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COMO PRODUZIR SEUS SUMIS

COMO PRODUZIR
SEUS SUMIS
Nível Básico

Maurício Bastos Jr
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COMO PRODUZIR SEUS SUMIS

SUMI ou SUMIE
É uma palavra japonesa que significa “pintura com tinta”. O nankin,
tinta preta, foi e ainda é muito usada nas pinturas tradicionais do
oriente. Na arte japonesa de pintura e caligrafia, o preto ia de
100% opaco a várias diluições com água. O que proporcionava
todos os tons de preto e cinza aguado.
Esta técnica foi levada para a tatuagem e funcionou tão bem que
até hoje vem sendo aplicada com sucesso.

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COMO PRODUZIR SEUS SUMIS

INTRODUÇÃO

Uma das técnicas mais usadas na tatuagem é preto e cinza. Em


vários estilos ela se faz presente: oriental, realismo, polka, tribal, maori, letras,
biomecânico...
Cada tatuador acaba descobrindo e criando novas formas de obter
seus próprios tons de cinza (pretos diluídos ou misturas entre pigmentos). Mas
mesmo sendo algo bastante pessoal, existe o básico a se aprender para depois
poder criar, customizar, e chegar a uma mistura individual.
Durante minha vida dentro da tatuagem, conheci e convivi com diversos
artistas e profissionais. E com isso, aprendi diversas formas de se trabalhar
com esta técnica. Uma coisa é fato entre todos: ninguém sabe tudo (que não
possa aprender mais) e que ninguém é dono da verdade. O que percebi é que,
é muito difícil se encontrar dois artistas que trabalhem exatamente da mesma
forma. E que, por consequência, usem a mesma mistura (preto e diluente. Ou
pigmentos). Cada um acaba modificando com o tempo o que aprendeu. Até
porque, se aprende mais a cada trabalho.
Bom, então é isso. Vou descrever aqui o que eu aprendi como básico
na técnica de criação de SUMIS. E espero que ajude, a quem se interessar,
a elevar a qualidade do seu trabalho. Foi com este conhecimento inicial que
depois eu fui criando minhas próprias misturas.

Boa sorte!

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COMO PRODUZIR SEUS SUMIS

Qualquer tinta preta (para tatuagem, claro) pode ser usada para se
obter os sumis e cinzas. E criar sombreados. Eu já usei diversos tipos e marcas:
tribal, linha, nacionais e importadas.

Quando comecei me indicaram a Talens – que existe em dois tipos,


Draw e Indian. Usei durante alguns anos. E fiz uso das duas. E são realmente
excelentes. Muitos artistas consagrados usam esta tinta até hoje. E não trocam
por nenhuma outra.

Hoje o que não falta no mercado são pretos: nacionais e importados.


Como eu disse anteriormente, todos eles podem ser usados para se obter seus
Sumis. Cabe a cada um testar e descobrir o que lhe serve melhor. Uns são mais
suaves, menos densos. Outros mais encorpados. Uns mais escuros, outros
nem tanto. Você pode ir testando e fazendo sua própria avaliação.

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COMO PRODUZIR SEUS SUMIS

Leve em conta sempre alguns pontos:

1- Se ele reage bem com seu diluente (mistura de forma uniforme


sem acumular no fundo do frasco).
2- Se aplica bem (o sumi deve “pegar” na pele com facilidade)
3- Se ele fica uniforme na pele (sem variação indesejadas de
tonalidades).
4- Se cicatriza bem.

Uma dica inicial (para que você comece com o pé direito). É dar
preferência para os pretos Linha, da sua marca preferida. Pois eles por serem
menos densos (finos) diluem melhor. Os tribais são mais grossos e, pelo menos
no início, podem oferecer alguma dificuldade para o iniciante.

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Vamos então à prática.

Você vai precisar de:


1- Tinta preta ( a sua escolha)
2- Quatro frascos vazios, esterilizados e com tampa (que lacre
perfeitamente os frascos)
3- Diluente

PRETO:
Já falei sobre ele(s). Escolha o seu de acordo com sua preferência.
Como disse antes, todos eles, sendo apropriados para tatuagem, pode ser
usados.

FRASCOS
O ideal são os feitos para tintas mesmo. Você pode adquirí-los dos
fabricantes de tinta.
Mas, existe uma ótima alternativa, frascos de soro (que são os que eu
mais recomendo, caso não consiga os de tinta). Compre quatro e esvazie-os
(você pode usar o soro como diluente, ou no borrifador).

