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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM REDE NACIONAL PARA O
ENSINO DAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS
________________________________________________________________

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº ....

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS, MAPEAMENTO E


EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROPOSTA DE INSTRUMENTO
PARA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA QUESTÃO
AMBIENTAL NO BAIRRO DA MARAMBAIA, BELÉM-PA

Dissertação apresentada por:

Moacir José Moraes Pereira


Orientador: Prof. Dr. Marcelo Petracco (UFPA)
Coorientador: Prof. Dr. Estanislau Luczynski (UFPA)

BELÉM
2018
i
Universidade Federal do Pará
Instituto de Geociências
Programa de Pós-Graduação em rede nacional para o ensino das
Ciências Ambientais

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS, MAPEAMENTO E


EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROPOSTA DE INSTRUMENTO
PARA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA QUESTÃO
AMBIENTAL NO BAIRRO DA MARAMBAIA, BELÉM-PA

DISSERTAÇÃO APRESENTADA POR:

Moacir José Moraes Pereira

Como requisito parcial à obtenção do Grau de Mestre em Ciências na Área de Ensino


em Ciências Ambientais

Data de Aprovação: 17 /12 /2018

Banca Examinadora:
_________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Petracco Orientador – UFPA

________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Voyner Ravena Cañete
Membro – UFPA

_______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Márcia Valéria Porto de Oliveira Cunha
Membro - IFPA

ii
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho inicialmente à minha amada esposa Ana Rosa, minhas filhas
Beatriz e Sophia, que representam minha motivação de seguir na maravilhosa jornada que é a
vida. Com todo afeto e gratidão aos meus pais, José Varella e Palmira, meus irmãos, Rodolfo,
Araci e Victor. Estes que carregam em si o espírito de ser coletivo.

Dedico ainda este trabalho à todas as pessoas que acreditam na educação ambiental
como forma de sobrevivência da espécie humana.

iii
AGRADECIMENTO

Inicialmente agradeço ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior (CAPES) e da Agência Nacional de Águas (ANA) para que este trabalho tenha
se tornado realidade. Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em rede nacional para o ensino
das Ciências Ambientais, através da Universidade Federal do Pará. Agradeço cada docente
que nos guiou pela trilha da ciência e do conhecimento. Agradeço à Secretaria Estadual de
Educação do Estado do Pará, através de seus servidores da educação que acreditaram na
proposta do presente trabalho, agradeço a cada escola participante, a cada professor, diretores
e alunos que colaboraram para que este produto pudesse existir. Agradeço à comunidade do
bairro da Marambaia, às associações e grupos de moradores que prestaram informações e
colaboraram no que foi possível.

Por fim gostaria de deixar um especial agradecimento ao meu orientador, Prof. Dr.
Marcelo Petracco, que com dedicação, paciência e amizade me guiou durante esta jornada
construtiva. Grato!

iv
RESUMO

A sociedade atual está passando por uma crise ambiental, situação que demanda ações
de gestão e educação ambiental que levem as populações a tomarem uma nova via para sua
manutenção e para a relação da sociedade com a natureza. As ações mais efetivas se dão nos
lugares, pois é nesta escala de vivência que as relações do meio ambiente e sociedades, em suas
concepções de vida e influências socioculturais, se concretizam. O modo com o qual uma
determinada sociedade se relaciona com a natureza reflete a cultura desta sociedade, dada pelos
seus costumes e hábitos. Nas culturas urbanas podemos observar estreita relação com o
consumo de produtos de origem industrial, que geram resíduos que, quando não são dispostos
e tratados de forma adequada, impactam consideravelmente o meio ambiente urbano. A
população do bairro da Marambaia, situado em Belém do Pará, com mais de 65.000 habitantes,
tem sofrido com problemas ambientais relacionados à gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos -
RSU, e por vezes tem contribuído com o aumento desta problemática ambiental quando despeja
estes resíduos de forma irregular. Alguns dos problemas causados são proliferação de vetores
de doenças, mau cheiro, poluição visual, aumento de gastos públicos no recolhimento não
planejado destes materiais, entre outros. Nesse sentido, esse estudo apresenta uma plataforma
de mapeamento de pontos de despejo irregular de RSU no bairro da Marambaia, utilizando
técnicas de Geoprocessamento, ferramentas computacionais e estímulo à participação de
escolas do bairro via mapeamento participativo e colaborativo. O mapa de distribuição de
pontos de despejo irregular de RSU poderá auxiliar na tomada de decisão do setor público ao
combate ao despejo irregular de RSU e em ações prioritárias de educação ambiental.

Palavras-chave:

Geoprocessamento; Gestão ambiental; Meio Ambiente; Sociedade; Resíduos Sólidos.

v
ABSTRACT

The current society is going through an environmental crisis, a situation that demands
actions of management and environmental education that lead the populations to take a new
route for its maintenance and for the relationship of society with nature. The most effective
actions take in places, because it is in this scale of experience that the relations of the
environment and societies, in their conceptions of life and sociocultural influences, are
concretized. The way in which a particular society relates to nature reflects the culture of this
society, given its customs and habits. In urban cultures, we can observe a close relationship with
the consumption of products of industrial origin, which generate waste that, when not disposed
of and treated properly, has a significant impact on the urban environment. The population of
the district of Marambaia, located in Belém do Pará, with more than 65,000 inhabitants, is suffer
from environmental problems related to the management of Urban Solid Waste - RSU, and has
sometimes contributed to the increase of this environmental problem when dumps waste
irregularly. Some of the problems caused are proliferation of vectors of diseases, bad smell,
visual pollution, increase of public expenses in the unplanned collection of these materials,
among others. In this sense, this study presents a platform for mapping of irregularly solid waste
disposal points in the district of Marambaia, using Geoprocessing techniques, computational
tools and stimulation of participation of neighborhood schools through participatory and
collaborative mapping. The map of irregularly solid waste disposal points can help in public
sector decision-making to combat illegal waste disposal and priority environmental education
actions.

Key words:

Geoprocessing; Environmental management; Environment; Society; Solid Waste.

vi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos;

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas;

CODEM - Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém;

DASAC - Distrito Administrativo da Sacramenta;

DAENT - Distrito Administrativo do Entroncamento;

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais;

MZAN - Macrozona de Ambientes Naturais;

MZAU - Macrozona do Ambiente Urbano;

OMS – Organização Mundial de Saúde;

RMB - Região Metropolitana de Belém;

RSU - Resíduos Sólidos Urbanos;

SEDUC/PA - Secretaria Estadual de Educação do Estado do Pará.

vii
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ..................................................................................................................... iii

AGRADECIMENTO ............................................................................................................. iv

RESUMO ..................................................................................................................................v

ABSTRACT ............................................................................................................................ vi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................ vii

1- INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1

2- BASE CONCEITUAL ......................................................................................................... 4

2.1- O TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, REFERÊNCIAS HISTÓRICAS ............ 4

2.2- RESÍDUOS SÓLIDOS CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS ............................. 6

2.3- RESPONSABILIDADE DE COLETA, TRATAMENTO E ALGUNS ASPECTOS


LEGAIS ..................................................................................................................................... 8

2.4- A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................................................... 15

2.5- RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS, INTERDISCIPLINARIDADE E FASES DA


GESTÃO ................................................................................................................................. 16

2.6- A COLETA SELETIVA ..................................................................................................... 18

2.7- EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................................ 20

2.8- PERCEPÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................... 25

2.9- GEOPROCESSAMENTO ................................................................................................ 28

2.10- MAPEAMENTO PARTICIPATIVO .............................................................................. 29

3- OBJETIVOS ...................................................................................................................... 30

3.1- OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 30

3.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 30

viii
4. METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................................... 32

4.6- ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................ 32

4.1- O DESENVOLVIMENTO DA FERRAMENTA …………………..............………….... 35

4.2- A CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM PONTOS DE


DESPEJO IRREGULAR NO BAIRRO DA MARAMBAIA .................................................. 36

4.3- ZONEAMENTO DO BAIRRO PELA DENSIDADE POPULACIONAL E RENDA


.................................................................................................................................................. 38

4.4- ATORES SOCIAIS QUE IMPACTAM NA QUESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS


URBANOS NO BAIRRO ....................................................................................................... 38

4.5- PALESTRAS NAS ESCOLAS DO BAIRRO ................................................................. 39

5- RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................... 40

6.1- MAPEAMENTO DOS PONTOS DE DESPEJO IRREGULAR DE RESÍDUOS


SÓLIDOS NO BAIRRO DA MARAMBAIA ATRAVÉS DE ESTUDO DE CAMPO E
MAPEAMENTO PARTICIPATIVO EM ESCOLAS DO BAIRRO ........................................ 40

6.1.2 – MAPEAMENTO PARTICIPATIVO ........................................................................... 46

6.2 – CARACTERIZAÇÃO DOS RSU EM PONTOS DE DESPEJO IRREGULAR NO


BAIRRO DA MARAMBAIA ................................................................................................. 54

6.3 – ZONEAMENTO DO BAIRRO POR DENSIDADE POPULACIONAL, RENDA, E


NÚMERO DE PONTOS DE DESPEJO IRREGULAR DE RSU ........................................... 65

6.4 – ALGUNS ATORES SOCIAIS QUE INFLUENCIAM NA PROBLEMÁTICA DOS RSU


NO BAIRRO DA MARAMBAIA ........................................................................................... 72

6.5 – ATIVIDADES NAS ESCOLAS E COMUNIDADE ...................................................... 76

6.6– PLATAFORMA DE MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL


.................................................................................................................................................. 81

ix
6.7 – PERCEPÇÃO DOS ALUNOS QUANTO À NATURALIZAÇÃO DA PRESENÇA DO
LIXO E DE SEU CONHECIMENTO DA POSSÍVEL RECICLAGEM DO MESMO
.................................................................................................................................................. 85

7- AÇÕES COLETIVAS ........................................................................................................ 100

8- CONCLUSÕES ................................................................................................................ 107

9- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 111

ANEXO ................................................................................................................................. 117

x
1- INTRODUÇÃO

Nas cidades, onde se dão muitas inovações tecnológicas e onde as transformações


culturais ocorrem de forma mais intensa, a pressão sobre o ambiente é bem significativa
(MUCELIN & BELLINI, 2008, p.112). Nessa linha de pensamento destacamos que, de maneira
cíclica, as cidades, com a produção de resíduos sólidos, emissões atmosféricas, poluição sonora
e visual, entre outros impactos negativos, geram e intensificam estes problemas sobre si mesmas
o que exige mudanças urgentes.

A problemática ambiental dada na maioria das cidades do mundo nos remete para a
necessidade de uma ‘reforma ecológica’, que possibilitará que os ambientes urbanos possam
ter qualidade suficiente ao bem-estar de suas populações. Entretanto tal mudança somente será
alcançada através da reflexão crítica e do estímulo à adequadas políticas públicas e educação
ambiental, assim como a fiscalização de sua implantação. Em nossas cidades é comum
observarmos os espaços públicos negligenciados tanto pelos governos, como pelas populações,
com o lançamento irregular de resíduos nas vias, em córregos e logradouros públicos. A questão
da produção de resíduos sólidos é tão importante nas cidades que para o planejamento destas
não se pode deixar de incluir nas políticas, normas e ações públicas a questão do(s) lixo/resíduos
sólidos (ibid. p.112-113).
Para Braga, Ramos & Dias (2010, p. 269) o estudo da problemática do resíduo sólido
urbano (RSU) trata de um tema de relevância global, sendo que tem relação direta com a questão
da água e com o meio ambiente. Para estas autoras, existe crescente necessidade para que se
diminuam os impactos sobre os recursos naturais, demandando que sejam desenvolvidas
estratégias tecnológicas adequadas sobre a destinação final e a reciclagem dos resíduos
produzidos pelas sociedades.

Na sociedade atual os impactos causados pela problemática ambiental têm se refletido


de maneira negativa para a sobrevivência da humanidade. Desta forma é inegável que há a
necessidade do enfrentamento desta questão através de ações políticas responsáveis que
estimulem a participação cidadã (AGUIAR, 1994, p.35). Estimular as pessoas para que
participem das discussões dos problemas de sua cidade, de seu lugar, farão com que as ações
definidas possuam maior legitimidade e que as pessoas do lugar se sintam sujeitos do processo

1
decisório e da solução. Assim o desafio de construção de lugares em que a qualidade de vida
esteja no ponto central das ações se torna mais factível.

Aguiar (1994, p. 41) faz uma importante avaliação em relação à gestão pública do meio
ambiente. Este autor explica que as ações de fiscalização e combate às agressões ao meio
ambiente, mais eficazes e legítimas da gestão pública, estão diretamente relacionadas com o
exercício da cidadania ambiental.

As cidades não são isoladas, são dependentes de diversos fatores bióticos e abióticos
como um ecossistema. De acordo com Dias (2004, p. 227-228) é uma ilusão acreditar que uma
cidade é autossuficiente, pois é dependente do fluxo de matéria e energia vindo de outras
localidades, e ainda altera e é alterado por outros ecossistemas, locais e globais.

Figura 1 – Ecossistema urbano.


Adaptado de Dias (2004, Apud UNESCO/UNEP, 1983)

A sobrevivência da espécie humana depende de melhorar a qualidade ambiental através


de tecnologias que não prejudiquem o meio ambiente, o termo ecologia foi utilizado pela
primeira vez em 1869 pelo biólogo alemão Ernst Haeckel. De acordo com Odum (1988, p.45)
a cidade é um ecossistema dependente e incompleto. Ele explica:

2
[...] uma cidade, especialmente uma Cidade industrializada, é um
ecossistema incompleto ou heterotrófico, depende de grandes áreas
externas à ele para a obtenção de energia, alimentos, fibras, água e outros
materiais. (ODUM, 1988, p.45)

O adensamento das populações urbanas tem relação direta com o aumento de problemas
diversos, tais quais: problemas sociais, políticos, econômicos e no nível dos indivíduos. A
relação que as cidades têm com o meio ambiente é de alteração deste último e chega ao ponto
de sua negação (AGUIAR, 1994, p.53). A negação da natureza nas cidades é visível em ações
que prejudicam a qualidade ambiental das mesmas, por exemplo, quando há o despejo irregular
de resíduos em áreas verdes, ou espaços públicos, o impacto vai além da questão paisagística,
chegando ao desequilíbrio ambiental e podendo levar ao aumento de problemas de saúde nas
comunidades afetadas pela proliferação de animais e insetos, vetores de doenças.

O despejo irregular de Resíduos Sólidos Urbanos tem impactado na qualidade de vida


da população do bairro da Marambaia em Belém do Pará. Tendo em vista tal situação o presente
trabalho investigou em que medida as percepções locais contribuem para a construção de uma
ferramenta de mapeamento capaz de ofertar dados para a gestão pública com objetivo de
solucionar problemas da gestão de resíduos sólidos e criar processos multiplicadores da
importância para a comunidade desta questão socioambiental. De acordo com dados da
Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN, diariamente são retiradas 500 toneladas de
resíduos sólidos de pontos de despejo irregular na capital do Pará, tendo um custo mensal
operacional de aproximadamente R$ 2 milhões, chegando em R$ 24 milhões ao ano (Agência
Belém, 2017), valor que poderia ser investido em outras áreas, ou convertido em geração de
renda e inclusão social.

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2- BASE CONCEITUAL

2.1 - O TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, REFERÊNCIAS HISTÓRICAS

Braga, Ramos & Dias (2010, p.272) abordam as primeiras formas de tratamento dado
por alguns países sobre a questão dos Resíduos Sólidos Urbanos - RSU. Estas autoras informam
que durante a Idade Média, na Inglaterra, aproximadamente em 1388, o parlamento determinou
que fosse proibida a disposição de lixo nas ruas e corpos d´água. Já no ano de 1407, houve a
orientação de que o lixo produzido fosse guardado dentro das residências, aguardando a
passagem do serviço de coleta, e que isto foi aplicado por aproximadamente cinco séculos.
Entretanto, a gestão encontrou dificuldades para manter tal situação com o crescimento
industrial. No ano de 1874 os ingleses desenvolveram uma tecnologia de incineração de RSU,
conhecido como “O Destruidor”.

Na França, aproximadamente em 1400, a questão da produção de lixo influenciou na


questão de defesa de Paris, pois os amontoados de lixo causavam interferência nas ações de
segurança. No ano de 1885, nos Estados Unidos da América (E.U.A), foi posto em
funcionamento o primeiro incinerador, em Nova Iorque, sendo que em 1914, no país havia mais
de 300 unidades. Já em 1920, ainda nos E.U.A., se definia a incineração como a maneira mais
comum de disposição final de RSU, em 1965 foi criada neste país a Agência de Proteção
Ambiental, e em 1979 ficou proibida a disposição de RSU nas vias e ambientes não definidos
para tal fim (ibid. p.272).

Braga, Ramos & Dias (Ibdem, p.272-273) também fazem um breve apanhado histórico
sobre o tratamento do lixo, por parte do Estado no Brasil. De acordo com essas autoras, em
1880 na capital do Império do Brasil foi dado início em 25 de setembro, o primeiro Serviço de
Limpeza Urbana de forma oficial, na capital imperial, São Sebastião do Rio de Janeiro, via
decreto de Dom Pedro II, nº 3.024, o qual fazia a aprovação de serviço de “limpeza e irrigação”
na cidade. No ano de 1885, fora contratado para o serviço de limpeza das praias e ainda a
destinação do lixo para a Ilha de Sapucaia, o francês Aleixo Gary, de onde se originou o termo
“gari” para os trabalhadores da limpeza urbana.

De acordo com Grippi (2006, p.4), as mudanças ocorridas pela forte urbanização
brasileira a partir dos anos 80 motivaram que a população destinasse, através de novas formas

4
de consumo, outros tipos de materiais ao “lixo”, diferentes dos que eram destinados em períodos
anteriores. Além do tipo, também se alterou a quantidade e a qualidade, destacando-se os
diversos tipos de embalagens. Segundo esse autor se produz em média 100.000 toneladas de
resíduos sólidos por dia no Brasil, atingindo uma média de 500g de resíduos por brasileiro/dia.

Infelizmente, em nosso país, a maioria das prefeituras trata a questão dos resíduos
sólidos urbanos de forma ineficiente. De acordo com dados da Associação Brasileira de
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE, no ano de 2016, o Brasil
possuía mais de 3.331 municípios, que encaminharam 29,7 milhões de toneladas de RSU para
lixões ou aterros controlados sem as especificações técnicas adequadas para o tratamento deste
material (ABRELPE, 2016, p.14).

De acordo com Oliveira (2000, p.191), no aspecto de gestão municipal, Belém, teve um
plano urbanístico criado com fins de expansão urbana no período da intendência de Antônio
José de Lemos, de 1897 até 1911, período no qual surgiu o código de obras, o serviço de limpeza
urbana e a construção de um forno crematório para o saneamento da cidade, o que deu origem
ao nome do bairro da Cremação na capital do Estado do Pará.

Oliveira (ibdem, p. 198) nos explica que a cidade de Belém, foi uma das primeiras a
implantar uma Usina de Incineração em nosso país, esta que teve sua implantação em 1901 e
poderia cremar até 80 toneladas de resíduos por dia. Ainda de acordo com este pesquisador,
sofreu ampliação e teve em operação 19 câmaras de combustão, porém funcionou até 1978. A
usina foi desativada por causa de diversos fatores, tais quais, manutenção inadequada,
sobrecarga da capacidade de queima, e ainda problemas ambientais junto à população das
proximidades.

No ano de 1978 foi criado o Plano Diretor de Limpeza Pública da Região Metropolitana
de Belém – RMB, que tinha como objetivo a implantação de um Aterro Sanitário e buscava
solucionar ainda a problemática de coleta de resíduos na cidade que chegava ao alarmante
índice de 70% não coletado. Em 1984, estudos iniciais apresentaram a proposta de criação do
“Complexo de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Belém”, que previa em sua
estrutura: Usina de Incineração de materiais de alto risco (hospitalar e restos de animais) com
capacidade de processamento de 21 toneladas por dia; Usina de reciclagem e compostagem de
material domiciliar, feiras e mercados, para processar 600 toneladas por dia; Aterro Sanitário
para rejeitos das usinas e resíduos da limpeza pública. Teria sua locação em Santana do Aurá,
5
Ananindeua/PA, município da RMB de Belém (OLIVEIRA, 2000, p. 198-199). Infelizmente,
o projeto foi implantado com falhas e incompleto, chegando a desenvolver diversos problemas
socioambientais causados pela má gestão do espaço, sendo fechado, porém ainda recebe
materiais considerados como “entulho”. Nos dias atuais o Aterro Sanitário de Marituba/PA,
novo aterro para a RMB, carrega em si também problemas de gestão e impactos
socioambientais, mostrando que ainda há um grande caminho a se seguir na capital do Pará na
questão dos RSUs.

2.2- RESÍDUOS SÓLIDOS CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

Para Barros (2012, p.1) o termo lixo exclui a possibilidade de reaproveitamento,


reutilização e reciclagem. Conforme Naime (2010), o termo resíduo tem sua origem no latim
da palavra residuu que indica aquilo que sobra de algum material ou substância, a ela se anexou
o termo sólido para diferenciar de materiais gasosos. O termo lixo, também deriva do latim, de
lix que possue o sentido de resto ou lixívia. Assim, este autor explica que anteriormente os
resíduos sólidos eram denominados de lixo. Existe, porém, uma tendência a se denominar que
os materiais separados ou passíveis de separação ou reciclagem são resíduos sólidos, e os
materiais misturados e contaminados tendem a ser denominados lixo (ibidem.).

Os resíduos sólidos podem ser classificados de várias formas. Braga, Ramos e Dias
(2010, p. 299-300) informam que a forma mais usual de classificação leva em consideração a
origem, a composição química e a periculosidade dos materiais, e, desta forma, não existe um
padrão ideal de classificação. Assim, estes autores destacam alguns critérios para a classificação
do RSU: a) Origem, fonte e local de produção: doméstico, residencial ou domiciliar, comercial,
hospitalar, especial, radioativo, industrial, público, urbano e rural; b) Tratabilidade:
biodegradável, descartável e reciclável; c) Grau de biodegradabilidade: alto, moderado, lento e
não degradável; d) Padrão econômico e fonte: alto, médio e baixo; e) Possibilidade de reagir
com o meio: inerte, orgânico e reativo; f) Aspecto econômico: aproveitável, inaproveitável e
recuperável; g) Possibilidade de incineração: combustível e não combustível; h)
Recuperação/geração energética: alta, média e baixa; i) Aspecto sanitário: contaminado e não
contaminado; j) Natureza física: seco e molhado; k) Composição química: orgânica e
inorgânica;
6
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT , os Resíduos
Sólidos são todos os resíduos oriundos de atividades industriais, domésticas, hospitalares,
comerciais, agrícolas, serviços, limpeza e varrição de espaço públicos. Incluem-se lodos de
sistemas de tratamento de água, de sistemas de controle de poluição e líquidos que possuem
características que impedem seu lançamento em sistema de esgoto ou canais fluviais. Ainda, de
acordo com a origem podem ser classificados como: domiciliares, de serviços de saúde, de
atividades comerciais, industriais, de varrições, material radioativo, de portos e aeroportos,
entre outros (BRINGHENTI, 2004, p.3).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, em sua NBR 10.004/2004, define
algumas formas de classificação e na NBR 10.007/2004 apresenta formas de amostragem dos
materiais. Na NBR 10.004/2004 os Resíduos possuem as seguintes classificações finais:
Resíduos Classe I, Perigosos, apresentam periculosidade com risco à saúde ou ao meio
ambiente, ou que apresentem inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade e
patogenicidade; Resíduos Classe II A, Não Inertes, os que não pertencem a Classe I ou a Classe
II B, estes podendo ser biodegradáveis, combustíveis e solúveis, e ainda não apresentam
nenhuma forma de contaminação de origem industrial; e Resíduos Classe II B, Inertes, estes
não apresentam solubilidade, também não são inflamáveis ou podem sofrer reação física ou
química e ainda não são reativos à outras substâncias.

Braga, Ramos e Dias (2010, p.302) explicam que quanto à classificação e à


quantificação dos resíduos sólidos existem diversas características que podem influenciar nas
análises tais quais os aspectos socioeconômicos da população que os produz, as questões
culturais que levam aos tipos de consumo e cuidados com o meio ambiente, questões climáticas,
a geomorfologia das regiões e lugares por exemplo.

Para que se possa proceder de forma adequada na gestão dos RSU, há necessidade de se
conhecer, de forma zoneada, observando-se as características socioespaciais da cidade e bairros,
ou cidades envolvidas. Barros (2012, p.17) expõe que se deve levantar as características dos
resíduos produzidos, para assim determinar as ações e direcionamentos da gestão dos mesmos,
estas características são físicas (quantidade per capita, teor de umidade e peso, por exemplo),
químicas (proporção de carbono/nitrogênio, aproveitamento térmico, acidez e nutrientes) e
biológicas (microbiologia, degradação orgânica e gases produzidos). Desta forma, os
responsáveis pela gestão terão conhecimento das melhores formas de coletar, transportar,
armazenar e tratar destes materiais até a sua adequada disposição final. Também se faz
7
pertinente observar de onde se originam tais materiais para que se possa fazer a adequada
responsabilização nas etapas a serem desenvolvidas no processo de gestão, nas diversas esferas,
municipal, estadual e federal.

