Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
TESE DE DOUTORADO
NATAL, RN
Junho/2023
RONALDO DOS SANTOS FALCÃO FILHO
NATAL, RN
Junho/2023
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Sistema de Bibliotecas – SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Central Zila Mamede
PRODUÇÃO DE FOTOCATALISADORES DE Nb2O5 IMOBILIZADO EM SUPORTE
CERÂMICO PARA FOTODEGRADAÇÃO DE CORANTE SINTÉTICO EM EFLUENTES
LÍQUIDOS
Este trabalho foi avaliado como adequado para obtenção do título de “Doutor em Engenharia
Química” e aprovado pela banca examinadora:
DEDICATÓRIA
Agradeço primeiro a Deus por ter me mantido na trilha certa durante este projeto de pesquisa
com saúde e forças para chegar até o final.
Ao meu orientador Prof. Dr. André Luís Lopes Moriyama por aceitar conduzir o meu trabalho
de tese, sempre com confiança e compreensão.
Ao Prof. Dr. Carlson Pereira de Souza por coordenar o LAMNRC com muita tranquilidade e
confiança na equipe.
Aos membros da banca pelas contribuições relevantes no meu trabalho e por participarem de
minha defesa de tese de doutorado.
Aos amigos do LAMNRC que me acompanharam durante essa jornada.
Ao PPGEQ/UFRN por ter sido a minha segunda casa, durante o período do doutorado.
E, finalmente, ao IFRN por me conceder as condições necessárias de afastamento do trabalho,
para que eu pudesse me dedicar integralmente ao doutorado.
FALCÃO FILHO, R. S. Produção de fotocatalisadores de Nb2O5 imobilizado em suporte cerâmico
para fotodegradação de corante sintético em efluentes líquidos. Tese de Doutorado, UFRN, Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Química. Área de concentração: Engenharia Química. Linha de
pesquisa: Engenharia Ambiental. Natal, Brasil, 2023.
Resumo: A poluição das águas é um grave problema que afeta o meio ambiental e ser humano. Os
corantes sintéticos compõem uma classe importante de contaminantes que afeta a qualidade das
águas, entre esses está o azul de metileno (AM). O objetivo deste trabalho foi produzir materiais
cerâmicos com propriedade fotocatalítica de Nb2O5 imobilizado em suporte de cerâmica vermelha
capazes de remover micropoluentes de efluentes sintéticos. Para tanto, foram produzidos dois tipos
de materiais cerâmicos: no primeiro tipo, o Nb2O5, em diferentes proporções variando de 10,8% a
19,2%, foi incorporado à argila comum tratada e a mistura foi homogeneizada com água para formar
uma massa plástica que foi moldada, seca e, finalmente, os materiais foram tratados termicamente a
temperaturas entre 850° C e 1050° C; já no segundo tipo, o material fotocatalítico foi produzido por
aplicação de um revestimento com 60% Nb2O5 sobre um suporte de cerâmica vermelha, que foi
preparado de forma semelhante ao primeiro tipo, porém foi queimado apenas a 850° C. Os materiais
foram caracterizados por análise granulométrica, umidade higroscópica, FRX, DRX, MEV, ERD,
ATG, PCZ, propriedades tecnológicas. Um planejamento experimental do tipo DCCR com 22
corridas fatoriais, 2.2 corridas axiais e 2 corridas no ponto central foi usado para escolher o material
com Nb2O5 incorporado, usando a remoção do AM como variável de resposta. Dessa forma, o
material produzido com 15% de Nb2O5 e temperatura de queima de 850° C foi escolhido por remover
80,26% da concentração de AM. O material revestido com 60% de Nb2O5 ele foi avaliado quanto à
remoção de AM em função das variáveis pH (5, 7 e 9) e [H2O2] (0, 50 e 100 mg/L), nesse caso,
utilizou-se um planejamento do tipo DCC-FC com 22 corridas fatoriais, 2.2 corridas axiais e 2 corridas
no ponto central, a avaliação do modelo obtido mostrou que a variável [H2O2] não foi significativa,
na faixa estudada, e o pH ótimo para remoção de AM foi 8,0. O material com Nb2O5 incorporado
apresentou Eg = 1,95 eV e o com revestimento de 60% de Nb2O5 apresentou Eg = 2,94 eV. Além
disso, os dois tipos de materiais apresentaram excelentes capacidades de regeneração após 5 ciclos
mantendo remoções próximas a 90%. Os materiais fotocatalíticos produzidos com Nb2O5 imobilizado
em suportes de cerâmica vermelha apresentaram capacidade de remover AM em efluente sintético,
sendo o material com revestimento de Nb2O5 promissor por apresentar Eg próxima à do óxido puro,
simplicidade de obtenção, elevadas capacidades de remoção e de recuperação.
Palavras-chave: Fotocatálise heterogênea. Poluição ambiental. Tratamento de efluentes. Cerâmica
vermelha. Argila.
FALCÃO FILHO, R. S. Production of Nb2O5 photocatalysts immobilized on ceramic support for
photodegradation of synthetic dye in liquid effluents. Doctoral Thesis, UFRN, Graduate Program in
Chemical Engineering. Area of concentration: Chemical Engineering. Line of research:
Environmental Engineering. Natal, Brazil, 2023.
Water pollution is a serious problem that affects the environment and human beings. Synthetic dyes
make up an important class of contaminants that affect water quality, among which is methylene blue
(MB). The objective of this work was to produce ceramic materials with photocatalytic property of
Nb2O5 immobilized on a red ceramic support capable of removing micropollutants from synthetic
effluents. For this purpose, two different types of ceramic materials were produced: in the first type,
Nb2O5, in different proportions ranging from 10.8% to 19.2%, was incorporated into treated common
clay and the mixture was homogenized with water to form a plastic mass that was moulded, dried
and, finally, the materials were thermally treated at temperatures between 850°C and 1050°C; in the
second type, the photocatalytic material was produced by applying a coating with 60% Nb2O5 on a
red ceramic support, which was prepared similarly to the first type, but was only fired at 850° C. The
materials were characterized by granulometric analysis, hygroscopic humidity, XRF, XRD, SEM,
DRS, TGA, PCZ, technological properties. An experimental design of the CCD type with 22 factorial
runs, 2.2 axial runs and 2 runs at the central point was used to choose the material with incorporated
Nb2O5, using the removal of MB as a response variable, thus, the material produced with 15% of
Nb2O5 and a firing temperature of 850°C was chosen because it removes 80.26% of the MB
concentration. In the case of the material coated with 60% Nb2O5, as it was the only one, it was
evaluated for MB removal as a function of the pH (5, 7 and 9) and [H2O2] (0, 50 and 100 mg/L)
variables, in this case, a planning of the CCD-FC type was used with 22 factorial runs, 2.2 axial runs
and 2 runs at the central point, the evaluation of the obtained model showed that the variable [H2O2]
was not significant, in the range studied, and the Optimal pH for MB removal was 8.0. The material
with incorporated Nb2O5 presented Eg = 1.95 eV and the one with 60% Nb2O5 coating presented Eg
= 2.94 eV. In addition, both types of materials showed excellent regeneration capabilities after 5
cycles, maintaining removals close to 90%. The photocatalytic materials produced with Nb2O5
immobilized on red ceramic supports showed the ability to remove MB in synthetic effluent, with the
material coated with Nb2O5 promising because it presents Eg close to that of the pure oxide, simplicity
of obtaining, high removal and recovery capacities.
Figura 3.1 - Produção mundial de minérios contendo nióbio entre 1994 e 2012. 22
Figura 4.4 - Fotografia da massa plástica de Nb2O5 e argila aplicada nos moldes 28
Tabela 6.3 - Análise de variância para ajuste de modelo dos dados do DCCR. 72
1. Introdução ............................................................................................................................. 13
2. Objetivos ............................................................................................................................... 18
2.1. Objetivo geral ...................................................................................................................... 18
2.2. Objetivos específicos ........................................................................................................... 18
3. Revisão bibliográfica ............................................................................................................ 21
3.1. Nióbio e pentóxido de nióbio .............................................................................................. 21
3.2. Cerâmica vermelha e suportes para imobilização de fotocatalisadores .............................. 22
3.3. Corante sintético azul de metileno ...................................................................................... 23
4. Material e métodos ............................................................................................................... 26
4.1. Obtenção e preparação da argila ......................................................................................... 26
4.2. Preparação das placas cerâmicas ......................................................................................... 27
4.3. Caracterizações dos materiais ............................................................................................. 31
4.1.1. Análise granulométrica ........................................................................................................ 31
4.1.2. Fluorescência de raios-X (FRX) ......................................................................................... 31
4.1.3. Umidade higroscópica .......................................................................................................... 31
4.1.4. Determinação do ponto de carga zero (PCZ) .................................................................... 32
4.1.5. Difratometria de raios-X (DRX) ......................................................................................... 32
4.1.6. Microscopia eletrônica de varredura (MEV)..................................................................... 32
4.1.7. Espectroscopia UV-Vis de refletância difusa.................................................................... 33
4.1.8. Análises térmicas (TGA e DTA) ........................................................................................ 34
4.1.9. Determinação das propriedades tecnológicas das cerâmicas .......................................... 34
4.2. Planejamento experimental e otimização de processos ....................................................... 35
4.2.1. Otimização da produção do material fotocatalítico com incorporação de Nb2O5 ........ 35
4.2.2. Otimização das variáveis de processo de remoção de AM ............................................. 37
4.3. Modelagem da cinética de remoção do AM ........................................................................ 39
4.4. Avaliação dos ciclos de regeneração ................................................................................... 40
4.5. Constituição do fotorreator .................................................................................................. 41
5. Uma breve revisão sobre fotocatálise heterogênea como técnica para degradação de
contaminantes emergentes e de desinfecção de águas residuárias .............................................. 44
5.1. Introdução............................................................................................................................ 44
5.2. Fotocatálise .......................................................................................................................... 46
5.3. Propriedades de fotocatalisadores e técnicas de caracterização .......................................... 49
5.4. Modelos cinéticos de degradação de poluente .................................................................... 53
5.5. Aplicação da fotocatálise no tratamento de águas residuárias ............................................ 55
5.6. Degradação fotocatalítica de contaminantes emergentes em águas residuárias.................. 56
5.7. Desinfecção fotocatalítica de águas residuárias .................................................................. 59
5.8. Conclusão ............................................................................................................................ 62
6. Nb2O5 Imobilizado em suporte de cerâmica vermelha para remoção de corante azul de
metileno por fotocatálise heterogênea ............................................................................................ 65
6.1 Introdução................................................................................................................................. 66
6.2 Materiais e métodos............................................................................................................. 67
6.2.1. Obtenção e preparação da argila ......................................................................................... 67
6.2.2. Mistura e obtenção das placas cerâmicas .......................................................................... 67
6.2.3. Avaliação da capacidade fotocatalítica das cerâmicas produzidas................................. 68
6.2.4. Planejamento de experimental ............................................................................................ 69
6.2.5. Caracterizações dos materiais ............................................................................................. 70
6.3. Resultados e discussão ........................................................................................................ 71
6.3.1. Delineamento experimental ................................................................................................. 71
6.3.2. Caracterizações dos materiais ............................................................................................. 73
6.3.3. Cinética de remoção de azul de metileno .......................................................................... 79
6.3.4. Avaliação da recuperação do material fotocatalítico ....................................................... 81
6.4. Conclusão ................................................................................................................................ 82
7. Produção de material fotocatalítico composto de substrato de cerâmica vermelha
revestida com Nb2O5 para remoção de azul de metileno.............................................................. 85
7.1. Introdução................................................................................................................................ 86
7.2. Material e métodos .................................................................................................................. 88
7.2.1. Obtenção e preparação da argila ...................................................................................................... 88
7.2.2. Preparação do suporte........................................................................................................................ 88
7.2.3. Preparação do revestimento fotocatalítico ...................................................................................... 88
7.2.4. Obtenção do material fotocatalítico sobre o suporte ..................................................................... 89
7.2.5. Caracterização dos materiais ............................................................................................................ 89
7.2.6. Aplicação em processo oxidativo avançado do material .............................................................. 90
7.2.7. Planejamento experimental ............................................................................................................... 90
7.2.7. Eficiência da reutilização do material fotocatalítico ..................................................................... 91
7.3. Resultados e discussão ............................................................................................................ 91
7.4. Conclusão .............................................................................................................................. 100
8. Conclusões e sugestões para trabalhos futuros ............................................................... 103
8.1. Conclusões............................................................................................................................. 103
8.2. Sugestões para trabalhos futuros ........................................................................................... 104
Referências bibliográficas ............................................................................................................. 106
Anexo. .............................................................................................................................................. 115
CAPÍTULO 1:
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1: Introdução 13
1. Introdução
A poluição das águas devido às atividades antrópicas é um grave problema ambiental, sendo
o ser humano um dos maiores prejudicados por suas próprias ações. Por isso, um dos principais
motivos pelos quais as águas residuárias devem ser tratadas antes de serem lançadas nos corpos
receptores é preservar a saúde humana.
De acordo com o Atlas Esgotos da Agência Nacional de Águas (ANA), no Brasil apenas 55
% da população tem acesso ao tratamento o considerado adequado de esgoto; 18 % tem seu esgoto
coletado e não tratado, o que pode ser considerado como um atendimento precário; e 27 % não
possuem coleta nem tratamento, isto é, sem atendimento por serviço de coleta sanitário (BRASIL,
2017).
