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UMA INTRODUÇÃO AO PERÍODO DE

SELICHOT
INTRODUÇÃO
Rosh Hashaná e o Yom Kipur são as duas grandes festas
que estão se aproximando. Esses dois feriados, sem
sombra de dúvida, constituem a época mais significativa do
calendário judaico. Durante esse período, é concedida aos
homens a oportunidade de se arrependerem de seus
pecados e pedirem perdão a Deus.

Conforme a tradição judaica, Deus criou a humanidade no


primeiro dia do mês de Tishrei. Portanto, Rosh Hashaná
celebra a criação da humanidade e marca um período de
limpeza e renovação. É uma oportunidade para receber
perdão e recomeçar sem carregar os fardos do pecado.

Como devotos sefarditas e observadores, a partir do início


do mês de Elul, ou seja, durante os 40 dias que antecedem o
Dia da Expiação, nós nos congregamos em nossa sinagoga
para elevar nossas preces em busca da misericórdia divina.
Imploramos:
"Ó Deus Rei, que se assenta no trono da misericórdia,
governando com bondade e perdoando as iniquidades do
Seu povo. Tu os retiras, um a um, aumentando o perdão aos
pecadores e a misericórdia aos transgressores."

Essa tradição reflete o comprometimento e a fé da


comunidade sefardita em buscar a reconciliação com Deus
durante esses dias tão especiais. Durante o Rosh Hashaná
e o Yom Kipur, nos voltamos para nossas ações passadas
e buscamos a purificação espiritual, a renovação e a
restauração de nosso relacionamento com Deus.
TEMA CENTRAL
O tema central dessas orações é a recitação do "Vidui"
(Confissão)" e dos "13 Atributos de Misericórdia" que são
encontrados após o incidente do ‫( עגל הזהב‬Eguel Hazahav-
Bezerro de Ouro), quando Deus ameaçou destruir o povo de
Israel em vez de perdoá-los (Shemot/Êxodo 32:10). De
acordo com o Talmud, Moisés achou que o pecado de
Israel era tão sério que não havia possibilidade de
intercessão em seu favor (Rosh Hashaná 17b), mas neste
momento uma nova face do Eterno se revelou e é isso que
vamos compreender mais a frente.

Essa breve introdução já traz à tona um aspecto de suma


importância: a oração no judaísmo tem suas raízes nas
experiências retratadas na Bíblia. O Deus eterno é
apresentado com múltiplos atributos ao longo dessas
histórias. Em certos momentos, Ele demonstra zelo e ira,
enquanto em outros, Sua misericórdia e bondade se
destacam. A rica sabedoria do judaísmo, intrinsecamente
ligada à sabedoria bíblica, se esforça para compreender os
desencadeantes de Sua ira, bem como os impulsionadores
de Sua misericórdia e graça infinitas.

Durante o mês de Elul, as preces mencionam diversas


situações em que Deus se agradou do povo ou escolheu
agir com misericórdia. Estas preces trazem à atualidade
tais características divinas. Muitas delas incorporam
citações bíblicas e até incluem salmos completos. A
utilização desses textos bíblicos nas nossas preces nos
permite contar com as palavras de eminentes escritores e
compositores da história, enriquecendo nossa devoção.
Isso nos liga também a figuras que, de variadas maneiras,
encontraram favor diante de Deus ou instigaram Sua
misericórdia.
PREMISSAS

Antes de nos aprofundarmos nos mandamentos que


tangem o arrependimento e o perdão, é essencial que
estabeleçamos algumas bases iniciais. Esses fundamentos
são cruciais para assegurar que, ao final da jornada de Yom
Kippur, possamos abraçar uma compreensão abrangente
de todo o processo e das oportunidades intrínsecas que
exploramos ao longo dessa trajetória, em sintonia com
datas tão profundamente marcantes no calendário bíblico.

Portanto, ao construirmos esse alicerce sólido de


entendimento, estaremos prontos para absorver o
significado integral da jornada de Yom Kippur e das datas
que a precedem. Cada passo em direção ao
arrependimento e ao perdão é uma oportunidade de
crescimento, de reforço da conexão espiritual e de
renovação do nosso compromisso com a transformação
contínua. Sendo assim é importante que você já tenha
assistido ou assista as seguintes aulas:

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Depois de assistir a estas aulas você vai entender melhor


qual o papel dos mandamentos que vamos apresentar a
seguir.
VIDUI (CONFISSÃO)
Em Números 5:7, nos deparamos com um mandamento de
destaque, que adquire uma relevância singular neste
período: o ato de se arrepender (fazer Teshuvá) e confessar
os erros. Este mandamento, que nos acompanha ao longo
de todo o ano, assume um papel ainda mais preeminente
no ciclo que antecede as festividades de Rosh Hashaná e
Yom Kippur. Durante essa época, nos voltamos de maneira
mais intensa para esse preceito, pois estamos nos
aproximando de um novo ciclo no calendário bíblico, e o
Eterno estará realizando uma avaliação de tudo o que
vivemos, nossa evolução espiritual e nosso grau de
conexão com Ele e Sua Palavra durante o ano que passou.

