabalhar. Entender
que não é um professor trabalhando individualmente na sua sala, mas parte de uma equipe.
9. Visão coletiva da educação, ação interdisciplinar, ao invés de cada um com seu livrinho
dando sua aula.
6. Ter clareza das intenções da escola.
29. Espero que falemos a mesma língua... que possamos entrar em acordos em relação a vida
escolar, regras escolares, por ex, uso de celular na escola. Tem professor que deixa os alunos
usarem o celular pra ouvir música dentro da sala de aula... como vou dizer que é proibido se o
outro colega deixa usar? Tem que ter acordos, concordâncias, pra que a escola ande bem, e não
gere desorganização.
30. Tem que haver um mecanismo de avaliação do trabalho, pra evitar professores que não se
comprometem, não fazem nada, só reclamam.
Outra questão recorrente nas entrevistas e itens refere-se à disposição para trocar
experiências/conhecimentos e fazer projetos em conjunto, o que requer abertura para
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ouvir e aprender com o outro, afastando a prepotência de achar que já se sabe tudo. Para
tanto, é necessário que se respeitem as diferenças de pensamento e se tenha educação e
cautela na forma de abordar questões e resolver problemas. Chamamos essa dimensão
de “respeito”.
6. Possibilidade de trabalhar junto, construir projetos. Sentir-se à vontade para se expor, falar
com o colega sobre o trabalho pedagógico, o que se faz em sala de aula.
11. Mesmo com as diferenças, tem que estar aberto a pensar junto, construir projeto, conversar
sobre o que ta fazendo. Pactuar formas de trabalhar, não pode cada um se fechar na sua sala.
12. Aberto a escutar e a receber crítica (construtiva), repensar o próprio trabalho, tentar coisas
novas.
13. Diferença não quebra as relações de confiança. Tem que estar aberto ao trabalho coletivo, a
dialogar, debater, trocar, compartilhar.
15. Espero trabalho coletivo... por ex., a gente estabeleceu eixos, apesar de eu estar no sexto
ano, as atividades estavam ligadas ao eixo direitos humanos, desde a leitura desses direitos,
montagem de literatura de cordel... aí tinha o grupo do sexto ano trabalhando isso, e em alguns
momentos em conjunto com o professor do oitavo, que tava organizando o festival de música;
apesar de serem turmas diferentes, a gente juntava a turma de sexto com a de oitavo.
16. Disposição do outro em te auxiliar, trocar e compartilhar metodologias, experiências, fazer
projetos em conjunto. Trocar ideia: “eu trabalhei esse tema de tal forma, e você?”.
17. Devem estar abertos a participar de projetos coletivos, repensar e desenvolver formas novas
de trabalhar e de olhar os alunos, trocar experiências e práticas pedagógicas. Cita exemplo de
projeto que ouve os alunos quanto a problemas pessoais e busca trabalhá-los.
18. Fazer trabalho coletivo, que é sentar junto, conversar, planejar atividades, discutir o que vai
ser trabalhado e como.
19. Poder chegar pra conversar com seu colega: “nessa sala ta acontecendo isso, to com um
problema assim, vamos tentar construir dessa forma”, ir encontrando uma solução, mesmo que
seja para aquela situação, fato específico, mas é uma construção coletiva.
20. Disposto a trabalhar junto, fazer projetos interdisciplinares, compartilhar as dificuldades,
avanços e erros.
22. Trabalhar em conjunto, trocar experiência, pensar que a escola é um todo, não apenas sua
sala de aula. Pensar junto qual a melhor forma de ajudar aquele aluno, no comportamento,
aprendizado.
24. Tem que ter parceria, pensar propostas de trabalho em conjunto, sejam ações com as
crianças, sejam questões da escola.
25. Compartilhar experiências, o que deu certo, o que não deu, materiais pedagógicos,
principalmente professores do mesmo ano.
26. Trocar experiências, conversar sobre o que ta dando certo, o que não ta. Importância dos
projetos coletivos (dengue, reciclagem, reforço). Eu vou pra sala dela [cita professora do mesmo
ano] com minha HP [hora-projeto] e auxilio os alunos dela... a gente fez um acordo, cada uma
faz o projeto na sala da outra na sua hora vaga... e a gente vai conversando, trocando ideias do
que fazer.
28. Disposição ao trabalho coletivo, de se abrir às contribuições do outro, não achar que sabe
tudo.
30. Estar disposto a dialogar, interagir, trocar, ouvir e aprender com o outro, dividir o que
sabe, falar sobre a própria prática, o que deu certo e o que não deu, sem medo do julgamento do
outro.
14. Respeito aos colegas, não falar mal dos colegas na frente dos outros nem sair por aí
criticando sem saber... por ex., vem o professor do quarto ano: “foi aluno de quem essa
233
criança? Chegou assim no quarto ano!” E diz isso sem ter lido nada que foi relatado, sem saber
qual foi todo o trabalho que foi desenvolvido. Sem nem sequer vir conversar com a professora
anterior. “nossa, mas o que aconteceu que ele não ta alfabetizado?”. Ele poderia ter vindo
conversar com você, ao invés de já sair falando por aí. Porque senão você fica só denegrindo o
professor...
8. Saber ouvir e saber falar. Não deixar que birrinhas impeçam de ouvir e considerar o que o
outro ta falando.
3. Escutar o outro, o que o outro tem pra oferecer. Não achar que sabe tudo.
27. Estar disposto a trocar, dar opinião, ouvir opinião do outro, sobre atividades para se
trabalhar um tema. Não se fechar na própria sala e querer fazer tudo do seu jeito. Cita parceria
com professora do mesmo ano.
15. Respeitar as diferenças, saber conviver com professores que possuem pensamentos e
ideologias diferentes. Às vezes tem professores com postura muito impositiva nas suas ideias.
Isso não é legal. Por exemplo, a conversa sobre a questão do negro... um ouve, o outro ouve e
diz que não concorda, mas se a pessoa chega impondo a verdade dela, se não ouve o outro, ela
já perde a confiança... se aquela pessoa não acolhe as ideias, aí você já fica distante... aí você
nem entra na discussão com ela: “ah, ela não vai deixar eu falar mesmo, então deixa que ela
fala sozinha”.
21. Respeitar o que eu penso sobre educação. Respeito por aquilo que eu sou, por aquilo que eu
acredito. Ao meu conteúdo, às minhas posições em relação à educação, ao meu trabalho com o
adolescente, com a criança, à minha visão de mundo. As relações dentro da escola são bastante
conflituosas. Professores de várias formações diferentes estão na mesma escola, pertencem a
períodos históricos diferentes. Isso causa conflito no processo de educação, mas não precisa
gerar desrespeito.
25. Ter conversa aberta, pra perguntar sobre os alunos, sobre o trabalho que foi feito no ano
anterior, antes de criticar o trabalho do outro e sair falando. Postura de saber ouvir e acolher
ideias do outro, não chegar impondo achando que é dono da verdade.
30. Respeitar as diferenças de olhares, trabalhar com a diversidade, pois os professores não
pensam igual.
29. Muito respeito um pelo outro. Pelas experiências que já tiveram... pelas coisas que
aprenderam... pelo jeito como ensina. Pelas coisas novas que aprendem e querem falar. Dou
aula com uma colega de 5º ano... temos que ensinar as mesmas coisas...a gente se respeita à
medida que ensinamos a mesma coisa com jeitos diferentes... eu parto de pesquisa, ela gosta de
livro didático...eu a respeito, e ela me respeita....não é porque trabalhamos juntas que uma vai
fazer o que a outra faz o tempo inteiro.
7. O respeito é olhar o outro como se tivesse olhando pra você mesmo. Começa aí. Respeitar o
outro, o espaço do outro, o tempo do outro. Não tem o direito de ultrapassar os limites com o
outro porque ninguém é melhor que ninguém. Você pode ter alguma coisa melhor, mas o outro
tem algo também... ninguém tem o direito de menosprezar, dizer alguma coisa que possa
magoar o outro. Se você não quer magoar, você sempre vai ter um cuidado no relacionamento,
na forma de abordar questões, resolver problemas com educação e cautela, e isso vai gerar
confiança.
4. Deveria ter uma “despessoalização”... aqui não é um grupo de amigos... a gente é amigo fora
da escola...mas aqui dentro da escola, é saber ouvir e saber falar: “entendo que o menino é
peste, mas do jeito que você fez não da, pode vir mãe ou pai reclamar”, e eu falo “é mesmo,
tenho que consertar”... é saber exercitar que nem tudo que fala é pra atingir seu íntimo, não é
pessoal, e nem tudo que fala tem que falar de determinadas maneiras. Tem que deixar claro o
que você ta sentindo e pensando, isso é melhor que metáfora ou silêncio. As relações
interpessoais entre os professores, tem que ser profissional, por mais que tenha amizade.
ético e político, como já foi possível visualizar nas falas acima. Também foi citada a
competência técnica de forma genérica, como um atributo que deve ser reconhecido
para gerar confiança:
Por fim, os professores entrevistados esperam que seus pares sejam solidários, o
que se expressa na forma de apoio, ajuda e colaboração nas pequenas coisas do dia a dia
que envolvem o trabalho e a vida pessoal. Chamamos essa dimensão de “consideração”.
14. Colaboração em questões de convivência, por exemplo, limpar a lousa antes do outro usar.
20. Ajudar quando é preciso.
21. Respeito nas pequenas coisas, como tirar carro da garagem, cumprimento de datas,
horários.
23. Sentir solidariedade dos colegas, que se importam com você como ser humano.
25. A questão da sensibilidade... de repente chega e você não ta bem. Aconteceu alguma coisa
na sua casa... não tem como separar o pessoal do profissional. Quando alguém olha pra você de
verdade: “ta tudo bem, aconteceu alguma coisa?” Essa sensibilidade cria um laço de confiança.
29. O apoio, ajuda, solidariedade, nessa época em que a gente vive, é o que tem segurado a
maioria na escola, um apoiar o outro, em todos os sentidos. Com aluno, com disciplina,
materiais, conteúdos a serem dados. A gente troca muito as coisas. Respeito e solidariedade, são
as palavras de ordem. Essa mesma colega... tive um problema que precisei sair da sala, ela fez a
ponte, olhou meus alunos enquanto eu tava com um pai.
. . .
Passemos à análise das observações em campo realizadas nas duas escolas.
Também nos pares “professores-equipe gestora” e “professores-professores”, as escolas
A e B nos proveram ambientes bastante diversificados quanto à formação da confiança.
Os dados mostraram que o grau em que a equipe gestora adota posturas de
reciprocidade - deixando claro quais são as normas e combinados da escola,
compartilhando informações, permitindo a negociação coletiva de demandas e
concepções, e oferecendo apoio/ajuda aos professores - influencia poderosamente a
confiança dos professores nesse segmento. Da mesma forma, colegas professores que
agem de forma recíproca, compartilhando aprendizados, formando parcerias,
oferecendo ajuda e apoio uns aos outros, são capazes de fomentar um senso maior de
confiança entre os pares.
De acordo com nossa escala de zero a seis, a Escola B foi a pior classificada no
grau de confiança dos professores em relação à equipe gestora, com 2,95. A melhor
classificada obteve 5,41. Quanto à relação entre pares, a Escola B obteve 4,13 (a menor
235
média foi 4,06, e a maior foi 5,26). Vejamos como as situações observadas em campo
nos ajudam a entender esses números.
Pelo que pude observar, a Escola B não realiza processos efetivos de avaliação
institucional participativa, pois enfrenta dificuldades em negociar entendimentos
comuns no nível das concepções de educação do projeto político pedagógico. Uma vez
que essas questões não estão bem resolvidas/acordadas entre os profissionais da escola,
quando elas inevitavelmente emergem nas situações cotidianas cria-se um ambiente de
suspeição que acirra ainda mais a falta de confiança entre eles.
Exemplos dessas discordâncias que não foram devidamente negociadas giram
em torno dos temas ensino da história da África e aprovação/reprovação. A dificuldade
de se elaborar um entendimento comum sobre essas questões se dá, por um lado, devido
à resistência deliberada do grupo de professores dos ciclos III e IV e, por outro, devido à
postura da equipe gestora que não insiste nas discussões e não oferece apoio pedagógico
para basear possíveis mudanças de concepções. A resistência desses professores parece
ser explicada, em partes, por outros aspectos da atuação da equipe gestora relativos às
dimensões do respeito, consideração, integridade e competência. A equipe gestora, por
sua vez, não consegue promover certas ações e discussões devido à resistência dos
docentes, o que acaba gerando uma espiral de desconfiança difícil de ser quebrada.
