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Resumo:
Este projeto visa a revisitar a história do português do século XV ao século XXI, em Portugal e no
eixo Brasil-África, dentro de uma abordagem comparativa baseada na noção de parâmetros, tal
como é formulada na Teoria de Princípios e Parâmetros de Chomsky (1985, 2008), em particular
nos seus últimos desdobramentos no quadro do Programa Minimalista. Para atingir esse objetivo,
pretende-se usar os textos anotados disponíveis no Corpus Tycho Brahe, nos quais é possível fazer
buscas automáticas de construções sintáticas. Faz parte deste projeto alargar a base de textos
sintaticamente anotados para 1.500.000 palavras em textos portugueses, 600.000 palavras em textos
brasileiros, e 150.000 palavras em documentos africanos, além de elaborar um analisador sintático
automático (parser) para o português.
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I. Apresentação do problema
O português é uma língua que oferece um terreno particularmente fértil para os estudos
históricos, uma vez que a sua história se desenvolve em três continentes e mostra, em seus
desdobramentos recentes, mudanças de diversos tipos.
As variedades do português que vêm emergindo em países como Angola e Moçambique, por
exemplo, representam um caso de evolução linguística que não se dá a partir de uma única fonte
(como nas representações encontradas no modelo clássico em árvore), mas são produzidas pelo
encontro de diferentes línguas, por meio do processo de aquisição do português como L2 por
falantes nativos de línguas níger-congo. Considerando os milhões de africanos (em sua maioria,
falantes nativos de línguas bantas) trazidos como escravos para o Brasil entre os séculos XVI e XIX,
o cenário linguístico que hoje observamos nos referidos países africanos deve guardar semelhanças
significativas com o que marcou a emergência de variedades do português brasileiro. Isso justifica,
em grande medida, a afirmação feita em Petter (2009), de acordo com quem “são tantas as
semelhanças compartilhadas pelas três variedades de português [brasileira, angolana e
moçambicana] nos três níveis de organização linguística selecionados (fonológico, lexical e
morfossintático) que fica difícil defender que tais fatos sejam casuais, resultantes de uma deriva
natural do português ou decorrentes da manutenção de formas antigas do português europeu” (pp.
171-172).
Semelhanças como as observadas por Petter podem, nesse sentido, resultar do fato de que, tanto
no Brasil como na África, em diversos momentos do séc. XV ao séc. XXI, variantes do português
foram adquiridas por falantes de línguas africanas e depois transmitidas para as gerações
subsequentes, dando origem a outras variedades que se afastaram, em muitos aspectos, do que hoje
chamamos de português europeu. Paralelamente à formação dessas variedades, segmentos da
sociedade de origem europeia continuaram a veicular a língua portuguesa nas duas regiões, na sua
forma transmitida regularmente via aquisição de primeira língua.
Em Portugal, nesse mesmo decorrer de tempo, a língua escrita, já afastada dos padrões
medievais do galego-português inicial, passa por uma fase de fixação ao longo dos séculos XVI e
XVII. Em seguida, nos autores nascidos no primeiro quarto do século XVIII, observamos uma nova
mudança, refletida em numerosos aspectos gramaticais. É a emergência do português europeu
moderno, tal como o conhecemos hoje.
A história do português em Portugal e fora de Portugal oferece assim dois conjuntos de
mudanças gramaticais que parecem estar radicadas em causas bem distintas, a saber:
1)um conjunto que abarca mudancas cujas causas parecem ser exógenas, com uma forte história
de contato linguístico na base de alterações que contribuíram para afastar as variedades
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brasileiras e africanas da língua daquelas faladas em Portugal, configurando um caso, senão
de crioulização, pelo menos de reestruturação parcial (Baxter, 2002; Holm, 2004; Lucchesi
et al., 2009)
2)um conjunto que abarca mudanças cujas causas parecem ser endógenas, uma vez que, pelo
menos aparentemente, nenhum fenômeno externo de contato ou de substituição de um
dialeto por outro está na base das modificações observadas.
Esses dois tipos de mudança abrem espaço para refinar a teoria de parâmetros tal como vem se
desenvolvendo recentemente no quadro do modelo minimalista da teoria gerativa (cf. Baker, 2008;
Biberauer et al., 2010). Com efeito, o primeiro conjunto de mudanças afeta a língua num sentido
“macroparamétrico” (ver a seção III.2), e pode ser caracterizado por abarcar mudanças que remetem
a alterações de base tipológica, uma vez que o PB adquiriu feições que são bastante incomuns no
conjunto das línguas indo-europeias (a presença de propriedades largamente encontradas em línguas
orientadas ao discurso, por exemplo, pode ser um reflexo dessas alterações (cf. Pontes, 1987)). No
segundo caso, encontramos uma mudança bastante frequente na história das línguas românicas e
germânicas, que afeta a posição do verbo na oração finita: a perda do fenômeno V2. Essa mudança,
por sua vez, remete a diferenças de natureza ‘microparamétrica’, uma vez que diz respeito à
modificação dos traços associados a determinadas categorias funcionais. Um quadro interessante
para discutir essa diferença surge de trabalhos como os de Roberts (2010, a sair). Esse autor
desenvolve um modelo no qual os parâmetros são organizados hierarquicamente em árvores, cujo
topo expressa diferenças tipológicas ou macroparamétricas (ver seção III.2), enquanto a base
caracteriza diferenças cada vez mais localizadas, ou microparamétricas.
Os dois referidos conjuntos de mudança possibilitam, além do mais, trabalhar com a questão de
como as dinâmicas de mudança se projetam nos textos, o que nos leva a indagar sobre o
encadeamento de fenômenos de vários tipos, bem como sobre a evolução desses fenômenos em
termos espaciais e temporais e a datação da origem de cada um deles. A história da língua
portuguesa é rica em dados capazes de sustentar empiricamente, e refinar conceitualmente, uma
noção que mudou nosso olhar para a dinâmica da mudança nos textos: a noção de competição de
gramáticas, proposta por Anthony Kroch (Kroch, 1994, 2001).
Em Portugal, dois momentos fornecem elementos indicativos de forte competição gramatical nos
textos. São eles o séc. XV, período tradicionalmente chamado de “português médio” (Cardeira,
2005; Castro, 2006), que vê a tensão entre a gramática do galego-português e a gramática do
português clássico, e o séc. XVIII, durante o qual vai se impondo a gramática moderna (Galves et
al., 2005, 2006; Paixão de Sousa, 2004).
No Brasil, os documentos escritos no séc. XIX fornecem uma ilustração espetacular da
competição de gramáticas. Carneiro (2005) e Carneiro & Galves (2010) mostram que, nos
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documentos por elas analisados, não são duas, mas três as gramáticas em presença, uma vez que, ao
lado do reflexo da emergência do português brasileiro, observamos também o reflexo da mudança
em Portugal, com 100 anos de atraso em relação às gerações portuguesas. O trabalho de Martins
(2010) mostra o mesmo fenômeno em peças de teatro escritas nos séculos XIX e XX em Santa
Catarina. Avelar (2005) também observa um caso de competição de gramáticas na manifestação de
propriedades das construções possessivo-existenciais em textos brasileiros dos séculos XIX e XX,
nos quais a substituição de haver por ter é marcada pela sobreposição de marcas gramaticais do
português brasileiro e do português europeu.
