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All content following this page was uploaded by Mariana Pohlmann on 08 September 2017.
SUMÁRIO
Este artigo discorre sobre o estudo e desenvolvimento de padronagem com base na iconografia
marajoara e sua aplicação em peças de joalheria. A criação destas texturas visuais se deu por meio
de pesquisa acerca da arte realizada em cerâmicas encontradas na Ilha de Marajó, localizada no
estado do Pará, norte do Brasil. A utilização do equipamento de corte e gravação a laser
possibilitou a aplicação das padronagens geradas em peças para adorno pessoal, tais como
pingente, bracelete e anel. A arte indígena, quando utilizada como referencial para o
desenvolvimento de padronagem, oferece inúmeras possibilidades de arranjos, bem como de
aplicações.
PALAVRAS-CHAVE
Design de superfície, joalheria, corte e gravação a laser, iconografia marajoara.
Na arte marajoara, dentre muitos motivos decorativos utilizados pela tribo, podem ser identificadas
representações zoomórficas relacionadas com animais da fauna da região. Segundo Schaan [96], quando
estas representações são relacionadas com determinados motivos geométricos e, aparentemente,
abstratos, pode-se observar a transformação das representações em desenhos esquematizados para serem
identificados facilmente por outros membros da tribo.
A partir destes signos icônicos, foram convencionadas Unidades Mínimas de Significado1. O conteúdo
semântico se dá pela combinação de várias unidades de significado, formando um todo coerente e
compreensível. Os desenhos formados pela combinação das várias Unidades de Significado estão
relacionados com o repertório mítico da tribo [Schaan96].
Para a realização deste trabalho, foi selecionado o símbolo do Jacaré Mítico (Figura 2A). Nas cerâmicas
marajoaras, são identificadas Unidades Mínimas de Significados que representam figuras antropomórficas
e zoomórficas. A partir do objeto, é elaborada uma representação natural (Figura 2B) e uma representação
estilizada (Figura 2C), de onde se pode captar, então, a estrutura da figura que se quer representar (Figura
2D), até se chegar à Unidade Mínima (Figura 2E).
Figura 2: Processo de identificação das unidades mínimas de significado. A) O objeto; B) A representação natural; C) A
representação estilizada; D) A estrutura e; E) A Unidade Mínima de Significado. Adaptado de Schaan (1996).
Para a geração de módulos partindo da forma geométrica da Unidade Mínima de Significado do Jacaré
Mítico, exercícios de organização compositiva foram realizados com a utilização do software CorelDraw®. A
figura 3A mostra o módulo e a composição feita a partir da repetição deste, gerada pela rotação da
Unidade Mínima de Significado do Jacaré Mítico (Figura 3B). O módulo 2 (Figura 3C) e o módulo 3 (Figura
3D) foram criados por meio de rotação, sobreposição, translação e espelhamento.
1
Nomenclatura atribuída por Schaan [96].
Figura 3: Módulos criados e respectivas padronagens obtidas por repetição.
Para a produção das peças (Figura 4), foi utilizado o equipamento de corte e gravação a laser, modelo Mira,
Automatisa®. O feixe de laser deste aparelho tem potência máxima de 60W e velocidade limite de
500m/min, ambos parâmetros ajustáveis. Os processos industriais que utilizam corte e gravação a laser
vem sendo amplamente empregados, pois se trata de uma ferramenta de altíssima precisão [Bagnato08].
Foram elaboradas 3 pecas de joalheria, buscando materiais distintos, quais sejam: ágata, madeira e couro.O
suporte selecionado para a produção do pingente (Figura 4A) foi ágata. A forma circular da peça foi obtida
por corte por jato d’água. A padronagem resultante da repetição do Módulo 1 (Figura 3A) foi gravada na
superfície do material utilizando a potência máxima do equipamento para a gravação a laser e com
velocidade de 30m/min.
Para a produção do bracelete (Figura 4B), a padronagem obtida com a repetição do Módulo 2 (Figura 3C)
foi gravada em couro. Para tanto, utilizou-se a potência máxima do equipamento de gravação a laser com
velocidade de 30m/min. Para o corte, visando a configuração do couro em bracelete, foram necessárias
cinco passadas de laser, em mesmo percurso, a uma velocidade de 1m/min com potência máxima.
O anel (Figura 4C) foi confeccionado em madeira e o Módulo 3 (Figura 3E) foi gravado em sua superfície.
Neste suporte, a gravação foi feita utilizando a potência máxima do equipamento (60W) e velocidade de
20m/min.
Figura 4: Peças gravadas a laser. A) Pingente de ágata; B) Bracelete de couro e C) Anel de madeira.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados obtidos, pode-se concluir que sempre haverá um vasto campo a ser explorado quando
se faz alusão a elementos indígenas. Ao longo do processo de criação, foram executados inúmeros arranjos
a partir de um único elemento e os resultados das combinações desses arranjos tornam-se, praticamente,
infindáveis.
O equipamento de corte e gravação a laser mostrou-se como uma ferramenta que possibilita a reprodução
das imagens criadas, bem como o corte de peças, de forma extremamente precisa e ágil. Estas
características tornam plausível a produção, em escala industrial, das peças desenvolvidas neste trabalho.
A aplicação dessas padronagens em diferentes escalas e em diferentes materiais naturais ou em metais
para a criação de outras peças de jóia é uma possibilidade para pesquisas futuras.
4. AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa contou com apoio da Capes e CNPq. Agradecemos, também, ao Laboratório de Design e
Seleção de Materiais da UFRGS e ao CTPedras pela disponibilização dos equipamentos. Mariana Pohlmann,
bolsista de Apoio Técnico à Pesquisa (374088/2010-1), agradece ao CNPq pelo apoio.
5. BIBLIOGRAFIA
[Bagnato08] Bagnato, V.S. Laser e suas aplicações em Ciência e Tecnologia. São Paulo: Editora Livraria da
Física, 2008.
[Freire10] Freire, J.R.B. O Patrimônio Cultural Indígena. Disponível em: <http://www.miniweb.com.br/Hist
oria/Artigos/i_contemporanea/PDF/patrimonio_indio.pdf>. Acesso em: 09 out 2010.
[Roosevelt91] Roosevelt, A. C. Moundbuilders of the Amazon: Geophysical Archaeology on Marajo Island,
Brazil. Academic Press, San Diego, 1991.
[Schaan96] Schaan, D. A linguagem iconográfica da cerâmica marajoara. Dissertação de Mestrado. Curso de
Pós-Graduação em História. PUC-RS, 1996.
[Vidal00] Vidal, L. Grafismo Indígena: estudo de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP:
Editora da Universidade de São Paulo, 2000.