Você está na página 1de 4

Texas, San Antonio 1935.

Véspera de natal, a noite era escura e úmida e as ruas estavam vazias, uma mulher andava
pelas favelas da San Antonio cobertas por fuligem do deserto que vinham do México, a
mulher andava com um pano na mão, algo que parecia ser um bebê, o pano, sujo assim
como a mulher e seus arredores, de fato uma camuflagem tendo em vista o ambiente
deplorável, a mulher logo chegou a um pequeno barraco o qual, bom, não era algo a se
admirar mesmo dentro da paisagem decadente, mas mesmo assim a mulher não se
deixava abater afinal uma vida, a única coisa no mundo que lhe mostrava o sorriso
dependia exclusivamente dela. A criança era filho de um lutador mascarado que a quase 1
ano tinha morrido, a mulher sua viúva, após a morte do marido que nunca tinha conquistado
nada na vida, caiu em completa miséria pois para lutar o finado havia entrado em dívidas
com pessoas que não de boa índole, a única coisa que tinha sobrado dele era sua máscara,
e ela sempre se enchia de ódio quando a via, lembrando da miséria a qual o filho da puta a
havia lhe fornecido após sua morte. Fazendo qualquer tipo de trabalho, qualquer coisa que
pudesse botar comida na boca de seu filho a mulher conseguiu dar a vida que tinha perdido
à criança, e a criança nunca soube das coisas terríveis que sua mãe teve que passar, a
mulher escondia sua situação para seu filho com medo de traumatizar-lo, por mais que eles
morassem em um barraco. Os anos foi passando e a criança foi crescendo forte e saudável,
ele brincava com seus amigos na rua e muitas vezes seus amigos irritavam ele ofendendo
sua mãe, chamando ela de puta e muito mais, o menino sempre achou que era mentira,
mas na verdade mentira alguma havia nas palavras das crianças, irritado o garoto muitas
vezes partia para cima das outras crianças, criando uma reputação de brigão então pararam
de mexer com ele. O menino entrou para escola ao completar 6 anos de idade, o que
facilitou muito a vida da mãe, pois antes ela fugia do bairro em que morava para que seu
filho não visse as maneiras que ela arranjava de botar comida na mesa, além de que no
texas andar quarteirões exigia muito da mulher, que era fraca e magra por causa de sua
situação, então enquanto seu filho estudava no colégio ela atendia seus clientes em sua
casa. Os anos foram passando e a criança agora era um homem, ele estava perto de
terminar seu ensino médio porém ao ouvir as histórias fantásticas que sua mãe contava
sobre o incrível Fantasma Viviente ”o grande lutador que batia em bandidos e mafiosos para
trazer justiça àqueles que necessitavam”, o filho sonhava em ser como seu pai, um grande
lutador que lutava em nome de justiça porém quando sua mãe ouviu os planos e sonhos de
seu filho ela surtou lembrando de todo terror e miséria que essa vida de lutador de seu
finado marido havia lhe trazido, então em um surto de raiva ela pegou a máscara, a única
lembrança que o filho tinha de seu pai, e jogou no fogo; desde então a relação dos dois
nunca foi a mesma mãe e filho raramente se falavam mesmo morando em um barraco
pequeno, graças ao surto de sua mãe o garoto terminou o ensino médio.
Um certo dia voltando do trabalho ele viu sua mãe com 3 clientes em sua casa e então tudo
fez sentido, toda zombaria de seus amigos de infancia, toda má reputação que eles tinha
com os vizinhos, tudo finalmente fez sentido para o filho, que em um surto de raiva atacou
os 3 quase os matando, pegou suas coisas, as quais não eram muito e foi embora, com
suas poucas economias pegou um ônibus para Corpus Chriti, uma cidade ao leste do texas
que ficava no litoral, o filho, Hernandez Esquerdo conseguiu um trabalho no porto como
descarregador de peixes em um armazém, a cidade assim com San Antonio, era pútrida, o
fedor de peixes impregnava todo dia as narinas do jovem homem que buscava algum
sentido em sua vida miserável, mas o que ele encontrava? peixes? É assim que um homem
deve viver? Pensou o jovem ao refletir pela primeira vez sobre sua condição miserável,
afinal agora com o salário do estaleiro ele conseguia descansar um pouco e assim pensar,
mas logo ele foi se afastando desses pensamentos com medo que eles lhe levassem a um
lugar sem volta. O anos haviam se passado e agora Hernandez tinha 20 anos e de repente,
como se um meteoro tivesse caído em sua terra fétida e húmida, tudo mudou, a Guerra do
Vietnã começou e todos os homens capazes foram chamados para servir no exército e
trazer glória a sua nação, essa era a propaganda que era passada e todos acreditava, todos
sonhavam com a possibilidade de ser um herói e então se lembrando das histórias que sua
mãe contava sobre seu pai, um herói aos olhos de Hernandez, ele foi seduzido pela ideia,
seduzido pela possibilidade de não ser mais um trabalhador fedorento das docas, seduzido
pela possibilidade de ser aquilo que aos seus olhos seu pai foi, ele se alistou.

