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Revista GeSec

São Paulo, SP, Brasil v. 14,


n. 8, p. 12528-12553,2023

ISSN: 2178-9010

DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i8.2553

Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos


ambientais e toxicológicos

Wastes from photovoltaic solar panels: a review of environmental and


toxicological impacts

Patrícia Fagundes Góes1


Celso Lásaro de Sousa Filho2
Durval de Almeida Souza3
Ernando Ferreira4
Vitoria Alice Jorge Lopes5
Marcelo Santana Silva6
Édler Lins de Albuquerque7
Armando Hirohumi Tanimoto8

1
Graduanda em Engenharia Química, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) -
Campus Salvador, R. Emídio dos Santos, s/n, Barbalho, Salvador - BA, CEP: 40301-015.
E-mail: patriciafag3@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8962-9029
2
Mestre em Regulação da Indústria de Energia pela Universidade Salvador (UNIFACS), R. Dr. José Peroba,
251, Stiep, Salvador - BA, CEP: 41770-235. E-mail: celso.lasaro@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0009-0001-6210-1101
3
Doutor em Energias Renováveis e Eficiência Energética pela Universidade de Zaragoza, C. de Pedro Cerbuna,
12, 50009 Zaragoza, Espanha. E-mail: durval@ifba.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6385-0078
4
Mestre em Regulação da Indústria de Energia pela Universidade Salvador (UNIFACS), R. Dr. José Peroba,
251, Stiep, Salvador - BA, CEP: 41770-235. E-mail:ernando@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0009-0002-6158-5877
5
Graduanda em Engenharia da Energia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) -
Campus Lauro de Freitas, R. São Cristóvão, s/n, Novo Horizonte, Lauro de Freitas - BA, CEP: 42700-000.
E-mail: vitoria.a.j.l@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0009-0002-4843-8135
6
Doutor em Energia e Ambiente pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Av. Milton Santos, s/n, Ondina,
Salvador - BA, CEP: 40170-110. E-mail: marcelosilva@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6556-9041
7
Doutor em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Cidade Universitária
Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Campinas - SP, 13083-970. E-mail: edler@ifba.edu.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5982-5267
8
Doutor em Gestão e Políticas Ambientais pela Universidade de Brasília (UNB), UnB - Brasília, DF,
CEP: 70910-900. E-mail: armando@ifba.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2041-6145
Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12529

Resumo
Diante da tendência do crescimento exponencial da geração da energia elétrica solar
fotovoltaica nos últimos anos, torna-se imperativo o conhecimento e divulgação dos impactos
ambientais futuros desta tecnologia. E a geração dos resíduos dos painéis, apesar de terem a
vida útil estimada em 25 anos, mostra-nos um futuro sombrio, uma vez que a sua destinação
e tratamento precisa ser gerida de forma a minimizar seus efeitos tanto no ambiente, como na
saúde dos profissionais que lidar com eles. Este trabalho mostra os impactos ambientais na
destinação dos painéis de acordo com a geração construtiva, e seu enquadramento segundo
algumas normas internacionais e nacional (NBR 10004/2004). Tanto os painéis de primeira
(de silício cristalino), como os de segunda geração (CIGS, silício amorfo e CdTe) foram, por
autores e normas distintas, identificados todos como sendo resíduos perigosos. Os principais
impactos citados se referem aos efeitos da lixiviação desses metais pesados para o meio
ambiente, contaminação das águas subterrâneas e danos à saúde humana. Esforços praticados
para uma destinação ambiental desejada estão sedo insipientes, uma vez que a geração maior
a médio prazo. Até lá espera-se que tecnologias tenham sido desenvolvidas e o custo benefício
seja favorável ao desmonte do painel, para assim destinar somente os componentes metálicos
como resíduos perigosos para tratamento e reaproveitar o vidro e alumínio reinserindo-os na
cadeia produtiva destes dois produtos.
Palavras-chave: Resíduos de Painéis Solares. REEE. Resíduos Tecnológicos.

Abstract
Given the trend of exponential growth of solar photovoltaic power generation in recent years,
it is imperative to know and publicize the future environmental impacts of this technology.
And the generation of the panel waste, despite having an estimated useful life of 25 years,
shows us a bleak future, since its destination and treatment needs to be managed in such a way
as to minimize its effects both on the environment and on the health of the professionals who
deal with them. This work shows the environmental impacts in the destination of the panels
according to the constructive generation, and their framing according to some international
and national standards (NBR 10004/2004). Both the first (crystalline silicon) and second
generation panels (CIGS, amorphous silicon and CdTe) were, by different authors and
standards, all identified as hazardous waste. The main impacts cited relate to the effects of the
leaching of these heavy metals on the environment, groundwater contamination and damage
to human health. Practiced efforts for a desired environmental destination are being insipient,
since the generation larger in the medium term. Until then, it is expected that technologies

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have been developed and the cost benefit will be favorable to the dismantling of the panel, in
order to destine only the metallic components as hazardous waste for treatment and to reuse
the glass and aluminum by reinserting them into the productive chain of these two products.
Keywords: Solar Panel Waste. WEEE. Technological Waste.

Introdução

Os últimos anos foram marcados por discussões intensas a respeito da crise energética.
A escassez hídrica em 2021, somada às políticas de redução das emissões de carbono no
ambiente são fatores impulsionadores para a busca de fontes alternativas de energia, com o
intuito de diversificar a matriz energética mundial. Nesse sentido, as principais fontes
renováveis, como a solar, eólica e biomassa são importantes para compor um cenário de
transição energética, visando a mudanças estruturais nas matrizes energéticas a médio e longo
prazo.
Diante desta realidade, a energia solar fotovoltaica vem ganhando espaço, seja no
âmbito da micro e mini geração (Geração Distribuída – GD), seja na grande geração (Geração
Centralizada – GC). De acordo com a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA,
2019), a projeção da capacidade total de energia solar fotovoltaica instalada no ano de 2020
foi de 709,67 MW, e estima-se um crescimento exponencial para esse tipo de tecnologia,
atingindo-se uma capacidade acumulada global projetada de 1.632 MW em 2030 e cerca de
4.512 MW em 2050 (Anselmo, 2019).
Entretanto, em relatório apresentado por IRENA (2016), são discutidas as primeiras
projeções globais para futuros volumes de resíduos de painel fotovoltaico até 2050,
estimando-se a produção anual de cerca de 60 milhões de toneladas, no caso de perdas
precoces (desgaste antes da vida útil de 30 anos) e outros 78 milhões de toneladas,
considerando a perda regular após 30 anos de uso, totalizando 138 milhões de toneladas
anuais.
Dentre esses resíduos, destaca-se a existência de alguns elementos valiosos na primeira
geração de painéis fotovoltaicos, como silício, prata, cobre, alumínio e vidro, bem como
materiais tóxicos, como cádmio, chumbo e outros metais pesados. No caso das células de
filmes finos, classificadas como sendo de segunda geração, que, apesar de serem
comercializados em uma escala menor, quando comparadas às de silício, também impactam
ao meio ambiente e à saúde humana (Anselmo, 2019).

