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A IGREJA ANGLICANA, A LEI E O SÁBADO

A Igreja Anglicana é a denominação estabelecida oficialmente na Inglaterra


e é o tronco principal da “Comunhão Anglicana Mundial”, do qual a Igreja
Episcopal faz parte. Basicamente a diferença entre estas igrejas está na
administração que, por convenção, denomina a igreja na Inglaterra de
“anglicana” e no restante do mundo de “episcopal”. Mas quanto ao título de
fundador da Igreja Anglicana ou Episcopal, pode ser atribuído ao rei
Henrique VIII, pois em 1534, por interesses pessoais e políticos, ele separou
oficialmente a Igreja da Inglaterra definitivamente da Igreja Católica,
valendo-se da questão de que o Papa (por motivos políticos) negou seu
pedido de divórcio com Catarina de Aragão, filha de Fernando II, que era rei
da Espanha, a maior potência guardiã do catolicismo naquela época.

Quanto a fé, a ordem e as práticas anglicanas estão expressas no “Livro de


Oração Comum”, nos “Ordinais” dos séculos XVI e XVII, nos “Trinta e Nove
Artigos de Religião”, que contém o sumário da fé anglicana e mais
resumidamente no “Quadrilátero de Lambeth-Chicago de 1886–1888” como
sendo um documento onde se resumem os pontos de unidade fundamentais
do anglicanismo histórico em relação às demais denominações cristãs, com o
cunho de estabelecer os princípios pelos quais o anglicanismo busca a
unidade da denominação.

O QUE A IGREJA ANGLICANA DIZ SOBRE A LEI E O SÁBADO?

Veremos no presente artigo, baseado em documentos oficiais, credos,


catecismos e confissões de fé, qual o posicionamento oficial da Igreja
Anglicana ou Episcopal frente à questão da lei e do sábado. Ao contrário do
que pensam alguns anglicanos e episcopais mal-informados de sua própria
doutrina, é fato que seus líderes e autoridades, teólogos de maior gabarito,
professores, ilustres evangelistas, pastores e famosos escritores concordam
com os adventistas e demais cristãos observadores do sábado quanto à
validade deste e de todos os mandamentos do Decálogo como regra de
prática e conduta para o cristão. Inclusive é a mesma posição bíblica
ensinada oficialmente há séculos pelas demais denominações cristãs, como
luteranos, presbiterianos, metodistas, batistas, congregacionalistas,
assembleianos, católicos, mórmons, etc.

É verdade que quando esses mesmos autores anglicanos tratam de


“sábado”, pretendem reinterpretar o quarto mandamento como agora se
aplicando ao primeiro dia da semana, supostamente devido à ressurreição
de Cristo. Então, estão certos e de acordo quanto à validade e vigência de
todos os mandamentos do Decálogo e das origens edênicas do princípio
sabático, porém estão equivocados ao acharem que o domingo tomou o
lugar do sábado, uma informação que não consta de parte alguma da Bíblia.

Vejamos agora como os anglicanos e episcopais respondem oficialmente às


nossas perguntas.

1) A Lei de Deus, os Dez Mandamentos, estão vigentes para o


cristão?

Vejamos o que ficou decidido no “Sínodo de Dort”, na parte referente a


rejeição de erros:

“Erro 4 — A nova aliança da graça, que Deus o Pai, mediante a morte de


Cristo, estabeleceu com o homem, não consiste nisso que nós estamos
justificados diante de Deus e salvos pela fé se ela aceita o mérito de Cristo.
Ela consiste no fato de que Deus revogou a exigência de perfeita obediência
à lei e considera agora a própria fé e a obediência de fé, ainda que
imperfeitas, como a perfeita obediência à lei. Ele acha, em sua graça, que
elas sejam dignas da recompensa da vida eterna.

“Refutação — Os que ensinam isto contradizem a Escritura: ‘…sendo


justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em
Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação,
mediante a fé…’ (Rom 3:24, 25). Eles introduzem, junto com o ímpio Socino,
uma nova e estranha justificação do homem diante de Deus, contrária ao
consenso da Igreja inteira.” — Em “Rejeição de Erros” do cap. 2 — “A Morte
de Cristo e a Redenção do Homem por Meio Dela”.