2.3- RESPONSABILIDADE DE COLETA, TRATAMENTO E ALGUNS ASPECTOS


LEGAIS

Barros (2012, p.8) mostra dois conceitos fundamentais que fazem parte da Política
Nacional de Resíduos Sólidos, a questão da Logística Reversa e da Responsabilidade
Compartilhada, pontos que deveriam ser estimulados para sua implementação em nossos
municípios, com integração da sociedade. A Logística Reversa consiste no retorno ao setor
empresarial, dos resíduos resultantes de seus produtos industrializados, a exemplo de
embalagens e peças danificadas. Desta forma seria valorizado o reaproveitamento dos
materiais, através de processos de reuso e ou reciclagem dentro do ciclo produtivo, como
também as empresas contribuiriam diminuindo o passivo ambiental, pois direcionariam os
resíduos que não pudessem entrar em outro ciclo produtivo para um destino final com menor
impacto ambiental. Entretanto, para que tais ações se tornem possíveis, há necessidade de se
criarem protocolos e ações que possibilitem a coleta adequada destes materiais, com ampla
participação do setor produtivo e estímulo aos consumidores para sua colaboração.

Já a Responsabilidade Compartilhada, abarca o conjunto de atores sociais que de


alguma forma têm relação com determinados produtos, dentro de seu ciclo, indo da sua
produção até o serviço de limpeza urbana (ibid. p.8). Participam as fábricas, as empresas
responsáveis pelo processo de importação e/ou distribuição, as lojas e comércios, os
consumidores e, por fim, a gestão pública de limpeza urbana e resíduos sólidos. O objetivo da
Gestão Compartilhada é a diminuição do volume final de RSU e ainda de materiais ou rejeitos
produzidos, minimizando desta forma os problemas ambientais e contribuindo ainda para a
saúde ambiental e social, além de estimular frentes de trabalho e produção de renda.

Barros (ibdem. p.4) explica que sobre a produção de RSU existe a responsabilidade
compartilhada de todos os envolvidos no processo que vai da geração do produto até a
disposição final dos resíduos resultantes de sua produção, incorporando aí o ciclo de vida dos

8
produtos. Grippi (2006, p.29) explica que, de acordo com a legislação em vigor, a
responsabilidade pelo resíduo sólido depende do tipo, sendo o material de origem domiciliar,
comercial e público, das prefeituras e os de origem hospitalar, especial, industrial e agrícola,
dos geradores.

Conforme a lei 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos,


tornou-se dever dos Estados, Municípios e Distrito Federal a implementação de uma política de
gerenciamento de RSU e ainda, pelo o que define o decreto federal nº 7.404/2010, em seu artigo
78, para que os entes da Federação Brasileira possam acessar aos recursos direcionados ou sob
controle da União.

São considerados Planos de Resíduos Sólidos, conforme a lei 12.305/2010, o Plano


Nacional de Resíduos Sólidos, os planos estaduais de resíduos sólidos, os planos
microrregionais de resíduos sólidos e ainda os planos para as regiões metropolitanas, os
consórcios intermunicipais e os planos de gestão integrada de resíduos sólidos municipais.

Conforme o decreto federal nº 6.514/2008 (posteriormente alterado pela lei


12.305/2010), no qual é estabelecida a regulamentação da lei de crimes ambientais, todo àquele
que de alguma maneira venha a causar poluição com possibilidade de danos à saúde humana e
ao meio ambiente está sujeito a multa que vai de R$ 5.000,00 até R$ 50.000.000,00. No artigo
62 do referido decreto, em relação ao despejo irregular de RSU, está definido que:

Art. 62. Incorre nas mesmas multas do art. 61 quem:

I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para ocupação


humana;

II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda


que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas ou que
provoque, de forma recorrente, significativo desconforto
respiratório ou olfativo devidamente atestado pelo agente
autuante;

III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção


do abastecimento público de água de uma comunidade;

9
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias pelo
lançamento de substâncias, efluentes, carreamento de materiais
ou uso indevido dos recursos naturais;

V - lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos ou detritos,


óleos ou substâncias oleosas em desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou atos normativos;

VI - deixar, aquele que tem obrigação, de dar destinação


ambientalmente adequada a produtos, subprodutos,
embalagens, resíduos ou substâncias quando assim determinar
a lei ou ato normativo;

VII - deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade


competente, medidas de precaução ou contenção em caso de
risco ou de dano ambiental grave ou irreversível; e

VIII - provocar pela emissão de efluentes ou carreamento de


materiais o perecimento de espécimes da biodiversidade.

IX - lançar resíduos sólidos ou rejeitos em praias, no mar ou


quaisquer recursos hídricos;

X - lançar resíduos sólidos ou rejeitos in natura a céu aberto,


excetuados os resíduos de mineração;

XI - queimar resíduos sólidos ou rejeitos a céu aberto ou em


recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para a
atividade;

XII - descumprir obrigação prevista no sistema de logística

reversa implantado nos termos da Lei no 12.305, de 2010,


consoante as responsabilidades específicas estabelecidas para o
referido sistema;

XIII - deixar de segregar resíduos sólidos na forma estabelecida


para a coleta seletiva, quando a referida coleta for instituída
pelo titular do serviço público de limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos;

10
XIV - destinar resíduos sólidos urbanos à recuperação

energética em desconformidade com o § 1o do art. 9o da Lei

no 12.305, de 2010, e respectivo regulamento;

XV - deixar de manter atualizadas e disponíveis ao órgão


municipal competente e a outras autoridades informações
completas sobre a realização das ações do sistema de logística
reversa sobre sua responsabilidade;

XVI - não manter atualizadas e disponíveis ao órgão municipal


competente, ao órgão licenciador do SISNAMA e a outras
autoridades, informações completas sobre a implementação e a
operacionalização do plano de gerenciamento de resíduos
sólidos sob sua responsabilidade; e

XVII - deixar de atender às regras sobre registro,


gerenciamento e informação previstos no § 2º do art. 39 da Lei
nº 12.305, de 2010.

DECRETO Nº 6.514, DE 22 DE JULHO DE 2008

Para o município de Belém/PA, existem normas legais que direcionam o tratamento dos
resíduos sólidos urbanos e pontos correlacionados como educação ambiental, código de postura
e outros. Observamos que o município tem bom amparo legal neste sentido. A seguir
destacaremos algumas:

Legislação Municipal, Belém-PA Assunto

Lei Orgânica do Município de Define como de competência municipal e


Belém, capítulo VI, do Meio exercício de atribuições no que tange à defesa,
Ambiente, artigos 160 e 167. preservação e controle ambiental. Destacam-se o
estímulo à educação ambiental nas escolas
municipais e para a população; A obrigatoriedade
de proteção ao meio ambiente e combate à
poluição; Controle e fiscalização dos padrões

11
ambientais; Acesso à informação sobre fontes e
causas de poluição e degradação do meio
ambiente; promoção de ações judiciais e
administrativas de responsabilidade aos
poluidores e aos que degradem o meio ambiente;
Dar prioridade à conservação e recuperação
ambiental em qualquer programa, projeto ou
política pública e privada.

Lei nº 6.156, de 04 de julho de Cria penalidade com multa a quem destruir


1966 árvores das vias públicas de Belém.

Lei nº 7.054, de 27 de dezembro de Aprova o Plano de Desenvolvimento da Grande


1977 Belém.

Lei nº 7.055, de 30 de dezembro de Versa sobre o Código de Postura do Município de


1977 Belém/PA

Lei nº 7.192, de 21 de dezembro de Institui a Taxa de Resíduos Sólidos – TRS / (Taxa


1981 de Limpeza Pública) no Município de Belém e dá
outras providências

Lei nº 7.341, de 18 de março de Criação da Secretaria Municipal de Saneamento e


1986 o Departamento de Resíduos Sólidos

Lei nº 7678, de 29 de dezembro de Institui o Código de Vigilância Sanitária


1993

Lei nº 7.631, de 24 de maio de Torna obrigatória a coleta seletiva de lixo nas


1993 escolas públicas, hospitais, restaurantes,
supermercados, feiras, mercados, grandes lojas,
praias, logradouros públicos e similares.

12
Lei nº 7747 de 02 de janeiro de Criação do Centro de Referência em Educação
1995 Ambiental, Escola Bosque “Professor Eidorfe
Moreira”

Lei nº 7875, de 16 de março de Criação do Programa Agenda 21 Local


1998

Lei nº 7.917, de 08 de outubro de Dispõe sobre a criação do Programa "Cidade


1998 Limpa Povo Sadio", e dá outras providências.

Lei nº 7.954, de 07 de maio de Dispõe sobre a colocação de lixeiras nos passeios


1999 públicos e dá outras providências.

Lei nº 8.008, de 31 de janeiro de Dispõe sobre a obrigatoriedade de inclusão do


2000 conteúdo programático Educação Ambiental na
grade curricular das escolas da rede municipal, e
dá outras providências.

Lei nº 8.014, de 28 de junho de Dispõe sobre a coleta, transporte e destinação


2000 final de resíduos sólidos industriais e entulhos em
aterros sanitários ou em incineradores municipais
não abrangidos pela coleta regular, e dá outras

providências.

Decreto nº 38.323, de 09 de abril Regulamenta a Lei nº 8.014, de 28 de junho de


de 2001 2000, que dispõe sobre a coleta, transporte e
destinação final de resíduos sólidos industriais e
entulhos em aterros sanitários ou em
incineradores municipais não abrangidos pela
coleta regular.

Lei nº 8.114, de 07 de janeiro de Dispõe sobre a obrigatoriedade do recolhimento


2002 de pilhas, baterias e congêneres, quando
descarregados, e dá outras providências.

Lei nº 8.301, de 19 de janeiro de Dispõe sobre a coleta, destinação final e


2004 reutilização de embalagens e garrafas plásticas e

13
pneumáticos, e dá outras providências.

Lei nº 8.489, de 29 de dezembro de Institui a Política e o Sistema de Meio Ambiente


2005 do Município de Belém, e dá outras providências.

Lei nº 8.494, de 29 de dezembro de Institui as taxas pelo exercício regular do poder de


2005 polícia e as tarifas de competência da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente – SEMMA.

Lei nº 8.608, de 11 de outubro de Institui a Semana Municipal de Reciclagem de


2007 Lixo, e dá outras providências.

Decreto nº 52.735, de 09 de março Declara de interesse público, para fins de


de 2007 preservação ambiental, na forma da legislação em
vigor, a área urbana que menciona e descreve, e
define medidas correlatas. - Residencial Água de
Cristal, Residencial Felizcidade, Rodovia
Augusto Montenegro... - Bairro do Mangueirão e
Val-de-Cães.

Lei nº 8.767, de 21 de julho de Dispõe sobre a educação ambiental, institui a


2010 Política Municipal de Educação Ambiental, cria o
Programa Municipal de Educação Ambiental,
complementa a Lei Federal nº 9.795/99 e a
Constituição Estadual art. 255, no âmbito do
Município de Belém.

Lei nº 8.862, de 03 de agosto de Institui a disponibilidade de uso de sacolas


2011 ecológicas, em substituição das sacolas plásticas
convencionais, nos estabelecimentos comerciais
no Município de Belém, e dá outras providências.

Lei nº 8.899, de 26 de dezembro de Institui o Plano de Gerenciamento Integrado de


2011 Resíduos Sólidos do Município de Belém - PGRS
e dá outras providências.

Lei nº 8.913, de 20 de abril de 2012 Dispõe sobre a criação do Programa de

14
Manutenção Continua nos Canais localizados no
Município de Belém, e dá outras providências.

Quadro 1 – Legislação ambiental do município de Belém/PA.

2.4- A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A implantação de um Sistema Integrado de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos pode


representar importante forma de ação sobre esta problemática ambiental, porém é relevante que
sua implementação atente para as questões locais e regionais para que se desenvolva de forma
mais apropriada, evitando a ineficiência do sistema (BRAGA, RAMOS e DIAS 2010, p.269-
270).

Braga, Ramos & Dias (ibdem. p.280) definem que a Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos Urbanos é um conjunto de ações que visam o controle de produção, o armazenamento,
a coleta, o transporte, o processamento e a disposição de resíduos sólidos. Isto interrelacionando
as esferas da gestão pública, a legislação, as finanças e o planejamento. Observando-se ainda à
questão da saúde pública, da economia, das técnicas de engenharia mais adequadas, à questão
de conservação dos recursos naturais, à estética e ao meio ambiente, integrando às comunidades
de forma a que sejam estimuladas transformações sociais positivas na forma de relação com o
meio ambiente e com a própria sociedade. Barros (2012, p.3) expõe a importância do
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos e que este possui etapas que vão da coleta até a
destinação final para que ocorra o menor impacto ambiental possível. Cada etapa tem influência
direta na posterior.

Tanto a prevenção quanto a Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos têm reconhecimento
pela comunidade científica internacional como a melhor forma de se diminuir a pressão sobre
o planeta. Para eles a reciclagem diminui a quantidade de RSU para a disposição final e ainda
favorece a diminuição da exploração de recursos naturais. Porém para que a reciclagem se torne
mais eficiente, observando a necessidade de integração dos processos de gestão, caberia o
planejamento para que os produtos fossem projetados de forma em que fosse facilitada a
separação de materiais para a reciclagem de suas matérias-primas. O material que por sua vez
não fosse utilizado nos processos de reciclagem e que, dependendo de suas características,
poderia seguir para a produção de compostos orgânicos e/ou produção de energia. Assim, de

15
todo o RSU produzido, apenas uma pequena parte iria para os Aterros Sanitários (BOVE e
LUNGHI apud. BARROS, 2012, p. 4).

Uma importante estratégia para a gestão de RSU é a integração de ações de educação


ambiental e ainda o incentivo e o suporte por parte do Estado para a Coleta Seletiva de RSU.
Antes de se decidir pelo descarte de determinado bem ou produto, deve-se observar se este teve
suas diversas formas de uso esgotadas, o que caracteriza a adoção de boas práticas ambientais
(ibdem, 271). Tais ações podem ser estimuladas através de políticas públicas via legislação
educacional e na gestão compartilhada com a sociedade em seus diversos segmentos, tanto nas
comunidades quanto em instituições e empresas. Uma das ações pode se dar através da linha de
pensamento/ação 3R (reduzir, reutilizar e reciclar). Em relação aos impactos ambientais
causados pela produção e má gestão dos RSU nos municípios brasileiros, a educação ambiental
deve ser considerada como importante ferramenta de apoio e estímulo à participação social
nesta problemática, o que pode levar a que as populações cobrem de seus gestores melhores
ações e investimentos em benefício da comunidade e do meio ambiente.

2.5- RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS, INTERDISCIPLINARIDADE E FASES DA


GESTÃO

Entender o espaço urbano exige um esforço interdisciplinar por este espaço em si ser
um ambiente complexo, nele se dão diversas relações. Devem-se observar aspectos
econômicos, culturais, políticos, espaciais, históricos, ambientais, entre outros, nenhuma
disciplina isolada poderá abarcar tal entendimento (SOUZA, 2010, p. 101).

Ainda de acordo com Braga, Ramos & Dias (2010, p.280) a busca de resoluções para a
questão crescente da produção de RSU pode ser dada através de uma abordagem
interdisciplinar, congregando disciplinas tais quais: a ciência política, onde são abordadas a
produção de legislação macro e micro para as cidades e suas populações; o planejamento
urbano, abordando questões ambientais e adequação de obras, vias, áreas verdes, áreas
residenciais, industriais, serviços e outros.; a geografia, onde se trabalham o mapeamento, as
relações de proximidade, os fluxos, os objetos urbanos e outros; a saúde pública, em programas
de controle e prevenção de doenças; a sociologia, com a percepção dos atores e fatos sociais
envolvidos na problemática dos RSU; a comunicação social, com ações de educação e
publicidade das atividades e gestão; a conservação ambiental, com práticas adequadas à
16
melhoria e conservação do meio ambiente; e ainda as engenharias e ciências de materiais para
os estudos necessários de implantação, acompanhamento e planejamento de equipamentos e
materiais processados/tratados.

Sobre a coleta dos RSU, Braga, Ramos & Dias (2010, p. 288-289), consideram esta
como fase fundamental em todo processo de gestão ambiental urbana. Nas fases de coleta e
transporte para as áreas adequadas para o tratamento e destino final, evita-se o acúmulo ou
disposição inadequada de RSU em ambientes públicos. Observam a necessidade da
regularidade da coleta, com dias, horários e locais bem determinados e com publicidade e
orientações necessárias à população, tanto do lixo domiciliar, com a coleta regular, quanto da
coleta especial de materiais como entulhos, podas, materiais tóxicos, animais mortos etc. As
autoras ainda explicam que no processo de coleta dos RSU, a primeira fase, ou fase preliminar
é de responsabilidade do gerador, que deve tratar do material com adequado acondicionamento
e armazenagem, é a fase da coleta interna, e fase de coleta externa é de responsabilidade da
limpeza pública municipal.

A gestão dos resíduos sólidos urbanos deve prever todas as fases, e nas palavras de
Grippi (2006, p.21), “[...] cuidar dele do berço ao túmulo […] desde sua geração, à seleção e
finalmente sua disposição final”. Nas cidades é comum que o material produzido seja lançado
nas ruas, parques, praças, terrenos baldios, este é um quadro que nos demonstra a falta de zelo
de sua população pelos espaços públicos, como também a baixa atuação da gestão pública na
fiscalização, educação e prevenção desta problemática socioambiental. As cidades estão
doentes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, a saúde integral se dá na
comunidade e não apenas nos indivíduos, nos meios em que vivem, assim, a OMS define saúde
como sendo um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência
de afeções e enfermidades.

Braga, Ramos & Dias (ibdem., p.280-284) explicam que para a gestão dos RSU, no que
tange às fases necessárias para seu adequado tratamento pelo poder público, devem considerar
as seguintes fases: a) geração de resíduos; b) manuseio e separação; c) armazenamento e
processamento na fonte; d) separação, processamento e transformação dos resíduos; e)
transporte; f) disposição final. De forma mais genérica, estes autores explicam que as fases
fundamentais para que se implemente um programa integrado de gestão dos RSU são, a redução
na fonte, que envolve fatores diversos tais quais a toxidade e quantidade de resíduos produzidos,

17
tendo relação com a diminuição do uso de recursos naturais e menores impactos ambientais, e
ainda envolvem processos de produção de embalagens de produtos, padrões de compra e venda,
reutilização de materiais. A reciclagem, que tem relação com a separação e coleta de materiais,
a sua preparação para reuso ou reprocessamento, pode gerar importantes frentes de geração de
renda e inclusão social. Além disto a reciclagem contribui para diminuir a exploração de
recursos naturais e aumentar a vida útil dos aterros sanitários; a recuperação de recursos que
pode ser dada através do uso dos RSU para a produção de energia, e ainda, a compostagem que
pode se integrar à produção de adubos para a jardinagem pública, por exemplo, como também,
pela produção de biogás (dado pela decomposição anaeróbica da porção orgânica do RSU); por
fim o aterramento, com projetos adequados ao meio ambiente, com estudos do meio biótico,
abiótico, socioambiental, adequado à legislação em vigor e à demandas técnicas dadas pelas
engenharias e geologia (ibdem, 284).

Para Braga, Ramos e Dias (2010, p.289), encontra-se na implantação da Coleta Seletiva,
a possibilidade de economia de espaço nos aterros sanitários, e ainda resulta em melhor valor
agregado dos materiais recicláveis pela diminuição da umidade e da contaminação por produtos
diversos, como por exemplo, materiais orgânicos. A Coleta Seletiva se caracteriza pela
separação antecipada dos materiais que podem ser reciclados, o que pode ser feito em
residências ou em unidades de separação em associação e cooperativas de catadores por
exemplo. Destacam-se entre os materiais separados os plásticos, os papéis, os metais e vidros,
que são separados dos materiais orgânicos.

2.6- A COLETA SELETIVA

A implantação de Coleta Seletiva é um instrumento importante para a Gestão Integrada


de Resíduos Sólidos Urbanos. Braga, Ramos e Dias (ibdem. p.289-290) explicam que para que
este sistema se integre à gestão de RSU, há a necessidade de se observar os seguintes pontos
fundamentais: a) Conscientização e comprometimento da população no processo; b)
Tecnologias apropriadas nas fases de coleta, separação, armazenamento e reciclagem; c)
Existência de mercado consumidor para absorção dos materiais separados; d) Infraestrutura
adequada e integrada no processo operacional, evitando que ocorram falhas. Acrescentamos
ainda, comprometimento e capacitação dos gestores na eficiência dos processos, fiscalização
adequada para que a legislação ambiental seja seguida, transparência nos processos, integração
18
social de catadores através do fomento e suporte às associações e cooperativas de catadores e
participação social em comitês de gestão por bairro, município e região metropolitana.

Sobre a problemática da Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos, a Coleta Seletiva


apresenta vantagens econômicas, sociais e ambientais, que podem ser inclusivas socialmente,
diminuir gastos públicos com o tratamento de RSU e ainda proteger o meio ambiente e diminuir
os impactos dados pelo uso de recursos naturais, pois os materiais separados são direcionados
para a reciclagem, se reintegrando aos ciclos produtivos. Braga, Ramos e Dias (2010, p.290-
291) mostram algumas destas vantagens, quando escrevem que: a Coleta Seletiva gera a
possibilidade de fortalecimento do espírito comunitário; gera a diminuição da pressão sobre o
meio ambiente através da menor exploração de recursos naturais renováveis e não-renováveis;
menores impactos negativos sobre os solos, as águas e o ar; diminuição de lixões e da
proliferação de vetores de doenças e contaminações; menores custos no processo produtivo via
uso de materiais reciclados nos processos industriais; menores desperdícios nos processos;
geração de empregos, renda e inclusão social; produção de compostos orgânicos de boa
qualidade para a agricultura e jardinagem; cidades mais limpas; estímulo ao reaproveitamento
de materiais que se somariam a outros em aterros sanitários; melhor gestão e prolongamento
dos aterros sanitários, gerando economia para as cidades e seus moradores; redução do consumo
energético e de água para a transformação das matérias primas nas indústrias.

Braga, Ramos e Dias (ibdem. p.290-291) explicam que apesar da importância


socioambiental da implantação da Coleta Seletiva, em se tratando de questões econômicas e
ainda em curto prazo não se trata de uma atividade lucrativa. Entretanto, observa-se que, ao se
considerar a redução nos impactos ambientais e ainda a mobilização e inclusão social, a visão
em longo prazo para as sociedades e gerações futuras, sua implantação é válida. Estes autores
ressalvam que a coleta seletiva deve estar integrada à um projeto de reciclagem que irá
contribuir para a maior eficiência da gestão de RSU.

Grippi (2006, p.23) mostra o tempo aproximado no qual alguns materiais levam para se
biodegradarem: Jornais (de 2 a 6 semanas); Embalagens de papel ( de 1 a 4 meses);
Guardanapos de papel (3 meses); Pontas de cigarro (2 anos); palitos de fósforo (2 anos);
Chicletes (5 anos); Cascas de frutas (3 meses); Náilon (de 30 a 40 anos); Copinhos de plástico
(de 200 a 450 anos); Latas de alumínio (de 100 a 500 anos); Pilhas e baterias (de 100 a 500
anos); Garrafas de vidro ou plástico (mais de 500 anos).

19
2.7- EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A atual crise civilizacional definida por Leff (2011) demanda ações de educação
ambiental, de forma a levar as populações a buscarem alternativas para sua sobrevivência como
espécie e sua relação com a natureza, de quem tem se apartado. Morin (2013, p.98) escreve,
“[...] o desenvolvimento técnico, econômico, capitalista da civilização ocidental começa a
conquistar essa natureza, na qual tudo o que é vivo constitui objeto para escravizar, manipular,
destruir.”. Este autor enfatiza a necessidade de se tomar uma nova via para sua manutenção e
rever a sua relação com a natureza. Carvalho (2004) expõe que as ações de educação ambiental
mais efetivas são dadas em nível local, pois é nesta escala de vivência que se dão as relações
diretas com o meio ambiente pelas sociedades em suas concepções de vida e influências
socioculturais.

De acordo com Leff (2001, p.254-255) a crise ambiental é um resultado da crise


civilizacional da modernidade, havendo assim o imperativo de se criar consciência das causas
e resoluções desta problemática. Isto será dado através da educação com o intuito de harmonizar
a relação homem e natureza, via novas formas de desenvolvimento.

O grande desafio da educação ambiental é diminuir a diferença entre as atitudes


desejadas e os comportamentos que são realmente observados. Busca-se um processo formativo
que fortaleça um sistema de valores internalizados, construindo atitudes ecológicas de como
melhor se relacionar com o ambiente por parte dos educandos/sujeitos, tanto nas escolas como
também em outros espaços formativos. Assim a educação ambiental deve conter
fundamentalmente a solidariedade, dentro de um conjunto de relações (naturais, sociais e
culturais), mudando a forma com que as pessoas e a coletividade percebem, utilizam e pensam
a natureza, o meio ambiente. Rompe-se desta forma a linha de educação para apenas o
comportamento, passando para a atitude de construção da cidadania, da ecologia (CARVALHO,
2012, p.182-183).

Uma ação que trate de educação ambiental, para que dê bons resultados deve considerar
diversos fatores, não sendo uma ação pré-fabricada, em que as características dos lugares
fiquem em segundo plano. Conforme Guimarães (1995, p. 36) cada ação se realiza de forma
específica, respeitando a realidade de cada lugar, em seus aspectos culturais, hábitos locais,
características psicológicas e ainda, os elementos biofísicos e socioeconômicos do lugar.