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Os principais efeitos conhecidos do descarte incorreto desses resíduos estão


relacionados à lixiviação de metais pesados, à perda de recursos convencionais
(principalmente vidro e alumínio) e de metais raros como prata, índio, gálio e germânio (Dias,
2015)
Uma série de leis, regulamentos e acordos relacionados à gestão de resíduos foram
recentemente promulgados no Brasil e no mundo, especialmente as leis de lixo eletrônico,
incluindo sistemas fotovoltaicos (Brasil, 2020). Entretanto, atualmente, encontra-se certa
dificuldade em separar os componentes dos painéis solares visando à sua reciclagem ou reuso,
tendo em vista a sua complexidade e custo envolvido. Além disso, o sistema de logística
reversa não funciona na prática, uma vez que as grandes indústrias de painéis solares
fotovoltaicos se concentram na China (PV TECH, 2019), dificultando assim o transporte dos
resíduos, principalmente do setor de geração distribuída, em que pessoas físicas (nível
residencial) estão envolvidas. Outrossim, os impactos ambientais relativos à emissão de
carbono por parte dos combustíveis utilizados no deslocamento dos painéis fotovoltaicos em
seu fim de vida são fatores que impossibilitam a efetiva gestão desses resíduos, até mesmo o
processo de reciclagem torna-se inviável (Celik et al., 2020).
Dadas as perspectivas de produção anual de resíduos gerados por placas fotovoltaicas
em 2050 de cerca de 78 milhões de toneladas (considerando um tempo de vida de 30 anos), é
notória a necessidade de estudar medidas que proporcionem uma redução dos restos dos
painéis solares, além de uma gestão dos resíduos eficaz, visando a uma relação harmônica
com o meio ambiente e melhor uso dos recursos financeiros (IRENA, 2016). Para a sugestão
e implementação dessas medidas, no entanto, é necessário primeiro analisar quais são os
materiais presentes nos resíduos dos sistemas fotovoltaicos e de que forma eles impactam o
ambiente no qual são descartados de forma incorreta.
O objetivo dessa revisão bibliográfica foi relacionar os potenciais impactos ambientais
e à saúde humana, causados por componentes presentes nos painéis solares fotovoltaicos, de
acordo com sua geração construtiva. Para isso, serão elencadas as principais tecnologias de
painéis solares utilizados atualmente, verificando quais são os componentes de cada tipo de
módulo fotovoltaico. Com isso, espera-se investigar, através de estudos experimentais já
publicados, a presença de componentes tóxicos nos painéis solares, a fim de determinar os
impactos ambientais quando descartados de forma incorreta.

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Objetivos

Este artigo tem como objetivo principal relacionar os potenciais impactos ambientais
causados por componentes presentes nos painéis solares fotovoltaicos, de acordo com sua
geração construtiva. Como objetivos específicos, temos: Verificar quais são os componentes
de cada tipo de módulo fotovoltaico; identificar, através de estudos experimentais publicados
em artigos científicos, a presença de componentes tóxicos nos painéis solares; e determinar
os aspectos toxicológicos de cada material constituinte;

Metodologia

De acordo com Rother (2007), os artigos de revisão narrativa são trabalhos adequados
para descrever o “estado da arte” de um determinado tema, sob uma análise qualitativa, teórica
ou contextual. Constituem, de forma geral, na investigação da literatura já publicada em livros,
artigos, teses e dissertações e exercem uma função essencial para a educação continuada, uma
vez que possibilitam ao leitor o conhecimento atualizado e o cenário das produções científicas
a respeito de uma temática específica. Essa categoria de trabalho científico não necessita de
uma metodologia que expresse a reprodutibilidade dos dados, de forma que não fornecem
respostas quantitativas para questões específicas e nem precisam esgotar as fontes de
informação.
Dessa forma, o presente trabalho de revisão bibliográfica narrativa foi desenvolvida
por meio do levantamento de referências, de forma exploratória e qualitativa sobre o tema,
utilizando como palavras-chave os termos “solar panel”, “waste”, “environmental impact”, e
suas respectivas expressões em Português. As buscas foram realizadas no Portal de Periódicos
CAPES e no Google Acadêmico, no período de outubro de 2021 a março de 2022. Foram
priorizados trabalhos publicados nos últimos 10 anos, a fim de melhor descrever o cenário
atual acerca do tema.
Para a análise das informações obtidas foi utilizada a Análise de Conteúdo, de grande
relevância para descrever e interpretar conteúdo. Esse tipo de análise é estruturada em três
etapas: i. pré-análise, ii. exploração do material e iii. tratamento dos resultados, inferência e
interpretação (Bardin, 2010).

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Principais Tecnologias Fotovoltáicas

4.1 Estrutura, Composição e Materiais

a) Painéis solares de primeira geração (silício cristalino)


De forma geral, os painéis solares de silício são constituídos por cinco camadas,
envoltas por uma moldura final de alumínio, cada um deles empilhados um sobre o outro
(Cruz; Isidoro; Santos, 2020). A Figura 1 ilustra a representação esquemática de um painel
solar de silício convencional.

Figura 1 - Estrutura típica dos painéis solares fotovoltaicos de silício cristalino.


Fonte: Tammaro et al. (2015).

A camada mais externa é composta por vidro temperado, que tem a função de proteger
as células de choques mecânicos para garantir maior durabilidade. A camada do meio são as
células fotovoltaicas feitas de silício, aderidas aos filamentos de metal. Elas são protegidas e
isoladas pela camada frontal e posterior do material de encapsulamento denominado Acetato
de Vinil Etileno (EVA), que pode evitar o deslocamento irregular das células devido a
eventuais impactos (Cruz; Isidoro; Santos, 2020 e Matavelli, 2013).
Por fim, na quinta camada encontra-se o filme posterior isolante, resultante da
combinação de polímeros, tais como o fluoreto de polivinila (PFV ou Tedlar®), tereftalato de
polietileno (PET), dentre outros (Pinho e Galdino, 2014). Esse filme, também denominado
backsheet, é um isolante elétrico, cuja finalidade é proteger o painel posterior da umidade e
de gases atmosféricos. Na parte traseira, existe uma caixa de junção encarregada pela ligação
de todos os módulos (Cruz; Isidoro; Santos, 2020). A Tabela 1 apresenta uma composição
típica de um painel de primeira geração.

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Componente Porcentagem de peso (%)

Vidro 60-75

Célula de silício 3-5

Estrutura (moldura de alumínio) 10-25

EVA 6-8

PVF (backsheet) 0,1-2

Caixa de junção 1-2,5

Outros (contatos elétricos, pastas de solda, aditivos, revestimentos, 0,01-1


etc.)
Tabela 1 - Composição típica de um painel de silício cristalino.
Fonte: Adaptado de Tammaro et al. (2015).