Guerra, sonhos aos olhos das crianças, desespero aos olhos daqueles que ela viveram,
desespero, morte; era isso que aguardava Hernandez no final de sua jornada.
Desembarcado em uma base militar dos Estados Unidos em uma ilha nas filipinas
Hernandez foi prontamente doutrinado, aprendeu a pegar em uma arma e a se jogar na
lama assim como seus companheiros, os quais pela primeira vez na vida pode chamar de
melhores amigo, eles compartilhavam tudo, morada, banheiro, comida e sonhos, cada um,
um herói a sua maneira, pelo menos era isso que pensavam, mas então a realidade bateu e
ao se dar conta hernandez estava no meio da mata carregando o corpo de um de seus
amigos, seus irmão, correndo ao som de explosões e saraivadas de tiros e de sua cara
pingando sangue e suor vindo do calor infernal do clima tropical do Vietnã, assim se
passaram 20 anos o jovem, esperançoso nada mais era do que uma máquina moldada
pelas imparáveis engrenagens da guerra. Comer, matar, se esconder, espreitar, matar, se
esconder, comer, dormir, matar, correr; essa foi a vida de Hernandez pelos vinte anos que
se passaram na interminável guerra, a guerra que lhe transformaria em um herói tirou dele
as únicas pessoas que um dia ele chamou de irmão, e mais do que isso, o jovem
esperançoso e sonhador não poderia nem mais se chamar um humano, incontáveis vidas
ele tirou, pais, filhos e mães assim como a dele ele matou neste frenesi interminável durante
20 anos, cada dia que se passava ele espera para ser dispensado, mas esse dia nunca
chegou, um escravo da morte, um gladiador em um coliseu tropical, uma fera, uma besta
sanguinária, Hernandez não existia mais, apenas um vulto daquilo que já foi, um fantasma
vivente, essa palavra ecoava pela mente da besta, ao querer se tornar seu pai ele se tornou
a exemplo perfeito de seu nome de lutador, então ele riu.
Em 1975 a guerra acabou, poucos daqueles que haviam sido chamados na primeira leva
haviam sobrevivido, os que sobreviveram ou tiveram seus membros amputados ou
enlouqueceram, ninguém saiu da mesma forma que havia entrado e aqueles que se diziam
são eram os mais loucos de todos, bestas em formas humanas, sátiras daquilo que deveria
ser um ser humano, e Hernandez era um deles. Ele voltou para “casa”, a fétida cidade de
Corpus Christ, mas surpreendentemente ele sentia falta do cheiro de peixe, então a cada
passo uma grande respirada para ver se lembrava daquilo que um dia foi, garrafas se
amontoavam em seu apartamento velho, tentando esquecer dos horrores que havia
praticados, mas nada adiantava, tiros, explosões, cheiro de sangue e carne queimada era
tudo que ocupava sua cabeça, gritos de crianças inocentes chamando pelos seus pais em
seus momentos finais. Ele andava pelas ruas bêbado e arranjando briga com qualquer um
que ele esbarrasse em sua embriaguez, Hernandez lembrou que tinha uma mãe, então ele
voltou para sua cidade natal, San Antonio, e ao chegar em sua vizinhança viu que o barraco
ao qual havia passado sua infância não estava mais lá, ele perguntou para seus vizinhos
onde sua mãe estava e eles falaram que após no decorrer da guerra por ele ter nunca
enviado uma carta para sua mãe ela tinha pensado que seu filho tinha morrido e em
desespero se matou. Hernandez horrorizado com o destino de sua mãe a mulher que lhe
criou e o amou durante toda sua vida, perdeu completamente qualquer esperança, em
estado catatonico voltou para Corpus Christ e botou os restos queimados da máscara de
seu pai em sua cabeça, e mergulhou nas profundezas, para nunca mais voltar.

