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M a r c o s B a g n o

NADA NA
LÍNGUA E
POR ACASO
por uma pedagogia
da variação linguística
EDITOR: Marcos Marcionilo

CAPA E PROJETO GRAFICO: Andréia Custódio

ILUSTRAÇÕES: Renata Junqueira/ Bamboo Studios


[www.bamboostudio.com.br]

CONSELHO EDITORIAL

Ana Stalil Zilles [Unisinos]

Carlos Alberto Faraco [UFPR]

Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]

Gilvan MOIIer de Oliveira [UFSC, ipol]

Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]

Kanaviilil Rajagopalan [Unicamp]

Marcos Bagno [UnB]

Maria Marta Pereira Scherre [UFES]

Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP]

Salma Tannus Muchail [PUC-SP]

Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI

B134n
Bagno,Marcos,1961-
Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguistica / Marcos Bagno.
- São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
(Educação linguística;!)

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-88456-62-4

1. Língua portuguesa - Estudo e ensino. 2. Língua portuguesa - Variação - Estudo e


ensino. I. Título. ll.Série.

07-0261 CDD 469.798


CDU811.134.3'242

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ISBN: 978-85-88456-62-4

1 ' edição - 3 ' reimpressão: agosto de 2 0 1 0

© d o texto: Marcos Bagno, 2007


© d a e d i ç ã o : P a r á b o l a E d i t o r i a l , São P a u l o , f e v e r e i r o d e 2 0 0 7
Mas o que é mesmo
variação linguística?

A ilusão da língua homogénea


s pessoas que v i v e m em sociedades com uma longa tradição
escrita, com uma iiistória literária de muitos séculos e um sis-
tema educacional organizado se acostumaram a ter uma ideia
^de língua muito influenciada por todas essas instituições. Para elas,
3Ô merece o nome de língua um conjunto muito particular de
pronunciasse palavras e de regras gramaticais que foram cuidadosamente
selecíonadas para compor o que vamos chamar
nesse livro aqui de nOrma-padrãO, isto é, o m o - A gente v a i estudar mais demorada-

delo de língua "certa", de^emfalar" que,.nes- "^'^"'^"°'^^PÍ^"^^^°processohis-


^ ,—: 7 . , • , ' tórico de constituição da n o r m a -
sas socied^des^corisjrtumma._ejpexje_de.tes ^^^^^^ português.
roTiãciõnal, de patriniônpçjjJWra^^
como as florestas, os rios, a flora, a fauna e os monumentos arquitetônicos,
precisaria ser preservado da ruína e da extinção....
Ora, a escrita, a literatura e a escola são instituições eminentemente sociais,
são invenções culturais, criações artificiais e muito recentes na história da
humanidade — as formas mais antigas de escrita têm menos de 6.000 anos,
ou seja, durante 99% da história da nossa espécie ninguém escreveu nem
leu nada, e até hoje uma grande parcela dos seres humanos permanece
assim, excluída da escrita e da leitura!

Portanto, o que se convencionou chamar de "língua" nas sociedades letradas é,


nçi verdade, um produto social, artificial, que não corresponde àquilo que a língua
reairriehte eriviãs será qué a gèhfé podé'rTÍesrno pensar nesse^íriod-elDTfetín

Mas o que é m e s m o variação linguística? •.' á 5 "


:omo um produto, semelhante ao iogurte, ao vinho, à borracha, ao papel, ao
azeite e a tantas outras invenções humanas? Pode, mas com uma diferença:
essa "língua" é unn^produtodejjiTLtJpoMere^^
rado aoTõngõ de muito tempo, pelo esforço.de muita gente — por isso_fílajé uma
grande abstração ou, como se dizJiojemjJiã^lM^afA™

Bem, então, se o que nós chamamos de "língua" é sójjma-apaiiêQCiajjma


iIuaãp nascida dpsjiQSSQsJaáJsils^xuItuMs. e^^
como é a língua, de fato?

A realidade heterogénea das línguas


Ao contrário da norma-padrão, que é tradicionalmente concebida como um
-^wproduto tiomogêneo, como um jogo de armar em que todas as peças se
o encaixam perfeitamente umas nas outras, sem faltar nenhuma, a língua, na
i^|\3^ concepção dos sociolinguistas, é^Jntmsecamente_heterogénea, ^^^^^^^^
variável, Instável e está sempre em desconstrução e em reconstrução. Ao
contrário de um produto pronto e acabado, de um monumento históricofeito
de pedra e cimento, a língua é um processo, um fazer-se permanente e nun-
ca concluído. Alín^guaó uma atividade social, um trabaiíiocoletivo, erripre-
endido por todos os seus falantes, cada vez que eles se põem a]nteragir por
meio da fala ou da escrita. ,

Justamente pelo caráter tieterogêneo, instável e mutante das línguas huma-


nas, a grande maioria das pessoas acha muito mais confortável e tranquilizador
pensar na língua como algo que já terminou de se construir, pomo uma ponte
firme e sólida, poLpnde_a gente pode caminhar sem medo de cair e de..^e
afogar na correnteza vertiginosa que corre lá embaixo. Mas essa ponte não é
feita de concreto, é feita de abstrato... O real estado da língua é o das águas
de um rio, que nunca param de correr e de se agitar, que sobem e descem
conforme o regime das chuvas, sujeitas a se precipitar por cachoeiras, a se
estreitar entre as montanhas e a se alargar pelas planícies... -

Também ao contrário do que muita gente acredita, a língua não está regis-
trada por inteiro nos dicionários, nem suas regras de funcionamento^ãoexa-
tamentejnem somente) aquelas que aparecerríTiõOvrps chamadosgra/Tiá-
íícas. É mais uma ilusão social acreditar que é possível encerrar num único
livro a verdade definitiva e eterna sobre uma língua.

36 Nada na língua é por acaso; por uma pedagogia da variação linguística


Com tudo isso, a gente está querendo dizer que, na contramão das crenças
mais difundidas, aj/snãçâo_e^^Mudança p é que são o "estado
naturar' das línguas^o^seupto próprio de ser Se a língua é falada por seres
humanos que vivem em sociedades, se esses seres humanos e essas socie-
dades são sempre, em qualquer lugar e em qualquer época, heterogéneos,
diversificados,instáveis, sujeitos a conflitos e a transformações, o estranho^o
paradoxal, o impensável, seria iustaniente_,_que as_ línguas^pamanecessem
estáveis e homogéneas!—