A composição dos painéis de silício cristalino pode variar de diversas formas, embora
dentro de certos limites. Devido à evolução das tecnologias e materiais utilizados, a estrutura
dos painéis vem sofrendo várias modificações ao longo dos anos, como é o caso das
tecnologias PERC (Passivated Emitter Rear Cell), half-cells e double glass. Nesse sentido, até
mesmo a quinta camada pode ser composta por vidro, no lugar do filme em PVF (Tammaro
et al, 2015).
No geral, os eletrodos frontais utilizados nos contatos elétricos eram de ligas de baixo
ponto de fusão compostas por chumbo e estanho, e mais tarde foram substituídas por prata.
Da mesma forma, os eletrodos traseiros eram confeccionados com misturas, também à base
de estanho e chumbo, sendo substituídos por materiais à base de alumínio e prata. O restante
das ligações elétricas entre as células é feita por meio de tiras de cobre, as quais são revestidas
por uma liga de baixo ponto de fusão, podendo ser à base de chumbo ou de prata, dependendo
do ano da fabricação e da marca. Já nas pastas utilizadas nas soldas, também empregam-se o
chumbo e o estanho, podendo ser substituídos de forma total ou parcial por prata (Tammaro
et al, 2015).
Além disso, aos wafers de silício é adicionada uma camada anti-reflexo, a fim de
reduzir o coeficiente de reflexão até cerca de 1%, bem como conferir resistência à corrosão.
Nesse tratamento anti-reflexo, geralmente utiliza-se o dióxido de titânio (TiO2), que confere
às células de silício monocristalino sua clássica cor preta ou azul (Tammaro et al, 2015).
A depender do ano de fabricação dos painéis, a participação desses metais pode variar,
conforme verificado, através de análise por espectrometria de fluorescência de raios X, pelos
autores Benevit e Veit (2014), dois módulos de silício cristalino apresentam diferentes
porcentagens de metais, como é possível visualizar na Tabela 2.

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Elemento Porcentagem na amostra Porcentagem na amostra


(módulo A) (módulo B)

Silício 98,20% 95,27%

Cobre 0,04% 1,85%

Prata 1,40% 1,12%

Cromo 0,14% 0,15%

Chumbo 0,08% 0,10%


Tabela 2 - Composição das células de silício cristalino.
Fonte: Adaptado de Benevit e Veit (2014).

Portanto, percebe-se que os metais estão concentrados majoritariamente na camada


relativa às células, e o EVA é responsável por encapsular essas unidades. De acordo com
Farrel et al. (2019), em condições normais, esse encapsulamento é capaz de isolar os
componentes metálicos de tal forma que a remoção da camada de EVA tem sido reconhecida
como umas das etapas mais desafiadoras na reciclagem dos módulos fotovoltaicos de silício,
tendo em vista a dificuldade de separar essa película do restante do material.
Ainda de acordo com a Tabela 1, geralmente até 1% do peso do painel é composto por
metais, seja nos contatos elétricos, ou nas pastas de solda etc. E, conforme foi estudada a
estrutura desses painéis, nas tecnologias de silício espera-se encontrar componentes metálicos
à base de chumbo, alumínio, prata, estanho e cobre.
Apesar da reduzida participação em massa, essa pequena quantidade de metais pode
ser altamente tóxica para o meio ambiente se esses resíduos forem manuseados de forma
incorreta, principalmente no que se refere aos metais pesados.
b) Painéis solares de segunda geração (filmes finos)
Diferentemente das tecnologias de primeira geração, em que primeiro se produz as
lâminas de silício, depois a célula e por fim o módulo, nos painéis de filmes finos todo o
processo está integrado, e geralmente os dispositivos são fabricados seguindo uma ordem de
camada de materiais que variam, de acordo com o tipo de célula (Pinho e Galdino, 2014). As
principais tecnologias majoritariamente comercializadas atualmente são as confeccionadas
com os materiais de silício amorfo (a-Si:H), de telureto de cádmio (CdTe) e de disseleneto de
índio, cobre e gálio (CIGS) (Lima et al., 2017).
Nas células de silício amorfo, é depositado inicialmente um filme transparente
condutor de dióxido de estanho (SnO2) (Transparent Conductive Oxide - TCO) sobre uma
placa de vidro, a qual serve de substrato. Logo após, depositam-se as camadas de filmes de a-
Si:H e de a-SiGe:H com diferentes dopagens. Por fim, essas junções recebem uma outra

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camada de TCO, dessa vez de óxido de zinco (ZnO) e, logo após, um contato metálico traseiro,
geralmente confeccionado em prata (Ag) (Pinho e Galdino, 2014).
A tecnologia de CdTe é semelhante, mas geralmente as regiões “n” e “p” são formadas
por uma camada de sulfeto de cádmio (CdS) e de telureto de cádmio (CdTe), respectivamente.
Essa combinação dá origem à chamada heterojunção, que é uma junção “p-n” constituída por
dois semicondutores diferentes (Pinho e Galdino, 2014). Quando esta, utiliza como substrato
o vidro (além da camada de TCO, também em SnO2), outros substratos são utilizados
atualmente, como a poli-imida, polietilenotereftalato (PET), naftalato de polietileno (PEN),
folhas de metal como aço inoxidável e titânio (Ti) (Ramanujam et al, 2020). Além disso,
utiliza-se como contato traseiro uma deposição de telureto de zinco na superfície do metal
(Falcão, 2005).
Já as células de CIGS apresentam, no geral, uma configuração Substrato-Mo-CIGS-
CdS-TCO(ZnO), sendo que o substrato pode ser vidro. O molibdênio atua como contato
traseiro e o disseleneto de cobre, índio, gálio e selênio exerce a função de semicondutor do
tipo “p”, absorvendo a luz solar. O CdS é, portanto, o semicondutor do tipo “n” da junção
fotovoltaica, e o TCO o contato frontal, tal como o óxido de zinco (ZnO).
Ao contrário dos painéis de silício cristalino, não foram encontrados, até o momento
de realização da presente pesquisa, dados concretos comparativos da composição em massa
de cada um dos componentes presentes nas tecnologias de segunda geração, uma vez que
esses dispositivos apresentam grande variabilidade no processo de confecção. No entanto, nas
seções seguintes, resultados de análises experimentais de testes de lixiviação proporcionarão
certa percepção da quantidade de metais presentes nos painéis desse tipo.
De forma geral, verifica-se que as células de filmes finos são as que apresentam maior
ocorrência (não é possível afirmar em termos de quantidade, em massa) de compostos
derivados de metais pesados, como cádmio e chumbo, conhecidos pela alta toxicidade. No
entanto, em sua maior parte, esses metais aparecem na forma de derivados e é necessário
investigar seu comportamento e estabilidade, principalmente em um cenário de descarte
irregular ou em aterros sanitários. Portanto, na próxima seção, será investigada a toxicologia
desses materiais, a fim de verificar seus possíveis danos ao meio ambiente.