O português da África oferece um novo e vasto território para o trabalho em torno da noção de
competição de gramáticas, com a presença ainda viva das línguas africanas. Lá, claramente, é
possível flagrar o desencadeamento de uma série de mudanças que poderão ou não se consolidar
nas variedades linguísticas em emergência. Trabalhos como os de Figueiredo (2010), Gonçalves
(2010), Inverno (2011), e Jon-And (2011) que abordam aspectos resultantes da aquisição de
português como língua segunda por falantes de línguas bantas ou crioulas, trazem novas luzes para
a compreensão das mudanças gramaticais induzidas por contato. O cenário atual para a aquisição e
difusão do português em Angola, Moçambique, ou Guiné-Bissau é, nesse sentido, um profícuo
laboratório para a verificação da validade de hipóteses atreladas à noção de competição de
gramáticas, uma vez que, paralelamente à emergência de novas variedades linguísticas, o português
europeu padrão continua a ser veiculado em diferentes esferas da vida social e cultural desses países.
Adicionalmente, surge a questão de saber qual é o estatuto das gramáticas envolvidas em cada
caso de competição, a saber: os estados de língua encontrados nos textos correspondem, em todos
os casos, a variedades vernáculas (ou seja, a gramáticas efetivamente adquiridas como línguas
maternas) ou podem ser variedades representativas de um dialeto essencialmente literário?
Recentemente, Ana Maria Martins (Martins, 2011) lançou o debate para o português europeu,
argumentando em favor da existência de duas gramáticas distintas do português coexistindo na
época: "A gramática proclítica, a que poderíamos chamar "pan-ibérica", era a das classes social e
culturalmente dominantes (tipicamente, alfabetizadas e produtoras de escrita), a gramática mais
especificamente portuguesa era a das classes populares (tipicamente, não alfabetizadas e com
acesso muito limitado à produção escrita). São fatores socioculturais os que determinam que no
português quinhentista (e também quatrocentista e seiscentista) seja extremamente reduzida a
visibilidade da gramática em que a ênclise se terá mantido estável ao longo do tempo." Desse ponto
de vista, não haveria, no séc. 18, propriamente uma mudança para uma nova gramática, mas o
reaparecimento do vernáculo nos textos,. Essa tese questiona as análises baseadas no Corpus Tycho
Brahe (Galves, Britto & Paixão de Sousa, 2005; Galves, Namiuti & Paixão de Sousa, 2006; e os
trabalhos subsequentes), que, sem menosprezar a questão do contato com o castelhano (cf. Paixão
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de Sousa, 2004), argumentam em favor da existência, nos textos clássicos, de uma gramática
subjacente ao vernáculo, distinta tanto da gramática antiga como da gramática moderna.
Frente a esse conjunto de questões que envolvem as noções de mudança paramétrica e
competição de gramáticas, em adição às considerações sobre contato linguístico, o presente projeto
tem como questão central a natureza da relação entre as diversas vertentes da língua portuguesa,
tanto na diacronia como na sincronia. Na diacronia, se discute a filiação entre um estado de língua
e outro. Examinaremos criticamente, tanto de um ponto de vista teórico quanto empírico, a noção
de deriva, muito recorrente na tradição dos estudos do português brasileiro (cf. Silva Neto, 1950) e
recentemente enfaticamente retomada por Anthony Naro e Marta Scherre (cf. Naro e Scherre, 2007),
ao mesmo tempo em que levaremos em conta o papel das dinâmicas de contato interlinguístico na
formação de variedades brasileiras e africanas do português. Da perspectiva sincrônica, é preciso
integrar aos modelos propostos o papel do contato interno à própria língua portuguesa, ou seja, o
contato das suas diversas variantes, e o efeito desse contato na dinâmica da língua (cf., por exemplo,
o processo de convergência da língua popular e da língua culta na história do português brasileiro,
enfatizado por Dante Lucchesi (cf. Lucchesi, 2003 e Lucchesi et al., 2009).
Essas diversas questões não podem ser enfrentadas sem uma base empírica extensa e confiável.
Dispomos do Corpus Tycho Brahe, elaborado em projetos anteriores. É preciso estendê-lo e
diversificar a tipologia dos textos, não somente no que diz respeito à sua procedência geográfica,
mas a seus gêneros e às suas condições de produção, incluindo, inclusive, dados de fala dos séculos
XX e XXI. É preciso também ampliar a anotação sintática, imprescindível para a recuperação
rápida e consistente de dados, bem como continuar a desenvolver ferramentas computacionais que
são essenciais para as tarefas de construção e utilização de grandes corpora.
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- Emergência de uma nova geração de pesquisadores em linguística histórica, capazes de articular
teoria linguística com trabalho filológico, de usar métodos computacionais modernos e de operar
com ferramentas estatísticas;
- O reforço das redes de pesquisadores, dentro do Brasil, e no eixo Brasil-Portugal-África, visando a
articular o trabalho filológico (edição de documentos) e o trabalho de análise;
- Publicação de um livro pela Oxford University Press, na nova coleção Series in Diachronic and
Historical Syntax, propondo uma história do português revisitada, baseada na descrição e análise da
gramática instanciada nos textos dos sécs. XV a XVII e de sua evolução para o português europeu
moderno e para o português brasileiro;
- Um ou mais livros sobre a formação do português brasileiro (editoras ainda não definidas),
elaborados em parceria com grupos brasileiros envolvidos na edição, descrição e análise de
documentos produzidos no Brasil ao longo de sua história;
- Um novo manual de história do português, que privilegie uma abordagem integrada da história da
língua em Portugal, no Brasil e na África, visando a um público mais largo de alunos de graduação
e professores de português no nível secundário;
- Artigos em revistas internacionais e comunicações em congressos baseados no uso de dados
sincrônicos e diacrônicos da história do português, visando à elaboração conjunta com outros
grupos de pesquisa de um modelo formal de mudança associado ao modelo de árvores paramétricas.
Cada uma dessas frentes será apresentada a seguir, focalizando-se o estado da arte e as novas etapas
que nos propomos a percorrer.
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Ao longo da sua história, o português apresenta fenômenos sintáticos constitutivos de suas diversas
gramáticas, fenômenos esses de grande interesse tanto do ponto de vista sincrônico-comparativo
quanto do ponto de vista diacrônico da dinâmica da mudança. Nesta seção, apresentamos os
fenômenos que serão estudados neste projeto numa ótica comparativa, bem como as questões que
eles levantam para a teoria sintática. Esta parte do projeto, além do seu interesse intrínseco para a
história do português e para a teoria gramatical, constitui a base indispensável da parte seguinte,
sobre a dinâmica da mudança (cf. III.2). O conceito central comum a essas duas partes é o de
parâmetro, uma vez que, além da descrição e análise dos fenômenos, se procura entender as
gramáticas subjacentes aos sucessivos e paralelos estados linguísticos representados nos corpora
históricos. Na teoria de Princípios e Parâmetros, essas gramáticas são definidas pela fixação de um
certo número de parâmetros.
