Você está na página 1de 44

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA

SONAY DEYSE BORGES DA COSTA

A BIBLIOTERAPIA COMO FONTE MEDICINAL: UM ESTUDO SOBRE A


PRÁTICA DA LEITURA NO HOSPITAL VARELA SANTIAGO – NATAL/RN

NATAL/RN
2020
SONAY DEYSE BORGES DA COSTA

A BIBLIOTERAPIA COMO FONTE MEDICINAL: UM ESTUDO SOBRE A


PRÁTICA DA LEITURA NO HOSPITAL VARELA SANTIAGO – NATAL/RN

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Biblioteconomia da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Biblioteconomia.

Orientadora: Profa. Dra. Eliane Ferreira


da Silva

NATAL/RN
2020
SONAY DEYSE BORGES DA COSTA

A BIBLIOTERAPIA COMO FONTE MEDICINAL: UM ESTUDO SOBRE A


PRÁTICA DA LEITURA NO HOSPITAL VARELA SANTIAGO – NATAL/RN

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Biblioteconomia da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Biblioteconomia.

Aprovada em 23 de julho de 2020.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof.a Dr.a Eliane Ferreira da Silva
Orientadora
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

______________________________________
Prof.ª Dr.ª Andrea Vasconcelos Carvalho
Membro interno
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

______________________________________
Prof.ª Dr.ª Raimunda Fernanda dos Santos
Membro externo
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Biblioterapia: Leitura em formato de cura

O antídoto contra a mais vil loucura,

A fantasia tomando o lugar da realidade,

Ou talvez, ambas se vestindo de cumplicidade.

De repente, as páginas de um livro

Transformam-se no mais sereno abrigo.

Vejo a ansiedade em perigo,

Pois acabara de perder mais um coração aflito.

Diante disso, a paz vem fazer morada,

E a esperança rapidamente pinta as paredes brancas de um hospital com as cores da alvorada.

Os internados se transformam em super-heróis,

E na escuridão da incerteza, todos viram faróis.

Em cada palavra, a imaginação te tira pra dançar,

Em cada parágrafo, a sabedoria se torna lar.

Seu corpo, então, é inundado de anticorpos da felicidade,

E podes depositar na literatura toda a tua vulnerabilidade.

Por isso, veste tua capa, segura minha mão,

Logo logo, a biblioterapia te salvará da solidão.

E quem sabe, no futuro, suas próprias palavras ousem curar...

Aqueles que não conseguem mais sonhar.

Encontraremos-nos lá?

Sonay Costa
AGRADECIMENTOS

A Deus, meu maior Mestre, que todos os dias me ensina de onde vem o
verdadeiro conhecimento e sabedoria. Sou imensamente grata por ter tido um
excelente Guia e Instrutor nessa fase acadêmica. Como também, por me presentear
com a maior dádiva: A vida! Todo o reconhecimento e glória são para Ele!
Ao meu pai, Diógenes Costa, que além de pai, sempre foi o meu melhor
amigo e meu porto seguro. Obrigada por ter acompanhado (e incentivado) meu
crescimento físico, espiritual e acadêmico! Apenas agradeço por ter um homem em
casa que é a representação de Deus aqui na terra, mas principalmente, que é luz
aqui em meu coração!
A minha mãe, Sonale Costa, por ter sido meu escudo nesse campo de
batalha. Obrigada pelas inúmeras madrugadas acordada comigo: No Hospital,
enquanto era criança, e no meu quarto, enquanto adulta. Este trabalho tem suas
marcas, pois foi através da força e da coragem passadas que cheguei até aqui. Sou
infinitamente grata aos céus por ter escolhido uma mulher que possui um abraço
com textura de paz para ser minha mãe!
A minha vó Yaponira, por contar as melhores piadas e me fazer sorrir, como
também, agradeço por sempre ter preparado minhas refeições para eu sair do
estágio e ir para a universidade muito bem alimentada. Nesse trabalho devolvo todo
o esforço e dedicação!
A todas as amizades que eu fiz durante o curso, especialmente ao Bruno
Everton, que além de amigo, foi minha dupla fixa de trabalhos acadêmicos. Não
teria chegado aqui sem ele!
Ao Mateus Paiva, que foi meu motivo de inspiração, me tornando (mesmo
sem saber) uma pessoa melhor!
As minhas colegas do estágio obrigatório, Flávia Figueiredo e Lourdes, pela
amizade, por todos os conhecimentos compartilhados, pelas seções de coaching e
por todos os lanches divididos. Sempre acreditei que Deus coloca as pessoas certas
em nossa vida, e elas são a extensão do amor dEle por mim.
A minha orientadora, a Prof.ª Dr.ª Eliane Ferreira da Silva, que tão
prontamente me acompanhou no final dessa jornada. Eu não poderia ter escolhido
outra professora mais dedicada, competente e humana. Obrigada!
Às membras da minha banca, a Prof.ª Dr.ª Raimunda Fernanda dos Santos
e a Prof.ª Dr.ª Andrea Vasconcelos Carvalho (Às vezes penso que as duas são
anjas disfarçadas de professoras). Obrigada por toda dedicação, e acima de tudo,
obrigada por nunca deixarem de acreditar em mim, apesar das minhas limitações.
A todos os professores com quem tive aula nos quatro anos do curso,
especialmente aos do Departamento de Ciência da Informação.
A todos os professores que tive até chegar à universidade.
Ao bibliotecário Eric Querino, por ter me recebido tão bem na biblioteca
Municipal Rômulo Wanderley (Parnamirim/RN) e por ter contribuído no meu
crescimento profissional e pessoal. Gratidão pela paciência infinita!
Ao Hospital Infantil Varela Santiago, especialmente a Doutora Maria Zélia
Fernandes que cuidou tão bem de mim. Sou grata pelos esforços incessantes!
Como também, agradeço a pedagoga Andréia Nunes que se disponibilizou a ser
entrevistada, fazendo com que essa pesquisa se tornasse real e contribuísse para a
divulgação e o desenvolvimento da biblioterapia na sociedade.
A todos, minha eterna gratidão!
RESUMO

Apresenta um estudo sobre a aplicação da biblioterapia em clínicas médicas do


Hospital Infantil Varela Santiago – Natal/RN, cujo foco são os benefícios oferecidos
pela terapia. O objetivo geral desse estudo é investigar de quais maneiras o uso da
biblioterapia pode melhorar na recuperação dos pacientes. Já os objetivos
específicos são: analisar o papel do bibliotecário como mediador da leitura no
ambiente hospitalar; mostrar como o uso da biblioterapia pode proporcionar lazer e
diversão aos pacientes internados; e despertar o conhecimento sobre a prática
biblioterapêutica na sociedade. Para isso, emprega os métodos indutivo e
funcionalista, além da pesquisa bibliográfica sobre as seguintes temáticas: a história
da biblioterapia; seus campos de atuação; os benefícios oferecidos pela sua
aplicação em hospitais; e o papel do bibliotecário clínico nesse contexto. Além disso,
para a coleta de dados, utiliza a entrevista realizada com a pedagoga Andréia Nunes
(coordenadora da classe hospitalar do hospital Varela Santiago). Por fim, conclui
que a presença da biblioterapia no Hospital Varela Santiago resulta em uma
perspectiva positiva no desenvolvimento emocional, pessoal e social dos pacientes,
como também sugere a participação de bibliotecários terapêuticos no ambiente
hospitalar e o conhecimento sobre esse tema por parte desses profissionais,
juntamente com o desenvolvimento da terapia em outras esferas da sociedade.

Palavras-chave: Biblioterapia. Bibliotecário clínico. Hospital Varela Santiago.


ABSTRACT

It presents a study on the application of bibliotherapy in medical clinics at Hospital


Infantil Varela Santiago - Natal/RN, whose focus is the benefits offered by therapy.
The general objective of this study is to investigate how the use of bibliotherapy can
improve the recovery of patients. The specific objectives are: to analyze the role of
the librarian as a mediator of reading in the hospital environment; show how the use
of bibliotherapy can provide hospitalized patients with leisure and entertainment; and
awaken the knowledge about the bibliotherapeutic practice in society. For this, it uses
the inductive and functionalist methods, in addition to bibliographic research on the
following themes: the history of bibliotherapy; its fields of action; the benefits offered
by its application in hospitals; and the role of the clinical librarian in this context. In
addition, for data collection, it uses the interview with pedagogue Andréia Nunes
(coordinator of the hospital class at Varela Santiago hospital). Finally, it concludes
that the presence of bibliotherapy at Hospital Varela Santiago results in a positive
perspective and in the emotional, personal and social development of patients, as
well as suggests the participation of therapeutic librarians in the hospital environment
and the knowledge on this topic by these professionals, together with the
development of therapy. in other spheres of society.