Estar alheio a esse processo seria passar pela balança


dessa avaliação em um estado de desconexão do nosso
propósito genuíno nesta terra: aprimorá-la por meio de
nossa própria evolução, que, por sua vez, acontece
conforme nos aproximamos de Deus. No entanto, ao
aproveitarmos esse período, adotando uma postura de
oração adequada, nos submetendo à autoavaliação sincera
e buscando compreender como podemos melhorar e
fortalecer nosso compromisso no próximo ciclo, teremos a
capacidade de despertar a misericórdia de Deus, assim
como os personagens e autores das orações que
recitamos durante esses 40 dias.

Assim, a ligação entre esse mandamento bíblico e o ciclo


que antecede Rosh Hashaná e Yom Kippur se torna ainda
mais profunda e significativa. Esses dias não são apenas
um período de introspecção e reflexão, mas também um
chamado à ação para nos aproximarmos de nosso
propósito divino, buscando aprimoramento constante,
autoconhecimento e um relacionamento mais íntimo com
o Divino.
OS 13 ATRIBUTOS DIVINOS

Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou:


"Senhor, Senhor, Deus misericordioso e compassivo, tardio
em irar-se e grande em beneficência e verdade; que usa de
beneficência com milhares; que perdoa a iniquidade, a
transgressão e o pecado; que de maneira alguma terá por
inocente o culpado; que limpa a iniquidade dos pais sobre os
filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta
geração.“ (Êxodo 34: 6-7).

No cenário bíblico, essas palavras foram proferidas por


Deus a Moisés quando este estava no monte Sinai. Neste
momento, Moisés estava buscando uma renovação da
aliança entre Deus e o povo de Israel, após o incidente do
bezerro de ouro. O contexto se dá logo após Moisés ter
quebrado as Tábuas da Lei como um sinal da gravidade da
transgressão do povo.

Esses versículos de Êxodo 34:6-7 tornaram-se


especialmente significativos no Judaísmo, ganhando uma
conexão profunda com o mês de Elul, o último mês do
calendário judaico antes das festas de Rosh Hashaná (Ano
Novo Judaico) e Yom Kipur (Dia do Perdão). Elul é
considerado um período de introspecção, reflexão e
preparação espiritual para as festas que se aproximam.
Durante o mês de Elul, os judeus participam do serviço de
Selichot, orações de perdão e súplica, como um meio de se
aproximarem de Deus e se reconciliarem antes do
julgamento divino em Rosh Hashaná e Yom Kipur. As
palavras de Êxodo 34:6-7 são proeminentes nessas
orações, uma vez que expressam a misericórdia, a
compaixão e o perdão de Deus - atributos que são
particularmente relevantes quando se busca
arrependimento e renovação espiritual.

A recitação dessas palavras durante o período de Selichot


reforça a ligação entre os atributos divinos de misericórdia e
compaixão, e a busca da reconciliação humana com Deus.
Assim como Deus demonstrou Sua misericórdia a Israel no
passado, os judeus buscam essa mesma misericórdia e
perdão enquanto se preparam para os dias de julgamento e
expiação. As palavras de Êxodo 34:6-7 servem como um
lembrete constante de que, mesmo diante de falhas e
transgressões, Deus está disposto a perdoar e restaurar
aqueles que se voltam para Ele de coração sincero durante
o mês de Elul e o período de Selichot.

E é por isso que este texto bíblico será declarado nas


orações que faremos ao longo de toda a preparação e
também no próprio dia do Perdão em que estaremos, mais
do que nunca, evocando a misericórdia divina.
O serviço de Selichot é uma prática litúrgica de grande
significado para o povo de Israel, enraizada na busca de perdão,
reconciliação e preparação espiritual. Originalmente, o serviço
era composto por versos bíblicos selecionados, culminando na
recitação dos Treze Atributos Divinos, como "Adonai! Adonai! El
Rachun VeChanun" e outros.

Durante os séculos V e VI, uma prece especial conhecida como


"El Melech Yoshev" foi elaborada, servindo como um Prelúdio
aos Treze Atributos.

Além de sua estrutura e versos específicos, o serviço de Selichot


é visto como um segredo milenar do povo de Israel.

O período de Selichot serve como um prelúdio emocional e


espiritual para o Yom Kipur. A prática de Selichot não é apenas
um conjunto de palavras, mas sim uma consagração que eleva
as almas, aproximando-as de uma experiência mais profunda de
ligação com Deus. As orações, os atributos divinos e as
passagens bíblicas invocadas durante o serviço de Selichot
preparam os corações e mentes dos fiéis para a busca do
perdão, a purificação espiritual e a renovação da relação com o
Criador.