Por isso, não tem sentido falar da variação linguística como um "problema".
Vira e mexe recebo mensagens de pessoas que perguntam como tratar em
sala de aula o "problema da variação". Podemos começar respondendo que
o problema está em achar que aj/ariaçãgJinguJsticajáum "problerim" que
pode ser "solucionado", O verdadeiro problema é considerar que existe uma
língua'perfeTtã,j:orreta, bem-acabada e fixada em bases sólidas, e que todas
as irujmer^ásTnanifestações orais e escritasque se distanciem dessa língua
ideal são como ervas daninhas que precisam ser arrancadas do Jardim para
que as flores continuem lindas e colohdasl
Ao contrário do que d e c l a r a m algu
Assim, não são as variedades linguísticas q u e mas pessoas desavisadas, os linguis
constituem "desvios" ou "distorções" de uma tas não c o n s i d e r a m o processo de
língua homogénea e estável. Ao contrário: a constituição de u m a norma-padrão
c o m o u m a coisa i n t r i n s e c a m e n t e
construção de uma norma-padrão, de um
negativa. Eles sabem que a v i d a
modelo idealizado de língua, é que represen- social é regulada p o r n o r m a s , entre
ta um controle d õ s l D r o c e s s o s inerentes de as quais estão as normas de compor-

variação e m u d a n ç a , um refreamento a r t i f i - t a m e n t o linguístico. Os linguistas


simplesmente c h a m a m a a t e n ç ã o
cial d a s forças que levam a língua a variar e para o fato da n o r m a l i z a ç ã o da lín-
a mudar — exatamente como a construçãp gua não ser u m processo " n a t u r a l " ,
de u m a barragem, de u m a represa, impede mas s i m o resultado de ações h u m a -
nas conscientes, dita,das por necessi-
que as águas de um rio prossigam no cami-
dades políticas e c u l t u r a i s , e nas
nho q u e vinham seguindo naturalmente nos quais i m p e r a frequentemente u m a
últimos milhões de anos. ideologia obscurantista, dogmática
e autoritária. Alguns linguistas (mas
Vamos pensar no caso do Brasil. Sem dúvida, a n e m todos!) a c r e d i t a m que u m a
norma-padrão p o d e r i a até ser u m
nossa sociedade é, sob os mais diversos pontos elemento c u l t u r a l desejável, desde
de vista, uma das mais heterogéneas do mun- que constituída c o m o auxílio da
do. Em qualquer rua movimentada de uma cida- pesquisa científica e c o m base e m
projetos sociais democráticos e não-
de brasileira passam — a pé, de carro, de ôni-
e.Kcludentes.
bus, de bicicleta, de motocicleta, de cadeira

Mas o que é m e s m o variação linguística?


de rodas, às vezes até a cavalo... — pessoas de ambos os sexos, das
mais diferentes faixas etárias, de múltiplas origens étnicas, de todas as
classes sociais, de todos os graus de escolaridade, das mais diferentes
profissões, das mais diferentes religiões, de diversas orientações sexuais,
de diferentes opiniões políticas, vestidas de todos os modos possíveis etc.
Como seria possível imaginar que toda essa gente, tão diversificada em
tudo o mais, tivesse que falar a sua língua sempre da mesma maneira?

Heterogeneidade linguística e social


o objetivo centrai da Sociolinguística, como disciplina científica, é precisamen-
te relacionar a heterogeneidade linguística com a heterogeneidade social. Lín-
gua e sociedade estão indissoluvelmente entrelaçadas, entremeadas, uma in-
fluencíancío a outra, uma constituindo a outra. Para o sociolinguista, é impossí-
veLestudar a língua sem estudar, ao mesmo tempo, a sociedade em que essa
língua é falada, assim como também outros estudiosos — sociólogos, antro-
pólogos, psicólogos sociais etc. — já se convenceram que não dá para.£s.tudjar
a sociedade sem levar em conta as
relações que os indivíduos e os gru-
M
pos estabelecem entre si por meio
da linguagem.

Assim, o que temos


nas sociedades com-
plexas e letradas é
uma realidade linguís-
tica composta de dois
grandes poios: (l)ava-
'rV^r- rjação4inguísticaJstg
é, a Jíngua^_SÊiLes-
tado permanente de
transformação, de.fiui-
dez, de instabilidade e
y (2) a norma-padrão, produ-
lo,cultural, modelo artificial
de língua criado justamente
para tentar "neutralizar" os efei-

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


toa.da variação, para servir de padrão para os comportamentos linguísticos
considerados adequados, corretos e convenjentes.

NORMA-
PADRÃO

Entre ejsesdoispolos^existeumajjande zona intermediária, em que a nor-


nia-padrãoinfíuefrc4a-avaflaçãQJing^Jlstica e a variação linguística influencia
a..norma-padrão. Por isso, mesnm-íeGefíhece-F^de-qufi-Xnorm^
prQduto cultural, uma "língua" artificial, por assim ^izer,_a gente não pode
deixar de reconhecérpue eia existe • • ainda que somente no nível do discur-
so, da ideologia —, faz parte da vida social, e tem que ser levada em conta
sempre em toda investigação sobre íua e sociedade.

O conceito de variação linguística é a espinha dorsal da Sociolinguística. Para


ajudar a gente a compreender esse fenómeno complexo e fascinante, os
sociolinguistas formularam alguns conceitos e definições, todos derivados do
verbo variar. É importante ter clareza dessa terminologia para evitar empregá-
la deforffíFequivocada como, infelizmente, acontece com muita frequência.

Variação
o primeiro desses conceitos, como já vimos, é o de variação. Dizer que a
língua apresenta vahação significa dizer, mais uma vez^que ela é lieterogê-
naa,Agrando mudançainlrod.uzLda_pela_SQçiplinguísticafoIa^^^
língua como um "substantivo coletivo": debaixo
do guarda-chuva chamado L Í N G U A , no singular, "Quase me apetece dizer que não há
uma língua portuguesa, há línguas
se abrigam diversos conjuntos de realizações
em português. "•
possíveis dos recursos expressjyos que estão à ( J O S E S A R A M A G O , escritor português, em

disposição dos falantes. depoimento registrado no filme Língua:


vidas em português, dirigido por Victor
Lopes e exibido no Brasil em 20Q4).
A variação ocorre em todos os níveis da língua:

variação fonético-fonológica ^ pense em quantas pronúncias você


contiece parao-R-da palavra P O R T A no português brasileiro;

Mas o que é m e s m o variação linguística?


W variação morfológica ^ as formas P E G A J O S O e P E G U E N T O exibem sufixos
diferentea^para expressar a mesma ideia; ~~ '
^ variação sintática nas frases U M A H I S T Ó R I A Q U E N I N G U É M P R E V Ê o F I N A L /
U M A HISTÓRIA Q U E N I N G U É M PREVÊ o F I N A L D E L A / U M A HISTÓRIA CUJO FINAL N I N -

sentido geral é o mesmo, mas os elementos estão organiza-


G U É M PREVÊ, O

dos de maneiras diferentes;


^ variação semântica ^ a palavra V E X A M E pode significar "vergonha" ou
"pressa", dependendo da origem regional do falante; "
^ variação lexi^cal ^ as palavras M I J O , ^ I ¥ U R Í N A se referem todas àmes-
.nia coisa;^^
^ variação estilístico-pragmática ^ os enunciados Q U E I R A M S E S E N T A R ,
POR FAVOR e V A M O S E N T A N O Aí, G A L E R A correspondcm a situações diferentes

de interação social, marcadas pelo grau maior ou menor de formalidade do


ambiente e de intimidade entre os interlocutores, e podem inclusive ser
pronunciados pelo mesmo indivíduo em situações de interação diferentes.

