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Revista Diálogos Interdisciplinares

2019 vol. 8 n° 2 - ISSN 2317-3793

RECICLAGEM E DESCARTE DE LÂMPADAS FLUORESCENTES


Renata Sebalos1, Fábio Xavier de Melo2

RESUMO
As lâmpadas fluorescentes são amplamente utilizadas por terem maior durabilidade e por serem econômicas, embora
atendam a estes quesitos, são consideradas resíduos perigosos por possuírem mercúrio em sua composição. O mercúrio
é um metal pesado altamente tóxico que pode gerar grandes contaminações ambientais e intoxicações nos seres
humanos causando graves problemas físicos e neurológicos. Deste modo, é imprescindível que as lâmpadas
fluorescentes sejam descartadas corretamente e destinadas a empresas de reciclagem licenciadas pelos órgãos
ambientais competentes. A lei 12.305/2010 estabelece um conjunto de diretrizes e instrumentos que tem como objetivo
gerenciar os resíduos sólidos no Brasil, um dos instrumentos desta lei é a Logística Reversa que viabiliza o descarte
correto e a reciclagem dos produtos, no setor de lâmpadas fluorescentes a LR ainda não é efetivamente aplicada, pela
falta de acordos setoriais e fiscalização da sociedade e do poder público, o que gera grandes preocupações
socioambientais.
Palavras-chave: Lâmpadas fluorescentes, metais pesados, descarte

ABSTRACT
Fluorescent lamps are widely used because they have longer durability and they are economical, although they meet
these requirements, they are considered hazardous waste as they contain mercury in their composition. Mercury is a
highly toxic heavy metal that can generate large environmental contaminations and intoxications in humans causing
serious physical and neurological problems. Therefore, it is imperative that the fluorescent lamps are disposed of
correctly and destined to recycling companies licensed by the competent environmental agencies. The Law 12,305 /
2010 establishes a set of guidelines and instruments that aims to manage solid waste in Brazil, one of the instruments of
this law is the Reverse Logistics that enables the correct disposal and recycling of products in the sector of LR
fluorescent lamps is still not effectively implemented, due to the lack of sectoral agreements and control of society and
public power, which generates great socio-environmental concerns.
Keywords: Fluorescent lamps, heavy metals, disposal.

INTRODUÇÃO

Uma parte significativa da energia elétrica que é consumida nos setores comerciais,
residenciais e de serviços é utilizada em iluminação artificial, o que leva a cada vez mais
realizarem-se pesquisas neste setor, fabricando-se lâmpadas mais econômicas (LAMBERTS et al.,
2014).
Há cerca de dois anos, dentre os principais tipos de lâmpadas utilizadas, estavam as
incandescentes, no Brasil seu custo era até cinco vezes menor, porém apresentava um gasto de
energia 80% mais alto e sua durabilidade era dez vezes menor em relação as lâmpadas
1 Informações Profissionais: Bacharel em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
UNESP (2008) e em Engenharia Ambiental e Sanitária pelas Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU (2016). Pós
graduanda em Engenharia de Segurança do Trabalho nas Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. Atualmente é
especialista em patentes da Moeller do Brasil, escritório internacional atuante nos serviços de Propriedade
Intelectual. e-mail: rsebalos@gmail.com.
2 Informações Profissionais: Engenheiro Físico UFSCar (2010), especialista em Engenharia de Saúde e Segurança do
Trabalho, mestre e doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (2017). Atualmente é professor
de pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas
Unidas, professor na Brazcubas Educação. E-mail: fabio.melo@brazcubas.br.
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fluorescentes, contribuindo consequentemente com os impactos ambientais negativos