Podemos citar também o que declara o grande reformador escocês John


Knox no documento oficial da denominação, capítulo 15, sob o título “A
Perfeição da Lei e a Imperfeição do Homem”:

“Confessamos e reconhecemos que a Lei de Deus é a mais justa, a mais


imparcial e a mais santa, e o que ela ordena, se perfeitamente praticado,
iluminaria e poderia conduzir o homem à felicidade eterna; (…) Mesmo
depois de sermos regenerados… importa que nos apeguemos a Cristo, em
sua justiça e satisfação… cumpramos a Lei em todos os pontos…

“Não queremos dizer que fomos libertados, de modo a não devermos mais
obediência alguma à Lei… mas afirmamos que ninguém na terra, pela sua
conduta… dará à Lei a obediência que ela requer.” — Em “Confissão de Fé
Escocesa”. Grifos acrescentados.

“As leis básicas de moralidade, e em particular os Dez Mandamentos,


permanecem até o fim do tempo como o alicerce moral e espiritual sobre o
qual se acha construída a religião do Novo Testamento.” — Extraído de “The
Snowden-Douglass Sunday School Lessons”, 1946, p. 279. Grifos
acrescentados. Essa lição está à venda por $24.94. Para adiquiri-la, clique
aqui.

Finalmente, vejamos a posição oficial da Igreja Anglicana ou Episcopal, a


qual se encontra em sua confissão de fé, os “Trinta e Nove Artigos de
Religião da Igreja da Inglaterra” (1571), documento confessional há séculos
acatado não só por anglicanos ou episcopais, mas também por metodistas e
metodistas livres, ao estipular em seu artigo 7, sobre a lei divina:

“O Velho Testamento não é contrário ao Novo; porquanto em ambos, tanto


Velho como Novo, se oferece a vida eterna ao gênero humano, por Cristo,
que é o único mediador entre Deus e o homem sendo ele mesmo Deus e
homem. (…) Ainda que a Lei de Deus, dada por meio de Moisés, no que
respeita a Cerimônia e Ritos, não obrigue os cristãos, nem devem ser
recebidos necessariamente os seus preceitos civis em nenhuma
comunidade; todavia, não há cristão algum que esteja isento, da obediência
aos Mandamentos que se chamam Morais.” — Ver também em “Constituição
da Igreja Metodista Episcopal”, em “Methodist Episcopal Church Doctrines
and Discipline” (1928), p. 7. E em “Free Methodist Discipline”. Grifos
acrescentados. Essa confissão de fé pode ser encontrada no seguinte
website: http://www.monergismo.com/textos/credos/39artigos.htm (acessado a
22/09/2007).

Depois de mostrarmos na confissão de fé o posicionamento oficial anglicano


ou episcopal, precisaríamos citar mais alguma fonte para provar que todos
os Dez Mandamentos permanecem vigentes para os cristãos, segundo o
ensinamento oficial da Igreja Anglicana ou Episcopal? Conforme foi visto
acima, esses teólogos e autoridades da denominação têm a Lei de Deus, os
Dez Mandamentos, numa alta estima.

2) Desde quando existem os Dez Mandamentos, a Lei de Deus?

O já citado “Sínodo de Dort” decidiu a seguinte posição oficial a respeito da


origem do Decálogo:

“4. É verdade que há no homem depois da queda um resto de luz natural.


Assim ele retém ainda alguma noção sobre Deus, sobre as coisas naturais e
a diferença entre honrado e desonrado e pratica um pouco de virtude e
disciplina exterior.

“5. O que foi dito sobre a luz da natureza vale também com relação à lei dos
Dez Mandamentos”. — Em “A Corrupção do Homem, a Sua Conversão a
Deus e o Modo Dela”, caps. 3 e 4. Grifos acrescentados.

Aí está o testemunho de um documento oficial da denominação. Pelo que


lemos do posicionamento anglicano ou episcopal, não há nenhuma dúvida de
que os Dez Mandamentos eram como a “luz da natureza” que foram dados a
Adão, ANTES DA QUEDA. Portanto, a resposta a esta pergunta deve ser:
DESDE A CRIAÇÃO DO MUNDO!