Keywords: Bibliotherapy. Clinical librarian. Hospital Varela Santiago.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 9
2 A BIBLIOTERAPIA ..................................................................................... 12
2.1 Benefícios da biblioterapia no ambiente hospitalar ................................................. 15
2.2 Campo de ação e fases da biblioterapia ................................................................... 19
2.3 O bibliotecário clínico e a biblioterapia ..................................................................... 22
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 25
3.1 Caracterização da pesquisa ....................................................................................... 25
3.2 Métodos e técnicas ..................................................................................................... 27
3.3 Instrumento de coleta de dados: a entrevista........................................................... 27
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ................. 29
4.1 Análise da entrevista .................................................................................................. 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 36
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 38
APÊNDICE A — ENTREVISTA .................................................................. 42
9

1 INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, é notório que a sociedade está servindo de ―abrigo‖


para diversas pessoas com problemas emocionais, causados pela rotina do dia a
dia, pelo estresse, depressão e traumas, causando, assim, um incessante
desiquilíbrio psíquico. Diante de uma má regularização emocional, as doenças
físicas, como o câncer, dores crônicas, atacam por ano milhares de pessoas. A
Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 09 de outubro de 2012, provou os
fatos ao alertar que existem mais de 350 milhões de pessoas que sofrem com
depressão.
Para contribuir com uma resposta para solucionar tal problema, através da
biblioterapia, os indivíduos podem assentir, trabalhar e lidar com seus próprios
sentimentos, a fim de terem controle sobre suas dores e desconfortos de maneira
inteligente e eficaz. Dessa forma, a biblioterapia proporciona um considerável
desenvolvimento na qualidade de vida de muitos pacientes internados em hospitais.
A palavra Biblioterapia é formada pela junção de dois vocábulos de origem
grega — biblíon (livro) e therapeía (terapia). Ou seja, é a atividade que se utiliza de
materiais literários com o propósito de desenvolver e proporcionar o
reestabelecimento emocional e social dos usuários, para que, de tal forma,
encontrem prazer no ambiente hospitalar. Visando olhar de perto a biblioterapia em
um ambiente específico, este trabalho teve como propósito original apresentar os
resultados de pesquisa realizada com pacientes internados em clínicas médicas do
Hospital Infantil Varela Santiago – Natal/RN.
É digno de nota mencionar que a proposta inicial desta pesquisa era mais
ambiciosa, pois a princípio, a intenção era descobrir o nível de satisfação da
biblioterapia para os pacientes internados no Hospital Varela Santiago através da
entrevista. No entanto, esta pesquisa foi simplificada, refazendo-se um recorte da
pretensão original devido à pandemia que se alastrou pelo mundo e,
consequentemente, alcançou e impactou o Brasil. Especialmente a área que envolve
a saúde e seus profissionais ficaram sobrecarregados com novos protocolos de
atendimento, além do isolamento social necessário.
A pergunta norteadora é: Como o uso da biblioterapia pode contribuir na
recuperação dos pacientes internados no Hospital Varela Santiago – Natal/RN?
Levando em consideração a hipótese: A presença da biblioterapia em ambientes
10

hospitalares resulta em uma perspectiva positiva no desenvolvimento emocional,


pessoal e social dos pacientes.
O objetivo geral é investigar de quais maneiras o uso da biblioterapia pode
ajudar na recuperação dos pacientes internados no Hospital Varela Santiago –
Natal/RN.
Já os objetivos específicos são:

● analisar o papel do bibliotecário como mediador da leitura no ambiente


hospitalar;
● mostrar como o uso da biblioterapia pode proporcionar lazer e diversão aos
pacientes internados;
● despertar o conhecimento sobre a prática biblioterapêutica na sociedade.

A pesquisa foi realizada tendo como base a entrevista feita com a pedagoga
Andréia Nunes (coordenadora da classe hospitalar do hospital Varela Santiago), no
dia 27 de fevereiro de 2020, via e-mail. A entrevista conteve quatro perguntas sobre
a implantação, aplicação, desenvolvimento e a importância da biblioterapia na
instituição.
A justificativa deste trabalho envolve o convencimento de que a presença do
bibliotecário tem se expandido em diversas áreas de atuações, e uma delas é a
biblioterapia. Visando que a prática dessa terapia se dá através da leitura, o cientista
da informação possui a qualificação no processo de interação e gestão terapêutica,
pois atua como facilitador, proporcionando atividades lúdicas e fomentando o prazer
a fim de proporcionar bem-estar aos pacientes. Logo, a pesquisa tende a incentivar
e contribuir com o estudo, o preparo e a formação de bibliotecários para atuarem em
ambientes hospitalares, focando nos benefícios oferecidos aos internados através
da biblioterapia.
Além disso, com um maior conhecimento sobre essa área de atuação, o curso
de Biblioteconomia poderá oferecer disciplinas mais voltadas e específicas para o
âmbito psicológico e a aplicação da leitura, a fim de levarem o conhecimento para
dentro dos hospitais.
Ademais, é importante ressaltar que boa parte da sociedade não conhece
e/ou não faz uso do processo biblioterapêutico. Com isso, o estudo proposto neste
projeto ampliará a visão e o conhecimento dos indivíduos em relação à terapia
11

oferecida, e este poderá ser usado como incentivo para a sua utilização em outras
instituições, promovendo, assim, mais oportunidades e acesso ao recurso
terapêutico. Consequentemente, inspirará a implantação de um programa de
Biblioterapia, contemplando todas as demais unidades hospitalares de internação.
Com 1 ano e alguns meses de vida, fui internada no próprio Hospital Varela
Santiago em função de um tumor intramedular. Sendo uma criança, aquele lugar
não trazia conforto e alegria, por isso, passava diversas madrugadas chorando nos
braços da minha mãe (Sonale Costa). Todavia, a partir do momento que ela
começou a ler historinhas infantis, fui acalmando-me. Comecei a viajar em cada
palavra proferida e de repente tudo parecia ganhar sentido e propósito. As sessões
de quimioterapia (e seus efeitos colaterais) eram enfrentadas com mais coragem,
otimismo e, acima de tudo, paz. Diante disso, a biblioterapia veio com o propósito de
ser ―luz‖ nos espaços ―sombrios‖ de diversos hospitais, e foi diante desta afirmação
que a escolha desta pesquisa se deu.
A primeira biblioterapeuta que conheci, não tinha nenhuma formação em
biblioteconomia. Mas levou consigo a magia dos livros para a minha realidade com
maestria. Logo, tal trabalho repercutiu no íntimo desta concluinte ao ponto de
motivá-la ao ponto de fazê-la debruçar-se sobre o tema para refletir mais de perto a
respeito dele. Também teve a função de dar transcendência à adoção desse recurso
por incentivar a formação de profissionais capacitados, para que, dessa forma,
muitos pacientes (assim como esta graduanda foi um dia) sejam atingidos pela
esperança e pelo poder da literatura.
Este trabalho está dividido em quatro seções. Na primeira seção, são
abordadas a história da biblioterapia, seus campos de atuação, os benefícios
oferecidos pela sua aplicação em hospitais e o papel do bibliotecário clínico nesse
contexto. Na segunda seção, é detalhada a metodologia usada na pesquisa. Na
terceira, são apresentadas a história do Hospital Varela Santiago e a análise da
entrevista realizada na instituição. E, por fim, na quarta seção, é apresentada a
conclusão, contendo os resultados e considerações finais do trabalho, como também
as respostas para o problema apresentado nesta pesquisa.
12

2 A BIBLIOTERAPIA

O homem, desde a Antiguidade, vem deixando marcas no mundo. Na época


das cavernas, já era registrado (através das pinturas rupestres) o cotidiano
vivenciado. Os desenhos continham uma ideia, e qualquer indivíduo podia entender
a mensagem. Entretanto, com o transcorrer do tempo, com as variantes ideografias
(representação direta do sentido das palavras por sinais gráficos) e o conhecimento
aglomerado, os sumérios geraram um artifício organizado em sílabas, onde, logo
após, tornou-se o ―ponto de partida‖ para os fenícios criarem o alfabeto, no qual,
cada sinal correspondia a um som, e não a uma ideia ou objeto (muito mais simples
do que a escrita cuneiforme e a hieroglífica). Tal criação teve como intenção a
ascensão do comércio e a agilidade da comunicação com outros povos.
Muito se é debatido sobre o hábito e a importância da leitura, enfatizando
seus benefícios. Brito (2015), compara a leitura a uma viagem: ―Quando lemos um
bom livro e nos deixamos ser transportados para uma realidade paralela, onde à
medida que cada página é virada, o leitor é submetido a universo único, repleto de
descobertas, encantamento e diversão‖. Orlandini (2005, p. 19) complementa:

Atribui-se à leitura um valor positivo absoluto: ela traria benefícios


óbvios e indiscutíveis ao indivíduo e à sociedade – forma de lazer e
de prazer, de aquisição de conhecimentos e de enriquecimento
cultural, de ampliação das condições de convívio social e de
interação.

A leitura não é apenas uma ação de formação intelectual, tendo a escola


como fonte principal. Mas é um ―pedaço de vida‖ presente na existência de cada
indivíduo em seu contexto social e na instituição que se encontra. A leitura ―abre‖
portas e janelas para um mundo completo de possibilidades. É a chave que
―destrava‖ mentes trancadas pela ignorância. É a lanterna que ―ilumina‖ um caminho
escuro pelo desconhecimento. É a flor que ―desabrocha‖ no deserto da infelicidade.
É a bússola de ―viajantes perdidos‖ onde cada palavra se torna um grande tesouro –
de conhecimento e contentamento.
Com o desenvolvimento da escrita, o registro informacional ficou mais
acessível, além do mais, proporcionou a permissão do registro da história e do
conhecimento para os povos e para as futuras gerações. Diante disso, os livros
―viajaram‖ até Roma, onde adquiriu o modelo atual, com páginas costuradas. Mas,
13

foi a partir da invenção do pergaminho que houve um grande avanço na fabricação,


possibilitando a escrita dos dois lados do material.
O tempo passou, e em 1440, quando Gutenberg inventou a prensa de tipos
móveis, a difusão do papel possibilitou a popularização dos livros, como também a
amplificação da imprensa, a democratização da educação e o desenvolvimento
psicológico e social. Diante de tal evolução, o filósofo Francis Bacon (1625) alega
que ―a leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita precisão‖,
já Bottéro complementa afirmando que ―[...] a mensagem escrita tem a condição de
dar impulso a uma série de ondas concêntricas de reflexão, ampliadas e
aprofundadas sucessivamente‖ (1995, p. 22).
Mas, afinal, o que é ler? Silva (1987, p. 96), esclarece sobre o assunto:

A leitura não pode ser confundida com decodificação de sinais, com


reprodução mecânica de informações ou com respostas
convergentes a estímulos escritos pré-elaborados. Esta confusão
nada mais faz do que decretar a morte do leitor, transformando-o
num consumidor passivo de mensagens não significativas e
irrelevantes.