4.2 Toxicologia e Possíveis Impactos Ambientais dos Materiais Constituintes

Em primeira análise, cabe verificar a toxicologia dos componentes não metálicos


presentes nos painéis solares, sobretudo da primeira geração, no que se refere ao vidro, ao

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silício e aos compostos poliméricos utilizados comumente (EVA, PFV), conforme descrito na
seção 3.1. Em seguida, uma análise dos metais presentes na composição dos painéis será
realizada. A análise individual de cada componente não tem o intuito de classificar
parcialmente o material quanto a NBR 10004/2004 – Classificação de resíduos, mas sim
estabelecer informações quanto aos seus aspectos toxicológicos. Apenas ao final de toda a
análise será possível sugerir a classificação do resíduo do painel solar como um todo, dentre
as categorias: classe I, perigosos; classe II, não perigosos; classe IIA, não perigosos e não-
inertes; e classe IIB, não perigosos e inertes.
a) Vidro
De acordo com Maia (2017), o principal componente do vidro é a sílica. No entanto,
na fabricação dos painéis solares, o vidro utilizado deve apresentar baixo teor em ferro, para
que haja maior passagem de luz possível, além disso, deve ser temperado, para garantir a
integridade física do painel.
Em conformidade com os resultados experimentais de Benevit e Veit (s.d), foi
verificado que o vidro, pelo menos para módulos de primeira geração, conforme analisado
pelos autores, pode ser tratado como vidro comum, uma vez que não apresenta nenhum
componente diferenciado. Os resultados obtidos através de análise por espectrometria de
fluorescência de raios X para dois módulos de diferentes fabricantes de silício cristalino
encontram-se representados na Tabela 3.

Analito Porcentagem média nas De forma geral, o vidro é composto por dióxido de silício, que
amostras¹ apresenta como uma das principais propriedades o caráter
inerte, exceto em contato com ácido fluorídrico e com ácido
SiO2 78,72% fosfórico (Maia, 2017). De acordo com a NBR 10004/2004,
os vidros são classificados como resíduos não perigosos
CaO 13,44% (categoria inerte classe II B). Sendo assim, apesar de não
constituir um perigo direto à saúde humana, perde-se a
Na2O 2,54% oportunidade de economizar matéria-prima e energia.

MgO 1,46%

Al2O3 1,59%

SO3 0,60%

K2O 0,37%

Fe2O3 0,23%
Tabela 3 - Composição do vidro utilizado nos painéis de silício cristalino.
¹ Valor obtido pela média aritmética das porcentagens das duas amostras de módulos de primeira geração.
Fonte: Adaptado de Benevit e Veit (2014)

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Conforme apontam Deng et al. (2019), a deposição direta do vidro de resíduos de


painéis solares resulta em um desperdício permanente de recursos que poderiam ser
recuperados. No entanto, aponta-se que é necessário levar em consideração que estratégias de
reciclagem dos componentes, incluindo o vidro de difícil separação dos módulos, dependem
de muito mais recursos financeiros, tendo em vista as tecnologias aplicadas ao processo de
separação.
b) Silício
De acordo com o exposto na seção 3.1, o silício pode representar até 5% do peso do
painel, e encontra-se encapsulado nas células fotovoltaicas. E, conforme apresenta a Tabela
2, o silício constitui, geralmente, mais de 95% da massa da célula fotovoltaica. O silício
utilizado na indústria fotovoltaica é o silício grau solar, que apresenta pureza entre 99,9999%
e 99,999999% (Serodio, 2009). Logo, de forma geral, o principal constituinte das células de
primeira geração é o Si, que é um dos elementos mais abundantes da crosta terrestre.
Embora não ocorra na natureza em sua forma pura, é um elemento relativamente
inerte, não apresentando problemas à saúde humana e ao meio ambiente. Além disso, é
resistente à maioria dos ácidos, exceto ácido fluorídrico, cuja reação provoca a sua dissolução,
com formação de ácido hexafluorossilícico (H2SiF6). Ademais, esse material é atacado por
bases, como solução aquosa de hidróxido de sódio, formando silicatos. Também reage com
halogênios, formando seus respectivos haletos (Marquez, 2021). A Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT não menciona a classificação do silício, em sua NBR 10004/2004.
c) Acetato de Vinil Etileno - EVA
Conforme a Tabela 1, o Etileno Acetato de Vinila - EVA compõe cerca de 5% da
massa do painel solar de primeira geração. O EVA é obtido por meio do processo de
copolimerização dos monômeros de acetato de vinila e etileno em um sistema de alta pressão.
Seus resíduos apresentam boas características térmicas, sendo estáveis e inertes (Rocha et al,
2016).
Já foi relatado em estudos anteriores, principalmente os de viabilidade de reciclagem
dos painéis solares, que o maior desafio desse processo é a separação da camada de EVA que
envolve toda a célula. Para que se tenha acesso ao conjunto encapsulado diversas técnicas
vêm sendo utilizadas, dentre elas, a decomposição térmica e química. Isso demonstra na
prática a estabilidade desse tipo de resíduo em um cenário de disposição em aterro sanitário,
sendo necessárias condições extremas para sua degradação (Farrel et al, 2019; Tammaro et al,
2015).

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Em 2014, o EVA não foi considerado cancerígeno pelas organizações: National


Toxicology Program - NTP; American Conference of Governmental Industrial Hygienists -
ACGIH; The International Agency for Research on Cancer - IARC ou Occupational Safety
and Health Administration - OSHA e não tem nenhum efeito adverso conhecido na saúde
humana. Como muitos plásticos, é de difícil biodegradação. Um estudo sugeriu que pode ter
efeitos adversos em organismos vivos, mas seu efeito em humanos não foi determinado
(Meng, 2014).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT não menciona a classificação
do EVA, em específico, em sua NBR 10004/2004, mas caracteriza os resíduos de plásticos
polimerizados como não perigosos. No entanto, a classificação em classe IIA ou classe IIB
depende da presença de constituintes que são solubilizados em concentrações superiores ao
anexo G da norma. Como o EVA isolado não apresenta constituintes listados no anexo G, o
mesmo se enquadraria na classe II B (não perigosos inertes). Todavia, a norma deve classificar
o resíduo como um todo, ou seja, o painel solar que é constituído por outros materiais, os quais
poderiam torná-lo perigoso ou não perigoso não inerte.
d) Fluoreto de Polivinila (PVF ou Tedlar®)
O fluoreto de polivinila é um fluoropolímero termoplástico resistente ao ataque de
produtos químicos ou intempéries, exceto acetonas, ésteres, ácido clorídrico concentrado,
ácido sulfúrico, ácido nítrico e amoníaco. Os fluoro polímeros são difíceis de degradar
termicamente, no entanto, quando queimados, podem representar riscos à saúde se o material
for lixiviado para a atmosfera e contaminar o solo e os corpos d'água (Danz et al., 2019).
De acordo com Danz et al. (2019), o manuseio de fluoropolímeros derivados de
resíduos fotovoltaicos, que é amplamente inexplorado, requer um exame mais detalhado para
evitar danos ambientais. Em seu estudo, os autores demonstraram, por análise experimental,
que o manuseio dos resíduos de backsheets fluoretados contribui para a formação de outros
compostos persistentes, como fluorocarbonetos e fluoroácidos. Mesmo em instalações de
incineração de resíduos perigosos equipadas com processamento sofisticado, foi verificado
que quantidades significativas de trifluoroacetato ainda podem ser liberadas no meio
ambiente. Assim, pode-se concluir que, embora os fluoropolímeros possam ter alguns
atributos característicos, como estabilidade térmica, eles ainda apresentam riscos tanto para a
saúde humana quanto para o meio ambiente (Danz et al., 2019). Assim como no caso do EVA,
a NBR 10004/2004 não faz menção específica ao PVF, mas o mesmo se enquadra na categoria
de resíduos de plásticos polimerizados não perigosos.