Contudo, mesmo que a cobertura nacional de esgotamento sanitário fosse plena, cerca de 99%
das estações de tratamento de efluentes (ETEs) operam com tratamento convencional. Essas ETEs
são projetadas para remover contaminantes convencionais, tais como, sólidos e matéria
orgânica biodegradável (CARTAXO et al., 2019; MONTAGNER; VIDAL; ACAYABA, 2017)
Dessa forma, as ETEs atuais não foram projetadas com a capacidade de eliminar
micropoluentes, sendo que muitos desses têm a capacidade de atravessar o processo de tratamento
convencional, porque muitos deles são recalcitrantes ou são introduzidos continuamente no sistema
se tratamento (LUO et al., 2014).
Por conta dos lançamentos indiscriminados e tratamentos inadequados de efluentes, a cada
dia, mais micropoluentes orgânicos, em concentrações de ordens de ng/L a mg/L, estão sendo
encontrados em amostras de água em muitos lugares do mundo (GLIENKE; STELTER;
BRAEUTIGAM, 2022; LUO et al., 2014).
Entre esses micropoluentes orgânicos estão substâncias como desreguladores endócrinos,
produtos farmacêuticos, corantes sintéticos, agrotóxicos, entre outros. Esses produtos podem trazer
riscos ao meio ambiente e à saúde humana, sobre esta última pode incluir disrupção endócrina e
hormonal, reprodução, câncer, diabetes, obesidade e a fraqueza do sistema imunológico
(BENSTOEM et al., 2018; WANG et al., 2021).
Como citado anteriormente, os corantes sintéticos estão entre os micropoluentes que afetam a
qualidade da água, com ampla presença em efluentes de indústrias têxteis, de papel, alimentícia, entre
outras. Os corantes sintéticos afetam a questão estética da água, podem induzir efeitos mutagênicos
e carcinogênicos na biota aquática, tornam a água colorida, reduzindo a penetração da luz, o que afeta
Capítulo 3 – Revisão bibliográfica: aqui se fez uma revisão geral e breve sobre os
principais conceitos abordados na tese, pois o quinto capítulo traz um trabalho que foi
dedicado a fazer uma revisão mais abrangente sobre a fotocatálise heterogênea, e ao
final foi realizado um levantamento sobre o estado da arte no que se refere à trabalhos
relacionados com Nb2O5 e fotocatálise;
Capítulo 4 – Material e métodos: o quarto capítulo destina-se a mostrar, de forma
detalhada, a preparação e obtenção dos materiais, com os detalhamentos e ilustrações
importantes para compreensão do leitor e para facilitar a reprodução das técnicas em
trabalhos futuros;
Capítulo 5 – Uma breve revisão sobre fotocatálise heterogênea como técnica para
degradação de contaminantes emergentes e de desinfecção de águas residuárias:
esse capítulo traz um trabalho publicado como um capítulo do livro ALTERNATIVAS
DE DISPONIBILIDADE E USO DOS RECURSOS HÍDRICOS PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SEMIÁRIDO, que foi publicado em
2022 pela EDUEPB. Como o título diz, esse trabalho trouxe uma revisão sobre o
processo oxidativo avançado fotocatálise heterogênea aplicada ao tratamento de águas
residuárias;
Capítulo 6 – Nb2O5 imobilizado em suporte de cerâmica vermelha para remoção
de corante azul de metileno por fotocatálise heterogênea: o sexto capítulo da tese
apresenta um trabalho escrito em formato de artigo, que será submetido em periódico
científico de impacto relevante na área de Engenharia Química. O objetivo do trabalho
foi produzir um material fotocatalítico a base de Nb2O5 imobilizado em cerâmica
vermelha. Para tanto, aplicou-se um planejamento DCCR com temperatura de queima
da cerâmica e concentração de Nb2O5 como variáveis independentes e remoção de AM
como resposta.
Capítulo 7 – Produção de material fotocatalítico composto de substrato de
cerâmica vermelha revestida com Nb2O5 para remoção de azul de metileno: o
sétimo capítulo da tese apresenta o segundo artigo produzido a partir dos resultados
da pesquisa do doutorado. Esse artigo também será submetido para publicação em
periódico com relevância na área de Engenharia Química. O objetivo deste trabalho
foi preparar um material fotocatalisador de Nb2O5 imobilizado em um revestimento
aplicado sobre um substrato de cerâmica vermelha efetivo para remoção o corante azul
de metileno do efluente sintético.
Capítulo Final – Conclusões e sugestões para trabalhos futuros: o último capítulo
da tese traz conclusões do trabalho, bem como as sugestões para trabalhos futuros.
2. Objetivos
Neste capítulo estão os objetivos propostos para a tese. Sendo esses divididos em objetivo
principal e objetivos específicos. Em que, o objetivo geral está ligado a uma visão global, abrangente
do tema e diretamente à própria significação da tese proposta pelo projeto. Enquanto os objetivos
específicos apresentam caráter mais concreto e instrumental, permitindo, de um lado, atingir o
objetivo geral e, de outro, aplicar este a situações particulares (PRODANOV; FREITAS, 2013).
3. Revisão bibliográfica
Nesta seção será apresentada a revisão bibliográfica que embasará esta tese. Segundo Zomer,
Cauchick-Miguel e Carvalho (ZOMER; CAUCHICK-MIGUEL; CARVALHO, 2019), trata-se um
texto redigido em linguagem acadêmica resultante de busca, recuperação e organização da literatura
sobre o tema pesquisado e que proporciona a base teórica para o desenvolvimento do trabalho de
pesquisa.
Destaca-se que neste capítulo foi realizada uma revisão reduzida abordando apenas os pontos
que não foram contemplados no trabalho de revisão que foi publicado na forma de capítulo de livro
e que consta no Capítulo 5 deste trabalho.
Atualmente, os materiais com nióbio em sua composição têm se destacado com aplicações
especiais em diversos ramos da indústria, em destaque, setores como aeroespacial, eletroeletrônica e
química. Esses materiais são praticamente insubstituíveis para esses setores, isso faz o nióbio ser um
elemento fundamental para o desenvolvimento industrial (LOPES et al., 2015a).
O nióbio é um metal de transição, de número atômico 41, massa atômica 92,90638 unidades
de massa atômica e pertencente ao grupo 5 da tabela periódica. É considerado um elemento raro,
considerado como elemento de alta resistência de campo (highfield-strength element – HFSE).
Destacam-se algumas propriedades do Nb: ponto de fusão de 2.468° C, ponto de ebulição de 4.930°
C e densidade de 8,57 g/cm3 (MACKAY; SIMANDL, 2014).
A abundância de nióbio na terra estimada em 20 ppm. O nióbio não existe em uma forma
metálica pura, mas é frequentemente encontrado como misturas com outros metais em minerais, que
são distribuídos de forma desigual ao redor do globo (SU et al., 2021).
O Brasil detém mais de 90% da produção mundial desse material, tendo a produção de seu
minério bruto em 2021 atingido a marca de cerca de 15,5 mil toneladas, com teor de Nb2O5 de 1,23%
e produção beneficiada de aproximadamente 209 mil toneladas, com teor de 53,81% (ALVES;
COUTINHO, 2019; ANM, 2022). A Figura 3.1 mostra o crescimento da produção de minérios
contendo Nb, com destaque para o Brasil como maior produtor.
Figura 3.1 - Produção mundial de minérios contendo nióbio entre 1994 e 2012.
Fonte: Mackay e Simandl (2014).
O pentóxido de nióbio (Nb2O5) é um dos óxidos formados pelo elemento nióbio (Nb), esse
óxido é um semicondutor do tipo-n. Ele apresenta polimorfismo e sua estrutura depende de como foi
preparado, por exemplo, o Nb2O5 amorfo se transforma na fase pseudohexagonal (TT-Nb2O5), fase
ortorrômbica (T-Nb2O5) e fase monoclínica (H-Nb2O5) seguindo o incremento de temperatura (SU et
al., 2021).
No campo da catálise, os pós de nióbio e o Nb2O5 obtidos dos minerais são a matéria-prima
para a produção de cloreto de nióbio, oxalato de nióbio, oxalato de nióbio amoniacal, pentabutóxido
de nióbio e outros sais orgânicos de nióbio, que podem ser utilizados para posterior preparação de
Nb2O5 nanoestruturado devido às diferenças de acidez, alcalinidade e solubilidade (SU et al., 2021).
No tocante à fotocatálise heterogênea, o Nb2O5 apresenta energias de banda proibida
(bandgap) entre 3,1 a 4,0 eV e valores apropriados de potenciais redox de bandas de valência e de
condução, o que torna o material propício para aplicações em fotocatalíticas (LOPES et al., 2015a).
Os corantes são substâncias orgânicas aromáticas que absorvem luz na região do espectro
visível e conferem cor aos materiais. Atualmente, são conhecidos mais de 100.000 tipos de corantes
comerciais, com produção anual entre 700 milhões a 1 bilhão de toneladas (BENKHAYA; M’
RABET; EL HARFI, 2020; BOURAS et al., 2020).
Entre esses milhares de tipos diferentes de corantes está o azul de metileno, corante básico,
heterocíclico e aromático, de fórmula molecular C16H18N3ClS e massa molar de 319,85 g/mol. Sua
absorção máxima é no comprimento de onda de 663 nm e sua classificação de índice de cor é (CI)
52015 (KHAN et al., 2022). As fórmulas estruturais de ressonância do azul estão apresentadas na
Figura 3.2.
4. Material e métodos
Nesta seção foram relacionados os materiais necessários para a execução deste trabalho, tais
como, insumos, equipamentos e softwares. E foram descritos os métodos experimentais, analíticos e
estatísticos utilizados para obtenção dos resultados que se pretenderam alcançar.
Este trabalho foi realizado entre os anos de 2021 e 2023 nas dependências da UFRN Campus
Central, no Laboratório de Materiais Nanoestruturados e Reatores Catalíticos (LAMNRC), no IFRN
Campus Currais Novos, no Laboratório de Meio Ambiente (LAMA) e no CT-Mineral do IFRN. Além
disso, caraterizações dos materiais foram realizadas em laboratórios diversos da UFRN, IFRN e de
outras instituições.
Uma quantidade de aproximadamente 20 kg de argila bruta foi recebida como doação de uma
indústria ceramista do município de Parelhas-RN. O material foi levado às dependências do CT-
Mineral para condicionamento da argila.
Incialmente, o material passou por uma limpeza grosseira para remoção de raízes e
pedregulhos, em seguida, o material foi desaglomerado usando um moinho de bolas por 5 min,
usaram-se tarugos de aço no lugar das esferas.
Depois da desaglomeração, procedeu-se um peneiramento manual em peneira de ASTM 5
(abertura nominal 4 mm) e o material passante obtido passou por um segundo peneiramento em
peneira ASTM 40 (abertura nominal de 0,420 mm). Dessa forma, obteve-se a argila tratada que foi
usada para produção dos materiais fotocatalíticos. As fotografias apresentadas na Figura 1 mostram
alguns momentos do condicionamento da argila.
Figura 4.1 - Processo de condicionamento da argila: (A) moinho, (B) argila 4 mm e (C) argila
tratada 0,420 mm.
Fonte: autoria própria (2023).
O fluxograma apresentado na Figura 4.2 representa a combinação dos dois processos para
produção das placas cerâmicas do fotocatalisador Nb2O5 imobilizado em suporte de cerâmica
vermelha. Numa via o fotocatalisador foi misturado à argila preparada e ficou disseminado por toda
peça e, na outra via, preparou-se um revestimento à base de Nb2O5 que foi aplicado em uma das
superfícies da peça que não continha o fotocatalisador.
Nb2O5
(concentrações do
Homogeneização Homogeneização Água (limite de
delineamento)
plasticidade)
Água (limite de
plasticidade)
Enformagem Enformagem
Argila preparada
Nb2O5 (60%)
Pré-secagem Aplicação do Revestimento
revestimento Água (limite de
plasticidade)
Desenformagem Pré-secagem
Figura 4.2 – Fluxograma de produção das placas de material fotocatalítico de Nb2O5 imobilizado
em cerâmica vermelha.
Fonte: autoria própria (2023).
destilada até atingir o limite de plasticidade das misturas, que foram todos próximos a 25% de água,
em relação às misturas e considerando que a argila preparada apresentou 3% de umidade, essa foi a
etapa de homogeneização das massas.
Em seguida, as massas, plásticas e homogêneas, foram aplicadas em moldes quadrados de
acrílico com 17 mm de lados e 2 mm de espessura. Como mostrado na Figura 4.3.
Figura 4.3 - Fotografia da massa plástica de Nb2O5 e argila aplicada nos moldes.
Fonte: autoria própria (2023).
Depois disso, os materiais passaram por secagem em temperatura ambiente, para enrijecer e
descolar as peças das paredes dos moldes. Em seguida, as peças foram desenformadas e levadas à
etapa de tratamentos térmicos. As peças desenformadas são mostradas na Figura 4.4.
Figura 4.4 - Fotografia da massa plástica de Nb2O5 e argila aplicada nos moldes.
Fonte: autoria própria (2023).
Os materiais usados e obtidos neste trabalho foram caracterizados por diversos métodos para
subsidiar a elucidação dos comportamentos e propriedades dos materiais em questão.
A umidade higroscópica da argila tratada foi determinada por perda de massa entra a amostra
inicial e amostra seca a 105° C, até peso constante, segundo o manual de análises de solos da Embrapa
(TEIXEIRA, 2017).