Note-se que os trabalhos desenvolvidos nos projetos anteriores sustentaram a hipótese de que a
história do português europeu pode ser dividida em três fases, correspondendo a três gramáticas
distintas (cf. Galves, Namiuti & Paixão de Sousa 2006; Galves (2012)). Desse ponto de vista, o
português clássico apresenta uma gramática própria, distinta tanto da gramática do português antigo
quanto da do português moderno. Articulando nossos resultados com trabalhos sobre o português
médio (cf. Cardeira, 2005), podemos afirmar que a gramática do português clássico tem seu início
no período quatrocentista, num processo de competição com a gramática do português antigo, e seu
declínio se dá a partir da primeira geração de autores nascidos no século XVIII. Paixão de Sousa
(2004) traz, além disso, evidências de que a mesma gramática é subjacente aos bilhetes da
inquisição do séc. XVII editados por Rita Marquilhas (cf. Marquilhas, 2001). Esse fato é crucial
para caracterizar a gramática do português clássico como pertencente a uma variedade vernácula.
Com efeito, os bilhetes em questão foram escritos por pessoas semianalfabetas, chamadas por
Marquilhas de “mãos inábeis”, que não passaram pela aquisição sistemática de uma gramática
normativa.
O debate sobre a natureza do português clássico, bem como sobre as mudanças que levaram à
emergência do PE, foi recentemente relançado em um texto de Ana Maria Martins (cf. Martins,
2011), no qual a autora propõe que o que se vê nos textos é o reflexo da língua das classes “social e
culturalmente dominantes (tipicamente, alfabetizadas e produtoras de escrita)”; porém, segundo a
autora, uma outra gramática, “a das classes populares (tipicamente, não alfabetizadas e com acesso
muito limitado à produção escrita)”, se apresenta na mesma época. Martins acrescenta: “São fatores
socioculturais os que determinam que no português quinhentista (e também quatrocentista e
seiscentista) seja extremamente reduzida a visibilidade da gramática em que a ênclise se terá
mantido estável ao longo do tempo” (op. cit. p.86). Martins encontra nas peças de Gil Vicente a
base empírica para sua hipótese, uma vez que a sintaxe das personagens populares é mais enclítica
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do que as personagens ocupando uma posição alta na escala social. Desse ponto de vista, o
decréscimo da ênclise (que começa no século XIV), a forte predominância da próclise nos séculos
XVI e XVII e o retorno da ênclise no século XVIII não são senão momentos diferentes de uma
competição entre duas gramáticas: a do vernáculo popular, enclítica, e a da linguagem culta,
“panibérica”, proclítica. Isso tem como consequência dizer que o que acontece no século XVIII não
é propriamente uma mudança gramatical, mas a inversão entre o peso das duas gramáticas em
competição, que favorece a gramática do vernáculo popular.
A análise de Martins (2011) é parcial, uma vez que se limita à análise da colocação de clíticos.
Paixão de Sousa (2004) mostra que, apesar de terem mais ênclise do que os textos literários, os
documentos das “mãos inábeis” (Marquilhas, 2000) se comportam de maneira idêntica no que diz
respeito à posição do sujeito. A sintaxe dos clíticos, apesar de particularmente saliente nos textos,
não pode, portanto, ser tomada como único traço distintivo da gramática do PCl (entendido como o
estado de língua que se expressa a partir do século XV e, de maneira bastante consolidada, nos
textos escritos por escritores nascidos nos séculos XVI e XVII). Essa fase da língua ainda tem
muito para revelar do seu funcionamento gramatical e dos condicionamentos discursivos que regem
o uso das construções produzidas por sua gramática. Os trabalhos realizados no âmbito dos projetos
anteriores se concentraram na sintaxe dos clíticos e na posição do sujeito, em correlação com o
fenômeno V2. Nesta nova fase da pesquisa, toda a sintaxe da ordem será investigada, de modo a
permitir inferências mais precisas sobre as estruturas subjacentes aos diferentes padrões oracionais
e a natureza das categorias funcionais ativadas na instanciação desses padrões.
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extraído se encontra numa oração adjunta (cf. (2)); e (c) flutuação de quantificadores para posições
pré-verbais, em presença de um tópico (cf. 3).
(1) Papagaios há nestas partes muitos de diversas castas, e muito formosos, como cá se vêem
alguns por experiência. (Gândavo, nascido em 1502)
(2) e apertando o capitão-mor outra vez de novo com eles, prove a Nosso Senhor que viraram as
costas, e se recolheram com muita desordem, como gente já vencida, o que vendo os nossos,
os seguiram até dentro da sua tranqueira, onde eles de novo nos tornaram a fazer rosto,
(Fernão Mendes Pinto, nascido em 1510)
(3) Os homens n’aquella primeira infancia do mundo todos vestiam de pelles,
(Vieira, nascido em 1608)
Neste projeto, como mencionado acima, a sintaxe V2 do PCl será estudada na dimensão mais
geral da ordem dos sintagmas na frase e sua relação com a organização da informação. A
investigação sobre a ordem será também estendida às orações não-finitas. O exemplo seguinte,
extraído de Gândavo (n. 1502), evidencia que as infinitivas também podem mostrar diferentes
ordenações de palavras, como VSO, SVO, além dos casos com sujeito nulo. Construções desse tipo
ilustram como a organização da informação dirige a ordem, em particular no que tange à posição de
sujeito. No enunciado em questão, o tópico é outros (macacos); por isso, os Índios, como referente
não-tópico, é realizado em posição pós-verbal.
(4) Outros há perto maiores que estes, que tem barba como homem: os quais são tão atrevidos,
que muitas vezes acontece flecharem os Índios alguns, e eles tirarem as flechas do corpo
com suas próprias mãos, e tornarem a arremessá-las a quem lhes atirou.
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Negrão, 1999; Duarte & Kato, 2008; Modesto, 2008). No que diz respeito ao PE, a situação é mais
complexa. Note-se que se trata de maneira geral de uma língua que traz vários desafios à teoria
gramatical, dadas as suas numerosas particularidades sintáticas. Do ponto de vista da Língua-E,
podemos dizer que é uma língua conservadora, uma vez que preservou características associadas,
nas outras línguas românicas, às fases antigas, como a ênclise nas orações finitas. Essa propriedade
levou muitos estudiosos a apontar para propriedades especiais da periferia esquerda, codificadas
numa categoria funcional alta considerada forte (cf. Martins, 1994; Uriagereka, 1995; Costa &
Martins, 2004; Raposo & Uriagereka, 2005, entre outros). Para muitos autores, por outro lado, a
ênclise está associada a uma posição externa do sujeito em relação às fronteiras da oração. Essa
análise, inicialmente proposta por Rouveret (1987), foi particularmente explorada nos trabalhos de
Pilar Barbosa (cf. Barbosa, 1996, 2000, 2008, entre outros), na esteira de outros estudos que
investiram no argumento de que o sujeito realizado das línguas pro-drop ocupa uma posição
deslocada. Contudo, essa análise não é consensual, e muitos autores argumentam que o sujeito do
PE ocupa uma posição interna à frase (cf. a discussão em Galves & Sandalo, 2012). Esses autores
procuram derivar a existência da ênclise a partir de uma arquitetura oracional na qual o verbo e o
clítico não ocupam o mesmo núcleo na computação sintática (cf. Rouveret, 1999; Shlonsky, 2004;
Ouhalla, 2004). Rouveret (1987) também deriva a topicalização sem retomada pronominal, bem
como a construção de objeto nulo (cf. próxima seção), da estrutura em que o sujeito está em posição
externa. Raposo (1986) argumenta que a categoria vazia objeto nessa construção é uma variável
ligada por um tópico nulo. Curiosamente, isso aproximaria o PE do chinês, tal como analisado por
Huang (1984), ou seja, o objeto nulo, nessa análise, recoloca para esta língua a questão da
proeminência do tópico. Recentemente, João Costa minimizou a questão da diferença entre o PB e o
PE no que tange ao estatuto de proeminência de tópico (cf. Costa, 2010). Segundo ele, todas as
construções usadas para argumentar que o primeiro é uma língua orientada para o tópico, desde o
trabalho pioneiro de Pontes (1987), existem também no segundo. A única diferença, segundo o
autor, diz respeito às construções em que o verbo concorda com o tópico que não corresponde ao
sujeito lógico da oração, possíveis no PB, mas não no PE (ver seção III.1.4).
