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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
CURSO DE BIOMEDICINA

YANKA DO VALE CARVALHO

ACUPUNTURA COMO ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO DA INSÔNIA


E DOS SINTOMAS DE HUMOR DEPRESSIVO RELACIONADO:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

NATAL, RN
2023
YANKA DO VALE CARVALHO

ACUPUNTURA COMO ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO DA INSÔNIA E DOS


SINTOMAS DE HUMOR DEPRESSIVO RELACIONADO:UMA REVISÃO
INTEGRATIVA DA LITERATURA

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Biomedicina, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em biomedicina.

Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Lucia de Fátima


Amorim.

NATAL

2023

Esta obra está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional. Permite que outros distribuam, remixem, adaptem e desenvolvam seu
trabalho, mesmo comercialmente, desde que creditem a você pela criação original.
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson
- ­Centro de Biociências - CB

Carvalho, Yanka do Vale.


Acupuntura como estratégia de tratamento da insônia e dos
sintomas de humor depressivo relacionado: uma revisão integrativa
da literatura / Yanka do Vale Carvalho. - 2023.
98 f.: il.

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte, Centro de Biociências, Curso de Biomedicina. Natal, RN,
2023.
Orientação: Profa. Dra. Lúcia de Fátima Amorim.

1. Acupuntura - Monografia. 2. Insônia - Monografia. 3.


Depressão - Monografia. 4. Tratamento - Monografia. 5. Eficácia -
Monografia. I. Amorim, Lúcia de Fátima. II. Título.

RN/UF/BSCB CDU 615.814.1

Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351


YANKA DO VALE CARVALHO

ACUPUNTURA COMO ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO DA INSÔNIA


E DOS SINTOMAS DE HUMOR DEPRESSIVO RELACIONADO:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Biomedicina, da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharel em biomedicina.

Aprovada em: 15/12/2023

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Dr(a) Lúcia de Fátima Amorim

Orientador(a)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Prof. Dr. Alexandre Flávio Silva de Queiroz

Membro interno

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Esp. Flávia Toscano Moura

Membro externo

Habilitação em Acupuntura pela UFRN


Dedico essa monografia à Francisca e
Flávio, meus pais, minha origem, minhas
raízes, meu lar.
AGRADECIMENTOS

Há inúmeras pessoas que preciso honrar e agradecer. A vida, essa coisa


imensa, abarca infinitas possibilidades de encontros que fazem parte da construção
de toda uma jornada, seja ela curta ou longa. O processo da minha formação em
biomedicina foi um desses processos longos que me transformou por inteira, me
tirando coisas e também ofertando riquezas. Ao grande mistério da vida, aos meus
guias e aos protetores espirituais, sou imensamente grata por nunca me deixarem
sozinha e direcionarem com tanta firmeza todos os meus passos.
Também agradeço: Aos meus pais amados, Francisca e Flávio, por cada
pequeno passo dado que arou a terra firme no chão que eu piso, sem vocês eu não
estaria aqui. Aos meus irmãos, Yago, Arthur e Horacina por sempre acreditarem em
mim e no meu potencial de realizar. Ao meu sobrinho Heitor, por sua vida iluminar a
minha, trazendo esperança e coragem. Ao meu amigo mais antigo, Ravaneli, por
seu eterno apoio e amor. Ao meu namorado, Mattheus, por me enxergar com tanto
amor e fazer sempre questão de facilitar a minha vida no dia a dia para que eu
possa ter mais descanso, lazer e tempo para mim mesma. À minha avó Odete, que
nunca deixou de ser a materialização do aconchego. Às minhas irmãs de alma,
Cátia, Maele, Ianny, Tati, Maria Clara, Clarissa, Ias, Letícia e Maíta, por sua amizade
e imensa generosidade, que morreram e renasceram comigo inúmeras vezes
nesses últimos anos e tornaram mais possível sustentar os pesos da vida adulta. À
meu amado amigo, Bruno, por me oferecer olhos tão amorosos, risos acesos e
outras medicinas curativas, doces e frutas deliciosas, além de palavras tão certeiras
e cheias de ternura. Aos meus amigos de longa data, Lucas e Talysson, por
acompanharem tantas fases da minha vida e sempre apoiarem os meus sonhos.
Aos meus amigos e amigas do IFRN, Jaia, Denise, Bibias, Danilo, Mersinho,
Teteus, Gio e Meme, pelas inúmeras conversas e partilhas enriquecedoras na
construção dos nossos sonhos; a amizade de vocês é um presente extraordinário
para mim. À Gabi, minha psicoterapeuta, fada e motivadora, que não largou da
minha mão em nenhum momento nos últimos quatro anos, me ajudou a organizar e
elaborar sentimentos, emoções, sonhos e desejos; nunca cansarei de agradecer por
nosso encontro tão especial e revolucionário. À Angelis, Bruninha e Hozana, amigas
inspiradoras que o curso de biomedicina me presenteou e que levarei pro resto da
vida. À Adonias, amigo querido, que sempre me ofereceu conversas honestas,
regadas a sabedoria, apontando o caminho dos estudos como o melhor
investimento que podemos fazer por nós mesmos. À família Menezes, em especial,
Lucas, Joana, Manu, Leleda, Valeska e Cecília, por me acolherem tão bem em suas
casas, família e me fazerem sentir o verdadeiro poder da amizade. À Zul, minha
mãe do coração, por seu amor, cuidado e apoio há mais de 10 anos. À Aninha e
Lúcia, mulheres generosas e amorosas, que admiro imensamente. Às
companheiras e amigas do CETO, Tallitha, Thereza, Vivian e Letícia, por todo
suporte no dia a dia, cuidado e levezas compartilhadas; ter tido a oportunidade de
trabalhar com vocês foi um presente bonito para mim. À Vini, que cuidou tão bem de
mim no seu processo de estágio de acupuntura no CETO e que, com muita
generosidade, compartilhou seus conhecimentos da MTC comigo. À minha
professora orientadora e amiga, Lúcia, pela amizade, incentivo e encorajamento
para sempre fazer as coisas com autenticidade, força e alegria. Muito honrada por
dividir essa grande paixão da vida com ela, os conhecimentos da MTC, e praticá-los
conforme ela me ensinou: com ética, amor e respeito. Aos meus pacientes queridos
(as) que tanto me ensinaram e ensinam com nossas trocas tão valiosas de
conhecimento, respeito, cuidado e vulnerabilidade humana, sem vocês não teria
sentido a clínica. À todos os meus colegas de curso, professores, colaboradores do
CB e tantas outras pessoas que atravessaram o meu caminho durante a graduação
e que, por alguma razão, hoje não tenho mais contato: o meu muito obrigada, vocês
me marcaram e fizeram a diferença na minha trajetória. Por fim, sou profundamente
grata a mim mesma por ser a maior incentivadora dos meus sonhos e sempre correr
atrás deles com muito sangue, lágrima e suor, dando tudo de mim.
O Self não precisa mover montanhas para se transformar. Um
pouco basta. Um pouco muda muita coisa. A força fertilizadora
substitui a movimentação das montanhas.

