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UBERABA-MG
ARAGÃO, Ailton de Souza1;
FERRIANI, Maria das Graças Carvalho2;
PAIVA, Fernanda Silva3.
Resumo
1
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-EERP-USP; Universidade Federal do Triangulo Mineiro-UFTM
(Uberaba-MG); ailton_aragao@terra.com.br .
2
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-EERP-USP
3
Enfermagem. Universidade de Uberaba-UNIUBE (Uberaba-MG)
1
corte da cana ocuparia, em geral, pessoas que não passaram pelo ensino formal, ou ainda, que
não o concluíra; e ainda, pessoas com alguma escolaridade e em situação de desemprego nas
áreas urbanas. Cenários que justificariam a submissão a atividades degradantes, uma vez que
exige um intenso dispêndio de força física.
As informações foram obtidas por meio de 44 entrevistas estruturadas com os cortadores de
cana, selecionados aleatoriamente nos arquivos do Sindicato Rural e que, em seguida, foram
sistematizados em categorias, o grupo fora composto por 34 homens e 10 mulheres. Sobre as
entrevistas, verificamos que a análise do discurso permitiu ampliarmos os contornos que os
dados nem sempre revelam.
Na relação sexo/idade, 70,45% ocupavam a faixa dos 19 aos 30 anos, dos quais 67,65% eram
homens e 80% eram mulheres; já a faixa dos 31 a 45 anos, 32,35% eram homens e 20% eram
mulheres. Quando relacionamos sexo/escolaridade observamos que 36,36% nunca haviam
estudado, dentre os quais, 35,29% eram homens e 40% mulheres, entre os que estudaram (1º
grau incompleto e 2º grau incompleto), os homens somaram 64,70% e entre as mulheres esse
número chegou a 60,00%. Esses dados revelam o desalento relacionado ao acesso à educação
formal para os jovens, sobretudo para as mulheres, e recoloca o dilema sobre a continuidade
dos estudos nas regiões onde se corta cana.
Os depoimentos revelaram, ainda, que os rendimentos estavam associados à quantidade de
horas trabalhadas por dia, logo, os trabalhadores estariam mais expostos aos riscos de
acidentes, pois o cansaço era visível. Todos os trabalhadores afirmaram que a Usina oferecia
os EPI´s e que consideravam importante o uso dos mesmos. Diante desse quadro, indagamos:
quando o homem ou a mulher cortadores de cana se cansavam em demasia, os EPI´s
comprometeriam a produtividade, refletindo-se nos ganhos, logo, a dispensa de EPI´s soa
como estratégia de manutenção ou aumento dos ganhos. Um dilema se apresentou aos sujeitos
da pesquisa: a mecanização do corte da cana aliada a não notificação de dores ou acidentes
leves evidenciam o receio de perder o emprego, mesmo temporário. Por sua vez, notificar
acidentes implicaria em “sujar a ficha”, pois dificultaria encontrar um novo emprego na
região, conduzindo-os, portanto, à resignação. Uma realidade que expõe os trabalhadores da
Usina ao risco contínuo de acidentes e desafia a efetivação do direito à saúde e sua promoção
por meio de políticas públicas e os mantêm como “cidadãos de segunda categoria”.