Heterogeneidade, sim, mas ordenada


Um dos postulados básicos da Sociolinguística é o de que a variação não é
aleatória, fortuita, caótica — muito pelo contrário, ela é estruturada, organi-
zada, condicionada por diferentes fatores. Daí o título do nosso livro ser: Nada
na língua é por acaso. A sociolinguística trabalha com o conceito de
heterogeneidade ordenada vamos ver o que é isso.

Pronuncie com cuidado as duas palavras abaixo:

RASPA RASGA

Observe que na primeira palavra aparece um som [s], enquanto na segunda


aparece um som [z], embora as duas se escrevam com a mesma letra s. Por
quê? Muito simples: o s de R A S P A vem antes de um /p/, que é uma consoante
surda, isto é, produzida sem a participação das pregas (ou cordas);vocalSr e
por isso o s se pronuncia como [s], que também é um som su'rdQ,_„

Já no caso de R A S G A , O S está diante de uma consoante sonora, o /g/iprod_u-.


zida com a participação das pregas vocais), e por isso ele se realiza como um
[z], que também é uma consoante sonora. É o contexto fonético, ou seja, a
influência de uma consoante sobre a outra, que vai explicar, neste caso, a

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


variação [s] ~ [z]. A sonoridade (ouj/ozeamento) de um fonema vai^rovocar
^õriõ^rízajçMWõí3^[Õ:ã Cou não vozeamento) de um fonema
yai provocar a não sonoridade do outro.

Aqui estamos diante de um fenómeno de variação que está condiciona-


do apenas linguisticamente — todo e qualquer falante de português, in-
dependentemente de sua origem social ou regional, sexo, grau de esco-
laridade etc, vai apresentar, na sua fala, essa alternância [s] ~ [z] em
pares como R A S P A / R A S G A , E S C A M A / E S G A N A , F I S C O / F I S G O , D E S T I N O / D E S M A I O etc.
É um fenómeno tão impregnado na língua que ninguém se dá conta dele,
ele não chama a atenção, não desperta nenhum tipo de reaçãojnegatjya
og positiva da parte dos falantes, que nerri'sequertêm consciência de
que ele acontece.

A coisa já muda de figura quando, com o mesmo par de palavras RASPA/

R A S G A , acontece a seguinte variação:

RASPA- • RASGA

[3]

N. B.: o símbolo [j] representa o som do x em xixi, e o [3] representa o som do J em JÁ.

Quando um falante que pronuncia RA[s]pAouve^uma pessoa pronunciar RA[Í]PA,

com o "s chiado", essa variação de pronúncia logo chama a atenção, provo-
ca alguma reação da parte do primeiro falante,
que tem consciência da diferença — é muito Aliás, se você é falante do "s chia-
do", percebeu a alternância [ | ] ~ [ 3 ]
provável que procure identificar seu interlocutor logo no p r i m e i r o caso. Se c o m e ç a -
como proveniente de um estado ou de uma re- mos pelo o u t r o p a r é p o r q u e eu

gião diferente da sua. . m e s m o , a u t o r do l i v r o , não sou fa-


lante do "s c h i a d o " . . .

Aqui estamos diante de um tipo de variação que


não é condicionada apenas linguisticamente, mas também extralinguistica-
mente, isto é, condicionada por algum fator de ordem social — neste caso, a
^rigem geográfica do falante. No português brasileiro, diversas áreas geográ-
ficas apresentam o "s chiado", como o Rio de Janeiro, o Pará, .o Nordeste em
geral, zonas do Mato Grosso, algumas comunidades da ilha de Santa Catarina
(onde fica Florianópolis), entre outras.

Mas o que é m e s m o variação linguística?


Outro exemplo da heterogeneidade ordenada, des-
ta vez no plano morfossintático, está nos casos
variáveis de concordância nominal. Observe as
três frases abaixo:

(a) aquelas casinha amarelinha


(b) *aquela casinhas amarelinha
(c) "aquela casinha amarelinhas

Somente a frase (a) ocorre no português bra-


sileiro, enquanto (b) e (c) não ocorrem (por isso,
estão assinaladas com um asterisco, símbolo
usado pelos linguistas para identificar uma
construção improvável ou impossível). Atra-
se (a) é usada por praticamente todos os bra-
sileiros, inclusive os altamente escolarizados
em situações de fala espontâneas, distensas. Daí
se deduz claramente que existe uma regra-^or
trás,_dessa construção, uma regra que diz: <m^ar-
que o plural SQment£.nQ pjimeirp elemento do sintagma>, regra que é per-
feitamente obedecida por todos os que se servem dela.

Atenção! A palavra R E G R A está sendo usada aqui com um sentido muito


diferente daquele que aparece nas gramáticas normativas. Ali, regra é,
uma espécie de "lei" que dita e impõe o que é "certo" e condena o que é
"errado". Na perspectiva científica, regra é tudo aquilo que revela uma
regularidade (as palavras regra e regular têm a mesma origem). Quando
conseguimos detectar e descrever alguma coisa que acontece na língua
com regularidade, com previsibilidade, segundo uma lógica linguística coe-
rente, fazemos essa descrição na forma de uma regra (como a que enun-
ciei acima: <marque o plural somente no primeiro elemento do sintagma>).
Quando, no discurso do senso comum, se diz que determinado uso vai
"contra as regras da língua" ou "desobedece as regras do português", o
que se está querendo dizer é que tal uso desrespeita as regras exclusivas
e excludentes, padronizadas e escolhidas artificialmente como as "cer-
tas" pela tradição normativa. Usos como A Q U E L A S C A S I N H A A M A R E L I N H A O U
V O C Ê S A B E Q U E E U T E A M O O U 0 T I M E Q U E E U T O R Ç O otc. são perfeitamente

regrados, e a prova maior disso é justamente a regularidade com que eles


ocorrem na língua! Com isso, fica claro que é simplesmente impossível

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


desrespeitar as regras da língua, simplesmente porque é impossível fa-
lar sem obedecer regras linguísticas!

A heterogeneidade ordenada tem a ver, então, com essa característica fas-


cinante da língua: o fato dela ser altamente estruturada, de ser um sistema
organizado e, sobretudo, um sistema que possibilita a expressão de um mes-
mio conteúdo informacional através de regras diferentes, todas igualmente
lógicas e com coerência funcional. E mais fascinante ainda: um sistema
que nunca está pronto, que o tempo todo se renova, se recompõe, se'
reestrutura, sem todavia nunca deixar de proporcionar aos falantes tod_os_
os elementos necessários para sua plena interação social e cultural. É la-
mentável que u[Tia coisa tão maravilhosa,^çomplexa e apaixonante tenha
sido reduzida, na tradição escolar, a uma divisão estúpJda^âiitreJlcect-oi-©-
"errado", ainda mais estúpida porque se baseia em ,P,reconceitos sociaise_
culturais que já devíamos ter abandonado há multpjernpa_..

