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ICONOGRAFIA MARAJOARA Referencial para padronagem aplicada à joalheria


por corte e gravação a laser em materiais naturais

Conference Paper · January 2011

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4 authors, including:

Mariana Pohlmann Evelise Anicet Rüthschilling


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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ICONOGRAFIA MARAJOARA
Referencial para padronagem aplicada à joalheria por corte e gravacao a
laser em materiais naturais

Mariana POHLMANN1, Evelise RÜTHSCHILLING2, Lauren DUARTE3 e Wilson KINDLEIN JR.3


1
PGDesign, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, marianapohlmann@gmail.com
2
PGDesign, NDS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3
PGDesign, LdSM, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

SUMÁRIO
Este artigo discorre sobre o estudo e desenvolvimento de padronagem com base na iconografia
marajoara e sua aplicação em peças de joalheria. A criação destas texturas visuais se deu por meio
de pesquisa acerca da arte realizada em cerâmicas encontradas na Ilha de Marajó, localizada no
estado do Pará, norte do Brasil. A utilização do equipamento de corte e gravação a laser
possibilitou a aplicação das padronagens geradas em peças para adorno pessoal, tais como
pingente, bracelete e anel. A arte indígena, quando utilizada como referencial para o
desenvolvimento de padronagem, oferece inúmeras possibilidades de arranjos, bem como de
aplicações.

PALAVRAS-CHAVE
Design de superfície, joalheria, corte e gravação a laser, iconografia marajoara.

1. A UTILIZAÇÃO DE ELEMENTOS INDÍGENAS COMO REFERENCIAL AO DESIGN


Desde o primeiro século da descoberta do Brasil, os grafismos e manifestações indígenas foram foco de
atenção dos estudiosos que nunca deixaram de registrá-los e estudá-los [Vidal00]. A partir de então, essas
manifestações gráficas vem sendo utilizadas como fonte de inspiração para muitos artistas e designers.
Em 1994, uma coleção de jóias inspirada nos grafismos e formas de adornos utilizados pelos índios
brasileiros foi lançada pela empresa H. Stern®. O estilista Ocimar Versolato reproduziu a arte da cestaria
indígena em pulseiras de ouro usadas durante o desfile de sua coleção de moda, em Paris. A estilista Cecília
Nussembaun produziu brincos em metal com inspiração em cocares e colares indígenas [Freire10].
Seguindo o conceito de divulgação do patrimônio cultural, memória e identidade, este trabalho tem como
objeto de atenção a arte realizada em cerâmicas encontradas na Ilha de Marajó, norte do Brasil, e seu
potencial para ser utilizado como referencial para o processo de criação de padronagens e sua aplicadação
em peças de joalheria.

2. TEXTURAS VISUAIS BASEADAS NA ICONOGRAFIA MARAJOARA E APLICAÇÕES


Na Ilha de Marajó (Figura 1), pertencente ao estado do Pará, norte do Brasil, há indícios de ocupação
humana que indicam que fragmentos de cerâmicas datados de 7 a 8 mil anos, sendo as mais antigas
encontradas nas Américas, até o momento [Roosevelt91].
Figura 1: Localização da Ilha de Marajó. A) Mapa do Brasil e em destaque a região marajoara. B) Ilha de Marajó, pertecente ao
estado do Pará.

Na arte marajoara, dentre muitos motivos decorativos utilizados pela tribo, podem ser identificadas
representações zoomórficas relacionadas com animais da fauna da região. Segundo Schaan [96], quando
estas representações são relacionadas com determinados motivos geométricos e, aparentemente,
abstratos, pode-se observar a transformação das representações em desenhos esquematizados para serem
identificados facilmente por outros membros da tribo.
A partir destes signos icônicos, foram convencionadas Unidades Mínimas de Significado1. O conteúdo
semântico se dá pela combinação de várias unidades de significado, formando um todo coerente e
compreensível. Os desenhos formados pela combinação das várias Unidades de Significado estão
relacionados com o repertório mítico da tribo [Schaan96].
Para a realização deste trabalho, foi selecionado o símbolo do Jacaré Mítico (Figura 2A). Nas cerâmicas
marajoaras, são identificadas Unidades Mínimas de Significados que representam figuras antropomórficas
e zoomórficas. A partir do objeto, é elaborada uma representação natural (Figura 2B) e uma representação
estilizada (Figura 2C), de onde se pode captar, então, a estrutura da figura que se quer representar (Figura
2D), até se chegar à Unidade Mínima (Figura 2E).