causados nos processos de geração de energia. Deste modo, observou-se em grande
escala a substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, visto que as
fluorescentes são indiscutivelmente mais econômicas.
Tornou-se proibida a venda de lâmpadas incandescentes no Brasil, com o
objetivo de reduzir o desperdício de energia elétrica, o Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e tecnologia (Inmetro) passou a fiscalizar por meio dos institutos de Pesos e
Medidas (Ipem) estaduais, estabelecimentos comerciais que ainda tinham esse tipo de
lâmpada disponível, estando sujeitos a penalidades com multas de cem a um milhão de
reais. Em 2015 as lâmpadas de 60W já não podiam ser comercializadas, em 2016 as de
75W e 100W também foram proibidas e em 2017 cessaram as vendas das lâmpadas de
25W E 40W.
Não obstante as lâmpadas florescentes sejam mais econômicas e apresentem
maior durabilidade, possuem metais pesados em sua composição como por exemplo o
mercúrio, que podem gerar grandes impactos ambientais quando estas lâmpadas são
descartadas incorretamente.
Embora uma lâmpada tenha apenas em torno de 15 mg de mercúrio total o que
significa baixo risco de contaminação ambiental, o risco aumenta em caso de descarte
em grandes quantidades em um único local, pois ao serem descartadas o mercúrio pode
contaminar o solo, plantas, animais e água, atingindo toda a cadeia alimentar
(CEMPRE, 2015).
A lâmpada que contém mercúrio é considerada como resíduo perigoso (resíduo
classe I), que possui o código F044, na NBR 10004:2004 (Resíduos Sólidos) da ABNT
– Associação Brasileira de Normas Técnicas que classifica os resíduos sólidos quanto
aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser
gerenciados adequadamente. (ABNT, 2004)
De acordo com a recicladora Ambiensys (2007), apenas 6% das lâmpadas
descartadas passam por algum processo de reciclagem; aproximadamente 95% dos
usuários pertencem ao comércio, indústria ou serviços; apenas 5% são residenciais; 10%
dos municípios brasileiros dispõem seus resíduos domiciliares em aterros sanitários e
aproximadamente 77% dos usuários brasileiros descartam lâmpadas fluorescentes
queimadas em lixões, aterros industriais ou sanitários.
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MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

Este artigo foi realizado a partir de levantamentos bibliográficos e artigos já


produzidos sobre o tema.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

FUNCIONAMENTO DAS LÂMPADAS FLUORESCENTES

Inventada por Nikola Tesla a lâmpada fluorescente foi introduzida no mercado


em 1938, utilizando a descarga elétrica através de um gás para produzir luz.
As lâmpadas fluorescentes são compostas basicamente por vidro, alumínio, pó
fosfórico, mercúrio e chumbo. Conforme apresentado na figura 1, possuem dois
eletrodos, estes quando conectados à energia elétrica, enviam eletricidade para o interior
do tubo, onde contém vapor de mercúrio sob baixa pressão. A corrente elétrica enviada
excita o vapor de mercúrio fazendo com que seja emitido a luz ultravioleta, que por sua
vez é absorvida pelo pó de fósforo e transformada em luz branca visível (SILVA et
al.2014).

Figura 1 - Características da estrutura interna de uma lâmpada fluorescente tubular


Fonte: Silva (et al., 2014)
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Uma lâmpada padrão de 40 Watts possui cerca de quatro a seis gramas de poeira
fosforosa e a vida útil dessas lâmpadas é de aproximadamente cinco anos ou vinte mil
horas.

LÂMPADAS DE LED

Outro tipo de lâmpada comumente utilizada é a lâmpada de LED Light Emitting


Diode, ou Diodo Emissor de Luz. O LED é um dispositivo semicondutor que tem como
princípio de funcionamento a eletroluminescência, emitindo luz através da combinação
de elétrons e lacunas em um material sólido (Sá Junior, 2007). São compostas
basicamente por estanho, alumínio, níquel, cobre, plástico, componentes eletrônicos e
vidro.
Este tipo de lâmpada apresenta uma economia 35% maior em relação as
lâmpadas fluorescentes, seu tempo de vida útil também é maior, podendo durar de
25.000 a 50.000 horas, entretanto seu valor é bem mais alto e ainda não existem
tecnologias para a separação total de seus componentes, inviabilizando sua reciclagem,
sendo descartadas geralmente dentre os resíduos comuns. Na figura 2 pode-se observar
a anatomia das lâmpadas de LED.

Figura 2: anatomia de uma lâmpada de LED.


Fonte: Vibrancelighting 2015
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ARMAZENAMENTO E DESCARTE CORRETO DE LÂMPADAS PÓS-


CONSUMO

Ao serem descartadas, as lâmpadas fluorescentes devem ser colocadas na


posição vertical, se não for possível a utilização das embalagens originais, deve ser
utilizado, papel, papelão ou algum material do tipo para embalar as lâmpadas
individualmente a fim de protegê-las contra quebra. Em seguida, devem ser colocadas
em um recipiente ou caixa resistente para o transporte, com a devida identificação para
serem encaminhadas para empresas de reciclagem licenciadas pelos órgãos ambientais
competentes.
Sanches (2008) ressalta que as lâmpadas que se quebram acidentalmente devem
ser separadas das demais e acondicionadas em recipientes herméticos, como os
tambores de aço. Estes devem apresentar tampas em boas condições para que a vedação
seja adequada. O ambiente onde houve a quebra deve ser arejado, animais e crianças
devem ser retiradas do local, para imediata limpeza dos resíduos.