Fatores extralinguísticos
Para fazer um trabalho de investigação minucioso sobre a variação linguísti-
ca, os sociolinguistas selecionam um conjunto de fatores sociais que podem
auxiliar na identificação dos fenómenos de variação linguística. Que fatores
sociais são esses? Dentre os muitos possíveis, os que têm se revelado mais
interessantes para a pesquisa são os seguintes:

1^ ORIGEM GEOGRÁFICA: a língua varia de um lugar para o outro; assim,


podemos investigar, por exemplo, a fala característica das diferentes re-
giões brasileiras, dos diferentes estados, de diferentes áreas geográficas
dentro de um mesmo estado etc; outro fator importante também é'a
ohgem rural ou urbana da pessoa;
STATUS SOCIOECONÓMICO: as pessoas que têm um nível de renda
muito baixo não falam do mesmo modo das que têm^u nível de renda
médio ou muito alto, e vice-versa;
1^ GRAU DE ESCOLARIZAÇÃO: o acesso maior ou menor à educação for-
mal e, com ele, à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita,
é um fator muito importante na configuração dos usos linguísticos dos
diferentes indivíduos;
1^ IDADE: os adolescentes não falam do mesmomodo como seus pais^nem
estes pais falam do mesmo modo como as pessoas das gerações anteriores;

Mas o que é m e s m o variação linguística?


1^ SEXO: homens ejTTuIjw
língua oferecer.
1^ MERCADO DE TRABALHO: O vínculo dapessoa com determínaclas pro-
fissões e ofícios incide na sua atividade linguística: uma advogada não
usa os mesmos recursos linguísticos de um encanador, nem este os mes-
mos de um cortador de cana;
1^ REDES SOCIAIS: cada pessoa adota comportamentos semelhantes aos
das pessoas com quem convive em sua rede social; entraessescompor-
tamentos está também o comportamento linguístico.

As pesquisas linguísticas empreendidas no Brasil têm mostrado que o fator


social de maior impacto sobre a variação linguística é o grau de escolarização
quêemjossp país^está muito ligado ao status socioeconómico: a escola
de qualidade e a possibilidade de permanência mais prolongada no sistema
educacional são bens sociais limitados às pessoas de renda económica mais
elevada. Estudos sociológicos apontam que ex[ste uma relação muito^streita
entr^jscolaridadee ascensão social: ds melhores empregos e os postos de
com.andoxl^sodedade^estão_xeservados-p^^^
niajs„escQlarizados^

Com esse conjunto de fatores podemos estudar a língua falada por grupos
sociais específicos: como^falam os jovens do sexo masculino, entre 18 e 25
anos, com escolaridade inferior a 4 anos, quevivem na periferia da ckJade de
São Paulo? Como falam as mulheres agricultoras do sertão da Para[b^_com
mais de 6(lanos^analfabetas? Como falam õs homens com mais de 40 anos,
com curso superior completo, com renda superior a dez salários mínimos,
moradores da zona sul do Rio de Janeiro? Selecionando fatores sociais e
fenómenos linguísticos relevantes para o estudo, a pesquisa sociolinguística
permite que a gente faça um retrato bastante fiel de como é a realidade dos
usos da língua no Brasil.

Variação estilística
Mas a variação linguística não ocorre somente no modo de falar das diferen-
tes comunidades, dos grupos sociais, quando a gente compara uns com os
outros Ela também se mostra no comportamento linguístico de cada indiví-
duo, de cada falante da língua. Nós variamos o nosso modo de falar, individual-

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguistica


mente, de maneira mais consciente gumen,osj:cmscieDte,-can^forim-a^
ção de interação em que nos encontramos.

Essa situação pode ser de maior ou menor formalidade, de maior ou menor


tensão psicológica, de maior ou menor pressão da parte do(s) interlocutor(es)
e do ambiente, de maior ou menor insegurança ou autoconfiança, de maior
ou menor intimidade com a tarefa comunicativa que temos a desempenhar
etc. Cada um desses tipos de situação vai exigir do falante um controle, uma
atenção e um planejamento maior ou menor do seu comportamento em
geral, das suas atitudes e, evidentemente, do seu comportamento verbal.
Tudo isso pode ser sintetizado no conceito de monitoramento estilístico.
O monitoramento estilístico é uma escala contínua, que vai do grau mínimo
ao grau máximo, a deeeQdeiiie_tQd.os os fataresque acabamos de elencai:

3
o
CD
E 3
CD
b CD X
3'
3 o
4—'
'd
o CD
E

O monitoramento opera não só na língua fala- E m p r e g a m o s na Sociolinguística os


da, mas também na língua escrita. Não escre- termos estilo o u registro p a r a desig-
vemos um bilhete para o namo- nar a variação presente na fala de
u m indivíduo segundo a situa-
rado da mesma maneira como
ç ã o em que ele se encon-
escrevemos uma carta de apre- t r a . Para classificar os es-
sentação a uma empresa onde. tilos o u registros, é mais

estamos tentando obter uma adequado usar as grada-


ções de m o n i t o r a m e n t o
vaga para trabalhar (mais monitorado, menos
m o n i t o r a d o etc.) do que
Os sociolinguistas certos termos vagos e i m -
enfatizam sempre precisos c o m o "estilo co-
loquial", "registro culto",
que não existe fa.-
"estilo c u i d a d o " etc.
lante de estiloúnicoitodoaqijal-
qjjer indivíduo varia a sua maneira de
falar, monitora ffráÍs~ou iTienos'õ^seu
comportamento verbal, independente^
mente de seu grau de instrução, classe

Mas o que é m e s m o variação linguística?


social, faixa etária etc. Trata-se de um comportamento que é adquirido muito
rapidamente no convívio social, como é fácil verificar observando a variação dos
modos de falar das crianças quando se dirigem a outras crianças da mesma
idade, a crianças maiores, a adultos familiares, a adultos desconhecidos etc. _0
monitoramento da fala, sobretudo quando se trata de exibir respeito e conside-
ração pelos outros, faz parte do aprendizado das normas sociais que prevale-
cem em cada cultura, normas que.são apreendidas por observação e imitação,
mas também ensinadas explicitamente às crianças pelos pais e outros adultos.