A decodificação de um conteúdo é uma construção individual. Por isso,


através das leituras reflexivas, é possível produzir valores morais e éticos, como
também é capaz de gerar motivação e alegria, podendo, então, ser compartilhada.
Assim, SABINO (2008, p. 1) argumenta:

A leitura reflexiva representa uma das boas vias para entender a


realidade. Ler um texto não acompanhado de reflexão não constitui
caminho para o entendimento da realidade. Quantas vezes se lê
mecanicamente e, no final da leitura, não se consegue resumir as
principais ideias que o texto pretende transmitir. Assim, não basta
tirar informação de um texto. Além do entendimento do texto, a
passagem a um outro estado de leitura é requerido: a crítica ao
mesmo, com base em pressupostos diferentes, buscando novas
inferências e novas implicações. É preciso proceder à sua análise
crítica, o que requer operações mentais mais complexas do que a
simples recepção de informação. Ler e refletir sobre o que se lê à
medida que se lê é essencial para a produção de conhecimento.

De acordo com a citação, pode concluir-se que a reflexão da leitura é


fundamental para que haja uma melhor absorção e compreensão do conteúdo
exposto, a fim de gerar cadeias de pensamentos rumo ao conhecimento e à
14

familiarização do desconhecido, promovendo, dessa forma, novas ideias e


experiências.
Katz (1992, p. 173) considera objetivos da biblioterapia:

Ampliar a compreensão intelectual e o conhecimento de um


problema ou diagnóstico; incrementar habilidades sociais e reforçar
comportamento aceitável, e corrigir ou remover comportamento
nocivo ou confuso; dar orientação espiritual ou inspirativa;
desenvolver um senso de pertencimento, o qual por sua vez ajuda o
paciente a se sentir melhor emocionalmente, explorar metas e
valores pessoais.

Na sequência conheceremos sobre o surgimento da biblioterapia,


demonstrando que tal ferramenta foi capaz não apenas de marcar uma geração,
mas também de transpor os limites do tempo deixando suas marcas benéficas
perante a sociedade.
Nas idades Antiga e Média, já se fazia referência ao uso terapêutico da
leitura, como no Egito Antigo, quando o Faraó Rammsés II mandou colocar no
frontispício de sua biblioteca: ―Remédios para a alma‖ (ALVES, 1982, p. 55).
Segundo Momtet, as bibliotecas egípcias se localizavam em templos denominados
de ―Casas de vida‖. De acordo com Seitz (2000), entre os romanos do primeiro
século encontra-se as palavras de estímulo a leitura: ―Aulus Cornelius Celsus‖. No
Século XIII, mais precisamente em 1272, o Hospital Al Mansur recomendava aos
pacientes a leitura de trechos especialmente escolhidos e contidos no Alcorão como
parte do tratamento médico (MARCINKO, 1989). John Minson Galt II, médico, um
dos primeiros a escrever artigos sobre Biblioterapia (ainda sem a utilização do
termo), ficou conhecido pelo seu ensaio tratando da leitura, recreação e diversão
para insano, em 1853 (ALVES, 1982, p. 55).
Além disso, a biblioterapia se fez presente durante a Primeira Guerra Mundial:
os psiquiatras que acompanhavam as tropas americanas notaram que os soldados
feridos que tinham acesso à leitura tiveram uma recuperação mais rápida e eficiente
em comparação àqueles que ficaram à mercê do tempo. Todavia, no ano de 1904,
uma bibliotecária tornou-se chefe da biblioteca do hospital de Wanderley,
Massachussets, e iniciou, assim, um programa que envolvia os aspectos
psiquiátricos da leitura, fazendo com que a biblioterapia se tornasse um ramo da
biblioteconomia, e trouxesse diversos benefícios para a área. Porém, o primeiro
15

registro do termo é atribuído ao americano Samuel Mcchord Crothers, em seu artigo


intitulado Literary Clinic, publicado em 1916, no periódico Atlantic Montly.

Outro registro importante sobre a prática da biblioterapia ocorreu em


1916, quando o então Diretor do Comitê de Controle das Instituições
do Estado, em Iowa, Estados Unidos, citou o trabalho da bibliotecária
Carey, uma pioneira em bibliotecas hospitalares, afirmando que livros
são ―ferramentas‖ para serem usadas com uma expectativa
inteligente de alcançar resultados (SEITZ, 2000).

Demorou algum tempo para que houvesse o interesse sobre essa terapia no
Brasil, mas em 1975, a autora Ângela Maria Lima Ratton (na época bibliotecária),
estudante de Psicologia e ex-professora de Biblioteconomia da Universidade Federal
de Minas Gerais, publicou o primeiro artigo sobre o tema no país, considerado um
marco histórico da biblioterapia no Brasil. A área foi explorada doravante o trabalho
da professora Clarice Fortkamp Caldin, professora de Biblioteconomia da
Universidade Federal de Santa Catarina e escritora do livro ―Biblioterapia: um
cuidado com o ser‖. Seus primeiros artigos datam de 2001, desempenhando seu
mestrado e doutorado na área. Ademais, foi instituída a Sociedade Brasileira de
Biblioterapia Clínica, com o objetivo de gerar peritos neste campo que estejam aptos
a exercitar este papel. ―Nesta comunidade também são implementados estudos e
atividades que giram em torno desta temática, englobando concepções pertinentes
às esferas da Medicina e da Educação‖ (SANTANA, 2004).
Diante da história dos estudos e da evolução da biblioterapia, iniciou-se um
constante interesse acerca de seus benefícios em ambientes hospitalares, pois
acreditavam que através dessa ferramenta o processo de cura se daria de maneira
eficaz e indolor, favorecendo os pacientes nos âmbitos mentais e sociais.

2.1 Benefícios da biblioterapia no ambiente hospitalar

Seitz (2000), em dissertação de mestrado, apresentou um estudo objetivando


experienciar a prática biblioterapêutica com pacientes internados em uma clínica
médica, em que verificou um processo de hospitalização menos doloroso e
agressivo. A internação promove desconfortos físicos, sociais e modificações nas
atividades diárias do paciente (há a presença da ansiedade, o medo, a monotonia e
a angústia inerentes à hospitalização). Constatou-se, também, que por meio da
16

leitura os pacientes puderam compartilhar suas emoções, dúvidas e angústias, bem


como vivenciarem momentos de alegria no grupo. É perceptível a beneficência do
momento em que a biblioterapia passa a ser uma realidade no contexto hospitalar,
pois os pacientes desenvolvem uma interação interpessoal com os que estão ao seu
redor e expandem, então, um elo de amizade e confiança, gerando mais
probabilidades de bem-estar e melhorias nos aspectos emocionais e sociais.
Kamiyama (1985, p. 45) menciona que ―quando os pacientes vivem em ambiente
coletivo, um pode suprir as deficiências do outro; esta interação favorece a
promoção e manutenção da identidade social do indivíduo e melhora o atendimento
às suas necessidades afetivas.
Além do mais, é válido o diálogo entre os internados, em razão de ambos
estarem diante de uma mesma realidade, podendo, assim, se apropriar de uma
ajuda mútua para ―vestirem suas armaduras‖ e enfrentarem seus ―dragões‖. Por
isso, torna-se nítido o desejo pela realização da próxima sessão, pois o momento
traz uma mistura de sentimentos e possibilidades de esperança quanto ao futuro,
através da alegria do presente, dado que a vida estará sendo tecida coletivamente
por fios que os unem rumo à cura. Takito (1985, p. 45) alega que―os pacientes
reportam-se uns aos outros como amigos, companheiros, colegas, que tem em
comum as mesmas dificuldades, e encontravam na presença, no diálogo e entre-
ajuda, o apoio e a alegria para atender suas necessidades‖. A biblioterapeuta
Christyanne Bueno confirmou o posicionamento do Takito (1985) em uma entrevista
para o site ―Biblioterapia‖, administrado pela Ana Cláudia Leite, ao expor:

Os Círculos de Biblioterapia são envolventes, revelam novos olhares,


acolhem conversas, promovem leituras, partilham histórias, abraçam
na dor e nos sorriem com cumplicidade, novas versões transbordam.
A Biblioterapia precisa ser vivenciada! (BUENO,2019).