20
A educação ambiental é um constante exercício, no dia a dia das pessoas, em que se
mantêm a busca pela melhor qualidade de vida humana. Esta melhor qualidade de vida é fruto
do esforço pela consciência coletiva, conforme Guimarães (1995, p. 37), uma consciência
planetária, esta que vai além de uma determinada categoria social e que exige o
comprometimento de todos pelo equilíbrio ambiental local e global.

Importantes sinais da crise social dos tempos atuais é o crescente incremento da


degradação do meio ambiente e da pobreza, o que podemos considerar como elementos
interligados. O que se observa, principalmente nos países pobres e em desenvolvimento, é que
de uma forma geral as políticas públicas implementadas (ou até inexistentes) não têm
conseguido vencer a questão da pobreza e da desigualdade social, entre países e dentro dos
países (LEFF, 2006, p. 476).

Assim, vemos que para que ações e políticas de educação ambiental sejam efetivas, no
sentido de melhorar a qualidade de vida das populações, é necessário que estas ações estejam
de mão dadas com o combate à pobreza, à desigualdade e que estimulem a geração de renda e
associativismo. Entretanto, é importante salientar que não se pode acusar o pobre pela
deterioração ambiental, este é um importante equívoco, que pode vir a reforçar o discurso
dominante. Ainda de acordo com Leff (ibdem. p. 477), a pobreza e a destruição ecológica,
devem ser entendidas como efeito da lógica econômica dominante.

Em um lugar onde se inicia algum processo de educação ambiental no qual exista


participação da comunidade este tende a ter maiores e melhores resultados. O termo
participação, como significado de tomar parte, para Demo (1996, p.18) tem sentido de um
processo, algo que se faz constante e nunca se faz suficiente, e que ainda define a autopromoção
de uma comunidade. Para ele, quando se imagina que a participação já é suficiente, assim,
começa a se desfazer o processo, tende a regredir.

A participação social é um forte instrumento para o desenvolvimento dos lugares no


sentido de cidadania e qualidade de vida. A educação, dada com o foco na educação ambiental
é fortalecida pela participação, uma participação política (ibid. p. 49).

Para Demo (ibdem. p.52-53) dentro deste espírito participativo, em que se constrói um
projeto de cidadania, em que a política social é construída e respeitada pelo seu caráter de
coletividade, teríamos: a valorização da formação/educação (formal e informal); valorização da
participação nos processos; o esclarecimento do que são direitos e deveres; a tomada para cada
21
cidadão da necessidade de se ver como um sujeito social; a valorização dos processos
democráticos; o respeito à liberdade, a igualdade e à comunidade; o direito de acessar
informações e valorizar os saberes; e por fim reconhecer e valorizar as habilidades e
potencialidades das pessoas. Assim este autor completa seu pensamento definindo que
educação sem participação por si é deseducação, pois torna-se impositiva, replicando
pensamento dominadores em que o educando/cidadão não é a figura central.

Nas metrópoles brasileiras crescem mais e mais os problemas ambientais, estes com
baixo combate efetivo das administrações públicas e participação popular. Enchentes, acúmulo
irregular de resíduos sólidos com despejo irregular de lixo nas cidades, tem causados cada vez
mais fortes impactos à saúde das populações urbanas. Urge o estímulo e aumento de práticas
sociais com foco na difusão de informações e educação ambiental. Mais informações e
transparência nos processos de gestão ambiental nas cidades podem auxiliar na mudança para
reorganizar o poder e a autoridade (JACOBI, 2002, p. 386-387). Com mais informações e
transparência então, teremos a possibilidade de empoderamento das comunidades para que
sejam atores proativos no processo de mudança socioambiental.

Existem diferentes concepções de educação ambiental, estas imbuídas de ideologias e


formas de implementações de ações e políticas públicas. Para Loureiro (2006), o paradigma da
educação ambiental deve buscar a autonomia e a liberdade humana pela redefinição de nossa
relação com o planeta, outros seres humanos e demais espécies. Assim, há necessidade de se
problematizar a questão ambiental e sua complexidade, dando importância à participação social
e ao exercício da cidadania, integrada com práticas de educação ambiental. Deve-se estimular
o debate entre os conhecimentos, culturas e saberes, a ética nas ações humanas e mudança de
valores e práticas sociais para fins da igualdade, a solidariedade e o bem-estar das pessoas.

Leff (2011, p. 312-313) explica que, apesar de vivermos hoje no que define como a
civilização do conhecimento, a sociedade apresenta-se como a do desconhecimento, onde o
saber é desvalorizado. Para este autor, com o avanço da pobreza e das baixas condições de
existência, muito se perde em relação às pessoas refletirem sobre o sentido de sua própria
existência, contribuindo para a perda de identidade com seu território e sua cultura. A educação
ambiental pode ser importante ferramenta para que as pessoas possam resgatar a preocupação
com o lugar onde vivem, estimulando o olhar sobre o espaço. Estimular este olhar pode levar

22
as pessoas à reflexão sobre o lugar onde atuam e observar a relação que desenvolvem com o
meio ambiente urbano, resgatando sua identidade, seu território e sua cultura.

Entretanto falar de educação ambiental não é falar de um concenso. De acordo com


Loureiro (2006, p.132), a educação ambiental tem diversas propostas, estas com base em visões
e ideologias diferentes. Este autor explica que no Brasil, na década de 1980, realizaram-se
encontros nacionais para discutir o tema por parte de movimentos sociais e diversas
Organizações Não Governamentais - ONGs nas suas áreas de atuação, assim resultando no
fortalecimento da preocupação ambiental pela sociedade. Ainda expõe que com a Constituição
de 1988 e a criação da Política Nacional de Educação Ambiental dada pela Lei nº 9795/1999,
tem-se a base legal que norteia e assegura a transversalidade da educação ambiental.

Loureiro (ibdem. p.133-134) classifica a educação ambiental em duas frentes, uma


conservadora ou comportamentalista e outra transformadora, crítica ou emancipatória. A
primeira, que em sua abordagem tem:

a) a percepção naturalista e conservacionista da crise ambiental;

b) a educação deve ser vista pela dimensão individual dada pela prática;

c) a educação ambiental não tem abordagem política e baseia-se em teorias pedagógicas


comportamentalistas e ainda pode possuir uma característica devocional, esotérica;

d) a realidade não é observada através de sua problematização e sua formação pelo


processo histórico;

e) a problemática da questão ambiental pode ser resolvida através da redução do consumo


de bens, deixando em segundo plano o modo de produção que pressiona e estimula o
consumo nas sociedades;

f) falta de análise da relação sociedade e natureza;

g) observação da degradação ambiental como resultado de ações de um ser sem formação


história, sem conexão social ou política em sua constituição.

A segunda forma tem as seguintes particularidades:

23
a) ênfase na emancipação e liberdade humana, buscando assim mudar a forma com a qual
se dá a relação dos homens com sua própria espécie, com as outras espécies e ainda com
a Terra;

b) necessidade de politizar e ainda dar publicidade sobre a problemática ambiental,


observando sua abordagem complexa;

c) a participação social e o exercício da cidadania são percebidas como intrínsecos da


educação ambiental;

d) estímulo ao diálogo de saberes entre ciência e cultura popular;

e) produção e consumo, ética, tecnologia e contexto sócio-histórico, interesses público e


privado, devem ser entendidos como processos inseparáveis;

f) necessidade de romper com valores e práticas incompatíveis com o bem estar público,
equidade e solidariedade.

Conforme Loureiro:

[...] em termos gerais, o primeiro bloco mencionado está fortemente


influenciado pela Teoria dos Sistemas Vivos, pela Teoria Geral dos
Sistemas, pela visão holística, pela cibernética e pelo pragmatismo
ambientalista da proposta de “alfabetização ambiental” norte-
americana. E o segundo, mais inserido nos debates clássicos do campo
da educação propriamente dita, pela dialética em suas diferentes
formulações de orientação marxista ou em diálogo direto com esta.
(LOUREIRO, 2006, p.134-135)

Loureiro (ibdem. p.142-143) explica ainda que a educação ambiental emancipatória e


transformadora deve ter caráter dialético para que o processo educativo leve a mudanças dos
indivíduos e da coletividade. Ainda observa que, para que se alcance a emancipação há
necessidade da reflexão, da crítica e da autocrítica dada de maneira constante, buscando assim
superar as imposições dadas pelo modelo econômico vigente. Esta mudança pode ser dada
tendo início no lugar onde as pessoas vivem, a partir do seu dia-a-dia. Entretanto este autor
alerta que o processo de mudança não se dá por via única, mas pela possibilidade de construção
coletiva de meios mais adequados para a vida social e global.
24
O que se define como educação ambiental crítica pode apresentar outras denominações
tais quais, educação ambiental transformadora, popular, emancipatória e dialógica, e ainda se
aproximando do que se chama de ecopedagogia. Assim é fundamental que sejam tratados os
processos ambientais e sociais de maneira articulada para que se possa transformar através de
mediações sociais a relação sociedade e natureza (LOUREIRO, 2007, p.66). Este autor ainda
alerta para o uso do conceito ‘conscientizar’, pois pode encaminhar para o entendimento de
ensinar para os que ‘nada sabem’, assim define como um conceito problemático para a educação
ambiental crítica. No processo educativo, com fins na transformação social, há a necessidade
de se superar preconceitos, de reconhecer culturas e modos de vida, dando-se assim a liberdade
de conhecer e de escolher, buscando a crítica, a autocrítica e a autonomia (ibid. p.70).

Para Layrargues (2004, p.7), o termo Educação Ambiental, tem relação com práticas
educativas que tenham como ação pedagógica motivadora o cuidado com o meio ambiente.
Desta forma se convencionou nominar de Educação Ambiental as práticas que se relacionam à
questão ambiental, confrontando-a com uma educação que não seria definida como tal.

2.8- PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Pedrini, Costa e Ghilardi (2010) fazem importantes considerações sobre a percepção


ambiental, destacando que este conceito "perpassa temas que oscilam da Fisiologia à Semiótica,
passando pelas representações sociais" e ainda que "A partir das percepções internalizadas em
cada indivíduo pode-se buscar a mudança de atitudes, que é um dos objetivos principais da
educação ambiental para sociedades sustentáveis". Entender como se dá a percepção ambiental
dos alunos nas escolas mostrará a sua identificação com o bairro e como esta qualidade
ambiental pode impactar no desenvolvimento dos educandos.

Um aspecto interessante para a gestão de qualquer problemática é a escolha da escala


de análise, no caso da problemática abordada, o despejo irregular de resíduos sólidos, é
importante o estudo local, pois cada setor, subsetor, ou bairro (microlocal) tem suas
particularidades e pode vir a ter similaridades com outros. Um estudo local pode ser
potencializador de ações mais adequadas por parte da gestão pública. Conforme Souza (2010,
p. 106) dentro da escala local, existe a possibilidade de se compreender melhor a vivência e
planejar as ações mais adequadas. Permite a participação política direta e a interação com a

25
comunidade. Este autor explica que a escala local pode ser microlocal (lugares e bairros),
mesolocal (cidades, municípios) e macrolocal (regiões ou áreas metropolitanas).

A escolha de ações de gestão em escala microlocal permite a participação mais efetiva


dos cidadãos, pois assim, é possível que os mesmos acompanhem e monitorem de forma mais
adequada que as ações tenham como resultado efetivo a melhora da qualidade de vida da
população (SOUZA, 2010, p. 107).

Um importante fator pela busca da melhoria da qualidade ambiental dos lugares está, no
que Leff (2001, p. 321-323) explica: quando há a percepção de que a degradação ambiental está
impactando na qualidade de vida das pessoas. Esta degradação causada pelo forte crescimento
da produção de mercadorias e pela tendência de homogeneização do padrão de consumo nas
sociedades, resultando em fortes impactos na exploração dos recursos naturais, o que por fim,
podemos relacionar, aumenta a produção de resíduos. Este autor ainda define que esta
percepção leva à busca/luta, via participação coletiva nas decisões, pelo direito à espaços
ecologicamente equilibrados, produtivos além do caráter estético e recreativo.

Mucelin e Bellini (2008, p.116) tratam da questão de percepção ambiental quando


estudam sobre a questão do lixo e dos impactos nos ecossistemas urbanos. Assim, estes autores
buscam a origem da palavra percepção, expondo que vem do latim percepcione, relacionando-
a a ter consciência de algo, no caso os autores fazem relação à vivência. Observar o espaço ao
seu redor, observar a paisagem e verificar como o ambiente está é uma questão de percepção
ambiental. Neste contexto, ruas sujas ou limpas, áreas verdes ou áreas com muito concreto ou
desmatadas, odores, sons, calor, fazem parte do que se pode definir como percepção ambiental.
Estes autores ainda definem que a percepção do ambiente urbano, pode ser dada de forma
individual como também através da coletividade, resultado das relações de reciprocidade entre
os fatores socioambientais, que compõem o espaço do cotidiano das cidades, e os seus
moradores. A questão de entender ou perceber tais fatores como positivos ou negativos se
relaciona com a carga cultural dos indivíduos. Sobre esta percepção ambiental dada pela
vivência cotidiana os autores expõem:

A vivência cotidiana molda padrões comportamentais habituais. Neste


sentido, o morador urbano tem, na maioria das vezes, situações diárias
vivenciadas de forma repetitiva, o que produz uma espécie de máscara
destas situações no contexto. Isso forma uma imagem perceptiva em

26
dois vieses: de um lado o ambiente urbano legível e perceptível
vivenciado; de outro, situações e locais imperceptíveis, ocultos ao
julgamento perceptivo (MUCELIN & BELLINI, 2008, p. 117)

O meio ambiente urbano possui características socioambientais construídas ao longo do


tempo pela sociedade. Esta construção tem relação direta com o modo de vida desta sociedade
interligada com relações locais, regionais e globais, podendo ser econômicas, políticas ou
culturais. MELAZO (2005, p. 2-3) trata da paisagem urbana dada pelo conjunto de elementos
interrelacionados por processos dinâmicos próprios que abrangem a sua estrutura física urbana,
a sociedade e o ambiente, sofrendo constantes modificações. A natureza se faz presente nas
cidades e se integra às mesmas, não podendo ser encarado apenas pelo olhar paisagístico, mas
há a necessidade da sensibilidade humana para compreender melhor o seu meio.

A participação social em projetos, ações, mobilizações, dadas pela tomada para si da


necessidade de mudança ou conservação de elementos ambientais no espaço urbano pode ser
estimulado pela percepção ambiental do espaço urbano. Melazo (ibidem., p.5) explica que
através da percepção ambiental pode-se alcançar o maior engajamento dos cidadãos de forma
a atender os objetivos da Educação Ambiental, para o mesmo isto só será possível através da
visão integrada de aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais. Assim estes cidadãos
estarão mais aptos para a tomada de decisões e para a demanda consciente aos setores públicos
competentes de ações efetivas para a questão ambiental em diversos níveis, do local ao global.

A educação ambiental deve fomentar ações de exercício da cidadania dadas através da


percepção ambiental e o conhecimento das diversas problemáticas ambientais na comunidade.
Desta forma se buscará o desenvolvimento de atitudes que possam ter como resultado ações,
políticas condizentes com o conceito de sustentabilidade ambiental, a cultura local, a base
econômica da sociedade, a sociedade e o lugar Melazo (ibidem., p. 6). Para o autor, em conjunto
a percepção ambiental e a educação ambiental devem “proporcionar à comunidade uma maior
sensibilização em relação ao meio ambiente com o propósito de fortalecer o exercício da
cidadania e as relações interpessoais com a natureza”.

27
2.9- GEOPROCESSAMENTO

As técnicas de geoprocessamento são dadas através da evolução da microinformática


que possibilitaram o processamento de dados geopespaciais através de sensores remotos. De
acordo com Câmara & Davis (2017, p.1):

[...] o termo Geoprocessamento denota a disciplina do conhecimento


que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da
informação geográfica e que vem influenciando de maneira crescente
as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes,
Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regional. As
ferramentas computacionais para Geoprocessamento, chamadas de
Sistemas de Informação Geográficas (GIS), permitem realizar análises
complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de
dados georreferenciados. Tornam ainda possível automatizar a
produção de documentos cartoFiguras.

Para as ciências ambientais e também outras ciências, o uso do geoprocessamento tem


auxiliado nas pesquisas e tomadas de decisão, em especial nos processos de gestão. O
geoprocessamento permite que informações e dados sejam analisados de acordo com sua
distribuição na superfície terrestre, determinada por sua geolocalização, dada pelas coordenadas
geográficas de latitude, longitude e ainda altitude quando pertinente à pesquisa.

Conhecer os espaços geoFiguras e os fenômenos que deles se desenvolvem via a


organização das informações disponíveis, físicas, sociais, políticas, econômicas, tanto do
passado, quanto em cenário atual, podem nos embasar para a melhor compreensão dos objetos
de estudo. Desta forma podem ser gerados diversos tipos de informações, dadas em mapas que
podem ter vários objetivos, tipo mapas de localização, mapas temáticos, mapas cadastrais,
infoFiguras, mapas políticos administrativos, mapas de uso e ocupação do solo, mapas de
distribuição de fenômenos sociais ou naturais, entre outros..

Tabacow e Silva (2011, p.41) explanam que os Sistemas de Informações Geográficas


(SIG), tornam-se ferramentas que possuem a capacidade de capturar, armazenar, manipular,
transformar, visualizar, combinar, investigar, analisar, modelar e gerar dados georreferenciados,
que são demonstrados através dos mapas.

28
Hoje os softwares que se dedicam ao geoprocessamento são bem mais acessíveis aos
usuários; por exemplo, o Instituto Nacional de Pesquisas espaciais – INPE, desenvolve o
sistema SPRING que pode ser acessado gratuitamente através da rede mundial de computadores
no endereço eletrônico desta instituição. Existem diversos sistemas de instituições privadas, de
acordo com o interesse da pesquisa a ser desenvolvida. Também os sistemas com base
colaborativa em sua programação, à exemplo do Quantum GIS, que é gratuito e possui
funcionalidades seguras que há muito tempo vêm sendo utilizadas por vários pesquisadores e
instituições de pesquisa e gestão pública em vários países.

Os SIGs permitem integrar várias informações e disponibilizá-las na internet, através


de mapas digitais que podem ser visualizados, atualizados, impressos, em diversos navegadores
(browsers). O que permite seus usos para diversos fins, dos mais simples, como por exemplo
saber o endereço de um determinado serviço ou instituição até dados meteorológicos ou de
altimetria.

2.10- MAPEAMENTO PARTICIPATIVO

Uma maneira relevante de se abordar a questão da percepção ambiental junto às


comunidades é através do mapeamento participativo, uma importante metodologia na qual os
saberes e conhecimentos locais são valorizados. Assim o recurso dado através dos mapas
mentais e mapeamento participativo pode trazer à tona olhares e situações as quais um
observador externo não poderia perceber. Seemann (2003, p.3) explica que estes mapas mentais
e mapas participativos não representam padrões cartoFiguras, mas tem como função dar
visibilidade a “pensamentos, atitudes, sentimentos tanto sobre a realidade (percebida) quanto
sobre o mundo da imaginação”. Tais mapas, dados pela percepção ambiental, são formas de
poder aprender sobre a realidade local dada através da vivência de seus moradores.

Oliveira (2006, p.33-35) entende que cabe aos educadores o desenvolvimento de


projetos que possam colaborar para que os indivíduos possam diminuir os problemas
ambientais dos lugares onde vivem. Assim tais projetos devem ter por objetivo fazer com que
estes indivíduos possam ter momento de reflexão sobre suas ações e atitudes em relação ao
meio ambiente de sua comunidade. Para tal devem estimular a criação de mapas mentais, onde
são dadas as percepções das pessoas sobre o meio ao qual estão inseridas. Ele entende que o
espaço é dado, para cada pessoa, pela realidade que a cerca, por sua vivência, por suas formas
29
de percebê-lo. Define ainda que cada indivíduo tem formas diferenciadas de perceber o
espaço. Assim o que para uma pessoa pode ser de uma forma, para outra pessoa é de outra, ou
ainda nem é notado determinado aspecto. O uso de mapas mentais na questão da percepção
ambiental transcende o produto cartoFigura com normas e regras convencionadas, mas
apresenta-se como forma de dar vazão à saberes e conhecimentos ambientais. Assim tais
mapas são, por sua vez, interpretações do Espaço Vivido.

Carvalho (2012, p. 189) fala sobre a ação, no caso ação política de um cidadão ou de
um coletivo, esta ação, se dá em oposição ao comportamento, tendo esta a capacidade de
identificação de possíveis problemas e ainda de buscar soluções via participação nas decisões,
ao que define como política no sentido amplo.

30
3- OBJETIVOS

3.1- OBJETIVO GERAL

Desenvolver ferramenta de mapeamento do despejo irregular de Resíduos Sólidos Urbanos no


bairro da Marambaia, Belém, com fim de auxiliar no monitoramento e gestão ambiental e na
participação popular nesse bairro.

3.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1) Mapear os pontos de despejo irregular de Resíduos Sólidos no bairro da Marambaia


através de estudo de campo e mapeamento participativo em escolas do bairro;

2) Caracterização dos RSU gerados no bairro da Marambaia através de dados em


instituições públicas e pesquisa de campo;

3) Zonear o bairro através de dados de densidade populacional e renda relacionando com


informações do número de pontos de despejo irregular de RSU;

4) Identificar os atores sociais que influenciam na problemática dos RSU no bairro


(Associações/cooperativas de catadores, associações de bairro, comércios, governos etc.);

5) Ministrar palestras nas escolas do bairro sobre a questão da produção de Resíduos


Sólidos Urbanos e Coleta Seletiva;

6) Desenvolver plataforma informacional, de acesso público, com a localização de pontos


de despejo irregular de RSU no bairro, além de informações e orientações para o despejo correto
de RSU, educação ambiental e contatos institucionais importantes;

7) Identificar a percepção de alunos quanto à naturalização da presença do lixo e de seu


conhecimento da possível reciclagem dos mesmos.

31
4. METODOLOGIA DE PESQUISA

4.6- ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo é o bairro da Marambaia (Figura 2), que se localiza no município de


Belém do Pará. Esse bairro faz limite com os bairros de Val-de-Cans , Mangueirão, Sacramenta
e Souza. O bairro da Marambaia, no município de Belém do Pará, faz parte do Distrito
Administrativo do Entroncamento – DAENT e uma pequena faixa a oeste parte do Distrito
Administrativo da Sacramenta – DASAC. O Censo 2000 do IBGE definiu que a população do
bairro era de 62.370 habitantes, no Censo do ano de 2010, esta população passou para 66.708
habitantes.

De acordo com Luz e Rodrigues (2014, p. 48-49),o DAENT é o distrito administrativo


de Belém com o maior número de praças e o bairro da Marambaia se destaca por possuir um
grande número de área verdes, como o Parque Ecológico de Belém, Gunnar Vingren, que possui
44 hectares, algumas praças e vias com arborização. O bairro da Marambaia é considerado
periférico, com predomínio de residências e muito populoso e com mínima verticalização,
entretanto já em 2017, observa-se a expansão de obras residenciais com prédios principalmente
próximos à avenida Tavares Bastos, hoje importante corredor de tráfego que liga a avenida
Almirante Barroso à João Paulo Segundo, em bairro vizinho, é uma alternativa de fluxo aos que
buscam acessar outros bairros.

De acordo com o Plano Diretor do Município de Belém de 2008, a cidade está dividida
em macrozonas, a Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU), que se referem à áreas
urbanizadas na porção continental do município, e a Macrozona de Ambientes Naturais
(MZAN), em áreas não urbanizadas em áreas ribeirinhas ou insulares, o bairro da Marambaia
pertence à MZAU, esta que se divide em sete Zonas de Ambiente Urbano (ZAU). O bairro da
Marambaia em sua maior parte pertence a ZAU 4, já em sua parte leste ocupa pequena área da
ZAU 6, setores III (a nordeste, nas proximidades da avenida Augusto Montenegro ) e IV (a
sudeste, nas proximidades do Entroncamento) (Figura 3).

Com base nas informações do zoneamento do Plano Diretor do Município de Belém, a


ZAU 4, e ZAU 6, setores III e IV, possuem as seguintes características:

32
A Zona do Ambiente Urbano 4 (ZAU 4) caracteriza-se por ter uso
predominantemente residencial, atividades econômicas dispersas,
presença de núcleos industriais, carência de equipamentos públicos,
infra-estrutura não consolidada, terrenos subutilizados ou não
utilizados, com ociosidade de grandes áreas, incidência de loteamentos
destinados à classe média alta e ocupações precárias.

A ZAU 6 - Setor III caracteriza-se pela não predominância de uso,


presença de núcleos comerciais diversificados, com alta atratividade e
forte tendência ao adensamento, com infra-estrutura e equipamentos
públicos insuficientes.

33
Figura 2 - Mapa do bairro da Marambaia. Fonte: Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém
(http://www.belem.pa.gov.br/app/c2ms/v/?id=18&conteudo=4758, acessado em 09/09/2017).
34
A ZAU 6 - Setor IV caracteriza-se por apresentar predominância de uso residencial, com
tendência à verticalização de até quatro pavimentos, condomínios horizontais e por atividades
econômicas de porte médio.