No caso do monitoramento da escrita, ele vai depender, é claro, do grau de


letramento do indivíduo, isto é, o grau de sua inserção na cultura^dajeitura-e
da escrita. Uma pessoa que foialfabetizada, mas não ultrapassou os phiTieiros
anos da escoía formal nem criou o hábito de ler e de escrever com frequência,
certamente não vai dispor dos mesmos recursos de monitoramento estilístico
de alguém que cursou a universidade, tem bom desempenho no domínio da
escrita,"conhece as convenções dos diferentes géneros textuais,, maneiajjm
vocabulário mais amplo e diversificado .etc O grau de letramento elevado tam-
bém favorece, é claro, a produção de textos falados mais monitorados, em que
a pessoa tenta reproduzir na oralidade mais formal traços característicos dos
géneros textuais escritos mais monitorados

Classificação da variação sociolinguística


A variação sociolinguística costuma vir acompanhada,, nos textos
especializados, de alguns adjetivos que vale a pena conhecer: ,

1» variação diatópica é aquela que se verificama comparação enir£.£is


modos de falar de lugares diferentes, como as grandes regiões, os es-
tados, as zonas rural e urbana, as áreas socialmente demarcadas nas
grandes cidades etc O adjetivo D I A T Ó P I C O provém do grego D I Á - , que signi-
fica "através de", e de T Ó P O S , "lugar".
1^ variação diastrática é a que se verifica na comparação entre os
modos de falar das diferentes classes sociais, o adjetivo provém dé DIÁ-
e do latim S T R A T U M , "camada, estrato".
1^ variação diamésica ^ é a que se verifica na comparação entre a.lín-
gua falada e a língua.escrita. Nâanájise dessa variação é fundamental
o conceito de género textual, o adjetivo provém de DIÁ- e do grego
MÉsos, "meio", no sentido de "meio de comunicação".

Nada na língua é pctr acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


1> variação diafásica ^ é a variação estilística que vimos mais acim.ajsto
é, o uso diferenciado que cada indivíduo faz da língua de acordo.com o
grau de monitoramento que ele confere ao seu comportamento verbal.
O adjetivo provém d^^ grego P H Á S I S , "expressão, modo de falar".
^ variação diacrônica ^ é a que se verifica najojmpajaçãp entre
tes etapas da história de uma língua. As línguas^_i^^^^^
(vamos ver isso mais„_de perto no capítulo 8) eo^estudo,. das diferentes
etapas da mudança é de grande interesse para os linguistas O adjetivo
provém de D I Á - e do grego K H R Ó N O S , "tempo".

Variedade
Outro conceito muito importante na Sociolinguística é o de variedade linguísti-
ca. Uma variedade linguística áum^dos. muitos "modos de falar" uma língua.
Como já vimos, esses diferentes, modos de falar se correlacionam com fatores
sqciais como lugar de^origem, idader-sexo^classe-sociatgrau de instrução_etc..

Podemos delimitar e descrever quantas variedades linguísticas quisermos,


de acordo com os fatores sociais que incluirmos na nossa investigação, como
nos exempios que dei mais acima: o modo de falar dos jovens do sexo mas-
culino, entre 18 e 25 anos, com escolaridade inferior a 4 anos, que vivem na
periferia da cidade de São Paulo é uma variedade linguística. O uso que fa-
zem da língua as mulheres agricultoras do seítão da Paraíba com mais de 60
anos, analfabetas, é outra variedade. Os traços linguísticos característicos
dos homens com mais de 40 anos, com curso superior completo, com renda
supenor a dez saláhos mínimos, moradores da zona sul do Rio de Janeiro
também constitui uma variedade específica — e assim por diante...

Partindo da noção de heterogeneidade, a Sociolinguística afirma que toda


língua é um feixe de variedades. Cada variedade linguística tem suas_ca-
r?ctèfísticas próprias, que servem para diferenciá-la das outras variedades.
Por exemplo, nem todas as variedades linguísticas do português brasileiro
apresentam o "s chiado" em final de sílaba (FEÍJJTA) O U final de palavra ( F E [ Í ] T A [ Í ] ) ;
algumas variedades usam TU como pronome de 2^ pessoa, enquanto outras
usam V O C Ê ; a maioha das variedades que apresentam o T U eliminaram a ter-
minação -s na conjugação verbal (TU F A L A , T U C O M E ) , enquanto outras (poucas)
conservam o -s (TU F A L A S , T U C O M E S ) , e por aí vai...

Mas o que é m e s m o variação linguística?


Outro postulado fundamental da Sociolinguística é esse aqui: toda e_qiLal-
quer variedade linguística é plenamente funcional, oferece todos os
recursos necessários para_ que seus falantes [nterajarnsocialrne^^^^
meio eficiente de manutenção da coesão social da comunidade em que^é
empregada. A ideia de que existem variedades linguísticas mais "feias" ou
mais "bonitas", mais "certas" ou mais "erradas", mais "ricas" e mais "po-
bres" é fruto de avaliações e julgamentos exclusivamente socioculturais e
decorrem das relações de poder e de discriminação que existem em toda
sociedade — vamos tratar disso melhor no capítulo 3. Para o estudioso da
linguagem, todas as variedades linguísticas se equivalem, todas têm sua
lógica de funcionamento, todas obedecem regras gramaticais que podem
ser descritas e explicadas

Classificando as variedades linguísticas


Assim como a variação linguística é classificada em tipos, também as varie-
dades linguísticas costumam ser designadas por nomes particulares:

o estudo dos dialetos fez surgir, n o


m d j a l e t o ^ é um termo usado há muitos
século X I X , u m a d i s c i p l i n a chama- séculos, desde a Grécia antiga, para d_e-
da Dialetologia, considerada a pi"e- signar qmpdp^ característico de usp,ila
cursora da Sociolinguística moder-
língua nurj] determinado lugar, região,
na. A diferença entre as duas disci-
plinas é que a Dialetologia se inte- província ôtc. Muitos linguistas empre^
ressava sobretudo e m descrever os gam o termo dialeto para designar o-q^ie
falares rurais, isolados, considerados
a Sociolinguística prefere chamar de va-
na época c o m o mais "puros" e "au-
tênticos", n ã o i n f l u e n c i a d o s pelas
riedade,
modas e corrupções da vida u r b a n a © socioleto ^ designa a variedade linguisti-
moderna. A Sociolinguística abando- ca própria de um grupo de falantes que çpjn-
n o u essa visão romântica e passou a
se interessar t a m b é m pelos modos
partilham as mesmas caracteiístinas
de falar das aglomerações urbanas, spciocu lturais..(classe socioeconômica^ní-
socialmente complexas, do m u n d o vpl c u l t u r a l ; ^ ^
contemporâneo.
m cronoletOj» designa_a vaiíedade própria
deigiíãminada faix^^^^
ção de falantes...,
^ idíoleto designa pjBQdade falâr-característico de um indivíduo, suas
preieiêDcias vocabulares^ seu modo próprjo de pronunciáFãsi^iãyras^e
construir as sentençâS_fitíL_

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


Em todas essas palavras está presente o elemento - L E T O (também escrito às
vezes - L E C T O ) , derivado do grego LÉKSIS, "palayra^açãgde falar", de onde tam-
bém provém a palavra L É X I C O .

Essa terminologia, no entanto, não é muito empregada nos trabalhos


sociolinguísticos, onde a gente encontra mais frequentemente as expressões
variedade regional, variedade social, variedade generacional (ou de geração) etc.

Nem tudo na língua varia


Ao falar da variação, dissemos que ela pode se verificar em todos os níveis da
língua: fonético-fonoiógico, morfológico, sintático, semântico, lexical, estilístico-
pragmática A essa altura, pode surgir uma dúvida: tudo o que existe numa
língua pode estar em variação? A resposta é não.