Clarissa Pinkola Estés


RESUMO

A insônia é um Transtorno Mental Comum (TMC) prevalente na sociedade


contemporânea que interfere significativamente na qualidade de vida das pessoas.
Ela é caracterizada pela insatisfação da quantidade e/ou qualidade do sono,
acarretando impactos negativos no bem-estar físico e mental. Estudos sobre os
efeitos da acupuntura têm buscado compreender os mecanismos de ação desse
tratamento complementar e seus benefícios em curto, médio e longo prazo. Desta
maneira, esta revisão da literatura objetiva levantar evidências científicas clínicas
acerca da eficácia da acupuntura no tratamento da insônia e sintomas depressivos
relacionados, além de analisar e identificar os principais acupontos utilizados no
tratamento desses distúrbios na prática clínica. Os Ensaios Clínicos Randomizados
(ECRs) analisados tiveram a qualidade do sono como desfecho primário e a
avaliação de sintomas de humor e eventos adversos como desfechos secundários.
Os resultados, divididos em diferentes categorias comparativas (acupuntura versus
acupuntura placebo, acupuntura versus acupuntura mínima e acupuntura placebo,
acupuntura aumentada versus acupuntura padrão e acupuntura versus acupuntura
simulada e cuidados habituais), confirmam a eficácia e segurança da acupuntura
como tratamento complementar para a insônia e sintomas depressivos
relacionados. Os pontos mais comuns utilizados nos estudos, Yintang (VG29 ou
EX-HN3), Baihui (VG20), Anmian (EX-HN ou EX-HN22), Shenmen (C7), Neiguan
(PC6) e Sanyinjiao (BP6), tiveram uma eficácia significativa, apesar do diagnóstico
individual na maioria dos ECRs incluídos não terem sido adotados. Concluímos que
a acupuntura representa uma opção de intervenção não farmacológica segura e útil
para a insônia e sua eficácia melhorada pode ser alcançada aumentando a
frequência das sessões por semana, maior tempo de intervenção e investindo em
protocolos individualizados nas desarmonias energéticas dos pacientes tratados.
Além disso, entendemos que são necessários mais ECRs adequadamente
desenhados, com amostras grandes, rigorosas, prospectivas e multicêntricas, de
modo a reduzir a influência do viés de publicação, melhorar a credibilidade da
pesquisa e orientar melhor a prática clínica.

Palavras-chave: Acupuntura; Insônia; Depressão; Tratamento; Eficácia.


ABSTRACT

Insomnia is a Common Mental Disorder (CMD) prevalent in contemporary society,


especially post-COVID-19 pandemic, which significantly interferes with people's
quality of life. It is characterized by dissatisfaction with the quantity and/or quality of
sleep, causing negative impacts on physical and mental well-being. Studies on the
effects of acupuncture have sought to understand the mechanisms of action of this
complementary treatment and its benefits in the short, medium and long term. In this
way, this objective literature review raises clinical scientific evidence on the
effectiveness of acupuncture in the treatment of insomnia and related depressive
symptoms, in addition to analyzing and identifying the main points used in the
treatment of these disorders in clinical practice. The Randomized Clinical Trials
(RCTs) developed had sleep quality as the primary stage and the assessment of
mood symptoms and adverse events as secondary stages. The results, divided into
different comparative categories (acupuncture versus placebo acupuncture,
acupuncture versus minimal acupuncture and placebo acupuncture, augmented
acupuncture versus standard acupuncture and acupuncture versus sham
acupuncture and usual care), confirm the efficacy and safety of acupuncture as a
complementary treatment for insomnia and related depressive symptoms. The most
common points used in the studies, Yintang (VG29 or EX-HN3), Baihui (VG20),
Anmian (EX-HN or EX-HN22), Shenmen (C7), Neiguan (PC6) and Sanyinjiao (BP6),
had a significant efficacy, despite the individual diagnosis in most of the included
RCTs not being adopted. We conclude that acupuncture represents a safe and
useful non-pharmacological intervention option for insomnia and its improved
effectiveness can be achieved by increasing the frequency of sessions per week,
longer intervention time and investing in individualized protocols in the energetic
disharmonies of treated patients. Furthermore, we understand that more designed,
large-sample, rigorous, prospective, multicenter RCTs are needed to reduce the
influence of publication views, improve research review, and better guide clinical
practice.

Keywords: Acupuncture; Insomnia; depression; Treatment; efficiency.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema representativo das inter-relações dos 5 movimentos................36


Figura 2 - Livre fluxo do Qi do Fígado em todas as direções.................................... 44
Figura 3 - Trajeto dos 12 principais meridianos do corpo..........................................59
Figura 4 - Medidas de Cun ou Tsun com os dedos das mãos...................................64
Figura 5 - Descrição das medidas de Cun ou Tsun...................................................64
Figura 6 - Fluxograma do processo da seleção de estudos......................................73
Figura 7- Três pontos de acupuntura Anminianos.....................................................86
Figura 8 - Localização dos pontos (VG20, VG29, C7 e BP6)....................................90
Figura 9 - Localização do ponto Anmian (EX-HN ou EX-HN22)............................... 90
Figura 10 - Localização do ponto Neiguan (PC6)...................................................... 91
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Critérios diagnósticos para os Transtornos Depressivos (TD)................ 22


Quadro 2 - Fatores de risco e protetores para o suicídio.......................................... 24
Quadro 3 - Fatores associados à insônia.................................................................. 26
Quadro 4 - Características Yin e Yang...................................................................... 33
Quadro 5 - Características dos 5 elementos............................................................. 37
Quadro 6 - Divisão dos doze canais principais..........................................................60
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA Associação Americana de Psiquiatria