A técnica de difração de raios-X (DRX) foi empregada para identificar as fases cristalinas
presentes e analisar o comportamento e a evolução das fases nos materiais cerâmicos produzidos. As
medidas foram obtidas com um difratômetro utilizando radiação Cu-Kα (λ = 1,5406 Å). A taxa de
varredura foi de 0,01º/s para um intervalo em 2θ de 2º a 80º com taxa de varredura de 1°C/min.
Os difratogramas foram comparados com os padrões reportados nas fichas cristalográficas
JCPDS (Joint Committee on Powder Diffraction Standards) utilizando o Software PANalytic X’Pert
PRO©. Este tipo de análise possui natureza qualitativa permitindo constatar apenas a presença de
possíveis fases nas amostras objeto de estudo.
As morfologias dos materiais foram avaliadas por MEV, usando um microscópio TESCAN
modelo VEJA. Observaram-se tamanho de partículas, distribuição e forma dos poros da cerâmica e a
distribuição das partículas de Nb2O5, em graus diferentes de ampliação.
Para estimar a energia de banda ótica proibida do material, doravante chamada energia de
bandgap (Eg), foi usada a técnica de ERD (espectroscopia de refletância difusa), usando um
espectrofotômetro UV-Vis-NIR SHIMADZU UV-3600i, equipado com os acessórios para medição
de refletância difusa. Os espectros de refletância difusa foram obtidos na região entre 200 e 800 nm
e todas as medidas foram realizadas em temperatura ambiente utilizando o sulfato de bário (BaSO4)
como amostra de referência para as medidas da refletância.
Para a estimativa das Eg dos materiais fotocatalíticos produzidos, usou-se a função de
Kubelka-Munk. Por meio da aplicação dessa função foi possível determinar o coeficiente de absorção
por meio da medição da reflectância difusa na região do UV-visível, pois essa função correlaciona o
coeficiente de absorção com a reflectância (AMULYA et al., 2020, apud SILVA, 2022), como mostra
a Equação (4.1).
(1 − 𝑅 )
𝐹( ) =𝛼= 𝐸𝑞. (4.1)
2𝑅
Em que,
– Coeficiente de absorção
R– Refletância do material no comprimento de onda
F(R) – Função Kubelka-Munk
A energia de bandgap e o coeficiente de absorção α de um semicondutor, obtida pela
sua relação com F(R), são relacionados através da Equação (4.2).
A análise conjunta de TGA/DTA foi realizada em uma amostra de argila tratada usando um
analisador termogravimétrico (Shimadzu modelo DTG 60H), na faixa de temperatura entre 25° C a
1000° C, utilizando uma taxa de aquecimento de 20°C/min, fluxo de 110 mL/min de N2 e cadinho de
alumina.
𝑃 −𝑃
𝑃𝐴(%) = . 100 𝐸𝑞. (4.3)
𝑃 −𝑃
𝑃 −𝑃
𝐴𝐴(%) = . 100 𝐸𝑞. (4.4)
𝑃
𝑃
𝑀𝐸𝐴(𝑔/𝑐𝑚 ) = . 100 𝐸𝑞. (4.5)
𝑃 −𝑃
O comportamento do material durante a queima pode ser avaliado mediante a variação de sua
retração linear (RL) e da sua perda de massa ao fogo (PF) em função da temperatura, sendo
determinadas pelas Equações (4.6) e (4.7).
𝐿 −𝐿
𝑅𝐿(%) = . 100 𝐸𝑞. (4.6)
𝐿
𝑃 −𝑃
𝑃𝐹(%) = . 100 𝐸𝑞. (4.7)
𝑃
No DCCR usado neste trabalho, a concentração de Nb2O5 (% massa em base seca) na mistura
plástica e temperatura de queima das peças (em °C) foram as variáveis independentes adotadas no
estudo e a variável de respostas foi a remoção de AM, em um intervalo de tempo fixado.
Além disso, o número de corridas experimentais foi de 22 fatoriais + 2.2 axiais + 2 centrais =
10 corridas experimentais.
A Tabela 4.1 apresenta os valores das variáveis independentes usados no DCCR.
A variável de resposta usada no DCCR foi a concentração de azul de metileno após 52 min
de experimento. Esse tempo foi estabelecido a partir de experimentos preliminares no ponto central
do planejamento experimental (T = 950° C e C = 15,0 % de Nb2O5), e representa o tempo de meia-
vida (t1/2) para a degradação fotocatalítico do azul de metileno determinado a partir de modelagem
cinética (C0 média = 9,01 mg/L, kapp = 0,01345 min-1, R2 = 0,9892 e t1/2 = 51,54 min).
Os experimentos foram realizados de forma aleatorizada e o modelo de segunda-ordem obtido
foi avaliado, em duas etapas, aplicando uma ANOVA com teste F (p-valor < 0,05) para significância
da regressão e da falta de ajuste, e R2-ajustado, em que os parâmetros considerados não-significativos
foram removidos e, partir dessa remoção de parâmetros, o novo modelo foi obtido e avaliado através
dos critérios usados na primeira etapa (BARROS NETO; SCARMINIO; BRUNS, 2010;
RODRIGUES; IEMMA, 2014).
Utilizou-se a metodologia de superfícies de respostas (MSR) geradas a partir do modelo
ajustado aos pontos do planejamento para determinação do material mais eficiente escolhendo-se a
região de máxima remoção como a ótima (MONTGOMERY, 2013).
O tratamento estatístico, bem como, os gráficos gerados para MSR foram obtidos usando o
software Statistica, versão 7.0 (STATSOFT, 2004).
Neste segundo caso de otimização, aplicou-se o material que foi produzido por aplicação de
um revestimento fotocatalítico de 60% de Nb2O5. Já o planejamento experimental que foi usado no
estudo foi o delineamento composto central de faces centradas (DCC-FC), planejamento este no qual
se considera 𝛼 = 1, ou seja, os pontos axiais coincidem com os centros das faces do cubo formado
pelos pontos fatoriais (no caso de k = 3) ou nos meios dos lados do quadrado (no caso de k = 2).
O DCC-FC simplifica o espaço experimental por necessitar de apenas três níveis para cada
variável e poucos pontos centrais, sendo 2 ou 3 pontos centrais suficientes para avaliar a variabilidade
do planejamento, no entanto, esse tipo de planejamento não é rotacional (MONTGOMERY, 2013).
Neste DCC-FC, k = 2, as variáveis de processo pH e concentração de H2O2 foram as variáveis
independentes que foram estudadas para avaliar qual a melhor faixa para a máxima remoção de AM
de efluente sintético.
Na Tabela 4.3 estão expostos os níveis e variáveis do DCC-FC.
No mais, o tratamento dos dados experimentais foi realizado de forma idêntica a descrita na
seção terciária 4.4.1.
1,400
1,200
…
1,000
Absorbância
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
0 2 4 6 8 10
C (mg/L)
𝑑𝐶 𝑘. 𝐾 . 𝐶
𝑟=− = Eq. (4.9)
𝑑𝑡 1 + 𝐾 . 𝐶
Porém, uma simplificação pode ser realizada na Equação 4.9, pois levando em consideração
que um micropoluente apresenta-se em baixa concentração, dessa forma, KAD.C << 1 e, então, o
denominador 1 + KAD.C ≈ 1. Ainda mais, como k.KAD é um produto de constantes, pode-se considerar
que uma terceira constante é resultado do produto, kapp = k.KAD. sendo kapp a constante aparente de
reação. Assim, chega-se à Equação 4.10.
𝑑𝐶
𝑟=− = 𝑘. 𝐾 .𝐶 = 𝑘 .𝐶 Eq. (4.10)
𝑑𝑡
𝐶
ln = −𝑘. 𝑡 𝐸𝑞. (4.11)
𝐶
Para cinética e outros processos de remoção de AM, o fotorretor foi acondicionado em uma
cabine de MDF desenvolvida por (LEITE, 2019). Além disso, o aparato ainda foi composto por cuba
com trocador de calor de cobre para resfriamento em banho-maria do fotorreator, de modo a evitar a
evaporação do efluente sintético pelo calor emitido pela lâmpada; banho termostático; lâmpada
OSRAM ULTRA-VITALUX 300 W, cujo filamento de tungstênio gera uma radiação similar ao
espectro solar e serviu como fonte de radiação para a fotocatálise; bomba peristáltica, para
recirculação do efluente sintético dentro do fotorreator. A Figura 4.11 mostra o aparato que foi usado
neste estudo para reações fotocatalíticas.
A poluição das águas devido às atividades antrópicas é um grave problema ambiental, sendo
que o ser humano é um dos maiores prejudicados por suas próprias ações. Por isso, um dos principais
motivos pelo qual as águas residuárias devem ser tratadas antes de serem lançadas nos corpos
receptores é preservar a saúde humana.
Para se ter ideia, o Atlas Esgotos da Agência Nacional de Águas (ANA) informa que, no
Brasil, apenas 55% da população tem acesso ao tratamento considerado adequado de esgoto; 18%
têm seu esgoto coletado e não tratado, o que pode ser considerado como um atendimento precário; e
27% não possuem coleta nem tratamento, isto é, sem atendimento por serviço de coleta sanitária
(BRASIL, 2017).
Para mais da baixa cobertura do esgotamento sanitário, outro problema importante é a baixa
eficiência dos processos de tratamento na remoção de alguns poluentes que estão presentes nas águas
residuárias em geral, sejam efluentes domésticos, industriais ou qualquer outro tipo.
Além dos problemas bem descritos sobre poluição das águas por efluentes, atualmente um
conjunto de substâncias que estão presentes em efluentes domésticos, hospitalares e industriais em
baixíssimas concentrações vem despertando o interesse dos pesquisadores, pois estas substâncias não
têm seus efeitos em baixas concentrações totalmente conhecidas sobre as pessoas e o meio ambiente
e, muito menos, são regulamentadas quanto aos padrões de lançamento. Essa classe é chamada de
contaminantes de interesse emergente (CIE) ou, simplesmente, contaminantes emergentes (CE)
(MONTAGNER; VIDAL; ACAYABA, 2017).
O problema de contaminação das águas por CEs é geral e na região Nordeste não seria
diferente. Para exemplificar, Lima da Silva e Borba (2013) investigaram a presença de CEs na água
bruta de uma ETA em Caruaru-PE e constataram a presença de 7 dos 11 contaminantes investigados,
Ronaldo dos Santos Falcão Filho PPGEQ/UFRN
CAPÍTULO 5: Uma breve revisão sobre fotocatálise heterogênea como técnica para degradação de contaminantes
emergentes e de desinfecção de águas residuárias 45
entre os CEs encontrados estavam antibióticos, hormônios e substâncias de produtos para higiene
pessoal. Em outro trabalho, Silva (2011) verificou a presença de 16 contaminantes emergentes no
esgoto de uma ETE de Recife-PE, entre os contaminantes estavam presentes antibióticos, hormônios
e até cocaína.
Além dos contaminantes químicos, que idealmente devem ser removidos das águas residuárias
durante o tratamento, outra questão importante é a desinfecção dessas águas. Sobre isso, a NBR
13.969:1997 diz que:
Todos os efluentes que tenham como destino corpos receptores superficiais
ou galerias de águas pluviais, além do reuso, devem sofrer desinfecção. Esta
deve ser efetuada de forma criteriosa, compatível com a qualidade do corpo
receptor e segundo as diretrizes do órgão ambiental (ABNT, 1997, p. 16).
5.2. Fotocatálise
ambos os casos apenas de reações fotocatalíticas, como no caso da produção de hidrogênio, a partir
da cisão da água, que é um processo não-espontâneo (BYRNE et al., 2015). Abaixo, a Figura 5.1
mostra os esquemas dos mecanismos de catálise heterogênea e fotocatálise.
(BYRNE et al., 2015; MARQUES; STUMBO; CANELA, 2017; VALLEJO et al., 2015; ZHONG et
al., 2018).
Figura 5.3 - Gráfico dos potenciais de bandas (água a pH = 1) para alguns fotocatalisadores
semicondutores comuns (VB - banda de valência, CB - banda de condução) e suas respectivas
energias de bandgap (Eg).
Fonte: Adaptada de Byrne et al. (2015a).
Algumas estratégias podem ser adotadas para favorecer a formação de espécies reativas de
oxigênio na superfície do fotocatalisador, com isso, dificultar a recombinação dos elétrons, tais como:
adição de agentes oxidantes ao meio reacional, tais como, injeção de ar (oxigênio) e adição de
peróxido de hidrogênio, dopagens dos materiais com metais nobres, heterojunções entre óxidos com
potenciais de bandas diferentes, entre outras (PELAEZ et al., 2012; RUEDA-MARQUEZ et al., 2020;
WANG; ZHANG; LIU, 2015).
Recentemente, o termo ativador vem sendo empregado em alguns fotocatalisadores que são
empregados junto a agentes oxidantes como peróxido de hidrogênio (H2O2), peroximonosulfato
(PMS), persulfato (PS) entre outros. O termo é empregado, pois o fotocatalisador serve como sítio
ativo para o agente oxidante reagir com o contaminante, o que aumenta consideravelmente a
eficiência do processo (DONG et al., 2020).
gratuita e aqui no Brasil, especificamente na região Nordeste, tem-se alto potencial de utilização desta
fonte limpa.