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Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12540

De acordo com a seção 3.1, a célula dos painéis solares de primeira geração é composta
por silício, cobre, prata, cromo, chumbo, alumínio e estanho. Já os de segunda geração, por
telúrio, cádmio, molibdênio, prata, cromo, cobre, índio e gálio. Os resíduos desses tipos de
materiais, quer sejam de primeira ou de segunda geração, podem ser extremamente perigosos
e tóxicos, caso sejam lixiviados para o meio ambiente. Além disso, os painéis fotovoltaicos
podem ser suscetíveis a danos acidentais devido a incêndios, choque térmico ou agentes
atmosféricos em aterros sanitários ou em outros locais impróprios nos quais forem
abandonados de forma incorreta. Nesses casos, os módulos danificados quando expostos à
chuva, os lixiviados resultantes podem chegar facilmente ao meio aquático e terrestre
(Tammaro et al., 2016). No entanto, para quantificar a toxicidade desses metais, as normas
técnicas de classificação desses resíduos determinam as condições experimentais necessárias
e as concentrações máximas permitidas do analito em ensaios de lixiviação e de solubilização.
Esses padrões variam de acordo com as políticas normativas de cada país (Cyrs et al., 2014).
Diversos autores (Cyrs et al., 2014; Dias, 2015; Tammaro et al., 2015; Tammaro et al.,
2016; Ramos-Ruiz et al, 2017; Benevit e Veit, 2014.) realizaram caracterizações
experimentais para quantificação de metais pesados em ensaios de lixiviação de amostras de
painéis solares de silício cristalino e de segunda geração.
e) Cádmio
Cyrs et al. (2014) realizam um estudo complexo a respeito dos possíveis riscos à saúde
humana decorrentes do descarte de painéis de CdTe em aterros sanitários. A principal
preocupação decorrente dessa situação é a liberação de cádmio e a exposição do ser humano
a esse material, seja através da ingestão de água contaminada, seja pelo contato dérmico e pela
inalação de partículas suspensas. A exposição ao cádmio tem sido associada a várias doenças,
como a osteoporose, disfunção renal, hipertensão e outros, dependendo da dose e da via de
exposição. Além disso, diversos órgãos da saúde já o classificaram como Grupo B1
(provável); Tipo 1 (conhecido); e A2 (suspeito) carcinógeno humano, respectivamente
(ACGIH (American Conference of Industrial Hygienists), 2001; EPA (Environmental
Protection Agency), 1987; IARC (International Agency for Research on Cancer), 1993).
No entanto, conforme afirmam Cyrs et al. (2014), Farrel et al. (2019) e Tammaro et al.
(2015), as células fotovoltaicas estão encapsuladas de tal forma que o cádmio que está ligado
a uma matriz ou envolto em uma estrutura não é prontamente biodisponível e,
subsequentemente, é menos provável de ser tóxico do que o cádmio que é altamente solúvel.
Logo, o cádmio em painéis fotovoltaicos de CdTe que é encapsulado entre espessas camadas
de material impermeável não é muito solúvel. Tal fato, considerando também uma perspectiva

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Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12541

de cenário de pior caso, no qual o cádmio é lixiviado dos resíduos, levaram aos autores a
verificar que a disposição em aterros de painéis de CdTe não representa um perigo para a
saúde humana nos atuais volumes de produção (Cyrs et al., 2014).
Por outro lado, o estudo de Ramos-Ruiz et al. (2017) verificou que a maior liberação
de Cd e Te será esperada como resultado do baixo pH prevalecente no ambiente do aterro,
fase característica de um aterro “jovem”. Em aterros denominados maduros, nas quais
prevalece a fase metanogênica, em que é proeminente o pH alcalino, a baixa corrosão do CdTe
causada pelas condições altamente redutoras no ambiente do aterro permite apenas a liberação
superficial de espécies solúveis de Cd e Te.
No Brasil, a NBR 10005 determina o procedimento para obtenção de extrato lixiviado
de resíduos sólidos e a NBR 10004 estabelece o limite de concentração máxima permitida
para a classificação desses resíduos como Classe II, não-perigosos. Em conjunto com o ensaio
de solubilização e os padrões estabelecidos pelo anexo G da norma, a classificação quanto a
classe II pode se dar em não inerte, classe IIA ou inerte, classe IIB.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos usa o Procedimento de
Lixiviação de Características de Toxicidade (TCLP) para caracterizar o potencial de lixiviação
de um resíduo sólido quando descartado em um aterro sanitário e determinar se um material
residual deve ser classificado como perigoso de acordo com sua característica tóxica. Se o
resíduo falhar no teste TCLP, ele deve ser armazenado em um depósito temporário de resíduos
perigosos. O limite de TCLP para cádmio é de 1 mg/L (Ramos-Ruiz et al, 2017). Enquanto
alguns estudos de lixiviação de TCLP relataram concentrações de Cd inferiores a 1 mg/L
(Sinha e Wade, 2015), outros obtiveram concentrações de Cd superiores a 9 mg/L para células
solares de CdTe (CYRS et al., 2014), e portanto, deveriam ser classificados como resíduos
perigosos.
Em contrapartida, no estudo de Dias (2015), para painéis de primeira geração, os
resultados obtidos através da espectroscopia de absorção atômica para a solução resultante do
ensaio de lixiviação (NBR 10005) indicaram a não detecção de cádmio nas amostras, ou seja,
valor inferior ao limite de 0,5 mg/L, conforme representado na Tabela 4.

Resultado Limite de Limite Máximo


Parâmetro Unidade
Detecção (LD) (NBR 10004)
A B

Cádmio mg/L ND¹ ND 0,017 0,5

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Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12542

Chumbo mg/L 5,50 21,6 0,054 1,0

Cromo mg/L 0,016 0,025 0,012 5,0

Prata mg/L ND ND 0,015 5,0


Tabela 4 - Resultados obtidos a partir do ensaio de absorção atômica da solução lixiviada segundo a NBR
10005 para dois módulos A e B, de silício cristalino.
¹ND: Não detectado.
Fonte: Adaptado de Dias (2015).