Certo dia em horário de TDC do 6º a 9º anos, a Orientadora Pedagógica
informou aos professores que eles precisavam pensar atividades com os alunos para
apresentar na Mostra do Dia da Consciência Negra. Eles questionaram por que essa
Mostra aconteceria de novo esse ano, disseram que não têm tempo para preparar essas
atividades, pois isso implicaria ter que interromper o conteúdo da disciplina que já
estava atrasado. A equipe gestora queria reservar um TDC inteiro pra que eles pudessem
fazer juntos o planejamento, o que foi frontalmente rechaçado pelos professores, que a
chamaram de autoritária por querer impor de última hora um trabalho que segundo eles
nem precisaria de tanto tempo para ser executado, que “em um minuto a gente faz em
casa”. A Orientadora Pedagógica e a diretora ainda tentaram contra-argumentar,
dizendo que essa semana é prevista com antecedência no calendário, e mostraram textos
e legislações que embasam a importância do ensino da história da áfrica nas escolas. No
entanto, elas não foram bem sucedidas, e acabaram cedendo à vontade dos professores
de discutir outra pauta que eles julgavam mais importante, relativa à formatura dos
alunos e ao estudo do meio.
236
69
Programa “Memória e Identidade: promoção da igualdade na diversidade”, da Rede Municipal de
Campinas.
237
orientadora pedagógica pediu remoção para outra escola mais perto da sua casa, e no
semestre seguinte entrou outra OP, que também dizia sentir a mesma sensação.
Talvez isso também explique por que nessa escola nunca há momentos de
formação com os professores, ou seja, durante o período que acompanhei, nenhum
momento de TDC foi preenchido com palestras/rodas de conversa que fomentassem
discussões conduzidas por especialistas de fora ou de dentro da própria escola. Daí os
professores sentirem que a equipe gestora não se preocupa com seu desenvolvimento
profissional, um dos elementos que contam para a construção da confiança.
Nos encontros coletivos entre professores, dificilmente eles compartilham entre
si novas ideias e trabalhos que vem realizando. Tanto nas RPAIs quanto nos TDCs, não
consegui observar momentos de troca de conhecimentos ou formação de parcerias e
projetos interdisciplinares. O que chamou mais atenção nesse aspecto foi a resistência
explícita dos professores em geral, e especialmente dos ciclos III e IV, em discutir
projetos diferenciados propostos pela equipe gestora, bem como sua tentativa constante
de dirimir pautas mais diretamente pedagógicas e focar naquelas mais organizativas
como formatura, estudo do meio, uso dos espaços, ou encaminhamento de alunos para
atendimento especializado.
Essa resistência foi observada também, ainda que em menor grau, entre as
professoras dos ciclos I e II. Certo dia em TDC a orientadora pedagógica apresentou a
elas um material organizado pelo MIPID sobre educação para as relações étnico-raciais,
sugerindo que isso servisse como base para elaboração das atividades da Mostra do Dia
da Consciência Negra. Pouca atenção foi dada ao material.
A orientadora pedagógica falou: “Então vocês tem que pensar as parcerias... como vocês vão
trabalhar? Por ano?” Uma professora respondeu: “a gente já ta desenvolvendo um projeto do
PNAIC. Não tenho pernas. De acordo com a proposta do PNAIC, perguntei pros alunos o que
eles queriam trabalhar esse ano... eles queriam natureza, arco-íris... já comecei a montar um
trabalho em cima disso. Teria que tentar encaixar [as atividades da Mostra]”.
Outro aspecto que chamou atenção sobre a relação entre os professores é que,
além de haver poucas trocas e parcerias entre eles, há um estado de rixa entre os
professores dos ciclos III e IV de um lado, e os dos ciclos I e II de outro, o que se
manifesta, sobretudo, na desconfiança dos professores “especialistas” em relação à
competência profissional das pedagogas, e na percepção de que a equipe gestora não
aplica as mesmas regras para todos, favorecendo as professoras da manhã (pedagogas).
238
“Às vezes eu não faço meu máximo não [pelos alunos]. Eu atribuo essa diferença à formação de
pedagogo... a gente [especialistas] tem uma formação assim, ‘ou você aprende, ou cai fora’, eu
não tenho muita paciência... se não entendeu o conceito, eu não quero explicar denovo, digo:
‘você não sabe ler!!’ As pedagogas são tão emboladas de teoria pedagógica que o menino chega
escrevendo cebola com dois S. Alguém ta errando... como que em cinco anos o menino não sabe
ler nem escrever?!? Chegava os alunos no sexto ano tudo analfabeto porque as P1 [pedagogas]
não conseguem alfabetizar em cinco anos. Elas dizem que tão tentando...mas a equipe gestora
também não tem um norte pra elas... é um mega chororô: ‘ai, o pai é drogado, morreu o
papagaio da outra’... tudo tem desculpa pra não dar nota ruim pro aluno... ela [diretora] falou:
‘um terço de reprovados, não pode’. Aposto que vai retirar tudo que a gente conversou lá no
conselho” .(...). “De manhã [ciclos I e II] ninguém confia em ninguém. O povo da tarde [ciclos
III e IV] não confia no da manhã. E o povo da tarde não confia em 100% do povo da tarde”
(Diário de Campo. Aplicação pré-teste em duas professoras, set/2016).
Uma professora dos ciclos III e IV comentou: “Essa reposição eu não to entendendo como é, tem
um monte de gente que deveria ta repondo... só a gente [ciclos III e IV] vem e conta que todo
mundo ta repondo? Não vejo o pessoal da manhã! (Diário de Campo, TDC 6º ao 9º,
16/09/2016).
A orientadora pedagógica mudou o assunto: “agora um assunto bem chato. Sobre CHP. Só
alguns têm. Acabei de vir de uma reunião com a supervisora. CHP é exclusivamente com o
aluno, essa administração entende que é pra trabalhar só com aluno. O que ela explicou é o
seguinte: se você tiver uma janela, pode usar CHP entrando na sala da colega que ta dando
aula” (...). Uma professora comentou indignada: “as P1 [pedagogas] tão usando CHP pra
encontro com pares, mas elas não fazem isso, vão resolver coisa no Banco do Brasil... sou
contra isso, o que vale pra elas vale pra gente” (Diário de Campo, TDC 6º ao 9º, 10/03/2017).
No TDC, um professor perguntou: “Quantas salas tem pra ano que vem? O sexto ano podia
virar dois sétimos”, ao que a OP respondeu: “mas uma sala de aula já ta como sala específica
pra apoio pedagógico”. Uma professora disse: “A gente quer fazer um protesto, queria que
abraçassem uma sala a mais pra poder acomodar os alunos!”. Passaram um tempo discutindo as
demandas de alunos por vaga. Ao final, os professores ressentiram: “agora a gente não vai poder
reverter mais isso, poderia ter falado isso antes pra gente...mas não falaram...”. A Orientadora
Pedagógica disse que isso não estava na pauta de hoje, e que há outras demandas mais urgentes
para serem discutidas. Professores ficaram bastante chateados, queriam colocar pra discutir isso
semana que vem. A equipe gestora não se posicionou nem favorável nem contra, apenas tentou
dirimir esse assunto dizendo que não seria possível colocar os alunos em espaços destinados a
outras atividades: “Nós temos que ter esses espaços pra atender aluno, não pode enfiá-los lá”.
Professora: “mas eles [Secretaria Municipal de Educação] não tão nem aí, mandam colocar
aluno nas salas que tem, enfiam aluno lá. Já não foi sala de aula uma vez? Por que não pode ser
mais?”. Professor: “escola é uma ditadura disfarçada. Falam em gestão democrática, mas isso
não existe aqui. E a gente reproduz com os alunos... nem perguntaram pros alunos se eles
queriam aquela palestra lá. Eles estavam lá, entrando por um ouvido e saindo pelo outro”.
Professora: “é verdade, não há comunicação aqui”. (Diário de Campo, 07/10/2016)
postura da equipe gestora da escola, mas pode-se dizer que contribuiu para essa
resistência o fato de não se sentirem respeitados na pauta que solicitaram. Nesse caso,
no fundo os professores estão manifestando desgosto em relação à Secretaria Municipal
de Educação, mas como se trata de uma instância muito distante, acabam enxergando na
diretora a figura que deveria representá-los perante a Secretaria em suas reivindicações.
Segundo Bryk e Schneider (2002), o diretor mostra possuir integridade quando, por
exemplo, enfrenta alguma política que ele acredita não contribuir com a qualidade do
trabalho da escola. Os professores da Escola B não esperam que a equipe gestora mude
as determinações vindas de cima; afinal, sabem que ela não tem poder suficiente para
tanto. No entanto, na ausência de canais diretos de negociação dos professores com o
poder público, eles esperam que a equipe gestora paute os problemas por eles
identificados nas reuniões de planejamento do NAED, que protocole pedidos, que
encaminhe suas dúvidas ao poder público e lhes dê alguma devolutiva.
Outra expectativa frustrada que contribui para minar as relações de confiança
nessa escola é que a equipe gestora respeite o que foi acordado no coletivo. Houve uma
situação emblemática na qual os professores sentiram que a diretora e orientadora
pedagógica passaram por cima do que foi decidido em Conselho de Classe:
As professoras me contaram que em Conselho de Classe, deram I [Insuficiente] para uma aluna
[que tinha chegado à escola fazia pouco tempo, vinda de uma situação de mudança constante de
escola]. Decidiram reprová-la, mas depois perceberam que a gestão alterou as notas dela para S
[Satisfatório] e não reprovou a menina. Acharam um desrespeito, pois ela não teria condições de
passar de ano sendo que não tinha feito nenhuma atividade. Sentiram que isso foi passar pela
autoridade do que foi decidido em Conselho. Mais tarde, a orientadora pedagógica e a diretora
me procuraram para contar o que houve. Senti que a intenção delas era justamente trazer o outro
lado, pois sabiam que eu, que estou sempre rodando pela escola e converso bastante com os
professores, já tinha ouvido falar do ocorrido e não poderia ficar com uma visão parcial. “Como
a gente pode reprovar a menina sem ter o histórico dela? Os professores não mostraram nada
que justificasse a reprovação. Sem contar que ela fez [alguma prova ou atividade] e se saiu bem.
E eles falam que a gente não pode, mas podemos sim tomar a decisão de não reprová-la, porque
consideramos outros fatores que eles não consideram”. A diretora completa: “E o que me
garante que esses professores realmente fizeram de tudo pra ajudar a menina?” (Diário de
Campo, 14/12/2016).
não confiarem no trabalho dos professores, justifica para elas a decisão de mudar o que
foi decidido em Conselho. No entanto, o que os professores mais ressentem é que elas
não colocam abertamente sua postura nos momentos coletivos de reunião; ao invés,
calam-se nesses momentos, procurando evitar conflitos, e agem às escuras sem
consultá-los.
Os professores se sentem desvalorizados pela equipe gestora da Escola B. Se por
um lado eles resistem a certas atividades propostas pela equipe gestora, por outro lado a
orientadora pedagógica e a diretora também não apoiam as propostas inovadoras de
trabalho elaboradas pelos docentes, uma vez que desconfiam da sua competência e
compromisso.
Certa vez uma professora narrou uma situação na qual se sentiu desrespeitada
em sua competência profissional, quando foi chamada para uma ouvidoria sem ter tido a
oportunidade de se defender, segundo ela.
A professora me contou: “tive uma ouvidoria contra mim... fui chamada na direção, com a
supervisora do NAED, com todas da equipe gestora da escola [OP, diretora, vice], que falaram
pra supervisora que eu não sou uma profissional! Em nenhum momento elas me perguntaram:
‘isso de fato aconteceu?’. Já chegaram me acusando que eu não faço a parte pedagógica”
(Diário de Campo, 28/09/2016).
Por outro lado, essa é a mesma professora que confessou acima que “ou você
aprende, ou cai fora! Eu não tenho muita paciência, se não entendeu o conceito, eu não
quero explicar denovo”. É certo que concepções de educação como essa devem ser
combatidas no meio escolar; no entanto, a forma como a equipe gestora optou por
encaminhar essa questão foi recebida pela professora como um sinal de desrespeito. Na
ausência de mecanismos de controle social nessa escola, pelos quais os profissionais
possam dialogar, aprimorar seus conhecimentos e se apoiar mutuamente, parece que
restou à diretora recorrer a um tipo de controle mais verticalizado.
241
Outra professora narrou que certa vez ela se sentiu desrespeitada por uma mãe, e
esperava que a diretora intervisse de alguma forma impedindo ou apaziguando a
situação.