Para entender e avaliar o desempenho dos fotocatalisadores, é imprescindível verificar através
de técnicas de caracterização o tipo de estrutura do fotocatalisador, área superficial, tamanho das
partículas, cristalinidade e seu bandgap ótico possibilitando associar assim os resultados observados
nas reações com as características físico-químicas do material usado como fotocatalisador.
A seguir, serão apresentadas algumas das principais técnicas usadas na caracterização de
fotocatalisadores.
Difratometria de raios-X (DRX): técnica primordial para analisar a estrutura de
semicondutores inorgânicos. A difração de raios-X (DRX) é um método de caracterização que
fornece informações sobre a cristalinidade do material e formação da fase em função dos parâmetros
utilizados na metodologia de síntese do material como temperatura de calcinação, tempo de isoterma,
pH da solução precursora, taxa de aquecimento para calcinação, razão estequiométrica de cátions,
reagentes precursores utilizados, agentes quelantes ou precipitantes usados na reação entre outros
(FERNANDES DE MEDEIROS; LOPES-MORIYAMA; DE SOUZA, 2017).
Para determinação do tamanho de partículas, utilizam-se modelos matemáticos, a partir do
perfil extraído do difratograma de raios-X fazendo uso da largura do pico, que pode ser obtido através
da largura a meia altura do pico de difração e intensidade máxima. Existem várias equações
empregadas para esse fim, a mais simples e utilizada é a equação de Scherrer, porém esta apresenta
algumas limitações, pois despreza algumas características do material, como a microdeformação
(GONÇALVES et al., 2012). Este problema pode ser suprido quando se faz uso do modelo
Williamson-Hall (KHORSAND ZAK et al., 2011).
Espectroscopia Raman: é outra técnica importante para caracterizar o semicondutor usado
como fotocatalisador. A espectroscopia Raman que é utilizada também para estudo da microestrutura
é uma ferramenta sensível à estrutura local que detecta mudanças na estrutura de maneira muito eficaz
como defeitos nos cristais (AHLAWAT et al., 2011). No entanto, a intensidade dos picos Raman é
influenciada pela fluorescência de fundo e a densidade da superfície do material analisado.
Consequentemente, os espectros Raman não podem fornecer informações sobre as fases do cristal ou
grau de cristalinidade, que são informações essas fornecidas pelo DRX (PARRINO et al., 2019).
Ferreira et al. (2019) sintetizaram nanoespinélios a base de ferro e os cátions Ni, Co e Cu e
verificaram através dos valores de microdeformação intrínseca obtidos pelo método Williamson-Hall
(WH) e a espectroscopia Raman, que havia diferenças nas estruturas dos materiais produzidos
ocasionado por defeitos nas estruturas que resultaram em vacâncias de oxigênio. Essas técnicas
O bandgap (Eg) de um óxido semicondutor pode ser calculado pelo método proposto por
Wood (1972). Conforme estes pesquisadores, a Eg está relacionada com a absorbância e a energia de
fótons como na Equação 5.2.
𝛼 (ℎ𝑣) = 𝑘. (ℎ𝑣 − 𝐸 ) Eq. (5.2)
𝑑𝐶 𝑘. 𝐾 . 𝐶
𝑟=− = 𝐸𝑞. (5.3)
𝑑𝑡 1 + 𝐾 . 𝐶
Porém, uma simplificação pode ser realizada na Equação 9, pois levando em consideração que
um CE apresenta-se em baixa concentração, dessa forma, KAD.C << 1 e, então, 1 + KAD.C ≈ 1. Ainda
mais, como k.KAD é um produto de constantes, pode-se considerar que uma terceira constante é
resultado do produto, kap = k.KAD. sendo kap a constante aparente de reação. Assim, chega-se à
Equação 5.4.
𝑑𝐶
𝑟=− = 𝑘. 𝐾 .𝐶 = 𝑘 .𝐶 𝐸𝑞. (5.4)
𝑑𝑡
𝐶
𝑙𝑛 = −𝑘 . 𝑡 𝐸𝑞. (5.5)
𝐶
𝑁
𝑙𝑜𝑔 = −𝑘 . 𝑄 𝐸𝑞. (5.7)
𝑁
Onde, N/N0 é a redução da contagem microbiana, k’ é a constante cinética modificada de
desinfecção [m3.J-1] e Q é a quantidade de energia acumulada por unidade de volume [J.m-3].
Em muitos casos, a taxa de desinfecção reduz-se, quando a concentração microbiana se torna
muito baixa, provocando uma cauda alongada na curva cinética. Daí, uma segunda modificação no
modelo de Chick-Watson, modificação que leva em consideração uma cinética de psedo-primeira
ordem e a existência da cauda no final da reação, assim propõe-se um modelo empírico de dois
parâmetros representado na Equação 5.8.
Como foi descrita na introdução, a fotocatálise é um tipo de POA que se apresenta como um
método promissor para tratamentos de água, pois é uma tecnologia verde que não necessita de
catalisadores caros, ocorre em condições de temperatura e pressão ambiente, mineraliza compostos
orgânicos, o oxigênio necessário é obtido diretamente da atmosfera e pode utilizar como fonte de
fótons a radiação solar para impulsionar reações químicas úteis, como a remediação de poluentes
(MALATO et al., 2009a; PUTRI et al., 2015; VALLEJO et al., 2015; YOU et al., 2019).
A decomposição de poluentes é promovida por uma série de espécies químicas reativas, tais
como, ·OH, h+, ·O2-, e-, 1O2, ·HO2.
Regmi et al. (2018) explicam uma sequência de reações que ocorrem para que ocorra o
processo de decomposição de poluentes orgânicos e desinfecção: primeiramente, o fotocatalisador é
irradiado por fótons com energia igual ou maior do que a energia de bandgap do material, isso
promove a foto-geração de buracos (h+) e de elétrons (e-) que em contato com água e oxigênio formam
radicais livres e, finalmente, esses radicais livres atacam os poluentes e microrganismos, os poluentes
degradam-se em moléculas menores e os microrganismos são inativados.
A presença de cada uma dessas espécies depende dos potenciais de banda dos
fotocatalisadores e de outros fatores e cada um deles possui potenciais de oxirredução diferentes,
sendo umas mais agressivas na decomposição de poluentes orgânicos do que outras
(ANTONOPOULOU et al., 2014).
Vários tipos de catalisadores vêm sendo estudados, buscando melhorar a eficiência do
processo fotocatalítico. A aplicação de materiais dopantes também vem sendo empregada, buscando
incrementar propriedades ao material catalítico e gerar efeito sinérgico ao processo. A adição de um
metal na estrutura do fotocatalisador busca alcançar um efeito sinérgico, pois, em geral, os metais
dopantes possuem múltiplos estados de oxidação servido como doadores de elétrons para outro metal
na estrutura. Esse ciclo de doação/recuperação do elétron é baseado no potencial de redução/oxidação
dos metais na estrutura do fotocatalisador.
A seguir, mostra-se um pouco de teoria sobre os contaminantes emergentes e a fotocatálise
em descontaminação e desinfecção de águas residuárias, resultados de alguns trabalhos que aplicaram
a técnica e uma breve apresentação sobre esses resultados.
A seguir, na Tabela 5.1, serão apresentados resultados de trabalhos em que a fotocatálise foi
usada na degradação de CEs.
No trabalho de Zhu et al. (2017), foram preparados três fotocatalisadores com diferentes
concentrações de WO3 em óxido de grafeno reduzido (RGO-WO3), estes foram chamados de RW-
100, RW-200 e de RW-400, o método de síntese foi o hidrotérmico de uma etapa.
A degradação fotocatalítica foi conduzida sob luz visível e, sem ajuste de pH, mais de 98%
do antibiótico sulfametoxazol foi degradado em 3 horas, usando os fotocatalisadores RW-100 e RW-
200. Isso demonstra que os compósitos RGO-WO3 são eficazes para degradar a classe de antibióticos
sulfonamidas. Os autores ainda concluíram que o fotocatalisador RW-200 pode ser usado em
aplicações reais devido a sua alta eficiência fotocatalítica e excelente reciclabilidade.
No segundo trabalho listado na Tabela 1, a fotocatálise usando WO3 combinado com
ozonização removeu completamente o ibuprofeno e 87% do COT em 120 min, sob luz visível. No
mesmo trabalho, um experimento usando efluente real, o fotocatalisador WO3 promoveu a completa
remoção de uma mistura de dez CEs, em menos de 60 min, além da 40% de mineralização da matéria
orgânica em 120 min (REY et al., 2015).
Quanto à degradação do Bisfenol-A, usaram-se como fotocatalisadores diferentes
formulações de TiO2 dopado com Ni. Essas dopagens do dióxido de titânio com níquel resultaram
em materiais com baixa energia de bandgap, cristais pequenos e com inibição da recombinação dos
pares elétron/buraco. Usando o fotocatalisador Ni-TiO2 com 1% de Ni, obtiveram-se os melhores
resultados, com a completa remoção do bisfenol-A e 77% de mineralização do COT em 210 min, sob
luz visível (BLANCO-VEGA et al., 2017).
Uma classe de contaminantes emergentes preocupante é a classe dos defensivos agrícolas ou
agrotóxicos. Detectados em leitos de rios próximos a campos agrícolas, em solo, animais e humanos,
os agrotóxicos são um problema até mesmo em baixas concentrações, pois são de difícil remoção por
apresentarem diversos microcontaminantes com características químicas diferentes entre si, podendo
formar compostos nocivos à saúde humana (ORMAD et al., 2008; VOLTAN et al., 2016).
Abdennouri et al. (2016) estudaram a degradação dos agrotóxicos 2,4-D e 2,4-DP usando o
TiO2 em suportes de argila purificada, com formulações de 1,15 mmol de TiO2 por g de argila e 10,5
mmol de TiO2 por g de argila.
Para produzir o material fotocatalítico, um precursor de titânio foi misturado em uma
suspensão aquosa de argila purificada e a mistura centrifugada e seca foi sinterizada a 500 °C, com
isso, foram obtidos pós cerâmicos de granulometria e densidade suficientemente grandes para que os
materiais pudessem ser recuperados ao final do processo de fotocatálise, tendo em vista que uma das
principais dificuldades em trabalhar com fotocatálise é que geralmente as partículas dos
fotocatalisadores são de tamanho nanométrico.
Os autores obtiveram eficiências de degradação de aproximadamente 82% e de 79% para o
2,4-D e 2,4-DP, respectivamente, em 90 min de exposição à radiação. Além disso, a fotólise
(exposição à radiação na ausência de fotocatalisador) foi desprezível e a adsorção no escuro foi de
aproximadamente 5% da concentração inicial de 20 mg/L de cada um dos agrotóxicos, o que reforça
a excelente capacidade de degradação da fotocatálise mesmo com a utilização do suporte de argila.
O último trabalho listado na Tabela 6.1 é uma aplicação em escala piloto da fotocatálise para
degradação de resíduos de inseticidas neonicotinoides presentes em efluentes da lavagem de
máquinas agrícolas de fazendas da Espanha. Nesse estudo, Fenoll et al. (2019) trataram efluentes
provenientes de três fazendas em um fotorreator tubular de 180 L de capacidade e 45 m2 de área de
exposição ao sol. O fotocatalisador usado foi o TiO2 otimizado com o receptor de elétrons Na2S2O8,
sendo a função do receptor de elétrons evitar a recombinação eletrônica no TiO2 e, com isso, favorecer
a formação de espécies reativas de oxidantes no meio reacional.
As concentrações iniciais de poluentes orgânicos nos efluentes das fazendas foram de 1,1
mg/L e 126,6 mg/L, contando os inseticidas neonicotinoides e outras substâncias. As degradações
dos resíduos de inseticidas nos efluentes ficaram entre 44% (acetamiprida com concentração inicial
de 2,8 mg/L por 8 dias de exposição e 7000 kJ/m2 de radiação UV-A acumulada no período de
exposição) e 99,9% (imidacloprida com concentração inicial de 10,9 mg/L por 7 dias e 7500 kJ/m2
de radiação UV-A acumulada).
A fotocatálise tem sido estudada como uma solução verde para desinfecção de efluentes.
Pesquisas realizadas, nas últimas décadas, mostraram que a fotocatálise foi eficiente na inativação de
uma variedade ampla de microrganismos, tais como: bactérias Gram-positivas e negativas
(Staphyloccocus aureus, Streptoccocus pneumonia, Escherichia coli etc.), fungos (Aspergillus niger,
Fusarium graminearum etc.), algas (Tetraselmis suecica, Amphidinium carterae etc.) e vírus
(GANGULY et al., 2017).
Sobre o mecanismo de desinfecção, Regmi et al. (2018) explicam, em uma revisão de vários
trabalhos sobre o tema, que, na verdade, existe mais de um mecanismo de inativação de
microrganismo na fotocatálise. De forma simplificada, os fotocatalisadores interagem por diferentes
vias com os microrganismos, essas interações podem ser atrações eletrostáticas, interações
hidrofóbicas, forças de Van der Walls e interações receptor-ligante. Uma vez aproximados
fotocatalisador-microrganismo, as células microbianas sofrem diferentes experiências de estresse
oxidativo, desequilíbrio na permeabilidade na membrana celular, desnaturação de proteínas e
alteração no metabolismo celular e danos no DNA. A Figura 5.4 mostra os mecanismos de inativação
de um microrganismo.
Cinco trabalhos que investigam a desinfeção de águas residuárias por fotocatálise têm alguns
de seus resultados apresentados na Tabela 5.2.