Tanto para crianças como para adultos e idosos, há inúmeros benefícios


quando o assunto é a prática da leitura, uma vez que há um estímulo específico no
cérebro que ajuda na formação de sinapses numa estrutura cerebral chamada corpo
caloso. Em geral, quanto mais conexões através do corpo caloso, mais conexões de
memória a pessoa tem, isso sem falar da dopamina (hormônio do bem-estar) que
atua como alívio frente às tensões emocionais. A dopamina no organismo está
relacionada, também, ao surgimento de doenças. O Mal de Parkinson, por exemplo,
17

tem sua origem ligada à falta de tal substância, isso porque, com o envelhecimento,
há a morte natural de neurônios, o que reduz a produção do neurotransmissor.
Também é importante mencionar que o cérebro tem as reações químicas
ligadas ao pensamento e não à realidade, por isso não sabe a diferença do que é
real ou imaginário. A psicóloga Ana Karla Lima (2019) explica: ―Quando você está
desanimado, o seu corpo tende a acompanhar esse estímulo e te leva a não ter
vontade de fazer nada. Quando está feliz com algo que aconteceu ou consigo
mesmo, sente energia e motivação para realizar diversas atividades‖. Como o
cérebro não sabe diferenciar a fantasia da realidade, o corpo pode reagir com
estímulos positivos a um momento de leitura, fazendo com que a imaginação se
torne a mais nova realidade. Esse ―superpoder‖ é apenas o princípio dos benefícios
que a biblioterapia carrega dentro de si.
Caldin (2010) cita alguns outros benefícios trazidos pela biblioterapia, são
eles:
● Aliviar as tensões diárias, diminuir o stress;
● Facilitar a socialização;
● Estimular a criatividade e a imaginação;
● Diminuir a timidez;
● Ajudar no usufruto da experiência vicária;
● Criar um universo independente da vida quotidiana;
● Experimentar sentimentos e emoções em segurança;
● Auxiliar a lidar com sentimentos como a raiva ou a frustração;
● Mostrar que os problemas são universais e é preciso;
● Aprender a lidar com eles;
● Facilitar a comunicação, auxiliar na adaptação à vida hospitalar, escolar,
prisional, etc;
● Desenvolver a maturidade, manter a saúde mental, conhecer melhor a si
mesmo;
● Entender (e tolerar) as reações dos outros;
● Verbalizar e exteriorizar os problemas;
● Afastar a sensação de isolamento;
● Estimular novos interesses;
● Provocar a liberação dos processos inconscientes;
● Clarificar as dificuldades individuais;
18

● Aumentar a autoestima.

Já Seitz (2000), em um dos seus estudos biblioterapêuticos, utilizou vários


tipos de fontes de informação, como textos literários, artigos de jornais e de revistas,
além de se observar o tamanho e ritmo de leitura adequados para o resultado
esperado. Por exemplo, a leitura adequada para insônia é mais lenta e repetitiva. Já
alguns psicóticos, como portadores de esquizofrenia, têm uma excelente adaptação
a poesias e a outros textos altamente imaginativos. Ela ainda alega:

A imaginação que as pessoas fazem quando leem um livro é muito


diferente daquela gerada por um filme ou outro método audiovisual.
O indivíduo constrói as imagens livremente em sua imaginação de
acordo com seu universo, compreendendo as situações vividas por
cada personagem, então, passa assim, a observar as situações que
são expostas na história e consequentemente, correlacionam e
compreendem os próprios problemas a partir delas (SEITZ, 2000).

Silva (1981, p. 43) acrescenta: ―Mesmo com a presença marcante de outros


meios de comunicação, o livro permanece como veículo mais importante para a
criação, transmissão e transformação da cultura‖. Silva e Pinheiro (2008, p. 10)
confirmam tal afirmação ao exporem: ―A leitura pode promover mudanças
significativas na vida das pessoas e, consequentemente no meio onde vivem‖.
De fato, os remédios vêm com a finalidade de tratar a dor física, entretanto, a
biblioterapia propõe o alívio da alma, seja encontrado em livros de romance ou de
auto ajuda, seja individualmente ou em grupo, há o propósito de não apenas curar,
mas agregar no restabelecimento mental e social. Deste modo, o médico não deve
somente se aliar ao farmacêutico, mas, sem dúvidas, ao biblioterapeuta, levando,
por consequência, os indivíduos para uma atmosfera de paz e cura.
Sendo assim, ressalto um dos belos campos da biblioteconomia que visa
melhorar o ser humano de forma integral, utilizando-se de ferramentas pedagógicas
e sociais, tendo como resultado principal o desenvolvimento pessoal. Por isso, é
necessário conhecer também toda a abrangência que a biblioterapia carrega dentro
de si, pois em cada fase, e em cada campo de ação vai sendo ―derramado gotas‖ de
restauração física e emocional.
19

2.2 Campo de ação e fases da biblioterapia

A biblioterapia está dividida em diversos campos, contudo, os mais


conhecidos são: a biblioterapia institucional, a clínica e para fins de desenvolvimento
pessoal. Pereira (1996, p. 57) afirma que a ―biblioterapia institucional é a que se
refere ao uso da literatura – primeiramente didática – com clientes, individualmente,
e que já se encontra institucionalizada‖, já a clínica visa os indivíduos com distúrbios
comportamentais e problemas de saúde mental, utilizando materiais que sejam de
acordo com o perfil dos pacientes. A biblioterapia para desenvolvimento pessoal
possui um caráter corretivo e preventivo, além de poder ser trabalhada
coletivamente, sendo indicada para programas educacionais. Nesse sentido, cada
campo de ação deve ser correlacionado a um tipo de finalidade específica.
Pensando nisso, a autora Seitz (2000), com o intuito de abranger o
conhecimento sobre os diversos ramos da biblioterapia, expôs no quadro abaixo um
resumo de cada esfera e suas aplicações.

Quadro — Campos de ação da biblioterapia


CAMPO DE AÇÃO CLIENTE/FINALIDADE
Visa à recuperação de jovens
CORRECIONAL delinquentes, adultos criminosos com
desajuste social e/ou emocional.
Atuar em crises de adolescentes e
EDUCAÇÃO crianças com problemas especiais:
morte em família; separação dos
pais; crianças afastadas de seus
lares; vitimas de incesto, de estupro.
MEDICINA Tratar de pessoas com problemas
emocionais ou comportamentais.
PSIQUIATRIA Auxiliar pacientes com alguns tipos
de distúrbio, dependente químicos.
IDOSOS Diminuir a ansiedade e para ajudá-
los a aceitar a nova condição de vida.
Fonte: Adaptado de Seitz (2000, p. 17)
20

Partindo da análise do quadro acima, é oportuno alegar que a biblioterapia


estende-se às variadas classes, alcançando tanto os jovens como também os
idosos, pois consiste em um método que proporciona o bem-estar de maneira
eficiente e educacional. Além disso, é importante mencionar que a abrangência da
biblioterapia produz um maior conhecimento sobre a área perante à sociedade e um
significativo interesse na contratação de profissionais especializados.
Diante do vasto campo de ação e da evidência das finalidades, Pardeck
(1994), menciona que a biblioterapia implica em quatro fases: identificação, seleção,
apresentação e seguimento. Cada uma dessas etapas é considerada
cuidadosamente pelo terapeuta. Tem de existir um indivíduo que viva uma situação
específica e, assim, o terapeuta identifica os recursos que são necessários para que
haja uma solução para o problema anteriormente diagnosticado. Caldin (2009, p.
149) ressalta que o principal objetivo da Biblioterapia concerne o fato de que ―a
leitura, narração ou dramatização de um texto literário produza um efeito terapêutico
ao moderar as emoções, permitir livre curso à imaginação e proporcionar a reflexão
– seja pela catarse, identificação ou introspecção‖. Com base em estudos de Freud
e Aristóteles, Caldin ainda explica:

● catarse: pode ser entendida como a pacificação, a serenidade e o alívio das


emoções provocadas pela leitura;
● humor: percebido em textos que o privilegiem, pois é a expressão de
alegria, contentamento;
● identificação: onde ocorre a assimilação de algum aspecto lido e o
indivíduo modifica-se, segundo o modelo que lhe causou afinidade;
● introjeção: está ligada a identificação, onde o sujeito absorve objetos e
qualidades percebidas em seu exterior;
● projeção: é a transferência de qualidades, sentimentos, desejos que o
individuo lê, desconhece, ou recusa em si;
● introspecção: a leitura favorece isto, pois leva o indivíduo à reflexão sobre
os seus sentimentos;
● universalidade: A semelhança dos problemas da trama com a sua realidade
faz com que o leitor chegue a uma etapa final, onde consegue compreender outros
problemas similares.
21

É diante das fases da biblioterapia que se pode entender como o cérebro


humano reage ao se submeter aos contos literários, pois todo envolvimento entre
leitor e o personagem o fará criar uma nova realidade, definida através do impacto
emocional que consequentemente gerará a sensação de bem-estar. Outrossim, a
prática da leitura conduzida, fará obter, por parte do receptor, auto entendimento,
reflexão e diminuição do estresse emocional. Entretanto, após conhecer sua
funcionalidade, é visto que há a necessidade de um profissional especializado para
a aplicação de tal terapia, objetivando resultados exatos e precisos.
22

2.3 O bibliotecário clínico e a biblioterapia

O ano de 1751 marca o aparecimento do termo bibliotecário, proposto por


Diderot e D’Alembert, e divulgado em um artigo da Enciclopédia. Nesta obra o
bibliotecário é definido como ―aquele que é responsável pela guarda, preservação,
organização e pelo crescimento dos livros de uma biblioteca. Ele pode ter também
funções literárias que demandam talento‖ (DIDEROT; D’ALEMBERT, 1993, p. 212).
Com base nesse conceito bastante erudito sobre a imagem do bibliotecário, é visto
atualmente que tal profissional não é apenas responsável pela organização do
acervo, mas também pela sua disseminação e sua aplicação em diversos campos.
Em relação aos novos conhecimentos e habilidades, a SLA (Special Librarian
Association) sugere que os bibliotecários devem:

● Possuir o compromisso com a qualidade de seus serviços;


● A motivação para buscar novas oportunidades, tanto em bibliotecas, como
noutras unidades de documentação;
● A associação e as alianças com outros profissionais e instituições,
demonstrando sua capacidade de trabalhar em equipe;
● A habilidade de comunicação, de modo a saber negociar e captar novas
oportunidades e despertar confiança e respeito;
● O compromisso com a educação continuada e o desenvolvimento da
profissão.