O despertar do Fantasma Vivente

Hernandez despertou no meio de uma praia sem saber o quê estava acontecendo, ele
pensou que tinha se matado e olhou para si mesmo e estava coberto de sangue, seu corpo
estava frio mas o frio não o incomodava, seus caninos alongados banhados em sangue, ele
entrou em desespero, mas ele era um sobrevivente, já havia passado por coisa pior, havia
feito coisa pior, então como no Vietnã ele correu, se escondeu, correu e se escondeu
durante dias até que uma grande fome tomou conta de seu ser e novamente ele acordara
na mesma cena, sangue, morte, como se tivesse morrido e ido para o inferno onde
eternamente seria forçado a vivenciar e praticar as mesmas coisas que havia vivenciado e
praticado no Vietnã, mas logo ele descobriu que se sugasse sangue regularmente isso não
aconteceria mais, ele assim conseguiu quebrar o ciclo vicioso de violência e morte a qual
havia entrado desde que acordou na praia, se lembrou de outros contos que sua mãe havia
lhe contado sobre vampiros sugadores de sangue que apenas andam a noite, então ele
começou a ter uma certa noção do que ele havia se tornado. O tempo foi passando e
Hernandez continuava correndo e se escondendo, porém ele não matava mais, conseguia
controlar sua fome, e então andando sempre pelo litoral ele chegou em uma grande
metrópole, New York, mas muito anos haviam se passado desde que ele tinha se matado
até ele acordar na praia, como seu próprio corpo tivesse parado no tempo enquanto corria
pelas profundezas do mar até chegar na praia, então tudo era novo, ele se deparou com um
novo mundo, mas esse vislumbre logo acabaria. Sentado no meio da areia reparou ao longe
uma mulher vindo em sua direção, uma mulher loira, forte e alta parecendo uma viking, ele
ficou parado sentado enquanto a mulher chegava perto então ela falou
- então você é o problemático que anda causando alvoroço no litoral? perguntou a mulher
então eles começaram a conversar e ela lhe contou o que ele era, um gangrel e sobre o luar
que reluzia nas águas ele entendeu o que havia acontecido, e como raros como ele
conseguem sobreviver e serem fortes o suficientes para ganharem lugar dentro da clã, ele
perguntou se haviam mais como eles e ela lhe apresentou a camarilla, assim ela se tornou
sua mentora e o iniciou dentro das tradições e principalmente as tradições do clã, e o
apresentou aos outros membros do clã e finalmente, depois de todo esse inferno,
finalmente Hernandez havia encontrado um pouco de paz, e foi aí que a mulher deixou
Hernandez por conta própria, para lutar e sobreviver como um bom membro do clã, e
principalmente, para nesta nova vida, achar seu propósito, achar um motivo para querer
viver, sem precisar estar na sombra de nenhum herói imaginário, ser seu próprio eu.

Se passou 1 ano desde que Hernandez se estabeleceu em New York, ele fez seu domínio
em South Beach em Staten Island, uma praia tranquila e sem muito movimento, ele
principalmente gosta de ficar no pier que tem lá, e na maioria da noite ele pesca e toma o
sangue dos peixes que consegue para não ter que beber o sangue de uma pessoa, afinal
ele não é bom com pessoas, preferindo muitas vezes permanecer em sua solitude na praia,
porém ele gosta de ir nos elysios e reuniões de clã por mais que quase nunca ele fale
alguma coisa, ele sente que esses momentos com pessoas que nem ele os fazem se sentir
menos sozinhos por mais que no fim da noite ele permaneça em solidão no meio da água
do mar, ele surfa com os surfistas na água e às vezes prega peças neles fingindo ser uma
espécie de tubarão, uma das poucas maneiras que ele tem de se divertir, ele faz sua
morada em uma pequena “caverna” marinha criada por um conjunto de corais perto de
Hoffman Island, ele tem planos de fazer dessa ilha seu novo domínio porque ela é perfeita,
abandonada e isolada no meio da agua, uma morada perfeita para um gangrel que vive na
agua e precisa as vezes ir ou deixar coisas na superficie para não molharem.

Você também pode gostar