Muita coisa da língua não apresenta varia-


ção. Por exemplo: C o m o j á v i m o s , o asterisco (*)
é usado n a linguística p a r a i n -
W a pronúncia da consoante /f/ não apre- dicar u m a f o r m a que não per-
senta (pelo menos que se saiba até tence à g r a m á t i c a da língua e,
p o r t a n t o , não é aceita pelos fa-
agora) diferenças nas múltiplas varie- lantes.
dades regionais, sociais etc do portu-
guês brasileiro. O mesmo já não vale
para a consoante /s/ que, como vimos, '
pode ser pronunciada como um som sibilan-
te surdo [s] ou sonoro [z], ou como um som
chiante surdo [J] ou sonoro [3], dependen-
do de contextos fonéticos e das va-
riedades regionais;

o artigo definido vem sempre co-


locado antes do nome ( A C A S A )
e nunca depois dele ( * C A S A A ) .
Os pronomes oblíquos não ad-
mitem outros elementos entre
eles e o verbo: A N A M E SUSTENTOU D U -
R A N T E M U I T O T E M P O , mas nunca * A N A

M E DURANTE MUITO T E M P O SUSTENTOU;

Mas o que é m e s m o variação linguística?


1^ os verbos regulares têm sempre uma terminação -o na 1^ pessoa do singu-
lar do presente do indicativo ( E U A M O , EU B E B O , EU PARTO), e nunca um - A , um - E
ou um - M O S ( * E U A M A , * E U B E B E , * E U PARTIMOS), O mesmo não acontece com a
V pessoa do plural, que apresenta, segundo as variedades, uma terminação
- M O S OU - M O para todas as conjugações, ou uma terminação - A para a 1^
conjugação e - E para a 2^ e a 3^ conjugações ( N Ó S A M A M O S / N Ó S A M A M O / N Ó S
A M A , NÓS B E B E M O S / N Ó S B E B E M O / N Ó S BEBE, NÓS P A R T I M O S / N Ó S P A R T I M O / N Ó S PARTE);

M o verbo G O S T A R é sempre seguido da preposição D E , em qualquer varieda-


de linguística, de modo que ninguém no Brasil vai dizer * E U N Ã O G O S T O JILÓ.
O mesmo não acontece com o verbo R E S P O N D E R , que pode ser transitivo
direto ( R E S P O N D A o Q U E S T I O N Á R I O ) O U indireto ( R E S P O N D A A O Q U E S T I O N Á R I O ) .

Os exemplos poderiam enclier centenas de páginas. O importante é ressaltar


que as regras da língua que não apresentam variação são chamadas de re-
gras categóricas, pertencem ao repertório linguístico deTodõs os falantes,
de to^das^às regiões, classes sociais, graus de instrução etc^Já as regras qiie
apresentam variação, como as que vimos nos exemplos acima, são chama-
das de regras variáveis ou simplesmente variáveis.

Variável & variante


Uma variável sociolinguística, portanto, é algum elerri^ento da língu^
ma regra, que se realiza de maneiras difefentes, conform£_ajvajá£dadeJn-
gyísíica-analisada. Cada uma das realizações_pQssív£Lade LimavanáveLé
charTiada_de_yariante. A definição mais simples de variante é a de "cada
uraa.dasjoirnjs diferentes de se dizer a mesma.coisa". Por exemplo,

1 ^ a variável (r), no português brasileiro, em final de palavra (como em C A N -


T A R , F A Z E R , A M O R ) , pode apresentar as seguintes variantes:. (1) [r] - vibrante

simples; (2) [R] - vibrante múltipla; (3) [j] - retroflexa ("R caipira"); (4) [ h ] -
aspirada; ( 5 ) [ 0 ] - zero ("canta", "amô"), entre outras...
a variável (pronome-objeto direto de 3^ pessoa) pode apresentar as
seguintes variantes: (1) pronome oblíquo ( C O M P R E I o LIVRO M A S o E S Q U E C I E M
C A S A ) ; (2) pronome reto ( C O M P R E I o LIVRO M A S E S Q U E C I ELE E M C A S A ) ; (3) pro-

nome nulo ( C O M P R E I O LIVRO M A S E S Q U E C I 0 E M C A S A ) ;

m a variável (transitividade do verbo ASSISTIR) apresenta duas variantes: («D


transitividade direta: ASSISTI O F I L M E , e (2) transitividade indireta: ASSISTI A O FILME.

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


o estudo das regras variáveis é a principal tarefa da Sociolinguística. Ele per-
mite que a gente conheça o estado atual, real da língua, como ela é de fato
usada pelos falantes, por meio da frequência de uso da variante X e da
variante Y. Descobrir quais elementos da língua se encontram em variação
tem grande importância também para o entendimento dos fenómenos da
mudança linguística, que vamos ver no capítulo 8.

Vernáculo
Se formos procurar a palavra vernáculo num bom dicionário, como o Houaiss,
a gente vai encontrar o seguinte:

I adjetivo
1 próprio de u m país, nação, região
E x . : <língua v.> <costumes v.>

2 Derivação: sentido figurado.


diz-se de linguagem correta, sem estrangeirismos na pronúncia, vocabu-
lário ou construções sintáticas; castiço

I substantivo masculino
3 a língua própria de u m país ou de u m a região; língua nacional, idioma
vernáculo
E x . : o ensino do v. «

A definição dada pela Sociolinguística ao termo vernáculo, no entanto, esca-


pa dessas acepções tradicionais O linguista norte-americano William Labov,
o nome mais importante da Sociolinguística variacionista, transformou ver-
náculo num termo técnico com o seguinte significado:

I Vernáculo ^ " o estilo em que se presta o mínimo de atenção ao


monitoramento da fala".

O vernáculo parece ser, portanto, a fonte mais segura para a investigação dos
ferLÔmenos úe mudança linguística que afetam. determinada língua num_da,dp
momento histórico. Cada grux)o^Qclait£mo_seuvfirnácul.Q,istpJ,,o estilo que,, na
v ^ d M e lingufetjca própria dessa comunidade, representa a fal_a_mais espontâ:_
n ^ menos monitorada, quéémérgé sobretudo nas.interações verbais com rneno£
grau deformalidade e/ou com maior carga de emotividade. Labov, por exemplo.

Mas o que é m e s m o variação linguística?


sugere, como estratégia para fazer emergir o estilo menos monitorado, que o
pesquisador pergunte a seu informante: "Você já esteve numa situação em que
se viu próximo de morrer?" As narrativas resultantes dessa pergunta trazem as
marcas mais características do vernáculo, uma vez que o falante, tomado pela
excitação da narrativa, presta menos atenção à forma como está falando e muito
mais atenção ao conteúdo do que está contando.