No meio da tarde [em dia de reunião de pais] saí da sala do 6º ano e fui dar uma volta no
corredor para ver como estava o movimento nas demais salas. A professora Regina estava em pé
na porta de uma sala conversando com duas alunas mais uma funcionária, reclamando da
agressão verbal que havia sofrido por parte de uma mãe. Segundo ela, a mãe foi bastante grossa,
porque dizia que Regina havia se referido à filha dela, em conversa com outro aluno, de forma
desrespeitosa. Regina teria dito “problema dela!” se referindo ao fato da aluna ter faltado na
prova. Depois, a diretora veio conversar comigo para contar o que aconteceu. Disse que foi uma
situação bem tensa, porque a mãe chegou falando alto com a professora no meio do corredor, e
juntou um monte de gente em volta para olhar as duas “batendo boca”. Diante do barulho a
diretora acabou aparecendo na cena. Ela disse que não conseguiu se posicionar defendendo
nenhum lado, preferindo se eximir de qualquer responsabilidade de se colocar naquele conflito,
pois “as duas envolvidas que tem que se entender”. Ela me contou que não conseguiu defender a
professora, porque imaginava que a mãe podia ter razão na reclamação dela, já que aquela
professora era realmente desrespeitosa com os alunos (Diário de Campo, 26/05/2017).
“Funcionário entra e a gente não sabe quem entrou quem saiu... ninguém comunica a gente das
coisas. Os terceirizados chegaram e a gente não sabe nada. A comunicação poderia ser
facilitada se fosse passado no TDC: vai acontecer tal coisa na escola. Vai chegar tal pessoa pra
fazer tal projeto”. Outra professora completa: “tipo o coral... Chegou e a gente nem tava
sabendo. E tem também o problema do dinheiro: não tinha dinheiro pra comprar nem uma caixa
de bis!”. Outro professor: “isso é eficácia da pauta. O problema é que parece que não é da nossa
conta, mas tudo que acontece aqui diz respeito a nós. Isso já vem sendo falado há muito tempo.
Mas as RPAIs nunca fecham [no sentido de dar resultado]”. (Diário de Campo, 15/12/2016).
No meio do TDC, uma professora diz que é preciso conversar sobre o que aconteceu terça-feira...
Ela narra que o professor Murilo foi bem grosso com um aluno, dizendo “esse menino vem pra
escola rebolar o cu!” Outra professora completa indignada: “ele chegou extremamente
estressado na sala dos professores, e falou: ‘precisamos reunir conselho de escola pra subir
aula porque os alunos ficam soltos por aí, e não sabem se comportar. A gente não consegue dar
aula por conta desses alunos soltos. Esse biba do Fulano fica solto rebolando a bunda por aí
dando trabalho pra gente. Depois apanha... tem mais é que apanhar mesmo’!!”. Outra
professora tenta entender a atitude estressada do professor, dizendo que todo mundo estava
alterado aquele dia, porque os alunos que estavam de aula vaga e não tinham ido embora ficaram
chamando todo mundo que estava tendo aula de “cuzão”. A professora insiste: “mas nada
justifica o que o Murilo disse, ele é grosso e preconceituoso”. A diretora se pronuncia: “não
vamos falar do professor, é antiético, ele não está presente”, ao que a professora responde: “tem
que falar sim, o que ele disse é inaceitável! Aconteceu outra coisa... uma menina xingou a outra
de preta, ele ouviu e não fez nada!!” Discutiram sobre a possibilidade de subir aula, ou dispensar
os alunos. A diretora disse que não era possível montar horário tirando a aula do professor. As
professoras insistiam se não podia subir aula, pois pareciam ver aí a saída pra resolver o
problema dos alunos que invadem as aulas dos outros enquanto estão de aula vaga. A diretora
responde: “temos que ser uniformes nas regras, rotina, falar a mesma linguagem... A regra é:
faltou professor, tem que aprender a ficar ali sentado esperando”. Uma professora: “mas essa
linguagem não ta posta, porque eles não estão esperando!”. Diretora: “mas falta professor todo
dia...e tudo bem, vocês podem faltar, é direito, eu só peço a gentileza de avisar com
antecedência pra gente se organizar”. Disse que essa linguagem tem que ser construída todo dia,
reforçada a todo momento por todos. Outra professora lembra que é preciso registrar que a zona
aconteceu por falta de professor adjunto, e isso tem que ir pra Secretaria [SME]. Ela opina que o
professor Murilo estava errado de fato, mas ele estava sem apoio nenhum também. As
professoras que começaram colocando o caso insistiram que alguma coisa tinha que ser feita por
conta do que ele falou, que de toda forma a direção tinha que chamar a atenção dele. Mas ela não
se pronunciou quanto a isso. Depois, conversando com a diretora e a orientadora pedagógica,
elas me contaram que de terça-feira realmente é ruim porque elas não estão na escola, mas não
podem fazer nada, pois estão cumprindo o trabalho delas indo a reuniões na SME e não vão se
desdobrar trabalhando a mais. Perguntei como é nos outros dias da semana. A diretora disse que
se sente mais babá correndo atrás de aluno do que diretora, e que são os professores que
deveriam se responsabilizar por colocar essas regras. Perguntei como era a questão das abonadas
na escola, se os professores avisavam com antecedência, ela disse que não, que apenas mandam
mensagem no whatsapp pros colegas. E, pra piorar, não há professor adjunto na escola.
diretora implica estabelecer regras e cobrar seu cumprimento, bem como ter
proximidade com os alunos. Certo dia de reunião de pais, eu fiquei na sala
acompanhando uma professora de Ciências. Nos intervalos entre um pai e outro, quando
a sala estava vazia, ela começou a desabafar que sentia falta de uma postura mais
cuidadosa da diretora com os alunos:
“Se você deixa solto, é muito ruim... é importante ta ali, fiscalizar, colocar limite, isso é
importante... dar muita liberdade deu no que deu”. A professora falava isso o tempo todo para as
famílias dos alunos. Mas uma hora falou isso pra mim se referindo à diretora. O assunto
começou quando eu comentei que estava percebendo que havia muitas gerações de pais e filhos
que estudaram na escola. Ela concordou e disse que isso acaba gerando uma confiança deles em
relação à escola: “mas outra coisa que ajudaria também é ter uma equipe gestora envolvida,
presente, preocupada com os alunos, que apareça nas salas de aula, mostre que está ali, se
importando, ao invés de deixar solto ‘se aprendeu, aprendeu, se não aprendeu, paciência’”. Ela
sente que a equipe atual não é assim. Comentava que por um lado entende, sabe que é difícil por
conta das tarefas burocráticas, sem contar que elas acabaram de chegar na escola. Mas de toda
forma disse que os professores sentem muita falta da diretora anterior, que era mais próxima dos
alunos.
Não tem dinheiro pra comprar uma caixa de bis! (Diário de Campo, reunião de RPAI,
15/12/2016)
Uma professora contou que leu no Diário Oficial que a escola recebeu tantos mil do Conta
Escola: “agora temos dinheiro pra arrumar várias coisas que precisamos!”. As professoras
começaram a cobrar melhorias na escola. Uma delas questionou: “eu não sei por que essa escola
ta cheia dos problemas!”. A vice-diretora passou a responsabilidade pra estagiária: “ela que não
anotou o que eu pedi, pedi pra ela fazer uma verificação do que ta faltando, mas ela não fez”.
Começaram a pensar necessidades de compra da escola, e alternativas de atividades para ocupar
os alunos no intervalo. Outra professora contou: “o fulano [professor de educação física]
denunciou pro CREF 70 que a gente tava deixando os alunos praticarem Ed. Física sem
supervisão... mas o problema dele é outro... ele queria implicar”, ao que a orientadora
pedagógica respondeu: “Ele tem razão, legalmente, o aluno pode se machucar. E pode quebrar
um braço”. Outra professora: “Mas ping pong é tudo bem, eles ficam quietos quando falta
professor. Se a gente tiver uma mesa pra montar, eles gostam tanto pra brincar... Tem duas
mesas que poderiam ser acertadas, quem sabe a gente consegue alguém pra soldar lá com esse
dinheiro”. (Diário de Campo, 17/02/2017).
As professoras estavam organizando a festa junina. Descobri que não vai ter participação da
comunidade, é só pros alunos e professores. Perguntei para o zelador por quê, ele disse “aqui não
gostam muito de chamar as pessoas da comunidade pra escola”. Uma professora me disse que é
porque não tem espaço, e também pela falta de dinheiro. Durante o TDC, as professoras ficaram
70
Conselho Regional de Educação Física.
244
pensando em atividades que não precisassem gastar muito: “Não vai ter prenda... mas pode ter
um lápis de brinde, por exemplo. Vamos fazer uma vaquinha pro bolo”. Depois da reunião, a
diretora falou que estavam sem dinheiro mesmo, e ressentiu que a contribuição dos pais para a
APM estava muito baixa. (Diário de Campo, 19/06/2017).
71
Somando as frequências das respostas ‘concordo pouco’, ‘concordo’, ‘concordo totalmente’.
245
próprio trabalho, gostam de se ouvir para aprender uns com os outros, e desenvolvem
propostas em conjunto com os colegas.
Na Escola A, a questão financeira não parece ser um problema tão grande.
Professores e alunos ressentem que suas antigas reivindicações de cobertura da quadra e
ampliação da cozinha não foram atendidas pela prefeitura, ao menos até aquele
momento da pesquisa de campo; no entanto, nessa escola não faltam materiais para a
festa junina, por exemplo, que conta com a ampla participação da comunidade. Certa
vez perguntei a um professor ao que ele atribui a boa situação financeira da escola. Ele
respondeu que a equipe gestora sabe administrar o dinheiro que recebe, pois costuma
pesquisar as opções mais em conta antes de comprar. Pelo que foi possível observar das
reuniões, as verbas vêm não só do recurso Conta Escola, mas do FNDE, do Programa
Mais Educação e até mesmo de Fundações, às quais está atrelada a apresentação de
resultados como, por exemplo, ter um grêmio consolidado, dentro daquela lógica de
mercado da qual falamos no tópico 5.3.
Nas reuniões de TDC o diretor frequentemente dá informes de alguma nova
aquisição da escola, e pede aos professores para fazerem lista dos materiais que vão
precisar para as mostras e festas. Os banheiros foram arrumados; as salas passaram a
contar cada uma com uma rádio para atividades com música; uma mesa de pimbolim foi
comprada para ficar no pátio e melhorar a qualidade da convivência nos intervalos, tal
como proposto pela CPA.
Há outras formas pelas quais os professores se sentem apoiados por essa equipe
gestora. Certa vez uma professora contou uma situação em que se sentiu desrespeitada
por uma mãe, que chegou de repente na escola querendo tirar satisfação sobre a
professora ter falado para seu filho que ele deveria usar cueca e uma calça mais apertada
que não ficasse caindo toda hora expondo seu corpo. A professora conta que se sentiu
apoiada pelo diretor, que disse à mãe: “eu sei a profissional que tenho aqui, ela nunca
desrespeitaria seu filho”. Segundo a professora, ele conseguiu contornar a situação, e ao
final a mãe pediu-lhe até desculpas. A professora me disse que “por mais que o diretor
converse duro com o professor depois, a gente espera que na frente da mãe ele nos
apoie”. Outra professora também me disse certa vez, quando perguntei o que ela
esperava da equipe gestora da escola:
“O importante é que eles reconheçam nosso trabalho, nos apoiem no diálogo com as famílias”.
Perguntei como isso se manifesta. Ela deu um exemplo de quando veio uma mãe raivosa
conversar aqui sobre o filho que não aprendia, colocando a culpa na professora, e o diretor foi
246
fazendo perguntas pra mãe ir percebendo que ela tinha sua parte de responsabilidade nisso
(Diário de Campo, 16/09/2016).
Depois da reunião, fui perguntar à professora Marcela se teria RPAI no final do semestre. Ela
disse que não sabia, mas que ia ter com certeza uma feijoada de confraternização na sexta-feira.
Disse que o diretor deu uma reduzida nos horários das crianças nessa última semana do semestre:
elas vão ficar só duas horas no período da tarde. Segundo ela, com isso as professoras terão
tempo para preencher diários etc. “Ele é muito humano... acho que por conta de ser professor
também, ele sabe o que a gente passa, que o trabalho nosso não é fácil, então deixou semana
que vem ser uma semana mais leve pra nós”. (Diário de Campo, 28/06/2017).
“[o aumento do IDEB] se deve bastante à mudança de gestão, que hoje é mais aberta,
participativa, vai às salas de aula, se preocupa se o aluno está na escola. Todo mundo conhece
o diretor. A direção anterior nem ia pras salas de aula” (Diário de Campo, 27/07/2016).