3) Existe diferença entre a Lei Moral e a Lei Cerimonial?

No “Buck’s Theological Dictionary”, usado muito por metodistas e episcopais


ou anglicanos, em seu artigo sobre a “Lei”, há estas afirmações:

“A Lei Moral é aquela declaração da vontade de Deus que orienta e obriga


moralmente a todos os homens, em todas as épocas e em todos os lugares,
em seu inteiro dever para com Ele. Ela foi solenissimamente proclamada
pelo próprio Deus no Sinai. (…) É chamada perfeita (Sl. 19:7), perpétua (Mt.
5:17 e 1 , santa, boa (Rm. 7:12), espiritual (Rm. 7:14), amplíssima (Sl.
119:96).” — P. 230. Grifos acrescentados.

E direto da lição da escola dominical da denominação, podemos extrair o


seguinte:

“A Lei Moral é parte da lei natural do Universo. Justamente como uma lei
natural violada, no mundo material, traz suas conseqüências inevitáveis,
assim a Lei Moral transgredida traz suas inevitáveis conseqüências nos
mundos espiritual e mental.” — Extraído de “The Episcopal Church Sunday
School Magazine” (Revista da Escola Dominical), junho-julho de 1942, p.
183-184. Grifos acrescentados.

De tudo que está registrado, fica mais do que claro que esses documentos
confessionais cristãos históricos, além de mestres de outras confissões,
admitem que existam pelo menos duas leis, dentre outras, das quais fala a
Escritura Sagrada:

—> Lei Moral — sumariada nos Dez Mandamentos, e


—> Lei Cerimonial — representada pelos sacrifícios e ordenanças rituais para
Israel.

4) O sábado pode ser reinterpretado segundo a vontade de cada um?

Os anglicanos ou episcopais acham que eles mesmos são os que devem


escolher o dia para o descanso e culto, reinterpretando o mandamento do
sábado e aplicando-o ao domingo, chamando-o de “o sábado cristão”. O fato
é que esta questão está obedecendo à conveniência das pessoas e não o que
diz o claro “assim diz o SENHOR”. Será que deve ser assim mesmo?
Biblicamente, “o sétimo dia é o sábado do SENHOR” (Ex.20:10). Mas
vejamos o que dizem os teólogos anglicanos e episcopais a respeito disso.

O anglicano Dr. William E. Gladstone, que por alguns anos foi primeiro
ministro da Inglaterra, faz as seguintes observações em seu “Later
Gleanings”:

“O sétimo dia da semana foi destituído de seus títulos de observâncias


religiosas obrigatórias, e suas prerrogativas foram transferidas para o
primeiro dia, não por algum direto preceito das Escrituras.” — P. 342. Grifos
acrescentados.

Outro documento oficial da Igreja Anglicana ou Episcopal é o “Explanation of


Catechism”, que assim afirma:

“O dia agora foi mudado do sétimo para o primeiro… (mas) não encontramos
nenhuma determinação Bíblica para tal mudança; devemos concluir que
(essa mudança) foi feita pela autoridade da Igreja.” — Grifos acrescentados.

Indiscutivelmente, todas essas autoridades e documentos religiosos


anglicanos e episcopais não concordam com a visão herética semi-
antinomista/dispensacionalista que nega a validade e vigência do Decálogo
como norma cristã, e prega o fim total do quarto mandamento, como sendo
“cerimonial”. Mesmo que o sábado seja interpretado por esses documentos e
autores como referindo-se ao primeiro dia, o “sábado cristão” como é
chamado, o que importa é que admitem oficialmente a validade e vigência
do mandamento e as origens endêmicas do princípio sabático. A questão
sobre o domingo ter tomado o lugar do sétimo dia já é outra.

5) A Bíblia ensina a observância do domingo no lugar do sábado?

No “Manual of Christian Doctrine”, dos anglicanos ou episcopais, ocorre esta


pergunta e resposta:

“Há algum mandamento no Novo Testamento, que permita mudar o dia do


Sábado para o Domingo? — Nenhum.” — P. 127.

