Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2178-9010
DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i8.2553
1
Graduanda em Engenharia Química, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) -
Campus Salvador, R. Emídio dos Santos, s/n, Barbalho, Salvador - BA, CEP: 40301-015.
E-mail: patriciafag3@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8962-9029
2
Mestre em Regulação da Indústria de Energia pela Universidade Salvador (UNIFACS), R. Dr. José Peroba,
251, Stiep, Salvador - BA, CEP: 41770-235. E-mail: celso.lasaro@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0009-0001-6210-1101
3
Doutor em Energias Renováveis e Eficiência Energética pela Universidade de Zaragoza, C. de Pedro Cerbuna,
12, 50009 Zaragoza, Espanha. E-mail: durval@ifba.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6385-0078
4
Mestre em Regulação da Indústria de Energia pela Universidade Salvador (UNIFACS), R. Dr. José Peroba,
251, Stiep, Salvador - BA, CEP: 41770-235. E-mail:ernando@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0009-0002-6158-5877
5
Graduanda em Engenharia da Energia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) -
Campus Lauro de Freitas, R. São Cristóvão, s/n, Novo Horizonte, Lauro de Freitas - BA, CEP: 42700-000.
E-mail: vitoria.a.j.l@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0002-4843-8135
6
Doutor em Energia e Ambiente pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Av. Milton Santos, s/n, Ondina,
Salvador - BA, CEP: 40170-110. E-mail: marcelosilva@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6556-9041
7
Doutor em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Cidade Universitária
Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Campinas - SP, 13083-970. E-mail: edler@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5982-5267
8
Doutor em Gestão e Políticas Ambientais pela Universidade de Brasília (UNB), UnB - Brasília, DF,
CEP: 70910-900. E-mail: armando@ifba.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2041-6145
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12529
Resumo
Diante da tendência do crescimento exponencial da geração da energia elétrica solar
fotovoltaica nos últimos anos, torna-se imperativo o conhecimento e divulgação dos impactos
ambientais futuros desta tecnologia. E a geração dos resíduos dos painéis, apesar de terem a
vida útil estimada em 25 anos, mostra-nos um futuro sombrio, uma vez que a sua destinação
e tratamento precisa ser gerida de forma a minimizar seus efeitos tanto no ambiente, como na
saúde dos profissionais que lidar com eles. Este trabalho mostra os impactos ambientais na
destinação dos painéis de acordo com a geração construtiva, e seu enquadramento segundo
algumas normas internacionais e nacional (NBR 10004/2004). Tanto os painéis de primeira
(de silício cristalino), como os de segunda geração (CIGS, silício amorfo e CdTe) foram, por
autores e normas distintas, identificados todos como sendo resíduos perigosos. Os principais
impactos citados se referem aos efeitos da lixiviação desses metais pesados para o meio
ambiente, contaminação das águas subterrâneas e danos à saúde humana. Esforços praticados
para uma destinação ambiental desejada estão sedo insipientes, uma vez que a geração maior
a médio prazo. Até lá espera-se que tecnologias tenham sido desenvolvidas e o custo benefício
seja favorável ao desmonte do painel, para assim destinar somente os componentes metálicos
como resíduos perigosos para tratamento e reaproveitar o vidro e alumínio reinserindo-os na
cadeia produtiva destes dois produtos.
Palavras-chave: Resíduos de Painéis Solares. REEE. Resíduos Tecnológicos.
Abstract
Given the trend of exponential growth of solar photovoltaic power generation in recent years,
it is imperative to know and publicize the future environmental impacts of this technology.
And the generation of the panel waste, despite having an estimated useful life of 25 years,
shows us a bleak future, since its destination and treatment needs to be managed in such a way
as to minimize its effects both on the environment and on the health of the professionals who
deal with them. This work shows the environmental impacts in the destination of the panels
according to the constructive generation, and their framing according to some international
and national standards (NBR 10004/2004). Both the first (crystalline silicon) and second
generation panels (CIGS, amorphous silicon and CdTe) were, by different authors and
standards, all identified as hazardous waste. The main impacts cited relate to the effects of the
leaching of these heavy metals on the environment, groundwater contamination and damage
to human health. Practiced efforts for a desired environmental destination are being insipient,
since the generation larger in the medium term. Until then, it is expected that technologies
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12530
have been developed and the cost benefit will be favorable to the dismantling of the panel, in
order to destine only the metallic components as hazardous waste for treatment and to reuse
the glass and aluminum by reinserting them into the productive chain of these two products.
Keywords: Solar Panel Waste. WEEE. Technological Waste.
Introdução
Os últimos anos foram marcados por discussões intensas a respeito da crise energética.
A escassez hídrica em 2021, somada às políticas de redução das emissões de carbono no
ambiente são fatores impulsionadores para a busca de fontes alternativas de energia, com o
intuito de diversificar a matriz energética mundial. Nesse sentido, as principais fontes
renováveis, como a solar, eólica e biomassa são importantes para compor um cenário de
transição energética, visando a mudanças estruturais nas matrizes energéticas a médio e longo
prazo.