Ao mesmo tempo em que o diretor é visto como uma figura afetuosa que apoia e
reconhece o trabalho dos professores, ele mantém uma postura bastante rígida, sempre
cobrando que os professores cumpram os combinados e regras da escola. Ele reforça
constantemente quais são essas regras, e estabelece claramente o que espera deles em
termos de comportamento e comprometimento.
O diretor disse aos professores durante o TDC: “Acho ótimo que vocês façam cursos [de
formação, oferecidos pela prefeitura, que têm previsão em carga horária], mas tem que estar
previsto do PPP [Projeto Político Pedagógico]. Fazer o mesmo curso durante vários anos
também não pode, né. Quero cursos que vocês usem na sala de aula, e tem que estar previsto no
seu planejamento. Se não tiver previsto no planejamento, se você não usou na sala, não vou
contar”. Um professor perguntou se ele poderia fazer curso relacionado ao tema africanidades,
ao que o diretor respondeu que sim, obviamente, pois esse tema faz parte do Projeto da escola,
não é um projeto individual do professor Fernando. “Não vou me acanhar de perguntar: ‘você
usou isso? Fez parceria com a professora? Quando que eu não vi?’” (Diário de Campo,
29/08/2016).
O diretor várias vezes usa algum momento do TDC para “dar bronca” nos
professores por algum comportamento que julga inadequado, ou por não estarem
cumprindo os acordos coletivos. No geral, os professores ouvem quietos com atenção.
Por vezes, manifestam que se sentiram ofendidos, dizendo que o diretor não deveria
apontar os erros de forma indiscriminada ou sem respaldo.
No TDC, o diretor informou que estava atendendo alguns pais que estão reclamando de professor
que usa celular na sala de aula. “Não pode, pessoal, tem que tomar cuidado. Eu entendo algumas
situações, coisas que acontecem fora do nosso controle... mas não podemos reproduzir essa
prática que a gente mesmo critica. Outra coisa: horário de almoço é preciso que professores
acompanhem os alunos, é um momento de formação, não dá pra nessa hora ir pegar material
que esqueceu não sei onde... O intervalo de vocês é 15 minutos. Isso já foi decidido em Conselho
de Escola antes, tem que respeitar. Se for pra ser vinte minutos, nós vamos fazer vinte
oficialmente. Todo mundo é ser humano, fica conversando um pouquinho a mais. Mas os
estagiários estão sendo formados, temos que deixar claro pra eles que tem que cumprir o
horário certinho. E na hora do almoço, tem que estar junto com os alunos, almoçar junto”.
(Diário de Campo, 15/08/2016)
O diretor deu uma bronca nos professores porque passou em algumas salas e tinha professor
deixando aluno usar celular depois de terminar a atividade, e professor que às 07h25 ainda não
tava dando aula. Cobrou mais compromisso, que não podem ser negligentes, nem muito
permissivos, tem que saber cobrar: “melhor ser professor vilão do que bonzinho, senão chega no
final do ano eles vão ta fazendo o que eles querem. Precisa ter ações pra controlar essa
bagunça. Não podemos deixar o negócio pegar fogo aqui, algumas regras tem que ficar claras,
‘abrir o caderno, cumprir o mapa, vai um por vez no banheiro’. Vocês tem que cumprir os
combinados coletivos. Não pode ter isso: ‘na aula do fulano pode, na do outro não pode, o
professor vilão e o bonzinho’. Se for preciso ferve, suspende, chama a mãe, faz ocorrência se o
aluno não quiser fazer a atividade. Suspende a sala inteira se for preciso. Aqui é um lugar que
se ouve “não” porque isso é formação do cidadão também. Temos que nos credibilizar, só
podemos reivindicar direitos se cumprirmos nosso dever. Outra coisa: não vamos sair por aí
falando mal do colega pros alunos, isso é um desrespeito!”(Diário de Campo, 03/04/2017).
No final do TDC, o diretor retomou o caderno piloto [um caderno de cada sala de aula onde os
alunos anotam as atividades dadas pelos professores daquela sala/turma, com objetivo de
prestação de conta do conteúdo dado]. Ele falou que em três salas os alunos anotaram “aula
livre”, e que não é pra isso acontecer! Os professores não gostaram muito, disseram que é injusto
balizar o trabalho deles só por esse caderno, pois o que os alunos anotam ali pode ser uma visão
parcial, e que às vezes eles colocaram “aula livre” por sacanagem. Uma professora disse: “nós
nunca combinamos aqui que era pra gente verificar o caderno piloto”, ao que o diretor
respondeu: “vamos combinar agora, vocês tem que verificar então” (Diário de Campo,
17/04/2017).
Os momentos de TDC são usados para retomar esses pactos, mas também para
conversar sobre o ensino-aprendizagem, quando, por exemplo, as professoras se reúnem
248
Fiquei conversando com [o professor coordenador] sobre o projeto africanidades. Ele disse que é
preciso que ele, que tem uma relação mais orgânica com a coisa, encabece o projeto, pra que este
saia da forma senso comum de lidar com a questão. Da mesma forma como se recusa a falar da
questão indígena, se não for trazendo um índio mesmo, porque senão vai acabar ficando naquela
coisa quadrada de pintar as crianças e dançar dança da chuva. Ele disse que virão indígenas à
escola conversar com crianças e professores. Enquanto conversávamos, uma professora veio
perguntar a ele: “selecionei uma lenda pra eu trabalhar na Mostra, depois você vê o que acha?”
Depois veio o orientador pedagógico mostrar ao professor o folder que ele havia feito pra Mostra
de Africanidades (Diário de Campo, Escola A, 15/08/2016).
Os professores começaram a expor uns aos outros os trabalhos que vinham realizando, sejam
individuais ou coletivos. A professora Cleusa falou que trabalhou em conjunto com os
professores Cleber e Paula, como incorporou o projeto gaia e africanidades nas suas aulas... disse
que só teve dificuldade com a discussão da sexualidade, pois gera conflito com pais (Diário de
Campo. Reunião RPAI com todos os ciclos. 06/02/2017).
Além dos espaços reservados pela equipe gestora nos TDCs e RPAIs, contribui
para esse compartilhamento a existência de um sistema de comunicação e divulgação
eficiente. Os professores compartilham seus trabalhos entre si e com a comunidade mais
ampla através dos jornais que fazem circular por várias escolas da rede e até na
Faculdade de Educação da Unicamp, ou mesmo através dos murais e paredes da escola
que estão constantemente repletos de produções realizadas pelos alunos. Além disso,
existe o já mencionado grupo criado no facebook, e uma pasta de Google Drive,
organizada pelo orientador pedagógico, com objetivo de facilitar o compartilhamento de
atividades e projetos realizados:
O orientador pedagógico mostra como acessar o Google drive, lembra que é para fins bastante
pedagógicos, como postar contribuições para o jornal. Ou dentro do projeto Gaia, por exemplo.
Mostra a pasta dos professores que conduzem o projeto sexualidade, com textos sobre
sexualidade. Reforça que é para acesso de todos, e aberto a contribuições: “tem uma pasta com
os planos de todas as disciplinas, até as coisas do TDC estão numa pasta. Também coloquei lá
todos os trabalhos do ano passado, e documentos da escola pra vocês acessarem”. (Diário de
Campo, TDC 6º a 9º ano, 20/03/2017).
“Havia grupos da escola que não sustentavam um horizonte de esperança: ‘ah, não vejo a hora
de me aposentar’. Como se isso fosse ser feliz para sempre. Por isso é bom socializar,
compartilhar esperanças e sonhos, pra termos fôlego. A pessoa ta saturada de que a educação é
o futuro, e temos cada vez mais aulas, o que torna a nossa prática inviável. Eu fui e tive
privilégio de estar num grupo... tem gente que me inspira, a gente vai se retroalimentando, se
250
fortalecendo”. Conta história de uma professora que era bastante desanimada, e agora não é mais
por conta da dinâmica da escola. Segundo o professor, ela chegou pra ele e disse: “você não sabe
o quanto eu to gostando de falar do meu trabalho” (...). Ele continua: “melhorou porque a gente
consegue ficar quinze minutos do lado dela: ‘não deu certo? Experimenta desse outro jeito’.
Antes era impossível falar com ela sobre a aula que ela dava, porque ela projetava tudo nos
alunos. Aí a gente dizia: ‘você tem que pegar alguma coisa que deu certo!’, e ela foi
mudando...” (Diário de Campo, set/2016).
Também me surpreendi com essa escola... porque a totalidade dos professores que trabalham
aqui são preocupados com os alunos, fazem projetos novos, a comunidade nos exige, não temos
como ficar calados com uma realidade que é muito difícil, e que mesmo assim estão aqui todos
os dias... o pessoal da noite trabalha o dia inteiro, mas vem pra ca... isso é uma coisa que mexe
com a gente, nos motiva. No livro da EJA tinham que comentar sobre as habitações do Brasil,
eles falaram: ‘eu já morei numa casa de pau a pique’, a partir disso a gente simulou uma casa
de pau a pique com depoimentos deles que eles criaram. É isso, valorizar a história desses
alunos e mostrar que a história deles faz parte da História do país... num primeiro momento a
gente pensa que eles não têm valores...mas quando entendemos a realidade deles, a gente se
transforma. (Diário de Campo, RPAI, 03/02/2017).
O Orientador Pedagógico informa: “(...) vamos exigir produção de texto dos alunos desde o 6º
ano. Ainda há defasagens na linguagem escrita, então é preciso encontrar meios de superar
essas deficiências. Cada sala vai ter uma pastinha... não vamos exigir redação de vestibular... é
um registro de autoria do aluno sobre o conteúdo da sala de aula... por exemplo, matemática,
tem que se pensar um modo pra que ele registre o que foi trabalhado”. O Orientador leu nas
Diretrizes Curriculares de Campinas o que é considerado uma produção satisfatória: “pontuação,
ortografia, letras maiúsculas, observância ao gênero textual...” e continua: “isso vai contar um
percentual da nota de uns 20%. Letramento é imprescindível na situação de vulnerabilidade que
eles vivenciam”. Os professores queriam entender melhor como isso vai ocorrer, ficaram
preocupados com o tempo de correção das produções. Nessa hora, o diretor interveio: “gente, é
uma por trimestre, não é muito! Vi ano passado que teve professor que não deu nenhuma
atividade de escrita ao longo do semestre inteiro... temos que estimular! Aí o aluno tira Ótimo
numa matéria, mas não sabe escrever! Não pode isso. Eu que sugeri pro Orientador Pedagógico
trabalhar isso. Se não tiver na pasta na data estipulada, vou questionar e querer saber o que
aconteceu!” (Diário de Campo, 01/02/2017).
Às vezes, esses informes sobre novos trabalhos que deverão ser realizados pelos
professores causam-lhes algum estranhamento, mas não percebi que há um incômodo
generalizado. Certa vez um professor disse pra mim que a ideia de trabalhar aqueles
textos e músicas sobre homofobia e consumismo foi uma imposição, porque segundo
ele a equipe gestora avisou de última hora: “nem deu tempo de discutir, e eu já falei que
não trabalho de final de semana, de jeito nenhum!”. O orientador pedagógico, quando
me contou sobre essa atividade, relatou que alguns professores toparam e outros se
mostraram resistentes a princípio. Mas esse mesmo professor narrou que, no final das
contas, ele acha que houve ampla adesão e foi produtivo.
Algumas práticas adotadas pela equipe gestora parecem tributárias de uma
postura controladora. Quando o diretor propôs o caderno piloto72, já sabia que muitos
professores franziriam a testa e se sentiriam controlados ou vigiados, então já se
antecipou explicando que a intenção não era essa:
O diretor apresentou aos professores um novo mecanismo a ser adotado na escola, o caderno
piloto. Ele disse que os alunos representantes de sala serão os responsáveis pelos cadernos de
forma geral, mas que cada dia um aluno deve se encarregar de anotar todo o conteúdo que foi
dado no dia. “Queremos ver o conteúdo que é dado. É fiscalização? Entenda como quiser. Mas
não é isso. É possível replanejar, planejamento é flexível. Mas me permite perguntar: ‘por que
esse professor só deu adição o ano todo?’ Se precisar dizer a verdade, vou dizer na cara. Vocês
podem explorar os espaços da escola: ‘ah, fiz uma leitura, uma roda de conversa no quiosque,
uma atividade de mural’, tudo bem, vão constar as atividades que você fez no dia. Não quero
volume. É o que você fez. Se planeja muita coisa, mas não deu conta de fazer tudo, isso
acontece. Ninguém vai ser enforcado. É só pra ter o registro.” (Diário de Campo, 02/08/2016)
O caderno-piloto serviu, por exemplo, para o diretor cobrar por que alguns
professores estariam dando “aula livre”, ao que eles responderam que era injusto balizar
seu trabalho apenas por aquilo que o aluno, muitas vezes de sacanagem, anota num
72
Como já explicado em trecho de diário de campo, trata-se de um caderno de cada sala de aula onde os
alunos anotam as atividades dadas pelos professores daquela sala/turma, com objetivo de prestação de
conta do conteúdo dado.