Todavia, foi em 1964, no Workshop sobre Biblioterapia e Saúde Mental, que


discutiu-se sobre o termo ―Bibliotecário clínico‖, comprovando a qualificação (através
de treinamentos) dos bibliotecários para participarem dos cuidados de reabilitação
terapêutica e paliativas de indivíduos em hospitais e instituições. Kinney (1938), no
seu artigo clássico sobre Educação do biblioterapeuta, lembra que ―o biblioterapeuta
é primeiramente um bibliotecário que vai mais adiante no campo da orientação da
leitura e torna-se um profissional especializado‖. A autora ainda continua:

O estudante precisaria de um curso básico de Biblioteconomia, de


experiência de trabalho numa biblioteca e de um grande
conhecimento de literatura. Há também a necessidade de se estudar
os princípios e técnicas de Psicologia porque o terapeuta deve
23

avaliar o significado emocional das reações do cliente, relacionando


a leitura com as suas necessidades e tornando válidas as
interpretações de suas reações.

Kinney (1938) ressalta que a biblioterapia deve ser aplicada por um


bibliotecário, no entanto, esse profissional deve ter tido conhecimentos prévios sobre
psicologia a fim de agregar nos conhecimentos literários e informacionais, por isso, é
recomendável que a grade curricular do curso de biblioteconomia seja também
adaptada aos diversos campos de atuação. Algumas universidades já oferecem a
disciplina de ―biblioterapia‖, como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
onde todo semestre capacita bibliotecários terapeutas para o mercado de trabalho.
O papel do bibliotecário é o que Hannigan (1932) consideraria de um
farmacêutico. Ele diz: ―Nele, o bibliotecário preenche as ordens do médico sobre os
livros prescritos, com certa responsabilidade em sugerir leituras e discussões com os
pacientes‖. Com isso, Pereira (1996) lista algumas qualidades que o bibliotecário
necessita para atuar neste segmento, entre elas: estabilidade emocional, controle de
preconceitos, tolerância, objetividade, paciência, alegria, habilidade, poder de
observação, flexibilidade e domínio dos próprios sentimentos. Ferreira (2003, p. 36)
complementa apontando as diretrizes para a aplicação da biblioterapia realizada por
bibliotecários e/ou outros profissionais, que pode ser pontuado da seguinte forma:

● ele deve escolher um local adequado para a realização das reuniões do


grupo;
● deve ter tido um treinamento adequado e estar capacitado para conduzir as
discussões do grupo;
● deve formar grupos homogêneos para leitura e discussão de temas
previamente escolhidos;
● deve preparar listas de material bibliográfico adequadas às necessidades de
cada grupo, e escolher outros materiais (filmes, músicas), de acordo com a idade e
necessidades a nível cultural e social dos participantes;
● mesmo que não haja aplicação de terapia ou psicoterapia, como em alguns
casos de biblioterapia para crianças, é necessário estabelecer uma situação de
ajuda entre o bibliotecário e o usuário, a partir daí será possível elaborar um
programa estruturado;
24

● o bibliotecário ou biblioterapeuta, deve usar de preferência materiais com os


quais esteja familiarizado;
● deve selecionar materiais que contenham situações familiares aos
participantes do grupo, mas que não precisam necessariamente conter situações
idênticas às vividas pelas pessoas envolvidas no processo;
● deve selecionar materiais que traduzam de forma precisa os sentimentos e
os pensamentos das pessoas envolvidas sobre os assuntos e temas abordados,
com exceção de materiais que contenham uma conotação muito negativa do
problema, como poesias sobre suicídios, por exemplo;
● deve selecionar materiais que estejam de acordo com a idade cronológica e
emocional da pessoa, sua capacidade individual de leitura e suas preferências
culturais e individuais;
● deve selecionar material impresso e não impresso na mesma medida.

Logo, cabe ao profissional de Biblioteconomia unir a técnica acadêmica a um


trabalho de cunho social, voltado para o bem-estar dos pacientes. Como afirma
Callenge (1998, p. 11), ―a biblioteconomia se constrói sobre modelos que exigem
processos de ação‖, ou seja, não se pode firmar que a Biblioteconomia é uma área
imóvel, mas sim um campo dinâmico da sociedade. O bibliotecário não vem apenas
para se conformar com os ―bastidores‖ de uma biblioteca, mas para fazer a diferença
nos ―palcos‖ onde ele pisar, levando, assim, o poder da literatura em suas mãos.
Para tanto, é essencial que o curso de biblioteconomia proporcione disciplinas
mais voltadas e específicas para esses temas como a biblioterapia, o que estaria
plenamente de acordo com o objetivo do curso, o qual, de acordo com os
parâmetros curriculares do Ministério de Educação do Brasil e autores como Souza,
Pardini e Braga (2002), é formar profissionais capacitados e aptos a identificar as
demandas de informação e propor soluções inovadoras, além de atuarem como
especialistas no tratamento da informação, planejamento e administração.
25

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De acordo com Andrade (2010, p. 117), ―metodologia é o conjunto de


métodos ou caminhos que são percorridos na busca do conhecimento‖. Para
Marconi e Lakatos (2010, p. 65), método

é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior


segurança e economia, permite alcançar o objetivo — conhecimentos
válidos e verdadeiros — traçando o caminho a ser seguido,
detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.

Em síntese, o método científico contribui na demanda do conhecimento,


servindo de ―ponte‖ até o destino do aprendizado, evitando, assim, o caminho da
ignorância. Tal aprendizado é construído através de pesquisas, devolvendo
respostas sólidas para a sociedade.
A partir disso, Andrade (2010, p. 109) define pesquisa como ―o conjunto de
procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo
encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos
científicos‖. Ruiz (1991, p. 48) complementa: ―É a realização concreta de uma
investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da
metodologia consagradas pela ciência‖. Diante da complexidade das diversas
atividades denominadas ―pesquisa‖ e sabendo que toda pesquisa é norteada por um
problema, tendo a solução como objetivo final, é encontrado tais exigências:

● investigar o assunto e compreendê-lo;


● buscar informações em fontes distintas;
● comparar ideias de diferentes autores, selecionando-as sob uma postura
crítica;
● construir a redação do próprio texto, a qual deve contar com o apoio de um
referencial teórico que sustente os posicionamentos assumidos pelo autor.

3.1 Caracterização da pesquisa

A pesquisa caracteriza-se como descritiva, pois ―realiza-se o estudo, a


análise, o registro e a interpretação dos fatos do mundo físico sem a interferência do
26

pesquisador‖ (BARROS; LEHFELD, 2007). A caracterização do fenômeno estudado


marca este tipo de pesquisa.
Além disso, configura-se em ―pesquisa de campo‖, pois a coleta de dados foi
realizada no Hospital Varela Santiago – Natal/RN. Gil (1994) alega: ―A pesquisa de
campo é caracterizada por investigações que, somadas às pesquisas bibliográficas
e/ou documentais, se realiza coleta de dados junto às pessoas, ou grupos de
pessoas, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa‖. Desse modo, o
pesquisador definirá os objetivos da pesquisa, as hipóteses, como também o meio
de coleta de dados, tamanho da amostra e como os dados serão tabulados e
analisados.
Com base no exposto, o instrumento utilizado para a coleta de dados foi a
entrevista estruturada. O método da entrevista se caracteriza pela existência de um
entrevistador, que fará perguntas ao entrevistado anotando as suas respostas. A
entrevista pode ser feita individualmente, em grupo, por telefone ou pessoalmente
(MATTAR, 1996). Dessa forma, a entrevista foi realizada no dia 27 de fevereiro de
2020, via e-mail, com a pedagoga Andréia Nunes (coordenadora da classe
hospitalar do hospital Varela Santiago), contendo, assim, quatro perguntas
subjetivas sobre a implantação, aplicação, desenvolvimento e a importância da
biblioterapia na instituição.
A pesquisa será predominantemente qualitativa.

A pesquisa qualitativa atribui importância fundamental aos


depoimentos dos atores sociais envolvidos, aos discursos e aos
significados transmitidos por eles. Nesse sentido, esse tipo de
pesquisa preza pela descrição detalhada dos fenômenos e dos
elementos que o envolvem (VIEIRA; ZOUAIN, 2000).