Assim, o serviço de Selichot desempenha um papel vital na


espiritualidade judaica, conectando o povo de Israel com suas
tradições, a Bíblia Sagrada e a busca constante pela
reconciliação divina.

O período de selichot torna o jejum de Yom Kipur algo ainda mais


elevado, não estamos apenas nos abstendo de comida
esperando que em troca D'us nos perdoe, mas passando todo
um período de 40 dias nos avaliando e nos preocupando e
mostrar para o Eterno nosso compromisso real com ele e com
sua palavra.
COSTUMES DURANTE O
PERÍODO DE SELICHOT

Tsedacá
Durante o período de Elul, uma época de profundo significado
espiritual, a prática da Tsedacá, ou justiça social, ganha ainda
mais destaque. Nesse intervalo de tempo, somos convocados a
estender nossas mãos aos necessitados, atuando como
instrumentos divinos nesta terra, canalizando a benevolência de
Deus por meio de nossas ações altruístas.

Shofar
O Shofar, um símbolo icônico das tradições judaicas, ecoa
diariamente ao longo do mês de Elul, preenchendo o ar com seu
som peculiar e profundo. Esse toque das trombetas não apenas
ressoa nos ouvidos, mas também serve como um chamado à
nossa alma, um convite para despertar de nossos estados de
letargia espiritual e reavivar nossa ligação com o sagrado.

Saudações
As saudações ganham uma dimensão especial desde o início do
mês de Elul. Ao cumprimentar amigos e familiares, a expressão
"Ketivá VeChatimá Tová", que traduz a esperança de que sejam
inscritos e selados para um Ano Bom, é proferida com fervor.
Essas palavras carregam votos não apenas de bem-estar
material, mas também de realizações espirituais e prosperidade
interior.

Salmos
Também é uma tradição agregar o Salmo 27 às orações diárias
da manhã (Shacharit) e da tarde (Minchá). Este salmo, que fala
da confiança no Senhor e da busca por Sua presença, é
incorporado às preces como uma melodia que ecoa nossas
aspirações espirituais, elevando nossas palavras em direção aos
céus.
PERÍODO DE SELICHOT
O período das Selichot ocorre, então de 01 de Elul (
17/08/20023 ) ao pôr do sol até 09 de Tishrei à tarde
(24/09/2023) ao pôr do sol, onde se inicia o Grande Dia
- Yom Hakipurim (O Dia das Expiações) com as devidas
orações, súplicas, confissões e jejum até 1 hora após o
pôr do sol do dia seguinte (25/09/2023).

ALGUMAS REFERÊNCIAS BÍBLICAS


Tsedacá (Justiça/Caridade)

"Quem trata bem os pobres empresta ao Senhor, e Ele o


recompensará. "
- Provérbios 19:17
"Quem dá aos pobres não passará necessidade, mas quem
fecha os olhos para não vê-los
sofrerá muitas maldições. "
- Provérbios 28:27
"Como é feliz aquele que se interessa pelo pobre! O Senhor
o livra em tempos de adversidade."
- Salmo 41:1
"Quem é generoso será abençoado, pois reparte o seu pão
com o pobre. "
-Provérbios 22:9
"O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo
de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com
quem estiver em necessidade. "
-Efésios 4:28
"Quem fecha os ouvidos ao clamor dos pobres também
clamará e não terá resposta. "
-Provérbios 21:13
Shofar (Toque do Shofar/Trombetas)
“Dize também aos filhos de Israel: No sétimo mês, o
primeiro dia do mês será, para vós, dia de repouso
solene, memorial anunciado ao toque do Shofar,
trombeta que convoca à reunião do povo em
santidade." Levítico 23:24

"Então farás soar o Shofar, no décimo dia do sétimo


mês; no Dia das Expiações, fareis soar essa trombeta
em todo o país." -Levítico 25:9

"Todos vós, habitantes do mundo, vós moradores da


terra, quando se erguer um sinal nos montes, haveis de
ver, quando ressoar o toque do Shofar, o som da
trombeta, haveis de ouvir." -Isaías 18:3

"Grita, pois, a plenos pulmões, não te contenhas, levanta


a tua voz como um Shofar, uma trombeta, e fazer ver
ao povo a sua própria transgressão, mostra à Casa de
Jacó o seu pecado!" -Isaías 58:1

"Tocai, pois, o Shofar, a trombeta, em Tsión, determinai


um jejum geral, convocai uma assembléia solene." -Joel
2:15
Apocalipse - Capítulos de 8 a 11 detalham os toques de
7 shofarim (trombetas) por 7 anjos após a abertura do
último selo.

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