BAI Inventário de ansiedade de Beck

BDI Inventário de depressão de Beck

CCMD Classificação Chinesa de Transtornos Mentais

CENTRAL Cochrane Central Register of Controlled Trials

CRF Formulário de Relato de Caso

CTRS Escala de Avaliação de Credibilidade do Tratamento

DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

ECoG Eletrooculografia

EEG Eletroencefalograma

ESS Escala de sonolência de Epworth

EQ-5D EuroQoL cinco dimensões

EMG Eletromiografia mental

ECRs Ensaios Clínicos Randomizados

FSS Escala de gravidade da fadiga

HADS Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão

HAMD Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton

HAMA Escala de Avaliação de Hamilton para Ansiedade

HARS Escala de Avaliação de Ansiedade de Hamilton


ICSD Classificação Internacional de Distúrbios do Sono

IHME Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde

ISI Índice de Gravidade da Insônia

MTC Medicina Tradicional Chinesa

OMS Organização Mundial da Saúde

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

PSQI Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh

REM-sl Latência do Sono REM

SA Despertares do Sono

SAS Escala de Autoavaliação de Ansiedade

SDI Índice de Incapacidade de Sheehan

SDS Escala de Autoavaliação de Depressão

SE Eficiência do Sono

SNC Sistema Nervoso Central

SOL Latência de Início do Sono

SSVEP Potenciais evocados visuais de estado

PRISMA Itens de Relatório Preferidos para Revisões Sistemáticas e


Meta-análises

PSG Polissonografia

TAG Transtorno de Ansiedade Generalizada

TD Transtorno Depressivo

TDM Transtorno Depressivo Maior


TEPT Transtorno de Estresse Pós-Traumático

TMCs Transtornos Mentais Comuns

TOC Transtorno Obsessivo-Compulsivo

TIB Tempo Total na Cama

TST Tempo Total de Sono

WASO Tempo de Despertar Após o Início do Sono


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 18
1.1. Saúde mental................................................................................................ 18
1.2. Transtornos depressivos............................................................................... 21
1.3. Insônia...........................................................................................................25
1.4. Correlação de insônia com depressão..........................................................28
1.5. Acupuntura e Insônia.................................................................................... 29
1.6. Acupuntura e Depressão...............................................................................30
2. OBJETIVO.............................................................................................................31
2.1. Objetivo geral................................................................................................ 31
2.2. Objetivos específicos.................................................................................... 31
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................32
3.1. Teoria do Yin-Yang........................................................................................ 33
3.2. Teoria dos Cinco Elementos ou Cinco Movimentos...................................... 34
3.3. Substâncias vitais..........................................................................................37
3.4. Teoria do Zang Fu......................................................................................... 40
3.5. Oito princípios............................................................................................... 55
3.6. Canais de energia ou Meridianos..................................................................57
3.7. Sistema métrico da acupuntura.....................................................................63
3.8. Diagnóstico e Plano de tratamento............................................................... 64
3.9. Fundamentação da Acupuntura.................................................................... 66
4. METODOLOGIA....................................................................................................67
4.1. Estratégias de pesquisa e seleção................................................................68
4.2. Critérios de elegibilidade............................................................................... 68
4.2.1. Tipos de estudos...................................................................................68
4.2.2. Tipos de participantes........................................................................... 69
4.2.3. Tipos de intervenção.............................................................................70
4.2.4. Tipos de resultados...............................................................................70
4.2.4.1. Resultados primários....................................................................70
4.2.4.2. Resultados secundários............................................................... 71
4.2.4.3. Seleção dos estudos e extração de dados...................................71
4.3. Análise de dados...........................................................................................72
5. RESULTADOS.......................................................................................................72
5.1. Resultados de pesquisa de literatura............................................................ 72
5.3. Análise de medidas de resultados................................................................ 75
5.4. Avaliação de eficácia.....................................................................................81
5.4.1. Medidas de desfechos primários: questionários auto-relatados e/ou
diário do sono e/ou actígrafos.........................................................................81
5.5. Avaliação da eficácia nos sintomas depressivos e eventos adversos (EA).. 81
5.5.1. Resultados secundários: Avaliação da eficácia na depressão ou
sintomas depressivos..................................................................................... 81
5.5.2. Desfechos secundários: eventos adversos (EA).................................. 82
5.6. Acupuntura versus acupuntura placebo........................................................82
5.7. Acupuntura versus acupuntura mínima e acupuntura placebo..................... 84
5.8. Acupuntura aumentada versus acupuntura padrão...................................... 86
5.9. Acupuntura versus acupuntura simulada e cuidados habituais.................... 87
6. DISCUSSÃO......................................................................................................... 87
6.1. Principais resultados..................................................................................... 87
6.2. Principais pontos utilizados no tratamento com acupuntura......................... 88
7. CONCLUSÃO........................................................................................................91
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 93
18

1. INTRODUÇÃO

1.1. Saúde mental

A saúde mental é um direito humano básico que engloba o estado de


equilíbrio psicológico, emocional e social de uma pessoa. Refere-se à
maneira como pensamos, sentimos, nos conectamos e lidamos com as
exigências da vida, bem como às nossas habilidades de enfrentamento,
relacionamentos interpessoais e capacidade de gerenciar emoções e
estresse. Além de não se limitar à ausência de doença mental, a saúde
mental também abarca aspectos positivos do funcionamento psicológico,
como a capacidade de desfrutar a vida, enfrentar adversidades, desenvolver
relacionamentos saudáveis e alcançar um senso de equilíbrio e bem-estar
(OMS, 2014).
Por essa razão, a saúde mental é de extrema importância para o
funcionamento diário e o bem-estar global de um indivíduo. Ela influencia
diretamente nossa capacidade de lidar com o estresse, tomar decisões,
enfrentar desafios, manter relacionamentos saudáveis e alcançar nossos
objetivos. Quando a saúde mental é comprometida, podem surgir uma
variedade de sintomas e condições, tais como transtornos do sono,
transtornos de humor, transtornos alimentares, dependências, entre outros
(APA, 2013). Todos esses exemplos citados anteriormente se enquadram no
conceito de transtorno mental, que é uma condição de saúde mental que
causa mudanças no pensamento, emoções e comportamentos de uma
pessoa, interferindo na sua capacidade de funcionar bem no dia a dia. Essas
condições podem ser temporárias ou duradouras e afetar qualquer pessoa,
independentemente de idade, gênero, cultura ou status socioeconômico
(DSM-5, 2014).
Os sintomas dos transtornos mentais podem variar de leves a graves e
englobam alterações no humor, pensamento e comportamento (OMS, 2022).
Esses transtornos podem ser influenciados por uma combinação de fatores
biológicos, psicológicos e ambientais, tais como predisposição genética,
estresse, trauma, abuso de substâncias e dificuldades pessoais
(DALGALARRONDO, 2008). O tratamento adequado pode envolver
19

psicoterapia, uso de medicamentos e outras abordagens terapêuticas


complementares, dependendo do tipo e da gravidade do transtorno (APA,
2013). Dentre os transtornos mentais, existem os mais comuns, ou seja,
aqueles que afetam uma grande parte da população em diferentes graus,
cada um com suas próprias características e sintomas específicos. Entre
eles, estão: Transtornos do humor bipolar, Transtornos alimentares,
Transtornos de personalidade, Transtornos de ansiedade, Transtorno de
insônia e Transtorno depressivo (OMS, 2019). Os dois últimos citados, serão
abordados no presente trabalho, um sendo correlacionado com o outro.
Os transtornos depressivos incluem diversos tipos, como transtorno
disruptivo de desregulação do humor, transtorno depressivo maior (incluindo
episódio depressivo maior), transtorno depressivo persistente (distimia),
transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por
substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição
médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não
especificado (DALGALARRONDO, 2008). Esses transtornos compartilham a
característica de apresentar um humor triste, vazio ou irritável, que vem
acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam a capacidade
de funcionamento do indivíduo. O que varia entre eles são aspectos como
duração, momento ou causa presumida (DSM-5, 2014).
A insônia é uma condição amplamente prevalente na sociedade
contemporânea, caracterizada pela resistência persistente em iniciar ou
manter o despertar, acarretando em impactos negativos no bem-estar físico e
mental do indivíduo (DALGALARRONDO, 2008). Este transtorno,
frequentemente associado a fatores tais como estresse, ansiedade e
desregulação do estilo de vida, manifesta-se através de sintomas distintos
que comprometem a qualidade do sono. De acordo com o Manual de
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5, 2014), sintomas
comuns incluem dificuldade em adentrar no sono, múltiplos despertares
noturnos, acordar antecipadamente pela manhã e uma sensação geral de
insatisfatório repouso após o período de sono. Ademais, a insônia, de
maneira análoga à depressão, tem potencial para acarretar danos
significativos no desempenho cotidiano, tais como cansaço, irritabilidade,
dificuldade de concentração e declínio cognitivo (DALGALARRONDO, 2008).
20

Tal distúrbio do sono é amplamente reconhecido como um fator


preponderante no desenvolvimento ulterior de enfermidades mentais, como
depressão, ansiedade e desordens relacionadas à utilização de substâncias.
Com frequência, os transtornos do sono vêm acompanhados de algumas
dessas afecções comórbidas previamente mencionadas, com uma
prevalência estimada entre 40% e 50% (DSM-5, 2014).
Os transtornos mentais comuns afetam pessoas de todas as idades,
gêneros, culturas e classes sociais em todo o mundo. No entanto, existem
alguns grupos que parecem ser mais afetados do que outros. Mulheres, por
exemplo, são mais propensas do que os homens a desenvolver transtornos
mentais, como depressão e transtornos de ansiedade (DSM-5, 2014). A
Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que pessoas em situação de
pobreza, pessoas que enfrentam discriminação, migrantes e refugiados,
pessoas LGBTQIA+, bem como aqueles que enfrentam outros desafios
sociais, podem estar em maior risco de desenvolver transtornos mentais
devido às tensões e estressores adicionais que enfrentam (OMS, 2014). De
acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019:

“Quase um bilhão de pessoas – incluindo 14% dos adolescentes do


mundo – viviam com um transtorno mental. O suicídio foi
responsável por mais de uma em cada 100 mortes e 58% dos
suicídios ocorreram antes dos 50 anos de idade. Os transtornos
mentais são a principal causa de incapacidade, causando um em
cada seis anos vividos com incapacidade. Pessoas com condições
graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo
do que a população em geral, principalmente devido a doenças
físicas evitáveis.” (OPAS, 2022).