Por conseguinte, esta pesquisa apresentará a descrição e a interpretação da


temática a fim de levantar informações a respeito da prática biblioterapêutica.
Todavia, é necessário conhecer os métodos e as técnicas utilizados tendo a
compreensão sobre a construção da ―ponte‖ que guiará até o destino final: o
conhecimento.
27

3.2 Métodos e técnicas

Os métodos de abordagem referem-se ao plano geral do trabalho, e os de


procedimento, a suas etapas (ANDRADE, 2010). O método de abordagem nesta
pesquisa foi o indutivo. Esse método é caracterizado pelo estabelecimento de leis e
teorias gerais baseado em constatações particulares (MARCONI; LAKATOS, 2010;
ANDRADE, 2010). Nele, o pesquisador ―[…] parte do particular e coloca a
generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados
particulares‖ (GIL, 2014, p. 10).
O método de procedimento utilizado foi o funcionalista, que estuda a
sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema
organizado de atividades. Os dados coletados foram tabulados e, com base neles,
as respostas para o problema proposto foram apontadas.
Já para a construção do referencial teórico, a pesquisa bibliográfica, ou de
fontes secundárias, foi empregada, a qual, segundo Marconi e Lakatos (2010),
abrange toda bibliografia já publicada sobre o tema estudado e tem como finalidade
colocar o pesquisador em contato com essas informações.

3.3 Instrumento de coleta de dados: a entrevista

Tendo em vista o contexto atual da pandemia do covid-19, não foi possível


realizar uma entrevista com os pacientes internados, entretanto, a pedagoga Andréia
Nunes (coordenadora da classe hospitalar do hospital Varela Santiago) se
prontificou a ser entrevistada via e-mail.
Andréia Nunes dá suporte educacional para as crianças e adolescentes que
precisam de atendimento escolar diferenciado e especializado, levando em
consideração o afastamento escolar por motivo de doença. A pedagoga desenvolve
um trabalho humanizado e personalizado, proporcionando conhecimento e
qualidade de vida ao paciente através de atividades lúdicas pedagógicas. Além do
mais, ela é responsável pelo projeto da biblioterapia, disponibilizando não apenas
leituras educativas e recreativas, mas também incentivando os próprios internados a
se tornarem futuros escritores (das suas próprias histórias).
28

A entrevista aconteceu no dia 27 de fevereiro de 2020 e conteve quatro


perguntas sobre a implantação, aplicação, desenvolvimento e a importância da
biblioterapia na instituição.
No quadro abaixo encontra-se as perguntas realizadas na entrevista:

Quadro 2 — Entrevista
Quando surgiu a ideia de implementar no hospital esses momentos
PERGUNTA 01
dedicados a leitura?
PERGUNTA 02 Como o projeto é desenvolvido?
PERGUNTA 03 O acervo existente é satisfatório? Há a presença de um
bibliotecário na instituição?
PERGUNTA 04 Para a senhora como coordenadora, qual é o benefício da
biblioterapia para as crianças internadas?
Fonte: elaborada pela autora (2020)

Diante da especificação da entrevista com a pedagoga Andréia Nunes, é de


suma importância conhecer a história da fundação do Hospital Varela Santiago que
tão prontamente abriu as portas para o desenvolvimento pessoal e social dos seus
pacientes através da leitura.
29

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Nessa seção, será abordada a história da fundação do Hospital Varela


Santiago, tendo em vista o pioneirismo do Doutor pediatra Varela Santiago, que
disponibilizou a própria casa a fim de proporcionar atendimentos gratuitos. A partir
de tal atitude, a sociedade contribuiu para que atualmente não existisse apenas uma
pequena sala, mas um Hospital apto pra atender as crianças e adolescentes.
Após se formar em pediatria, em 1917, o Dr. Manuel Varela Santiago abriu
em sua residência (Rua Conceição, centro de Natal – Rio Grande do Norte) um
espaço para o atendimento de crianças desfavorecidas e carentes. Diante desse
trabalho voluntário surgiu o IPAI – Instituto de Proteção e Assistência à infância do
Rio Grande do Norte, tendo o dia 12 de outubro como data de instauração. Logo a
baixo é representado através de uma imagem o Doutor Varela Santiago realizando
uma consulta em sua residência.

Figura 1 — Varela Santiago Clinicando no ambulatório de sua casa

Fonte: Tribuna do Norte (2017)

Entretanto, logo em seguida, foi criada uma ―Associação‖, reunindo pessoas


da sociedade, e, com o apoio da população juntamente com o Governo do Estado
do Rio Grande do Norte foi inaugurado, em 1936, a primeira Ala Hospitalar
denominada Hospital Varela Santiago (localizado na avenida Marechal Deodoro da
30

Fonseca, 489, Cidade Alta), transformando-se em uma instituição hospitalar e sendo


posteriormente integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O Hospital Varela Santiago foi uma das primeiras instituições oncológicas no
Estado. Atualmente, é coordenado pela Doutora Maria Zélia Fernandes, tendo o
Doutor Paulo Xavier Trindade como diretor superintendente. Além do mais, recebe
crianças (de 0 a 14 anos) de todos os lugares do Rio Grande do Norte, como
também de Estados próximos. Apesar das barreiras para manter uma corporação
sem fins lucrativos, a instituição tem como propósito a integração das crianças e
suas famílias, pois todas possuem seus direitos como cidadãos. Diante disso, é
usado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como a base trabalhista.
O Hospital Varela Santiago possui: 480 funcionários, 31 trabalhadores
autônomos, 5 estagiários e 47 voluntários. Tem capacidade de atender a 110 leitos
distribuídos nas diversas especialidades médicas (20 leitos voltados para crianças
de 0 a 2 anos de idade (UNIDADE PARA LACTENTES); 12 leitos voltados para
crianças de 3 a 14 anos de idade (ALA PEDRO CÂMARA); 14 leitos votados para
crianças portadoras de doenças infectocontagiosas (ALA ESPERANÇA); 12 leitos
voltados para crianças acometidas a neurocirurgias (SETOR AZUL); 16 leitos
voltados para crianças com câncer (COHI); 16 leitos de clínica cirúrgica; 10 leitos de
Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIPED); e 10 leitos de Unidade de
Terapia Intensiva Neonatal (UTINEO).
Quanto ao espaço físico, dispõe de 6 salas de atendimento médico em
sistema de consultas eletivas, que estão localizados no ―Casarão Azul‖ mais
conhecido como ―Ambulatório‖; uma sala para vacina; uma sala para internamento;
uma sala para atendimento ambulatorial de oncologia, para o funcionamento do
―Hospital Dia‖; 2 unidades para internamentos e tratamentos de patologias gerais
conhecidos por Unidade para Lactentes engenheiro Ubergue Ribeiro (crianças de 0
a 2 anos) e Unidade Pedro Câmara (Crianças de 03 a 14 anos). Dispõe ainda da
Unidade Esperança destinada a atender crianças com doenças infecto-contagiosas.
Somam-se a esses os outros setores de maior complexidade que são: Clínica
Cirúrgica, Unidade para Neurocirurgias, UTIP (Unidade de Terapia Intensiva
Pediátrica), UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal) e o Centro de Onco-
hematologia Infantil (COHI).
Totalizando em torno de 15 mil procedimentos por mês, a instituição oferece
diversos serviços complementares, tais como: farmácia, laboratório, quimioterapia,
31

serviços, psicologia, fisioterapia, pedagogia, brinquedoteca, terapia ocupacional,


fonoaudiologia, residência médica, tomografia, núcleo de convênios, higienização,
setor de controle de infecção hospitalar, centro de processamento de roupas, serviço
de nutrição e dietética, radiologia, ultrassonografia, setor pessoal, faturamento,
tesouraria, recepção e portaria, patrimônio, arquivo/SAME, compras, almoxarifado,
setor de marketing, transportes, informática, manutenção e SESMT (Serviço de
Saúde e Segurança do Trabalho), além da Central de Atendimento e Doação.
Contando também com as Assessorias de Imprensa, Jurídica e Contábil. Tendo
ainda as Comissões Internas que são: Comissão de Licitação, Comissão de Ética
Médica, CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, Comissão de
Humanização, Comissão de Eventos e Comissão de Prontuário Médico e Obituário.
A missão da instituição é: ―Promover assistência à saúde infantil, com atenção
universal, integral, igualitária, compromisso social e qualidade, norteando-se pelos
princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente‖. Já a visão configura-se em:
―Ser centro de excelência na assistência pediátrica‖. E para complementar as
diretrizes, os valores são regidos pela ―ética, segurança, dedicação,
profissionalismo, voluntarismo, tradição, filantropia e dignidade humana‖ (VARELA
SANTIAGO, 2020).
Diante de tantas oportunidades que o Varela Santiago oferece às crianças,
buscando minimizar os impactos das hospitalizações, é apresentado diversos
projetos para os internados, um deles é a biblioterapia, que trará uma nova realidade
através da imaginação e da fantasia.

4.1 Análise da entrevista

Sobre a implantação da biblioterapia no hospital, Andréia Nunes alega que:

A ideia surgiu há dez anos, por iniciativa da Professora Simone Maria


da Rocha, que implementou no Hospital Infantil Varela Santiago o
projeto denominado ―Escola no Hospital‖ com o objetivo de realizar
atendimento pedagógico educacional para as crianças internadas, de
maneira voluntária. [...] Mitigando as desigualdades sociais de
maneira inclusiva, igualitária e com qualidade (NUNES, 2020).