A quantificação obtida é compatível com as características descritas na seção 3.1.a,


uma vez que não se utiliza Cd nas células de primeira geração. Portanto, por esse material, o
painel de silício analisado seria enquadrado na categoria classe II, não perigosos.
Do ponto de vista dos danos à flora, Souza, Morassuti e De Deus (2018) explicam que
o excesso de metais pesados pode induzir à formação de radicais livres e de espécies reativas
de oxigênio, resultando em estresse oxidativo em plantas, danificando membranas, pigmentos
fotossintéticos, proteínas, ácidos nucléicos e lipídios, o que culmina em um desequilíbrio a
esse tipo de ser vivo. Além disso, pode-se citar os efeitos da bioacumulação e a
biomagnificação no caso da fauna, em que se verifica um aumento sucessivo da concentração
desses metais, à medida que se examina organismos ao longo de uma dada cadeia alimentar.
Esses metais podem ser absorvidos por via respiratória, dérmica ou digestiva, concentrando-
se em diferentes tecidos do ser vivo, os quais, caso sejam consumidos pelo ser humano,
provocam distúrbios no metabolismo (Angheben, 2019).
f) Chumbo
Tammaro et al. (2016) quantificaram os metais liberados na solução de lixiviação por
amostras de painéis fotovoltaicos de silício cristalino e de filmes finos. De acordo com seus
resultados, a presença de chumbo ultrapassou os limites europeus legais da Diretiva 98/83/EC
para água potável e os limites italianos da Diretiva 2000/60/CE para águas urbanas e
industriais descarregadas no solo em 92% dos lixiviados examinados obtidos de painéis de c-
Si fabricados até 1997. Por outro lado, com painéis de c-Si feitos após 1997, esse percentual
caiu para cerca de 38%. A não-homogeneidade da participação do chumbo deve-se ao fato de,
com o passar dos anos, a tendência na produção dos painéis é a substituição do Pb por Ag.
Além disso, os autores verificaram que, para os painéis de filmes finos, a ocorrência de
chumbo nos lixiviados analisados era ainda maior, ultrapassando tanto os limites europeus,
quanto italianos.
No âmbito nacional, Dias (2015) e Benevit e Veit (2014), realizando ensaios de
lixiviação para painéis de silício cristalino, de acordo com a NBR 10005, e verificaram que as

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amostras analisadas excediam em mais de 5 vezes o limite máximo determinado pela NBR
10004/2004, enquadrando-o como resíduo classe I, perigosos. É possível observar também a
discrepância na concentração do lixiviado entre as amostras obtidas por Dias (2015)
(conforme disposto na Tabela 4), corroborando o fato de que painéis de uma mesma tecnologia
podem apresentar composições diferentes de metais, de acordo com o ano de produção. O Pb
pode ser extremamente danoso se absorvido pelo ser humano, seja pela ingestão ou pela
inalação de partículas suspensas, uma vez que é capaz de depositar-se nos ossos, afetando
todos os sistemas e órgãos, incluindo o sistema nervoso central e periférico (Moreira e
Moreira, 2004).
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (International Agency for
Research on Cancer - IARC) classificou o chumbo inorgânico e os compostos de chumbo
como "possivelmente carcinogênicos para humanos" (grupo 2B). Nos Estados Unidos, o
chumbo ocupa o segundo lugar em uma lista das 20 substâncias mais perigosas, ficando atrás
apenas do arsênio (World Health Organization, 1995).
g) Cromo
Apesar de no estudo realizado na seção 3.1 não ser descrita a participação do cromo
na composição dos painéis solares, Dias (2015) verificou quantidades de cromo nas amostras
de painéis de silício cristalino submetidas ao ensaio de lixiviação bem abaixo do limite
máximo permitido pela NBR 10004, como mostra a Tabela 4. No entanto, em experimentos
realizados por Tammaro et al (2016), esse valor excedeu em 10 vezes os limites da legislação
europeia para a água potável (Diretiva 98/83/CE), no caso dos painéis de filmes finos de silício
amorfo. Dado que o cromo é usualmente empregado na fabricação de ligas metálicas,
provavelmente a parcela desse material encontrado pelos autores em seus testes de lixiviação
possivelmente pode estar presente nos contatos metálicos, uma vez que o mesmo confere
resistência à oxidação, ao desgaste e ao atrito (CETESB, 2017).
A forma metálica do Cromo não é encontrada livre na natureza e a sua toxicidade
depende de seu estado de oxidação, sendo o crômio (VI) mais tóxico que o crômio (III). A
ingestão acidental de altas doses de compostos de cromo (VI) pode causar falência renal aguda
caracterizada por perda de proteínas e sangue na urina. Já o cromo (III) é um nutriente
essencial para o ser humano, atuando na manutenção do metabolismo da glicose, lipídeos e
proteínas, e a deficiência do cátion acarreta prejuízo na ação da insulina. Além disso, o cromo
metálico e a sua forma trivalente são caracterizados pela Agência Internacional de Pesquisa
em Câncer - IARC como não carcinogênicos. No entanto, os compostos de crômio (VI) são
classificados pela mesma agência como cancerígenos para o ser humano (CETESB, 2017).

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Ademais, a NBR 10004/2004 classifica o cromo como substância que confere periculosidade
aos resíduos. Até o momento não foram encontradas informações sobre a possibilidade de
lixiviação desse material dos painéis fotovoltaicos em condições de aterro sanitário.
h) Prata
De acordo com o exposto na seção 3.1, a prata geralmente constitui em torno de 1,4%
em massa do peso da célula fotovoltaica e está presente nos contatos metálicos, substituindo
o uso do chumbo ao longo dos anos. No entanto, conforme descrito na Tabela 4, o autor Dias
(2015) não obteve quantidades detectáveis desse material, para um limite de detecção de 0,015
mg/L determinado pelo método utilizado. Por outro lado, os autores Tammaro et al (2016),
chegaram a encontrar uma quantidade de até 6,938 mg/L de prata em painel de silício
cristalino, de acordo com os procedimentos experimentais adotados para obter as
concentrações de metal detectadas em lixiviados de painéis de silício cristalino e de filmes
finos.
Apesar de ser classificada como metal pesado, não há menção nas diretivas 98/83/CE
e 2000/60/CE quanto aos limites máximos de prata permitidos por essas leis. No entanto, para
os experimentos padrões adotados pela NBR 10005/2004, o limite máximo permitido nos
ensaios de lixiviação é de 5,0 mg/L. Além disso, a NBR 10004/2004 classifica a prata como
substância que confere periculosidade aos resíduos, ainda que seja um material tido como
menos tóxico que o chumbo.
Quanto à toxicidade, Dos Santos, Colasso e Moneró (2015) apontam que, a depender
da dose e do tempo de exposição, a prata pode provocar efeitos dermatológicos,
imunológicos e neurológicos, além da perda de peso. Outrossim, os dados experimentais
indicam que o efeito letal em ratos foi observado apenas após a exposição a compostos de
prata inorgânica em doses extremamente altas.
i) Cobre
De acordo com a Tabela 2, é esperado encontrar cerca de 0,04% a 1,85% em massa de
cobre, com relação ao peso total da célula de silício cristalino. No caso nos painéis de filmes
finos, esse percentual é igual a 0, 0,85% e 1% para as tecnologias de silício amorfo, CIS e
CIGS, respectivamente (Dias, 2015). O cobre está presente nos filamentos metálicos nesses
painéis, e no caso das tecnologias de filmes finos, na composição das células fotovoltaicas de
CIGS, sob a forma de liga metálica.
Tammaro et al (2016), em seus ensaios de teste de lixiviação, verificou que apenas um
painel, com tecnologia CIGS, ultrapassou em 6 vezes os limites da lei italiana para águas