Segundo Naro & Scherre (2007), o que mais aproximaria o PE do PB seria a ausência de
concordância nominal e verbal. Os exemplos apresentados por esses autores são retirados de
dialetos não-padrão de Portugal, em que frases como as seguintes são registradas:
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A análise de Naro & Scherre levanta a seguinte questão: será que em (5)-(6), o sintagma pré-verbal
é, de fato, o sujeito do verbo? Uma análise alternativa seria a de que tal sintagma é, na verdade, o
tópico da frase, retomado por um sujeito nulo de caráter genérico – o equivalente do ça encontrado
no francês.
É tentador ligar ambas propriedades (de objeto nulo e de sujeito nulo genérico) à noção de
operador nulo. Como já mencionamos, essa possibilidade já foi explorada por Raposo (1986) para o
objeto. O operador nulo é, em termos intuitivos, o que permite a identificação referencial de uma
categoria vazia independentemente de uma relação de concordância. Recuperamos aí a noção de
variável, em oposição à noção formal de pronome: o pronome necessita de traços-phi para a sua
identificação; a variável, ao contrário, não necessita desses traços. Esta, contudo, requer um
antecedente identificável no discurso, o que ocorre no caso do objeto nulo. No caso contrário, resta
a interpretação genérica.
A questão seguinte é como expressar a noção de operador nulo no quadro atual do Programa
Minimalista. Essa será uma questão abordada no decorrer do projeto, e as possibilidades de resposta
dependerão de detalhes da derivação sintática que será assumida. É natural, em princípio, atrelar o
operador nulo a um traço de tópico associado a Comp (ou, no quadro da cartografia de Rizzi 1997,
2004, a uma das categorias funcionais da camada Comp), que não desencadeia movimento visível,
mas é capaz de ligar uma categoria vazia.
Nesse novo projeto, daremos mais ênfase a um período do português europeu pouco estudado
nos projetos anteriores – que privilegiaram a emergência da nova gramática no séc. XVIII. Trata-se
do séc. XIX. Ele é importante para o estudo da consolidação das novas formas de topicalização, e
também porque se podem vislumbrar nos textos escritos nessa época elementos de variação dialetal
que prenunciam a variação encontrada no séc. XX entre dialeto padrão e dialeto não-padrão (cf.
Magro, 2008, a respeito do fenômeno da interpolação).
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1994; Galves, 1997). Nesse quadro, e a partir de um estudo diacrônico, Cyrino (1997) propõe que o
objeto nulo do PB é, na realidade, resultado de elipse de NP/DP e Cyrino (2011) sustenta que o
objeto nulo do PB é diferente do permitido em outras línguas, justamente por razões diacrônicas.
De fato, várias línguas permitem vários tipos de objeto nulo, mas o objeto nulo do PB apresenta
certas características: tem preferencialmente antecedente não-animado, não permite correferência
com o sujeito da matriz, ocorre em ilhas sintáticas.
É pertinente a este projeto notar que línguas bantas como o kinande também permitem o objeto
nulo. Authier (1988) mostra que tal língua permite objetos nulos definidos, mesmo com
antecedentes animados, como mostram os seguintes exemplos:
(7) na- abiri- anza [e]
SM TNS love
I have come to love (her/him/them) (Authier, 1988:21)
Authier argumenta que o objeto nulo em kinande é uma variável (não pode ocorrer em ilhas), e o
considera o vestígio do movimento de um operador nulo para o especificador de CP. No entanto,
seria diferente do objeto nulo do PE, uma vez que em kinande os sintagmas topicalizados se
moveriam para o especificador de CP na sintaxe, ao passo que, em PE, eles seriam gerados na base,
em uma posição de tópico distinta de CP.
Neste projeto, voltaremos a discutir, comparativamente, a natureza do objeto nulo no PE e no PB,
em correlação com as outras construções estudadas, não só no âmbito da frase, como também no
âmbito do sintagma nominal (cf. III.1.6).
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PB. A autora propõe que um outro elemento em INFL atrai o V: Tempo. No PB, a restrição do
movimento de V para T é, portanto, desencadeada pelas propriedades de T.
Biberauer & Roberts (2010) propõem que a existência de movimento de verbo estaria
relacionada à riqueza de marcação temporal. Cyrino (2010, 2011), porém, argumenta que a
marcação morfológica de tempo não necessariamente leva ao movimento de verbo – BP é uma
língua em que essa morfologia é somente aparentemente rica. Da mesma forma que Galves (1994),
Cyrino (2010, 2011) assume que o verbo deixa o VP em PB e não sobe para uma categoria
funcional alta. Assumindo duas categorias para Tempo, T1 e T2 (cf. Giorgi & Pianesi, 1997; Julien,
2001), a autora propõe que o verbo é alçado para T2, uma categoria relacionada a Aspecto. A
proposta é baseada na perda das formas sintéticas, especialmente do mais-que-perfeito e do futuro
do presente. As formas sintéticas existentes, como o passado simples, não estão restritas a
interpretações estritamente temporais:
Em PB, ao contrário de PE, a sentença (9) pode ser usada quando a festa ainda não acabou. Da
mesma forma, sentenças como (10), em que a morfologia de passado remete à interpretação
(aspectual) resultativa, são possíveis em PB, mas não em PE:
Este projeto pretende aprofundar a questão da relação entre a morfologia verbal (tempo e
aspecto) e a posição do verbo na frase dentro de uma perspectiva comparativa.
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construções em que um termo equivalente tradicionalmente analisado como adjunto adverbial
ocorre em posição pré-verbal e concorda com o verbo. A correspondência com a função de adjunto
adverbial é facilmente observada nas paráfrases em (b), nas quais o termo locativo passa a ser
obrigatoriamente antecedido da preposição em.