Tendo em vista que a classe hospitalar do Varela Santiago tornou-se também


referência no Rio Grande do Norte na garantia do direito básico à educação para
32

crianças e adolescentes, ampliando, dessa forma, as oportunidades e os projetos


educacionais voltados para essa faixa etária, Nunes (2020) complementa: ―Quando
o projetou completou 10 anos, foi lançado o livro ―Os Super Heróis do Hospital‖,
escrito por crianças participantes do projeto. O evento teve homenagens,
apresentações musicais e sessões de autógrafos com os pacientes autores do livro‖.
Em baixo a fotografia desse momento festivo:

Figura 2 — Crianças hospitalizadas no Varela Santiago lançam livro em aniversário


da Classe Hospitalar

Fonte: CANINDÉ SOARES: Repórter – fotógrafo (2019)

Com isso, é notório que os internados não apenas consomem o material


literário, mas também são produtores de conteúdo, deixando transbordar no papel
todo o conhecimento adquirido, e esse é um dos ―poderes‖ da biblioterapia: A cura
traz renovação não apenas ao leitor, mas também para aqueles que fazem parte do
seu convívio social, tendo a oportunidade de serem contagiados com as novas
descobertas. Tal afirmação é refletida na fala da pedagoga quando cita um novo
projeto criado por uma própria paciente: ―Contamos ainda com um projeto intitulado
―Literacura‖ que foi idealizado posteriormente por uma paciente, ultimamente este
projeto encontra-se em fase de adequação e aprimoramento‖.
Em relação ao desenvolvimento da biblioterapia, Nunes (2020) explica: ―O
serviço de educação hospitalar do HIVS é desenvolvido por uma equipe docente
concedida pela SEEC/RN e SME/Natal. Atualmente atuamos com uma equipe de 4
33

docentes‖. Apesar de ser uma equipe pequena, ela conclui: ―[Os docentes] atendem
na sala e também diretamente nas alas aos internos do hospital, estes profissionais
em paralelo a sua rotina oferecem momentos de degustação literária aos alunos
através de contação de história e leitura livre quando possível‖. Além de suas
atividades, os próprios docentes proporcionam esse momento literário aos
pacientes.
Diante do exposto, foi perguntado sobre a existência de um bibliotecário na
instituição. Nunes (2020) então afirma que não há: ―[...] Apesar de ficarem [os
acervos] na sala da classe hospitalar estão sempre sendo ofertados aos internos
através das docentes. Não havendo até então ninguém exclusivamente para esse
fim. Não há um bibliotecário‖. Apesar dos funcionários executarem um bom trabalho,
é perceptível como a ausência de um profissional deixa lacunas, pois não há um
padrão de organização das literaturas, nem um especialista voltado unicamente para
aquela atividade. Independentemente da biblioterapia servir como fonte educacional
e pedagógica, ela também deve ser ferramenta de lazer e distração, e apenas um
bibliotecário – conhecedor da informação – pode cumprir tal objetivo de maneira
eficaz, pois como já mencionava Kinney (1938), no seu artigo clássico sobre
Educação do biblioterapeuta: ―o biblioterapeuta é primeiramente um bibliotecário que
vai mais adiante no campo da orientação da leitura e torna-se um profissional
especializado‖.
Logo após, foi questionado se o acervo existente era satisfatório, e a resposta
é direta: ―Em relação ao acervo literário da classe contamos com uma quantidade
razoável de livros, com temas e gêneros variados‖ (NUNES, 2020). De fato, essa
diversidade literária é essencial na aplicação da biblioterapia, visando a faixa etária
das crianças e dos adolescentes, assim como seu gosto literário, atraindo, então, o
leitor, e consequentemente tendo aquele momento como fonte de prazer.
Em relação aos benefícios da biblioterapia para os pacientes internados na
instituição, a resposta foi dada pela pedagoga:

Mesmo em fase de adoecimento, as crianças precisam aprender, se


desenvolver, criar, interagir e se divertir. A saúde não se refere
apenas ao bem estar físico, mas engloba seus aspectos
biopsicossociais. Dessa forma, as crianças internadas descobrirão
que podem ser capazes de ir muito mais além do que o estigma da
doença e os limites que a realidade social impõe, fazendo da leitura o
agente de transformação da própria realidade (NUNES, 2020).
34

Os benefícios são reconhecidos, e através deles a instituição segue


aprimorando e priorizando tal terapia a fim de possibilitar aos pacientes internados
um maior desenvolvimento pessoal e aprendizado social, sendo capazes de
enfrentarem suas dores com o ―escudo‖ da leitura.
Logo abaixo está o registro desses momentos literários no Hospital Varela
Santiago:
Figura 3 — Momento de leitura no Hospital Varela Santiago

Fonte: Varela Santiago – humanização (2019)

Figura 4 — Pacientes internados em contato com os livros

Fonte: Varela Santiago – humanização (2019)


35

Como foi exposto acima através das imagens, os encontros literários sempre
são fontes de alegria, diversão e interação, levando as crianças para uma atmosfera
de paz e aprendizagem, e acima de tudo, de realização, pois a partir daquele
momento a fantasia será o início da realidade de cada um, transformando-os em
super heróis das suas próprias histórias, e vencendo qualquer mazela que os
atormente.
36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a democratização da educação e o desenvolvimento


psicológico e social através do surgimento dos livros e a sua propagação, a
biblioterapia começou a se mostrar eficiente em diversos campos de atuação,
inclusive em hospitais, onde proporcionou o desenvolvimento na qualidade de vida
de muitos pacientes internados, incrementando, assim, habilidades sociais,
reforçando o comportamento aceitável e corrigindo ou removendo comportamentos
nocivos ou confusos, tais como a diminuição da timidez e do stress, o alívio das
tensões diárias, o auxílio na hora de lidar com sentimentos de raiva ou de frustração,
a verbalização e exteriorização dos problemas, o afastamento da sensação de
isolamento, a ampliação da compreensão intelectual, o desenvolvimento da
maturidade e a estimulação de novos interesses. Logo, percebeu-se a necessidade
de um estudo que confirmasse esta teoria e que servisse como ponto de partida
para a implementação e o investimento da terapia em outras instituições.
Utilizou-se, nesse estudo, que teve cunho descritivo e qualitativo, os métodos
indutivo e funcionalista, como também a pesquisa bibliográfica, abordando o
surgimento da biblioterapia, seus campos de atuação, benefícios e o papel do
bibliotecário como mediador de leitura e terapeuta, a fim de avaliar sobre a sua
aplicabilidade e seu desenvolvimento no Hospital Varela Santiago – Natal/RN. Para
a coleta de dados, foi realizada uma entrevista estruturada com a pedagoga do
hospital, Andréia Nunes, que desenvolve um trabalho humanizado e personalizado,
além de ser responsável pelo projeto da biblioterapia.
De acordo com a entrevista, é válido afirmar que os objetivos desse estudo
foram alcançados, pois o uso da biblioterapia promove melhorias na recuperação
dos pacientes internados, possibilitando-os aprender, se desenvolver, criar, interagir
e se divertir, proporcionando também a minimização dos efeitos dolorosos da
hospitalização e concedendo oportunidades para os próprios leitores se
transformarem em escritores. Desse modo, confirma-se a hipótese inicial da
pesquisa: a presença da biblioterapia em ambientes hospitalares resulta em uma
perspectiva positiva e no desenvolvimento emocional, pessoal e social dos
pacientes.
Além do mais, é analisado o papel do bibliotecário como mediador da leitura
no ambiente hospitalar, percebendo, assim, a ausência de um profissional da
37

informação na instituição, deixando uma lacuna no momento de aplicação da


terapia. Através do exposto, afirma-se que há a necessidade da convocação de
bibliotecários nesse campo de trabalho, como também de investimentos em
disciplinas voltadas para o lado psicológico, a fim de preparar profissionais não só
para as bibliotecas, mas para o mundo.
Com tantas vantagens oferecidas pela biblioterapia, é necessário o reforço da
temática em nossa contemporaneidade, pois se vive em uma sociedade
psicologicamente doentia, onde se há um número considerado de indivíduos vítimas
de estresse, depressão e traumas, proporcionando um incessante desiquilíbrio
psíquico. Frente a essa má regularização emocional, as doenças físicas, como o
câncer, dores crônicas, atacam por ano milhares de pessoas. Com isso, através
dessa pesquisa foi possível não apenas despertar e colaborar com o conhecimento
sobre a prática biblioterapêutica na sociedade, mas também sugerir e cobrar sua
aplicabilidade nos campos da educação, medicina, psiquiatria, no correcional e com
os idosos, sendo parte fundamental do seu tratamento e desenvolvimento.
É importante também ressaltar que esta pesquisa serve como ponto de
partida para outras futuras pesquisas sobre a temática. Por meio dela, outros
pesquisadores poderão desdobrar sobre o nível de satisfação da biblioterapia para
os pacientes internados em hospitais, como também, poderão aprofundar sobre a
forma que a biblioterapia atua como diferencial em tratamentos hospitalares.
Na antiguidade, os homens deixavam suas marcas nas cavernas, contudo,
atualmente o homem pode se ―encontrar‖ em suas próprias marcas em formato de
palavras e textos. Os problemas viram utopia, e a cura emocional e física são
reflexos da nova realidade, pois em cada leitura realizada, em cada livro que vira
vida, em cada lágrima que se transforma em sorriso e em cada medo que ―dança no
salão‖ da esperança há um bibliotecário trazendo informação e conhecimento
fantasiado de luz, e há uma biblioterapia trazendo intelecto e descanso para os
heróis do hospital.
38

REFERÊNCIAS

ALVES, Maria Helena Hees. A aplicação da biblioterapia no processo de


reintegração social. Revista brasileira de biblioteconomia e documentação, v. 15,
n. 1/2, jan./jun.1982. p. 54-61.