O Dr. Peter Heylyn, no seu livro “History of the Sabbath”, declara:

“Recorrei a quem quiserdes, sejam os pais primitivos ou os autores


modernos, não encontrareis nenhum dia do Senhor (domingo) instituído por
qualquer ordenação apostólica, nenhum movimento sabático iniciado por
eles com relação ao primeiro dia da semana.” — Ed. de 1636, parte 11, cap.
1, par. 10, p. 28.

Em sua obra “Examination of the Six Texts”, na qual o Dr. William Domville
estuda profundamente seis textos bíblicos sob os quais foi construído o
argumento do domingo como dia do Senhor, ele declara francamente:

“Nenhum dos escritores eclesiásticos dos primeiros séculos atribui a origem


do domingo a Cristo ou aos apóstolos. (…) Séculos da era cristã passaram-se
antes que o domingo fosse (geralmente) observado pela igreja cristã em
caráter do sábado. A História não nos fornece uma única prova de que fosse
(oficialmente) observado como tal antes do edito dominical de Constantino,
em 321 AD.” — P. 291.
O grande teólogo e historiador alemão de Heidelberg, Dr. Johann August
Wilhelm Neander, em cuja obra de tal mérito que lhe valeu o título de
“príncipe dos historiadores da Igreja”, declara francamente:

“A oposição ao judaísmo introduziu a festividade particular do domingo,


muito cedo, realmente, em substituição do sábado. (…) A festa do domingo,
como todas as outras festividades, foi sempre uma ordenança simplesmente
humana, e estava longe das cogitações dos apóstolos estabelecer a este
respeito uma ordem divina – longe deles e da primitiva igreja apostólica,
transferir para o domingo as leis do sábado. Talvez no fim do segundo
século, começou a surgir uma falsa aplicação dessa espécie, pois a esse
tempo os homens consideravam pecado o trabalho aos domingos.” — Em
“The History of Christian Religion and Church”, p. 186, trad. de John Rose da
1ª ed. alemã, B. D., Filadélfia: James M. Campbell & C.º, 1843. Grifos
acrescentados.

6) Como poderíamos resumir todo o ensinamento anglicano ou episcopal que


vimos até agora?

A — A universal e eterna lei de Deus é sistematizada e expressa para o


homem na forma dos Dez Mandamentos, também universais e eternos, que
prosseguem válidos e vigentes como norma de conduta cristã. Tal fato
sempre foi oficialmente reconhecido por doutíssimas autoridades em
Teologia do presente e do passado, pertencentes às mais diferentes
denominações, e é o que tradicionalmente constituiu o pensamento geral de
toda a cristandade.

B — A lei divina nas Escrituras se apresenta com preceitos morais,


cerimoniais, civis, etc., sendo que a parcela cerimonial, por ser prefigurativa
do sacrifício de Cristo, findou na cruz, mas os mandamentos de caráter
moral prosseguem válidos e vigentes para os cristãos.

C — Dentro do Decálogo há o quarto mandamento estabelecendo que um


dia inteiro entre sete de descanso deve ser santificado a Deus, princípio este
que fora instituído na fundação do mundo para benefício do homem no Éden
e deve ser mantido pelos cristãos hoje.

D — Jesus não transgrediu o quarto mandamento, muito pelo contrário, Ele


pretendia reformar sua observância de acordo com a essência do princípios
sabático e em nenhum lugar da Bíblia consta a informação de que o sábado
foi substituído do sétimo dia para o primeiro da semana.

7) O que deve fazer o cristão, numa demonstração prática de sabedoria e


amor a Deus?

“Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos. (…) Aquele que tem os


Meus mandamentos e os guarda esse é o que Me ama; e aquele que Me ama
será amado de Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele.”
(Jo.14:15,21)

Diante de tudo o que foi apresentado, qual deve ser a posição de cada
ovelha do rebanho da Igreja Anglicana ou Episcopal?

A Bíblia Viva registra Tiago 4:17 da seguinte maneira:

“Lembrem-se também de que, saber o que deve ser feito e não fazer, é
pecado.”

9) Como cristão sincero, nascido de novo pelo sangue de Cristo, qual vai ser
a sua resposta ao Senhor Jesus?

A escolha é totalmente sua!

“Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os


mandamentos de Deus e a fé em Jesus.” (Ap 14:12)

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