(Prefeitura Municipal de Belém, Plano Diretor do Município de Belém, 2008)

Figura 3 – O Bairro da Marambaia nas Zonas de Ambiente Urbano de Belém. Figura adaptada
do Mapa de Zoneamento, anexo V, do Plano Diretor do Município de Belém de 2008.

4.1- O DESENVOLVIMENTO DA FERRAMENTA

Para o desenvolvimento da ferramenta de mapeamento de locais com despejo irregular


de RSU no bairro da Marambaia foi produzida uma plataforma de acesso livre pela rede
mundial de computadores com o uso de Software Livre de geoprocessamento o Quantum GIS
e ainda a implementação com suporte da base de dados do sistema OpenStreetMap.

Para a fase de mapeamento foram utilizadas duas formas de levantamento de dados; a


primeira através do mapeamento participativo nas escolas do bairro, onde foi apresentado aos
participantes (professores e alunos) mapa do bairro em papel, com as escolas em destaque, para
que eles pudessem identificar locais que comumente encontram despejo irregular de RSU. A
segunda forma se deu pelo levantamento de coordenadas geográficas de pontos com RSU,

35
através do uso de receptor GPS nos logradouros do bairro, com levantamento fotoFigura,
confrontando com as informações indicadas pelos participantes da primeira fase. A maior parte
das vias foram percorridas permitindo identificar relevante número de locais com despejo
irregular de RSU.

Após o levantamento dos dados de campo e o tratamento das informações coletadas foi
produzida uma Base de Dados e gerado um do mapa de pontos com despejo irregular de RSU
no bairro da Marambaia. O mapa foi processado através do software Quantum GIS, com usos
do plugin Qgis2Web, o qual permitiu que o acesso através de navegadores de Internet.
Concomitantemente foi desenvolvido um mapa colaborativo, denominado Observatório
Participativo RSU – Marambaia, com uso do sistema GoogleMaps e divulgação nas redes
sociais através da Internet onde os usuários podem acessar e informar locais com despejo
irregular de RSU através do endereço eletrônico
(https://www.google.com/maps/d/viewer?mid=1jXz5WiB04XfQv_5eOKXZFON9_auWX3m
u&usp=sharing).

O projeto pretende inicialmente atender ao bairro da Marambaia, porém poderá ser


expandido para outros bairros do município de Belém em situação posterior, dependendo do
interesse dos gestores e parcerias com instituições e organizações não governamentais (ONGs).

4.2- A CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM PONTOS DE


DESPEJO IRREGULAR DO MESMOS NO BAIRRO DA MARAMBAIA

Para a caracterização por dados primários, desenvolveu-se atividades de campo através


de levantamento fotografia e verificação visual nos pontos de despejo irregular de RSU no
bairro. Também foram pesquisadas informações junto à Secretaria Municipal de Saneamento
sobre dados tanto em relação à caracterização do RSU, quanto à quantidade de material retirado
das ruas do bairro da Maambaia pelo serviço de limpeza urbana, infelizmente, a Secretaria de
Saneamento não possuia tais informações. Assim não nos foi possível apresentar informações
sobre quantidade de materiais retirados no bairro da Marambaia através de dados oficiais do
serviço público municipal. Tal situação mostra um relevante problema de gestão, pois
observou-se que não há um controle mais efetivo no que tange a identificação e quantficação

36
dos tipos de materiais retirados das ruas do bairro pela prefeitura. Existem ações de fiscalização
e educação ambiental, pelas secretarias de Saneamento e de Meio ambiente, respectivamente.

A classificação foi feita através de análise visual, não foram utilizados recursos
laboratoriais ou análise físico-química, e ainda a quantificação exata não se fez possível, mas a
presença de materiais e sua distribuição espacial foram possíveis. Quando se trata da
porcentagem dos resultados, faz relação com os pontos com presença de determinado material
e a sua classificação definida que segue: a) Origem, fonte e local de produção: doméstico,
residencial ou domiciliar, comercial, hospitalar, especial, radioativo, industrial, público, urbano
e rural; b) Tratabilidade: biodegradável, descartável e reciclável; c) Grau de biodegradabilidade:
alto, moderado, lento e não degradável; d) Padrão econômico e fonte: alto, médio e baixo; e)
Possibilidade de reagir com o meio: inerte, orgânico e reativo; f) Aspecto econômico:
aproveitável, inaproveitável e recuperável; g) Possibilidade de incineração: combustível e não
combustível; h) Recuperação/geração energética: alta, média e baixa; i) Aspecto sanitário:
contaminado e não contaminado; j) Natureza física: seco e molhado; k) Composição química:
orgânica e inorgânica Braga, Ramos & Dias (2010, p. 299-300).

Para que fosse feita a classificação, fizemos o registro dos tipos de materiais localizados
em cada ponto de despejo irregular, não considerando a quantidade específica, mas a presença
marcante. Ou seja, as porcentagens se referem a pontos com presença de determinado material,
e posteriormente, os materiais receberam a classificação. Por exemplo, pneus, foram
localizados em 2% dos pontos identificados, e este tipo de material teria as seguintes
classificações, conforme quadro 2:

Material Pneu
Origem/Fonte Comercial
Tratabilidade Reciclável
Grau de biodegrabilidade Lento e não degradável
Padrão econômico Baixa
Reação com o meio Inerte
Aspecto econômico Aproveitável
Possibilidade de incineração Combustível
Recuperação, geração energética Alta

37
Aspecto sanitário Contaminado
Natureza física Seco
Composição química Inorgânica
Quadro 2 – Exemplo de classificação de materiais, com base em Braga, Ramos & Dias (2010)

4.3- ZONEAMENTO DO BAIRRO PELA DENSIDADE POPULACIONAL E RENDA

O bairro da Marambaia possui grande população e apresenta áreas com maior densidade
populacional que outras. Além disso fica evidente quando se visita o bairro, que existem áreas
com população de maior renda e menor renda, infraestruturas e usos predominantes diferentes
(área comercial, residêncial, feiras por exemplo). Estas informações foram fundamentais para
zonear o bairro em relação à densidade populacional e em relação à renda familiar. O objetivo
deste zoneamento foi cruzar estas informações com os pontos de despejo irregular de RSU,
auxiliando no entendimento da distribuição dos pontos de despejo irregular RSU, podendo
embasar ações futuras de implantação de projetos de educação ambiental e ações de prevenção
e controle ambiental no bairro. Os dados foram levantados com base nos Setores Censitários
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

4.4- ATORES SOCIAIS QUE IMPACTAM NA QUESTÃO DE RSU NO BAIRRO

O espaço geogárico é produzido e gerado pela interação com a sociedade, que de forma
dinâmica o transforma. O bairro da Marambaia é um bairro populoso, que tem passado por
várias transformações socioespaciais decorrentes da evolução urbana da Região Metropolitana
de Belém – RMB. De um bairro ‘dormitório’ na década de 1970, passa agora por fortes
transformações através de empreendimentos imobiliários, transformações nas vias públicas,
crescimento populacional, aumento de áreas de invasão, aumenta de atividades de comércio e
serviço, especulação imobiliária, violência, pressão ambiental etc.

Em relação a questão da produção de RSU se buscou entender quais atores estão


vinculados à esta problemática. Tais informações foram levantadas através de pesquisas

38
bibliográficas, entrevistas junto às Secretarias do Município, pesquisas na rede mundial de
computadores, e visitas à associações e cooperativas, além de observações de campo.

4.5- PALESTRAS NAS ESCOLAS DO BAIRRO

A educação ambiental pode ser dada tanto em ambientes formais, quanto em ambientes
não formais de ensino. Desenvolveram-se atividades com palestras sobre Resíduos Sólidos
Urbanos, Coleta Seletiva e Reciclagem. Como forma de desenvolver nos professores e alunos
das escolas, quanto para os pais e membros de associações de bairro o interesse por esta
problemática ambiental, mostrando que além de um problema comum, também pode ser uma
oportunidade de geração de renda e atividades educativas. Foram apresentadas ações existentes
no bairro, assim como aplicar o mapeamento participativo na primeira fase do projeto. No bairro
existem 08 escolas públicas do ensino infantil ao médio e técnico profissionalizante, tanto
municipal quanto estadual. As palestras se deram em 03 escolas, buscou-se a interagir com
turmas do 6º ano e 9º ano do ensino fundamental, 1º ano e 3º ano do ensino médio e alunos de
Educação de Jovens e Adultos, um total de 05 turmas. Após as palestras foi aplicado
questionário (Anexo ) para turmas selecionadas, que auxiliou na identificação da percepção de
alunos sobre à naturalização da presença do lixo e da possível reciclagem dos mesmos.

39
5- RESULTADOS E DISCUSSÕES

A problemática definida foi entender em que medida as percepções locais contribuem


para a construção de uma ferramenta de mapeamento capaz de ofertar dados para a gestão
pública com objetivo de solucionar problemas da gestão de resíduos sólidos e criar processos
multiplicadores da importância para a comunidade desta questão socioambiental. Os seguintes
resultados e discussões objetivaram dar respostas à problemática levantada para esta pesquisa
e a criação de uma ferramenta de desenvolvimento socioambiental, que é composta de
seminários, mapeamento participativo, mapeamento com GPS e questionários. No decorrer do
trabalho, observou-se o direcionamento para uma pesquisa-ação, onde em vários momentos
participamos das atividades junto com os grupos e as comunidades inseridas, além das escolas.

6.1- MAPEAMENTO DOS PONTOS DE DESPEJO IRREGULAR DE RESÍDUOS


SÓLIDOS NO BAIRRO DA MARAMBAIA ATRAVÉS DE ESTUDO DE CAMPO E
MAPEAMENTO PARTICIPATIVO EM ESCOLAS DO BAIRRO

A pesquisa desenvolveu atividade de campo na qual foram percorridas as principais vias


do bairro e também vias secundárias. Durante esta fase, foi feito uso de receptor do Sistema de
Posicionamento Global – GPS, o aparelho GPSMAP 78s da Garmin(R) e levantamento
fotográfico. O levantamento se deu nos meses de julho/2018 e agosto/2018, neste período foram
identificados 51 pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia. Tais
dados foram então importados para o software Quantum GIS - QGIS, e foi assim criada uma
camada com informações da distribuição espacial destes pontos sobre a imagem de satélite do
bairro da Marambaia, esta adquirida através do Google Earth e que foi georreferenciada no
QGIS, somando-se ao projeto a delimitação do bairro e a rede de drenagem, onde se destacam
o Igarapé São Joaquim, a noroeste do bairro, com seu curso sobre o Parque Ecológico do
Município de Belém ‘Gunnar Vingren’ e o Canal Água Cristal com fluxo de leste para oeste,
desaguando no Igarapé São Joaquim e percorrendo praticamente as duas extremidades do bairro
(Figura 4).

40
Figura 4 – Mapa de pontos de despejo irregular de Resíduos Sólidos Urbanos no bairro da Marambaia, Belém-PA

41
Observou-se que não existem locais previamente definidos e preparados para receber os
RSU no bairro por parte da gestão pública. Também se observou uma diversidade de materiais
despejados pela população, tais quais, móveis usados, pneus, materiais plásticos, materiais
eletrônicos, restos de alimentos, materiais resultantes de podas e capinas, entulhos de obras
civis entre outros (figuras 5 e 6). Uma situação que se destacou nesta pesquisa de campo foi
verificar que os locais que mais apresentam pontos de despejo irregular de resíduos sólidos são
áreas públicas como laterais de escolas públicas (figuras 7 e 8).

Figura 5 – Ponto de despejo irregular de Figura 6 – Ponto de despejo irregular de


RSU, ao lado do Canal Água Cristal, no RSU, em frente ao Cemitério São Jorge,
bairro da Marambaia, Belém-PA. Foto: no bairro da Marambaia, Belém-PA. Foto:
Pesquisa de campo julho/2018 Pesquisa de campo julho/2018

Figura 7 – Ponto de despejo irregular de Figura 8 – Ponto de despejo irregular de


RSU, na lateral da Escola Estadual de RSU com acúmulo de água, na lateral da
Ensino Médio Integrado Francisco da Escola Estadual de Ensino Fundamental
Silva Nunes, no bairro da Marambaia, Leonor Nogueira, no bairro da
Belém-PA. (foto: Pesquisa de campo) Marambaia, Belém-PA. (foto: Pesquisa de
campo)

42
O processo de coleta de RSU por prestadores de serviço contratados pela Prefeitura
Municipal de Belém – PMB, que ocorre uma vez por semana, é feito com uso de trator com pá
mecânica e caminhões. Em alguns pontos de despejo irregular, pôde-se constatar, através de
questionamento a alguns moradores e também, por ter verificado a forma com que os materiais
são coletados pelo serviço público, que com a retirada do resíduos tem sido causada a retirada
do solo/substrato, na raspagem do RSU do solo, resultando em depressões que acumulam águas
das chuvas, tornando-se criadores de mosquitos e outros animais (figura 9 ).

Figura 9 – Ponto de despejo irregular de RSU, em frente ao Cemitério São Jorge, no bairro da
Marambaia, Belém-PA, área com acúmulo de águas da chuva em destaque. (foto: Pesquisa de
campo)

A situação encontrada e exposta pela figura 9, em frente ao Cemitério São Jorge, hoje
encontra-se revertida pela ação da gestão municipal (figura 10), entretanto, observou-se que na
lateral deste cemitério ainda persiste tal problemática que apresentou piora de agosto até
outubro de 2018, pois apesar da ação da prefeitura ter recuperado o calçamento e ter sido
implantado uma fiscalização mais efetiva junto à feira da Tavares Bastos pela Secretaria de
Finanças Municipais (órgão que gerencia as feiras públicas na cidade) a lateral do cemitério
recebe de forma mais intensa os resíduos produzidos (figura 11), em entrevista com o gestor da
feira da Tavares Bastos na Marambaia, foi exposto pelo mesmo que está sendo desenvolvido
um trabalho de conscientização dos feirantes para que obedeçam o horário de retirada dos
resíduos produzidos na feira, porém alguns feirantes ainda não atentaram para a importância
disto e que há necessidade de intensificar esta ação em conjunto com outros órgãos municipais
como a Secretaria de Saneamento – SESAN e a Secretaria de Meio Ambiente – SEMMA, nota-

43
se ainda que além dos feirantes, foi relatado por moradores das proximidades que outros atores
tem despejado de forma irregular resíduos nestes locais, tal qual carrinheiros, transeuntes e até
mesmo pessoas em carros particulares. Mucelin & Bellini (2008, p.113) discutem sobre a
importância de se buscar entender os hábitos cotidianos, aquilo que se tornou “normal” no dia
a dia das comunidades, pois explicam que estas situações mascaram circunstâncias, e a agressão
ambiental, naturalizada, leva à não reflexão sobre os atos praticados, mesmos quando se possui
informações sobre a questão ambiental.

Figura 10 – Frente do cemitério Figura 11 – Rua lateral ao cemitério ainda


recuperada utilizada como ponto de despejo irregular
de RSU.

O bairro da Marambaia é drenado pelo Canal Água Cristal e Igarapé São Joaquim, destes
o primeiro é o mais impactado pelo despejo irregular de resíduos sólidos em suas margens, tal
canal passou por processo de urbanização durante a macrodrenagem da bacia do Una na década
de 90, sendo suas margens alteradas. Observa-se que tal sistema de drenagem já começa a ser
impactado pelo despejo irregular de RSU, com acúmulo de sacolas plásticas, garrafas plásticas
e ainda restos de móveis, como por exemplo restos de um colchão de molas (figura 12), e ainda
é uma área, conhecida como Canal Água Cristal que possui forte densidade populacional e com
baixa infraestrutura e população de baixa renda, em alguns trechos observou-se intensa
presença de pontos de despejo irregular de resíduos sólidos (figuras 12 e 13) e ainda as margens
sendo utilizadas como depósito de materiais de construção (figura 14), madeira para uso em
fornos de panificação (figura 15) e também depósito de materiais de sucata (figura 16). Tucci
(2002, p.8) informa que não existem muitos dados sobre a quantidade de resíduos sólidos que
ficam retidos nos sistemas de drenagem das cidades, e estes tipos de estudos são poucos em
nível internacional, de acordo com este autor, observam-se os impactos causados por esta

44
problemática, tais quais inundações e contaminações, para as populações humanas os principais
problemas seriam: perdas materiais e humanas; interrupções de atividades em áreas inundadas;
contaminação por doenças, tais quais leptospirose e cólera; e contaminações diversas pela
inundação.

Figura 12 – Resultado de despejo irregular Figura 13 - Despejo irregular de RSU nas


de RSU no Canal Água Cristal, no bairro margens Canal Água Cristal, no bairro da
da Marambaia, Belém-PA. Marambaia, Belém-PA.

Figura 14 - Margem Canal Água Cristal, Figura 15 - Margem Canal Água Cristal,
no bairro da Marambaia, Belém-PA, sendo no bairro da Marambaia, Belém-PA, sendo
usada como depósito de materiais de
usada como depósito de madeira.
construção.

Figura 16 - Margem Canal Água Cristal,


no bairro da Marambaia, Belém-PA, sendo
usada como depósito de sucata.

45
6.1.2 – MAPEAMENTO PARTICIPATIVO

No que tange ao mapeamento participativo, o mesmo se deu no mês de junho de 2018


com as turmas de 6º e 9º anos do ensino fundamental na Escola Estadual de Educação
Infantil e Ensino Fundamental Almirante Tamandaré, somando 54 alunos, alunos do 1º e 3º
anos do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Médio e Profissionalizante Francisco
da Silva Nunes, somando 30 alunos e alunos da turma de Ensino de Jovens e Adultos –
EJA, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Hilda Vieira, com 12 alunos, assim, no
total participaram 96 alunos.
O Mapeamento participativo ocorreu de forma integrada à seminários sobre resíduos
sólidos apresentados para cada turma. A atividade se deu de maneira coletiva, em que um
mapa base (figura 17) foi apresentado para os alunos e nele os mesmos poderiam indicar
locais nos quais percebiam a presença de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro.

Figura 17 – Mapa base utilizado para mapeamento participativo com alunos das escolas públicas do
bairro da Marambaia. Fonte: Google Maps

Os alunos participaram da atividade, discutindo o tema e muitos auxiliaram uns aos


outros, entendemos que a vivência dos mesmos e suas relações espaciais e de pertencimento
com o território auxiliou para que identificassem os pontos de despejo irregular de resíduos
sólidos, de acordo com suas percepções (Figuras 18, 19, 20 e 21). Para Carlos (2007, p. 23-24)
as sociedades podem ser entendidas e caracterizadas pela observação de seu cotidiano, no qual
46
se revelam os processos que criam e recriam o espaço, influenciando na vida das pessoas,
desvela o modo de vida através da paisagem. A paisagem pode trazer à tona o espaço construído
e a desigualdade social, revelando as formas e funções dos objetos produzidos no espaço
urbano.

Figura 18 – Alunos do ensino fundamental Figura 19 – Alunos do ensino fundamental


em atividade de mapeamento em atividade de mapeamento
participativo. participativo.

Figura 20 – Alunos do ensino médio em Figura 21 – Alunas do ensino médio em


atividade de mapeamento participativo. atividade de mapeamento participativo.

Os dados mostrados pelos alunos foram então repassados para o software Quantum GIS
e através deste método cruzamos as informações obtidas em campo, através do levantamento
com GPS com as informações de percepção apresentada por cada turma. Foram desenvolvidos
mapas nos quais optamos por gerar áreas de influência (Buffers) com base no mapa de campo,
com dados georreferenciados de 50 e 100 metros dos pontos levantados, buscando comparar
com os dados informados pelos alunos.

47
Para os estudantes do 6º ano do ensino fundamental observamos que estes estudantes
marcaram 31 lugares onde percebiam ou acreditavam existir pontos de despejo irregular de
resíduos sólidos, destes 12 ficaram inscritos nas áreas de influência, com 10 deles inscritos na
área de 50 metros e 2 na de 100 metros (Figura 22). Considerando-se assim um acerto de 38,7%
considerando a proximidade dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos do
levantamento em campo com GPS. Estes estudantes têm idade média de 11 anos, sendo 56%
deles moradores do bairro da Marambaia.

Para os estudantes do 9º ano do ensino fundamental observamos que estes estudantes


marcaram 33 lugares onde percebiam ou acreditavam existir pontos de despejo irregular de
resíduos sólidos, destes 17 ficaram inscritos nas áreas de influência, com 9 deles inscritos na
área de 50 metros e 8 na de 100 metros (Figura 23). Considerando-se assim um acerto de 51,5%
considerando a proximidade dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos do
levantamento em campo com GPS.

Para os estudantes do 1º ano e 3º ano do ensino médio, que fizeram esta atividade em
conjunto, observamos que estes estudantes marcaram 47 lugares onde percebiam ou
acreditavam existir pontos de despejo irregular de resíduos sólidos, destes 34 ficaram inscritos
nas áreas de influência, com 25 deles inscritos na área de 50 metros e 9 na de 100 metros (Figura
24). Considerando-se assim um acerto de 72,3% considerando a proximidade dos pontos de
despejo irregular de resíduos sólidos do levantamento em campo com GPS.

Para os estudantes do Ensino de Jovens e Adultos observamos que estes estudantes


marcaram 16 lugares onde percebiam ou acreditavam existir pontos de despejo irregular de
resíduos sólidos, destes 10 ficaram inscritos nas áreas de influência, com 8 deles inscritos na
área de 50 metros e 2 na de 100 metros (Figura 25). Considerando-se assim um acerto de 62,5%
considerando a proximidade dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos do
levantamento em campo com GPS.

Considerando-se todos estudantes participantes, observamos que estes marcaram 127


lugares onde percebiam ou acreditavam existir pontos de despejo irregular de resíduos sólidos,
destes 73 ficaram inscritos nas áreas de influência, com 52 deles inscritos na área de 50 metros
e 21 na de 100 metros (Figura 26). Considerando-se assim um acerto de 57,4% em relação à
proximidade dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos do levantamento em campo
com GPS. No que concerne ao mapeamento participativo observou-se que os estudantes com
menor idade, do 6º ano do fundamental, apresentaram uma porcentagem de acerto menor,

48
38,7%, em relação aos pontos reais levantados em campo com GPS, seguidos dos alunos do 9º
ano com 51,5%, dos alunos do EJA com 62,3% e por fim pelo aluno do 1º e 3º anos do ensino
médio com 72,3% de maior proximidade.

Buscamos entender esta diferenciação na relação de proximidade de locais


indicados pelos estudantes com os locais levantados em campo através de georreferenciamento.
Dentre algumas literaturas pesquisadas encontramos em OLIVEIRA (2005) estudo sobre a
teroria de Jean Piaget, no que concerne aos estágios de desenvolvimento cognitivo e a
construção do espaço geográfico, ou melhor como percebemos este.

Pela teoria cognitiva de Piaget, os estágios de desenvolvimento são: a) sensório-motor


(0 a 2 anos de idade), que tem relação com a orientação espacial e desenvolvimento da
linguagem; b) pré-operatório (2 a 7 anos de idade), que tem relação com representações
simbólicas e pensamento; c) operações concretas (7 a 11 de idade), que tem relação com
operações mentais, porém com necessidade de empiria, presença concreta de objetos estudados;
d) e operações formais (11 a 12 ou mais, de idade) que tem relação com o raciocínio lógico e
sistemático, o pensamento hipotético-dedutivo.

Para Oliveira (2005, p. 105-111) a percepção espacial não está desconexa com o
desenvolvimento mental das crianças, e ainda que a noção de trajetória e localização são
relações estabelecidas entre os obejtos por quem os identifica. E para isso os seres humanos
percebem o espaço, o mundo físico, através das informações durante os processos de
deslocamento, percursos, e ainda das representações dos objetos para o indivíduo, ao que a
autora chama de modelo de meio ambiente. Oliveira (ibdem), explica que não há estudos que
neguem a relação da construção do espaço geográfico com as etapas e mecanismos perceptivos
e cognitivos apresentados por Piaget. Com base nesta análise, podemos justificar a pouca
porcentagem de acerto dos alunos do 6º ano, em relação aos pontos levantados com GPS, por
estarem em transição ente os estágios de desenvolvimento cognitivo de operações concretas
(que exige maior empiria) e de operações formais (que faz relações e tem o pensamento
hipotético-dedutivo), e ainda considerando que 44% destes estudantes não moram no bairro.
Para os alunos do 9º ano apesar de 65% destes não morarem no bairro, tiveram um acerto mais
significativo, porém, possuem idade média de 14 anos, o que dá aos mesmos maior autonomia
de percurso para a escola e ainda dedução de possíveis situações considerando outras já
percebidas.

49
Figura 22 – Mapa resultado do mapeamento participativo com alunos do 6º ano da Escola Almirante Tamandaré em comparação às zonas de
proximidades (buffer) de pontos identificados em campo com GPS, segundo semestre de 2018.

50
Figura 23 – Mapa resultado do mapeamento participativo com alunos do 9º ano da Escola Almirante Tamandaré em comparação às zonas de
proximidades (buffer) de pontos identificados em campo com GPS, segundo semestre de 2018.

51
Figura 24 – Mapa resultado do mapeamento participativo com alunos do 1º e 3º anos da Escola Francisco da Silva Nunes em comparação às zonas de
proximidades (buffer) de pontos identificados em campo com GPS, segundo semestre de 2018.
52
Figura 25 – Mapa resultado do mapeamento participativo com alunos do Ensino de Jovens e Adultos – EJA da Escola Hilda Vieira em comparação às
zonas de proximidades (buffer) de pontos identificados em campo com GPS, segundo semestre de 2018.