É essencial destacar que o tratamento de questões relacionadas à


saúde mental requer uma abordagem individualizada e multidisciplinar,
focando nas necessidades individuais de cada paciente (OMS, 2022). Isso
envolve a aplicação de técnicas psicoterapêuticas, medicamentos
psicotrópicos, alterações no estilo de vida, apoio social além de outras
terapias complementares, como a acupuntura que será abordada na presente
revisão da literatura. É importante ressaltar que apesar da existência de
tratamentos comprovados e eficazes para os transtornos mentais, mais de
três quartos das pessoas em nações de baixa e média renda não têm acesso
21

a esses tratamentos. Diversas barreiras impedem a obtenção de cuidados


adequados, tais como a insuficiência de investimentos na área de saúde
mental, a carência de profissionais de saúde qualificados e o estigma social
ligado às condições mentais (OMS, 2023). São as pessoas em situação de
maior vulnerabilidade econômica e social que enfrentam um risco aumentado
de problemas de saúde mental, ao mesmo tempo que têm menor
probabilidade de acessar serviços adequados (OPAS, 2022).
A investigação aprofundada e meticulosa dos elementos
desencadeadores dos Transtornos Mentais Comuns (TMCs) é de suma
importância, em virtude disso, torna-se possível a evolução de mecanismos
efetivos de prevenção e promoção capazes de minimizar os impactos
sofridos pela saúde mental dos indivíduos afetados pelos TMCs. Conforme
declarado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1998, a Promoção
da Saúde é um processo que oferece um maior controle aos indivíduos sobre
os fatores que afetam a sua própria saúde, possibilitando, assim, a melhoria
da qualidade de vida. Nessa perspectiva, a promoção à Saúde é resultado de
ações interdisciplinares e intersectoriais que envolvem profissionais
especializados, bem como a comunidade de indivíduos, tanto portadores
quanto não portadores de transtornos mentais (SANTANA; ROSA, 2016).

1.2. Transtornos depressivos

A depressão é a principal do grupo de transtornos depressivos, é


frequente e afeta aproximadamente 280 milhões de indivíduos globalmente
(IMHE, 2019). Ademais, é uma doença multifatorial que provém de uma
combinação complexa de fatores genéticos, biológicos, ambientais e
psicológicos. Os sintomas variam em gravidade, frequência e duração,
diferindo conforme a condição de cada pessoa.
A gravidade de um episódio depressivo é classificada como leve,
moderada ou grave, levando em consideração o número e a intensidade dos
sintomas, bem como o impacto no funcionamento diário
(DALGALARRONDO, 2008). Durante um episódio depressivo, a pessoa
vivencia um humor deprimido, caracterizado por sentimentos de tristeza,
irritação e vazio. Além disso, ocorre perda de interesse e prazer em
22

atividades, e esses episódios não se assemelham às flutuações normais de


humor. Eles persistem durante a maior parte do dia, quase todos os dias, por
um período mínimo de duas semanas (OMS, 2023). É relevante frisar que
cada tipo de transtorno depressivo possui peculiaridades específicas quanto
aos critérios de análise diagnóstica e avaliação clínica (DALGALARRONDO,
2008). No Quadro 1 podemos visualizar essas informações:

Quadro 1 - Critérios diagnósticos para os Transtornos Depressivos (TD)


Critérios para diagnóstico Subtipos de Transtornos Depressivos (TD)
1. Humor deprimido TD maior, episódio único
2. Desânimo, perda do interesse TD maior, recorrente (> 1 episódio)
3. Apetite alterado Transtorno distímico: humor cronicamente deprimido
4. Sono perturbado por pelo menos dois anos
5. Anedonia Características específicas
6. Fadiga, perda de energia TD leve, moderado ou grave
7. Visões desoladas e pessimistas do futuro TD grave sem ou com sintomas psicóticos
8. Auto-estima e autoconfiança reduzidas TD com características catatônicas (estupor depressivo):
9. Concentração e atenção reduzidas imobilidade, negativismo, mutismo, ecolalia, ecopraxia
10. Ideias de culpa e inutilidade TD com características melancólicas (depressão
11. Pensamentos de morte e suicídio endógena ou com sintomas somáticos): acentuado
12. Retardo/agitação psicomotora retardo ou agitação psicomotora, perda total de prazer,
piora pela manhã, perda de peso, culpa excessiva
TD com características atípicas: aumento do apetite ou
ganho de peso, hipersonia, sensação de peso no corpo,
sensibilidade extrema à rejeição interpessoal, humor
muito reativo de acordo com as situações ambientais

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de DALGALARRONDO (2008).

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais (DSM-5), outros sintomas também estão presentes, como dificuldade
de pensar, se concentrar ou tomar decisões, sentimentos de culpa,
desesperança, pensamentos suicidas, distúrbios de sono, mudanças no
apetite, atividades psicomotoras ou peso, fadiga e falta de energia. O
episódio deve causar sofrimento significativo ou prejuízo no desempenho
social, profissional ou em outras áreas importantes da vida pessoal (DSM-5,
2014).
Conforme previamente mencionado, a depressão é uma enfermidade
que afeta uma porção significativa da população global - cerca de 3,8% da
população lida com a depressão, com uma incidência de 5% em adultos (4%
entre homens e 6% entre mulheres). Emergiu como uma patologia observada
23

predominantemente em mulheres, sendo 50% mais usual no sexos feminino


do que no masculino (OPAS, s.d.). Inclusive, é relevante mencionar que mais
de 10% das gestantes e puérperas sofrem de depressão em todo o mundo
(Woody et al., 2017). Lamentavelmente, a estatística anual indica que a
prática do suicídio resulta na perda de mais de 700 mil vidas, colocando-o
como a quarta principal razão do óbito entre os jovens de idade entre 15 e 29
anos. (OPAS, s.d.).
Concomitantemente ao humor depressivo, em especial quando este
está acompanhado de desesperança e aguda angústia, constata-se a
presença de pensamentos relacionados à morte, ideação suicida e tentativas
de suicídio frequentes (DALGALARRONDO, 2008). Tais pensamentos podem
incluir desde um desejo passivo de não acordar pela manhã até crenças de
que a morte seria benéfica para os outros. Além disso, podem ocorrer
pensamentos recorrentes sobre o ato de cometer suicídio ou planos
específicos para realizá-lo (DSM-5, 2014). No Quadro 2 é possível verificar
os fatores de risco e protetores para o suicídio:

Quadro 2 - Fatores de risco e protetores para o suicídio


Fatores de risco para o suicídio Fatores protetores de suicídio
- Depressão moderada ou grave - Boa saúde física e mental
- Gênero masculino - Gênero feminino
- Desesperança, falta de perspectivas, sensação de fracasso - Ter perspectivas futuras,
pessoal habilidades profissionais e
- Morar sozinho, não ter família ou vínculos sociais educacionais
- Separação recente de relacionamentos íntimos - Bons e intensos vínculos sociais
- História de tentativas ou ameaças suicidas recentes - Ser casado e ter filhos
- Dor, doenças físicas ou déficits funcionais crônicos - Pertencer a uma religião e
- Idade: adolescentes, homens de meia-idade e idosos pratica-la
- Fácil acesso a meios violentos (revólveres, altura, venenos, - Ter medo de atos violentos
fármacos potencialmente perigosos etc.) - Ter emprego
- Esquizofrenia, alcoolismo e dependência de substâncias
(suicídio tipo balanço existencial), personalidade boderline
- Traços autodestrutivos e impulsivos

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de DALGALARRONDO (2008).