252
caderno. Os dois lados negociaram, então, que os professores deveriam conversar com
os alunos e checar os cadernos-piloto em suas aulas para evitar uma avaliação unilateral.
Da mesma forma, o diretor pediu à professora responsável que os alunos da CPA
comparassem o conteúdo desses cadernos com o planejamento de cada professor, o que
a professora realizou a contragosto, reportando depois ao diretor, de forma genérica, que
os conteúdos dados nas aulas estavam todos em conformidade com os planejamentos.
Esses dois casos são emblemáticos, pois o desconforto dos professores em ter seu
trabalho avaliado unilateralmente pelos alunos mostra como a avaliação precisa ser um
empreendimento coletivo, no qual esteja presente também a parte avaliada.
No entanto, de modo geral e também nessa escola, ainda há dificuldade de se
avaliar coletivamente o trabalho pedagógico. A atitude controladora do diretor de
implementar os cadernos-piloto é reveladora da ausência desse processo avaliativo
coletivo em que estejam presentes todos os segmentos e no qual se discutam
sistematicamente questões pedagógicas sobre currículo e práticas de ensino.
Vimos que essas questões são discutidas somente entre professores em
momentos de Trabalho Docente Coletivo, e ainda assim eles mais compartilham
conhecimentos, projetos e novas ideias do que propriamente identificam falhas em seu
trabalho e avaliam medidas reparadoras. Os dados quantitativos confirmam essa
impressão: o item com a menor média da rede nesse par de relação foi “nós professores
temos a prática de avaliar nosso trabalho coletivamente, refletindo e combinando juntos
o que podemos melhorar”.
Além disso, vimos que nessa escola o Conselho de Escola restringe-se à
prestação de contas e a reuniões isoladas com cada segmento; por sua vez, a CPA conta
com a participação apenas de alunos e professores e suas discussões/atuações não tocam
propriamente no cerne da prática docente. É certo que, como descrevemos, essa
instância aborda questões pedagógicas importantes, como assiduidade dos alunos e
melhoria da convivência entre eles. No entanto, as soluções elaboradas para esses
problemas restringiam-se, respectivamente, a conversar individualmente com os alunos
faltosos e suas famílias; elaborar cartazes para campanha contra bullying e comprar uma
mesa de jogos para os intervalos. Ou seja, dificilmente a CPA discute e sistematiza
problemas de aprendizagem propriamente, tampouco encaminha soluções pedagógicas
que incidam sobre o currículo e sobre as práticas docentes.
253
Espero que a equipe gestora seja humana, e pra mim essa é humana. Acho a diretora muito
humana com todos. Por exemplo, você vai tirar uma abonada, que é um direito seu, lá na Escola
A era muito burocrático, tinha que fazer papel solicitando, e o diretor deferia ou não. Aqui é
mais democrático, tem um calendário, você marca lá. O outro diretor [da Escola A] já pensava
que se dois ou três vão tirar abonada, “eu vou indeferir”... às vezes você precisava com
urgência, mas ligar de um dia pro outro não podia, ele colocava falta.... Já aqui aconteceu de eu
ligar no dia anterior e pedir pra marcar abonada e a gestão aceitou. Sinto que aqui tem mais
diálogo... [Sobre o diretor da Escola A]: No TDC era só brigando com a gente, dando bronca,
falando que professores não sabiam dar aula. Tinha vez que ficava no corredor ouvindo a aula
da gente. Quando o professor falava alguma coisa contra na reunião, se você fosse contra as
ideias dele, você era professor ruim, ele passava a perseguir. Aí não liberava abonada, ou
quando professor pedia pra ir no NAED assinar licença premium, ouvi ele falando “vou dar
uma canseira no fulano, não vou assinar licença premium”, sendo que é um direito da gente.
Não é uma postura correta pra um gestor. Ele não confiava em ninguém... eu fazia parte do
programa Y, eu era obrigada a filmar, tirar foto, pra ele ver que a gente tava trabalhando.
Parece que ele tava sempre desconfiado que as pessoas não iam cumprir sua responsabilidade.
Tinha professor que se calava... No fim, teve onze que se removeram, professores que estavam lá
fazia dez anos. (Entrevista com professora, 19/11/2015).
O diretor falou com orgulho sobre o aumento do IDEB, informou os professores que a escola
atingiu a meta de 1º a 5º ano: “Isso mostra o compromisso de vocês, todo o esforço de vocês!”.
Parabenizou todas pelo ótimo trabalho. Disse também que os cadernos pilotos “estão lindos!
Mesmo os alunos que têm dificuldade estão fazendo... porque a ideia é essa mesmo. Se
preocupem menos em mostrar pra mim, façam como fariam normalmente. Os índices também
são só uma consequência”. Uma professora elogiou a utilidade do caderno piloto: “uma mãe veio
me cobrando por que a filha dela não faz nada, daí mostrei o caderno piloto pra ela ver como a
turma faz. Acaba sendo um instrumento pra nos ajudar na conversa com os pais” (Diário de
Campo, 12/09/2016).
como manifesto nas entrevistas. O que afeta a confiança é precisamente o quanto essas
regras são percebidas como benéficas ao bem comum e transmitidas às claras, o quanto
as cobranças são percebidas como justas, e o quanto se age de forma coerente com o
que foi combinado.
255
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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em www.worldbank.org/socialdevelopment, acesso em 09/10/2016.
ANEXOS
do aluno?
-Tomam-se providências para evitar que os alunos fiquem próximos ao limite dos 25% de
infrequência?
-A escola se articula com outros órgãos/setores sociais para resolver problemas dos alunos?
-Os problemas de aprendizagem dos alunos são discutidos coletivamente?
-O abandono dos estudos pelos alunos gera ações do coletivo da escola além dos
encaminhamentos ao Conselho Tutelar?
____________________________________________________________________________
_
PARTICIPAÇÃO (PA)
Processo de aprendizagem que constitui a formação política, social e cidadã, pela qual o sujeito
percebe-se histórico e social à medida que se integra e se sente parte de um coletivo, com o
qual aprende a colocar suas posições e a respaldá-las, a argumentar, dialogar, escutar, refletir,
respeitar ideias divergentes. Nesse processo, desenvolve um senso de protagonismo ao
partilhar pontos de vista e decisões, produzindo conhecimento social em permanente
construção. Consolida-se por meio da participação ativa, crítica e consciente dos sujeitos, com
vistas à tomada de decisões e à ação que transformem a realidade rumo à melhoria da
qualidade de vida individual e coletiva.
Itens:
-A construção do Projeto Pedagógico da escola limita-se à equipe gestora e docente?
-A escola promove a participação da comunidade na construção do Projeto Pedagógico?
-Há momentos que propiciam a participação dos diversos segmentos na avaliação do Projeto
Pedagógico?
-Os alunos participam na tomada de decisões sobre a escola?
____________________________________________________________________________
__
RELAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE (REC)
Envolvimento, preocupação e ação sobre as questões que dizem respeito à
sociedade/coletividade com o objetivo de promover maior bem-estar individual e coletivo. Ter
compromisso social implica desempenhar uma atuação responsável quanto às questões de
convivência, meio-ambiente, enfrentamento à desigualdade social e a todas as formas de
discriminação.
Itens:
-Os problemas da comunidade são inseridos nas discussões feitas na escola?
-Os problemas do bairro são também problemas da escola?
Fonte: Elaborado pelo coletivo de pesquisadores do LOED, como parte da Pesquisa OBEDUC (SORDI,
et al., 2017).
276
PROFESSOR-EQUIPE GESTORA
Itens Alterações e Justificativas
(primeira versão) (após validação conceitual e semântica)
RETIRADO.
Considerei comentário de uma juíza:
1. A equipe gestora preocupa-
se com o bem estar pessoal dos “quando se pergunta sobre o bem estar pessoal, penso que
professores. muitos professores atribuem alto grau de consideração
quando o diretor é “bonzinho”, sem relacionar o bem
estar ao trabalho que ele tem o compromisso de realizar.”
COMPLEMENTADO.
5. A equipe gestora preocupa- “(...) (por ex., garantindo momentos de formação na escola
se com nosso desenvolvimento etc.)”.
profissional.
Pois na validação semântica, professores não entenderam o
que eu quis dizer.
REFORMULADO.
7. A equipe gestora sempre
respeita os professores. “Sinto-me respeitado(a) pelo(a) diretor(a) da minha
escola.”
REFORMULADO.
9. A equipe gestora é
“O(a) diretor(a) cumpre sua parte na garantia de condições
competente na execução de
adequadas de trabalho para nossa escola”.
suas responsabilidades
Pois não estava claro o que quis dizer com competência.
RETIRADO.
Os respondentes sentiram dificuldade para responder essa
questão no pré-teste.
Conversando com um deles e com um dos juízes, percebi
que o item era frágil: o gestor pode ter um discurso
11. Há coerência entre o autoritário e agir de acordo com ele. Esse tipo de coerência
discurso da equipe gestora e não se relaciona com a concepção de confiança aqui
suas ações. adotada.
Juiz: “Pode haver coerência, mas as ações não serem
legais. A coerência pode ser transgredir... No oficial eu
posso falar tudo que deve ser dito, e no paralelo eu posso
construir outra coisa. Isso é ser coerente com minhas
concepções”.
MANTIDO.
Ainda assim, o mesmo juiz acima questionou essa questão
da coerência:
“Posso perceber contradições e coerências... coerência
pode ser calar todo mundo, isso não ajuda
12. A equipe gestora age de necessariamente. As contradições não necessariamente
forma coerente com aquilo que são ruins. Não é a unanimidade que me interessa, é a
foi combinado e acordado diversidade, as divergências com respeito”.
coletivamente.
No entanto, nesse momento estamos apostando que o
coletivo, permeado pela confiança e pelo respeito às
diferentes vozes, delibera ações que vão de encontro à
formação humana. Um coletivo com essas características
não deliberaria por ações que caminham no sentido
contrário a esse.
REFORMULADO.
14. A equipe gestora “O(a) diretor(a) compromete-se com o bem-estar de todos
compromete-se seriamente com os(as) estudantes”.
todos os alunos.
Um juiz colocou uma questão pertinente:
“Qual o significado de “seriamente”, pois para alguns
278
RETIRADO.
Um juiz questionou por que interesses pessoais e políticos
estariam em oposição a interesses dos alunos,
15. A equipe gestora coloca
considerando que toda ação é política.
seus interesses pessoais e/ou
políticos acima das “os meus interesses pessoais e políticos dialogam com as
necessidades dos alunos. necessidades dos alunos. O que a equipe gestora faz
reflete o que ela faz na política. Não ta claro que interesse
político é esse. Pode ser bom, porque toda ação que a
gente faz é política”.
RETIRADO.
18. Há uma nítida falta de
sintonia dentro da equipe Juiz argumentou que “sintonia”, “coerência”, “falar a
gestora da minha escola. mesma língua”, pode estar numa perspectiva que abafa os
conflitos, as contradições.
REFORMULADO.
Buscamos evitar falar “equipe gestora”, pois no pré-teste os respondentes não identificavam
todos da equipe, mas remetiam mais ao diretor. Uma juíza também pontuou isso. Era preciso
deixar mais claro de quem se estava falando. Desmembramos então as perguntas em diretor e
orientador pedagógico; mantivemos “equipe gestora” apenas nos casos que inevitavelmente
queríamos saber sobre a equipe como um todo.
PROFESSOR-PROFESSOR
Itens Alterações e Justificativas
(primeira versão) (após validação conceitual e semântica)
279
REFORMULADO.
25. Os professores dessa escola
são profissionais competentes. “Eu confio na competência profissional dos professores
dessa escola”.
RETIRADO.
Não ficou claro pra um juiz e pra alguns respondentes o
que quis dizer com “interesses pessoais”.
28. Os professores colocam Ao explicar que se tratava de professores que chegam
seus interesses pessoais acima atrasado, faltam sem avisar, etc, um juiz respondeu:
das necessidades dos alunos.
“aí é uma questão ética. Ele ta errado, passível de
processo. Tem alguma coisa que é ética. Eu todo dia não
estar disposto a não dar aula... aí não é uma questão de
confiança... é de contrato profissional. Ta agindo
criminosamente. Escrevendo assim parece que é possível
280
REFORMULADO.