53
Figura 26 – Mapa resultado do mapeamento participativo com alunos de todas as escolas paticipates em comparação às zonas de proximidades (buffer)
de pontos indentificados em campo com GPS, segundo semestre de 2018.

54
6.2 – CARACTERIZAÇÃO DOS RSU EM PONTOS DE DESPEJO IRREGULAR NO
BAIRRO DA MARAMBAIA

Após a observação visual, imagem a imagem, relativa a cada ponto, num total de 46
pontos identificados, foram gerados dados que foram organizados em tabelas para fins de
análise. Os critérios de classificação utilizados foram os sugeridos por Braga, Ramos & Dias
(2010), salienta-se que existem vários critérios propostos por diversos autores. Com tais dados
pode-se vislumbrar a necessidade de gestão dos resíduos para o bairro, como também se ter
ideia das possibilidades de aproveitamento econômico, organização de ações de educação
ambiental, estrutura e materiais necessários para tratamento dos materiais, acondicionamento
adequado e retirada, dentre outros.

A maior dificuldade se deu pela característica dos pontos de despejo irregular, em que
os materiais não são dispostos de forma homogênea, demonstrando desordem e falta de
orientação do serviço público nesta problemática (Figuras 27, 28 e 29), durante a pesquisa de
campo, não foram localizados contêineres ou locais para este fim no bairro, o que não justifica
o descarte irregular destes materiais, mas que caso existissem, diminuiriam a problemática e
auxiliariam na gestão espacial desta.

Carvalho, Locatelli & Silva (2012, p.8) descrevem em um estudo sobre o município de
São Carlos-SP, o que consideramos como importante solução para o bairro da Marambaia, e
ainda para a os demais bairros da Capital do Estado do Pará, a criação de Ecoponto. Estes seriam
estruturas para recebimento de volumes pequenos de resíduos sólidos urbanos como restos de
obras, podas, materiais volumosos entre outros, que são encaminhados pelos
carroceiros/carrinheiros e ainda por parte da população. A solução supracitada, tem impacto
positivo no ambiente urbano, pois auxilia na recuperação de áreas com despejo irregular de
resíduos sólidos e é importante opção para esta problemática urbana. Considera-se ainda a
possibilidade de integração como ponto de recebimento de materiais para reciclagem, o que
acreditamos que seria uma oportunidade para estimular associações e cooperativas de
catadores, com capacitação, geração de renda e inclusão social.

55
Figura 27- Imagem de ponto de despejo Figura 28- Imagem de ponto de despejo
irregular de resíduos sólidos no bairro da irregular de resíduos sólidos no bairro da
Marambaia, Belém/PA, em agosto de 2018 Marambaia, Belém/PA, em agosto de 2018

Fonte: Pesquisa de campo. Fonte: Pesquisa de campo.

Figura 29- Imagem de ponto de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia,
Belém/PA, em agosto de 2018
Fonte: Pesquisa de campo.

Feita a análise visual das imagens dos pontos identificados, obtivemos os dados da
figura 30, tendo destaque de presença, para o bairro da Marambaia, os seguintes materiais:
madeira, restos de obras residenciais, lixo residencial, poda/roçagem, plástico, papel/papelão,
eletroeletrônicos, móveis, metal, pneus, sobra de alimentos, tecidos, caroço de açaí.
Observamos grande variedade dos materiais com destaque de lixo residencial, madeira,
plásticos, poda e resíduos de obras com as maiores e semelhantes porcentagens. Excetuando o
lixo residencial, os materiais em destaque poderiam ser encaminhados para locais próprios para
recebimento e destinação final adequada. Plásticos e papel/papelão deveriam ser encaminhados
para coleta seletiva, e eletroeletrônicos para programas de logística reversa.
56
% de pontos
15,0 14,4
16,0 13,7 13,1
14,0 12,4
12,0 8,5
10,0 7,2
8,0 5,2
6,0 3,9
4,0 2,0 2,0 1,3
2,0 0,7 0,7
0,0

Tipos de materiais visualizados

Figura 30- Frequência relativa dos tipos de materiais visualizados em pontos de despejo
irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em agosto de 2018. Fonte:
Pesquisa de campo.

A presença de materiais caracterizados como de origem comercial se deu por dedução


considerando a presença de comércio e serviços tipo borracharias e manutenção de
eletroeletrônicos na proximidade, assim quanto à origem ou fonte dos materiais identificados,
a grande maioria destes apresentavam aspecto de origem residencial (Figura 31). Conforme
citado, a disposição destes materiais se dá de forma desorganizada e não apresenta forma
homogênea que facilite a identificação e ou separação. Pela presença de lixo residencial em
grande parte dos pontos identificados a contaminação destes materiais é significativa, mais de
44% dos presença nos pontos identificados (Figura 32). Caso estes materiais fossem retirados
e encaminhados para espaços dedicados à separação dos mesmos para reciclagem por exemplo,
isto estaria comprometido devido ao alto índice de contaminação por lixo residencial
apresentado.

Origem / Fonte
95,6%
100,0

50,0
4,4%
0,0
Comercial Residencial

Figura 31 – Frequência relativa de acordo com a origem/fonte de materiais visualizados em


pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em agosto
de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

57
% de pontos

60,0 55,3
44,7
40,0

20,0

0,0
Contaminado Não contaminado

Aspecto sanitário
Figura 32 – Frequência relativa de acordo com o aspecto sanitário de materiais visualizados
em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em
agosto de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

Para o aspecto da tratabilidade, mais de 40% dos pontos apresentou presença


significativa de materiais recicláveis, o que deve ser considerado como potencial para projetos
integrados com a comunidade para geração de emprego e renda no bairro, através do estímulo
a formação e capacitação de associações e cooperativas de forma organizada. Materiais
biodegradáveis também são significativos, mais de 30%, e mostram um potencial econômico
no sentido de seu aproveitamento para projetos de hortas comunitárias ou paisagismo para a
cidade por exemplo. Materiais descartáveis representam a presença de sacolas com lixo
residencial, em sua maioria, contaminados (Figura 33). Entretanto, haveria que se planejar e
implantar formas de coleta e recepção destes materiais, junto a cooperativas e associações de
catadores por exemplo, ou a implantação de espaços públicos adequados para o recebimento
dos mesmos na comunidade.

% de pontos
41,9
60,0 32,3
40,0 22,6
20,0
3,2
0,0
Biodegradável Descartável Reciclável Outros

Tratabilidade

Figura 33 – Frequência relativa de acordo com a tratabilidade de materiais visualizados em


pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em agosto
de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

58
Entender o grau de biodegradabilidade e poder quantificar os materiais produzidos pode
auxiliar à gestão de resíduos sólidos a dimensionar as necessidades técnicas do destino final
destes materiais. No caso de Belém, estes materiais considerados como “entulho”, os resíduos
sólidos urbanos em pontos de despejo irregular, estão sendo direcionados para o Aterro do Aurá
ainda, e o lixo residencial para o Aterro Sanitário de Marituba. Entretanto, como podemos
identificar, há presença significativa de lixo residencial misturado ao material recolhido nos
pontos pelo serviço público, e aparentemente, as ações de fiscalização e orientações feitas pelos
órgãos da prefeitura não estão sendo suficientes para sanar este problema socioambiental. O
grau de biodegradabilidade representa o tempo que determinado material, dependendo das
características locacionais (umidade, calor, ação biológica, entre outros), levará para se
decompor. Assim, conforme as observações feitas, mais de 50% dos tipos de materiais
identificados possuem classificação de biodegradabilidade de moderado a alto (podas/roçagem,
papel/papelão, madeira, sobras de alimentos, caroço de açaí, alguns tipos de tecidos, entre
outros), 24% lento e não degradável (plástico, resto de obras, metais, pneus, eletroeletrônicos,
móveis, entre outros) e materiais não classificados tal qual o lixo residencial (Figura 34).

% de pontos
35,6
40,0
30,0 20,2 24,0 20,2
20,0
10,0
0,0
Alto Moderado Lento e não Não
degradável classificado

Grau de biodegradabilidade

Figura 34 – Frequência relativa de acordo com o grau de biodegradabilidade de materiais


visualizados em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia,
Belém/PA, em agosto de 2018.Fonte: Pesquisa de campo.

Para a caracterização em relação ao padrão econômico além da identificação visual do


tipo de material, se levou em consideração a localização do ponto de despejo em que
observamos existir áreas com maior concentração de despejo irregular de resíduos sólidos,
diferenciadas em relação ao padrão econômico da população e em relação ao tipo de moradia
de classe baixa, média e alta conforme a figura 35. Assim mais de 46% do pontos identificados
apresentam materiais de padrão econômico média ou baixa, no eixo que segue principalmente
59
a rua da Marinha e lateral direita do cemitério São Jorge, mais de 44% com aspecto de padrão
econômico baixa no eixo do canal Água Cristal e proximidade da feira e do cemitério São Jorge,
e mais de 6% localizados no conjunto residencial Médici 2 com padrão econômico de classe
média ou alta (Figura 36).

% de pontos
46,8 44,7
50,0
40,0
30,0
20,0
6,4
10,0 2,1
0,0
Média ou Alta Média ou Baixa Baixa Não
classificado
Padrão econômico

Figura 35 – Frequência relativa de acordo com o padrão econômico de materiais visualizados


em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em
agosto de 2018.
Fonte: Pesquisa de campo.

Figura 36 - Identificação de concentração de pontos de despejo irregular de resíduos sólidos


no bairro da Marambaia, Belém/PA, em agosto de 2018.
Fonte: Pesquisa de campo.

Em relação à capacidade dos materiais de reagirem com o meio sob ação das
intempéries, foram considerados resíduos inertes os que possuem tempo de decomposição lento
ou não se decompõem, temos como exemplo: metais, restos de construção, pneus, vidros,
plásticos, tecidos móveis e sucata. Os resíduos identificados como reativos que foram
observados durante o levantamento são os derivados de eletroeletrônicos, que podem

60
contaminar o meio e causar doenças pela intoxicação com metais pesados e substâncias
presentes em seus componentes e o lixo residencial. Os demais seriam os orgânicos (madeira,
poda/roçagem) e os não classificados (Figura 37).

Reação com o meio


60,0
38,6 38,6
40,0
20,9
20,0
2,0
0,0
Inerte Reativo Orgânico Não classificado*

% de pontos

Figura 37 – Frequência relativa de acordo com a reação com o meio de materiais visualizados
em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em
agosto de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

Em se tratando dos aspectos econômicos dos resíduos sólidos, são consideradas as


possibilidades econômicas dos mesmos no sentido de geração de renda através de reciclagem
por exemplo, estimulando uma cadeia produtiva importante e preservando recursos, diminuindo
a pressão sobre a natureza. O conceito de reduzir, reutilizar e reciclar, 3Rs, carregam em si um
importante aspecto econômico, potencializando setores da economia que tem sido tratados à
margem da lógica estimulada pelo consumo, e que poderão trazer vantagens para a população
em todas as escalas, do local ao global, se o paradigma mercadológico, de produção e consumo
for mudado. Em se tratando do bairro da Marambaia, está relevante a importância destes
materiais para a geração de emprego e renda para a população local. O resultado da classificação
quanto do aspecto econômico dos materiais localizados nos pontos de despejo irregular no
bairro, temos mais de 60% aproveitável, e mais de 5% recuperável, no caso de móveis.
Observamos a questão da presença de lixo residencial em vários pontos, contaminando o
restante dos materiais, o que acaba por deixar quase 30% dos pontos com materiais dados como
inaproveitáveis (Figura 38).

61
% de pontos

80,0 61,6
60,0
40,0 28,8
20,0 5,5 4,1
0,0
Aproveitável Recuperável Inaproveitável* Não
classificado

Aspecto econômico

Figura 38 – Frequência relativa de acordo com o aspecto econômico de materiais visualizados


em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em
agosto de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

No que tange à possibilidade de incineração observamos que existe a presença destes


materiais em quase 60% dos pontos localizados, com materiais tipo madeira, poda/roçagem,
papel/papelão, plástico (Figura 39). Neste material combustível, há a presença de lixo
residencial, que pode ser incinerado, porém, conforme Negrão & Almeida (2010), este material
pode inviabilizar o sistema de incineração devido presença de materiais molhados, e ainda estes
autores consideram que a incineração produz impactos socioambientais tais quais produção de
gazes tóxicos e cinzas poluentes, e ainda teria forte impacto econômico para associação e
cooperativas de catadores e empresas de reciclagem, pois estariam com menor disponibilidade
destes.

Belém já possuiu sistema de incineração, e reimplantar tal solução exigirá forte


investimento e gestão técnica e política adequada. No que se trata de recuperação energética,
que é a capacidade dos materiais em gerar calor, poder calorífico, e que deve ser considerado
para sistemas de incineração, conforme exposto anteriormente, não foram feitas análises
laboratoriais dos materiais visualizados, e sim identificação através das fotos da pesquisa de
campo. No que se refere à recuperação energética, tivemos como base em Batista, Texeira &
Silva (2004, p. 2-3) explanam sobre a conversão energética para resíduos, destacando os que
possuem maior capacidade de conversão térmica como madeira, papel, plástico e panos. Estes
informam que o lixo residencial tem boa capacidade de conversão, entretanto, conforme Negrão
& Almeida (2010), estes materiais possuem, em sua maior parte, muita umidade, assim

62
classificamos como média capacidade de conversão térmica. Os de baixa capacidade são
metais, restos de obras, sucatas e outros (Figura 40).

% de pontos

80,0
59,4
60,0 40,6
40,0
20,0
0,0
Combustível Não combustível

Possibilidade de incineração

Figura 39 – Frequência relativa de acordo com a possibilidade de incineração de materiais


visualizados em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia,
Belém/PA, em agosto de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

% de pontos
60,0
39,6 38,5
40,0
21,9
20,0

0,0
Alta Média Baixa

Recuperação / geração energética

Figura 40 – Frequência relativa de acordo com o potencial de recuperação / geração energética


de materiais visualizados em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da
Marambaia, Belém/PA, em agosto de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

Em se tratando da natureza física dos materiais, consideramos plásticos, metais, pneus,


restos de obras, papel/papelão, eletroeletrônicos, móveis, tecidos, como materiais secos, no que
tange à sua composição, o que equivalem a mais de 50% dos pontos com estes tipos de
materiais, e molhados os com forte presença de materiais orgânicos (Figura 41). As figuras 41
e 42 são complementares quanto à caracterização dos materiais, pois se considerarmos que os
resíduos sólidos localizados nos diversos pontos no bairro estão em áreas abertas, sujeitas às
intempéries e ainda que Belém do Pará é uma cidade Amazônica com clima equatorial úmido,
63
em que as chuvas são predominantes, estes materiais tem grandes possibilidades de conter
umidade, o que altera fortemente o peso no transporte e disposição final dos mesmos.

% de pontos

60,0 51,3
44,7
40,0

20,0
3,9
0,0
Seco Molhado Não classificado

Natureza física

Figura 41 – Frequência relativa de acordo com a natureza física de materiais visualizados em


pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em agosto
de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

% de pontos
60,0

40,0

20,0

0,0
Orgânica Inorgânica Não classificado

Composição química

Figura 42 – Frequência relativa de acordo com a composição química de materiais visualizados


em pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia, Belém/PA, em
agosto de 2018. Fonte: Pesquisa de campo.

A gestão de resíduos sólidos é algo fundamental nos espaços urbanos. Através da


caracterização dos tipos de materiais produzidos é possível subsidiar decisões para a coleta,
transporte e destino final dos resíduos, ou ainda implantar projetos como de reciclagem por
exemplo, conforme afirma Vilhena (2013, p.6-14). Com os dados de campo, e as observações
por ponto irregular de despejo de resíduos sólidos, para o bairro da Marambaia teremos as
seguintes situações em destaque:

64
a) Os tipos de materiais que se destacam são madeira, restos de obras, materiais de podas
e roçagens, materiais plásticos e a presença de lixo residencial. A implantação de locais
adequados para recebimento destes materiais, e ou o estímulo à segregação destes traria
bons resultados para diminuir a problemática do despejo irregular de resíduos sólidos
no bairro, conforme explica Vilhena (Ibdem), esta separação traria ganhos tais quais
redução de gastos públicos e aproveitamento econômico destes materiais;
b) Pelas observações, a origem dos resíduos é consideravelmente residencial, 95,6%.
Assim uma campanha, porta a porta, com estímulo de participação e apoio da
comunidade, através das associações e escolas por exemplo, em parceria com os órgãos
públicos municipais de saneamento e meio ambiente traria fortes ganhos
socioambientais através da separação destes materiais de forma adequada para a
destinação, assumindo a responsabilidade compartilhada governo e população, via
Ecopontos por exemplo;
c) Um ponto que se destacou ainda é a presença de lixo residencial em 44,7% dos pontos
identificados, apesar do serviço de coleta pública funcionar regularmente no bairro esta
é uma problemática forte quando observamos estes pontos irregulares de despejo de
resíduos sólidos, esta característica com concentração nos pontos ao longo dos eixos do
Canal Água Cristal e Rua da Marinha. Este percentual demonstra a necessidade de
reforçar ações de mobilização e conscientização nestas áreas, ou revisão e adequação
do serviço de coleta em áreas com menor atendimento. Verificamos que ao longo do
eixo Canal Água Cristal existem passagens e áreas conhecidas como “invasão” nos
quais a coleta de lixo residencial, os caminhões de coleta, não têm acesso, são áreas com
considerável número de moradores, praticamente sem infraestrutura adequada. Jacobi
(2002, p. 387) expõe que existe uma forte tendência da gestão de adotar a ‘culpabilidade
da vítima’ blaming the victim, resultado de descontinuidade de ações (quebra de
governabilidade) e ações poucos impactantes, o que este autor chama de verdadeiro
círculo vicioso. Observamos que são áreas de segregação socioespacial. Viver na cidade
é um direito, de acordo com Lefebvre (2001, p.7) é resultado da renovação da
democracia o direito à vida urbana, um princípio de humanismo. Porém as cidades
mostram grandes e crescentes problemas em que a exclusão social é latente, fruto de
processos dados pelo crescimento, planificação e homogeneização das formas de
produzir e consumir. A cidade em si é o lugar das contradições, onde o capital exerce
seu poder de forma mais intensa, onde o dilema desenvolvimento econômico e vida com
dignidade sem enfrentam, enfim um eterno conflito (LEFEBVRE, 2001, p. 11-16).;
65
Os dados de forma geral indicam o potencial para implantação de projeto local para
diminuir a problemática dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos, que pode ter
impactos positivos na qualidade de vida da população do bairro. Projetos como implantação de
Ecopontos e estímulo à coleta seletiva e reciclagem poderão trazer benefícios socioambientais,
geração de renda e inclusão social. Na década de 90, Wittmann e Véronique (1996, p.166), em
estudo sobre reciclagem, apresentaram esta atividade como um novo modelo de crescimento
social e preservação do meio ambiente. Estes autores observaram que a reciclagem permitiria
tratar a questão da acumulação de resíduos sólidos e ainda de substituir os usos de recursos
naturais não renováveis pela reciclagem de materiais já utilizados.

Wittman e Véronique (1996, p. 171) acreditam que a reciclagem induz que se


desenvolvam outras atividades econômicas, tais quais o transporte de materiais e também o seu
acondicionamento ou estocagem, sendo assim para o mercado, pode ainda estimular a produção
de inovações tecnológicas que poderiam ser patenteadas e exportadas. Um outro ponto positivo
no investimento em reciclagem, observando uma política em escala nacional, por exemplo,
seria diminuir a dependência do país com a substituição de produtos (recursos naturais)
importados, podendo de certa forma melhorar a balança comercial deste país. Ainda que a
questão da reciclagem seja questionada em relação ao cuto e benefício, isto se justificaria pela
adoção de uma política econômica que levasse em consideração o meio ambiente
(WITTMANN e VÉRONIQUE, 1996, p.178), e por sua vez as gerações futuras, indo desta na
mesma linha de pensamento do desenvolvimento sustentável.

6.3 – ZONEAMENTO DO BAIRRO POR DENSIDADE POPULACIONAL, RENDA, E


NÚMERO DE PONTOS DE DESPEJO IRREGULAR DE RSU

Os mapas de zoneamento do bairro da Marambaia, conforme exposto na metodologia,


tiveram como base de dados os setores censitários do IBGE para o ano de 2010, neles
conseguimos informações de delimitação dos setores, população por setor e renda. A figura 43
apresenta os setores censitários do IBGE que pertencem ao bairro da Marambaia, do total de 60
setores, observamos que possuem áreas consideravelmente diferentes, o que caracteriza cada
setor de acordo com o IBGE, são os limites físicos, como ruas, praças, rios, áreas contínuas,
cruzando tais informações com o número de unidades habitacionais.

66
Figura 43 – Mapa do bairro da Marambaia em Belém/PA, com delimitação dos Setores Censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE, para o Censo Demográfico 2010.

67
Observando a figura 44, se revela que o bairro da Marambaia possui duas grandes áreas
diferenciadas em relação ao número de habitantes por setores, uma a norte e outra a sul. A via
que se estende às margens do Canal Água Cristal, ao sul do bairro, possui setores com maior
número de população residente, dentro de duas faixas de classificação, de 1154 a 1419
moradores, e de 1422 a 3160 moradores. Nos setores com menores números de moradores, da
parte sul do mapa, observamos as seguintes proximidades ou características: próximas a áreas
institucionais (aeronáutica e corpo de bombeiros a sudoeste), área com condomínios verticais e
horizontais, conjunto residencial e proximidade com o cemitério São Jorge e feira/comércios
(centro-sul) e setores com maior proximidade de comércios e feiras, a Feira do Entrocamento e
áreas institucionais (sudeste). No eixo norte, destacam-se os conjuntos habitacionais, sendo o
Conjunto Médici I e II, Euclides Figueiredo, o Gleba I e II, e ainda praças e áreas verdes.

Analisando a figura 45, que mostra o número de pessoas com renda nominal per capita
até R$ 70,00 mês, temos que os setores que possuem a maior quantidade de pessoas com menor
renda são os com maior proximidade ao Canal Água Cristal, ou na parte sul do bairro da
Marambaia, em um total de 10 setores, sendo 5 na faixa de 46 até 91, 3 na faixa de 92 até 139,
1 na faixa de 141 até 221, e na faixa de 222 até 1075. Na porção norte do bairro temos 5 setores
na faixa de 46 até 91 e 1 setor na faixa 92 a até 139. Estes setores somados, nas porções norte
e sul, contabilizam uma população aproximada de 21.117 pessoas, equivalente a 31,65% do
total de moradores do bairro. Na pesquisa de campo observamos que estas áreas são as que
possuem menor infraestrutura e apresenta condições de moradia de baixa renda em sua maioria.
Um aspecto social que gostaríamos de destacar é a intensidade de pessoas nas ruas, que se dá
de forma bem mais intensa na parte sul do bairro, com algumas exceções a norte. O que vai ao
encontro da análise de Carlos (2007, p.23) sobre o espaço urbano quando esta explica que existe
uma interessante observação que podemos fazer para entender o processo de diferenciação dos
espaços, dos bairros, e até mesmo dentro destes, dependendo de sua extensão, é a questão da
frequência de pessoas nas ruas. Nas áreas em que a população, de um modo geral tende a ter
maior renda, as ruas são mais vazias, por outro lado, onde a população tende a ter menor renda
o fluxo de pessoas nas ruas é maior. Conforme a autora podemos entender que os espaço se
diferenciam, por processos que segregam as pessoas, ou grupos sociais, os espaços construídos
e ocupados frutos da desigualdade social.

68
Figura 44 – Mapa do bairro da Marambaia em Belém/PA, com Setores Censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com
informação de população residente por setor, de acordo com o Censo Demográfico 2010.

69
Figura 45 – Mapa do bairro da Marambaia em Belém/PA, com Setores Censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com
informação de quantitativo de pessoas com rendimento nominal mensal per capita até R% 75,00 por setor, de acordo com o Censo Demográfico
2010.

70
Na figura 46, a distribuição de pontos de despejo irregular de resíduos sólidos foi
sobreposta aos setores censitários com informações de população residente. O que se pode
observar é que existe grande concentração de pontos a norte e nordeste, e a sudoeste do bairro,
com menor distribuição nos outros setores.

Ao analisarmos a figura 47, onde a distribuição de pontos de despejo irregular de


resíduos sólidos foi sobreposta aos setores censitários com dados de renda nominal até R$ 70,00
mês, detectamos que a sudoeste os setores com baixa renda estão concentrados e há grande
presença de pontos de despejo irregular de resíduos sólidos, porém, observamos que a
concentração de pontos a nordeste pode nos indicar que há conexão maior entre densidade
populacional do que em relação à renda das populações para a quantidade de pontos de despejo
irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia.

Figura 46 – Mapa do bairro da Marambaia em Belém/PA, com Setores Censitários do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em relação à população residente, com ditribuição
de pontos de despejo irregular de Resíduos Sólidos Urbanos, segundo semestre de 2018.

71
Figura 47 – Mapa do bairro da Marambaia em Belém/PA, com Setores Censitários do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em relação ao número de pessoas com
renda nominal até R$ 75,00, com ditribuição de pontos de despejo irregular de Resíduos
Sólidos Urbanos, segundo semestre de 2018.