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urbanas e industriais lançadas no solo (D.lgs 152/06). Não foram encontrados dados de teste
de lixiviação do cobre em painéis solares seguindo a NBR 10004/2004.
O cobre naturalmente ocorre na natureza e constitui um micronutriente essencial para
a vida, sendo normalmente de fácil regulação pelo organismo. No entanto, quando presente
em altas concentrações, o cobre pode causar danos ao fígado, aos rins e ao cérebro. Em estudo
realizado por Kemerich et al (2014), foi verificado que um determinado aterro analisado
apresentava contaminação no solo por esse metal, constatando-se que o mesmo, por conta da
localização, poderia atingir e contaminar o solo e os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, pondo em risco a população que vive nas proximidades da área.
j) Alumínio
A principal utilização do alumínio nos painéis é na moldura que os envolve, mas,
conforme descrito na seção 3.1, também pode compor os eletrodos traseiros. Sobre a
ocorrência desse metal, Tammaro et al (2016), verificou, em ensaios de teste de lixiviação,
que cerca de 76,9% das amostras de painéis solares de silício cristalino analisados
ultrapassaram os limites da legislação europeia para água potável (Diretiva 98/83/CE). Já para
os painéis solares de filmes finos, praticamente todos ultrapassaram o limiar estabelecido pela
lei italiana para águas urbanas e industriais lançadas no solo (D.lgs 152/06) e pela legislação
europeia para água potável (Diretiva 98/83/CE).
k) Estanho
A utilização do estanho nos painéis é, principalmente, na composição das ligas
empregadas como contatos metálicos, eletrodos frontais e pastas de solda. No entanto, nos
painéis fabricados mais recentemente, observa-se uma tendência na substituição desse
material por prata. O estanho é um metal resistente a corrosão e quimicamente estável. Por ser
pouco solúvel em água, a Organização Mundial da Saúde classifica-o como pouco tóxico, não
representando um problema para a saúde humana, tendo em vista a baixa absorção e rápida
excreção. No entanto, é preciso que se preocupe com a recuperação desse metal, tendo em
vista que a mineração para a sua obtenção é um processo com relevante impacto ambiental
(Savazzi, 2013).
l) Índio, Gálio, Telúrio e Molibdênio
Os painéis em CIGS e CdTe, dentre as tecnologias por esse estudo analisadas, são os
que apresentam maior ocorrência de metais raros, como o índio, o gálio e o telúrio. Além
disso, conforme representado na Figura 2, o CIGS é, dentre as 3 tecnologias de filmes finos,
a única que emprega molibdênio como contato traseiro.

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Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12546

Em contrapartida, em ensaios de lixiviação realizados por Tammaro et al (2016),


verificou-se que os painéis de filmes finos analisados que foram fabricados após o ano de
2010 apresentaram alto teor de molibdênio, demonstrando que não só as tecnologias CIGS
utilizam o metal como contato traseiro. Ainda assim, as leis locais que serviram de referência
para o estudo não estabeleceram um limite de concentração do metal no ensaio de lixiviação,
assim como para o índio, gálio e telúrio. Esses dois primeiros só foram detectados em painel
solar de CIGS. A ABNT não cita esses metais na sua NBR 10004/2004.
Com relação ao molibdênio, sabe-se que esse metal apresenta grande resistência contra
a corrosão e que este constitui um micronutriente essencial para os seres vivos, atuando na
síntese e ativação de uma enzima que realiza a redução do nitrato e também é essencial para
a fixação do nitrogênio em leguminosas. Além disso, auxilia no crescimento de plantas
superiores, evitando quedas prematuras e encurvamento das folhas velhas. Logo, altas
concentrações de molibdênio raramente atrasam o crescimento da flora, mas podem causar
problemas aos organismos de animais ruminantes que se alimentam dessas plantas.
Outrossim, o excesso de molibdênio no ambiente pode causar mortalidade de peixes, de
plânctons e acumulações em peixes e moluscos (Jacob Neto; Rosseto, 1998).
O índio e o gálio estão incluídos na lista da Comunidade Europeia de matérias-primas
críticas por seu risco de fornecimento e alta importância econômica. Se esses metais são
descartados em aterro sanitário, perde-se a oportunidade de serem recuperados e inseridos
novamente como matéria-prima. Com isso, a extração cada vez maior desses minérios causa
sobrecarga ambiental significativa e Amarakoon et al (2018), em estudo aplicando a
ferramenta Avaliação do Ciclo de Vida – ACV, já destacaram impactos relevantes nas
categorias de eco toxicidade, saúde humana, eutrofização e destruição da camada de ozônio
principalmente relacionados aos metais extraídos. Além disso, o telúrio também é um material
extremamente escasso, obtido como subproduto do processamento de minérios de cobre,
chumbo, ouro e bismuto (Amato; Beolchini, 2018).

4.3 Classificação dos Resíduos de Painéis Solares Fotovoltaicos

Os resultados dos estudos realizados pelos autores Cyrs et al (2014), Dias (2015),
Benevit e Veit (2014), Tammaro et al (2016) e Ramos-Ruiz et al (2017) permitiram a
avaliação quantitativa para a verificação da periculosidade dos resíduos de painéis solares.
Cada trabalho, no entanto, utilizou métodos diferentes, conforme as regulamentações locais,
dentre elas: a Regulamentação Europeia (Diretiva 98/83/CE); Regulamentação Italiana (D.lgs

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Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12547

152/06); a Norma Brasileira - NBR 10004/2004 e a Lei Federal de Conservação e


Recuperação de Recursos (RCRA), regulamentada pela Agência de Proteção Ambiental dos
EUA (EPA). O Quadro 1 sintetiza a classificação como resíduos perigosos, de acordo com a
regulamentação local.