Por meio do estudo do vernáculo podemos identificar, por exemplo, quais são
as regras gramaticais que realmente pertencem ao português brasileiro con^
temporâneo, aquelas que são as mais usualmenteempregadaspelas-pessoas
em suas interações cotidianas Ao mesmo tempo, podemos identificar.guais^
são as regras que estão deixando de ser usadas, caindo e m obsolescênda,
com probabilidade de desaparecer da língua num futuro próximo.

Estudando o vernáculo brasileiro mais geral, por exemplo, as pesquisas


sociolinguísticas têm revelado que os pronomes oblíquos de 3^ pessoa O / A / O S /
AS estão praticamente extintos da nossa língua. Só empregam esses prono-
m^es as pessoas que tiveram acesso à escolarização formal plena, e mesmo
assim somente em situações de alto monitoramento estilístico de sua fala,
mas sobretudo-.na,escrita de géneros textuais mais monitorados. Com isso
podemos dizer, com boa margem de segurança, que os pronomes oblíquos o/
A/os/Asnão pertencem ao vernáculo brasileiro No lugar deles, nós, brasileiros,
estamos usando os pronomes retos E L E / E L V E L E S / E L A S O U simplesmente dei-
xando vazio o lugar sintático que deveria sçr ocupado por um objeto direto,
como nos exemplos que demos mais acima: C O M P R E I o U V R Õ M A S ESQUECI ELE E M "•
C A S A ou C O M P R E I 0 LIVRO M A S ESQUECI 0 E M C A S A . Às pcsquisas têm mostrado que

essa última estratégia, a do chamado "pronome nulo", é a mais empregada


por todos os brasileiros, falantes de todas as variedades linguísticas.

O vernáculo e o ensino
o conceito de vernáculo, tal como definido na Sociolinguística, pode ser uma
contribuição muito importante para a elaboração de estratégias de ensino.
Se já sabemos que determinadas regras gramaticais desapareceram do uso
normal, cotidiano, como fazer para que elas sejam aprendidas e apreendidas
por nossos alunos e alunas? Vale a pena insistir em ensinar coisas que quase
ninguém mais usa no dia a dia da língua?

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


Como a gente vai ver no capítulo 8 sobre a mudança linguística, os géneros
escritos mais monitorados são o último refúgio dos usos linguísticos mais con-
servadores. É nos textos monitorados que esses usos sobrevivem por mais
tempo, antes de desaparecerem por completo. Ora, uma das funções mais
iniportantes do.ensjno é precisamente dotar qs alunos e alunas de recursos
que lhes permitam,produzir.textos (orais e escritos) mais monitorados
estilisticamentejexto_s_gue ocupam os níveis mais altos na escala do prestígio
social. Daí ajmportância de reconheçer_as_ já desapareçh
"dps da faia espontânea, mas ainda exigidas socialmente na fala/escrita forrmt
para ensiná-las, no sentido mais literal do verbo ens/har,.isto é, transmitir a uma.
pessoa um conhecimento que ela de fato não possui nem tem_ outro modo de
adquirir a não serjDe[a jducação .formal, sjstemátLca.,.ar.QgLamada.

O caso dos pronomes oblíquos O / A / O S / A S é exemplar Nenhuma criança bra-


sileira, seja de qualquer região ou de qualquer classe social, tem contato com
esses pronomes antes de se iniciar na leitura e na escrita, antes de começar
seu processo de letramento. Essa falta de contato revela que os adultos,
mesmo os mais letrados, não empregam esses pronomes na vida familiar,
nas situações mais íntimas e descontraídas de uso da língua.

A coisa é diferente com outros pronomes como E U , T U , V O C Ê , N Ó S , A G E N T E , E L E ,


EIA, ELES, E L A S , M E , M I M , T E , SE, por cxemplo, que estão vivos e atuantes no verná-

culo brasileiro e que qualquer criancinha que começa a falar utiliza sem proble-
ma. Daí a importância de delimitar com precisão o que é necessário ensinar e
o que não é necessário ensinar Muito tempo de sala de aula é desperdiçado
com práticas irrelevantes de ensino de coisas que a chança já sabe e domina,
como boa falante da língua, enquanto outras coisas, mais importantes e inte-
ressantes, são deixadas de lado. Vamos voltar a isso mais adiante.

Como analisar um evento de interação verbal?


À primeira vista, a Sociolinguística parece trabalhar com uma quantidade
muito grande de conceitos, e pode ser difícil para o não especialista colo-
car todos eles em prática num exercício de análise da língua real. Tradicio-
nalmente, a realidade jinguística brasileira tem sido analisada em termos
d ^ ^ r e s dicotómicos, de polarizações radicais do tipo língua padrão/IírT
gua nãõJ)aõraõ,lííTgua culta/língua popular, língua escrita/língua falada,
língua formal/língua coloquial etc, num_ procedimento que esconde o cará-

Mas o que é m e s m o variação linguística?


ter dinâmico e mutante das situações de interação verbal. Diante de uma
amostra deííngua em uso, os analistas costumavam (e ainda costumam)
atribuir a ela um rótulo único e fechado: "Esse é um exemplar de língua
coloquial" ou de "língua culta" etc. Todos esses adjetivos são problemáti-
cos, e vamos tratar deles nos próximos capítulos. Será então que existe
um modo diferente de analisar as situações de uso da língua, sem cair
nessas oposições extremadas? Existe, sim.

Uma das soluções para. superar esse problema é a adoção do concejto de


continuum (uma palavra latina que podemos traduzir, para os nossos.obje-
tiyos, como "linha contínua", "sequência que não se interrompe", e cujo
plural é conf/nLya,.,com sílabB tónica no TI). Érri_yez_de imaginar ajealidade
linguística dividida_emjuas ou mais variedades estan^ues^
interagem umas com as outras, aiguns sociolinguistas_gue^ trabalham na
vertente chamada interacional preferem investigar a situação d e j i s o , o
momento em quo. ocorce a._interaçãq: quem está dizendo o quê, a quem,
onde, quando, dentro de que relações da hierarquia social, com que interh
ção etc. ? Esses investigadores se concentram então muito menos nas ques-
tões propriamente linguísticas, estruturais (fonético-fonológicas, morfossin-
táticas etc.) e muito mais no modo como os atores sociais em cena se
valem desses recursos da língua para levar adiante sua tarefa comunicati-
va. E onde é que entra a noção de continuum aqui?