ZnO do pado Bactérias 1 g/L e 240 min Hg de alta pressão 66% para (GONÇA
com Ca até heterotróficas BH e > LVES
1,0% (BH) e 99% para OLIVEIR
coliformes CT A et al.,
totais (CT) 2019)
Fonte: Autoria própria.
Nota: OG – nanofolhas de óxido de grafeno.
Quanto à cinética de desinfecção, a suspensão com carga de 500 mg/L de RGO-TiO2 reduziu
a contaminação por E. coli de 106 UFC/mL para o 2 UFC/mL (limite de detecção do método
microbiológico usado) em apenas 12 minutos o que equivaleu a uma dose de radiação de 13 kJ/m2,
enquanto o processo sem fotocatalisador precisou de aproximadamente 112 minutos e 150 kJ/m2 de
dose de radiação para causar o mesmo nível de desinfecção. Para o F. solani, a carga ideal de RGO-
TiO2 foi de 10 mg/L, a contaminação inicial de aproximadamente 103 UFC/mL foi reduzida à 2
UFC/mL em 27 min, sob dose de radiação de 48 kJ/m2, enquanto o processo de desinfecção sem o
fotocatalisador precisou de 220 min e 335 kJ/m2 para surtir o mesmo efeito.
O último trabalho exposto na Tabela 5.2 foi realizado por Gonçalves Oliveira et al. (2019) e,
entre outros resultados, tratou-se o efluente real de uma lavanderia com o fotocatalisador ZnO dopado
com 1,0% de Ca na concentração de 1 g/L, o efluente foi exposto à radiação por 240 minutos e neste
intervalo de tempo de tratamento 39% da DBO5,20, 40% da DQO e 73% da turbidez do efluente foram
removidos, além disso, reduziram-se 66% da contaminação de bactérias heterotróficas e mais de 99%
da contaminação de coliformes totais (o efluente não apresentou coliformes termotolerantes). Esses
resultados demonstram que o uso da fotocatálise para tratar esse tipo de efluente é eficiente, tendo
em vista o tempo curto de exposição e os níveis de descontaminação e desinfecção alcançados.
5.8. Conclusão
fotocatálise é uma alternativa interessante para regiões que apresentam altos níveis de insolação,
como a região Nordeste do Brasil, pois o grau de ativação do material é proporcional à dose de
radiação recebida pelo sistema.
Immobilized Nb2O5 on a red ceramic support for the removal of methylene blue
dye by heterogeneous photocatalysis
Resumo
A fotocatálise heterogênea é uma tecnologia verde importante para o tratamento de água e efluentes.
O objetivo deste trabalho foi produzir um material fotocatalítico a base de Nb2O5 imobilizado em
cerâmica vermelha. Para tanto, aplicou-se um planejamento DCCR com temperatura de queima da
cerâmica e concentração de Nb2O5 como variáveis independentes e remoção de AM como resposta.
A argila preparada e a cerâmica escolhida a partir do DCCR foram caracterizadas por FRX, MEV,
DRX, TG/DTA, ERD, granulometria a laser e propriedades físicas. A cinética fotocatalítica da
remoção de AM usando o material escolhido foi estudada e foram estimados kapp = 0,0276 min-1 e t1/2
= 25,15 min, com R2 = 0,9909. O material foi submetido a 5 ciclos de utilização e manteve a remoção
média em 240 min de 97,25%. Pelos resultados apresentados, o Nb2O5 imobilizado em placas de
cerâmica vermelha mostrou-se um material eficiente para aplicações em fotocatálise.
Abstract
Heterogeneous photocatalysis is a green technology that is important for water and wastewater
treatment. The objective of this work was to produce a photocatalytic material based on Nb2O5
immobilized on red ceramic. For that, a CCD design was applied with ceramic firing temperature and
Nb2O5 concentration as independent variables and MB removal as a response. The prepared clay and
the ceramic chosen from the CCD were characterized by XRF, SEM, XRD, TG/DTA, DRS, laser
granulometry and physical properties. The photocatalytic kinetics of MB removal using the chosen
material was studied and kapp = 0.0276 min-1 and t1/2 = 25.15 min were estimated, with R2 = 0.9909.
The material was subjected to 5 cycles of use and maintained the average removal at 240 min of
97.25%. Based on the results presented, Nb2O5 immobilized on red ceramic plates proved to be an
efficient material for applications in photocatalysis.
6.1 Introdução
Os processos oxidativos avançados têm sido estudados como formas de tratamento terciário
de efluentes para a degradação de micropoluentes e de descontaminação microbiana (DE
CARVALHO et al., 2020; DEEKSHITHA; SHETTY K., 2021; SIN, J.-C. et al., 2020). Dentre esses
processos está a fotocatálise heterogênea, que é uma importante tecnologia verde voltada ao
tratamento de efluentes, definida como a reação química induzida pela fotoabsorção em um material
sólido, chamado de fotocatalisador, que permanece inalterado depois da reação (GÜMÜŞ; AKBAL,
2011). Diversos materiais vêm sendo usados como fotocatalisadores, entre eles o pentóxido de nióbio
(Nb2O5), um óxido metálico não tóxico, ecologicamente correto, usado em reações de oxidações (SU
et al., 2021). Algumas das aplicações do Nb2O5 como fotocatalisador são na produção de H2 por
divisão da água, mineralização de corantes, de contaminantes emergentes e descontaminação
microbiana de águas (ABREU et al., 2021; DE CARVALHO et al., 2020; ISLAM et al., 2021;
YANG et al., 2022).
A aplicação direta dos fotocatalisadores na forma de pó suspenso no líquido que se pretende
tratar pode acelerar e tornar mais eficiente a remoção de contaminantes, pois a área superficial de
contato entre o fotocatalisador e o contaminante é grande, contudo, a recuperação dos materiais
fotocatalíticos após o tratamento pode ser difícil devido ao tamanho reduzido dos pós e sua boa
dispersão em líquido (HEGGO et al., 2020; KALAM et al., 2018; SOUZA et al., 2016). Devido a
isto, imobilizar o fotocatalisador em suporte adequado propicia que o material seja facilmente
recuperado e que haja redução em sua perda. Alguns dos suportes de imobilização usados para
fotocatalisadores foram carvão, sílica e vidro (BASHEER; ABDULBARI; MAHMOOD, 2020;
KOCIJAN et al., 2021b; YADAV et al., 2020).
A imobilização de fotocatalisadores em suportes é feita, geralmente, por processos complexos
e com muitas etapas, assim como pode o suporte possuir significativo custo de produção. Uma
alternativa de fácil produção do ponto de vista técnico e de baixo custo seria imobilizar o material
fotocatalítico em cerâmica comum, produzida a partir de argila. A argila comum, matéria-prima para
A argila usada neste trabalho foi proveniente de jazida do município de Parelhas-RN, sendo
doada pela indústria Cerâmica Tavares. Seu preparo antes do processo de produção do fotocatalisador
imobilizado consistiu em uma secagem em condições atmosféricas por 24 h, desaglomeração do
material em moinho de bolas com tambor e tarugos de aço, e peneiramento em peneira ASTM 5
(abertura nominal de 4 mm) seguida de peneira ASTM 40 (0,420 mm). O material com diâmetros de
partículas menores do que 0,420 mm foi o usado para produção da cerâmica fotocatalítica.
Água destilada, pentóxido de nióbio, anidro da CBMM e argila foram misturados para o
preparo da cerâmica fotocatalítica. O processo consiste na mistura dos componentes em quantidades
adequadas, levando-se em conta a umidade presente na argila (ABNT, 1986). Em um processo típico,
os sólidos, Nb2O5 e argila, foram misturados e homogeneizados. Em seguida, água potável foi
adicionada de acordo com a proporção estabelecida no planejamento experimental, mostrado na
Tabela 4.2. O material resultante desta etapa foi acomodado em moldes de acrílico de 2 mm de
espessura com lado de, aproximadamente, 17 mm ((17,23 ± 0,06) mm). Após a secagem em condições
atmosféricas, as peças foram levadas para estufa de secagem por 24 horas ajustada na temperatura de
110 °C.
Após a secagem, as placas cerâmicas foram tratadas termicamente em forno mufla, com a
seguinte marcha: aquecimento a 200 °C por 1 h, para completa eliminação da água, seguida de
aquecimento a 570 °C por 1 h, para eliminação de matéria orgânica, sulfetos, desidroxilação dos
argilominerais (KATJA EMMERICH et al., 2017). Após estas etapas, os materiais foram tratados
termicamente por 4 h nas temperaturas estabelecidas no planejamento experimental.
Para avaliar a capacidade fotocatalítica dos materiais preparados utilizou-se um reator plano
de vidro de dimensões 140 mm x 20 mm x 20 mm. As peças de cerâmica fotocatalítica foram
acomodadas no reator, em quantidade suficiente para preencher o fundo (8 peças). Como efluente
sintético foi usada uma solução do corante azul de metileno (AM), com concentração inicial de 10
mg/L e volume de 30 mL. Para garantir a convecção forçada no meio reacional, fez-se a recirculação
da solução de AM com uma bomba peristáltica Cole-Palmer. A fonte de irradiação foi uma lâmpada
Ultra Vitalux Osram de 240 V de tensão e 300 W de potência posicionada a 45 cm da superfície do
líquido resultando em uma radiância incidente de 1300 μW/cm2, na faixa de 290 nm a 390 nm.
Para avaliar o efeito fotocatalítico do material mediu-se as absorbâncias da solução de azul de
metileno no comprimento de onda de 664 nm. Para isto foi utilizado um espectrofotômetro BEL V-
M5 com leitura na faixa do visível. Uma curva de calibração foi construída para estabelecer a relação
concentração de azul de metileno (mg/L) e absorbância com 6 pontos entre 0 e 10 mg/L, sendo obtida
a relação de Absorbância = 0,125 x Concentração, com R2 = 0,9990. A redução da concentração de
azul de metileno é calculada de acordo com a Equação 6.1.
(𝐴 − 𝐴)
𝑅𝑒𝑚𝑜çã𝑜(%) = . 100 𝐸𝑞. (6.1)
𝐴
Em que, A0 é a absorbância inicial e A é a absorbância em um instante t.
Com a finalidade de evitar a redução do volume da solução efluente por absorção pelas peças
cerâmicas secas e de reduzir o efeito de remoção do AM por adsorção inicial nas peças, antes de cada
ensaio de fotocatálise, as peças cerâmicas passaram 24 h imersas em água destilada para completo
preenchimento de seus poros. Posteriormente, as placas fotocatalíticas foram postas em contato com
o efluente no escuro por 1 h para alcançar o equilíbrio adsorção/dessorção. Esta solução inicial foi
desprezada, para em seguida, com nova solução, serem iniciados os experimentos de fotocatálise. Os
experimentos de remoção foram realizados a 15 °C para minimizar a evaporação da solução.
As cinéticas de remoção foram estudadas usando o modelo de fotocatálise simplificado de
Langmuir-Hinshelwood, o qual considera que em baixas concentrações da substância de interesse as
constantes de adsorção (KAD) e de reação (k) podem ser representadas por uma constante aparente de
reação (kapp) (LIU et al., 2014). Dessa forma, o modelo se apresenta conforme Equações 6.2 e 6.3:
𝐶
𝑙𝑛 = −𝑘 .𝑡 𝐸𝑞. (6.2)
𝐶
Ou
.
𝐶 = 𝐶 .𝑒 𝐸𝑞. (6.3)
A variável de resposta usada no DCCR foi a concentração de azul de metileno após 52 min
de experimento. Esse tempo foi estabelecido a partir de experimentos preliminares no ponto central
do planejamento experimental (T = 950 °C e C = 15,0% de Nb2O5), e representa o tempo de meia-
vida (t1/2) para a degradação fotocatalítico do azul de metileno determinado a partir de modelagem
cinética (C0 média = 9,01 mg/L, kapp = 0,01345 min-1, R2 = 0,9892 e t1/2 = 51,54 min). A Tabela 6.1
apresenta os valores usados no planejamento experimental:
A composição química da argila assim como dos fotocatalisadores foi determinada utilizando
um espectrômetro de fluorescência de raios X (Bruker modelo S2 Ranger). Na argila também foi
realizada a análise da distribuição granulométrica em um analisador a laser (CILAS modelo 1064),
na faixa de 0,04 μm a 500 μm, com 100 classes e em meio alcoólico.
As propriedades físicas de absorção de água (A), porosidade aparente (P), massa específica
aparente (T), densidade de bulk (B) e retração linear (LR) foram determinadas pesagens diretas e
pesagens indiretas usando o empuxo das peças, além de medidas de dimensões usando um paquímetro
(ASTM, 2010; DUTRA; ARAÚJO PONTES, 2002).
Para a análise da estrutura cristalina, foi utilizado um difratômetro de raios-X (XRD) (Bruker
modelo D2 Phaser), com radiação CuKα (l = 1,54 Å), com ângulo de varredura de 3° ≤ 2θ ≤ 80° e
passo igual a 1°/min.
A morfologia dos materiais foi investigada por microscopia eletrônica de varredura (SEM)
usando um microscópio eletrônico (TESCAN modelo VEGA).
A análise conjunta de TG/DTA foi realizada em um analisador termogravimétrico (Shimadzu
modelo DTG 60H), na faixa de temperatura entre 25 °C a 1000 °C, utilizando uma taxa de
aquecimento de 2 °C/min, fluxo de 110 mL/min de N2 e cadinho de alumina.