Diante desta realidade, a energia solar fotovoltaica vem ganhando espaço, seja no
âmbito da micro e mini geração (Geração Distribuída – GD), seja na grande geração (Geração
Centralizada – GC). De acordo com a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA,
2019), a projeção da capacidade total de energia solar fotovoltaica instalada no ano de 2020
foi de 709,67 MW, e estima-se um crescimento exponencial para esse tipo de tecnologia,
atingindo-se uma capacidade acumulada global projetada de 1.632 MW em 2030 e cerca de
4.512 MW em 2050 (Anselmo, 2019).
Entretanto, em relatório apresentado por IRENA (2016), são discutidas as primeiras
projeções globais para futuros volumes de resíduos de painel fotovoltaico até 2050,
estimando-se a produção anual de cerca de 60 milhões de toneladas, no caso de perdas
precoces (desgaste antes da vida útil de 30 anos) e outros 78 milhões de toneladas,
considerando a perda regular após 30 anos de uso, totalizando 138 milhões de toneladas
anuais.
Dentre esses resíduos, destaca-se a existência de alguns elementos valiosos na primeira
geração de painéis fotovoltaicos, como silício, prata, cobre, alumínio e vidro, bem como
materiais tóxicos, como cádmio, chumbo e outros metais pesados. No caso das células de
filmes finos, classificadas como sendo de segunda geração, que, apesar de serem
comercializados em uma escala menor, quando comparadas às de silício, também impactam
ao meio ambiente e à saúde humana (Anselmo, 2019).
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12531
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12532
Objetivos
Este artigo tem como objetivo principal relacionar os potenciais impactos ambientais
causados por componentes presentes nos painéis solares fotovoltaicos, de acordo com sua
geração construtiva. Como objetivos específicos, temos: Verificar quais são os componentes
de cada tipo de módulo fotovoltaico; identificar, através de estudos experimentais publicados
em artigos científicos, a presença de componentes tóxicos nos painéis solares; e determinar
os aspectos toxicológicos de cada material constituinte;
Metodologia
De acordo com Rother (2007), os artigos de revisão narrativa são trabalhos adequados
para descrever o “estado da arte” de um determinado tema, sob uma análise qualitativa, teórica
ou contextual. Constituem, de forma geral, na investigação da literatura já publicada em livros,
artigos, teses e dissertações e exercem uma função essencial para a educação continuada, uma
vez que possibilitam ao leitor o conhecimento atualizado e o cenário das produções científicas
a respeito de uma temática específica. Essa categoria de trabalho científico não necessita de
uma metodologia que expresse a reprodutibilidade dos dados, de forma que não fornecem
respostas quantitativas para questões específicas e nem precisam esgotar as fontes de
informação.
Dessa forma, o presente trabalho de revisão bibliográfica narrativa foi desenvolvida
por meio do levantamento de referências, de forma exploratória e qualitativa sobre o tema,
utilizando como palavras-chave os termos “solar panel”, “waste”, “environmental impact”, e
suas respectivas expressões em Português. As buscas foram realizadas no Portal de Periódicos
CAPES e no Google Acadêmico, no período de outubro de 2021 a março de 2022. Foram
priorizados trabalhos publicados nos últimos 10 anos, a fim de melhor descrever o cenário
atual acerca do tema.
Para a análise das informações obtidas foi utilizada a Análise de Conteúdo, de grande
relevância para descrever e interpretar conteúdo. Esse tipo de análise é estruturada em três
etapas: i. pré-análise, ii. exploração do material e iii. tratamento dos resultados, inferência e
interpretação (Bardin, 2010).
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12533
A camada mais externa é composta por vidro temperado, que tem a função de proteger
as células de choques mecânicos para garantir maior durabilidade. A camada do meio são as
células fotovoltaicas feitas de silício, aderidas aos filamentos de metal. Elas são protegidas e
isoladas pela camada frontal e posterior do material de encapsulamento denominado Acetato
de Vinil Etileno (EVA), que pode evitar o deslocamento irregular das células devido a
eventuais impactos (Cruz; Isidoro; Santos, 2020 e Matavelli, 2013).
Por fim, na quinta camada encontra-se o filme posterior isolante, resultante da
combinação de polímeros, tais como o fluoreto de polivinila (PFV ou Tedlar®), tereftalato de
polietileno (PET), dentre outros (Pinho e Galdino, 2014). Esse filme, também denominado
backsheet, é um isolante elétrico, cuja finalidade é proteger o painel posterior da umidade e
de gases atmosféricos. Na parte traseira, existe uma caixa de junção encarregada pela ligação
de todos os módulos (Cruz; Isidoro; Santos, 2020). A Tabela 1 apresenta uma composição
típica de um painel de primeira geração.
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12534
Vidro 60-75
EVA 6-8
A composição dos painéis de silício cristalino pode variar de diversas formas, embora
dentro de certos limites. Devido à evolução das tecnologias e materiais utilizados, a estrutura
dos painéis vem sofrendo várias modificações ao longo dos anos, como é o caso das
tecnologias PERC (Passivated Emitter Rear Cell), half-cells e double glass. Nesse sentido, até
mesmo a quinta camada pode ser composta por vidro, no lugar do filme em PVF (Tammaro
et al, 2015).
No geral, os eletrodos frontais utilizados nos contatos elétricos eram de ligas de baixo
ponto de fusão compostas por chumbo e estanho, e mais tarde foram substituídas por prata.