Retiramos o “mesmo quando isso significa abrir mão de
suas opiniões individuais”, pois não queremos colocar o
coletivo do lado oposto ao respeito às individualidades.
Segundo um juiz:
30. Os professores cumprem os
“Fala recorrente que me incomoda do ‘todos falarem a
combinados coletivos, mesmo
mesma língua’. Acho que pode ter várias línguas. Mas
quando isso significa abrir mão
todo mundo pode fazer do seu jeito e do melhor jeito.
de suas opiniões individuais.
Mesmo no combinado quando você transgride, não é em
detrimento do coletivo. Tua dinâmica de aula permite você
analisar isso. Nem tudo dá pra ser delegado pelo coletivo.
Não pode ter essa camisa de força. Tem algumas
alternativas que é bom que o professor construa. Essa
coisa do coletivo... algumas transgressões são boas”.
RETIRADO.
Um dos respondentes do pré-teste e um juiz questionaram
essa questão, pois ela jogaria toda a responsabilidade sobre
31. Os professores se “fecham os professores.
em suas salas de aula” e se
recusam a trabalhar “cada um fica na sua sala, mas não porque se recusam...
coletivamente com os colegas. A palavra recusa que ta meio forte. Não se trata de uma
recusa, se alguém me procurasse, eu toparia...”.
“professor não é algoz. Tem uma série de questões que
afetam nisso... por ex. formação”.
REFORMULADO.
“A escola empenha-se constantemente em convidar os
pais/famílias para participar da CPA e/ou Conselho de
Escola”.
36. Os professores
Uma juíza apontou que a resposta dos sujeitos poderia
empenham-se continuamente
expressar o socialmente desejável.
em aproximar os
pais/responsáveis da vida Além disso, a responsabilidade não é apenas do professor
escolar. em fazer esse chamamento.
Decidimos explicitar dois espaços avaliativos/decisórios
(CPA/Conselho de Escola), pois “aproximar da vida
escolar” pode significar o mero chamamento para reuniões
nas quais se fala sobre o mau desempenho das crianças.
RETIRADO.
Uma juíza apontou que o sujeito poderia responder pautado
naquilo que a sociedade deseja que ele responda.
Além disso, alguns respondentes no pré-teste disseram
que, na hora do tratamento, tratam com respeito, ou seja,
não xingam os pais. No entanto, isso não implica
37. Os professores dessa necessariamente uma postura de olhar atento às suas
escola sempre respeitam os necessidades, opiniões, como se pode depreender da
pais/responsáveis. seguinte fala de uma respondente: "respeitamos, mas desde
que não encham muito o saco". A pesquisa de campo
também refinou esse olhar para a questão.
Com objetivo de captar respeito para além desse tratamento
formal, considera-se que outras perguntas cumpram melhor
esse objetivo: quando se busca saber se os pais sentem-se à
vontade nas reuniões da escola, se eles freqüentam a escola,
se os professores consideram suas opiniões e necessidades.
REFORMULADO.
38. Os professores dessa
escola ouvem com atenção o “Os professores dessa escola têm consideração pelas
que os pais/responsáveis têm a opiniões dos pais/famílias.”
dizer sobre a educação dos
É necessário ter um senso de consideração, não apenas
seus filhos.
escutar.
41. Os pais/responsáveis
cumprem sua parte de RETIRADO.
responsabilidade na educação Redundante.
das crianças/jovens.
42. Os pais/responsáveis
confiam no trabalho dos MANTIDO.
professores dessa escola.
REFORMULADO.
“Os pais/famílias se esforçam para ajudar seus filhos a
43. Os pais/responsáveis dão o
aprender”.
seu melhor para ajudar seus
filhos a aprender. ‘Dão o seu melhor’ induz a responder negativamente,
porque já existe no senso comum que a família não
acompanha o estudante.
44. Os pais/responsáveis
preocupam-se em
MANTIDO
acompanhar a vida escolar de
seus filhos.
45. Os pais/responsáveis
fazem o possível para
MANTIDO.
participar das reuniões da
escola.
46. Os pais/responsáveis
mostram interesse pelos MANTIDO.
assuntos da escola.
REFORMULADO.
“O(a) supervisor(a) mostra prontidão em comparecer à
escola quando é solicitado(a) para ajudar a resolver algum
problema.”
Pois ele não resolve, mas ajuda a resolver. Como colocou
um juiz:
49. O(a) supervisor(a) mostra “supervisor faz diferença quando você tem a questão
prontidão em comparecer à criminal. Na hora de separar ele tem que entrar na
escola quando é solicitado(a) relação... enquanto a gente tiver casado, não precisa. Só
para resolver algum aparece numa cobrança específica, não vive a escola. É
problema. uma figura meio sogra. Não faz parte da relação da escola
com comunidade. Não tenho uma relação muito simpática
com essa ideia do supervisor. Gosto da ideia da escola
conseguir encontrar maneiras de resolver. Nunca tive neles
um aporte. Mas é porque eu tenho outras fontes pra buscar
conhecimento que não passa pela fonte do supervisor.
Talvez para uma pergunta muito específica podemos
recorrer a eles: pode subir aula, adiantar aula, fazer algo
que é fora do padrão e precisa de uma autorização”.
REFORMULADO.
“O(a) supervisor(a) nos ajuda a defender as necessidades da
nossa escola”.
Um juiz estranhou a palavra “zelo”. Uma juíza apontou,
51. O(a) supervisor(a) zela referindo-se a outra questão, que o supervisor não resolve
pelas necessidades da nossa sozinho os problemas. No máximo ele ajuda a escola.
escola.
Pensamos que, em se tratando de um cargo no âmbito
descentralizado, deveria ficar mais claro que ele tem um
papel de ajudar a escola a defender seus interesses perante
os decisores centrais.
REFORMULADO.
“A SME oferece boas condições de trabalho para nossa
56. No que se refere a
escola, no que se refere à garantia de quadro completo de
recursos humanos, a SME
docentes, funcionários, e equipe gestora”.
oferece boas condições de
trabalho para nossa escola. Um juiz apontou a inadequação do uso do termo “recursos
humanos”. No pré-teste, respondentes tiveram dificuldade
para entender do que se tratava.
57. Em termos de
salário/jornada/formação, os
professores têm boas MANTIDO.
condições de trabalho nessa
rede.
ITENS JUSTIFICATIVAS
Com objetivo de captar respeito para além do
Os pais/famílias sentem-se à vontade nas tratamento formal. Quando se busca saber se os
reuniões da escola, expondo suas pais sentem-se à vontade nas reuniões da escola,
opiniões, anseios, necessidades. é uma forma de avaliar quanto a escola os deixa
à vontade, respeitando-os em suas falas.
Sinto que os pais/famílias não educam Sugestão de um juiz.
seus filhos e, portanto, eles não se É necessário avaliar a concepção dos
comportam adequadamente na escola. professores em relação às famílias.
Saber se a comunidade efetivamente participa
Os pais/famílias estão sempre
dos eventos e reuniões é uma forma de avaliar
participando das reuniões, festas e
mais claramente em que medida ela é bem
eventos dessa escola.
acolhida pela escola.
A pesquisa de campo tem mostrado que a
avaliação é um tema delicado, ainda mais
quando se trata de submeter o próprio trabalho
ao olhar do outro.
Avaliamos coletivamente, com alunos e Parece-me, pelas observações, que os
pais/famílias, quais são as potências, as professores são resistentes a esse diálogo, pois
dificuldades, e o que podemos melhorar não consideram que alunos e famílias possam
no trabalho da escola. contribuir no processo de avaliação do trabalho
pedagógico.
Julgou-se importante incluir uma questão que
captasse mais claramente a presença/ausência de
processos de negociação nesse sentido.
Sugestão de juiz.
Sinto-me como se estivesse sozinha(o) nas
Julgou-se ir de encontro com o aspecto do
minhas atividades profissionais, no
apoio, suporte, ajuda, já mensurado em outros
cotidiano da escola.
itens.
Os professores sentem que suas opiniões Faltava um item que deixasse claro esse
e propostas são consideradas pela equipe sentimento de sentir-se ouvido e considerado.
gestora.
Minha forma de trabalhar com os alunos Sugestão juiz.
é estabelecida pelo(a) diretor(a) e tenho Captar em que medida o diretor respeita a
que cumprir as recomendações autonomia profissional dos professores.
profissionais que são feitas.
Sugestão juiz.
Sinto-me como se estivesse sendo
Captar em que medida o diretor respeita a
vigiada(o) em meu trabalho.
autonomia profissional dos professores.
Idem.
Tenho autonomia para organizar minha
prática pedagógica em sala de aula.
A partir do momento que se desmembrou o
“equipe gestora”, julgou-se pertinente incluir
O(a) orientador(a) pedagógico(a) está
perguntas específicas para a função do
sempre combinando com os professores
orientador pedagógico. Nesse caso, trata-se de
ações pedagógicas para ajudar os alunos
captar o respaldo que o OP oferece, em termos
que mais precisam.
de pensar alternativas pedagógicas para ajudar
os alunos.
286
ESCOLA 1- OP disse não poder em 2016 por conta das muitas demandas de final de
ano. No começo de fevereiro/2017, retornei, mas ela disse que só poderíamos marcar
dia 20 de março, alegando que "retomaremos as reuniões de TDC em março". No
entanto, essa data seria inviável dentro do meu planejamento (marquei de iniciar o
processamento estatístico dia 15 de março).
(email)
ESCOLA 2 - “Nós estamos com um número de demandas para o TDC bastante
intensa, visto que nesse último mês há muitos acontecimentos que foram previamente
programados pela escola. Conversei com a Fulana, a outra OP, que cuida do 1º ao 5º
e ela também está na mesma situação. Para além disso, nesse ano os professores
tiveram já outras pessoas que fizeram com eles aplicações de pesquisa e já haviam
pedido que não colocássemos mais ninguém. Caso haja abertura para próximo ano,
retomo contato com você”. (email)
ESCOLA 3- “Discuti com a diretora a respeito e não temos mesmo como
disponibilizar tempo no TDC deste ano para pesquisas acadêmicas, porque o tempo
está sendo insuficiente para todas as demandas internas de planejamento. Um projeto
diferenciado exige maior trabalho de estudo e planejamento coletivos e os tempos
institucionais para isso são bastante escassos. Para 2017, podemos pensar nessa
possibilidade. A outra consideração que temos feito com todos os pesquisadores
interessados em fazer pesquisas nessa escola é que apenas dispensarmos mais tempo
coletivo para retorno sobre as avaliações feitas é um retorno muito pequeno para a
colaboração da escola na pesquisa. A Academia precisa repensar sua relação com a
escola básica para além de tê-la como campo de pesquisa para aquisição de títulos
acadêmicos. Precisa pensar em projetos que ajudem a propor mudanças positivas na
escola, não apenas investigar se o que a escola faz sozinha dá ou não certo. A parceria
escola-academia precisa se dar no dia-a-dia e não mais nesse processo em que a
Academia vem apenas analisar o já feito”.
(email)
ESCOLA 4 - Conversei com a OP por telefone. Ela ficou de ver com os professores.
Retornei depois de um tempo para saber a resposta. Ela disse que eles não aceitaram
usar o espaço do TDC nem horário livre: “a gente ta se sentindo muito pressionada na
escola. Marquei dois conselhos de quatro classes no TDC... os professores estão tendo
formação à noite. Estamos muito sobrecarregadas. Com professoras de 1º a 5º nem
falei, porque estão fazendo PNAIC, tem que fazer evento da escola... de 6º a 9º
algumas poucas vão aceitar”. (telefone)
Perguntei se poderia usar um tempo menor de TDC somente para explicar a pesquisa e
depois voltar para recolher os questionários de quem aceitasse participar. Ela até
deixou, mas só em metade da escola. No TDC das professoras de 1º a 5º não quis nem
disponibilizar esse espaço. Achei que não valia à pena ir a essa escola.
ESCOLA 5- Tinha marcado aplicação com o OP. Estava tudo certo. Mas chegando à
escola, ele disse que conversou no dia anterior, domingo, com a diretora, e acharam
que agora não era o momento: “quem sabe em outro momento”. Ele narrou que a
equipe passou por um momento delicado. Houve fechamento de turmas, e os
professores da escola são muito críticos, acharam que a diretora tem culpa, então houve
tensão. “Mas a gente fica de mãos atadas, são ordens da Secretaria. Quando
288
soubemos, nos perguntamos: vamos contar pra eles? Nem adiantaria falar antes ou
não, ia fechar mesmo. Mas resolvemos contar. Se eles respondessem agora à pesquisa,
não refletiria a nossa realidade aqui, porque eles só falariam mal da escola”.