As causas subjacentes ao ato suicida podem abranger uma variedade


de fatores, que incluem a percepção de dificuldades intransponíveis, um
sofrimento emocional intenso e prolongado, a inexistência de perspectivas
que propiciem algum tipo de prazer ou a vontade de não ser um fardo para
24

aqueles próximos e queridos (DSM-5, 2014). A efetiva eliminação desses


“ruminações suicidas” pode ser mais eficaz na prevenção do suicídio do que
a mera supressão de planos específicos para tal (DALGALARRONDO, 2008).
Por esta razão, a ideação suicida deve ser minuciosamente averiguada em
pessoas acometidas de depressão a fim de atenuar a triste realidade das
estatísticas observadas atualmente.
No que diz respeito ao manejo terapêutico, a depressão envolve uma
variedade de abordagens terapêuticas (OMS, 2022). A escolha do tratamento
para ser empregado deve ser baseada na gravidade sintomática, nos desejos
do paciente e na análise do especialista do campo da saúde mental. As
alternativas incluem: psicoterapia, hábitos saudáveis, terapias
complementares e medicamentos antidepressivos. As práticas saudáveis ao
estilo de vida, tais como exercício físico regular e dieta balanceada, são
recomendados como parte do processo de gerenciamento da depressão
(OMS, 2022). Complementarmente, as terapias alternativas, a exemplo da
acupuntura, após estudos clínicos destacáveis, a exemplo do estudo de Zhao
et al. (2019), mostram-se muito promissoras e podem ser consideradas como
uma parte inclusiva no plano abrangente de tratamento a ser desenvolvido.

1.3. Insônia

Por meio de sua influência no Sistema Nervoso Central (SNC) e no


sistema imunológico, o sono desempenha um papel fundamental na
promoção do equilíbrio entre a saúde e a doença (DALGALARRONDO,
2008). Por esta razão, trata-se de um fenômeno revitalizante que exerce um
impacto tanto a nível fisiológico quanto psicológico. Quando ocorrem
distúrbios do sono na vida de um indivíduo, instala-se um desequilíbrio no
ciclo de sono-vigília e/ou privação do sono, resultando em prejuízos
estruturais ou funcionais durante o dia, bem como dificuldades para
adormecer durante a noite (DSM-5, 2014). Esses impactos podem ser
observados no trecho a seguir:

“Os prejuízos no desempenho cognitivo podem incluir dificuldades


com atenção, concentração e memória e mesmo na execução das
25

habilidades manuais mais simples. Geralmente, as perturbações


associadas ao humor são descritas como irritabilidade ou labilidade
do humor e, com menor frequência, como sintomas de depressão ou
de ansiedade (...). A insônia pode ser acompanhada de uma grande
variedade de queixas e de sintomas diurnos, incluindo fadiga,
energia diminuída e perturbações do humor. Sintomas de ansiedade
ou de depressão que não atendem aos critérios para um transtorno
mental específico são comuns, assim como um foco excessivo nos
efeitos percebidos da perda de sono no funcionamento durante o
dia”. (DSM-5, 2014, pág 364).

A insônia se destaca como o transtorno do sono mais prevalente na


contemporaneidade, atingindo cerca de 10% a 40% dos adultos brasileiros
(DALGALARRONDO, 2008). Ela é um transtorno do sono marcado pela
insatisfação com a quantidade e/ou qualidade de sono impedindo a
ocorrência do sono reparador, assim, prejudicando o bem-estar físico e
emocional do indivíduo. A sua etiologia é multifatorial, envolvendo fatores
psicológicos, fisiológicos e ambientais, e ela pode se apresentar em três
formas distintas: ocasional, persistente ou recorrente.
A insônia ocasional, também conhecida como aguda, possui uma
duração limitada, ocorrendo por alguns dias ou semanas, e está
frequentemente relacionada a eventos da vida cotidiana ou a mudanças
abruptas nos horários ou ambiente de sono. Normalmente, esse tipo de
insônia tende a desaparecer logo após a resolução do evento que a
desencadeou (DSM-5, 2014).
Em termos de sintomas, no geral, os indivíduos com insônia podem
experimentar dificuldade em adormecer, despertares frequentes durante a
noite, despertar precoce pela manhã, fadiga diurna, dificuldade de
concentração e irritabilidade (DSM-5, 2014). Sintomas esses que podem ser
desenvolvidos por uma série de fatores, o Quadro 3 apresenta as principais
atividades de riscos associados à insônia.
26

Quadro 3 - Fatores associados à insônia


Fatores associados à insônia
- Ingestão de café à tarde ou à noite
- Ingestão de bebidas alcoólicas à noite
- Alimentação exacerbada à noite
- Trabalhos difíceis e estressantes no período noturno
- Atividade tensa no período noturno
- Televisão no quarto
- Despertar e levantar da cama a cada dia em horários muito diferentes
- Trabalho em turnos

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de DALGALARRONDO (2008).

É relevante apontar que a prevalência da insônia pode ser influenciada


por um conjunto de variáveis: idade, condições médicas subjacentes, estilo
de vida, e outros fatores (DALGALARRONDO, 2008). Ela pode também
variar entre homens e mulheres, mas em termos gerais, os estudos
epidemiológicos indicam uma tendência maior de ocorrência desse distúrbio
em mulheres, com razão de 1,44:1 entre os gêneros (DSM-5, 2014). Os
motivos para essa diferença significativa de gênero na prevalência da insônia
não são conhecidos, porém, fatores hormonais, sociais, psicológicos e
comportamentais podem contribuir para essa disparidade.
No âmbito do manejo terapêutico, a insônia engloba uma
multiplicidade de procedimentos. A seleção da abordagem a ser empregada
deve ser fundamentada na severidade sintomática, nas preferências do
paciente e na avaliação efetuada pelo especialista no campo da saúde
mental (DSMS-5). As opções compreendem: práticas saudáveis, substâncias
medicamentosas comumente utilizadas, terapias alternativas
complementares, técnicas comportamentais, produtos farmacêuticos,
medidas de higiene do sono, abordagens psicoterapêuticas, e outras
alternativas.(SOUZA; GUIMARÃES, 1999). Embora tenham ocorrido
progressos no campo da medicina convencional em relação ao tratamento de
insônia crônica através de fármacos, os pacientes enfrentam uma série de
complicações, entre as quais se destacam a redução da atividade
psicomotora, a comprometimento da capacidade de memorização, a
desinibição paradoxal, o desenvolvimento de tolerância e dependência, e o
27