Da mesma forma, os eletrodos traseiros eram confeccionados com misturas, também à base
de estanho e chumbo, sendo substituídos por materiais à base de alumínio e prata. O restante
das ligações elétricas entre as células é feita por meio de tiras de cobre, as quais são revestidas
por uma liga de baixo ponto de fusão, podendo ser à base de chumbo ou de prata, dependendo
do ano da fabricação e da marca. Já nas pastas utilizadas nas soldas, também empregam-se o
chumbo e o estanho, podendo ser substituídos de forma total ou parcial por prata (Tammaro
et al, 2015).
Além disso, aos wafers de silício é adicionada uma camada anti-reflexo, a fim de
reduzir o coeficiente de reflexão até cerca de 1%, bem como conferir resistência à corrosão.
Nesse tratamento anti-reflexo, geralmente utiliza-se o dióxido de titânio (TiO2), que confere
às células de silício monocristalino sua clássica cor preta ou azul (Tammaro et al, 2015).
A depender do ano de fabricação dos painéis, a participação desses metais pode variar,
conforme verificado, através de análise por espectrometria de fluorescência de raios X, pelos
autores Benevit e Veit (2014), dois módulos de silício cristalino apresentam diferentes
porcentagens de metais, como é possível visualizar na Tabela 2.
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12535
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12536
camada de TCO, dessa vez de óxido de zinco (ZnO) e, logo após, um contato metálico traseiro,
geralmente confeccionado em prata (Ag) (Pinho e Galdino, 2014).
A tecnologia de CdTe é semelhante, mas geralmente as regiões “n” e “p” são formadas
por uma camada de sulfeto de cádmio (CdS) e de telureto de cádmio (CdTe), respectivamente.
Essa combinação dá origem à chamada heterojunção, que é uma junção “p-n” constituída por
dois semicondutores diferentes (Pinho e Galdino, 2014). Quando esta, utiliza como substrato
o vidro (além da camada de TCO, também em SnO2), outros substratos são utilizados
atualmente, como a poli-imida, polietilenotereftalato (PET), naftalato de polietileno (PEN),
folhas de metal como aço inoxidável e titânio (Ti) (Ramanujam et al, 2020). Além disso,
utiliza-se como contato traseiro uma deposição de telureto de zinco na superfície do metal
(Falcão, 2005).
Já as células de CIGS apresentam, no geral, uma configuração Substrato-Mo-CIGS-
CdS-TCO(ZnO), sendo que o substrato pode ser vidro. O molibdênio atua como contato
traseiro e o disseleneto de cobre, índio, gálio e selênio exerce a função de semicondutor do
tipo “p”, absorvendo a luz solar. O CdS é, portanto, o semicondutor do tipo “n” da junção
fotovoltaica, e o TCO o contato frontal, tal como o óxido de zinco (ZnO).
Ao contrário dos painéis de silício cristalino, não foram encontrados, até o momento
de realização da presente pesquisa, dados concretos comparativos da composição em massa
de cada um dos componentes presentes nas tecnologias de segunda geração, uma vez que
esses dispositivos apresentam grande variabilidade no processo de confecção. No entanto, nas
seções seguintes, resultados de análises experimentais de testes de lixiviação proporcionarão
certa percepção da quantidade de metais presentes nos painéis desse tipo.
De forma geral, verifica-se que as células de filmes finos são as que apresentam maior
ocorrência (não é possível afirmar em termos de quantidade, em massa) de compostos
derivados de metais pesados, como cádmio e chumbo, conhecidos pela alta toxicidade. No
entanto, em sua maior parte, esses metais aparecem na forma de derivados e é necessário
investigar seu comportamento e estabilidade, principalmente em um cenário de descarte
irregular ou em aterros sanitários. Portanto, na próxima seção, será investigada a toxicologia
desses materiais, a fim de verificar seus possíveis danos ao meio ambiente.
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12537
silício e aos compostos poliméricos utilizados comumente (EVA, PFV), conforme descrito na
seção 3.1. Em seguida, uma análise dos metais presentes na composição dos painéis será
realizada. A análise individual de cada componente não tem o intuito de classificar
parcialmente o material quanto a NBR 10004/2004 – Classificação de resíduos, mas sim
estabelecer informações quanto aos seus aspectos toxicológicos. Apenas ao final de toda a
análise será possível sugerir a classificação do resíduo do painel solar como um todo, dentre
as categorias: classe I, perigosos; classe II, não perigosos; classe IIA, não perigosos e não-
inertes; e classe IIB, não perigosos e inertes.
a) Vidro
De acordo com Maia (2017), o principal componente do vidro é a sílica. No entanto,
na fabricação dos painéis solares, o vidro utilizado deve apresentar baixo teor em ferro, para
que haja maior passagem de luz possível, além disso, deve ser temperado, para garantir a
integridade física do painel.
Em conformidade com os resultados experimentais de Benevit e Veit (s.d), foi
verificado que o vidro, pelo menos para módulos de primeira geração, conforme analisado
pelos autores, pode ser tratado como vidro comum, uma vez que não apresenta nenhum
componente diferenciado. Os resultados obtidos através de análise por espectrometria de
fluorescência de raios X para dois módulos de diferentes fabricantes de silício cristalino
encontram-se representados na Tabela 3.