Nos dados de (13)-(14), vale chamar a atenção para as construções do quimbundo, que, ao lado
do quicongo e do umbundo, é apontado como língua materna da maioria dos africanos de origem
banta trazidos para o Brasil. Na sua Grammatica elementar do kimbundo ou língua de angola
(1888/89), Heli Chatelain faz menção ao fato de a sintaxe quimbunda permitir a concordância
locativa, salientando que, “quando, por inversão, o locativo acontece preceder o verbo, este
concorda com elle, tomando-o como prefixo. Na inversão, o sujeito logico perde toda influencia
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sobre o verbo, de modo que não importa a qual cl. sing. ou pl. o sujeito pertença, comtanto que seja
de 3a pessoa” (p. 89).
Considerando a similaridade entre o português brasileiro e as línguas do grupo banto no que
tange à inversão locativa, é plausível indagar sobre a possibilidade de estarmos diante de um reflexo
do contato do português com línguas do grupo banto, por conta da entrada maciça de africanos (em
sua maioria, falantes nativos de línguas pertencentes a esse grupo) em território brasileiro no
decurso de quase quatro séculos. Na linha dos estudos apresentados em Lucchesi et al. (2009), uma
hipótese a ser aventada é a de que o processo de transmissão linguística irregular desencadeado pela
aquisição do português como L2 por milhares de africanos, que produziram grande parte do input
daqueles que passavam a adquirir o português como L1, tenha levado à transferência de padrões
oracionais comuns às línguas africanas (no caso, o padrão de inversão locativa) para variedades
emergentes do português brasileiro. A ampla ocorrência dessas construções em dados de escrita
extraídos de blogs publicados no Brasil em pleno século XXI seria, nesse sentido, resultado de um
processo que teria se iniciado séculos antes, com a aquisição do português como L2 por falantes de
línguas africanas, produzindo construções que se difundiram (em um modus operandi que ainda
precisa ser melhor compreendido em termos temporais, geográficos e sócio-demográficos) por
diferentes variedades do português brasileiro.
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sabemos que sintagmas nominais 'fracos', (não pressuposicionais), mas não sintagmas nominais
"fortes", são aceitáveis em construções existenciais. Esta mesma distinção entre SNs fracos e fortes
é utilizada para restringir os tipos de sintagmas nominais que podem aparecer na posição de sujeito
ou podem ser deslocados. Sabe-se também que certos tipos de predicados forçam/restringem a
interpretação de sintagmas nominais em várias posições (cf. Carlson, 1977; Diesing, 1992; Kratzer,
1995 etc). Do ponto de vista do movimento, sabe-se que é "mais fácil" extrair de sintagmas
nominais indefinidos/nus do que definidos (ver Boskovic, 2008; a sair, para uma versão bastante
extrema desta observação).
Dadas essas observações, cabem duas perguntas: (i) há mudanças importantes entre o PCl e o
PB e PE no que diz respeito ao sintagma nominal e sua distribuição? e (ii) em que medida se podem
relacionar certas propriedades do DP no português clássico a uma ordem mais livre de palavras do
que no PB, por exemplo? No que diz respeito ao português, sabemos que os determinantes são
menos empregados no PCl do que no PE. Gibrail (2003) observou que a frequência dos
determinantes aumenta no decorrer do século XVIII, quando diminui a frequência do acusativo
preposicionado. Vê-se também um aumento do uso do artigo com os possessivos, também no
século XVIII (cf. Floripi, 2008), que desembocará na generalização total desse uso. O uso do artigo
com o quantificador universal plural ‘todos’ também não é categórico no português clássico, como
se vê na frase em (15), que fecha a Gramática da linguagem portuguesa de Fernão de Oliveira, ou
ainda na frase em (16), do tratado Da pintura antiga de Francisco de Holanda.
(17) É ele muito distinto sob todos pontos de vista, e, além disto, um correligionário nosso que,
em todas as circunstâncias tem se imposto, por sua lealdade e serviços, à nossa estima
e reconhecimento.
E aqui se coloca a questão de saber a origem das diferenças entre o PB e o PE e o PCl, devendo-
se levar em conta também propriedades de certas línguas crioulas que têm uma distribuição de
nomes sem determinante muito parecida com a do PB.
Estudaremos a estrutura e distribuição dos nomes nus, definidos e indefinidos. Em relação aos
indefinidos com determinante, concentraremos a atenção nas propriedades dos sintagmas
indefinidos com 'um/uns' e 'algum/alguns' tanto em contextos afirmativos como negativos, onde
aparecem diferenças interessantes entre o PB e o PCl (cf. o uso em Gândavo, por exemplo, da
16
expressão "outra coisa alguma", sempre sob o escopo da negação). Quanto aos nomes nus, à guisa
de exemplo, considere-se o caso dos nomes nus contáveis em posição argumental. Assim como os
nomes nus plurais no inglês, os nomes nus singulares contáveis podem ter, no PB, uma leitura
genérica ou existencial. No PE, os nomes nus contáveis têm uma distribuição muito restrita, similar
ao espanhol, sendo aceitos só como complementos de verbos que têm um componente possessivo
(ter, comprar, etc). Assim, enquanto (18a) e (18b) são naturais no PB, no PE, (18a) é inaceitável.
Essa distribuição mais liberal dos nomes nus no PB está correlacionada à possibilidade de
modificação por ''muito" com leitura contável, como exemplificado em (19). No PE, (19a) é
inaceitável e (19b) só é aceita com uma leitura predicativa em que “O Pedro tem um carro
fantástico”, sugerindo diferenças estruturais.
Para dar conta da existência de nomes nus em posição argumental no PB, Schmitt (1996), Munn
& Schmitt (1999) e Schmitt & Munn (2003) argumentam que no PB esses nomes nus são DPs com
um D nulo. A distribuição restrita dos nomes nus é associada a ausência ou a restrições a um D nulo
nas línguas românicas. Para Dobrovie-Sorin & Bleam (2006) e Espinal & McNally (2009), os
nomes nus em (18a) no espanhol são simplesmente NPs em contextos de certos predicados (ver
também Cyrino & Espinal 2011, sobre essa proposta para o PB ). Cabe então perguntar em que
momento se estabelecem as diferenças entre o PE e o PB e onde essas diferenças estão localizadas.
O que acontece nos períodos anteriores do português? O que leva a estas diferenças?
E aqui devem-se levar em consideração não só propriedades do PCl mas também propriedades de
línguas crioulas de base ibérica como o papiamento (Schmitt & Kester, 2005; Kester & Schmitt,
2007), por exemplo, que têm uma distribuição de nomes nus contáveis quase idêntica à do PB,
inclusive nas restrições discursivas aos nomes nus contáveis em posição de sujeito. Compararemos
também com propriedades dos sintagmas nominais no português africano (cf. Inverno (2005) e do
português afro-brasileiro (cf. Lucchesi et al., 2009)
17
(entre outros Mattos e Silva, 2004). Nesse sentido, uma importante vertente do projeto está na
anotação sintática de corpora orais representativos dessas variedades, na linha do que já vem sendo
desenvolvido para dos documentos escritos que compõem o Tycho Brahe (cf. Seção III.3.1).
A anotação sintática de corpora do português brasileiro contemporâneo permitirá não apenas
mapear contrastes sintáticos entre variedades dialetais, mas também refinar a observação da
variação interna aos indivíduos, que pode ser explicada, no quadro teórico que estamos adotando,
de duas maneiras, não mutuamente exclusivas:
(i) a variação é desencadeada pela competição de gramáticas que nasce da tensão entre a aquisição
natural da língua e sua aprendizagem por meio do ensino formal, essencialmente via escola. Um dos
exemplos canônicos dessa variação se encontra na sintaxe pronominal, em particular no uso e
colocação de pronomes clíticos, adquiridos em meio escolar (cf. Correa, 1991).