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico.


9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da Leitura. São Paulo: Ática,


1988.

BARROS, A.; LEHFELD, N. Fundamentos de Metodologia Científica. 3. ed. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

BEATTY, William K. A historical review of bibliotherapy. Library Trends, Illinois, v.


11, n. 2, p. 106-107, oct. 1962.

BRITO, Danielle dos Santos de. A Importância da leitura na formação social do


indivíduo. Disponível em: http://docplayer.com.br/18929-A-importancia-da-leitura-
na-formacao-social-do-individuo.html#show_full_text. 2015. Acesso em: 12 fev.
2020.

CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: biblioterapia.


Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
Florianópolis, v. 6, n. 12, dez. 2001. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/15182924.2001v6n12p32/5200.
Acesso em: 17 nov. 2019.

CALDIN, Clarice Fortkamp. Biblioterapia: um cuidado com o ser. São Paulo: Porto
de Idéias, 2010.

CALDIN, Clarice Fortkamp. Biblioterapia: atividades de leitura desenvolvidas por


acadêmicos do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Santa
Catarina. Biblios, v. 6, n. 21/22, ago. 2005.

CRUZ, Maria Aparecida Lopes da. Biblioterapia de desenvolvimento Pessoal: um


programa para adolescentes de periferia, 1995. Dissertação (Mestrado em
Biblioteconomia) – PUCCAMP, Campinas, 1995.

FARIAS, Francisco Ramos. Do olhar à escuta: dois paradigmas clínicos. Cadernos


de Psicologia. v. 10, 1979.

FARIAS, Juracy N. de. Eventos estressantes de hospitalização. Florianópolis,


1981. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal de Santa
Catarina.
39

FENÍCIOS – ESCRITA E ECONOMIA. Só História. Virtuous Tecnologia da


Informação, 2009-2020. Disponível em:
http://www.sohistoria.com.br/ef2/fenicios/p2.php. Acesso em: 26 mar. 2020.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 35.
ed. São Paulo: Cortez, 1997.

GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

Hospital Infantil Varela Santiago. História. Disponível em:


https://hospitalvarelasantiago.org.br/historia/. Acesso em: 26 mar. 2020.

Hospital Infantil Varela Santiago. Humanização. Disponível em:


https://hospitalvarelasantiago.org.br/humanizacao/. Acesso em: 26 mar. 2020.

KATZ, Gilda et al. Bibliotherapy: the use of books in psychiatric treatment. Journal of
Psychiatry. v.37, n. 3, p. 173-176, April 1992.

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J-B. Vocabulário da psicanálise. Lisboa: Martins


Fontes, 1979.

LEITE, Ana Cláudia. Conversa com a Biblioterapeuta Christyanne Bueno. Ateliê da


biblioterapia, 2015. Disponível em:
https://www.ateliedabiblioterapia.com/2019/08/conversa-combiblioterapeuta.html.
Acesso em: 4 jul. 2020.

LIMA, Ana Karla. O cérebro não sabe distinguir o real do imaginário. Portal de
notícias, 2019. Disponível em: https://www.portaldenoticias.com.br/ler-
coluna/993/ana-karla-lima-o-cerebro-nao-sabe-distinguir-o-real-do-imaginario.
Acesso em: 6 jul. 2020.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de


metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa:


planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas,
elaboração, análise e interpretação de dados. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

MARIA, Luzia de. Constituição do leitor. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE LEITURA,


1994, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: PROLER: Centro Cultural do Brasil,
1994. p. 171-177.

MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: edição compacta. São Paulo: Atlas, 1996.

MILOMEM, Valmir Nascimento. A didática do humor. Disponível em:


https://comoviveremos.wordpress.com/2006/08/11/a-didatica-do-humor. Acesso em:
20 out. 2019.
40

NASCIMENTO, Geovana Mascarenhas do; ROSEMBERG, Dulcinea Sarmento. A


biblioterapia no tratamento de enfermos hospitalizados. Informação e informação,
Londrina, v. 12, n. 1, p. 1-13, jan./jun. 2007.

OLIVEIRA, Fernanda Gomes de. Biblioterapia: analisando sua eficácia sob os


aspectos filosóficos, sociais, psicognitivos e biblioteconômicos. Rio de Janeiro:
Unirio, 2014.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. LEITURA: perspectivas interdisciplinares. 5. ed. São Paulo:


Ática, 2005.

OUAKNIN, Marc-Alain. Biblioterapia. São Paulo: Loyola, 1996.

PEREIRA, Marília Mesquita Guedes. Biblioterapia: proposta de um programa de


leitura para portadores de deficiência visual em bibliotecas públicas. João Pessoa:
Editora Universitária, 1996.

RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São
Paulo: Atlas, 1986.

SABINO, Maria Manuela do Carmo de. Importância educacional da leitura e


estratégias para a sua promoção. Revista Iberoamericana de Educación. n. 45/5,
mar. 2008. Disponível em: file:///C:/Users/User/Downloads/2398Sabino%20(1).pdf.
Acesso em: 12 abr. 2020.

SEITZ, Eva Maria. Biblioterapia: uma experiência com pacientes internados em


clínicas médicas. Florianópolis: UFSC, 2000.

SILVA, Ezequiel T. da. Leitura e realidade brasileira. Porto Alegre: Mercado


Aberto, 1985.

SILVA, Ezequiel Teodoro da. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova
pedagogia da leitura. 4. ed. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1987.

SILVA, Vanessa Brum da. Biblioterapia: produção bibliográfica e aplicabilidade. Rio


Grande: UFRG, 2011.

SOARES, Canindé. Crianças hospitalizadas no Varela Santiago lançam livro em


aniversário da Classe Hospitalar. Fotojornalismo Canindé Soares, 2018.
Disponível em: https://canindesoares.com/criancas-hospitalizadas-no-varela-
santiago-lancam-livro-em-aniversario-da-classe-hospitalar. Acesso em: 3 jul. 2020.

SOUZA, Maria Salete Daros de. A conquista do jovem leitor: uma proposta
alternativa. Florianópolis: UFSC, 1993.

VARGAS, Suzana. Leitura: uma aprendizagem de prazer. Rio de Janeiro: José


Olympo, 1993.

WITTER, Geraldina Porto. Biblioterapia: desenvolvimento e clínica. In: WITTER,


Geraldina Porto (Org.). Leitura e Psicologia. Campinas: Alínea, 2004. p.182-198.
41

ZEQUINÃO, Aime Áurea de Fátima B. A. Aplicação de biblioterapia no Centro


Educacional Padre Jordan. 2010. 64 f. Trabalho de Conclusão de Curso –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. Disponível em:
http://www.cin.publicacoes.ufsc.br/tccs/cin0046.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.
42

APÊNDICE A — ENTREVISTA

Entrevista realizada com a Andrea Nunes, coordenadora da classe hospitalar


do hospital Varela Santiago.

Quando surgiu a ideia de implementar no hospital esses momentos


dedicados a leitura?
A ideia surgiu há dez anos, por iniciativa da Professora Simone Maria da
Rocha, que implementou no Hospital Infantil Varela Santiago o projeto denominado
―Escola no Hospital‖ com o objetivo de realizar atendimento pedagógico educacional
para as crianças internadas, de maneira voluntária. A classe hospitalar do Varela
Santiago tornou-se também referência no Rio Grande do Norte na garantia do direito
básico à educação para crianças e adolescentes, mitigando as desigualdades
sociais de maneira inclusiva, igualitária e com qualidade. Ressalto também que
quando o projetou completou 10 anos, foi lançado o livro ―Os Super Heróis do
Hospital‖ escrito por crianças participantes do projeto. O evento teve homenagens,
apresentações musicais e sessões de autógrafos com os pacientes autores do livro.

Como o projeto é desenvolvido?


O serviço de educação hospitalar do HIVS é desenvolvido por uma equipe
docente concedida pela SEEC/RN e SME/Natal. Atualmente atuamos com uma
equipe de 4 docentes que atendem na sala e também diretamente nas alas aos
internos do hospital, estes profissionais em paralelo a sua rotina oferecem
momentos de degustação literária aos alunos através de contação de história e
leitura livre quando possível. Contamos ainda com um projeto intitulado ―Literacura‖
que foi idealizado posteriormente por uma paciente, ultimamente este projeto
encontra-se em fase de adequação e aprimoramento.

O acervo existente é satisfatório? Há a presença de um bibliotecário na


instituição?
Em relação ao acervo literário da classe contamos com uma quantidade
razoável de livros, com temas e gêneros variados, estes apesar de ficarem na sala
da classe hospitalar estão sempre sendo ofertados aos internos através das
43

docentes não havendo até então ninguém exclusivamente para esse fim. Não há um
bibliotecário.

Para a senhora como coordenadora, qual é o benefício da biblioterapia


para as crianças internadas?
Mesmo em fase de adoecimento, as crianças precisam aprender, se
desenvolver, criar, interagir e se divertir. A saúde não se refere apenas ao bem estar
físico, mas engloba seus aspectos biopsicossociais. Dessa forma, as crianças
internadas descobrirão que podem ser capazes de ir muito mais além do que o
estigma da doença e os limites que a realidade social impõe, fazendo da leitura o
agente de transformação da própria realidade.

Você também pode gostar