IMPACTOS DO DESCARTE INCORRETO

As lâmpadas fluorescentes inteiras não oferecem perigo, entretanto quando


descartadas de forma incorreta geralmente ocorre a quebra do vidro presente em sua
estrutura, liberando o mercúrio presente em seu interior.
O mercúrio depositado em rios, em grande quantidade, contamina os peixes e
frutos do mar e a ingestão desses alimentos acaba por contaminar o ser humano,
podendo resultar em problemas como: gengivite, insônia, vômitos, dores de cabeça,
elevação da pressão arterial, lesões renais, danos neurológicos e convulsões (WALKER
et al., 1996). Este metal pesado se trata de um poluente persistente e bioacumulativo,
isso quer dizer que ele pode ser absorvido e retido pelo organismo de determinado ser
vivo.
Além do mercúrio, as lâmpadas fluorescentes também têm a presença do
chumbo, que é usado nas soldas, um metal pesado que também oferece danos
significativos à saúde, como por exemplo alterações no sistema nervoso, digestivo e
reprodutor. Neste contexto, a reciclagem das lâmpadas se justifica pela presença de tais
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componentes, além dos seus principais subprodutos, como o vidro, o alumínio e outros
componentes metálicos, o pó fosfórico e os componentes eletrônicos que são passíveis
de tratamento e reciclagem (TOCCHETTO, 2014).
A tabela 1 apresenta outros efeitos causados à saúde humana em detrimento da
contaminação gerada pelos metais pesados presentes nas lâmpadas.

Tabela 1: Alguns componentes presentes nas lâmpadas e seus efeitos na saúde humana.
Componentes / Metais pesados Efeitos provocados
Hg metálico Bronquite aguda, cefaleia, catarata,
tremor, fraqueza, insuficiência
renal crônica, edema pulmonar agudo,
pneumonia, diminuição da libido e
capacidade intelectual, parestesia
(alucinações) e insegurança.
Sais inorgânicos de Hg Cegueira, dermatite esfoliativa,
gastroenterite aguda, gengivite, nefrite
crônica, síndromes neurológicas e
psiquiátricas diversas
MetilHg Dano cerebral e físico ao feto, síndromes
neurológicas múltiplas com deterioração
física e mental (tremores, disfunções
sensoriais, irritabilidade, perdas da visão,
audição e memória, convulsões e morte).
(Efeitos irreversíveis)

LEGISLAÇÃO E LOGÍSTICA REVERSA

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos - PNRS, instituída pela lei


12.305/2010 regulamentada pelo Decreto n° 7.404 estabelece um conjunto de diretrizes
e instrumentos que tem como objetivo o gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil.
A Lei no 12.305/10, formaliza a responsabilidade compartilhada entre o setor
privado e o poder público quanto ao destino do lixo tecnológico. Segundo esta Lei:
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa,
mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do
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serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes,


importadores, distribuidores e comerciantes de:
I - Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja
embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de
gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas
estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;
II - Pilhas e baterias;
III - Pneus;
IV - Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
A logística reversa, é caracterizada por um conjunto de procedimentos e meios
de coleta para devolver os resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento
ou tratamento para descarte correto sob responsabilidade do fabricante, é um dos
instrumentos de desenvolvimento econômico e social (MACHADO 2013).
Segundo Leite (2003, p.16), logística reversa é “a área da logística empresarial
que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do
retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo
produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de
diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre
outros”.
No Brasil, a logística reversa das lâmpadas fluorescentes ainda não é aplicada de
forma efetiva o que gera grandes preocupações socioambientais, visto que no Brasil há
uma geração anual de 206 milhões de unidades de lâmpadas fluorescentes.
Existe a necessidade de acordos setoriais, onde toda a cadeia produtiva participe
do ciclo da logística reversa, fiscalização da sociedade e do poder público no que tange
o descarte e destinação das lâmpadas e adesão de todos os setores de produção. O poder
público e os fabricantes devem impreterivelmente implementar meios de coleta das
lâmpadas, para que os consumidores não encontrem dificuldades ao realizarem o
descarte.
Outra importante ferramenta, é a Educação Ambiental que busca promover e
construir valores sociais, conhecimentos e práticas voltadas a sustentabilidade visando a
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preservação de recursos e do meio ambiente como um todo. No que tange ao descarte