(conversa pessoal)
Perguntei se eu poderia entrar em contato no começo de 2017, em fevereiro, ele disse
que ainda seria muito cedo, não daria tempo de a equipe acalmar, porque também
houve muitas mudanças (oito professores saíram da escola).
ESCOLA 6- Não consegui falar com diretora em 2016, estava sempre ocupada quando
eu ligava. Escola ficou muito tempo sem OP. Essa escola também não aceitou
participar da pesquisa do LOED.
ESCOLA 7- Em 2016, liguei e mandei email explicando as intenções da pesquisa.
Fiquei aguardando durante umas semanas a resposta da equipe gestora. Diante da
ausência de resposta, liguei mais uma vez. Ficaram de ver o email e retornar por email.
Não retornaram. Insisti ligando ainda mais uma vez, ao que a OP pediu para enviar
outro email com os arquivos da pesquisa. Fiz isso. Mesmo assim não retornaram.
ESCOLA 8- Em 2016, a escola alegou não ter tempo. Em 2017, consegui marcar com a
OP. Mas ela desmarcou comigo, pois disse que surgiu uma demanda muito urgente. Ela
pediu pra eu ligar para conversarmos. Liguei, ela explicou por que desmarcou, e
quando solicitei uma nova data, ela disse que naquele momento não poderia ver isso,
mas que me retornaria depois por email. Mandei um email lembrando alguns dias
depois, mas não tive mais resposta.
ESCOLA 9- A OP me passou whatsapp dela na primeira vez que liguei na escola.
Disse pra conversarmos por lá. Eu perguntei por lá se ela já tinha visto com a equipe,
mas ela não respondeu. Liguei então novamente, ela me atendeu de forma mais fria,
disse a mesma coisa, que me retornaria depois, mais pro final do ano. Mandei outro
whatsapp lembrando, mas não tive resposta. Em 2017, entrei em contato novamente.
Ela foi bastante solícita dessa vez, mas disse que em reunião com a diretora, esta não
aceitou a pesquisa, pois o questionário vai de encontro com o que a escola está
vivendo, e ela é bastante centralizadora, na visão da OP. Quando ela questionou à
diretora por que a recusa, a diretora respondeu rispidamente que entraria em contato
comigo, mas não entrou.
ESCOLA 10- Nunca atendem o telefone. Liguei muitas e muitas vezes em 2016. Em
2017, consegui pegar o telefone novo da escola com uma professora que tinha
trabalhado lá em 2016. Mas também não atendeu.
ESCOLA 11- Ano passado, a OP Fulana chegou a pré-agendar comigo dia 20 de
dezembro em RPAI. Pediu pra que eu falasse com a outra OP Ciclana pra confirmar.
Falei com ela, ela disse que dia 20 seria ruim, que seria melhor eu ir no TDC, mas só
prontificou um TDC, apesar de eu dizer que teria que ir nos dois. Mantive então que
seria melhor em RPAI, ela disse que me retornaria para confirmar, mas não retornou.
Fui à escola pessoalmente esse dia, e ninguém estava lá. A RPAI foi adiantada pra
outro dia. Começo de 2017, tentei inicialmente falar com Ciclana, pois Fulana estava
de licença. Nunca consegui, ela estava sempre ocupada. Deixei o telefone duas vezes
com a secretária, com a promessa de que ela me retornaria quando estivesse livre, mas
não tive retorno. Depois, comecei a tentar falar com Fulana. Também não consegui
falar com ela, pois diziam que ela “não está na escola” ou que “está ocupada”. O
pessoal da secretaria em geral apenas ligava na sala dela, e se ela não atendia, já diziam
que não estava na escola. Apenas uma vez se prontificaram a procurá-la pelas
dependências da escola. Acharam-na, mas, mais uma vez, ela estava ocupada em
reunião. Uma vez apenas ela me atendeu, eu expliquei toda a pesquisa, mas ela disse
pra eu retornar outro momento, pois estava ocupada no meio de um atendimento com
289
pai. Mandei email à escola direcionado a elas, mas também não tive retorno.
Fonte: elaborado pela pesquisadora
290
Justificativa e Objetivo
É crescente a literatura internacional que aborda a importância das interações,
trocas sociais e relações entre os diversos sujeitos do ambiente escolar no processo de
melhoria da qualidade educacional. O objetivo da pesquisa é investigar, em uma
realidade brasileira, como a confiança que os professores sentem em relação aos
pais/responsáveis, equipe gestora e demais professores, e em relação à Secretaria de
Educação, influencia o trabalho coletivo na escola e sua capacidade de produzir
qualidade socialmente relevante.
Procedimentos
Participando do estudo você está sendo convidado a preencher um questionário
que levará cerca de 30 minutos. O questionário possui questões relativas às dimensões
que compõem a confiança em cada um dos pares citados (professor-professor;
professor-pais/responsáveis; professor-equipe gestora; professor-Secretaria Municipal
de Educação).
A aplicação do questionário acontecerá em seu local de trabalho, após consulta
prévia, de modo a atendê-lo da melhor maneira possível, sem prejuízos para as suas
atividades profissionais.
Sigilo e privacidade
Você tem a garantia de que sua identidade e a identidade da sua escola serão
mantidas em sigilo e nenhuma informação será dada a outras pessoas que não façam
parte da equipe de pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome
e o nome da sua escola não serão citados.
Benefícios
295
Desconfortos e riscos
Com relação aos riscos, caso você sinta qualquer tipo de desconforto em função
dos assuntos aflorados durante as entrevistas, tem o direito de negar-se a responder
qualquer pergunta ou parte de informações. A pesquisadora estará atenta à questão e
tomará medidas, na situação, para amenizá-la, como mudar o tema ou até interromper a
sessão, se for necessário.
Ressarcimento
Em caso de dano decorrente da pesquisa, está garantida a assistência integral e
imediata, de forma gratuita, pelo tempo que for necessário. Você também tem direito a
indenização em caso de danos.
Contato
Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com a
pesquisadora Sara Badra de Oliveira:
Endereço: Rua Uruguaiana, 431, apto 104. CEP 13026-001. Campinas -SP
Telefone: (19) 99794-7315. (19) 3342-5187
E-mail: sara.badra.oliveira@gmail.com
Responsabilidade da Pesquisadora
Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e
complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma
cópia deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP
perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e os
296
______________________________________________Data:____/_____/______.
Sara Badra de Oliveira
Justificativa e Objetivo
É crescente a literatura internacional que aborda a importância das interações,
trocas sociais e relações entre os diversos sujeitos do ambiente escolar no processo de
melhoria da qualidade educacional. O objetivo da pesquisa é investigar, em uma
realidade brasileira, como a confiança que os professores sentem em relação aos pais,
equipe gestora e demais professores, e em relação à Secretaria de Educação, influencia
o trabalho coletivo na escola e sua capacidade de produzir qualidade socialmente
relevante.
Procedimentos
Participando do estudo você está sendo convidado a conceder uma entrevista que
será transcrita e durará cerca de 40 minutos. A entrevista será realizada em seu local de
trabalho e de acordo com sua disponibilidade, após consulta prévia, de modo a atendê-lo
da melhor maneira possível, sem prejuízos para as aulas ou demais atividades escolares.
Desconfortos e riscos
Com relação aos riscos, caso você sinta qualquer tipo de desconforto em função
dos assuntos aflorados durante as entrevistas, tem o direito de negar-se a responder
qualquer pergunta ou parte de informações. A pesquisadora estará atenta à questão e
297
tomará medidas, na situação, para amenizá-la, como mudar o tema ou até interromper a
sessão, se for necessário.
Benefícios
Não haverá benefícios diretos para o participante da pesquisa. No entanto, o
benefício indireto será contribuir com a criação de um corpo de conhecimento científico
ainda escasso na realidade brasileira, a respeito de um importante fator que influencia a
melhoria da qualidade educacional.
Sigilo e privacidade
Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma
informação será dada a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores.
Na divulgação dos resultados desse estudo, seu nome não será citado.
Ressarcimento
Em caso de dano decorrente da pesquisa, está garantida a assistência integral e
imediata, de forma gratuita, pelo tempo que for necessário. Você também tem direito a
indenização em caso de danos.
Contato
Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com a
pesquisadora Sara Badra de Oliveira:
Endereço: Rua Uruguaiana, 431, apto 104. CEP 13026-001. Campinas -SP
Telefone: (19) 99794-7315. (19) 3342-5187
E-mail: sara.badra.oliveira@gmail.com
Responsabilidade da Pesquisadora
298
______________________________________________Data:____/____/____.
Sara Badra de Oliveira
299
PA_1 - Sinto que posso contar com o apoio dos pais/famílias dessa escola para
realização do meu trabalho.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 11 2,5 2,5 2,5
1,00 52 11,7 11,7 14,1
2,00 81 18,2 18,2 32,3
3,00 24 5,4 5,4 37,7
4,00 181 40,6 40,6 78,3
5,00 80 17,9 17,9 96,2
6,00 17 3,8 3,8 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 9 2,0 2,0 2,0
1,00 14 3,1 3,1 5,2
2,00 41 9,2 9,2 14,3
3,00 17 3,8 3,8 18,2
4,00 139 31,2 31,2 49,3
5,00 173 38,8 38,8 88,1
6,00 53 11,9 11,9 100,0
Total 446 100,0 100,0
PA_9 - Sinto que os pais/famílias têm consideração pelo que nós professores dizemos
sobre a educação de seus filhos.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 8 1,8 1,8 1,8
1,00 20 4,5 4,5 6,3
2,00 53 11,9 11,9 18,2
3,00 23 5,2 5,2 23,3
4,00 198 44,4 44,4 67,7
5,00 127 28,5 28,5 96,2
6,00 17 3,8 3,8 100,0
Total 446 100,0 100,0
300
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 2 ,4 ,4 ,4
1,00 12 2,7 2,7 3,1
2,00 24 5,4 5,4 8,5
3,00 12 2,7 2,7 11,2
4,00 149 33,4 33,4 44,6
5,00 212 47,5 47,5 92,2
6,00 35 7,8 7,8 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 16 3,6 3,6 3,6
1,00 49 11,0 11,0 14,6
2,00 143 32,1 32,1 46,6
3,00 24 5,4 5,4 52,0
4,00 184 41,3 41,3 93,3
5,00 28 6,3 6,3 99,6
6,00 2 ,4 ,4 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 10 2,2 2,2 2,2
1,00 35 7,8 7,8 10,1
2,00 143 32,1 32,1 42,2
3,00 26 5,8 5,8 48,0
4,00 190 42,6 42,6 90,6
5,00 40 9,0 9,0 99,6
6,00 2 ,4 ,4 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 7 1,6 1,6 1,6
1,00 37 8,3 8,3 9,9
2,00 122 27,4 27,4 37,2
301
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 11 2,5 2,5 2,5
1,00 47 10,5 10,5 13,0
2,00 150 33,6 33,6 46,6
3,00 24 5,4 5,4 52,0
4,00 172 38,6 38,6 90,6
5,00 39 8,7 8,7 99,3
6,00 3 ,7 ,7 100,0
Total 446 100,0 100,0
PA_15 - Os pais/famílias estão sempre participando das reuniões, festas e eventos dessa
escola.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 5 1,1 1,1 1,1
1,00 28 6,3 6,3 7,4
2,00 97 21,7 21,7 29,1
3,00 21 4,7 4,7 33,9
4,00 210 47,1 47,1 80,9
5,00 76 17,0 17,0 98,0
6,00 9 2,0 2,0 100,0
Total 446 100,0 100,0
G_16 - Tenho autonomia para organizar minha prática pedagógica em sala de aula.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid 1,00 5 1,1 1,1 1,1
2,00 11 2,5 2,5 3,6
3,00 4 ,9 ,9 4,5
4,00 44 9,9 9,9 14,3
5,00 197 44,2 44,2 58,5
6,00 185 41,5 41,5 100,0
Total 446 100,0 100,0
302
G_17 - Sinto que posso contar com o apoio do(a) diretor(a) para realização do meu
trabalho.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 6 1,3 1,3 1,3
1,00 9 2,0 2,0 3,4
2,00 25 5,6 5,6 9,0
3,00 11 2,5 2,5 11,4
4,00 75 16,8 16,8 28,3
5,00 165 37,0 37,0 65,2
6,00 155 34,8 34,8 100,0
Total 446 100,0 100,0
G_18 - O(a) diretor(a) compartilha informações importantes com os professores (por ex.
sobre nossa vida funcional, sobre o que está acontecendo na rede etc.)