A espectroscopia de reflectância difusa foi realizada em um espectrofotômetro UV-Vis
(Shimadzu, modelo UV-2600), com varredura no intervalo de comprimento de onda de 220 nm a 700
nm, utilizando o sulfato de bário com amostra padrão de calibração. Calculou-se as energias de
bandgap (Eg) dos fotocatalisadores e da argila usando a função de Kubelka-Munk, a partir de valores
A tabela 6.3 apresenta a análise de variância para ajuste de modelo estatístico aos dados
obtidos conforme o planejamento DCCR. As variáveis temperatura e concentração se mostraram
significativas, gerando um nível de p-valor inferior a 0,05 referente a um limite de confiança de 95%.
A influência da temperatura que se mostrou significativa segue um comportamento linear, enquanto
o termo de concentração influencia a variável resposta de forma quadrática. Para este cenário, a falta
de ajuste não é pertinente (apresenta p-valor superior a 0,05), e o coeficiente de correlação (R²) é de
0,96732, o que indica boa correlação do modelo aos dados.
Tabela 6.3 - Análise de variância para ajuste de modelo dos dados do DCCR.
Fontes de variação Soma Graus de Média F p-valor
quadrática liberdade quadrática
Temperatura 1
(°C) (linear) 3620,055 3620,055 7240,110 0,007481
Regressão
Concentração 1
(% Nb2O5) 362,422 362,422 724,844 0,023635
(quadrática)
Resíduos Falta de ajuste 133,979 6 22,330 44,660 0,114047
Erro puro 0,500 1 0,500
Total 4115,017 9
R2ajustado = 0,96732; máxima de variação explicada = 99,998%
A partir dos dados mostrados na Tabela 6.4, percebe-se que a influência da temperatura e da
concentração de Nb2O5 são ambas negativas, o que retrata a diminuição nos níveis de remoção de
azul de metileno com o aumento destas variáveis. Com base ainda nos dados desta tabela, percebe-se
que a equação do modelo estatístico que representa a remoção do AM (y) em função de temperatura
de queima (x1) e de concentração de Nb2O5 na cerâmica (x2) é representado na Equação 6.4, contendo
somente os termos que foram significativos. Com base neste modelo obtiveram-se a superfície de
resposta e o gráfico de contorno conforme na Figura 6.1.
Temperatura (°C)
- 21,2835 0,250001 - 85,1336 0,007478 - 24,4601 - 18,1069
(linear)
Concentração (%
Nb2O5) - 8,0234 0,298812 - 26,8510 0,023698 - 11,8202 - 4,2266
(quadrática)
Figura 6.1 - Superfície de resposta (A) e gráfico de contorno (B) da remoção em função de
temperatura de queima e concentração de Nb2O5.
de três repetições), enquanto as mais grossas alcançam 114,15 ± 3,11 µm. Com base neste resultado,
conclui-se, a partir da classificação por frações do solo segundo a NBR 6502:1995 (ABNT, 1995),
que a fração de argila (D < 2 µm) corresponde a 4,95 ± 0,06 % do total da amostra, enquanto a fração
de silte (2 µm ≤ D < 60) a 69,33 ± 0,72 %, e Areia (60 µm ≤ D < 2000 µm) a 25,72 %, a qual foi
calculada por diferença das médias das frações de argila e de silte.
A Figura 6.2 ilustra a distribuição granulométrica da argila tratada analisada por granulometria
a laser. Observa-se uma natureza multimodal com a presença de quatro aglomerados de grãos com
modas aproximadas em 2,5 µm, 5 µm, 14 µm e 80 µm. Pela presença destes aglomerados, considera-
se que a argila possui boa estabilidade térmica, não necessitando de qualquer tratamento para a
produção de peça cerâmica (DUTRA; ARAÚJO PONTES, 2002).
Esta mesma argila foi analisada através da técnica de termogravimetria (ATG). As curvas
obtidas por estas técnicas estão presentes na Figura 6.3. A curva termogravimétrica indica a
ocorrência de fenômenos de perda de massa em toda a faixa de temperatura estudada, que totalizam
cerca de 11% quando se atinge a temperatura de 1000 ºC. É possível observar dois importantes
eventos de perda de massa, um que se inicia próximo a 50 ºC, e outro próximo a 400 ºC. Para o
primeiro citado, atribui-se a perda de massa à eliminação de água livre e estrutural, e a eliminação de
matéria orgânica e sulfetos e, a partir de 400 ºC inicia-se o fenômeno de desidroxilação e
descarbonatação dos argilominerais (EMMERICH; STEUDEL, 2017).
9,0
8,8
TGA (mg)
8,6
8,4
8,2
8,0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
T (°C)
A composição da argila tratada e utilizada no preparo do material foi determinada por FRX.
Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 6.6. Verifica-se a presença predominante de SiO2,
Al2O3 e Fe2O3, com teores de 49,1, 20,07 e 15,56 % em massa, respectivamente. Outros componentes
presentes em menores teores são K2O, MgO, CaO, Na2O e TiO2, além de óxidos que correspondem
a 1,02%.
Nota-se que o teor de Nb2O5, após a queima, se aproxima do estimado para esta amostra (15%
em massa), sendo a diferença atribuída às características da própria técnica, uma vez que não foi
percebida qualquer perda de material nas etapas de elaboração das peças cerâmicas. Sendo assim, a
técnica proposta para a produção do fotocatalisador mostra-se adequada aos fins desejados e
independe do teor de Nb2O5. Com base nisto, peças cerâmicas puderam ser preparadas com diferentes
concentrações de Nb2O5. As propriedades físicas destes materiais estão descritas na Tabela 6.7.
Figura 6.4 - Micrografias da MEV. Nas colunas as formulações das cerâmicas (T = 950° C,C = 0%;
T = 850° C, C = 15%; T = 1020° C, C = 18%, respectivamente) e nas linhas as ampliações
aproximadas (100x e 1000x, respectivamente).
1, 3
A
1, 2, 3
1, 2, 3
1, 2 1, 2
1, 2
1, 2, 3
1, 2 1, 2
1, 2, 3
10 20 30 40 50 60 70 80
2q (degree)
1, 3
B
1
1 - Aluminossilicatos
1
2- Nb2O5
1, 3
1
1, 3
3 - SiO2
1, 3
1
1, 3
10 20 30 40 50 60 70 80
2q (degree)
Figura 6.5 - Difratogramas da cerâmica com argila tratado (A) e cerâmica com 15% de Nb2O5
queimadas a 850° C (B).
Em relação às energias de bandgap, a Figura 6.6 mostra, que apesar da adição de 15% de
Nb2O5 e queimada a 850° C, a energia de bandgap não aumentou de forma relevante, de forma a se
aproximar da energia de bandgap do Nb2O5 puro, que conforme a literatura está situado entre 3,1 e
4,0 eV (LOPES et al., 2015b). O que indica que o teor de Nb2O5 na composição da cerâmica não foi
suficiente para sobrepor as propriedades ópticas da cerâmica de argila pura.
Na Figura 6.6 estão gráficos da função de Kubelka-Munk calculadas para os espectros de
reflectância difusa da cerâmica pura (0% de Nb2O5 e T = 950° C). Observa-se que, mesmo com a
adição de 15% do fotocatalisador Nb2O5 à matriz cerâmica, não houve um aumento expressivo da Eg
deste material, em relação, à cerâmica pura.
Nesse contexto, pode-se pensar que uma parcela significativa do AM foi removido do efluente
sintético por adsorção na cerâmica, pois, apesar do baixo valor de Eg favorecer a fotogeração de
elétrons na região do espectro visível, essa condição também favorece a recombinação eletrônica,
além de provavelmente o material não apresentar potenciais na banda de condução (O2/*O2 = -0,33
eV) e/ou banda de valência (OHads/*OHads = +1,6 eV), potenciais necessários para produção de
radicais livres que atuam na degradação do contaminante (BUENO et al., 2019).
Figura 6.6 - Energia de bangap das cerâmicas sem Nb2O5 e com 15% de Nb2O5.
6.4. Conclusão
Resumo
Os corantes sintéticos, usados em diversos ramos industriais, são contaminantes que quando presentes
em corpos hídricos podem causar uma série de danos à saúde humana em ao meio ambiente. Dentre
as tecnologias verdes que podem ser usadas para remover esses corantes dos efluentes, apresenta-se
a fotocatálise heterogênea. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi preparar um material
fotocatalisador de Nb2O5 imobilizado sobre um substrato de cerâmica vermelha. O material
fotocatalítico foi preparado com uma suspensão aquosa de Nb2O5 e argila comum tratada, que foi
chamada de revestimento fotocatalítico. O revestimento foi aplicado sobre um substrato de massa
plástica de argila comum e, após algumas etapas, o material composto por revestimento e substrato
foi tratado termicamente a 850° C para formação da cerâmica. Os materiais usados foram
caracterizados por FRX, DRX, ERD, MEV e PCZ. O material fotocatalítico foi testado quando a sua
eficiência em remover o corante azul de metileno (AM) por meio de um delineamento experimental
do tipo composto central de face centrada (CCD-FC), com dois fatores: concentração de H2O2 e pH,
totalizando dez corridas experimentais. O material fotocatalítico também foi testado quanto a sua
capacidade de manter a eficiência de remoção de AM quando submetido a cinco ciclos de recuperação
por tratamento térmico para eliminação da matéria orgânica adsorvida. O CCD-FC mostrou que a
melhor condição de remoção de AM foi a de pH = 9 e concentração de H2O2 = 0 mg/L. O material
manteve a eficiência de remoção de AM acima de 90%, após os 5 ciclos de recuperação. Portanto, o
material fotocatalítico produzido mostrou-se capaz de remover do efluente o AM e de manter a
capacidade de remoção mesmo após 5 ciclos de recuperação.
Palavras-chave: Corantes sintéticos. Tratamento de efluentes. Fotocatálise.
Abstract
Synthetic dyes, used in several industrial branches, are contaminants that, when present in
water bodies, can cause a series of damages to human health and the environment. Among the green
technologies that can be used to remove these dyes from effluents, heterogeneous photocatalysis is
presented. Thus, the objective of this work was to prepare a photocatalyst material of Nb2O5
immobilized on a red ceramic substrate. The photocatalytic material was prepared with an aqueous
suspension of Nb2O5 and treated common clay, which was called a photocatalytic coating. The
coating was applied on a common clay plastic mass substrate and, after a few steps, the material
composed of coating and substrate was thermally treated at 850°C to form the ceramic. The materials
used were characterized by XRF, XRD, SDR, SEM and PCZ. The photocatalytic material was tested
for its efficiency in removing the methylene blue (AM) dye through a face-centered central composite
(CCD-FC) experimental design, with two factors: H2O2 concentration and pH, totaling ten
experimental runs. The photocatalytic material was also tested for its ability to maintain MB removal
efficiency when subjected to five recovery cycles by thermal treatment to eliminate adsorbed organic
matter. The FC-CCD showed that the best MB removal condition was pH = 9 and H2O2 concentration
= 0 mg/L. The material maintained AM removal efficiency above 90% after the 5 recovery cycles.
Therefore, the photocatalytic material produced was able to remove MB from the effluent and to
maintain the removal capacity even after 5 recovery cycles.
Key words: Synthetic dyes. Wastewater treatment. Photocatalysis.
7.1. Introdução
Entre tantos grupos de compostos químicos que causam poluição em águas destacam-se os
corantes sintéticos, que são amplamente usados em processos das indústrias têxtil, farmacêutica, de
cosméticos, de plásticos, de couros, de papel, alimentícia, entre outras.
Muitos desses corantes são tóxicos aos humanos e à vida aquática, inclusive, muitos deles
formando produtos de degradação mutagênicos e carcinogênicos. Além disso, essas substâncias
conferem cor, o que reduz a penetração de radiação solar e, a degradação natural delas por oxidação,
reduz a concentração de oxigênio dissolvido na água, acarretando prejuízos à fotossíntese e a
respiração, prejudicando assim a vida no corpo receptor desses corantes sintéticos (AL-TOHAMY et
al., 2022; HUSSAIN et al., 2019).
Tendo em vista os graves problemas ambientais que o despejo de efluentes ricos em corantes
sintéticos podem causar é preciso aplicar técnicas eficientes para eliminar ou reduzir à níveis seguros
a concentração desses contaminantes dos efluentes tratados antes do lançamento no corpo receptor.
Dentre as diversas técnicas existentes, a fotocatálise heterogênea é promissora por ser uma
tecnologia “verde” e econômica, uma vez que, as reações ocorrem em condições ambientes de
temperatura e pressão e usam semicondutores atóxicos e de baixo custo como fotocatalisadores. Esses
materiais semicondutores quando irradiados absorvem fótons e geram lacunas (h+) e elétrons (e-) e
esses, para se estabilizarem, produzem radicais livres altamente reativos, que são responsáveis por
degradar diversos contaminantes (ROCHA et al., 2022; RUEDA-MARQUEZ et al., 2020a).
Rafiq et al. (2021) relatam resultados de trabalhos realizados por outros autores que usaram a
fotocatálise heterogênea como técnica para degradação de corantes sintéticos, entre esses resultados
estão: utilização do fotocatalisador CuO a 50 mg/L, sob radiação solar por 180 min e eficiência de
degradação de azul de metileno de 97%; em outro caso, usou-se Ni-ZnS, sob radiação emitida por
uma lâmpada halógena de 500 W, com eficiência de degradação de azul de metileno de 50%, sem
relato do tempo de exposição; e, em um terceiro caso, usou-se G-CuO a concentração de 0,3 g/L, sob
radiação solar por 80 min e eficiência de degradação de azul de metileno superior a 99%.