das lâmpadas esta ferramenta se apresenta como uma excelente ferramenta para a
conscientização de consumidores ou trabalhadores que manuseiam este tipo de resíduo
acerca dos perigos oferecidos pelo mercúrio e demais metais pesados e das medidas de
segurança que devem ser tomadas no pós-consumo.
Desta forma, o conhecimento sobre riscos, manuseio e reciclagem através da
educação ambiental faz com que os consumidores sejam motivados a contribuir para a
destinação ecologicamente correta das lâmpadas fluorescentes através da logística
reversa (CARNEIRO, 2010).

PROCESSO DE RECICLAGEM DAS LÂMPADAS FLUORESCENTES

A reciclagem é um processo que transforma itens que se tornariam “lixo” e que


provavelmente seriam depositados em lixões ou aterros em novos produtos ou matérias-
primas.
A efetiva separação dos resíduos é imprescindível, principalmente se tratando de
lâmpadas fluorescentes e outros resíduos perigosos para que estes sejam destinados
corretamente evitando e diminuindo riscos de contaminações.
O processo de reciclagem das lâmpadas é cauteloso e exige diversos cuidados
desde o transporte do material até o processo final de reciclagem, durante todo o
processo é monitorada a concentração de mercúrio no ambiente que deve estar dentro
dos limites de exposição ocupacional, sendo 0,05 mg.m³ de acordo com a Occupational
Safety and Health Administration – OSHA.
Equipamentos de proteção individual (EPI´s) devem ser utilizados em todas as
fases de movimentação, recolhimento, armazenagem e transporte das lâmpadas.
No caso de quebras acidentais a coleta deve ser realizada imediatamente, bem
como a limpeza local e a abertura de portas e janelas para circulação do ar. O mercúrio
deve ser recolhido com seringa ou folha de papel evitando qualquer tipo de contato
manual e o mesmo deve ser depositado em um recipiente plástico resistente, fechado
hermeticamente.
As principais técnicas de reciclagem das lâmpadas fluorescentes são: tratamento
por sopro, moagem simples, moagem com tratamento químico ou térmico e
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solidificação/encapsulamento, as mais utilizadas no Brasil estão apresentadas no Quadro


1.

Quadro 1 – Tecnologias de reciclagem e destinação de lâmpadas fluorescentes do


Brasil.

Tecnologia Descrição
Moagem simples O sistema de moagem simples realiza a
ruptura das lâmpadas e através de um
sistema de sucção promove a retenção de
uma parcela do mercúrio contido nas
lâmpadas. Sendo assim, esse sistema
impede que o mercúrio seja liberado para
a atmosfera. Na maioria desses
processos, os materiais não são separados
e geralmente são destinados ao aterro
industrial.
Trituração com tratamento químico A moagem com tratamento químico é
constituída de duas fases principais:
esmagamento e retenção do mercúrio.
Nesse processo é realizada a lavagem do
vidro e na sequência é feita a separação
do pó de fósforo. O líquido é tratado
quimicamente, sendo realizada a
separação do mercúrio
Trituração com tratamento térmico O processo de moagem com tratamento
térmico possui duas etapas principais:
esmagamento e destilação de mercúrio.
Essa tecnologia possibilita a recuperação
do mercúrio através do aquecimento da
fração contendo pó fosfórico,
21

vaporização do mercúrio e posterior


condensação. Considera-se a melhor
alternativa de tratamento, pois permite
que o mercúrio seja recuperado.
Sopro Utiliza-se o tratamento por sopro
somente para lâmpadas fluorescentes
tubulares. Neste caso, as extremidades
são rompidas com aquecimento e
resfriamento. Então, através do tubo de
vidro, uma corrente de ar é soprada,
promovendo o arraste do pó de fósforo
com mercúrio. Entretanto, como no
sistema de moagem simples, o teor total
de mercúrio não é removido.
Solidificação/ Encapsulamento No sistema de
solidificação/encapsulamento, realiza-se
um esmagamento e posterior
encapsulamento dos materiais restantes e
destinação a aterros
Fonte: Adaptado de Mombach et al. (2008).