agravamento do efeito depressor quando combinado com outras substâncias


depressoras, o álcool em particular (LONGO; JOHNSON, 2000).
As terapias complementares, a exemplo da acupuntura, têm
evidenciado benefícios notáveis para o combate à insônia, atenuando
sintomas e favorecendo à saúde mental (DONG et al., 2017). A aplicação da
acupuntura para o tratamento da insônia geralmente envolve a inserção de
agulhas em pontos específicos do corpo, visando restaurar o equilíbrio
energético (WEN, 1985). O processo de seleção do método de tratamento a
ser adotado depende da gravidade dos sintomas e das preferências
particulares de cada paciente, frequentemente requerendo uma abordagem
multidisciplinar.
A introdução de agulhas em locais específicos do corpo promove a
liberação de endorfinas e de outros neurotransmissores associados ao
bem-estar, resultando na possível atenuação dos sintomas de insônia (WEN,
1985). Ademais, a prática da acupuntura apresenta a capacidade de
harmonizar o sistema nervoso simpático e parassimpático, tendo como
consequência a redução da resposta ao estresse oxidativo, apresentando
assim vários benefícios fisiológicos - esses mecanismos são minuciosamente
abordados por Zhang et al. (2019). Ainda que os resultados variem de acordo
com cada indivíduo, inúmeros relatos evidenciam benefícios notáveis no
aumento de bem estar após sessões habituais de acupuntura.

1.4. Correlação de insônia com depressão

A interligação entre saúde mental, insônia e depressão tem sido


extensivamente estudada na literatura científica, refletindo uma relação
multidimensional entre essas patologias. Cerca de 70% dos indivíduos
diagnosticados com depressão também exibem sintomas concomitantes de
insônia (CARNEY et al., 2015). A revisão sistemática de Zhao et al. publicada
em 2022, oferece insights preciosos sobre essa correlação, como podemos
observar a seguir:

"Notavelmente, a insônia não está apenas associada a sintomas


depressivos mais graves, incluindo suicídio, mas também está
28

associada a uma resposta mais fraca aos tratamentos para a


depressão, a uma duração mais longa do tratamento, a uma
recuperação mais lenta da doença e uma menor taxa de remissão.
Além disso, a insônia persistente é geralmente um sintoma residual
de depressão, ocorrendo em aproximadamente 95% dos pacientes
com remissão incompleta da depressão e em 72% dos pacientes
que apresentam remissão completa após tratamento antidepressivo.
Estas descobertas indicam que a terapia antidepressiva isolada pode
não fornecer um remédio adequado para pacientes com problemas
de sono. Consequentemente, a resolução da insônia como sintoma
principal ou residual em pacientes com depressão ativa ou prévia,
respectivamente, é crucial e tem relevância clínica significativa,
porque o primeiro pode interagir com a depressão e então exacerbar
e manter cada condição e o último constitui um fator de risco
fundamental para um futuro episódio depressivo (recaída na
depressão) e contribui para resultados clínicos indesejáveis." (Zhao
et. al, 2022, pág. 2).

Outro estudo aponta que a prevalência de depressão entre aqueles


que sofrem de insônia é de 3 a 4 vezes maior em comparação com
indivíduos que não apresentam distúrbios de sono (FANG et al., 2019),
reforçando a estreita relação entre ambas as condições. O estudo de
Asarnow et al. (2019) ressalta que os distúrbios do sono são considerados
como uma das principais manifestações e critérios diagnósticos no âmbito da
depressão. Como podemos observar, evidências substanciais mostram que a
insônia não é apenas comórbida de depressão, mas também funciona como
um fator de risco para o desenvolvimento subsequente dessa condição
psiquiátrica. Além disso, ela pode persistir como uma manifestação residual
após o tratamento bem sucedido da depressão, exacerbando a
vulnerabilidade ao reaparecimento dos sintomas depressivos.
Portanto, a inter-relação entre saúde mental, insônia e depressão
transcende uma mera coincidência clínica, sendo respaldada por um corpo
substancial de evidências teóricas e empíricas. Por esta razão, a presente
revisão pretende favorecer uma compreensão mais aprofundada do assunto,
com o intuito de demonstrar que é fundamental uma abordagem integral no
diagnóstico, tratamento e prevenção dessas condições patológicas
interdependentes. Desta forma, promovendo uma possível estratégia de
intervenção adjuvante não farmacológica eficaz e segura, como a
acupuntura, direcionada aos pacientes afetados por essa complexa rede de
sintomas e comorbidades.
29

1.5. Acupuntura e Insônia

A eficácia da acupuntura no tratamento de transtornos mentais


comuns é explicada por meio de uma série de mecanismos diversos. Tal
como afirmado por Wen em 1985, a acupuntura tem como objetivo principal
estimular os mecanismos compensatórios do organismo, agindo no Sistema
Nervoso Central (SNC) a fim de promover a restauração da homeostase
corporal de forma ampla, não se limitando apenas ao ponto de lesão ou aos
agentes nocivos. Essa técnica terapêutica atua mediante a liberação de
endorfinas, neurotransmissores que possuem forte associação com o
bem-estar e alívio do estresse, eleva mecanismos de resistência, entre outras
funções importantes (WEN, 1985).
Na perspectiva da MTC, a insônia é compreendida como um
desequilíbrio nos padrões energéticos do corpo, afetando a harmonia entre
Yin e Yang, elementos essenciais para o bom funcionamento do organismo
(TIAN, 1993). Segundo Maciocia (2005), essa patologia pode resultar de
diversas causas, envolvendo desequilíbrios energéticos de Deficiência (do
sangue do Coração, do Qi e do sangue do Baço e do coração, do Yin do
Coração, do sangue do Fígado, do Yin do Fígado, da Vesícula Biliar, do Yin
do Coração e do Rim, do Yin do Coração e do Rim com calor por vazio no
Coração), perturbações emocionais, entre outros fatores.
Por exemplo, a insônia por deficiência de Yin é caracterizada pela falta
de nutrição e suporte para o aspecto Yin do corpo, causando calor interno,
enquanto a insônia por deficiência de Qi ou de Sangue pode levar à
dificuldade em adormecer devido à fraqueza do Qi ou deficiência do Sangue
que nutrem o coração (MACIOCIA, 2005). Ademais, esse transtorno do sono
está frequentemente relacionado a desequilíbrios emocionais, como estresse,
ansiedade, preocupação excessiva ou raiva. Essas emoções podem afetar a
harmonia do fluxo energético, resultando em bloqueios ou estagnação do Qi,
causando dificuldade para relaxar e adormecer (TIAN, 1993). A acupuntura é
considerada uma abordagem eficaz para restaurar o equilíbrio energético da
insônia, estimulando pontos específicos do corpo para regular o fluxo de Qi e
harmonizar Yin e Yang (MACIOCIA, 2007).
30