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DILUENTE

Bom, este é um item de extrema importância no SUMI. E é também


onde se encontra as mais variadas opções.
Os fabricantes de tintas, vendem seus próprios diluentes. O que é
muito bom. Pois você pode usar o preto e o diluente do mesmo fabricante. O
positivo disso é que você vai ter uma mistura bastante confiável e homogenia.
O negativo disso, é que você vai ficar preso a marca da tinta. Se por acaso você
estiver viajando e faltar, você vai ter dificuldades. Eu prefiro usar algo que seja
muito bom e que seja fácil de encontrar em qualquer lugar.

Quando comecei, me indicaram a


usar água destilada (a água para autoclaves).
E eu usei durante muito tempo. Mas não
me sentia bem com ela. Pois durante o
processo da tatuagem, sangrava muito
e o vermelhidão da pele influenciava na
percepção da tonalidade do meu sumi. Ou
seja, eu aplicava uma tonalidade, e parecia
que ela era mais escura. Só ficava realmente
na tonalidade certa, durante a cicatrização.
E isso me incomodava. Depois, um amigo
tatuador bastante experiente me indicou
a formula dele. Depois outro, e assim por
diante. Hoje sei e testei diversos tipos de
diluentes. Consegui os prós e contras de
cada um deles. E passarei aqui para você os
principais.

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PUROS:

ÁGUA DESTILADA
Ótimo diluente. Mas que tem como ponto negativo, ficar um sumi muito
fino (pouco denso) o que faz com que o sangue dilua muito no processo de
tatuagem aumentando assim a quantidade que escorre na pele e o vermelhidão.

SORO
O soro é feito para ser usando no organismo. O que por si só já é uma
vantagem. Mas cai no mesmo problema da água destilada.

VODKA
Dentre os três é a melhor opção. Pois é feita pela água destilada +
álcool. Além de ter uma ótima densidade, ainda possui o álcool em porcentagem
ideal para ser ingerido (não vai fazer nal na pele nem no organismo). E deixa o
sumi estéril (sem possíveis contaminações)

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MISTURAS

ÁGUA DESTILADA + LISTERINE (+ álcool 70% - opcional)


Muitos tatuadores adoram esta fórmula. E realmente funciona bem. Mas
gosto de chamar a atenção sobre um fato importante: Quanto menos você usar
produtos químicos, menos chances você vai ter de causar algum tipo de alergia
no seu cliente. O Listerine é um produto químico industrializado resultante de
vários outros produtos. Isso pode causar alergias em determinadas peles.

ÁGUA DESTILADA + 30% DE GLICERINA


Ótima fórmula. Mas fica faltando o álcool para esterilizar.

VODKA + 30% DE GLICERINA


Na minha opinião, a melhor de todas. Inclusive é a que mais uso. Fica
com uma boa densidade, fica stéril, a pela fica menos vermelha e se recupera
muito rápido. A tonalidade do cinza fica visível mais rapidamente. E cicatriza
muito bem. E são materiais que você pode encontrar fácil onde estiver.

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Estes são apenas alguns dos diluentes. Existem várias outras fórmulas.
Alguns tatuadores gostam de usar produtos como água de rosas, extrato de
hamamélis, which razel etc. Mas como disse antes, este tutorial é apenas ponto
de partida para que você trilhe seu próprio caminho.

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Então você já tem os frascos, a tinta e o diluente. Agora é só fazer as


misturas.
Você vai ter:
1-50% tinta + 50% diluente
2- 30% tinta + 70% diluente
3-20% tinta + 80% diluente
4-10% tinta + 90% diluente

100%

50%

30%

20%
10%

CLARO MÉDIO ESCURO PRETO


10% 20% 30% 50%

Diluente Tinta

• É importante você colocar em cada um dos frascos uma esfera


de vidro (bolinha que vem nas tintas). Você pode reutilizar as que ficam nas
tintas que acabam. Calce as luvas, tire as esferas, limpe-as com álcool 70%
(fazendo bastante fricção) e depois, jogue dentro das suas misturas. Uma em
cada frasco
• Sempre que for usar suas misturas, agite bem cada um dos frascos
antes de encher os batoques.

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Você vai ter as tonalidades: 50% para sombras muito escuras (quase
pretas), 30% sombras escuras, 20% sombras médias, 10% sombras claras.
Lembrando que você completa sua escala com o preto 100% e o branco. Assim
você terá a escala completa para fazer qualquer estilo do “Black and Gray”.

CLARO

MÉDIO

ESCURO

PRETO 50%

PRETO 100%

Cole etiquetas, ou marque com caneta de CD os frascos com seus


respectivos tons (50%, escuro, médio, claro) para poder distingui-los quando
estiver usando.