Descontaminação

Uma das etapas deste processo é a descontaminação, onde o vidro, o mercúrio,


os terminais e demais componentes são segregados e descontaminados. Os materiais
descontaminados podem ser comercializados e direcionados a indústrias especializadas,
sendo empregados na produção de novos itens, voltando ao ciclo produtivo, como pode-
se observar a seguir:

Vidro: lâmpadas fluorescentes, pisos de cerâmicas vitrificados, isolantes


térmicos, substituição para areia (limpeza com jato de areia), espuma de vidro, tijolo de
vidro e de concreto;
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Pó de fósforo descontaminado: fertilizantes, pigmentos para tintas, componente


(filler) de concreto;
Mercúrio: lâmpadas, termômetros, mistura de amalgama, dentre outros. Neste
processo, o mercúrio retorna ao seu estado líquido.
Alumínio: Vendido como sucata.
No Brasil existem oito principais empresas responsáveis pelo serviço de
descontaminação e reciclagem das lâmpadas fluorescentes, sendo elas: RL Higiene,
Mega Reciclagem, Apliquim Brasil Recicle, Tramppo, Hg Descontaminação, Naturalis
Brasil, Recitec e Sílex. A tabela 2 apresenta algumas dessas empresas e o valor cobrado
pelo serviço de descontaminação.
Tabela 2: Prestadores de serviços de tratamento de lâmpadas e custos inerentes.

Fonte: Adaptado de CUSSIOL, N.A.M. CICLO DE DEBATES SAÚDE SEM DANO – PROJETO
HOSPITAIS SAUDÁVEIS, 1, 2011, Belo Horizonte. Alternativas de substituição e descarte de
equipamentos que contém mercúrio.
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Cada uma dessas empresas emprega um tipo de técnica nos processos de


descontaminação e reciclagem das lâmpadas.
A Apliquim Brasil Recicle utiliza o processo de tratamento térmico, realizando o
processo de esmagamento e destilação. Na fase de destilação, ocorre a separação do
mercúrio do material fosforoso, pela elevação da temperatura a mais de 375ºC, ponto de
ebulição do mercúrio (JANG et al. 2005).
Na figura 3 é apresentado o esquema geral do processo de tratamento de
lâmpadas e reciclagem do mercúrio utilizado pela Apliquim Brasil Recicle.

Figura 3: Esquema geral de tratamento de lâmpadas fluorescentes utilizado na Apliquim Brasil Recicle
Fonte: Adaptado de Apliquim, 2009 apud Gerenciamento dos Resíduos de Mercúrio nos Serviços de
Saúde 2010 p.26
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A Mega Reciclagem utiliza o processo de trituração com tratamento químico,


que realiza o esmagamento e a contenção do mercúrio, durante a lavagem o vidro é
separado dos metais. A capacidade de tratamento da empresa é de 7.000.000
lâmpadas/ano (MOMBACH et al. 2008).
A Trampoo utiliza a técnica de sopro, o processo se consiste no sopro, trituração
do vidro tubular e sublimação do mercúrio. Na figura 4 observa-se os processos de
reciclagem da Trampoo.

Figura 4: Processo de reciclagem da Trampoo.


Fonte: Trampoo, 2006.

A Naturalis Brasil promove alternativas que viabilizam o descarte correto dos


resíduos colaborando com o gerenciamento dos mesmos em empresas e indústrias.
Possui um sistema que utiliza um tambor metálico de 200 litros, onde cerca de 850
lâmpadas trituradas são depositadas passando por um processo de filtragem dos
fragmentos de vidro, do mercúrio e do pó fosfórico.
A Ambiensys atua basicamente como a Naturalis utilizando o tambor metálico, o
que difere é a capacidade do mesmo, com capacidade para até 1.350 lâmpadas e o
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sistema eletrônico interno que conta com aspiração e filtragem em três fases, realizando
a operação a vácuo protegendo o operador de contaminações geradas pelo vapor de
mercúrio.