Analito Porcentagem média nas De forma geral, o vidro é composto por dióxido de silício, que
amostras¹ apresenta como uma das principais propriedades o caráter
inerte, exceto em contato com ácido fluorídrico e com ácido
SiO2 78,72% fosfórico (Maia, 2017). De acordo com a NBR 10004/2004,
os vidros são classificados como resíduos não perigosos
CaO 13,44% (categoria inerte classe II B). Sendo assim, apesar de não
constituir um perigo direto à saúde humana, perde-se a
Na2O 2,54% oportunidade de economizar matéria-prima e energia.
MgO 1,46%
Al2O3 1,59%
SO3 0,60%
K2O 0,37%
Fe2O3 0,23%
Tabela 3 - Composição do vidro utilizado nos painéis de silício cristalino.
¹ Valor obtido pela média aritmética das porcentagens das duas amostras de módulos de primeira geração.
Fonte: Adaptado de Benevit e Veit (2014)
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12538
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12539
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12540
De acordo com a seção 3.1, a célula dos painéis solares de primeira geração é composta
por silício, cobre, prata, cromo, chumbo, alumínio e estanho. Já os de segunda geração, por
telúrio, cádmio, molibdênio, prata, cromo, cobre, índio e gálio. Os resíduos desses tipos de
materiais, quer sejam de primeira ou de segunda geração, podem ser extremamente perigosos
e tóxicos, caso sejam lixiviados para o meio ambiente. Além disso, os painéis fotovoltaicos
podem ser suscetíveis a danos acidentais devido a incêndios, choque térmico ou agentes
atmosféricos em aterros sanitários ou em outros locais impróprios nos quais forem
abandonados de forma incorreta. Nesses casos, os módulos danificados quando expostos à
chuva, os lixiviados resultantes podem chegar facilmente ao meio aquático e terrestre
(Tammaro et al., 2016). No entanto, para quantificar a toxicidade desses metais, as normas
técnicas de classificação desses resíduos determinam as condições experimentais necessárias
e as concentrações máximas permitidas do analito em ensaios de lixiviação e de solubilização.
Esses padrões variam de acordo com as políticas normativas de cada país (Cyrs et al., 2014).
Diversos autores (Cyrs et al., 2014; Dias, 2015; Tammaro et al., 2015; Tammaro et al.,
2016; Ramos-Ruiz et al, 2017; Benevit e Veit, 2014.) realizaram caracterizações
experimentais para quantificação de metais pesados em ensaios de lixiviação de amostras de
painéis solares de silício cristalino e de segunda geração.
e) Cádmio
Cyrs et al. (2014) realizam um estudo complexo a respeito dos possíveis riscos à saúde
humana decorrentes do descarte de painéis de CdTe em aterros sanitários. A principal
preocupação decorrente dessa situação é a liberação de cádmio e a exposição do ser humano
a esse material, seja através da ingestão de água contaminada, seja pelo contato dérmico e pela
inalação de partículas suspensas. A exposição ao cádmio tem sido associada a várias doenças,
como a osteoporose, disfunção renal, hipertensão e outros, dependendo da dose e da via de
exposição. Além disso, diversos órgãos da saúde já o classificaram como Grupo B1
(provável); Tipo 1 (conhecido); e A2 (suspeito) carcinógeno humano, respectivamente
(ACGIH (American Conference of Industrial Hygienists), 2001; EPA (Environmental
Protection Agency), 1987; IARC (International Agency for Research on Cancer), 1993).
No entanto, conforme afirmam Cyrs et al. (2014), Farrel et al. (2019) e Tammaro et al.
(2015), as células fotovoltaicas estão encapsuladas de tal forma que o cádmio que está ligado
a uma matriz ou envolto em uma estrutura não é prontamente biodisponível e,
subsequentemente, é menos provável de ser tóxico do que o cádmio que é altamente solúvel.
Logo, o cádmio em painéis fotovoltaicos de CdTe que é encapsulado entre espessas camadas
de material impermeável não é muito solúvel. Tal fato, considerando também uma perspectiva
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12541
de cenário de pior caso, no qual o cádmio é lixiviado dos resíduos, levaram aos autores a
verificar que a disposição em aterros de painéis de CdTe não representa um perigo para a
saúde humana nos atuais volumes de produção (Cyrs et al., 2014).
Por outro lado, o estudo de Ramos-Ruiz et al. (2017) verificou que a maior liberação
de Cd e Te será esperada como resultado do baixo pH prevalecente no ambiente do aterro,
fase característica de um aterro “jovem”. Em aterros denominados maduros, nas quais
prevalece a fase metanogênica, em que é proeminente o pH alcalino, a baixa corrosão do CdTe
causada pelas condições altamente redutoras no ambiente do aterro permite apenas a liberação
superficial de espécies solúveis de Cd e Te.