Lei Federal de
Regulamentação
Regulamentaçã Conservação e
Geração dos Europeia NBR 10004 /
o Italiana (D.lgs Recuperação de
Painéis (Diretiva 2004
152/06) Recursos (RCRA)
98/83/CE)
– EPA
Dias (2015);
Silício Tammaro et al Tammaro et al
Primeira Benevit e Veit
cristalino (2016) (2016)
(2014)
Tammaro et al Tammaro et al
CIGS
(2016) (2016)
Silício Tammaro et al Tammaro et al
Segunda
amorfo (2016) (2016)
Tammaro et al Tammaro et al Ramos-Ruiz et al
CdTe
(2016) (2016) (2017)
Quadro 1 - Autores que classificam os resíduos de painéis FV como perigosos e seus regulamentos legais
Fonte: Autores (2022).

Em síntese, os resíduos de painéis solares de silício cristalino foram classificados por


Dias (2015) e por Benevit e Veit (2014) como perigosos (classe I), de acordo com a NBR
10004/2004, pela ocorrência de chumbo no ensaio de lixiviação acima da concentração
permitida pela norma. Tammaro et al (2016), conforme seus resultados experimentais,
classificou os resíduos de painéis de silício cristalino, CIGS, silício amorfo e CdTe como
perigosos, de acordo com lei italiana para águas urbanas e industriais lançadas no solo (D.lgs
152/06) e com a legislação europeia para água potável (Diretiva 98/83/CE). Esse resultado se
deve principalmente pela presença de metais perigosos (Pb, Cr, Cd, Ni) nos ensaios de
lixiviação, sendo uma indicação clara do potencial risco ambiental desse tipo de resíduo.
Os estudos de Cyrs et al (2014) com painéis de CdTe permitiram aos autores
classificarem os resíduos como não perigosos, tendo como base a Lei Federal de Conservação
e Recuperação de Recursos (RCRA), regulamentada pela Agência de Proteção Ambiental dos
EUA (EPA). O principal motivo para a classificação citada é que o risco à saúde associado ao
descarte de painéis usados em aterros é remoto nas taxas de uso de painéis de CdTe, até o
referido ano do estudo. No entanto, os autores destacam que, como o risco à saúde depende
da taxa de descarte do painel, que pode aumentar com o tempo, essa questão deve ser revisada
se o uso e o descarte do painel de CdTe aumentarem significativamente.
Por outro lado, pela mesma Lei Federal de Conservação e Recuperação de Recursos
(RCRA), Ramos-Ruiz et al (2017) classificaram, de acordo com os experimentos realizados,

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Resíduos de painéis solares fotovoltaicos: uma revisão dos impactos ambientais e toxicológicos 12548

os resíduos dos painéis de CdTe como perigosos. Os autores verificaram que a taxa de
liberação de cádmio e de telúrio depende das condições biogeoquímicas prevalecentes durante
as diferentes etapas de um aterro. Em um aterro “jovem”, é esperado que o pH prevalecente
no ambiente seja baixo e portanto, haja uma liberação desses metais em maior extensão,
quando comparado a um aterro “maduro”, em que a baixa corrosão do CdTe causada pelas
condições altamente redutoras no ambiente do aterro permite apenas uma pequena liberação
de espécies solúveis de Cd e Te.

Conclusão

Esse trabalho pretendeu entender de que forma os resíduos de painéis solares


fotovoltaicos impactam a saúde humana e o meio ambiente, para que se possa discutir medidas
que proporcionem uma melhor gestão desses resíduos, mais eficaz, visando minimizar
impactos não só com o meio ambiente, mas também com a saúde humana.
Para se atingir uma compreensão dos potenciais impactos ambientais causados por
componentes presentes nos painéis solares fotovoltaicos, definiu-se três objetivos específicos.
Verificou-se quais são os componentes de cada tipo de módulo fotovoltaico, permitiu
averiguar que os painéis solares mais vendidos atualmente são os de silício cristalino (mono
e policristalino), com uma participação de 84% no mercado mundial, e os de filmes finos
(silício amorfo, CdTe e CIGS), que somam o percentual de 15% de participação. Os principais
componentes presentes nos painéis de primeira geração são: o vidro, o silício, o acetato de
vinil etileno, fluoreto de polivinila, chumbo, cromo, prata, cobre, alumínio e estanho. Para os
painéis de segunda geração analisados, os principais componentes são: o telúrio, cádmio,
molibdênio, prata, cromo, cobre, índio e gálio. Rever parágrafo anterior
Ademais, a análise realizada através dos estudos pesquisados, permitiram a
determinação dos aspectos toxicológicos de cada material constituinte. Os ensaios de
lixiviação realizados por outros autores contribuíram para verificar se as concentrações dos
metais para disposição dos resíduos de painéis solares em aterros sanitários ultrapassam os
limites estabelecidos pelas seguintes regulamentações: Lei Italiana para Águas Urbanas e
Industriais Lançadas no Solo (D.lgs 152/06); legislação europeia para água potável (Diretiva
98/83/CE), NBR 10004/2004; e Lei Federal Americana de Conservação e Recuperação de
Recursos (RCRA).
Sendo assim, verificou-se que os resíduos de painéis solares de primeira geração foram
classificados por 3 autores como perigosos de acordo com as diretivas europeia e italiana e

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pela NBR 10004/2004. Os painéis de segunda geração de CIGS e silício amorfo foram
classificados como perigosos por 1 autor, de acordo com as diretivas europeia e italiana; já os
painéis de CdTe foram classificados por 2 autores também como perigosos, pelas leis
europeia, italiana e Lei Federal de Conservação e Recuperação de Recursos, dos Estados
Unidos.
De forma geral, esses resultados se devem principalmente pela presença de metais
perigosos nos ensaios de lixiviação, como o Pb, no caso de painéis de silício, e de Pb, Cr, Cd
e Ni, em painéis de segunda geração, sendo uma indicação clara do potencial risco ambiental
desse tipo de resíduo. Os principais impactos citados se referem aos efeitos da lixiviação
desses metais pesados para o meio ambiente, contaminação das águas subterrâneas, danos à
saúde humana, assim como pela depleção dos recursos naturais para a sua extração. No
entanto, destaca-se que o EVA presente nos painéis de primeira geração pode exercer um
efeito encapsulante nas células fotovoltaicas, o que dificultaria a lixiviação dos metais pesados
para o meio ambiente. Alguns autores consideraram essa possibilidade em seus estudos, mas
também trabalharam em um cenário em que esse fenômeno não aconteceria.
Conhecida a classificação dos resíduos de painéis solares e seus principais
componentes, pesquisas futuras podem ser direcionadas para o uso de componentes químicos
de menor toxicidade e que também tenham uma alta eficiência na geração da energia elétrica.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal da Bahia – IFBA através dos editais 05/2020 DPGI/DIREC e 15/2021
PRPGI pelo incentivo à pesquisa nesse tema.

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Submetido em: 03.07.2023


Aceito em: 03.08.2023

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