A linguista e educadora Stella Maris Bortoni-Ricardo foi uma das primeiras pes-
soas no Brasil a aplicar os postulados teóricos e metodológicos da Sociolin-
guística (vahacionista e interacional) às questões da educação em língua ma-
terna. Depois de muitos anos de reflexão e intensa prática como professora
universitária, orientadora de pesquisas e formadora de docentes, Bortoni-Ricardo
construiu um modelo extremamente simples e ao mesmo tempo muito útil
para o estudo da variação linguística nas interações verbais, com ênfase nas
interações em sala de aula. Neste modelo, a autora rejeita a análise polahzada
e argumenta que toda situação de interação verbal pode ser analisada com
base em três continua:

+rural ^ ^ +urbano

+oral 4 • +letrado

-monitorado 4 • +monitorado

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


o continuum rural-urbano diz respeito aos ante- É isso que explica, p o r exemplo, p o r
cedentes sociais e culturais do falante: ter que tantos jovens nascidos e criados
na periferia de S ã o Paulo, u m a das
ngscido e vivido na zona rural (ou numa cidade
maiores aglomerações urbanas do
pequena) ou ter_sLdo_iinada numa grande m u n d o , usam o chamado "R caipi-
metrópole são fatores que influenciam muito a vi- ra", antigamente restrito às cidades
do i n t e r i o r do estado e à zona r u r a l
são de mundo da pessoa, suas crenças e valores,
— é provável que seus familiares te-
sua relação com o meio ambiente e, é claro,, seu n h a m vindo do i n t e r i o r para a capi-
modo de falar a língua. Sabemos que íiá todo um tal mas não tenham p o d i d o se incor-
p o r a r totalmente à c u l t u r a u r b a n a e,
vocabulário e toda uma série de regras fonético-
p o r consegtiinte, incor-
fonológicas e morfossintáticas que caracterizam p o r a r plena-
mais os falares rurais do que os urbanos e vice- mente os tra-
ços linguís-
versa, e que tudo isso também variajejuma-fe-
ticos que ca-
gião geográfica para outra. Também existe, no cen- racterizam
tróBeste continuum, um espaço sociocultural que tradicional-
mente a va-
Bortoni-Ricardo classifica de rurbano: são as_pen-
riedade p a u -
ferias dasjiossas metrópoles, onde vivem impor- listana (como o
tantes contingentes de pessoas que migraram do /r/ simples \ ' i -
brado e m pa- J
campo para a cidade, em busca de melhores con- lavras c o m o
dições de vida, e que não se integraram ainda com- "porta", "sor-
pletamente à cultura urbana e tambémiao apan- te", " c u r v a "
etc).
donaram totalmente sua cultura rural. t
O conf/nuum oralidade-letramento nos indicasse a atividade verbal naquele
momento da interação está.mais próxima das práticas orais ou mais próxi-
ma das práticas letradas, ou seja, práticas que de algum modo se apoiam na,
leitura e na escrita. Durante uma mesma aula, por exemplo, a professora
pode alternar entre esses dois tipos de práticas: quando se dirige aos alunos
para çhannar^sua atenção, para pedir algunB.jnudançajde_atitudeMe
contar a eles alguma história ou comentar algum relato de experiência pes-
soal feito por eles, a professora está no universo da oralidade, e seu modo de
falar certamente vai trazer as marcas disso. Se, logo em seguida, ela começa
a explicar algum conceito que está sendo estudado, usando a terminologia
própria da disciplina, ou se escreve algo na lousa e comenta, ou se lê em voz
alta um texto escrito, sua fala decerto apresentará características diferentes
da que apresentava ainda há pouco. Por exemplo, na conversa com os alu-
nos ela pode dizer coisas como "pêxe", "bêjo", "falá", "as coisa", "océs",
"fizemo", enquanto na atividade mais marcada pelas práticas de letramento

Mas o que é m e s m o variação linguística?


é provável que ela use formas como "peixe", "beijo", "falar", "as coisas", "vocês",
"fizemos", mais próximas da ortografia oficial e das regras normativas

O continuum de monitoramento estilístico nosJndJca.o,grgLUJe atenção que


o falante presta ao que está dizendo Como já explicamos mais acima, esse
monitoram.enl:q.rnaior ou menor é decorrente do entrecruzamento de diver-
sos fatores presentes no momento da interação.
o m o n i t o r a m e n t o também pode le- Quanto maisjTionitorado O estilo.deja^, mais
var ao fenómeno da hipercorreção, provável^é a^ocorrência das,formas prescritas
como dizer "houveram problemas", pela norma-padrão, do construções gramaticais
"eles devem permanecerem aqui mes- • , , , , , ,- • • , ,
mo,"eaentregarei-iheovMo.ic.. "lais elaboradas 0 de vocabulario considerada
em que, n u m excesso de zelo pela maiS reqUintadO e OruditO.
"coireção", a pessoa acaba i n f r i n g i n -
do regras da gramática normativa. Com esse modelo de análise proposto por
Bortoni-Ricardo fica mais fácil compreender a
ocorrência de variação linguística num mesmo espaço-tempo de interação
verbal, na fala de uma mesma pessoa, como a professora que ora diz "vamo
vê" e ora diz "veremos", que ora diz "xovê" e ora diz "deixe-me ver", ou o
aluno que normalmente diz "paiaço" e "trabaiá" mas, ao ler em voz alta o
texto do livro, diz "palhaço" e "trabalhar"... Essa mesma professora, se tiver
antecedentes rurais, digamos, do interior de São Paulo, pode usar o "R caipi-
ra" ao ralhar com um aluno chamado Eduardo e usar um / r / vibrado ou um / h /
aspirado ao ler em voz alta um texto como "o vento fone fez bater a porta
verde da casa de Márcia", por considerar a pronúncia "caipira" inadequada
em situações mais monitoradas, em atividádes mais letradas

Podemos representar esses dois momentos distintos da produção verbal da


professora do seguinte modo:

(1) Edua[j]do, cê qué prestá'tenção e pará de brinca?'

-f rural - O * - -i- urbano

-f- oral -(Q> -I- letrado


- monit. •(Q> • • • • • • • • • • • • • • + monit.
(2) [leitura] " O vento £o[r]te fez bate[r] a po[r]ta ve[r]de da casa de Má[r]cia"

-I- rural Q) • + urbano'

+ oral (Q) - + letrado

- monit. Q - + monit.

Nada na língua é por acaso: por u m a pedagogia da variação linguística


Este modelo de análise da variação linguística tem se revela-
Stella Mans EíOTtoni-Ricardo
do muito útil para a compreensão do que acontece em sala
de aula (e também, é claro, em outras situações de comuni-
cação). Por isso, sugiro que você leia o livro de Bortoni-Ricardo,
que é a primeira (e bem-sucedida) experiência de formulação
de uma pedagogia da variação linguística. Tenhio certeza que
vai lhe ser muito útil para o trabalho e para a vida! educação em
língua materna
A &XIOUNGUÍS7ÍCA NA SALA. D£ AULA

PARANAOESQUECER

Toda língua humana é heterogénea por sua própria natureza.


A heterogeneidade linguística está vinculada à hetero-
geneidade social.
^ Os elementos que determinam a variação podem ser de or-
dem linguística (estrutural) ou extralinguística (social) ou
uma combinação das duas.
Não existe falante de estifo único Todo falante dispõe de
uma gama variada de estilos mais ou menos monitorados.'
p.; Uma variedade linguística é o modo de falar a língua ca-
racterístico de determinado grupo sociaí ou de determinada
região geográfica.
g Variantes linguísticas são maneiras diferentes de dizer a
mesma coisa.
O vernáculo é o estilo de língua falada em que a pessoa
monitora o mínimo possível sua produção verbal.

Mas o que é m e s m o variação linguística?

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