Figura 2: Processo de identificação das unidades mínimas de significado. A) O objeto; B) A representação natural; C) A
representação estilizada; D) A estrutura e; E) A Unidade Mínima de Significado. Adaptado de Schaan (1996).

Para a geração de módulos partindo da forma geométrica da Unidade Mínima de Significado do Jacaré
Mítico, exercícios de organização compositiva foram realizados com a utilização do software CorelDraw®. A
figura 3A mostra o módulo e a composição feita a partir da repetição deste, gerada pela rotação da
Unidade Mínima de Significado do Jacaré Mítico (Figura 3B). O módulo 2 (Figura 3C) e o módulo 3 (Figura
3D) foram criados por meio de rotação, sobreposição, translação e espelhamento.

1
Nomenclatura atribuída por Schaan [96].
Figura 3: Módulos criados e respectivas padronagens obtidas por repetição.

Para a produção das peças (Figura 4), foi utilizado o equipamento de corte e gravação a laser, modelo Mira,
Automatisa®. O feixe de laser deste aparelho tem potência máxima de 60W e velocidade limite de
500m/min, ambos parâmetros ajustáveis. Os processos industriais que utilizam corte e gravação a laser
vem sendo amplamente empregados, pois se trata de uma ferramenta de altíssima precisão [Bagnato08].
Foram elaboradas 3 pecas de joalheria, buscando materiais distintos, quais sejam: ágata, madeira e couro.O
suporte selecionado para a produção do pingente (Figura 4A) foi ágata. A forma circular da peça foi obtida
por corte por jato d’água. A padronagem resultante da repetição do Módulo 1 (Figura 3A) foi gravada na
superfície do material utilizando a potência máxima do equipamento para a gravação a laser e com
velocidade de 30m/min.
Para a produção do bracelete (Figura 4B), a padronagem obtida com a repetição do Módulo 2 (Figura 3C)
foi gravada em couro. Para tanto, utilizou-se a potência máxima do equipamento de gravação a laser com
velocidade de 30m/min. Para o corte, visando a configuração do couro em bracelete, foram necessárias
cinco passadas de laser, em mesmo percurso, a uma velocidade de 1m/min com potência máxima.
O anel (Figura 4C) foi confeccionado em madeira e o Módulo 3 (Figura 3E) foi gravado em sua superfície.
Neste suporte, a gravação foi feita utilizando a potência máxima do equipamento (60W) e velocidade de
20m/min.
Figura 4: Peças gravadas a laser. A) Pingente de ágata; B) Bracelete de couro e C) Anel de madeira.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados obtidos, pode-se concluir que sempre haverá um vasto campo a ser explorado quando
se faz alusão a elementos indígenas. Ao longo do processo de criação, foram executados inúmeros arranjos
a partir de um único elemento e os resultados das combinações desses arranjos tornam-se, praticamente,
infindáveis.
O equipamento de corte e gravação a laser mostrou-se como uma ferramenta que possibilita a reprodução
das imagens criadas, bem como o corte de peças, de forma extremamente precisa e ágil. Estas
características tornam plausível a produção, em escala industrial, das peças desenvolvidas neste trabalho.
A aplicação dessas padronagens em diferentes escalas e em diferentes materiais naturais ou em metais
para a criação de outras peças de jóia é uma possibilidade para pesquisas futuras.

4. AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa contou com apoio da Capes e CNPq. Agradecemos, também, ao Laboratório de Design e
Seleção de Materiais da UFRGS e ao CTPedras pela disponibilização dos equipamentos. Mariana Pohlmann,
bolsista de Apoio Técnico à Pesquisa (374088/2010-1), agradece ao CNPq pelo apoio.

5. BIBLIOGRAFIA
[Bagnato08] Bagnato, V.S. Laser e suas aplicações em Ciência e Tecnologia. São Paulo: Editora Livraria da
Física, 2008.
[Freire10] Freire, J.R.B. O Patrimônio Cultural Indígena. Disponível em: <http://www.miniweb.com.br/Hist
oria/Artigos/i_contemporanea/PDF/patrimonio_indio.pdf>. Acesso em: 09 out 2010.
[Roosevelt91] Roosevelt, A. C. Moundbuilders of the Amazon: Geophysical Archaeology on Marajo Island,
Brazil. Academic Press, San Diego, 1991.
[Schaan96] Schaan, D. A linguagem iconográfica da cerâmica marajoara. Dissertação de Mestrado. Curso de
Pós-Graduação em História. PUC-RS, 1996.
[Vidal00] Vidal, L. Grafismo Indígena: estudo de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP:
Editora da Universidade de São Paulo, 2000.

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