O uso do azul de metileno em processos de degradação fotocatalítica de corantes recorrente
na literatura, pois esse corante é usado como padrão para avaliação de atividade fotocatalítica,
segundo a norma ISO 10678:2010, sendo esse um dos motivos pelo qual seu uso é frequente em
estudos que envolvem fotocatálise heterogênea (ISO, 2010; MILLS, 2012).
Diversos semicondutores têm propriedades fotocatalíticas, dentre eles, os óxidos de nióbio,
especificamente o Nb2O5, pois esses óxidos possuem valores de energia de banda proibida entre 3,1
e 4,0 eV e possuem valores adequados de potencial de oxirredução nas bandas de valência e de
condução, sendo esses materiais considerados apropriados para aplicação como fotocatalisadores.
Além disso, no caso do Nb2O5, esse óxido se caracteriza por ter estabilidade termodinâmica, elevada
resistência à corrosão e baixa toxicidade (LOPES et al., 2015a; ÜCKER et al., 2021).
Um problema enfrentado na aplicação da fotocatálise heterogênea é a separação do
fotocatalisador após o processo, já que muitos desses materiais se apresentam como pós finos, muitas
vezes de dimensões nanométricas. Uma maneira de superar as desvantagens apresentadas pelos
fotocatalisadores em pó é imobilizá-los em suporte adequado. Esta alternativa propicia que o material
seja facilmente recuperado e que haja redução em sua perda. Alguns dos suportes de imobilização já
usados para fotocatalisadores foram carvão, sílica e vidro (BASHEER; ABDULBARI; MAHMOOD,
2020; KOCIJAN et al., 2021b; YADAV et al., 2020).
Como alternativa a esses suportes, o fotocatalisador pode ser imobilizado em um suporte
cerâmico preparado com argila comum, pois se trata de uma matéria-prima abundante e de baixo
custo, além da simplicidade da produção de materiais cerâmicos usando esse material. Sendo a argila
comum a matéria-prima para a produção de cerâmica vermelha caracterizada por ser um material de
baixo custo, grande disponibilidade no estado do Rio Grande do Norte (ANM, 2022).
A argila comum usada neste trabalho provém de jazida do município de Parelhas-RN e foi
doada pela indústria ceramista. Ao chegar nas dependências do laboratório a argila foi disposta em
bandejas e passou por uma secagem natural de 24 h. Em seguida, o material foi desaglomerado em
moinho de bolas adaptado com tambor e tarugos de aço. Após a desaglomerarão, o material foi
peneirado, primeiramente em peneira ASTM 5 (abertura nominal de 4 mm), para separação de
pedregulhos e mais grossos, e posteriormente foi peneirado em peneira ASTM 40 (0,420 mm). O
material com diâmetros de partículas menores do que 0,420 mm foi o usado para produção da
cerâmica fotocatalítica. Além disso, o teor de umidade da argila preparada foi determinado em 3%,
pois esse parâmetro foi considerado na preparação do suporte cerâmico e do revestimento
fotocatalítico (ABNT, 1986).
Procedeu-se com a mistura entre a argila preparada e água até a obtenção de uma massa
homogênea e plástica. Na adição de água levou-se em consideração o teor de umidade inicial da argila
preparada e limite de plasticidade da mistura foi atingido com 25% de água (ABNT, 1984).
Para obter as placas de argila, a mistura plástica de argila preparada e água foi aplicada em
moldes quadrados de acrílico de 2 mm de espessura e de lados de comprimento nominal de 17 mm
((17,23 ± 0,06) mm, em média e desvio-padrão para 5 medidas).
realizado por Lacerda (2020), que usaram a proporção de 61% e que verificaram baixa atividade
fotocatalítica em materiais com proporções menores de Nb2O5.
Vis (Shimadzu, modelo UV-2600), com varredura no intervalo de comprimento de onda de 220 nm
a 700 nm, utilizando o sulfato de bário como amostra padrão de calibração.
A determinação da carga de ponto zero (PZC) foi realizada aplicando a metodologia descrita
por Regalbuto e Robles (2004), e adaptada por Abreu et al. (2021). Em frascos Erlenmyer de 125 mL,
50 mg de pó do revestimento fotocatalítico e 50 mL de água deionizada foram misturados, sob
diferentes valores iniciais de pH (2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12). Após 24 h de agitação, em agitador
orbital, foram realizadas as medições finais de pH das suspensões. O pHPZC correspondeu à média
dos valores de pH finais que tenderam a um valor constante, independentemente do valor de pH
inicial.
O fotocatalisador produzido foi aplicado na remoção do corante azul de metileno (AM). Para
tanto, como sistema reacional foi utilizado um reator plano de vidro de dimensões 140 mm x 20 mm
x 20 mm com 8 peças do material cerâmico fotocatalítico revestindo o fundo do reator. Em todos os
testes foram usados 30 mL das soluções de azul de metileno com C0= 10 mg/L, que foram recirculadas
no reator para garantir convecção forçada das soluções no reator, sendo usada uma bomba peristáltica
Master Flex 7518-00, com vazão ajustada em 50 mL/min. Como fonte de radiação foi usada uma
lâmpada Ultra Vitalux Osram de 240 V de tensão e 300 W de potência posicionada a 45 cm da
superfície do líquido resultando em uma radiância incidente de 1300 mW/cm2, na faixa de 290 nm a
390 nm.
Foi aplicado um delineamento composto central de face centrada (DCC-FC), com dois fatores,
resultando em 22 pontos fatoriais, 2.2 pontos axiais, com a = 1, e 2 pontos centrais, totalizando 10
corridas (ABREU et al., 2021; MONTGOMERY, 2013). Os dois fatores utilizados foram o pH (sem
unidade) e a concentração de H2O2 (mg/L). A variável de resposta foi a remoção azul de metileno
(%). As condições do delineamento experimental estão apresentadas na Tabela 7.1.
Cada corrida experimental foi conduzida da seguinte forma: as peças cerâmicas ficavam
imersas em água destilada fervida por 24 h, para remoção do ar contido nos poros. Em seguida, foram
enxutas em papel toalha e novamente imersas, agora nas soluções para remoção do AM C0= 10 mg/L,
por 1 h. Em seguida, as peças foram enxutas novamente e dispostas no fundo do reator, com 30 mL
de solução para remoção do AM. As peças em contato com a solução de AM permaneceram por 15
min em adsorção no escuro. Decorrido o tempo de adsorção no escuro, a absorbância da solução foi
medida, sendo esta considerada a absorbância inicial (A0). As medidas de absorbâncias finais (A),
foram realizadas as após 50 min de exposição das soluções com o material fotocatalítico, esse tempo
foi adotado a partir de testes preliminares em que as absorbâncias de amostras foram reduzidas à
aproximadamente metade da absorbância inicial. A remoção de AM foi calculada como mostra a
Equação 7.1.
(𝐴 − 𝐴)
𝑅𝑒𝑚𝑜çã𝑜 (%) = . 100 𝐸𝑞. (7.1)
𝐴
Em que,
A0 – Absorbância inicial
A – Absorbância no instante t
A Figura 7.1 mostra as micrografias do material produzido de perfil (7.1 (A), 7.1 (B) e 7.1
(C)), a fim de destacar a diferença de texturas entre o suporte cerâmico e o revestimento fotocatalítico.
Além disso, destaca-se que os materiais do suporte e do revestimento, que apresentam aspecto mais
áspero, e estão perfeitamente soldados, o que demonstra que a aplicação de revestimento sobre
suporte, seguindo de tratamento térmico é adequado para imobilização de material fotocatalítico sobre
suporte de cerâmica vermelha.
Em 7.1 (D), (E) e (F), as ampliações foram da ordem de 1000x, 3000x e 6000x. Nestas é
possível observar que o aspecto áspero do revestimento em menores ampliações se deve a
inconformidade e porosidade da superfície do revestimento, devido a forma que ele foi aplicado sobre
o substrato. Também é possível verificar a presença de grânulos que, aparentemente, são aglomerados
de Nb2O5, porém só com a realização de uma análise de EDS na região examinada seria possível
confirmar a composição dos grânulos.
Por fim, pelo aspecto apresentado pelas superfícies analisadas, aparentemente, não houve
vitrificação efetiva nos materiais. E isso pode ser explicado pela temperatura de queima que foi de
850° C, já que a formação de fase líquida ocorre, a partir, de 900° C, em que haverá formação
suficiente de fase líquida para propiciar uma sinterização eficiente com alisamento da superfície e
pouca quantidade de defeitos (DOMINGUINI et al., 2014; MORAIS et al., 2011).
Suporte cerâmico
1000
sem adição de Nb2O5
Revestimento fotocatalítico
com 60% de Nb2O5
800
600
(F(r).h)2
400
200
Eg = 2,94 eV
0
1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0
Energia (eV)
12
10
8
pHf
pHpcz = 7,58
2 4 6 8 10 12
pHi
Figura 7.3 - Determinação do ponto de carga zero do revestimento fotocatalítico de Nb2O5 a 60%.
Fonte: autoria própria (2023).
Os difratogramas dos materiais usados neste estudo estão apresentados na Figura 7.4. Os
rótulos numéricos sobre os picos representam as seguintes fases cristalinas: 1 – sílica, 2 – pentóxido
de nióbio, 3 – alumina, 4 – dióxido de titânio. Os picos destacados são os que apresentaram mais de
20% de intensidade em relação à intensidade máxima normalizada.
A Figura 7.4 (A) mostra que as fases cristalinas predominantes na argila tratada foram sílica,
alumina e, como esperado esses foram os principais componentes encontrados na análise de FRX e
na composição típica de argilas comuns em geral (GUIMARÃES, 2017; MORAIS et al., 2011).
Já o difratograma do suporte cerâmico, apresentado na Figura 7.4 (B), apresentou dois picos
de alta intensidade para sílica e dióxido de titânio (TiO2). O TiO2 faz parte da composição da argila
utilizada, como foi verificado na análise de FRX. Cabe ressaltar que o TiO2 se apresentou como a
fase anatase, esta fase apresenta maior atividade fotocatalítica, entre as três fases que este óxido pode
apresentar (OLIVEIRA, 2018). Isso é importante, pois a concentração de TiO2 com atividade
fotocatalítica pode contribuir na eficiência fotocatalítica do material obtido.
O surgimento do pico com a fase anatase do TiO2 pode ser atribuído ao tratamento térmico
para formação do suporte cerâmico, pois Silva, Lansarin e Moro (2013) verificaram que a elevação
da temperatura de calcinação do TiO2 anatase puro aumentou significativamente o grau de
cristalinidade do material.
1,0 1, 3
1, 3 A
0,8
0,6
0,4
0,2
Intensidade normalizada
0,0
10 15 20 25 30 35 40
1,0 1
B
0,8
0,6
0,4 1, 4
0,2
0,0
10 15 20 25 30 35 40
1,0 2 2
1, 2 C
0,8
0,6 1, 2
0,4 1, 2 1, 2 1, 2
1, 2
0,2
0,0
10 15 20 25 30 35 40
2 Theta (graus)
Figura 7.4 - Difratogramas dos materiais estudados. (A) Argila tratada, (B) suporte cerâmico e (C)
revestimento fotocatalítico de Nb2O5 a 60%.
Dessa forma, com o meio reacional em pH = 5,0 houve repulsão entre a superfície do sólido
que se encontrava com excesso de cargas positivas e o corante AM por estar em sua forma protonada.
Daí os valores baixos de remoção de AM no pH = 5,0.
A Figura 7.5 é o gráfico de Pareto que mostra os efeitos estimados padronizados gerados a
partir do modelo completo. A análise do gráfico mostra que apenas os efeitos de pH linear e
quadrático foram significativos para remoção AM. Sendo assim, a concentração de H2O2 não interfere
no processo de remoção, na faixa de concentração estudada.
A partir dessa análise de adequação do modelo que representará o fenômeno da remoção de
AM, um novo modelo contendo apenas os efeitos significativos (p-valor ≤ 0,05) foi gerado e avaliado
quanto à capacidade de predição e falta de ajuste por meio da técnica de análise de variância
(ANOVA).
(1)pH(L) 20,45768
pH(Q) -14,3279
1Lby2L -8,20414
p=,05
Efeitos Estimados Padronizados
A Tabela 7.4 apresenta a ANOVA que foi aplicada na avaliação do modelo da remoção de
metileno em função do pH do meio reacional.
Os testes F aplicados demonstraram que os pH (L) e pH (Q) foram significativos e a falta de
ajuste do modelo não significativa. Além disso, o modelo apresentou um coeficiente de determinação
ajustado de R2 = 0,63342, o que demonstra que o modelo é razoavelmente preditivo.
Após a avaliação do modelo, o gráfico de superfície de resposta (Figura 7.6) foi gerado. A
superfície mostra que valores extremos de pH reduzem o efeito de remoção de AM por fotocatálise.
Isso foi explicado anteriormente quando se abordou a questão da carga superficial do sólido e a
ionização do contaminante que ocorrem em determinados pHs.
É importe destacar que, como a concentração de H2O2 não foi um efeito significativo, então
não há variabilidade da função e, consequentemente, da superfície na direção da concentração de
H2O2.