POTENCIAIS RISCOS OFERECIDOS AO TRABALHADOR NO PROCESSO


DE RECICLAGEM DE LÂMPADAS FLUORESCENTES

Com base nas Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho,


NR 9, NR6 e NR26 é possível analisar os principais riscos oferecidos durante as
atividades realizadas nos processos de reciclagem das lâmpadas fluorescentes e propor
medidas preventivas que visem a saúde e a segurança dos trabalhadores.
A NR 9 determina o PPRA – Plano de Prevenção de Riscos Ambientais, que se
trata de um conjunto de ações que visam antecipar, identificar, avaliar de forma
qualitativa e quantitativa os riscos ambientais presentes no ambiente de trabalho,
podendo ser estes riscos físicos, químicos e biológicos, sendo que de acordo com sua
concentração em relação aos níveis de exposição são capazes de gerar danos à saúde do
trabalhador. Na figura 6 pode-se observar um modelo de tabela utilizada no PPRA.
26

Figura 6: modelo de tabela utilizada no PPRA

A NR6 estabelece diretrizes e orientações quanto ao uso de equipamentos de


proteção individual (EPI).
A NR 26 estabelece diretrizes e orientações quanto a sinalização nos ambientes
de trabalho.

Riscos potenciais

Risco pode ser definido como a probabilidade ou chance de lesão ou morte, que
advém de uma exposição a um certo perigo, segundo a OHSAS 18001, perigo é toda
fonte, situação ou ato com potencial para provocar danos humanos em termos de lesão
ou doença. Nas atividades realizadas durante o processo de reciclagem das lâmpadas
fluorescentes os principais riscos existentes, são:

- Risco de acidentes: cortes no caso de quebra das lâmpadas ou da quebra do


tambor metálico, no momento da coleta manual e no momento do transporte.

- Riscos químicos: contaminação por inalação, no caso de quebra das lâmpadas


ou da quebra do tambor metálico, seguida da emissão de vapores de mercúrio.

Medidas preventivas

- De acordo com a NR6, anexo 1, uso de EPI’s como calçado para proteção dos
pés contra agentes cortantes e perfurantes, calça para proteção das pernas contra agentes
abrasivos e escoriantes, manga para proteção do braço e do antebraço contra agentes
cortantes e perfurantes, luvas para proteção das mãos contra agentes cortantes e
perfurantes, respirador purificador de ar não motorizado, PFF2 Carvão, protegendo as
vias respiratórias de poeiras, névoas e fumos, óculos para proteção dos olhos contra
impactos de partículas volantes.
- Treinamento qualificado da equipe e orientações no caso da ocorrência de
acidentes, pode ser realizado pela CIPA (comissão Interna de Prevenção de Acidentes)
que tem como objetivo prevenir acidentes e doenças no ambiente de trabalho.
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- O processo de gestão do risco deverá ser parte integrante da gestão de uma


organização, devendo ser aplicado na cultura, nas práticas e nos processos de negócio,
tal como apresentado na figura 6 (ISO/FDIS 31000, 2009)

Figura 6: Processo de Gestão do Risco


Fonte: Adaptado de ISO/FDIS 31000 (2009)

- Implantação do PPRA.

- Sinalizações e rotulagem preventiva indicando a presença de resíduos


perigosos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É indiscutível que embora as lâmpadas fluorescentes sejam mais econômicas e


possuam um longo tempo de vida útil, quando descartadas de forma incorreta podem
gerar grandes danos ao meio ambiente como por exemplo a contaminação de solos e
rios e a saúde humana, são classificadas como resíduos perigosos de acordo com a NBR
10004 e requerem deste modo uma destinação adequada, assim como as lâmpadas de
LED que geralmente são descartadas dentre os resíduos comuns por não existirem
técnicas para a efetiva segregação e reciclagem dos seus componentes.
28

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS e suas ferramentas como a


logística reversa e a educação ambiental se apresentam como uma excelente alternativa
para o descarte e reciclagem desse tipo de resíduo, contudo ainda não se dão de forma
efetiva, por existir a necessidade da realização de acordos setoriais, ampla divulgação a
respeito dos perigos do descarte incorreto ofertada tanto aos consumidores quanto as
empresas, indústrias e seus trabalhadores, criação e aplicações de legislações e
regulamentações específicas para estes tipos de resíduos, bem como o desenvolvimento
de estudos e tecnologias para a reciclagem das lâmpadas de LED.
Quanto ao setor da reciclagem de lâmpadas é indispensável que os trabalhadores
usem equipamentos de proteção individual diminuindo os riscos de acidentes e que os
empregadores ofereçam treinamentos adequados ao tipo de atividade, realizem a
implantação de programas como o PPRA e adotem medidas preventivas que visem a
saúde e a segurança dos trabalhadores.

REFERÊNCIAS

ABNT NBR 10004 – NORMA BRASILEIRA - Resíduos sólidos – Classificação, 2004.


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