No Brasil, a NBR 10005 determina o procedimento para obtenção de extrato lixiviado
de resíduos sólidos e a NBR 10004 estabelece o limite de concentração máxima permitida
para a classificação desses resíduos como Classe II, não-perigosos. Em conjunto com o ensaio
de solubilização e os padrões estabelecidos pelo anexo G da norma, a classificação quanto a
classe II pode se dar em não inerte, classe IIA ou inerte, classe IIB.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos usa o Procedimento de
Lixiviação de Características de Toxicidade (TCLP) para caracterizar o potencial de lixiviação
de um resíduo sólido quando descartado em um aterro sanitário e determinar se um material
residual deve ser classificado como perigoso de acordo com sua característica tóxica. Se o
resíduo falhar no teste TCLP, ele deve ser armazenado em um depósito temporário de resíduos
perigosos. O limite de TCLP para cádmio é de 1 mg/L (Ramos-Ruiz et al, 2017). Enquanto
alguns estudos de lixiviação de TCLP relataram concentrações de Cd inferiores a 1 mg/L
(Sinha e Wade, 2015), outros obtiveram concentrações de Cd superiores a 9 mg/L para células
solares de CdTe (CYRS et al., 2014), e portanto, deveriam ser classificados como resíduos
perigosos.
Em contrapartida, no estudo de Dias (2015), para painéis de primeira geração, os
resultados obtidos através da espectroscopia de absorção atômica para a solução resultante do
ensaio de lixiviação (NBR 10005) indicaram a não detecção de cádmio nas amostras, ou seja,
valor inferior ao limite de 0,5 mg/L, conforme representado na Tabela 4.
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12542
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12543
amostras analisadas excediam em mais de 5 vezes o limite máximo determinado pela NBR
10004/2004, enquadrando-o como resíduo classe I, perigosos. É possível observar também a
discrepância na concentração do lixiviado entre as amostras obtidas por Dias (2015)
(conforme disposto na Tabela 4), corroborando o fato de que painéis de uma mesma tecnologia
podem apresentar composições diferentes de metais, de acordo com o ano de produção. O Pb
pode ser extremamente danoso se absorvido pelo ser humano, seja pela ingestão ou pela
inalação de partículas suspensas, uma vez que é capaz de depositar-se nos ossos, afetando
todos os sistemas e órgãos, incluindo o sistema nervoso central e periférico (Moreira e
Moreira, 2004).
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (International Agency for
Research on Cancer - IARC) classificou o chumbo inorgânico e os compostos de chumbo
como "possivelmente carcinogênicos para humanos" (grupo 2B). Nos Estados Unidos, o
chumbo ocupa o segundo lugar em uma lista das 20 substâncias mais perigosas, ficando atrás
apenas do arsênio (World Health Organization, 1995).
g) Cromo
Apesar de no estudo realizado na seção 3.1 não ser descrita a participação do cromo
na composição dos painéis solares, Dias (2015) verificou quantidades de cromo nas amostras
de painéis de silício cristalino submetidas ao ensaio de lixiviação bem abaixo do limite
máximo permitido pela NBR 10004, como mostra a Tabela 4. No entanto, em experimentos
realizados por Tammaro et al (2016), esse valor excedeu em 10 vezes os limites da legislação
europeia para a água potável (Diretiva 98/83/CE), no caso dos painéis de filmes finos de silício
amorfo. Dado que o cromo é usualmente empregado na fabricação de ligas metálicas,
provavelmente a parcela desse material encontrado pelos autores em seus testes de lixiviação
possivelmente pode estar presente nos contatos metálicos, uma vez que o mesmo confere
resistência à oxidação, ao desgaste e ao atrito (CETESB, 2017).
A forma metálica do Cromo não é encontrada livre na natureza e a sua toxicidade
depende de seu estado de oxidação, sendo o crômio (VI) mais tóxico que o crômio (III). A
ingestão acidental de altas doses de compostos de cromo (VI) pode causar falência renal aguda
caracterizada por perda de proteínas e sangue na urina. Já o cromo (III) é um nutriente
essencial para o ser humano, atuando na manutenção do metabolismo da glicose, lipídeos e
proteínas, e a deficiência do cátion acarreta prejuízo na ação da insulina. Além disso, o cromo
metálico e a sua forma trivalente são caracterizados pela Agência Internacional de Pesquisa
em Câncer - IARC como não carcinogênicos. No entanto, os compostos de crômio (VI) são
classificados pela mesma agência como cancerígenos para o ser humano (CETESB, 2017).
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12544
Ademais, a NBR 10004/2004 classifica o cromo como substância que confere periculosidade
aos resíduos. Até o momento não foram encontradas informações sobre a possibilidade de
lixiviação desse material dos painéis fotovoltaicos em condições de aterro sanitário.
h) Prata
De acordo com o exposto na seção 3.1, a prata geralmente constitui em torno de 1,4%
em massa do peso da célula fotovoltaica e está presente nos contatos metálicos, substituindo
o uso do chumbo ao longo dos anos. No entanto, conforme descrito na Tabela 4, o autor Dias
(2015) não obteve quantidades detectáveis desse material, para um limite de detecção de 0,015
mg/L determinado pelo método utilizado. Por outro lado, os autores Tammaro et al (2016),
chegaram a encontrar uma quantidade de até 6,938 mg/L de prata em painel de silício
cristalino, de acordo com os procedimentos experimentais adotados para obter as
concentrações de metal detectadas em lixiviados de painéis de silício cristalino e de filmes
finos.