(ii) a variação resulta da própria natureza da fixação dos parâmetros na língua.
A hipótese em (ii) ocupará um lugar central dentro do projeto: a natureza híbrida de certos
fenômenos morfossintáticos do PB derivaria da própria fixação de um (ou mais) parâmetros, que,
por sua vez, decorreria da sua história de contato de línguas tipologicamente muito diferentes (ver a
seção III.1.3.1). Se essa hipótese estiver correta, será possível afirmar que não há diferença
gramatical entre dialetos com pouca (ou nenhuma?) concordância e dialetos com muita (ou
integral?) concordância, porque concordar ou não seria uma escolha permitida pela fixação do
próprio parâmetro (cf. Avelar e Galves, 2011). Desse ponto de vista, só a frequência é que seria o
reflexo de uma maior ou menor instrução formal.
Em conjunção com essa ideia, uma outra hipótese de base paramétrica que o projeto irá defender
a respeito do português brasileiro é a seguinte: apesar de manter uma morfologia de tipo indo-
europeu, a sua sintaxe sofreu uma mudança tipológica (ou, nos termos de Baker (1996, 2008, 2010,
2011), uma mudança de natureza macro-paramétrica), ao passar a fixar o parâmetro da
concordância não mais como as línguas indo-europeias, mas como as línguas níger-congo. Em
linhas gerais, se essa hipótese for validada, o estatuto de proeminência de tópico e as
particularidades da posição de sujeito (como as que dizem respeito à inversão locativa, tratadas em
III.1.5) poderão ser tratados como resultantes dessa mudança paramétrica.
18
preconizado por Naro e Scherre (2007) para procurar as raízes do PB popular no PE popular será
reinterpretado neste projeto no quadro de uma outra concepção da linguagem. Nesta, a língua não é
um organismo que muda por si só, conduzido por uma deriva interna própria. A mudança
gramatical se deve à seleção de uma gramática por uma geração G, diferente da gramática
selecionada pela geração anterior G-1, fornecedora do input que serve de base à aquisição da língua
pela geração G. Desse ponto de vista, a língua é um objeto mental que só tem realidade no
cérebro/mente de cada falante. Contudo, os dialetos podem nos dizer muito sobre as possíveis
variações em torno de um mesmo tema, para retomar a metáfora da tese de Catarina Magro (Magro,
2008), nos ajudando a entender os parâmetros em jogo (ver Seção III.2 adiante).
19
b. “Hoje os tempo tá mudado”
c. “[eu] sabe não”
d. “sim, eu namorô, mas já dexô muito tempo”
e. “Os tropa vai no mato e negro fica sozinho”
(21) DIALETO AFRO-HISPÂNICO DA BOLÍVIA (Lipski, 2008: 87)
a. “Nojotro tiene [tenemos] jrutita”
b. “Yo no entende [entendo] eso de vender jruta”
c. “Yo creció [crecí] junto com Angelino”
d. “Nojotro creció [crecimos] loh do”
e. “Nojotro trabajaba [trabajábamos] hacienda”
Um outro aspecto que parece ter lugar no continuum afro-brasileiro está no fenômeno da
inversão locativa, abordado em III.1.3.1. Gonçalves & Chimbutane (2004) mostram que o
português falado como L2 por moçambicanos dá lugar a construções em que sintagmas nominais
preposicionados introduzidos por “em”, com interpretação necessariamente locativa, ocorrem em
uma posição pré-verbal que pode ser identificada como sendo a posição gramatical do sujeito, como
em construções do tipo Na nossa zona era fértil (com o mesmo sentido de A nossa zona era fértil).
De acordo com os autores, construções desse tipo são transferências de padrões oracionais bastante
comuns nas línguas faladas como L1 por moçambicanos, em que sintagmas preposicionados com
interpretação locativa podem ocorrer em posição de sujeito.
Estudos como os de Avelar & Cyrino (2008) e Avelar (2011) observam que o mesmo tipo de
inversão locativa também é possível no português brasileiro, em construções como as que seguem
em (22a)-(26a), encontradas em blogs brasileiros. Os dados em (22b)-(26b) mostram que a
preposição pode ser eliminada, sem resultar em qualquer alteração aparente no sentido da sentença
ou no papel temático atribuído ao constituinte em posição pré-verbal. Avelar & Cyrino (2008)
propõem que, tal como sugerido por Gonçalves & Chimbutane (2004) para o português africano, as
construções em (22a)-(26a) do português brasileiro também trazem sintamas locativos
preposicionados em posição de sujeito.
21
Para cumprir com esse objetivo, uma importante ferramenta do projeto será a anotação sintática
de corpora orais representativos de variedades africanas do português. O projeto irá, em especial, se
debruçar sobre o corpus utilizado por Jon-And (2011) em seu estudo sobre a concordância variável
de número em sintagmas nominais do português moçambicano. Esse corpus, que dispõe de um total
de 12 horas de entrevistas com moçambicanos falantes de português como L2, foi disponibilizado
para a equipe do projeto e será sintaticamente anotado, para compor o acervo do Tycho Brahe. Com
isso, o projeto irá contribuir, tanto em termos teóricos quanto empíricos, para uma maior
aproximação entre as investigações sobre contato interlinguístico e as abordagens formais que se
ocupam de mudança gramatical. O projeto também irá se debruçar sobre o resultado de estudos em
andamento voltados ao contato do português com línguas africanas baseados em documentos
escritos, como os de Alkmim (2001, 2002, 2008) e Álvarez-López (2006, 2007, 2008), assim como
os publicados em Lobo & Oliveira (2009).
22
Dentro da teoria gramatical atual, a mudança está intimamente ligada à aquisição, e o
instrumento teórico para abordar ambas é a teoria de parâmetros. Depois de ter ficado um tempo no
limbo, essa teoria está atualmente muito fortemente reavivada, com os trabalhos do grupo de
Cambridge (cf., entre outros, os livros Syntactic variation - the dialects of Italy; Parametric
variation, null subjects in Minimalist Theory, e The limits of syntactic variation.) Como já
mencionado acima, os modelos paramétricos com os quais trabalharemos para a discussão das
gramáticas envolvidas têm correlatos para a questão da mudança.
A discussão recente dessa teoria gira em torno das noções de macro e microparâmetros. Para certos
autores, como Kayne (2005), todos os parâmetros são microparâmetros, e “apparently macro-
parametric differences might all turn out to dissolve into arrays of micro-parametric ones (i.e., into
differences produced by the additive effects of some number of micro-parameters)” (Kayne, 2005:
284).