Nas observações de levantamento de campo, o que podemos perceber é que, a grande


maioria dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos têm algo em comum, estão , em sua
maioria, em espaços públicos e afastados das fachadas ou frentes de casas. No caso dos pontos
identificados às margens do Canal Água Cristal, estes se encontram longe das frentes das
unidades habitacionais, ou em laterais de terrenos de instituições públicas ou privadas, distantes
das entradas principais. A nordeste do bairro da Marambaia, fica o eixo da rua da Marinha, que
faz fronteira do bairro com a área de treinamento da Marinha do Brasil, em toda extensão norte
do bairro, e neste eixo observamos diversos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos. Os
demais pontos mais isolados e não concentrados estão em laterais de escolas públicas, tais quais
os colégios Leonor Nogueira e Francisco da Silva Nunes, laterais de terrenos de instituições
públicas tais quais o cemitério São Jorge e terrenos da Companhia Paraense de Saneamento do
Pará – COSANPA.

O problema de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia possui uma


característica histórica, de falta de planejamento e presença da gestão pública, o que poderíamos
afirmar há uma tendência de ser “natural” no bairro. Alguns problemas urbanos, pela sua

72
presença na rotina das pessoas, acabam com o tempo sendo dados como comuns e não causam
estranheza nos cidadãos, dentre alguns destes problemas encontramos a poluição visual e a
disposição inadequada de lixo. Conforme Mucelin e Bellini (2010, p. 19-20) as pessoas que
observam tais impactos acabam as percebendo como “normais”. Sobre isto estes autores
declaram:

A vivência cotidiana nos estimula pragmaticamente à elaboração mental de


ideias das coisas que percebemos. Objetos e fatos observados e percebidos
forçam a construção por associações de ideias que estimulam a mediação,
orientando as ações e determinando as condutas, modo de ação. É neste
processo dinâmico, dialógico e interativo que desempenhamos as crenças
responsáveis pelos hábitos que edificam o nosso modo de viver. Muitas vezes
estes hábitos são condenáveis, como por exemplo, a disposição inadequada de
lixo [...] (MUCELIN e BELLINI, 2010, p.21)

Não obstante vale salientar que não existe locais apropriados para o descarte de resíduos
sólidos no bairro, excluindo-se o resíduo ou lixo domiciliar, que tem retirada regular pelo poder
público com dias bem definidos. Existem interessantes experiências em outras capitais do país
para esta questão dos resíduos sólidos urbanos, como restos de podas de árvores, capinas, restos
de obras residenciais, são depósitos projetados para receber tais materiais pelas comunidades
do entorno. Esta seria uma importante solução para esta problemática do bairro. Não obstante
é importante salientar que a Prefeitura de Belém, através de sua secretaria de saneamento,
ofereço o serviço de retirada destes materiais à população. Para solicitar, o cidadão deve
telefonar para o número 156 e fazer a demanda. Acompanhamos dois chamados, e notamos que
há uma demora considerável do atendimento para a retirada na residência, com mais de 15 dias
para a retirada em um dos casos e outro não foi atendido. A serviço orienta que a quantidade de
material a ser retirado não pode ultrapassar a 1 m3 por solicitação.

6.4 – ALGUNS ATORES SOCIAIS QUE INFLUENCIAM NA PROBLEMÁTICA DOS RSU


NO BAIRRO DA MARAMBAIA

Durante a pesquisa nos foi possível observar vários atores sociais com relações diretas
e indiretas para a problemática dos pontos irregulares de despejo de resíduos sólidos no bairro
da Marambaia. Alguns atores são institucionais e têm funções definidas em leis para prevenção
e combate a crimes ambientais, são estes:

73
1) o poder municipal através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA, para
quem compete: a formulação de políticas e de diretrizes para o desenvolvimento
ambiental municipal; planejamento, coordenação e execução de políticas, de diretrizes
a ações que tenham como objetivo a melhor qualidade ambiental municipal; buscar a
elaboração de normas para que atinja padrões de sustentabilidade ambiental; fazer com
que a política ambiental seja integrada às ações previstas no Plano Diretor Urbano
Municipal; fazer e manter articulação com instituições governamentais e não
governamentais em ações, planos, programas e projetos locais para o meio ambiente;
estimular e ainda executar estudos e pesquisas científicas, tecnológicas, de caráter
cultural e ou educativo, para fins de geração de conhecimento sobre meio ambiente e
preservação ambiental, assim também a sua difusão; dar garantia para que as
comunidades possam participar da gestão ambiental, com representação dos vários
segmentos sociais; cuidar e planejar a arborização dos logradouros públicos; entre
outros. Destacando-se a aplicação de sanções quando do descumprimento da
legislação ambiental;

2) a Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN: com competência para atividades de


pereservação ambiental, saneamento básico, gestão do resíduos sólidos, e ainda
fiscalização através do Departamento de Resíduos Sólidos – DRES;

3) a Secretaria Municipal de Economia – SECON: com gestão sobre as feiras livres, e


ainda sobre os resíduos por ela produzido, no sentido de organização e gestão do espaço
junto aos feirantes;

4) a Guarda Municipal: no sentido de fiscalizar e coibir ações prejudiciais ao patrimônio e


segurança pública;

5) a Delegacia de Meio Ambiente: no combate a crimes ambientais;

6) a Polícia Militar: no combate a crimes ambientais e coibir ações prejudiciais ao


patrimônio e segurança pública;

No sentido da responsabilidade compartilhada sobre os resíduos sólidos, temos ainda os


cidadãos e pequenas empresas e comércios:

1) Moradores do bairro: Sobre a problemática dos resíduos sólidos no bairro, observou-se


que, grande parte da problemática é gerada pela ação por parte dos moradores que, por

74
vezes, pagam para que terceiros levem os resíduos de suas moradias para locais distantes
das mesmas, incorrendo assim em crime ambiental e gerando esta importante
problemática, muitos relatos em conversas com moradores expuseram tal situação, e
ainda questionavam, vamos fazer “o quê?”, transferindo a responsabilidade ao serviço
público municipal;

2) Feirantes: os feirantes, usam através de consensão municipal espaço público para


exercer atividades econômicas nas feiras livres. No bairro da Marambaia existem três
feiras principais, a primeira a feira da Marambaia, na avenida Dalva, a segunda a feira
do Entrocamento, próxima a avenida Augusto Montenegro e a terceira a Feira da Tavares
Bastos com rua da Mata, destas a última é que apresenta maiores problemas, pois gera
importante ponto de descarte irregular de resíduos, tal ponto, se localizava em frente ao
cemitério São Jorge, e agora na lateral do mesmo. Observou-se que há um esforço do
serviço municipal de controlar tal situação, em entrevista com o gestor desta feira, foi
relatado que não existe mais a associação dos feirantes e que está sendo tratada a
reorganização desta associação para que a questão dos resíduos seja obedecida por eles,
e evitem as sanções legais e perda do direito de uso do espaço. O gestor expôs que é
feita a orientação do horário de retirada dos resíduos da feira, que é feito diariamente,
porém nem todos obedecem, e acabam depositando fora do horário, este gestor ainda
relatou que o local para organização dos resíduos difere do ponto de despejo irregular
identificado durante a pesquisa de campo, que este, pelos feirates utilizados é destinados
a lixeiras coletivas. Durante a pesquisa, observou-se no ponto de despejo irregular de
resíduos sólidos próximo à feira da Tavares Bastos restos de alimentos, caixas de
alimentos, ossos e outros tipos de sobras de origem de produtos de feiras e mercados;

3) Carrinheiros/carroceiros: Estes atores sociais, para o senso comum representam o


problema principal para a questão do despejo irregular de resíduos sólidos no bairro,
não pretendemos aqui eliminar, ou não responsabilizar este grupo social pela prática do
despejo de resíduos nas ruas comentendo um crime ambiental. Porém, quando
observamos a condição social a que este grupo pertence e são socialmente submetidos
e excluídos, e observamos que, eles observam este “serviço” como uma possibilidade
de renda e sustento para suas famílias, vemos que esta problemática dos resíduos, passa
a ser uma solução para estes. Observamos pelos relatos de moradores e conversas com
alguns destes carrinheiros/carroceiros que estes são remunerados por alguns moradores
para o descartes dos “entulhos” longe de suas residências. Urge à gestão pública buscar
75
integrar este grupo social a ações de geração de renda, tais quais estimular cooperativas
e ou associações de reciclagem por exemplo no bairro, capacitações, treinamentos, em
cursos de jardinagem por exemplo, transformando-os em solução para a problemática
caso se criem espaços adequados no bairro para receber tais materiais de forma
organizada e bem gerenciada, tais quais os Eco Pontos que recebem entulhos nos bairros
da cidade da Campias em São Paulo;

4) Associações de moradores: as associações de moradores podem ser bem atuantes na


problemática abordada nesta pesquisa, destacamos a Associação do Moradores do
Conjunto Médici I e II, que possui vaga na Comissão de Defesa de meio Ambiente de
Belém, de acordo com a lei 7.539/1991, na qual criou-se o Parque Ecológico de Belém,
em área remanescente deste conjunto habitacional, e a Associação dos Moradores do
Conjunto Euclides Figueiredo. No bairro, outras associações de moradores não
apresentaram ações de combate de forma mais divulgada à questões dos pontos
irregulares resíduos sólidos. A primeira associação tem apoiados ações locais e tem
iniciado comunicação com a SESAN para que seja criada o primeiro Eco Ponto de
resíduos sólidos no bairro, em fase de negociação ainda, de acordo com informações do
atual presidente desta associação. A segunda associação tem atuado de forma mais
efetiva, conseguindo combater pontos de despejo irregular no conjunto habitacional com
campanhas locais, ações conjuntas com a SEMMA e SESAN, palestras por exemplo.
Observa-se que a segunda associação aparanta maior organização e participação dos
moradores com contribuições mensais que garantem contratação de pessoal para
limpeza e organização de áreas verdes. A segunda associação carece ainda de maior
organização e resgate junto aos moradores do conjunto habitacional, observa-se que há
necessidade de avanços organizacionais e de comunicação pela que possa atuar de forma
mais efeciente na questão dos pontos irregulares de resíduos sólidos em seu espaço de
gestão;

5) O Conselho de Segurança e Cidadania da Marambaia: este apresenta-se como uma ação


civil organizada, reconhecida pelo poder público, inclusive com representantes do
Estado em sua formação que possui em uma de suas ações a questão ambiental. Esta
organização tem apoiado palestras junto à comunidade, e feito orientações através de
grupos de comunicação e redes sociais sobre a problemática ambiental no bairro;

76
6) Ações comunitárias: dentre as ações comunitárias destacam-se o Grupo de Amigos da
Marambaia, que são moradores do bairro, que atuam na conscientização e na ação direta
de combate a ponto de despejo irregular de resíduos sólidos no bairro, através de ações
pontuais e organizadas atuam na mobilização de mutirões que transformam “lixões” em
jardins, com limpeza e jardinagem dos espaço públicos que foram afetados pela prática
deste crime ambiental. Também observamos o grupo EcoTerapia Comunitária, este
fundado após em 2016 e que atua focado nas escolas do bairro, estimulando ações,
palestras e divulgando nas redes sociais a questão da educação ambiental e da
mobilização social para fins de melhoria da qualidade ambiental;

6.5 – ATIVIDADES NAS ESCOLAS E COMUNIDADE

Um dos objetivos desta pesquisa/ação foi ministrar palestras nas escolas do bairro sobre
a questão dos resíduos sólidos urbanos e coleta seletiva. Para isto houve reunião preparatória,
na qual foram apresentados à gestora da Secretaria Estadual de Educação -SEDUC/PA para a
Unidade SEDUC na Escola – USE 8, e as diretoras das escolas nas quais seriam aplicadas as
atividades, os objetivos da pesquisa e as atividades que seriam desenvolvidas (Figura 48).
Observou-se que as escolas receberam a proposta com motivação, sendo que tanto a gestora da
USE 8 quanto as diretoras das escolas relataram que entendiam que a questão ambiental no
bairro é fundamental. Também relataram que desenvolviam algumas atividades neste sentido já
na escola, porém que havia necessidade de reforçar tais ações. Observa-se que o entendimento
dado pelas docentes concorda com o que Oliveira (2006, p33) explica, expondo a importância
dos educadores para a formações dos cidadãos no que tange contribuírem com projetos que
busquem a compreensão sobre o ambiente que os cerca, no qual estão inseridos e,
compreendendo-o, buscar diminuir os problemas ambientais nele existentes.

77
Figura 48 – Reunião de apresentação da proposta de atividades nas escolas participantes
da pesquisa, junho 2018.

As atividades se desenvolveram am sala de aula nas escolas Almirante Tamandaré e


Hilda Vieira, para as turmas de 6º ano, 9º ano, e Educação de Jovens e Adultos, para a última
escola. Houve participação ativa dos alunos e também dos professores. No caso da Escola
Almirante Tamandaré, acompanhou a atividade a docente de Estudos Amazônicos. No caso da
Escola Hilda Vieira a professora responsável pela Educação de Jovens e Adultos. Na Escola
Francisco da Silva Nunes, conhecido como Colégio Integrado, as atividades se deram no
auditório da unidade de ensino, e teve acompanhamento da coordenação do Curso Técnico de
Meio Ambiente, que também é professora do ensino médio regular. Participaram as turmas do
1º e 3º anos.

Avaliamos esta participação dos docentes em sala de aula como positiva, pois evitou um
certo “estranhamento” dos alunos em relação à alguém de fora de seu convívio escolar, além
de importantes contribuições sobre a temática em discussão. A participação e o questionamento
dos estudantes foi ativo, principalmente para as turmas do 6º, 9º anos e Educação de Jovens e
Adultos, os estudantes do 1º ano tiveram boa participação e houve alguns questionamentos, já
os estudantes do 3º teve menor participação, porém não prejudicial ao andamento das
atividades.

Também houve participação da comunidade nos seminários, como no caso das


atividades junto à Escola Francisco da Silva Nunes, com a presença de uma coordenadora do
Grupo de Amigos da Marambaia, que falou sobre as ações do grupo comunitário na recuperação
de áreas degradadas pelo despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia. O
78
estímulo à preocupação com as questões ambientais é fundamental no ambiente escolar e
também fora dele, esta ação se alinhou então à algumas das recomendações da Declaração de
Tibilisi, resultado da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, ocorrida em
1977, na Geórgia, na ex. União Soviética,sendo:

A educação ambiental deve ser dirigida à comunidade despertando o


interesse do indivíduo em participar de um processo ativo no sentido de
resolver os problemas dentro de um contexto de realidades específicas,
estimulando a iniciativa, o senso de responsabilidade e o esforço para
construir um futuro melhor. [...]

Uma vez compreendida devidamente, a educação ambiental deve


constituir um ensino geral permanente, reagindo às mudanças que se
produzem num mundo em rápida evolução. Esse tipo de educação deve
também possibilitar ao indivíduo compreender os principais problemas
do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe conhecimentos técnicos
e as qualidades necessárias para desempenhar uma função produtiva
visando à melhoria da vida e à proteção do meio ambiente, atendose aos
valores éticos [...]

Declaração da Conferência Intergovernamental sobre Educação


Ambiental, CONFERÊNCIA INTERGOVERNAMENTAL SOBRE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Tbilisi, Geórgia, ex-URSS, de 14 a 26 de
outubro de 1977

Figura 49 – Projeção de conteúdos sobre Figura 50 – Atividade em sala de aula sobre


Resíduos Sólidos Urbanos em atividades Resíduos Sólidos Urbanos durante a
em sala de aula durante a pesquisa/ação pesquisa/ação.

79
Figura 51 – Atividade com estudantes Figura 52 – Atividade com estudantes e
sobre Resíduos Sólidos Urbanos durante a particpação de membro de Grupo
pesquisa/ação. Comunitário sobre Resíduos Sólidos
Urbanos durante a pesquisa/ação.

Não fazia parte desta pesquisa/ação desenvolver uma cartilha ou produto para ser
aplicado em sala de aula. Assim, foi feita uma pesquisa sobre materiais que pudessem ser
apresentados durante os seminários nas escolas. Optamos por montar uma apresentação que
mostrasse trechos de uma cartilha que foi desenvolvida no ano de 2015 pela Universidade
Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, por Araújo & Coêlho (2015), esta que está disponível
para download no endereço eletrônico desta instituição. Somada às informações da cartilha
supracitada, também foram apresentadas aos alunos imagens da realidade do Bairro da
Marambaia sobre a questão dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos.

As palestras buscaram desta forma levar até os estudantes informações sobre a


problemática ambiental no bairro, mais especificamente sobre os resíduos sólidos, fazendo com
que os mesmos viessem a atuar de forma direta e indireta nas suas comunidades como
multiplicadores, pois teriam conhecimentos para analisar situações de agressão ao meio
ambiente e discutir em suas famílias, nas escolas e na comunidade, levando à desnaturalização
do problema. Cuba (2010, p.29) fala que já é dado como consenso a imperiosa busca pela
proteção ao meio ambiente, expondo que o único meio para isto é revelar a consciência
ambiental, e que esta “tomada de consciência” deve se multiplicar através das gerações atuais
para as vindouras. Assim este autor explica que é fundamental a ação e o ensino de educação
nos ambientes formais e não formais de ensino, através de projetos que envolvam os educandos,
80
no que define “tornando-os multiplicadores de atitudes sustentáveis, do ponto de vista do meio
ambiente”.

Figura 53 – Telas utilizadas como recurso didático nas atividades de seminário com as turmas
durante o desenvolvimento das atividades, apresentando informações da Cartilha de Resíduos
Sólidos de Araújo & Coêlho (2015), dados e informações sobre Resíduos Sólidos Urbanos no
bairro da Marambaia, Belém/PA

Para os seminários foi dada a seguinte forma de apresentação: antes de se falar sobre o tema,
se fazia um questionamento, por exemplo, ‘O que é resíduo sólido?’. Após dadas as repostas,
destacando as mesmas e valorizando o conhecimento prévio dos alunos iniciava-se a discussão
e a apresentação do tema. Observou-se desta maneira que os estudantes faziam relacionamento
entre resíduo e lixo, assim discutimos e foi exposto aos alunos os conceitos de lixo/rejeito,
materiais que já se esgotaram as possibilidades de tratamento e recuperação, e resíduos sólidos,
materiais que ainda podem ser reutilizados, reaproveitados, reciclados ou direcionados para

81
compostagem. Foram desenvolvidas as palestras nas escolas com esta abordagem supracitada
e seguindo os seguintes pontos:

a) Lixo/Rejeito e Resíduos Sólido;

b) Tipos de Resíduos Sólidos e sua origem;

c) Problemas causados pelos resíduos sólidos;

d) O que é chorume?;

e) Tempo de decomposição dos tipos de resíduos sólidos;

f) Qual o destino final dos resíduos sólidos?

g) Possíveis soluções;

h) Coleta seletiva e reciclagem;

i) Despejo irregular de resíduos sólidos no bairro da Marambaia.

6.6 – PLATAFORMA DE MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Com as informações e dados levantados durante o processo de pesquisa e


desenvolvimento da plataforma e fundamentalmente com o mapeamento participativo, que
contou com os estudantes de três escolas públicas do bairro da Marambaia, pudemos dar início
à criação da Plataforma de Mapeamento Participativo e Percepção Ambiental, esta sendo
entendida como uma ferramenta de gestão e educação ambiental. Esta ferramenta carrega em
si o espírito participativo e a valorisação da percepção das pessoas, no caso dos estudantes, para
subsidiar informaçõe e orientar tomada de decisão e ações de gestão e educação ambiental.

Através do endereço eletrônico http://www.profciamb.propesp.ufpa.br/ors/ a plataforma


tem acesso livre ao público interessado pela temátio de Resíduos Sólidos Urbanos. Com base
na tecnologia de geoprocessamento e do software livre, Quantum GIS, foi possível desenvolver
o produto com fins informacionais, educacionais, de gestão e pesquisa, atuando também como
um observatório do o RSU na capital do Pará, tendo a versão 1.0 o módulo RSU, bairro da
Marambaia. Pretende-se dar continuidade à proposta em parceria com as escolas públicas da
cidade e também os setores de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente,

82
como também no Departamento de Resíduos Sólidos da Secretaria Municipal de Saneamento,
ambos de Belém-Pa.

Através da percepção ambiental, pode verificar se as ações de gestão ambiental no bairro


estão sendo percebidas pela população, e ainda, de forma complementar, seminários,
questionários e mapeamento, em parceria com as escolas, pode-se chegar ao entendimento de
diversas questões, como por exemplo a percepção dos estudantes de como é dada a destinação
final dos resíduos nas suas unidades habitacionais, e a partir daí, subsidiar ações posteriores nas
comunidade de orientação e educação ambiental.

A figura 54 mostra a tela da plataforma, nelas há um mapa interativo, no qual o usuário


poderá identificar diversas informações, acessar e comparar dados. O mapa pode, de formar
intuitiva e interativa, modificar o nível de visualização (zoom), os dados contidos em realação
aos objetos geoFiguras como ruas, quadras, hospitais, parques, praças, são da base colaborativa
de acesso livre OpenStreetMap. Na plataforma o usuário também poderá acessar links de
materiais de educação ambiental como cartilhas e vídeos.

Figura 54 – Tela de apresentação da Plataforma de Mapeamento Participativo e Percepção


Ambiental: ferramenta de gestão e educaçã ambiental versão 1.0

Na figura 55 temos a legenda interativa, na qual o usuário poderá selecionar as camadas


(Layers) que deseja visualizar para suas análises. As informações constantes na versão 1.0 da
plataforma são: localização das escolas que participaram da ação; a localização

83
georreferenciada do pontos de despejo irregular de Rsu levantados com receptor GPS na fase
de pesquisa de campo, os pontos indicados pelos alunos (por escola) na fase de mapeamento
participativo, dois buffers ou zona de proximidade de 50 e 100 metros, para simular a
visualização e proximidade de acerto dos alunos em relação aos pontos levantados, setores
censitários do IBGE para o bairro da marambaia uma para renda e outro para população, a
drenagem principal do bairro (Canal Água Cristal e Igarapé São Joaquim) e por fim a
delimitação do bairro. Pretende-se fazer a atualização anual destes dados, com fins de observar
o avanço das ações coletivas e das ações e políticas de gestão ambiental no bairro da
Marambaia.

Figura 55 – Área da legenda interativa da Plataforma de Mapeamento Participativo e


Percepção Ambiental: ferramenta de gestão e educaçã ambiental versão 1.0

Na figura 56 pode-se observar exemplo de aplicação, os pontos de despejo irregular


levantados e a seleção de dos buffers, de 50 e 100 metros. Com estas informações o gestor
público poderá dimensionar suas ações e identificar áreas com maiores problemas ambientais
e ainda derterminar melhor as rotas de fiscalização, moitoramento e implementação de ações
de educação ambiental. Outro ponto relevante desta ferramenta é dar apoio a tomada de decisão
para a implantação de Ecopontos no bairro da Marambaia, observando a distribuição da
probemática do despejo irregular de resíduos sólidos urbanos. Na figura 57 observa-se a
distribuição da população, sua densidade populacional, através da incorporação à plataforma

84
de dados do IBGE do censo de 2010. Com estes dados o gestor poderá optar pela ação mais
adequada de acordo com a população da área onde for atuar.

Figura 56 – Exemplo de aplicação de visualização de pontos de despejo irregular de Resíduos


Sólidos Urbanos na Plataforma de Mapeamento Participativo e Percepção Ambiental:
ferramenta de gestão e educaçã ambiental versão 1.0

Figura 57 – Exemplo de aplicação de cruzamento de informações para fins de análise na


Plataforma de Mapeamento Participativo e Percepção Ambiental: ferramenta de gestão e
educaçã ambiental versão 1.0

O produto desenvolvido poderá ser ampliado, a versão 1.0 tem sua aplicação ao bairro
da Marambaia e à problemática dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos, sendo assim
85
um módulo. Outras questões ambientais poderão vir a compor a plataforma de gestão e
educação ambiental, tais quais: áreas não atendidas com coleta de lixo domiciliar, áreas verdes,
áreas com inundação, poluição sonora e visual, despejo de esgoto em rio e canais, emissão de
gases ilhas de calor, entre outros. Assim além do estímulo à educação ambiental nas escolas e
no mapeamento participativo, o produto poderá ser utilizado como base para divulgação de
dados de futuros projetos de pesquisa da rede PROFCIAMB, pólo UFPA, e ainda, em apoio a
divulgação de conhecimentos ambientais e gestão municipal. Esta plataforma versão 1.0
também disponiliza dados e links de cartilhas e vídeos sobre a temática ambiental relativa aos
resíduos sólidos urbanos, figura 58.

Figura 56 – Área com links na Plataforma de Mapeamento Participativo e Percepção


Ambiental: ferramenta de gestão e educaçã ambiental versão 1.0

6.7 – PERCEPÇÃO DOS ALUNOS QUANTO À NATURALIZAÇÃO DA PRESENÇA DO


LIXO E DE SEU CONHECIMENTO DA POSSÍVEL RECICLAGEM DO MESMO

Para identificar a percepção dos alunos quanto à naturalização da presença do 'lixo' e de


seu conhecimento da possível reciclagem desse material, foi aplicado questionário com 15
perguntas, sendo algumas de múltipla escolha e outras de resposta aberta, para 96 estudantes de
escolas públicas do bairro da Marambaia, Belém/PA. O questionário foi respondido por 05

86
turmas, duas do ensino fundamental, 6º e 9º anos, turno da manhã, na Escola Estadual de Ensino
Fundamental Almirante Tamandaré, localizada no Conjunto Cohab, Gleba I; duas turmas do
ensino médio, 1º e 3 º anos, turno manhã, na Escola Estadual Francisco da Silva Nunes (Colégio
Integrado), localizada na avenida Santarém, Conjunto Médici 2; e uma turma do Ensino de
Jovens e Adultos - EJA, 2ª etapa, turno noturno, na Escola Estadual Hilda Vieira, travessa
Marapanim, Conjunto Médici 1.