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E para finalizar esta parte do tutorial, vou explicar que alguns tatuadores
não gostam de usar o sumi já pronto (em frascos). Preferem fazer a mistura nos
batoques pouco antes de tatuar. Eu acho de suma importância o profissional
saber usar as duas opções. Em determinadas situações, você vai ter que se
virar. E nessas horas, seu conhecimento e prática fazem toda a diferença.

Preto Preto 50% Diluente Tinta Branca Tinta Preta

Você vai precisar de batoques grandes, seu diluente e seu preto.


1- Coloque seis batoques na bancada:
2- No primeiro coloque o preto puro (100%).
3- No segundo, metade de preto + metade de diluente (50% + 50%)
4- No terceiro, diluente + três gotas de preto
5- No quarto, diluente + duas gotas de preto
6- No quinto, diluente + uma gota de preto
7- E no sexto, branco puro.

Misture bem cada um deles (pode fazer com a própria máquina ligada
em uma voltagem baixa) E assim você vai ter sua escala de sumis nos batoques.

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DICAS FINAIS

Este é o tutorial básico para se obter seus próprios SUMIS. Mas como
disse no início, é o básico indispensável. Quero concluí-lo deixando algumas
dicas básicas para que tudo ocorra bem na sua tattoo.
1- Durante a tatuagem, não mergulhe a agulha nos batoques sem
limpá-la bem entre uma tonalidade a outra. Se você ficar passando diretamente
de um batoque para outro sem limpar, vai modificar a tonalidade da mistura e
vai ter problemas no resultado final.
2- Sempre guarde seus cinzas em frascos seguros e fechados
(lacrados). Só abra-os no momento de encher o batoque. E logo volte a fechá-
los.
3- Não se prenda nem se limite a uma técnica só. Mantenha-se sempre
ligado em outros métodos e aprenda o quanto puder com outros profissionais.
Aprendemos muito apenas olhando os outros trabalhando. Sempre que tiver
oportunidade, observe!
4- Nivéle-se sempre por cima. Procure melhorar a cada trabalho. Não
existe concorrência para quem trabalha direito e procura fazer sempre melhor
a cada passo.
5- Não se prenda a estilo. Isso é se auto impor limites. Pelo contrário,
acrescente sempre o máximo de possibilidades ao seu leque de conhecimentos.
Criticar ou menosprezar um estilo ou outro, é criar para si mesmo uma cela,
uma gaiola.
6- Escolha artistas consagrados e siga-os diariamente, observando e
absorvendo o que há de positivo nos seus trabalhos ( e que possa melhorar o
seu próprio desenvolvimento).

Então é isso. Espero ter ajudado.


Sucesso!

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MINI BIOGRAFIA

Comecei a tatuar em 2007. Antes trabalhava como ilustrador, arte-


finalista e diretor de arte em agências e editoras. Sou formado em Artes plásticas
(licenciatura) pela Universidade de Brasília. Desde que decidi ser tatuador, fiz
diversos cursos e workshops com vários artistas como : Shige, Henry Anglas,
Dallier, Paulo Fernando, Neneco... E aprendi, e venho aprendendo sempre no
convívio diário com amigos profissionais nos diversos estúdios e convenções
por onde passo. No início, como todos, procurei ganhar (e ganhei) alguns
prêmios em convenções. O que hoje em dia já não faço mais por não ser mais
meu foco. Fui colunista fixo de revistas de arte e tatuagem. Escrevi e publiquei
matérias, desenhos e tutoriais em livros e revistas. Dou preferência, como
tatuador, para trabalhos em preto e cinza. Gosto de Dark side, biomecânico,
realismo e oriental. Apesar de que procuro fazer de tudo. Pois, do meu ponto de
vista, o profissional pode se especializar em estilos, mas deve sempre procurar
fazer de tudo para ser sempre melhor e de mente mais aberta.
Hoje trabalho diariamente com tatuagem. Tenho meus objetivos
direcionados a expandir minhas técnicas e viajar para diversos lugares para
adquirir mais conhecimento e experiências.

Tatuagem é uma arte e como tal, terá sempre meu respeito.

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PRETO & CINZA


Do desenho a tatuagem

Maurício Bastos Jr

Se for do seu interesse continuar o aprendizado, adquira o segundo livro:

PRETO & CINZA - Do desenho a Tatuagem.

Nele eu avanço bem mais no assunto. Começo com bases do desenho, luz
e sombra, passo a passo e criação. Cinzas com sumis e pigmentos, sumis
tonalizados, misturas, decalques, free hands, estilos etc.

Contatos pelo email: mjrtattoo@gmail.com

Coloque no título: Livro Dois

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