Apesar de ser classificada como metal pesado, não há menção nas diretivas 98/83/CE
e 2000/60/CE quanto aos limites máximos de prata permitidos por essas leis. No entanto, para
os experimentos padrões adotados pela NBR 10005/2004, o limite máximo permitido nos
ensaios de lixiviação é de 5,0 mg/L. Além disso, a NBR 10004/2004 classifica a prata como
substância que confere periculosidade aos resíduos, ainda que seja um material tido como
menos tóxico que o chumbo.
Quanto à toxicidade, Dos Santos, Colasso e Moneró (2015) apontam que, a depender
da dose e do tempo de exposição, a prata pode provocar efeitos dermatológicos,
imunológicos e neurológicos, além da perda de peso. Outrossim, os dados experimentais
indicam que o efeito letal em ratos foi observado apenas após a exposição a compostos de
prata inorgânica em doses extremamente altas.
i) Cobre
De acordo com a Tabela 2, é esperado encontrar cerca de 0,04% a 1,85% em massa de
cobre, com relação ao peso total da célula de silício cristalino. No caso nos painéis de filmes
finos, esse percentual é igual a 0, 0,85% e 1% para as tecnologias de silício amorfo, CIS e
CIGS, respectivamente (Dias, 2015). O cobre está presente nos filamentos metálicos nesses
painéis, e no caso das tecnologias de filmes finos, na composição das células fotovoltaicas de
CIGS, sob a forma de liga metálica.
Tammaro et al (2016), em seus ensaios de teste de lixiviação, verificou que apenas um
painel, com tecnologia CIGS, ultrapassou em 6 vezes os limites da lei italiana para águas
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12545
urbanas e industriais lançadas no solo (D.lgs 152/06). Não foram encontrados dados de teste
de lixiviação do cobre em painéis solares seguindo a NBR 10004/2004.
O cobre naturalmente ocorre na natureza e constitui um micronutriente essencial para
a vida, sendo normalmente de fácil regulação pelo organismo. No entanto, quando presente
em altas concentrações, o cobre pode causar danos ao fígado, aos rins e ao cérebro. Em estudo
realizado por Kemerich et al (2014), foi verificado que um determinado aterro analisado
apresentava contaminação no solo por esse metal, constatando-se que o mesmo, por conta da
localização, poderia atingir e contaminar o solo e os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, pondo em risco a população que vive nas proximidades da área.
j) Alumínio
A principal utilização do alumínio nos painéis é na moldura que os envolve, mas,
conforme descrito na seção 3.1, também pode compor os eletrodos traseiros. Sobre a
ocorrência desse metal, Tammaro et al (2016), verificou, em ensaios de teste de lixiviação,
que cerca de 76,9% das amostras de painéis solares de silício cristalino analisados
ultrapassaram os limites da legislação europeia para água potável (Diretiva 98/83/CE). Já para
os painéis solares de filmes finos, praticamente todos ultrapassaram o limiar estabelecido pela
lei italiana para águas urbanas e industriais lançadas no solo (D.lgs 152/06) e pela legislação
europeia para água potável (Diretiva 98/83/CE).
k) Estanho
A utilização do estanho nos painéis é, principalmente, na composição das ligas
empregadas como contatos metálicos, eletrodos frontais e pastas de solda. No entanto, nos
painéis fabricados mais recentemente, observa-se uma tendência na substituição desse
material por prata. O estanho é um metal resistente a corrosão e quimicamente estável. Por ser
pouco solúvel em água, a Organização Mundial da Saúde classifica-o como pouco tóxico, não
representando um problema para a saúde humana, tendo em vista a baixa absorção e rápida
excreção. No entanto, é preciso que se preocupe com a recuperação desse metal, tendo em
vista que a mineração para a sua obtenção é um processo com relevante impacto ambiental
(Savazzi, 2013).
l) Índio, Gálio, Telúrio e Molibdênio
Os painéis em CIGS e CdTe, dentre as tecnologias por esse estudo analisadas, são os
que apresentam maior ocorrência de metais raros, como o índio, o gálio e o telúrio. Além
disso, conforme representado na Figura 2, o CIGS é, dentre as 3 tecnologias de filmes finos,
a única que emprega molibdênio como contato traseiro.
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12546
Os resultados dos estudos realizados pelos autores Cyrs et al (2014), Dias (2015),
Benevit e Veit (2014), Tammaro et al (2016) e Ramos-Ruiz et al (2017) permitiram a
avaliação quantitativa para a verificação da periculosidade dos resíduos de painéis solares.
Cada trabalho, no entanto, utilizou métodos diferentes, conforme as regulamentações locais,
dentre elas: a Regulamentação Europeia (Diretiva 98/83/CE); Regulamentação Italiana (D.lgs
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12547
Lei Federal de
Regulamentação
Regulamentaçã Conservação e
Geração dos Europeia NBR 10004 /
o Italiana (D.lgs Recuperação de
Painéis (Diretiva 2004
152/06) Recursos (RCRA)
98/83/CE)
– EPA
Dias (2015);
Silício Tammaro et al Tammaro et al
Primeira Benevit e Veit
cristalino (2016) (2016)
(2014)
Tammaro et al Tammaro et al
CIGS
(2016) (2016)
Silício Tammaro et al Tammaro et al
Segunda
amorfo (2016) (2016)
Tammaro et al Tammaro et al Ramos-Ruiz et al
CdTe
(2016) (2016) (2017)
Quadro 1 - Autores que classificam os resíduos de painéis FV como perigosos e seus regulamentos legais
Fonte: Autores (2022).