Observa-se na tabela 1 o quantitativo de alunos que participaram da atividade do


questionário por turma, a menor participação se deu pelos discentes do ensino médio, o que foi
justificado pelo fato de que no dia da aplicação do questionário estava também ocorrendo na
escola mini cursos relativos às turmas de ensino técnico, e alguns estudantes teriam dos cursos
regulares teriam se inscrito para participar, porém o número de participantes não prejudicou a
aplicação do questionário. A turma de EJA é reduzida, composta de alunos que trabalham e
estudam pela noite, com idade avançada que varia de 16 até 70 anos. Das turmas do ensino
fundamental, a que possui mais alunos é a do 9º ano, com 34 estudantes e a do 6º ano possui 20
alunos. A turma do 9º ano possui equilíbrio entre estudantes do sexo masculino e feminino, a
turma do 6º ano possui 60% do sexo feminino e 40% do sexo masculino. A participação de
estudantes do sexo masculino foi menor nas turmas do EJA e do ensino médio.

Escola Turma Nº de Idade Alunos Alunas Não


alunos Média informaram o
sexo
Almirante 6º ano 20 11 8 12 0
Tamandaré
Almirante 9º ano 34 14 17 15 2
Tamandaré
Integrado 1º ano 18 15 5 12 1
(médio)
Integrado 3º ano 12 17 3 9 0
(médio)
Hilda Vieira EJA 12 34 2 9 1
2ª etapa
Tabela 1 – Idade e sexo dos alunos

Como o objetivo deste questionário era identificar a percepção dos estudantes sobre a
questão dos resíduos sólidos e seu despejo irregular no bairro da Marambaia, procuramos saber
87
se os alunos eram moradores do bairro ou de outros. No resultado deste ponto (Tabela 2),
identificamos que os alunos, que responderam ao questionário, do ensino médio e do EJA,
declararam serem todos moradores do bairro da Marambaia. Se revelou que os estudantes do
ensino fundamental, tem boa parte residência em outros bairros, sendo os estudantes do 6º ano
com 44% deles moradores de outros bairros, tais quais, Castanheira, Jaderlândia, Benguí,
Icoaraci. Para os estudantes do 9º ano a porcentagem é maior, chegando a 65% destes, alguns
moradores nos bairros citados e ainda um aluno do município vizinho de Belém, e que faz parte
da Região Metropolitana de Belém, que seria o município de Ananindeua. O que provavelmente
explica tal situação é que a Escola Almirante Tamandaré tem localização próxima à avenida
Augusto Montenegro, que delimita a fronteira do bairro da Marambaia com outros, como
Atalaia, Castanheira, e faz eixo de acesso para Benguí, Icoaraci e outros. Esta é uma importante
avenida da cidade de Belém, no eixo de expansão urbana sentido Complexo Viário do
Entroncamento e o distrito Icoaraci, que suporta importante fluxo diário de trabalhadores que
possivelmente tenham escolhido esta escola, para seus filhos, por ser caminho para o trabalho
e/ou próximo de suas residências, no caso de estudantes de bairros vizinho.

Observando o fato descrito no parágrafo anterior duas situações importantes podem


ocorrer: no caso da Escola Almirante Tamandaré atuar com projetos e ações de educação
ambiental, poderá, via seus estudantes, multiplicadores, possibilitar à outros bairros receberem
os frutos destas atividades, quando estimulada a participação das famílias e até vizinhança dos
alunos; Porém, em relação à percepção dos resíduos sólidos urbanos no bairro da Marambaia,
como são moradores de outros bairros, poderá restringir ao percurso que fazem pelo bairro no
sentido casa/escola. Apesar disto, não invalida a pesquisa e os dados obtidos, Oliveira (2006,
p.35) explica que os indivíduos possuem percepções do espaço em relação à sua realidade de
vivência, no que ele diz, o espaço vivenciado. Conforme este autor não podemos definir que as
percepções apresentadas são erradas ou até mesmo inadequadas, mas que estas são diferentes,
de acordo com o lugar no qual vivem.

Escola Turma Marambaia Outros


bairros
Almirante Tamandaré 6º ano 56% 44%
Almirante Tamandaré 9º ano 35% 65%
Integrado 1º ano (médio) 100% 0%

88
Integrado 3º ano (médio) 100% 0%
Hilda Vieira EJA 100% 0%
2ª etapa
Tabela 2 – Bairro de residência dos alunos

Outro resultado obtido tratou do vínculo empregatício dos pais (pai e mãe). As menores
porcentagens de pais trabalhando foi identificada pelas informações dos estudantes do EJA
(Tabelas 3 e 4), e ainda se pode observar o seguinte aspecto, os pais destes estudantes possuíam,
em sua maioria, apenas o ensino fundamental (Tabelas 5 e 6) e ainda, são ou foram migrantes
do interior do Estado do Pará ou de outros Estados (Tabelas 7 e 8). Estes dados têm relevância
de análise pois confirma que as pessoas com maiores dificuldades de ingressar no mercado de
trabalho possuem o perfil de baixa escolaridade e ainda são migrantes de locais distantes dos
centros urbanos, o que se refletiu na oportunidade de acesso à educação para seus filhos. Em
Cury (2008, p. 216-217), podemos analisar esta tendência de exclusão ainda existente em nosso
país, este autor expõe que apesar das consquistas na área da educação no Brasil, com a questão
da universalização do ensino fundamental, expansão dos ensinos médio e infantil, fazendo um
diagnóstico da educação no país há falhas. Estas falhas são em atingir metas na educação dentre
estas a da educação de jovens e adultos, principalmente no que tange à qualidade do ensino
ofertado, porém o que se destaca é que em face da injustiça social de distribuição de renda e
inclusão social, ainda seguem historicamente penalizados os negros, os descendentes indígenas,
os migrantes, a população das periferias e pessoas com idade mais avançada.

Para os estudantes do ensino médio observamos que, em relação ao pai, a maioria possui
apenas o ensino médio completo e que as mães possuem maior porcentagem dos que concluíram
o ensino superior (Tabelas 5 e 6), entretanto, apesar deste aspecto, parcela significativa delas
não tem vínculo empregatício. Também se notou que os pais (pai e mãe) em sua maioria são da
capital do Estado do Pará. Os dados levantados mostram-se de acordo com a pesquisa
apresentada por Rosemberg & Andrade (2008, p.429), que versa sobre o ensino superior no
Brasil. Os resultados apresentados na pesquisa destes autores, através de dados do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, mostraram que a
participação de mulheres no ensino superio é maior do que dos homens, em 2002 as mulheres
eram 56,5% dos concluintes do grau superior de ensino, tendo um avanço para 62,9% em 2006.
A pesquisa destes autores mostrou que, no cenário nacional, existe maior participação feminina

89
que masculina no ensino superior, estas com melhor aproveitamento escolar, e maior número
de matrículas nas regiões dos estados do Norte, Nordeste e Centroeste do país.

Escola Turma Sim Não


Almirante Tamandaré 6º ano 84% 16%
Almirante Tamandaré 9º ano 88% 12%
Integrado 1º ano (médio) 60% 40%
Integrado 3º ano (médio) 44% 56%
Hilda Vieira EJA 29% 71%
2ª etapa
Tabela 3 – Vínculo empregatício do pai.

Escola Turma Sim Não


Almirante Tamandaré 6º ano 67% 33%
Almirante Tamandaré 9º ano 58% 42%
Integrado 1º ano (médio) 47% 53%
Integrado 3º ano (médio) 36% 64%
Hilda Vieira EJA 34% 66%
2ª etapa
Tabela 4 – Vínculo empregatício da mãe.

Escola Turma Fundamental Médio Superior


Almirante Tamandaré 6º ano 46% 31% 23%
Almirante Tamandaré 9º ano 25% 56% 19%
Integrado 1º ano (médio) 12,5% 62,5% 25%
Integrado 3º ano (médio) 9% 73% 18%
Hilda Vieira EJA 100% 0% 0%
2ª etapa
Tabela 5 – Escolaridade do pai.

90
Escola Turma Fundamental Médio Superior
Almirante Tamandaré 6º ano 42% 29% 29%
Almirante Tamandaré 9º ano 16% 57% 27%
Integrado 1º ano (médio) 13% 43,5% 43,5%
Integrado 3º ano (médio) 18% 36,5% 45,5%
Hilda Vieira EJA 86% 14% 0%
2ª etapa
Tabela 6 – Escolaridade da mãe.

Escola Turma Belém Interior Outro


Estado
Almirante Tamandaré 6º ano 79% 21% 0%
Almirante Tamandaré 9º ano 77% 15% 8%
Integrado 1º ano (médio) 79% 7% 14%
Integrado 3º ano (médio) 70% 10% 20%
Hilda Vieira EJA 44,5% 44,5% 11%
2ª etapa
Tabela 7 – Cidade de nascimento do pai.

Escola Turma Belém Interior Outro


Estado
Almirante Tamandaré 6º ano 75% 25% 0%
Almirante Tamandaré 9º ano 68% 25% 7%
Integrado 1º ano (médio) 69% 19% 12%
Integrado 3º ano (médio) 73% 27% 0%
Hilda Vieira EJA 56% 33% 11%
2ª etapa
Tabela 8 – Cidade de nascimento da mãe.

91
Continuando com a análise do vínculo empregatício, formação e origem, para os
estudantes do ensino fundamental, temos que os pais empregados representam mais de 80%,
contra 58% a 67% das mães, e que o percentual de mães com ensino médio ou superior
completo é maior que a dos pais (Tabelas 3, 4, 5 e 6), o que mostra que as mães tem buscado
acessar mais estudos, porém não têm sido absorvidas, na mesma proporção que os pais, pelo
mercado de trabalho. Os dados mostram ainda que a maioria dos pais e mães dos estudantes do
ensino fundamental são nascidos em Belém/PA.

Ao entendermos um pouco mais sobre a formação dos pais e mães e a ocupação destes,
podemos sugerir às escolas que venham a desenvolver atividades integradas sobre a temática
de educação ambiental e reciclagem, com objetivo formativo e de geração de renda para
algumas famílias através do artesanato por exemplo. Encontramos em Ramos (2014 ,p.26) uma
afirmação que concorda com nossa análise, que além do importante papel que as escolas
possuem para a formação cidadã, elas podem ainda contribuir no processo de estímulo, inclusão
e geração de renda, através atividades educativas abertas à comunidade como oficinas de
produção de artesanato através do conceitos da reciclagem e reaproveitamento, à isto somamos
o estímulo ao associativismo e cooperativismo.

A atividade com a aplicação dos questionários se deu após palestras com as turmas,
inclusive estas com a participação de alguns professores das escolas. O questionário procurou
levantar se os alunos conseguiram apreender as informações mediadas, observou-se que muitos
estudantes já possuíam alguma referência com a temática abordada. No que concerne às
questões abertas: O que você entende por resíduos sólidos? e O que você entende por
reciclagem?; buscamos localizar traços comuns entre as respostas, no que foram identificados
4 padrões de resposta para a primeira pergunta (Tabela 9) e 3 padrões para a segunda pergunta
(Tabela 10). O resultado das respostas para a primeira destas questões mostrou que estudantes
do ensino fundamental e do EJA fizeram mais relação com a possibilidades de aplicação do
conceito Reduzir, Reaproveitar e Reciclar - 3Rs, 70% a 92% das respostas, uma pequena parte
fez relação vinculado com o conceito de lixo (Tabela 9). Para os estudantes do ensino médio
notamos uma importante diferença, os estudantes do 1º ano, mais de 40%, fizeram relação com
a possibilidade de aplicação do conceito dos 3Rs, e ainda relacionaram com o fato do material
estar contaminado ou não. Para as respostas dos estudantes do 3º ano, mais da metade
relacionou com o conceito de lixo (Tabela 9). Observamos assim a necessidade de maior

92
integração de todas as turmas da escola nas atividades de educação ambiental, destacamos ainda
que nesta escola, Colégio Francisco da Silva Nunes, no mesmo mês da atividade com palestra
e a aplicação do questionário, ocorreu ação na escola sobre meio ambiente com estudantes do
ensino técnico. Desta forma, no que trata da temática de educação ambiental, ações que
integrem toda a comunidade escolar são muito bem-vindas.

Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado


Tamandaré Tamandaré Vieira
Resíduo sólido é.. 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano
EJA
a) Algo que se relaciona 1 8 1 4 7
com lixo
b) Referência com os 12 19 10 8 3
3Rs
c) Materiais 0 0 0 4 3
contaminados
d) Materiais não 0 0 0 3 0
contaminados
* Este item do questionário foi feito em pergunta aberta, de livre resposta, as respostas levaram ao
entendimento das linhas a, b, c e d, podendo em uma mesma resposta fazer referência à mais de um
padrão.
Tabela 9 – O que você entende por resíduo sólido

Em relação à pergunta, "O que você entende por reciclagem?", as respostas dos
estudantes da turma do 6º ano versaram de forma equilibrada abordando sobre reciclagem e
seus objetivos, relacionando com o cuidado ao meio ambiente e ainda alguns estudantes fizeram
conexão com a geração de renda (Tabela 10). Os alunos do 9ª ano relacionaram mais
propriamente aos aspectos da reciclagem e sua importância para cuidar do meio ambiente. Para
os estudantes do EJA, 100% relacionaram exclusivamente aos aspectos de reciclar. Os
estudantes do ensino médio também expuseram o que era reciclagem, fazendo relação às
vantagens para o meio ambiente e uma pequena parte para a geração de renda.

Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado


Tamandaré Tamandaré Vieira
Reciclagem é.. 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano

93
EJA
a) Referência com os 9 22 10 8 9
3Rs
b) Cuidar do meio 8 5 0 8 3
ambiente
c) Geração de renda 2 0 0 1 0
* Este item do questionário foi feito em pergunta aberta, de livre resposta, as respostas levaram ao
entendimento das linhas a, b e c, podendo em uma mesma resposta fazer referência à mais de um padrão.
Tabela 10 – O que você entende por reciclagem?

Para o questionamento, Qual a importância da reciclagem? (Tabela 11) foram


identificados quatro padrões de resposta, por vezes mais de um padrão foi identificado em uma
mesma resposta, os padrões foram: a) Melhorar a qualidade ambiental e preservar a natureza;
b) Menos lixo nas ruas e cidade mais limpa; c) Geração de emprego e renda; e d) Menos
desperdício e descartes, com referências aos 3Rs. Para os estudantes do ensino fundamental o
padrão de resposta que mais se destacou foi o padrão (a), sobre melhor qualidade ambiental e
preservação da natureza, um pouco mais de 30% das respostas fizeram referência ao padrão (b)
que versa sobre menos lixo nas ruas sujas e a cidade mais limpa e por fim, para os estudantes
do ensino fundamental, uma pequena porcentagem fez referência à produção de renda, padrão
(c) de resposta. Os estudantes do EJA apresentaram equilíbrio entre os padrões identificados
com leve destaque para o padrão (c) sobre geração de renda, 33,5%. Os estudantes do ensino
médio, das turmas do 1º ano e 3º ano, apresentaram respostas mais vinculadas ao padrão (a),
relacionado com melhor qualidade ambiental e preservação da natureza, com aproximadamente
29% das respostas, entretanto o 3º ano deu mais ênfase à presença de ‘lixo’ nas ruas e cidade
mais limpa, padrão (b), mais de 40%. A turma do 1º ano do ensino médio deu mais destaque ao
padrão que trata de menos desperdícios e descartes (referências aos 3Rs), o padrão (d).

Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado


Tamandaré Tamandaré Vieira
Qual a importância da 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano
reciclagem? EJA

a) Melhorar a qualidade 60% 54% 25% 29% 28,5%


ambiental e preservar a
natureza

94
b) Menos lixo nas ruas e 35% 34% 25% 10,5% 43%
cidade mais limpa
c) Geração de emprego e 5% 0% 33,5% 0% 0%
renda
d) Menos desperdícios e 0% 12% 16,5% 60,5% 28,5%
descartes (referência aos
3Rs)
* Este item do questionário foi feito em pergunta aberta, de livre resposta, as respostas levaram ao
entendimento das linhas a, b, c e d, podendo uma mesma resposta fazer referência à mais de um padrão.
Tabela 11 – Qual a importância da reciclagem?

Após o levantamento de informações sobre o entendimento dos alunos sobre resíduos


sólidos e reciclagem, no questionário foi solicitado que indicassem 05 materiais recicláveis. A
tabela 12 mostra que a porcentagem que não soube citar 05 tipos de materiais recicláveis foi
baixa na sua maioria, um dado que se difere tem relação à turma do 3º ano do ensino médio,
em que 16,7% não citou 05 materiais. Também se observa que foram citados materiais que não
são recicláveis, porém reutilizáveis e/ou reaproveitáveis, e outros materiais não recicláveis, nem
reutilizáveis ou reaproveitáveis, tal qual fraldas descartáveis. A tabela 12 mostra estes
resultados por turmas, a tabela 13 para todas as turmas, destacando-se em ordem decrescente
pelo número de vezes citados os seguintes materiais recicláveis: plásticos/garrafas PETs,
papel/papelão, metais, vidros, borrachas/pneus, embalagens longa vida e materiais eletrônicos.
Também houve a citação de materiais orgânicos, que são direcionados para o processo de
compostagem.

Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado


Tamandaré Tamandaré Vieira
Materiais recicláveis 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano
EJA
Papel/papelão 25,5% 19,3% 26,2% 25,6% 21,7%
Plásticos/Garrafas PET 21,3% 22,2% 18% 30% 28,3%
Vidro 21,3% 17% 11,5% 15,6% 11,7%
Borracha/pneus 3,2% 7,4% 8,2% 12,2% 5%
Metais 17% 22,2% 19,7% 7,8% 15%

95
Embalagens Longa Vida 2,1% - 1,6% - -
Eletrônicos 1,1% 0,6% - - -
Madeira 3,2% 5,1% - 1,1% -
Orgânicos - 1,7% - - -
Outros - - 6,6% 1,1% 1,7%
Não citaram 05 exemplos 5,3% 4,5% 8,2% 6,7% 16,7%
Tabela 12 – Materiais recicláveis, por turma.

Materiais recicláveis Todas as turmas


Plásticos/Garrafas PET 23,7%
Papel/papelão 22,9%
Metais 17,3%
Vidro 16,2%
Borracha/pneus 7,3%
Madeira 2,7%
Outros 1,2%
Embalagens Longa Vida 0,6%
Orgânicos 0,6%
Eletrônicos 0,4 %
Não citaram 05 exemplos 7,1%
Tabela 13 – Materiais recicláveis, todas as turmas

Com o entendimento de que a vivência no lugar e o dia a dia dos estudantes poderiam
trazer importantes informações quanto à problemática dos resíduos sólidos no bairro da
Marambaia através da aplicação do questionário, foram feitas três perguntas que poderiam
direcionar à compreensão de como as famílias tratam os resíduos produzidos, como os
estudantes percebem o bairro e como estes se sentem em relação ao bairro. A primeira pergunta
foi, Como você observa a retirada de ‘entulhos’ na sua casa? Foi utilizado o termo entulho
como algo genérico para os resíduos produzidos nas casas, exceto o lixo doméstico, podendo
ser restos de obras, restos do capinas e roçagens, móveis velhos, materiais resultantes de
limpezas em quintais, entre outros. Os resultados das informações mostram que mais de 60%
96
dos estudantes percebem que (Tabela 14) em suas residências o material considerado como
‘entulho’ é retirado através de pessoas que trabalham informalmente com carrinhos e carretos,
os carrinheiros ou carreteiros, alguns usam também carroças de tração animal. Tal informação
revela o hábito de boa parte da população do bairro que acaba por estimular o crime ambiental,
e ainda o praticam, quando pagam alguém para despejar tais materiais irregularmente pelas ruas
e terrenos diversos. Os dados ainda revelam que 17,6% dos responsáveis pelas residências
ligam para o serviço público municipal para retirada dos materiais de suas casas, 5,5%
contratam empresas especializadas e autorizadas, 14,3% buscam outras formas, como queima
e até mesmo descarte pelos próprios moradores.

Como você observa a Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado Todas


retirada de ‘entulhos’ Tamandaré Tamandaré Vieira as
na sua casa? 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano turmas
EJA
Contata o serviço 22% 15% 9% 23,5% 17% 17,6%
municipal
Contrata empresa 17% 0% 0% 12% 0% 5,5%
Carreteiro/carrinheiro 28% 76% 91% 53% 66% 62,6%
Outras formas 33% 9% 0% 11,5% 17% 14,3%
Tabela 14 – retirada de matéria das residências

Outro questionamento teve relação de como os estudantes percebem o bairro, se limpo,


pouco sujo, sujo ou muito sujo (Tabela 15). Os dados mostraram que os estudantes que
percebem o bairro limpo foram de 12% e 29% pouco sujo, 59% percebem o bairro sujo ou
muito sujo. Relacionando estes dados com a tabela 16, vemos que isto se reflete no sentimento
dos estudantes em relação à esta problemática no bairro, em que, de forma geral, 65% dos
estudantes declararam se sentirem tristes, com destaque para os alunos do 6º ano do
fundamental, com 84%. Ainda sobre os dados da tabela 16, é preocupante a observação de que
os alunos que responderam ‘não sei responder’ ou ‘não ligo muito’ foi de 13% e 10,5%
respectivamente, considerando todas as turmas. No 9º ano do fundamental esta porcentagem
chegou a 18% e para o 3º do ensino médio 25%. Isto pode nos revelar que existe uma
naturalização desta problemática por parte dos estudantes e que o fato de o bairro apresentar

97
vários pontos de despejo irregular de resíduos, não causa estranheza para os alunos, fazendo
parte da rotina dos mesmos.

Como você percebe Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado Todas


o bairro? Tamandaré Tamandaré Vieira as
6º ano 9º ano 1º ano 3ºano turmas
EJA
Limpo 24% 0% 8,5% 16,5% 17% 12%
Pouco sujo 16% 44% 17% 39% 8,5% 29%
Sujo 36% 26% 8,5% 28% 41,5% 29%
Muito sujo 24% 30% 66% 16,5% 33% 30%
Tabela 15 – Como percebem o bairro.

O fato de 13% das turmas responderem ‘não sei responder’ (Tabela 16) pode identificar
duas situações, a primeira de que esta problemática sobre os resíduos sólidos no bairro ainda
precisa ser mais trabalhada nos espaços formais e informais de ensino com maior participação
das famílias e comunidade como um todo, e em segundo lugar é a de que os estudantes ainda
não desenvolveram um senso crítico ou opinião sobre o assunto.

Como você se Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado Todas


sente? Tamandaré Tamandaré Vieira as
6º ano 9º ano 1º ano 3ºano turmas
EJA
Não sei responder 5,5% 15% 18% 17% 8% 13%
Não ligo muito 0% 18% 0% 5,5% 25% 10,5%
Triste 84% 56% 64% 72% 50% 65%
Outros 10,5% 11% 18% 5,5% 17% 11,5%
Tabela 16 – Sentimentos dos alunos.

Mais da metade dos estudantes declararam conhecer locais onde existe despejo irregular
de resíduos sólidos no bairro (Tabela 17), informações que cruzaremos com as informações do
mapeamento participativo, que os estudantes atuaram. Porém declaram ainda como locais mais

98
comuns no bairro, a rua da Marinha, as feiras, as proximidades do cemitério São Jorge, e
próximos das escolas. Retomando as informações da tabela 2, sobre alunos que moram no bairro
ou não, justifica o fato de que os estudantes do ensino fundamental, em sua maioria, declararam
não conhecer tais pontos de despejo irregular, pois grande parte destes moram em outros bairros.

Conhece lugares Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado Todas


com despejo Tamandaré Tamandaré Vieira as
irregular de 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano turmas
resíduos sólidos? EJA

Sim 36,8% 45,5% 83,3% 58,8% 83,3% 55,9%


Não 63,2% 54,5% 16,7% 41,2% 16,7% 44,1%
Tabela 17 – Conhecem locais com despejo irregular de resíduos sólidos.

Sobre o que mais incomoda os estudantes em relação à presença de ‘lixo’ no bairro,


destacou-se o mau cheiro, com mais de 30% das respostas e a paisagem suja com quase 30%,
seguidos das calçadas obstruídas e a presença de animais e insetos (Tabela 18).

O que mais lhe Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado Todas


incomoda? Tamandaré Tamandaré Vieira as
6º ano 9º ano 1º ano 3ºano turmas
EJA
Mau cheiro 28,2% 30,3% 35,5% 30% 33,3% 31,1%
Animais e insetos 17,9% 15,2% 19,4% 22% 20% 19,1%
Paisagem suja 33,3% 30,3% 22,6% 26% 23,3% 27,3%
Caminhos e
calçadas ocupados
com entulho 20,5% 21,2% 22,6% 22% 23,3% 21,9%
Outros 0% 3% 0% 0% 0% 0,5%
Tabela 18 – O que mais lhe incomoda.