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 7 1,6 1,6 1,6
1,00 15 3,4 3,4 4,9
2,00 37 8,3 8,3 13,2
3,00 14 3,1 3,1 16,4
4,00 81 18,2 18,2 34,5
5,00 147 33,0 33,0 67,5
6,00 145 32,5 32,5 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 9 2,0 2,0 2,0
1,00 31 7,0 7,0 9,0
2,00 88 19,7 19,7 28,7
3,00 14 3,1 3,1 31,8
4,00 95 21,3 21,3 53,1
5,00 123 27,6 27,6 80,7
6,00 86 19,3 19,3 100,0
Total 446 100,0 100,0
G_20 - A equipe gestora preocupa-se com nosso desenvolvimento profissional (por ex.,
garantindo momentos de formação na escola etc.).
303
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 5 1,1 1,1 1,1
1,00 13 2,9 2,9 4,0
2,00 30 6,7 6,7 10,8
3,00 15 3,4 3,4 14,1
4,00 125 28,0 28,0 42,2
5,00 163 36,5 36,5 78,7
6,00 95 21,3 21,3 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 15 3,4 3,4 3,4
1,00 25 5,6 5,6 9,0
2,00 24 5,4 5,4 14,3
3,00 31 7,0 7,0 21,3
4,00 100 22,4 22,4 43,7
5,00 170 38,1 38,1 81,8
6,00 81 18,2 18,2 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 11 2,5 2,5 2,5
1,00 10 2,2 2,2 4,7
2,00 19 4,3 4,3 9,0
3,00 13 2,9 2,9 11,9
4,00 56 12,6 12,6 24,4
5,00 176 39,5 39,5 63,9
6,00 161 36,1 36,1 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 12 2,7 2,7 2,7
1,00 13 2,9 2,9 5,6
2,00 32 7,2 7,2 12,8
304
G_24 - O(a) diretor(a) cumpre sua parte na garantia de condições adequadas de trabalho
para nossa escola.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 6 1,3 1,3 1,3
1,00 12 2,7 2,7 4,0
2,00 37 8,3 8,3 12,3
3,00 12 2,7 2,7 15,0
4,00 86 19,3 19,3 34,3
5,00 188 42,2 42,2 76,5
6,00 105 23,5 23,5 100,0
Total 446 100,0 100,0
G_25 - Os professores sentem que suas opiniões e propostas são consideradas pela
equipe gestora.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 13 2,9 2,9 2,9
1,00 19 4,3 4,3 7,2
2,00 57 12,8 12,8 20,0
3,00 11 2,5 2,5 22,4
4,00 139 31,2 31,2 53,6
5,00 147 33,0 33,0 86,5
6,00 60 13,5 13,5 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 10 2,2 2,2 2,2
1,00 8 1,8 1,8 4,0
2,00 23 5,2 5,2 9,2
3,00 23 5,2 5,2 14,3
4,00 82 18,4 18,4 32,7
5,00 218 48,9 48,9 81,6
6,00 82 18,4 18,4 100,0
Total 446 100,0 100,0
305
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 3 ,7 ,7 ,7
1,00 7 1,6 1,6 2,2
2,00 15 3,4 3,4 5,6
3,00 16 3,6 3,6 9,2
4,00 39 8,7 8,7 17,9
5,00 186 41,7 41,7 59,6
6,00 180 40,4 40,4 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 18 4,0 4,0 4,0
1,00 24 5,4 5,4 9,4
2,00 55 12,3 12,3 21,7
3,00 33 7,4 7,4 29,1
4,00 63 14,1 14,1 43,3
5,00 159 35,7 35,7 78,9
6,00 94 21,1 21,1 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 8 1,8 1,8 1,8
1,00 17 3,8 3,8 5,6
2,00 39 8,7 8,7 14,3
3,00 32 7,2 7,2 21,5
4,00 88 19,7 19,7 41,3
5,00 178 39,9 39,9 81,2
6,00 84 18,8 18,8 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 4 ,9 ,9 ,9
1,00 5 1,1 1,1 2,0
306
G_32 - O(a) diretor(a) age de forma coerente com aquilo que foi combinado
coletivamente.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 19 4,3 4,3 4,3
1,00 21 4,7 4,7 9,0
2,00 42 9,4 9,4 18,4
3,00 13 2,9 2,9 21,3
4,00 85 19,1 19,1 40,4
5,00 165 37,0 37,0 77,4
6,00 101 22,6 22,6 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 7 1,6 1,6 1,6
1,00 13 2,9 2,9 4,5
2,00 42 9,4 9,4 13,9
3,00 10 2,2 2,2 16,1
4,00 104 23,3 23,3 39,5
5,00 168 37,7 37,7 77,1
6,00 102 22,9 22,9 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 23 5,2 5,2 5,2
1,00 34 7,6 7,6 12,8
2,00 64 14,3 14,3 27,1
3,00 22 4,9 4,9 32,1
4,00 56 12,6 12,6 44,6
5,00 156 35,0 35,0 79,6
307
PR_36 - Os professores podem contar com a ajuda uns dos outros na condução do
trabalho cotidiano da escola.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 4 ,9 ,9 ,9
1,00 4 ,9 ,9 1,8
2,00 21 4,7 4,7 6,5
3,00 11 2,5 2,5 9,0
4,00 111 24,9 24,9 33,9
5,00 185 41,5 41,5 75,3
6,00 110 24,7 24,7 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 4 ,9 ,9 ,9
1,00 6 1,3 1,3 2,2
2,00 19 4,3 4,3 6,5
3,00 4 ,9 ,9 7,4
4,00 66 14,8 14,8 22,2
5,00 220 49,3 49,3 71,5
6,00 127 28,5 28,5 100,0
Total 446 100,0 100,0
PR_39 - Os professores dessa escola gostam de se ouvir para aprender uns com os
outros.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 4 ,9 ,9 ,9
1,00 11 2,5 2,5 3,4
2,00 29 6,5 6,5 9,9
3,00 21 4,7 4,7 14,6
4,00 127 28,5 28,5 43,0
5,00 172 38,6 38,6 81,6
6,00 82 18,4 18,4 100,0
Total 446 100,0 100,0
308
PR_40 - Sinto-me à vontade para expor aos meus colegas professores as fragilidades e
dificuldades do meu trabalho.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 4 ,9 ,9 ,9
1,00 8 1,8 1,8 2,7
2,00 44 9,9 9,9 12,6
3,00 19 4,3 4,3 16,8
4,00 88 19,7 19,7 36,5
5,00 195 43,7 43,7 80,3
6,00 88 19,7 19,7 100,0
Total 446 100,0 100,0
PR_41 - Quando um(a) professor(a) tem boas ideias sobre como trabalhar com os
alunos, ele(a) compartilha com os outros professores.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 4 ,9 ,9 ,9
1,00 6 1,3 1,3 2,2
2,00 22 4,9 4,9 7,2
3,00 10 2,2 2,2 9,4
4,00 151 33,9 33,9 43,3
5,00 185 41,5 41,5 84,8
6,00 68 15,2 15,2 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 3 ,7 ,7 ,7
1,00 2 ,4 ,4 1,1
2,00 14 3,1 3,1 4,3
3,00 3 ,7 ,7 4,9
4,00 60 13,5 13,5 18,4
5,00 232 52,0 52,0 70,4
6,00 132 29,6 29,6 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 3 ,7 ,7 ,7
309
PR_45 - Os professores nunca desistem dos alunos, fazendo o máximo para contribuir
com a formação de todos.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 2 ,4 ,4 ,4
1,00 8 1,8 1,8 2,2
2,00 38 8,5 8,5 10,8
3,00 10 2,2 2,2 13,0
4,00 111 24,9 24,9 37,9
5,00 183 41,0 41,0 78,9
6,00 94 21,1 21,1 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 2 ,4 ,4 ,4
1,00 6 1,3 1,3 1,8
2,00 33 7,4 7,4 9,2
3,00 15 3,4 3,4 12,6
4,00 105 23,5 23,5 36,1
5,00 197 44,2 44,2 80,3
6,00 88 19,7 19,7 100,0
Total 446 100,0 100,0
PR_47 - Os professores dificilmente ouvem uns aos outros, pois acham que os outros
professores têm pouco a contribuir. (INVERTIDO)
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 3 ,7 ,7 ,7
1,00 12 2,7 2,7 3,4
2,00 35 7,8 7,8 11,2
3,00 20 4,5 4,5 15,7
4,00 80 17,9 17,9 33,6
310
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 5 1,1 1,1 1,1
1,00 15 3,4 3,4 4,5
2,00 57 12,8 12,8 17,3
3,00 28 6,3 6,3 23,5
4,00 136 30,5 30,5 54,0
5,00 149 33,4 33,4 87,4
6,00 56 12,6 12,6 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 3 ,7 ,7 ,7
1,00 12 2,7 2,7 3,4
2,00 27 6,1 6,1 9,4
3,00 7 1,6 1,6 11,0
4,00 131 29,4 29,4 40,4
5,00 198 44,4 44,4 84,8
6,00 68 15,2 15,2 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 40 9,0 9,0 9,0
1,00 58 13,0 13,0 22,0
2,00 52 11,7 11,7 33,6
3,00 123 27,6 27,6 61,2
4,00 80 17,9 17,9 79,1
5,00 72 16,1 16,1 95,3
6,00 21 4,7 4,7 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 25 5,6 5,6 5,6
1,00 42 9,4 9,4 15,0
2,00 52 11,7 11,7 26,7
3,00 152 34,1 34,1 60,8
4,00 79 17,7 17,7 78,5
5,00 74 16,6 16,6 95,1
6,00 22 4,9 4,9 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 40 9,0 9,0 9,0
1,00 53 11,9 11,9 20,9
2,00 62 13,9 13,9 34,8
3,00 135 30,3 30,3 65,0
4,00 80 17,9 17,9 83,0
5,00 62 13,9 13,9 96,9
6,00 14 3,1 3,1 100,0
Total 446 100,0 100,0
S_54 - A SME cria espaços e oportunidades para ouvir a opinião dos professores sobre
questões que impactam a qualidade da educação.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 91 20,4 20,4 20,4
1,00 102 22,9 22,9 43,3
2,00 85 19,1 19,1 62,3
3,00 70 15,7 15,7 78,0
4,00 69 15,5 15,5 93,5
5,00 26 5,8 5,8 99,3
6,00 3 ,7 ,7 100,0
Total 446 100,0 100,0
S_55 - A voz dos professores é considerada pela SME nos processos de tomada de
decisões.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 130 29,1 29,1 29,1
1,00 112 25,1 25,1 54,3
2,00 71 15,9 15,9 70,2
312
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 91 20,4 20,4 20,4
1,00 108 24,2 24,2 44,6
2,00 80 17,9 17,9 62,6
3,00 52 11,7 11,7 74,2
4,00 86 19,3 19,3 93,5
5,00 24 5,4 5,4 98,9
6,00 5 1,1 1,1 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 29 6,5 6,5 6,5
1,00 57 12,8 12,8 19,3
2,00 63 14,1 14,1 33,4
3,00 26 5,8 5,8 39,2
4,00 151 33,9 33,9 73,1
5,00 100 22,4 22,4 95,5
6,00 20 4,5 4,5 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 77 17,3 17,3 17,3
1,00 92 20,6 20,6 37,9
2,00 91 20,4 20,4 58,3
3,00 24 5,4 5,4 63,7
4,00 108 24,2 24,2 87,9
5,00 49 11,0 11,0 98,9
6,00 5 1,1 1,1 100,0
313
S_59 - A SME oferece boas condições de trabalho para nossa escola, no que se refere à
garantia de quadro completo de docentes, funcionários, e equipe gestora.
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 80 17,9 17,9 17,9
1,00 97 21,7 21,7 39,7
2,00 90 20,2 20,2 59,9
3,00 22 4,9 4,9 64,8
4,00 100 22,4 22,4 87,2
5,00 53 11,9 11,9 99,1
6,00 4 ,9 ,9 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 27 6,1 6,1 6,1
1,00 54 12,1 12,1 18,2
2,00 103 23,1 23,1 41,3
3,00 16 3,6 3,6 44,8
4,00 136 30,5 30,5 75,3
5,00 91 20,4 20,4 95,7
6,00 19 4,3 4,3 100,0
Total 446 100,0 100,0
Cumulative
Frequency Percent Valid Percent Percent
Valid ,00 170 38,1 38,1 38,1
1,00 105 23,5 23,5 61,7
2,00 72 16,1 16,1 77,8
3,00 29 6,5 6,5 84,3
4,00 58 13,0 13,0 97,3
5,00 10 2,2 2,2 99,6
6,00 2 ,4 ,4 100,0
Total 446 100,0 100,0