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12548
os resíduos dos painéis de CdTe como perigosos. Os autores verificaram que a taxa de
liberação de cádmio e de telúrio depende das condições biogeoquímicas prevalecentes durante
as diferentes etapas de um aterro. Em um aterro “jovem”, é esperado que o pH prevalecente
no ambiente seja baixo e portanto, haja uma liberação desses metais em maior extensão,
quando comparado a um aterro “maduro”, em que a baixa corrosão do CdTe causada pelas
condições altamente redutoras no ambiente do aterro permite apenas uma pequena liberação
de espécies solúveis de Cd e Te.
Conclusão
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12549
pela NBR 10004/2004. Os painéis de segunda geração de CIGS e silício amorfo foram
classificados como perigosos por 1 autor, de acordo com as diretivas europeia e italiana; já os
painéis de CdTe foram classificados por 2 autores também como perigosos, pelas leis
europeia, italiana e Lei Federal de Conservação e Recuperação de Recursos, dos Estados
Unidos.
De forma geral, esses resultados se devem principalmente pela presença de metais
perigosos nos ensaios de lixiviação, como o Pb, no caso de painéis de silício, e de Pb, Cr, Cd
e Ni, em painéis de segunda geração, sendo uma indicação clara do potencial risco ambiental
desse tipo de resíduo. Os principais impactos citados se referem aos efeitos da lixiviação
desses metais pesados para o meio ambiente, contaminação das águas subterrâneas, danos à
saúde humana, assim como pela depleção dos recursos naturais para a sua extração. No
entanto, destaca-se que o EVA presente nos painéis de primeira geração pode exercer um
efeito encapsulante nas células fotovoltaicas, o que dificultaria a lixiviação dos metais pesados
para o meio ambiente. Alguns autores consideraram essa possibilidade em seus estudos, mas
também trabalharam em um cenário em que esse fenômeno não aconteceria.
Conhecida a classificação dos resíduos de painéis solares e seus principais
componentes, pesquisas futuras podem ser direcionadas para o uso de componentes químicos
de menor toxicidade e que também tenham uma alta eficiência na geração da energia elétrica.
Agradecimentos
Ao Instituto Federal da Bahia – IFBA através dos editais 05/2020 DPGI/DIREC e 15/2021
PRPGI pelo incentivo à pesquisa nesse tema.
Referências
Amarakoon, S.; Vallet, C.; Curran, M. A.; Haldar, P., Metacarpa, D., Fobare, D.; Bell, J.
(2018). Life cycle assessment of photovoltaic manufacturing consortium (PVMC)
copper indium gallium (di) selenide (CIGS) modules. The International Journal of
Life Cycle Assessment, v. 23, n. 4, pp. 851-866. DOI: 10.1007/s11367-017-1345-4.
Amato, A.; Beolchini, F. (2018). End‐of‐life CIGS photovoltaic panel: A source of secondary
indium and gallium. Progress in Photovoltaics: Research and Applications, v. 27, n.
3, pp. 229-236. Recuperado de
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/pip.3082.
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12550
Recuperado de https://repositorio.ucs.br/xmlui/handle/11338/5109;jsessionid=
4550C378DEC0DD0BDA2BD7BB39AB5468.
Anselmo, A.H. et al. (2019). Reciclagem ou destinação final dos painéis fotovoltaicos
aplicados em geração de energia ao final do ciclo de vida. Monografia (Pós-graduação
em Energias Renováveis) - Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte. Recuperado de
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/35049.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2004). NBR 10005: Procedimento para obtenção
de extrato lixiviado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro.
Benevit, M.G.; Veit, H.M. (2014). Painéis solares de silício cristalino: caracterização e
métodos de separação de componentes. Repositório Digital da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul - LUME. Recuperado de
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/112837/Poster_35134.pdf?sequen
ce=2.
Celik, I.; Lunardi, M.; Frederickson, A.; Corkish, R. (2020). Sustainable End of Life
Management of Crystalline Silicon and Thin Film Solar Photovoltaic Waste: The
Impact of Transportation. Applied Sciences. v. 10, n. 16, pp. 5465.
https://doi.org/10.3390/app10165465.
CETESB. (2017). Crômio e seus compostos. FIT - Ficha de Informação Toxicológica, São
Paulo. Recuperado de: https://cetesb.sp.gov.br/laboratorios/wp-
content/uploads/sites/24/2013/11/Cromio.pdf.
Cruz, F.T., et al. (2020). Descarte, reciclagem e logística reversa: análise do fim de vida útil
dos painéis fotovoltaicos. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 9, p. 73294-
73309. Recuperado de
https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/17469.
Cyrs, W.D.; Avens, H.J; Capashaw, Z.A.; Kingsbury, R.A.; Sahmel, J.; Tvermoes, B.E.
(2014). Landfill waste and recycling: Use of a screening-level risk assessment tool for
end-of-life cadmium telluride (CdTe) thin-film photovoltaic (PV) panels. Energy
Policy, v. 68, pp. 524-533. https://doi.org/10.1016/j.enpol.2014.01.025.