Os estudantes forma questionados de como seria a melhor forma de acabar com o


problema dos resíduos sólidos no bairro, surgindo 04 padrões de resposta (Tabela 19), com
destaque para o padrão (b), que trata da necessidade da comunidade ter consciência e

99
responsabilidade pelo lugar, pelo bairro, com 55%, seguido de 21% do padrão (c) que versa
sobre preservação do meio ambiente e aplicação dos 3Rs, 16% do padrão (a) cobrando maior
atuação da prefeitura e 8% do padrão (d) através da implantação de projetos.

Como diminuir o Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado Todas


problema de Tamandaré Tamandaré Vieira as
Resíduos Sólidos 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano turmas
no bairro? * EJA

a) Maior atuação 13% 11% 29% 14% 22% 16%


dos órgãos da
prefeitura
b) Tomada de 60% 43% 58% 68% 57% 55%
consciência da
comunidade em
cuidar e não
sujar
c) Preservar o 27% 34% 6,5% 9% 14% 21%
meio ambiente
aplicando os 3Rs
d) Implantação 0% 12% 6,5% 9% 7% 8%
de projetos
* Este item do questionário foi feito em pergunta aberta, de livre resposta, as respostas levaram ao
entendimento das linhas a, b, c e d, podendo uma mesma resposta fazer referência à mais de um padrão.
Tabela 19 – Como diminuir o problema dos resíduos sólidos no bairro.

A educação ambiental não compõe uma disciplina nas escolas e deveria ser tratada em
todas as disciplinas ofertadas nas escolas e ainda em diversas atividades nos espaços formais e
informais de ensino, conforme a lei nº 9.795/1999. Desta maneira, através do questionário
buscamos identificar em quais disciplinas os alunos percebem a temática ambiental ser mais
tratada. No ensino fundamental as disciplinas Estudos Amazônicos, Geografia e Ciências se
destacaram, na turma de EJA foram Geografia, História e Ciências. Nas turmas do ensino médio
a disciplina mais percebida no tratamento de questões ambientais foi Biologia, com 70% para
alunos do 1º ano seguido de Sociologia com 15%, para a turma do 3º ano biologia com 38%,
seguido de sociologia e geografia, outras disciplinas também foram citadas (Tabela 20). É
importante que a temática ambiental seja reforçada nas escolas por poder contribuir com todas
as disciplinas e estar vinculado ao dia a dia dos estudantes de qualquer sociedade ou classe

100
social, e podendo facilitar para que os alunos, tendo um problema em comum, venham a
desenvolver maior senso de responsabilidade e comunidade, cidadania e respeito com os outros
e com o meio ambiente do qual seu futuro depende.

Quais Almirante Almirante Hilda Integrado Integrado


disciplinas abordam o Tamandaré Tamandaré Vieira
tema meio ambiente? 6º ano 9º ano 1º ano 3ºano
EJA
Geografia 41% 36% 35% 5% 22%
História 0% 0% 35% 0% 6%
Estudos Amazônicos 47%
31,5% 0% 0% 0%
Ciências 6% 23,5% 27% 0% 0%
Português 6% 0% 0% 0% 0%
Ciências Físicas e
Biológicas (CFB) 0% 9% 0% 0% 0%
Sociologia 0% 0% 0% 15% 28%
Filosofia 0% 0% 0% 5% 0%
Química 0% 0% 0% 0% 6%
Biologia 0% 0% 0% 70% 38%
Matemática 0% 0% 3% 0% 0%
Tabela 20 – Quais disciplinas abordam meio ambiente.

7- AÇÕES COLETIVAS

Ao iniciarmos esta pesquisa, com objetivo de apresentar um produto que viesse a


contribuir para diminuir a problemática dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos no
bairro da Marambaia acabamos identificando movimentos de ação coletiva sobre esta
problemática. Observamos pequenos movimentos de participação popular no que Demo (1996,
p. 49) fala de participação social como instrumento de desenvolvimento dos lugares, e que
Leonardi (2002, p. 398) fala de cidadania, dada como relação com o exercício dos direitos civis,
políticos e sociais, e ainda se relaciona com o sentido de pertencimento à uma coletividade e de
ter identidade com esta (individual e coletiva ao mesmo tempo). Assim o que ficou claro é que

101
há um embate local, pela desnaturalização do processo em que se tornou hábito o despejo
irregular de resíduos sólidos pelo bairro da Marambaia, este embate motivado por princípios
éticos, no caso uma ética ambiental, conforme (SACHS, 2002, p. 49). Abaixo relatamos alguns
movimentos identificados:

a) A ação de Associação de Catadores de Águas Lindas: apesar de não estarem com sede
no bairro, atuam em algumas ruas deste, o que tem motivado o interesse e a participação de
moradores na separação dos resíduos para entrega aos catadores que vão de porta em porta
recolher os materais. Observamos que é uma ação incipiente, porém tem um potencial latente
para geração de renda e difusão de princípios de educação ambiental. Conforme explica Vilhena
(2013, p.6) quando há investimento em ações de coleta seletiva resultam daí vários benefícios
socioambientais, sendo: redução de custos nos aterros sanitários e aumento da vida útil destes;
diminuição de gastos públicos para limpeza de áreas degradadas (lixões); economia com gastos
de limpeza pública; maior qualidade ambiental e saúde pública; geração de renda; inclusão
social;

Figura 57 – Catadores de material reciclável fazendo uma separação rápida de materiais


recolhidos porta-a-porta no conjunto Médici II. Foto: Marlon da Costa Barros.

b) Ação de moradores para manutenção de espaços verdes: houve uma mobilização junto
ao Colégio Leonor Nogueira, no conjunto Médici 2, onde obteve adesão de moradores de ruas
próximas, servidores e professores da escola e membros da Associação de Moradores do
Conjunto Médici 1 e 2 – AMME. Foi feita limpeza e paisagismo da lateral da escola, porém
ainda persiste na lateral desta escola um ponto de despejo irregular de resíduos significativo.
Aqui observou-se a aproximação da comunidade com as escolas, em que, através da ação de
educadores ambientais, professores e coletivo EcoTerapia Comunitária, houve uma chamada
de atenção para a problemática do bairro, o descaso com os espaços públicos. Leroy (2010, p.

102
21) explica que a mudança se dá através de processos educativos, onde o educador, e no caso o
educador ambiental é parte fundamental. Entretanto observa-se que há necessidade de se
perceber educador, é preciso se reconhecer como tal, e que todos nós estamos de forma ativa
na ação de mudança. Mudança esta que se dá no indivíduo e na coletividade.

Figura 59 – Aviso afixado em


Figura 58 – Ação comunitária de limpeza e
escola convidando à comunidade
paisagísmo no bairro da Marambaia
para ação de limpeza e paisagísmo
no bairro da Marambaia

c) Mobilização e cobrança dos órgãos municipais: existe no bairro da Marambaia uma


organização civil, com reconhecimento do Sistema de Segurança pública Estadual, denominada
Conselho de Segurança e Cidadania da Marambaia – CONSEG Marambaia. Através desta
organização social foram agendadas reuniões com vários grupos e membros das secretarias de
Saneamento e Meio Ambiente do município de Belém. Também houve participação de gestores
escolares, sociedade civil (Ecoterapia Comunitária, Grupo de Amigos da Marambaia) e também
de carrinheiros/carroceiros. Neste momento foi discutida a problemática e agendadas reuniões
nas secretarias para busca de soluções em conjunto com a comunidade. Dentro do CONSEG
Marambaia existe alguns membros que discutem soluções à problemática ambiental para o
bairro, e foi apresentada como solução a implantação de EcoPontos no bairro para recepção
destes materiais. A proposta foi feita com entrega de documento ao secretário de saneamento
do município. Esta ação coletiva apresentou-se como resposta da sociedade a demora em mostra
de soluções pela gestão e também pela falta de colaboração de membros da própria comunidade.

103
Quando algo problemático começa a ter aspecto de coisa/fato naturalizado em determinada
sociedade/coletividade, há a possibilidade de seu aumento. No dia-a-dia das pessoas, existe a
possibilidade de que impactos ambientais tornem-se fatos corriqueiros e não mais
problematizados nesta sociedade/coletividade. Leroy (2010, p.26) explica que não se pode
aceitar o caos e a confusão e sim deve-se observar os problemas de forma a poder melhor
entender, em cada sentido de seus processos mantenedores, sabendo-se desta forma como
combater.

Figura 58.a – Reunião com representantes Figura 58.b – Reunião com representantes
das secretarias municipais SESAN e das secretarias municipais SESAN e
SEMA e membros da comunidade. SEMA e membros da comunidade.

d) Educação ambiental e horta na escola: Em associação com o coletivo EcoTerapia


Comunitária, foi organizada palestra sobre educação ambiental e implantação de horta na escola
no auditório da Escola Francisco da Silva Nunes, um dos membros do coletivo apresentou para
os demais as possiblidades de implantação de hortas orgânicas na escola. Houve participação
de alunos do curso técnico de meio ambiente, alunos do ensino médio regular, moradores do
bairro, professores da escola. A atividade evoluiu, com coordenação do curso técnico em meio
ambiente, com a implantação da horta escolar, que hoje colabora com os temperos da merenda
escolar e ainda ações de paisagismo interno na escola, este mesmo grupo de alunos se manteve
mobilizado contribuindo em ações de paisagismo no lado externo da escola, prevenindo o
despejo irregular de resíduos no local. Este momento em que a comunidade e a escola se
abraçam, é um momento ímpar de empoderamento, quando a comunidade torna seu olhar para
algo que lhe pertence e ainda mais, que lhe forma como cidadão. Freire (1994, p. 33-39) explica
que no processo de transformação social dado pela educação deve-se ter em conta que toda

104
mudança tem um início, um processo e um fim (chegada), este dado pela realidade, pelo hoje,
pelo mundo em que se vive, com todas as suas contradições e conflitos. Quando este homem
sujeito toma a consciência buscará se comprometer com a realidade.

Figura 59 – Imagens de ações de mobilização na Escola Francisco da Silva Nunes sobre


educação ambiental e horta na escola.

e) Recuperação ambiental, jardins comunitários: pudemos observar alguns pontos de despejo


irregular que sofreram ação de grupos preocupados com a situação crítica encontrada em se
tratando da qualidade ambiental e riscos à saúde. Uma das ações identificadas ocorreu na lateral
da Escola Francisco da Silva Nunes, onde vários grupos se articularam e fizeram a mobilização
social, foi conseguido chamar a atenção e obteve-se apoio das secretaria de Saneamento e Meio
Ambiente, dos moradores de ruas vizinhas, da Associação de Moradores do Conjunto Médici 1
e 2, de grupos artíticos, estudantes e professores e assim, o que antes era um “lixão a céu aberto”
se transformou num jardim comunitário. Foram mobilizadas aproximadamente 40 pessoas, e
ação mostrou o potencial de ação coletiva da comunidade.

Fazendo a análise destas ações, em que a comunidade se mobiliza e muda a realidade


de um determinado espaço, isto leva com que os demais membros desta comunidade façam
105
uma reflexão sobre seus hábitos e evitem prejudicar o espaço coletivo com o despejo irregular
de resíduos, como no caso relatado acima. A ação teve objetivo de chamar atenção da
comunidade e também se tornar um dos espaços de referência de cuidado do ambiente pela
comunidade. OLIVEIRA (2006, p.45), trata deste tema, quando fala de percepção ambiental e
mudanças no espaço em que vivemos. A autora escreve:

As transformações no espaço ocorrem diariamente, surgem locais de


referência, que se transformam em pontos de referência à medida que
se tornam espaços de identificação e de expressão urbana, ou seja, à
medida que esses locais relacionam-se com os humanos pelos
sentimentos e vivências. Cada cidade tem seu próprio estilo, cada bairro
tem suas características próprias, cada vila tem sua identidade. Essa
diferença deve-se a um conjunto de características ambientais, sociais,
culturais, espaciais e locacionais. São essas características do lugar que
levam os indivíduos a terem imagens diferentes uns dos outros. A
formação mental de cada um, deve-se às relações do meio onde estão
inseridos e as relações consigo mesmo e a sua capacidade de abstrair do
mundo real aquilo que é visível a si mesmo.

(OLIVEIRA, 2006, p.45)

106
Figura 60 – Imagens de ações de mobilização na Escola Francisco da Silva Nunes recuperação
de espaços com depesjo irregular de Resíduos Sólidos Urbanos, com participação integrada das
secretarias municipais SESAN e SEMA, estudantes, docentes e comunidade. Antes (imagens
alto) e depois (imagens baixo).

107
8- CONCLUSÕES

Durante o processo de elaboração do instrumento para participação comunitária na


questão ambiental no bairro da Marambaia, em Belém do Pará, através da educação ambiental
e mapeamento participativo dos pontos de despejo irregular de resíduos sólidos, nos foi possível
chegar às seguintes conclusões:

- Existe no bairro da Marambaia uma tendência de desvalorização dos espaços públicos.


Isto foi observado pela identificação de um grande número de pontos de despejo irregular de
resíduos sólidos no bairro nestes espaços;

- A conclusão acima soma-se a algumas situações observadas através de relatos de


moradores, de funcionários municipais: a primeira é que a fiscalização para coibir os crimes
ambientais no bairro esta aquém da real necessidade, resultado de equipes reduzidas para tão
importante serviço público, estas que atendem as denúncias e buscam prever e coibir crimes
ambientais na capital; outra situação relevante, não existem locais apropriados para receber os
resíduos sólidos no bairro, tais quais os Ecopontos, como ocorre em outras capitais e cidades
do país, que têm se apresentado como a solução mais adequada para a realidade do bairro da
Marambaia e até mesmo da cidade de Belém; outra situação identificada em relatos, é que ainda
persiste a ideia de que sempre a responsabilidade final das ruas mal cuidadas é da prefeitura,
aparentemente, grande parte dos moradores não encaminham os materiais da forma mais
adequada, ou pelo serviço municipal, através de agendamento, ou para empresas especializadas
pela retirada. Esta situação observa-se pela falta de informação aos moradores, no caso do
serviço oferecido pela gestão municipal, e ainda a demora no atendimento deste serviço e a
pequena quantidade permitida (até 1 m3), e no segundo caso pelo valor alto do serviço
especializado. Como opção mais fácil, e ainda pelas informações obtidas através dos
questionários nas escolas, fica claro concluir que nas unidades habitacionais opta-se pelo
“serviço” de limpeza e despejo dos resíduos longe das residências, através dos
carrinheiros/carroceiros, estes últimos que veem nesta atividade importante fonte de renda.
Com todas estas informações levantadas, se conclui que a implantação de Ecopontos poderá ser
uma possibilidade de geração de renda e inclusão social, diminuindo os impactos ambientais,
porém com os cuidados para que tenha uma gestão adequada dos mesmos;

- Sobre a base legal municipal, no que confere ao meio ambiente, observou-se que esta
é bem rica, porém existe falhas na sua aplicação pela gestão municipal, dadas pela baixa
108
fiscalização e falta de participação e colaboração da população em denunciar situações de crime
ambiental;

- Observa-se que a cidade carece de uma Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, e tem
falhado em relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos no que tange à um adequado
planejamento e pesquisas da real situação de Belém do Pará em relação à informações sobre a
caracterização e quantificação dos resíduos produzidos na cidade. Em relação ao bairro da
Marambaia estas informações não foram disponibilizadas ou não existem nos órgãos
municipais;

- A Gestão Integrada de Resíduos Sólidos prevê a implantação da coleta seletiva, o que


no bairro da Marambaia é pouco estimulada pela gestão municipal;

- Sobre o mapeamento de pontos irregulares de despejo de resíduos sólidos, notou-se


que existem quatro setores críticos, o primeiro próximo ao cemitério São Jorge e Feira da
Tavares Bastos, o segundo em áreas laterais de escolas públicas no conjunto Médici, e os dois
mais intensos ao longo do Canal Água Cristal e da rua da Marinha. Quase todos estes pontos
têm em comum serem espaços públicos com distanciamento de frente de residências e/ou
entrada e saída de instituições públicas ou privadas;

- Os dados sobre a quantidade de resíduos gerados no bairro não foram possíveis de


serem levantados, não foram fornecidos pelo órgão público, o que mostra um relevante
problema de gestão, pois certamente possui custos para sua coleta. Em se tratando da
caracterização dos mesmos, dentro da limitação metodológica desta pesquisa, observou-se que,
caso fossem implantados Ecopontos no bairro, além do ganho ambiental, haveria possibilidade
de geração de renda, pois grande parte dos tipos de materiais identificados nos pontos é
economicamente aproveitável (61,6%), e que pelos dados levantados pela caraterização, há
grande potencial para estimular ações de reciclagem e coleta seletiva, tendo o cuidado de
implantação de pontos de gestão e controle de do lixo domiciliar que tem forte fator de
contaminação dos resíduos e observou-se locais em que há necessidade de este serviço ser
intensificado e se buscar soluções de educação e melhorar o atendimento à população;

- Para o zoneamento do bairro, com base nos setores censitários do IBGE, em relação a
população e renda, e se comparando com a distribuição pelo bairro dos pontos de despejo
irregular de resíduos sólidos, conclui-se que não necessariamente, a maior intensidade de pontos
tem relação com setores com maior número de pessoas com baixa renda, mas sim, com o

109
número de moradores. Observou-se assim duas grandes zonas, uma a norte e outra a sul, nas
quais a quantidade de pontos de despejo irregular de resíduos é aproximada, sendo que para a
zona mais a sul, o número de pessoas com baixa renda é maior, assim, como tanto na zona norte
e zona sul existem número aproximado de pontos, se exclui o possível discurso, com aspecto
até preconceituoso, de que a baixa renda tem relação com o descaso com os espaços públicos.
Trata-se sim de segregação espacial e ausência do Estado;

- Durante a pesquisa foram feitos alguns contatos com os representantes dos órgãos
municipais. Em alguns momentos notou-se um discurso de culpabilidade da vítima, conforme
descreve Jacobi (2002, p. 387), e ainda observamos também em parte da população do bairro
a responsabilização pela questão ambiental apenas na gestão municipal. Entretanto, como
resultado direto e indireto de mobilizações, conversas e ações coletivas, observa-se o início de
uma mudança de olhar sobre o espaço e a comunidade, uma mudança de postura, tanto dos
membros do serviço municipal, quanto da comunidade, uns em relação aos outros, a exemplo
da ação ocorrida na Escola Francisco da Silva Nunes, em que comunidade e a gestão municipal
agiram de foma integrada;

- Conclui-se que as atividades de educação ambiental nas escolas foram positivas no


sentido de difundir informações e troca de saberes e conhecimentos sobre a vivência e hábitos
das pessoas no bairro, e ainda estimulando a participação dos estudantes e moradores nas ações
ambientais e formação de multiplicadores;

- O mapeamento participativo, com base na percepção dos estudantes sobre a questão


ambiental no bairro, mostrou-se importante ferramenta de educação ambiental que pode
auxiliar à gestão municipal, tanto nos setores de educação ambiental, quanto no combate ao
despejo irregular de resíduos sólidos no bairro, servindo assim como instrumento para medir a
eficiência das ações destes órgãos municipais no bairro, na formação de multiplicadores de
informações ambientais e na identificação de áreas problemáticas e hábitos dos moradores.
Ressaltamos a validade desta ferramenta, pelas informações obtidas e pela porcentagem de
proximidade de locais indicados pelos alunos, como pontos de despejo irregular de resíduos,
em relação aos pontos identificados e georreferenciados, em que os acertos, dentro de área
próximas de 100 e 50 metros foi mais de 50%, chegando a mais de 70% para os alunos do
ensino médio. Tal ferramenta, que é composta de seminários, mapeamento participativo,
mapeamento com GPS e questionários, se demonstrou adequada para ações de educação
ambiental, prevenção de problemas ambientais e análise dos resultados da gestão ambiental no

110
bairro através da percepção da qualidade ambiental a exemplo de dados obtidos sobre hábito de
descarte dos resíduos (+ de 62%, relataram ser através de carrinheiros/carroceiros) e percepção
sobre o bairro (+ de 59%, percebem sujo ou muito sujo);

Assim, entendemos que urgem ações de educação ambiental no bairro da Marambaia,


nos espaços formais e informais de ensino. Além das conclusões obtidas e expostas acima, uma
com relevância deixamos para o fim, durante todo o processo de pesquisa-ação foi possível
verificar que a própria comunidade é capaz de buscar as soluções aos seus problemas. Para isso
basta que se estimule e oportunize, e que esta consiga se empoderar de informações adequadas
e claras. Desta forma começam a surgir mudanças significativas no território, no lugar, na
comunidade, na coletividade. Transforma-se um fato social com impactos negativos através de
ações positivas, coletivas, democráticas, em direção à melhoria da qualidade de vida das
pessoas. Concluímos esta pesquisa-ação com a seguinte citação:

As dificuldades práticas só podem ser definitivamente resolvidas


através da prática e da experiência cotidiana. Não será um conselho de
sociólogo, mas as próprias sociedades que encontrarão a solução.

Émile Durkhein. Apud. Quinteiro (2002, p.67)

111
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ROSEMBERG, Fúlvia. ANDRADE, Leandro Feitosa. Ação afirmativa no ensino superior


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SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond,


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SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão
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TABACOW, J. W. e XAVIER-DA-SILVA, J. Geoprocessamento Aplicado à Análise da
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ilustrações Sandro Falsetti –– São Paulo: CEMPRE - Compromisso Empresarial para
Reciclagem, 2013;

Página na internet

AGÉNCIA BELÉM. Descarte irregular de lixo e entulho custa mais de 24 milhões à prefeitura.
Disponível em: < http://www.agenciabelem.com.br/Noticia/150411> acesso em 10/11/2017;

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Conheça os novos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU | ONU Brasil.
Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/conhecaosnovos17objetivosdedesenvolvimentosustentaveldaonu/>;

Declaração de Tibilisi. Disponível em:


http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/pdfs/decltbilisi.pdf

NAIME, Roberto. Lixo ou resíduos sólidos. 2010 Disponível em:


<https://www.ecodebate.com.br/2010/05/12/lixo-ou-residuos-solidos-artigo-de-roberto-
naime/>, Acesso em: 05 de outubro de 2017;

NEGRÃO, Marcelo. ALMEIDA, André Abreu de. Incineração de resíduos: contexto e riscos
associados. 2010. Disponível em: < http://incineradornao.net/2010/07/incineracao-de-residuos-
contexto-e-riscos-associados/ >. Acesso em: 15 de set. 2018;

116
ANEXO

Questionário sobre Percepção Ambiental – Resíduos Sólidos Urbanos

Questionário para alunos das Escolas

1) Escola:__________________________________ / Turma:_________ / Idade:_____

Sexo: ( ) Feminino; ( ) Masculino.

2) Endereço - Rua:__________________________________________ / Bairro: _________

3) Profissão Pai ou Responsável: _________________________________

Está empregado no momento: ( ) Sim; ( ) Não; ( ) Autônomo.

Escolaridade: ( ) Fundamental; ( ) Médio; ( ) Superior; ( ) Outros___________

Cidade que nasceu: __________ Estado que Nasceu:______

4) Profissão Mãe ou Responsável: _________________________________

Está empregada no momento: ( ) Sim; ( ) Não; ( ) Autônoma.

Escolaridade: ( ) Fundamental; ( ) Médio; ( ) Superior; ( ) Outros___________

Cidade que nasceu: __________ Estado que Nasceu:______

5) O que você entende por Resíduo Sólido?

117
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________

6) O que você entende por reciclagem?

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________

7) Você poderia citar cinco tipos de materiais que podem ser reciclados?

1:________________________; 2:___________________; 3:___________________;

4:________________________; 5:____________________.

8) Na sua visão, qual a importância da reciclagem?

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________

10) Quando é realizada limpeza na sua residência (capina, retirada de entulho de obras, poda de
árvores, retirada de móveis sem uso, etc. ) o responsável pela casa entra em contato com o
serviço da Prefeitura para retirar esse material ou paga para um carreteiro jogar fora esse
material ?

( ) Entra em contato com a prefeitura para fazer a retirada;

( ) Paga uma empresa para retirar o material;

( ) Paga para alguém retirar o material (carreteiro);

( ) Nenhuma das opções acima; o material é descartado de outra forma, como?


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________

118
11) Em relação aos resíduos sólidos(lixo), como você considera o bairro?

( ) Acho limpo;

( ) Acho um pouco sujo;

( ) Acho sujo;

( ) Acho muito sujo.

Justifique sua resposta_


____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_________________________________________________________

7) Como você se sente quando vê o bairro sujo?

( ) Não sei responder; ( ) Não ligo muito; ( ) Triste; ( ) outros ___________

8) Você sabe de lugares onde é comum o despejo de Resíduos Sólidos (lixo) pela população no
bairro ?

( ) Sim; ( ) Não

Onde:_______________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________

9) Nos lugares do bairro com Resíduos Sólidos (lixo) nas ruas, o que mais lhe incomoda? Pode
marcar mais de uma resposta.

( ) Mau cheiro; ( ) Animais e insetos; ( ) a paisagem suja;

( ) Os caminhos, calçadas ocupadas com entulho; ( ) Outros:___________________

119
10) Em quais matérias (disciplinas) já foi falado sobre Meio Ambiente em sala de aula ou outras
atividades?

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________

11) O que você acha que pode ser feito para diminuir o problema dos Resíduos (lixo) sujando o
bairro?

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________

120

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