Já Baker atribui aos macro-parâmetros uma natureza que não se deixa reduzir à adição de micro-
parâmetros. Para ele, os primeiros não são associados às propriedades de categorias funcionais,
como na proposta conhecida como “Borer-Chomsky conjecture” (BCC), mas à aplicação de
diferentes princípios gerais da gramática. Desse ponto de vista, os macroparâmetros definem o que
Sapir chamou de “gênio estrutural das línguas” (“This type or plan or structural genius of the
language is something much more fundamental, much more pervasive, than any single feature of it
we can mention, nor can we gain an adequate idea of its nature by a mere recital of the sundry facts
that make up the grammar of the language.” (Sapir, 1921: 120, apud Baker, 1996: 3)
Em trabalhos recentes (Roberts & Holmberg, 2010; Roberts, no prelo), Roberts procura
reconciliar com a noção de árvore paramétrica as concepções de Kayne e de Baker, aparentemente
opostas. Para ele, macroparâmetros são efetivamente agregados de microparâmetros que dizem
respeito a propriedades de categorias funcionais, mas esses são hierarquicamente estruturados, de
tal maneira que as grandes diferenças –as que definem tipos distintos de línguas- se encontram no
topo das árvores paramétricas e as microdiferenças – que definem dialetos próximos – se encontram
na parte de baixo das árvores, onde a formulação do parâmetro está cada vez mais detalhada. Um
exemplo se encontra abaixo:
A árvore paramétrica dos argumentos nulos (Roberts, no prelo)
23
No modelo desenvolvido por Roberts (2010, no prelo), as línguas que correspondem, para um
dado parâmetro, a um valor definido nas partes mais encaixadas das árvores paramétricas são
línguas mais marcadas (em relação a esse parâmetro) do que as línguas correspondendo a valores
definidos em posições mais altas na árvore. Se as evidências empíricas necessárias a essa marcação
são tornadas ambíguas de alguma maneira (ou pela ação de um processo linguístico afetando essas
evidências ou pela existência de dados conflitantes, devidos, por exemplo, a um contato de línguas),
as crianças selecionarão gramáticas menos marcadas, correspondendo a valores paramétricos mais
altos na árvore. Isso se deve a um princípio muito geral de economia, não exclusivo da linguagem,
ou seja, àquilo que Chomsky (2005, 2008) denomina o 3o fator. Segundo Chomsky, os dois
primeiros fatores são, respectivamente, a predisposição genética (para a linguagem, a Gramática
Universal), e a experiência. Ele define o 3o fator como “language-independent principles of data
processing, structural architecture, and computational efficiency, thereby providing some answers
to the fundamental questions of biology of language, its nature and use, and perhaps even its
evolution” (Chomsky, 2005:9). The study of the effect of the “third factor” on language acquisition
and change is part of the Strong Minimalist Program, “which holds that language is an optimal
solution to interface conditions that FL must satisfy; that is, language is an optimal way to link
sound and meaning” (Chomsky, 2008:3). Vê-se que a introdução do 3o fator na discussão da
mudança linguística permite reintegrar a questão da direcionalidade, enfaticamente rejeitada por
Lightfoot (1999), do ponto de vista da Gramática Universal. Porém, uma vez que a discussão inclui
o ‘terceiro fator’, uma abordagem baseada na Gramática Universal pode ser reconciliada com a
24
afirmação reiterada dos estudiosos da linguagem de que as mudanças aparentam ter direção. Isso é
devido à acão de princípios de economia da mente muito gerais, independentes da linguagem (cf. a
reinterpretação da gramaticalização por Roberts & Roussou (2003), e vários estudos em Galves et
al., no prelo).
A história do português representa um novo e riquíssimo laboratório para a testagem dessas
novas hipóteses sobre a aquisição e a mudança. Com efeito, temos paralelamente dois conjuntos
de mudanças bem distintos, em contextos histórico-sociais bem diferenciados. Os primeiros
passos no sentido de interpretar a mudança para o PB no quadro das árvores paramétricas foram
dados por Avelar & Galves (2011), que argumentam que a gramática brasileira ocupa na árvore
paramétrica relevante uma posição mais alta do que a gramática portuguesa:
25
A novidade consiste em tentar incorporar ao modelo a influência que as línguas africanas
parecem ter tido sobre o desenvolvimento do português no Brasil, a julgar pelas semelhanças
observadas entre a sintaxe das línguas banto e a sintaxe do PB (cf. Avelar, 2011). Essas
semelhanças levantam a pergunta – já formulada por Adolfo Coelho em 1880 - de saber se o
efeito do contato é universal ou se depende das línguas em contato, em particular aquelas
chamadas de substrato – ou seja, no caso, a língua daqueles que aprenderam o português como
segunda língua. Adolfo Coelho afirma que: “Os factos acumulados por nós mostram à evidência
que os caracteres essenciais desses dialectos são por toda a parte os mesmos, apesar das diferenças
de raça, de clima, das distancias geográficas e ainda dos tempos. É em vão que se buscará , por
exemplo, no indo-português uma influência qualquer do tamul ou do cingalês.” (op. cit. pp. 105-
106) . Interessante é lembrar que, ao dizer isso, Coelho considera mais as variantes que se podem
chamar de crioulas. E foi efetivamente defendido, cem anos depois, pelo grande estudioso dos
crioulos, Derek Bickerton, que os crioulos constituíam um grupo de línguas muito semelhantes, e
em nada parecidas com as suas línguas de substrato. Já foi agora claramente mostrado que a
gênese do PB não envolve a formação de um crioulo (cf. Lucchesi et al., 2009). Porém, como
reafirmado por Lucchesi (cf. também Inverno, 2005, 2011), a questão do contato não se esgota na
formação de uma língua crioula. Existe um outro efeito que Holm (2004) chama de reestruturação
parcial, que está na origem de uma “nova variedade histórica da língua”, nos termos de Lucchesi
(2003).
A questão da influência ou não de uma outra língua, ou de um outro dialeto, remete à questão de
saber se a mudança pode ser desencadeada por dados positivos na aquisição de língua materna.
Uma idéia mais aceita na literatura é que ela deriva de dados ambíguos para o aprendiz (cf. Roberts,
2007). Porém, investigaremos a hipótese de que, contrariamente às situações de contato, em que as
crianças se veem frente a fixações paramétricas ambíguas ou contraditórias, é possível que as
mudanças não induzidas pelo contato derivem de modificações nas evidências positivas acessíveis a
uma dada geração, como, por exemplo, o surgimento de um novo padrão prosódico. Essa idéia, já
trabalhada nos projetos anteriores, encontra hoje um eco novo em afirmações, como a de Berwick
& Chomsky (2008) de que grande parte da variação observável nos sistemas gramaticais reflete
mais a natureza do "processo de externalização", isso a interface fonológica/morfológica (PF) do
que a sintaxe estreita (narrow syntax).
26
A descrição da competição de gramáticas, bem como sua integração a uma teoria da mudança,
requer, por um lado, a análise formal das gramáticas em presença, e, por outro lado, a modelagem
da dinâmica das relações entre essas gramáticas. Precisamos, portanto, além de modelos
desenvolvidos no interior da teoria linguística, de ferramentas oriundas de modelos matemáticos,
como em Galves & Galves (1995), Cassandro et al. (1999), Niyogi (2006), Yang (2000, 2002),
Galves et al. (2012). Neste projeto, aplicaremos à mudança sintática metodologias desenvolvidas
nos projetos anteriores para validar hipóteses sobre a dinâmica dos processos fonológicos, em
particular na determinação de pontos de corte (cf. Galves et al., 2012) e na modelagem bayesiana de
sequências temporais, baseada na noção de “preditiva” (cf. Frota et al., 2011).