1.6. Acupuntura e Depressão

A acupuntura favorece o equilíbrio dos sistemas nervosos simpático e


parassimpático, promovendo uma redução na reação do organismo ao
estresse e, por conseguinte, mitigando a ansiedade. Além disso, a terapia
também beneficia o fluxo sanguíneo e regula as funções hormonais, o que
pode se traduzir em vantagens relevantes no tratamento dos quadros de
depressão (WEN, 1985).
Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a depressão é compreendida
de maneira holística e integrada, indo além das manifestações emocionais
para avaliar os desequilíbrios energéticos subjacentes (TIAN, 1993). Ela é
associada a desequilíbrios nos órgãos e vísceras do corpo, considerando a
teoria dos Zang Fu, que são os órgãos internos na MTC (ROSS, 2011). Isso
oferece uma abordagem única para compreender e tratar a depressão,
focando não apenas nos sintomas emocionais, mas também nas causas
raízes da doença.
Essa patologia é muitas vezes associada a desequilíbrios no Fígado e
no Coração; segundo TIAN (1993), o Fígado tem um papel crucial no controle
do fluxo suave do Qi, ou energia vital, pelo corpo. Quando o Qi do Fígado fica
estagnado devido a emoções reprimidas ou estresse crônico, pode resultar
em sintomas depressivos. Além disso, desequilíbrios no Coração, que é o
órgão que abriga a Mente (Shen), também podem contribuir para a
depressão. A MTC considera que o Coração governa o sangue e, quando há
deficiência sanguínea devido a fatores como excesso de preocupação ou
trauma emocional, podem ocorrer sintomas de depressão (ROSS, 2011).
Na etiopatogenia da depressão na MTC, outros fatores como
deficiência (do Yang do Rim, do sangue do Coração, do sangue do Fígado,
do sangue do Baço e do Coração, do Yang do Coração, do Yin do Coração e
do Rim com calor por vazio, etc.) são investigados e produzido um protocolo
de atendimento específico para cada uma dessas desarmonias (TIAN, 1993).
Uma deficiência de Qi pode resultar em fadiga, fraqueza e dificuldade de
concentração, enquanto a deficiência de Yin e Yang pode levar a sintomas
como insônia, agitação e inquietação. Com relação ao tratamento, pontos de
acupuntura específicos são frequentemente usados para tratar a depressão,
31

tendo o intuito de desobstruir a circulação de Qi e nutrir o sangue,


harmonizando o Fígado e o Coração, enquanto fortalece o Yin e o Yang do
corpo (MACIOCIA, 2007).

2. OBJETIVO

2.1. Objetivo geral

O objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso é investigar as


evidências sobre a eficácia e segurança da acupuntura como terapia
alternativa no tratamento da insônia e sintomas de humor depressivo
associados. O estudo buscará analisar os efeitos da acupuntura na redução
dos sintomas de insônia, englobando melhora na qualidade do sono dos
pacientes tratados e redução dos sinais e sintomas de depressão
associados, além de explorar possíveis mecanismos de ação envolvidos,
oferecendo insights para profissionais de saúde e pesquisadores na área.
.
2.2. Objetivos específicos

Serão avaliados os resultados de ensaios clínicos randomizados


(ECRs) sobre o tema, a fim de fornecer uma análise crítica da evidência
existente. Os achados deste estudo pretendem contribuir para a
compreensão da sintomatologia da insônia e sintomas depressivos
associados, como também analisar e identificar os principais acupontos
utilizados no tratamento desses distúrbios na prática clínica.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é um sistema de saúde milenar


que se desenvolveu na China ao longo de milênios e continua a ser praticado
em todo o mundo como uma alternativa ou complemento à medicina
convencional. Ela se baseia em várias teorias fundamentais que formam a
base do diagnóstico e tratamento na MTC (MACIOCIA, 2007).
32

Uma dessas teorias é a do Yin e Yang, que descreve a


interdependência e equilíbrio das forças opostas na natureza e no corpo
humano (ROSS, 2011). Outra teoria essencial é a dos cinco elementos
(Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água), que é usada para entender os
processos do corpo e suas interações com o ambiente (MACIOCIA, 2005).
De acordo com a MTC, a saúde está intrinsecamente ligada ao equilíbrio
dessas energias, e o desequilíbrio pode resultar em doenças (TIAN, 1993).
A teoria dos meridianos é outra base fundamental da MTC, onde se
acredita que o corpo humano é atravessado por uma rede de canais de
energia, pelos quais o Qi (energia vital) flui (WEN, 1985). O diagnóstico na
MTC envolve a avaliação desses desequilíbrios energéticos por meio de
técnicas como a observação da língua e pulso (MACIOCIA, 2005). Além
disso, a MTC utiliza diversas modalidades terapêuticas, como acupuntura,
auriculoterapia, guasha, ventosaterapia, fitoterapia, dietoterapia, shiatsu,
massagem terapêutica (Tui Na), reflexologia podal e de mãos, para restaurar
o equilíbrio energético e tratar uma variedade de condições de saúde
(MACIOCIA, 2007).
Em resumo, a Medicina Tradicional Chinesa é um sistema holístico de
cuidados de saúde que se baseia em teorias fundamentais como Yin e Yang,
5 elementos, Zang Fu, Substâncias Vitais, Meridianos e Oito Princípios
(MACIOCIA, 2007). Ela aborda não apenas os sintomas físicos, mas também
fatores emocionais e ambientais na compreensão da saúde e da doença,
buscando restaurar o equilíbrio natural do corpo para promover a saúde e o
bem-estar (ROSS, 2011).

3.1. Teoria do Yin-Yang

A mais antiga origem desse fenômeno deve ter sido percebido pela
observação dos camponeses sobre a alternância cíclica do dia e da noite,
tendo o aparecimento na literatura datado em 700 a.C. no Livro das
Mutações (Yi Jing) (MACIOCIA, 2007). O conceito de Yin-Yang é constituído
na oposição complementar, da alternância de dois estágios opostos no
processo de mudança de todas as coisas do universo, ao longo do tempo, e
tem como princípio o contínuo equilíbrio dinâmico entre eles - ambos são
33

fases de um movimento cíclico de transformação (ROSS, 2011). Dessa


forma, esses dois estágios possuem características básicas de identificação,
conforme exposto no Quadro 4.

Quadro 4 - Características Yin e Yang


Aspectos da Estruturas Características
natureza corpóreas patológicas

Lua, Escuridão, Doença crônica, Frio,


Sombra, Descanso, Interior (órgãos), Frente Sonolência, Face pálida,
Terra, Matéria, (tórax-abdômen), Voz fraca, Falta de sede,
Material, Água, Estrutura dos órgãos, Fezes amolecidas,
Yin Contração Corpo, Sangue, Zang hipofuncionalidade

Sol, Luminosidade,
Brilho, Atividade, Exterior (pele e Doença aguda, Calor,
Céu, Energia, músculos), Costas, Insônia, Rubor facial, Voz
Imaterial, Fogo, Função dos órgãos, alta, Sede, Constipação,
Yang Expansão Cabeça, Qi, Fu hiperfuncionalidade
Fonte: Elaboração própria. Adaptado de MACIOCIA (2007).