66
64
62
60
58
56
54
52
120
100
80
H2O2 (mg/L)
60
40
20
66
64
62
0
60
58
56
-20
54
4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5
52
pH
Remoção (%)
1° 2° 3° 4° 5°
Ciclo
7.4. Conclusão
O objetivo proposto no trabalho foi alcançado, já que o material produzido por imobilização
de Nb2O5 em um revestimento aplicado sobre um suporte de cerâmica vermelha apresentou
capacidade de remover o corante AM por fotocatálise heterogênea.
Neste capítulo serão sintetizados os resultados obtidos, a partir dos objetivos do trabalho, as
considerações finais e sugestões pertinentes para estudos futuros que, porventura, deem continuidade
a este.
8.1. Conclusões
vermelha, ficou evidente que se formou uma soldagem adequada entre as duas partes do material, o
que confirmou que a formulação e processo para obtenção do material fotocatalítico foram
apropriados.
As propriedades de perda ao fogo dos materiais produzidos foram semelhantes às de outros
materiais cerâmicos de mesma natureza. O material com 15% de Nb2O5 disseminado apresentou
elevada porosidade em relação à água, isso um fator que colabora para etapa de adsorção da
fotocatálise.
No estudo cinético da remoção de AM, o modelo de Langmuir-Hinshelwood mostrou-se
adequado para modelar o fenômeno e, a partir dele, foi possível encontrar a kapp da reação, que ficou
dentro da faixa de ordens de grandeza de constantes encontradas em outros trabalhos, isso demonstra
que o material produzido é adequado para ser usado como fotocatalisador.
O estudo da influência das condições reacionais sobre a remoção de AM, usando material
composto de revestimento fotocatalítico sobre suporte de cerâmica vermelha, mostrou a importância
do controle de pH no processo de fotocatálise, já que isso determina a carga elétrica na superfície do
sólido, bem como a forma molecular ou ionizada em que o contaminante orgânico apresenta. Já a
concentração do agente oxidante H2O2 demonstrou-se irrelevante, na faixa de concentração estudada.
Um estudo do mecanismo fotocatalítico com agentes removedores de radicais livres seria necessário
para ajudar a elucidar o motivo da concentração de H2O2 não ter causado efeito significativo na
remoção de AM.
As avaliações de reuso dos fotocatalisadores preparados apresentaram resultados satisfatórios
à medida que, nos dois casos estudados, em cinco ciclos de reutilização os materiais não perderam
efetividade na remoção de AM, durante 240 min de exposição.
Por fim, ressaltamos que esta tese se configura como um trabalho de inovação que apresentou
uma parcela de colaboração para a comunidade científica que se dedica a desenvolver materiais
imobilizados de baixo custo, verdes, de fácil recuperação, quimicamente resistentes para aplicação
em fotocatálise heterogênea. Vale lembrar que o processo de descontaminação aqui estudado oferece
vantagens por ser rota de fácil reprodução e escalonamento com poucas etapas de processos e robustez
quanto ao controle das variáveis de processo, facilidade de separação do fotocatalisador do efluente
tratado e sua reutilização eficiente por vários ciclos.
Com base no que foi estudado neste trabalho e nas lacunas apresentadas, sugere-se para
trabalhos futuros que:
Referências bibliográficas
DA SILVA, William Leonardo; LANSARIN, Marla Azário; MORO, Celso Camilo. SÍNTESE,
CARACTERIZAÇÃO E ATIVIDADE FOTOCATALÍTICA DE CATALISADORES
NANOESTRUTURADOS DE TiO2 DOPADOS COM METAIS. Quimica Nova, [s. l.], v. 36, n.
3, p. 382–386, 2013.
DEVI, Th. Babita; AHMARUZZAMAN, M. Bio-inspired facile and green fabrication of
Au@Ag@AgCl core–double shells nanoparticles and their potential applications for elimination of
toxic emerging pollutants: A green and efficient approach for wastewater treatment. Chemical
Engineering Journal, [s. l.], v. 317, p. 726–741, 2017. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1385894717302462>
DOMINGUINI, L. et al. Utilização de resíduos de materiais cerâmicos na adsorção de corante azul
de metileno. Ceramica, [s. l.], v. 60, n. 354, p. 218–222, 2014.
DONG, Chengjun et al. A review on WO3 based gas sensors: Morphology control and enhanced
sensing properties. Journal of Alloys and Compounds, [s. l.], v. 820, p. 153194, 2020. Disponível
em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0925838819344408>
DUTRA, R. P. S.; ARAÚJO PONTES, L. R. Obtenção e análise de cerâmicas porosas com a
incorporação de produtos orgânicos ao corpo cerâmico. Cerâmica, [s. l.], 2002.
FENOLL, José et al. Implementation of a new modular facility to detoxify agro-wastewater
polluted with neonicotinoid insecticides in farms by solar photocatalysis. Energy, [s. l.], v. 175, p.
722–729, 2019. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0360544219305341>. Acesso em: 1 out. 2020.
FERNÁNDEZ-IBÁÑEZ, P. et al. Solar photocatalytic disinfection of water using titanium dioxide
graphene composites. Chemical Engineering Journal, [s. l.], v. 261, p. 36–44, 2015. Disponível
em: <https://www.mendeley.com/catalogue/solar-photocatalytic-disinfection-water-using-titanium-
dioxide-graphene-composites/>
FOTIOU, T. et al. Evaluation of the photocatalytic activity of TiO2 based catalysts for the
degradation and mineralization of cyanobacterial toxins and water off-odor compounds under UV-
A, solar and visible light. Chemical Engineering Journal, [s. l.], v. 261, p. 17–26, 2015.
Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1385894714003842>
GANGULY, Priyanka et al. Antimicrobial activity of photocatalysts: Fundamentals, mechanisms,
kinetics and recent advances. Applied Catalysis B: Environmental, [s. l.], v. 225, p. 51–75, 2018.
Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.apcatb.2017.11.018>
GLIENKE, Judith; STELTER, Michael; BRAEUTIGAM, Patrick. Influence of chemical structure
of organic micropollutants on the degradability with ozonation. Water Research, [s. l.], v. 222, p.
118866, 2022.
PUTRI, Lutfi Kurnianditia et al. Heteroatom doped graphene in photocatalysis: A review. Applied
Surface Science, [s. l.], v. 358, p. 2–14, 2015. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0169433215020012>
RAFIQ, Asma et al. Photocatalytic degradation of dyes using semiconductor photocatalysts to clean
industrial water pollution. Journal of Industrial and Engineering Chemistry, [s. l.], v. 97, p.
111–128, 2021.
REGALBUTO, J. R.; ROBLES, J. O. The engineering of Pt/Carbon Catalyst Preparation.
Chicago.
REGMI, Chhabilal et al. Understanding Mechanism of Photocatalytic Microbial
Decontamination of Environmental Wastewater Frontiers in Chemistry , 2018. Disponível
em: <https://www.frontiersin.org/article/10.3389/fchem.2018.00033>
REY, A. et al. Influence of structural properties on the activity of WO3 catalysts for visible light
photocatalytic ozonation. Chemical Engineering Science, [s. l.], v. 126, p. 80–90, 2015.
Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0009250914007301>
ROCHA, Rafael Lisandro P. et al. Light-Activated Hydroxyapatite Photocatalysts: New
Environmentally-Friendly Materials to Mitigate Pollutants. Minerals 2022, Vol. 12, Page 525, [s.
l.], v. 12, n. 5, p. 525, 2022. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2075-163X/12/5/525/htm>.
Acesso em: 17 maio. 2023.
ROGÉRIO FERREIRA DA SILVA. Avaliação da Presença de Contaminantes Emergentes em
Estações de Tratamento de Esgoto do Estado de Pernambuco e sua Degradação por POA.
2011. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011. Disponível em:
<https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/8475>. Acesso em: 2 out. 2020.
RUEDA-MARQUEZ, Juan José et al. A critical review on application of photocatalysis for toxicity
reduction of real wastewaters. Journal of Cleaner Production, [s. l.], v. 258, p. 120694, 2020. a.
Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959652620307411>
RUEDA-MARQUEZ, Juan José et al. A critical review on application of photocatalysis for toxicity
reduction of real wastewaters. Journal of Cleaner Production, [s. l.], v. 258, 2020. b.
Scopus - Analyze search results. [s.d.]. Disponível em: <https://www-scopus-
com.ez139.periodicos.capes.gov.br/term/analyzer.uri?sid=2d126f698fbb317239d14219cd61c38a&
origin=resultslist&src=s&s=%22photocatalysis%22+or+%22photocatalyst%22&sort=plf-
f&sdt=a&sot=a&sl=35&count=228918&analyzeResults=Analyze+results&txG>. Acesso em: 29
jun. 2020.
SILVA, C. A. A.; SILVA, C. F.; MATOS, J. M. E. Synthesis, characterization and application of
molybdenum trioxide in photocatalysis of synthetic textile effluent. Ceramica, [s. l.], v. 64, n. 371,
p. 454–465, 2018.
SILVA, Elton Nóbrega. Síntese da ferrita de cobre e sua aplicação na degradação fotoquímica
do 2,4-D. 2021. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, [s. l.], 2021. Disponível em:
<https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/32971>. Acesso em: 20 jun. 2023.
SIN, Jin Chung et al. Fabrication of novel visible light-driven Nd-doped BiOBr nanosheets with
enhanced photocatalytic performance for palm oil mill effluent degradation and Escherichia coli
inactivation. Journal of Physics and Chemistry of Solids, [s. l.], 2020.
SU, Kaiyi et al. Nb 2 O 5-Based Photocatalysts. [s. l.], 2021. Disponível em:
<https://doi.org/10.1002/advs.202003156>. Acesso em: 27 abr. 2022.
TEIXEIRA, Paulo César. Manual de métodos de análises de solo. [s.l.] : Embrapa, 2017.
ÜCKER, Cátia L. et al. Photocatalytic degradation of rhodamine B using Nb2O5 synthesized with
different niobium precursors: Factorial design of experiments. Ceramics International, [s. l.], v.
47, n. 14, p. 20570–20578, 2021.
VALLEJO, Marta et al. Overview of the PCDD/Fs degradation potential and formation risk in the
application of advanced oxidation processes (AOPs) to wastewater treatment. Chemosphere, [s. l.],
v. 118, p. 44–56, 2015. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0045653514007231>
VENIERI, Danae et al. Solar photocatalysis as disinfection technique: Inactivation of Klebsiella
pneumoniae in sewage and investigation of changes in antibiotic resistance profile. Journal of
Environmental Management, [s. l.], v. 195, p. 140–147, 2017. Disponível em:
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0301479716303486>
VOLTAN, Paulo Eduardo Nogueira et al. Predição da performance de carvão ativado granular para
remoção de herbicidas com ensaios em coluna de escala reduzida. Engenharia Sanitaria e
Ambiental, [s. l.], v. 21, n. 2, p. 241–250, 2016. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
41522016000200241&lng=pt&tlng=pt>
WANG, Changhua; ZHANG, Xintong; LIU, Yichun. Promotion of multi-electron transfer for
enhanced photocatalysis: A review focused on oxygen reduction reaction. Applied Surface
Science, [s. l.], v. 358, p. 28–45, 2015. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0169433215018681>. Acesso em: 28 nov. 2019.
WANG, Xiaohua et al. Calix[4]pyrrole-Crosslinked Porous Polymeric Networks for the Removal of
Micropollutants from Water. Angewandte Chemie International Edition, [s. l.], v. 60, n. 13, p.
7188–7196, 2021. Disponível em: <https://onlinelibrary-
wiley.ez18.periodicos.capes.gov.br/doi/full/10.1002/anie.202016364>. Acesso em: 18 jun. 2023.
YADAV, Mohit et al. Green BiOI impregnated 2-dimensional cylindrical carbon block: A
promising solution for environmental remediation and easy recovery of the photocatalyst.
Separation and Purification Technology, [s. l.], v. 240, p. 116628, 2020.
YANG, Qiuping et al. Facile fabrication of ScBiOBr photocatalyst immobilized on palm bark with
enhanced visible light photocatalytic performance for estradiol degradation. Journal of Physics
and Chemistry of Solids, [s. l.], v. 130, p. 127–135, 2019.
YANG, Xiaofei et al. Fabrication of P25/Ag3PO4/graphene oxide heterostructures for enhanced
solar photocatalytic degradation of organic pollutants and bacteria. Applied Catalysis B:
Environmental, [s. l.], v. 166–167, p. 231–240, 2015. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0926337314007292>. Acesso em: 2 jul. 2020.
YOU, Junhua et al. A review of visible light-active photocatalysts for water disinfection:
Features and prospectsChemical Engineering JournalElsevier B.V., , 2019. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1385894719310964>. Acesso em: 1 jul. 2020.
ZENG, Xiangkang et al. Highly dispersed TiO2 nanocrystals and WO3 nanorods on reduced
graphene oxide: Z-scheme photocatalysis system for accelerated photocatalytic water disinfection.
Applied Catalysis B: Environmental, [s. l.], v. 218, p. 163–173, 2017. Disponível em:
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0926337317305982>
ZHONG, Quan et al. Adiabatic calorimeter for isochoric specific heat capacity measurements and
experimental data of compressed liquid R1234yf. The Journal of Chemical Thermodynamics, [s.
l.], v. 125, p. 86–92, 2018. Disponível em:
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0021961418304245>
ZHU, Wenyu et al. Facile fabrication of RGO-WO3 composites for effective visible light
photocatalytic degradation of sulfamethoxazole. Applied Catalysis B: Environmental, [s. l.], v.
207, p. 93–102, 2017. Disponível em:
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0926337317301169>
Anexo