O trabalho de modelagem matemática dos dados linguísticos se dará em colaboração com o Projeto
da USP Matemática, Computação, Linguagem e Cérebro - MacLinc
(http://www.ime.usp.br:8080/MaCLinC/project), ao qual vários pesquisadores deste projeto estão
associados.
27
estudos realizados até agora com base no CTB permitiram consolidar uma descrição da língua
portuguesa dos séc. XVI e XVII (o PCl) que não era disponível antes. Como consequência,
permitiram entender melhor a natureza da variação encontrada nos textos brasileiros do séc. XIX,
confluência de três gramáticas distintas: a do PCl, a do PE e a do PB (cf. Carneiro, 2005; Carneiro
e Galves, 2010). O que falta agora é um conhecimento mais sistemático da evolução da língua
portuguesa no Brasil, naquilo que os textos escritos podem nos informar. Para isso, faz-se
necessário uma grande variedade de gêneros textuais. Isso será possível graças à colaboração com
grupos trabalhando na edição de documentos de toda natureza, parceiros essenciais dessa jornada.
O conjunto de documentos já existindo e a ser incluído na base de dados constitui um fantástico
laboratório para discutir as questões levantadas nas seções anteriores, que estão na ordem do dia da
agenda da sintaxe diacrônica, mais especificamente, e na teoria da gramática, mais geralmente.
Na continuação dos temáticos anteriores, este projeto tem como característica essencial basear o
trabalho de análise diacrônica num grande corpus anotado. Isso implica não somente escolher
textos para compor o corpus, mas elaborar ferramentas para a anotação.
Estado da arte
O Corpus Tycho Brahe, construído ao longo dos dois projetos anteriores, já oferece aos
pesquisadores uma base de dados inédita até então. São atualmente 53 textos totalizando 2.464.191
palavras, 31 dos quais têm anotação morfológica revisada e 15 (+/- 600.000 palavras) têm anotação
sintática revisada. Com base na data de nascimento dos autores, estes 15 textos cobrem o período
que vai de 1502 a 1836, e já permitem trabalhos aprofundados sobre a história da língua do
português clássico ao português europeu moderno. Também dão uma base importante para a
história do português brasileiro, uma vez que permitem tomar como ponto de partida o português
efetivamente trazido ao Brasil e não sua versão moderna, dissipando possíveis equívocos.
Os projetos anteriores também desenvolveram, alem do sistema de anotação, ferramentas
importantes, como o etiquetador automático e a ferramenta de edição eletrônica E-dictor. Essas
ferramentas estão sendo disponibilizadas no site do Corpus, e já estão sendo usadas por vários
grupos brasileiros, com auxílio de membros dos projetos anteriores.
28
Fapesp - de um pesquisador deste temático, e dirá respeito a textos teatrais escritos em Portugal da
alvorada do séc. XVI ao séc. XX, com a seguinte seleção.
29
longo da sua história. Como já foi dito acima, o resultado dessa parceria já redundou na inclusão no
Corpus de textos de uma imensa relevância para a compreensão da história do português no Brasil:
as Cartas brasileiras, já mencionadas e as Atas da Sociedade Protetora dos Desvalidos (cf. Oliveira,
2006) Trata-se de ampliar e sistematizar essa parceria, de maneira que se constitua um corpus
sintaticamente anotado do português brasileiro histórico de pelo menos 500.000 palavras. Desse
corpus deverão também fazer parte textos literários, de maneira a permitir uma comparação
sistemática das duas vertentes do português no Brasil, o ‘culto’ e o ‘popular’ (pelo menos naquilo
que transparece de textos não literários). Está sendo também constituido um corpus de jornais, no
âmbito de teses e dissertações em andamento. Enfim, serão acrescentados textos orais
representativos do português afro-brasileiro.
Os grupos associados a essa pesquisa são os seguintes:
- Projeto Brasiliana Digital/ Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, USP-São Paulo.
- Projeto PHPB-Rio de Janeiro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenado pela
Profa Célia Lopes.
- Projeto PHPB-Bahia, na Universidade Federal da Bahia, coordenado pela Profa Tânia Lobo,
do qual fazem parte os seguintes projetos:
• Projeto CE-DOHS Corpus Eletrônico de Documentos Históricos do Sertão FAPESB,
www.uefs.br/cedohs, coordenado pelas Profas. Zenaide de Oliveira Novais Carneiro e
Mariana Fagundes de Oliveira.
• Projeto Memória Conquistense, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –UESB,
coordenado pelos Profs Cristiane Namiuti e Jorge Viana.
- Projeto Afro-Latin Linguistics: Language Contact in Intercultural Settings, coordenado pela
Profa. Dra. Laura Álvarez-López, da Universidade de Estocolmo.
Já existe uma intensa parceria entre os três grupos baianos e os projetos associados ao Corpus
Tycho Brahe, concretizada em publicações já efetuadas (cf. Lobo e Oliveira, 2009) ou em
planejamento (cf. Lobo, Oliveira & Galves em prep.), em transferência de tecnologia e de
competência, e em parcerias para disponibilização de textos na Internet. A existência de
financiamento para a construção do CTB no âmbito deste projeto temático agilizará essa
cooperação, uma vez que permitirá que mais bolsistas efetuem as tarefas de formatação e anotação
dos textos. O projeto Afro-Latin Linguistics: Language Contact in Intercultural Settings, que conta
com pesquisadores do Brasil, da Suécia e do Uruguai, está iniciando uma cooperação com
pesquisadores da Unicamp para a edição de amostras de fala representativas de variedades africanas
do português, visando à ampliação do CTB.
30
III.3.2. Elaboração de novas ferramentas e melhoria das já existentes:
As ferramentas necessárias ao desenvolvimento do Corpus e seu uso para pesquisa linguística
podem ser classificadas em três tipos:
31
- ferramentas de buscas
O trabalho com o Corpus conta com duas ferramentas essenciais, Corpus Draw e Corpus Search (cf.
http://corpussearch.sourceforge.net/), elaboradas por Beth Randall no âmbito do projeto do Penn-
Helsinki Parsed Corpus of Middle English, coordenado por Anthony Kroch, na Universidade da
Pensilvânia (cf. http://www.ling.upenn.edu/hist-corpora/annotation/index.htm). Corpus Draw
permite agilizar a fase de revisão da saída do analisador, e Corpus Search é a ferramenta com a
qual se fazem as buscas de estruturas sintáticas nos textos anotados. Uma versão para buscas em
textos morfologicamente anotados já está disponível on line no site do Corpus Tycho Brahe. Uma
interface deverá ser elaborada no decorrer do projeto para possibilitar buscas on line em textos
sintaticamente anotados.
Tanto para o desenvolvimento do analisador novo quanto para a procura de interfaces mais
eficientes e amigáveis no uso das ferramentas, ou ainda para o estabelecimento de anotações
sintáticas mais adequadas, a parceria com Anthony Kroch e sua equipe, em particular Beatrice
Santorini, continuará fundamental neste projeto, como foi nos projetos anteriores.
32
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