Danz, P.; Aryan, V.; Mohle, E.; Nowara, N. (2019). Experimental Study on Fluorine Release
from Photovoltaic Backsheet Materials Containing PVF and PVDF during Pyrolysis
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12551
Dos Santos, C. E. M.; Colasso, C.; Moneró, T. O. (2014). Aspectos toxicológicos da exposição
à prata. RevInter - Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7,
n. 1, p. 05-23, fev. https://doi.org/10.22280/revintervol7ed1.163.
IRENA – International Renewable Energy Agency. (2019). Solar Energy Data. Abu Dhabi,
Recuperado de https://www.irena.org/solar.
Jacob Neto, J.; Rosseto, C. A. V. (1998). Concentração de nutrientes nas sementes: o papel
do molibdênio. Floresta e Ambiente, v. 5, n. 1, p. 171-183. Recuperado de
https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/concentracao.nutrientes.semente
s_000flmkosgs02wyiv80kxlb366fpxlb5.pdf.
Kemerich, P. D. da C.; Flores, C. E. B.; Borba, W. F. de; Gerhardt, A. E.; Flores, B. A.;
Rodrigues, A. C.; Barros, G. (2014). Indicativo de contaminação ambiental por metais
pesados em aterro sanitário. Revista Monografias Ambientais, [S. l.], v. 13, n. 4, p.
3744–3755. https://doi.org/10.5902/2236130814441
Lima, A.A. et al. (2020). Uma revisão dos princípios da conversão fotovoltaica de energia.
Rev. Bras. Ensino Fís., São Paulo, v. 42. DOI: 10.1590/1806-9126-rbef-2019-0191.
Lima, R.M.C. et al. (2017). Caracterização de células solares de filmes finos de CIGS.
Matéria (Rio de Janeiro) [online], v. 22, n. Suppl 1. https://doi.org/10.1590/S1517-
707620170005.0261>
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12552
Matavelli, A.C. (2013). Energia solar: geração de energia elétrica utilizando células
fotovoltaicas. Monografia (Bacharelado em Engenharia Química) – Escola de Lorena,
Unidade de São Paulo, Lorena. Recuperado de
https://sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2013/MEQ13015.pdf.
Meng, T. T. (2014). Volatile organic compounds of polyethylene vinyl acetate plastic are toxic
to living organisms. The Journal of Toxicological Sciences, v. 39, n. 5, pp. 795–802.
https://doi.org/10.2131/jts.39.795.
Moreira, F. R.; Moreira, J. C. (2004). Os efeitos do chumbo sobre o organismo humano e seu
significado para a saúde. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 15, p. 119-129.
Recuperado de https://scielosp.org/article/rpsp/2004.v15n2/119-129.
Pinho, J. T.; Galdino, M. A. (2014). Manual de Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos. Rio
de Janeiro: CEPEL - CRESESB. Recuperado de
http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/manual_de_engenharia_fv_2014.
pdf.
PV TECH. (2019). Top 10 solar module suppliers in 2018. Londres. Disponível em:
https://www.pv-tech.org/top-10-solar-module-suppliers-in-2018/. Acesso em 17 jan.
2022.
Ramanujam, J. et al. (2020). Flexible CIGS, CdTe and a-Si:H based thin film solar cells: A
review. Progress in Materials Science, v. 110.
https://doi.org/10.1016/j.pmatsci.2019.100619
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12553
Sinha, P.; Wade, A. (2015). Assessment of Leaching Tests for Evaluating Potential
Environmental Impacts of PV Module Field Breakage. IEEE Journal of Photovoltaics,
v.5, n.6, pp. 1710-1714. https://doi.org/10.1109/JPHOTOV.2015.2479459.
Souza, A. K. R.; Morassuti, C. Y.; de Deus, W. B. (2018). Poluição do ambiente por metais
pesados e utilização de vegetais como bioindicadores. Acta Biomedica Brasiliensia, v.
9, n. 3, p. 95-106. DOI: 10.18571/acbm.189.
Tammaro, M.; Rimauro, J.; Fiandra, V.; Salluzzo, A. (2015). Thermal treatment of waste
photovoltaic module for recovery and recycling: Experimental assessment of the
presence of metals in the gas emissions and in the ashes. Renewable Energy, v. 81, p.
103-112. https://doi.org/10.1016/j.renene.2015.03.014
Tammaro, M.; Salluzzo, A.; Rumauro, J.; Schiavo, S. Manzoa, S. (2016). Experimental
investigation to evaluate the potential environmental hazards of photovoltaic panels.
Journal of Hazardous Materials, v. 306, p. 395-405.
https://doi.org/10.1016/j.jhazmat.2015.12.018.
Villalva, M. G. (2020). Filmes finos CIGS: uma alternativa ao silício cristalino. Boletim Canal
Solar, Campinas. Recuperado de https://canalsolar.com.br/artigos/artigos-
tecnicos/item/551-
World Health Organization. (1995). Environmental health criteria 165: inorganic lead. Em:
IPCS (International Programme on Chemical Safety). Geneva: WHO.
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 8, 2023, p. 12528-12553.