É possível perceber que o Yang corresponde a todas as coisas em


estados puros, leves e imateriais, já o Yin simboliza estados grosseiros,
densos e materiais (MACIOCIA, 2005). Como falado anteriormente, Yin-Yang
são fases opostas no tempo em constante interação dinâmica e na MTC
podemos entender essa inter-relação por meio de quatro aspectos: oposição
de Yin-Yang, interdependência de Yin-Yang, consumo mútuo de Yin-Yang e
intertransformação de Yin-Yang. O primeiro e segundo aspecto observado é a
oposição de Yin-Yang e se relaciona ao fato deles serem a expressão de
fases opostas e complementares de um determinado fenômeno, um exemplo
disso é o dia (Yang) e a noite (Yin). Um não pode existir sem o outro, na
mesma medida que um contém a semente do outro, isto quer dizer que nada
é totalmente Yin ou Yang (TIAN, 1993). É importante frisar que a oposição
entre essas duas energias é relativa, sempre dependendo da comparação de
algo a mais para definição de sua qualidade como Yin ou Yang (MACIOCIA,
2007).
34

O terceiro aspecto se refere ao consumo mútuo das energias Yin-Yang


e expressa que ocorre um equilíbrio dinâmico contínuo e variável entre elas,
isso significa dizer que o tempo todo as energias de Yin e Yang estão se
relacionando, afetando e modificando mutuamente (ROSS, 2011). O quarto
aspecto aborda a intertransformação de Yin e Yang, de como um pode se
transformar no outro e vice-versa. Isso só é possível em certas condições e
dependendo de dois fatores - elementos intrínsecos das coisas e a ação do
tempo. A transformação só pode ocorrer se as causas intrínsecas, de
determinada coisa, estiverem amadurecidas e se for no tempo apropriado de
desenvolvimento para mudança acontecer (TIAN, 1993).
Segundo Maciocia (2005), é legítimo dizer que praticamente toda
compreensão desenvolvida pela medicina chinesa como a fisiologia,
patologia, diagnóstico e tratamento podem ser simplificados pela teoria de Yin
e Yang. Portanto, qualquer sinal, sintoma e processo patológico pode ser
analisado por esse conceito básico fundamental e seu tratamento consiste
em quatro estratégias: tonificar o Yin, tonificar o Yang, eliminar o excesso de
Yin e eliminar o excesso de Yang (MACIOCIA, 2007).

3.2. Teoria dos Cinco Elementos ou Cinco Movimentos

A teoria dos cinco elementos ou cinco movimentos foi desenvolvida


pela "Escola do Yin-Yang" na mesma época que a teoria do Yin-Yang, por
volta de 1000-7070 a.C, e junto dela constituem os alicerces da Medicina
Tradicional Chinesa (MTC) (TIAN, 1993). O conceito dos cinco elementos
surgiu a partir da contemplação da natureza, da classificação da matéria e da
percepção de seus movimentos de transformação (ROSS, 2011). Tal
conhecimento foi um grande avanço na época, viabilizando enxergar as
causas das doenças pelo estilo de vida das pessoas (seu contexto territorial,
social e político), ao invés de causas sobrenaturais (MACIOCIA, 2005). Os
cinco elementos ou movimentos representam cinco tipos de processos
básicos da natureza. São eles: água, fogo, madeira, metal e terra (WEN,
1985). Representam qualidades distintas inerentes a cada coisa do universo
e manifestam os fenômenos naturais através de seus movimentos e
35

inter-relações, conforme explicita a passagem retirada do livro “os


fundamentos da medicina chinesa” de Maciocia (2007):

"Os Cinco Elementos também simbolizam cinco direções diferentes


de movimento dos fenômenos naturais. A Madeira representa o
movimento expansivo e exterior em todas as direções, o Metal
representa o movimento contraído e interior, a Água representa o
movimento para baixo, o Fogo indica o movimento para cima e a
Terra representa neutralidade ou estabilidade." (MACIOCIA, 2007,
pág 17).

Cada um dos Cinco Elementos se inter-relacionam através de três


ciclos: o de geração, dominância ou restrição e contra-dominância (ROSS,
2011). No ciclo de geração, cada elemento é produzido por um e produtor de
outro. Assim sendo, a Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera
o Metal, o Metal gera a Água e a Água gera a Madeira (TIAN, 1993). No ciclo
de dominância ou restrição, cada elemento restringe outro e é restringido por
um. Consequentemente, a Madeira limita a Terra, a Terra limita a Água, a
Água limita o Fogo, o Fogo limita o Metal e o Metal limita a Madeira. Dessa
forma, fica claro que os ciclos de geração e dominância são naturais
(saudáveis) - respectivamente, um viabiliza o movimento de mudança natural
dos cinco elementos e o outro mantém a mudança e desenvolvimento
harmônico entre eles (MACIOCIA, 2007).
Além dos ciclos naturais, existem os anormais (patológicos) entre os
elementos que acontecem quando o equilíbrio natural é rompido - é
justamente quando esse equilíbrio dinâmico é afetado, num tempo
prolongado, que as doenças podem se manifestar (ROSS, 2011). São eles:
ciclo de super-dominância, contra-dominância e o ciclo de geração
desequilibrado. O ciclo de super-dominância segue a mesma sequência do
ciclo de dominância, no entanto, cada um dos elementos limita
excessivamente o outro o que acaba provocando diminuição energética de
cada um deles (TIAN, 1993).
A sequência de contra-dominância subverte a ordem do ciclo de
dominância, resultando a ordem inversa. Assim sendo, a Madeira afronta o
Metal, o Metal afronta o Fogo, o Fogo afronta a Água, a Água afronta a Terra
e a Terra afronta a Madeira (MACIOCIA, 2005). O ciclo de geração
36

desequilibrado pode ocasionar estados patológicos em duas situações:


quando o elemento-gerador estiver com energia deficiente e por
consequência gerar um elemento-produto deficiente ou quando o
elemento-produto estiver com energia em excesso e consumir muito a
energia do elemento-gerador (ROSS, 2011). Todas as inter-relações dos
cinco movimentos estão ilustradas na Figura 1.

Figura 1 - Esquema representativo das inter-relações dos 5 movimentos

Fonte: MACIOCIA (2007).

A aplicação da teoria dos Cinco Elementos na medicina chinesa são


inúmeras, dentre elas estão: compreender a fisiologia do corpo e processos
patológicos, viabilizar o diagnóstico e tratamento (TIAN, 1993). Na prática
clínica, o conceito dos cinco elementos promove um importante modelo
clínico útil das relações patológicas com os órgãos internos, seus sinais e
sintomas. Ele é embasado nas correlações dos órgãos e vísceras com os
tecidos, órgãos dos sentidos, emoções, cores, odores, sabores, sons e
climas (ROSS, 2011). Todas essas características podem ser observadas no
Quadro 5 abaixo:

Quadro 5 - Características dos 5 elementos


Madeira Fogo Terra Metal Água

Estágios Nascimento Crescimento Transformação Colheita Estoque

Zang Fígado Coração Baço-pâncreas Pulmão Rim


37

Vesícula Intestino Intestino


Fu Biliar Delgado Estômago Grosso Bexiga

Órgãos de
sentidos Olhos Língua Boca Nariz Ouvidos

Emoções Fúria Alegria Pensamento Tristeza Medo

Sons Grito Riso Canto Choro Gemido

Tecidos Tendões Vasos Músculos Pele Ossos

Sabores Azedo Amargo Doce Picante Salgado

Cores Verde Vermelho Amarelo Branco Preto

Odores Rançoso Queimado Aromático Fétido Podre

Climas Vento Calor Umidade Secura Frio

Movimento Expansivo Ascendente Circular Contração Descendente


Fonte: Elaboração própria. Adaptado de MACIOCIA (2007).

3.3. Substâncias vitais

As substâncias vitais são: Qi (Energia vital), Sangue (Xue), Essência


(Jing), Fluidos corpóreos (Jin Ye) e Mente (Shen) (ROSS, 2011).

● Qi

De acordo com a medicina tradicional chinesa, a origem de tudo o que


existe é o Qi que pode ser traduzido de várias formas - energia, força
material, matéria, éter, matéria-energia, força vital, força da vida, poder vital e
poder de mover. Aqui opto pelo significado de "força da vida". Todas as
coisas do universo são resultantes das expressões de um único Qi em
diferentes graus de materialidade e imaterialidade. No momento em que o Qi
se condensa, a energia se transforma em matéria e quando se dissipa gera
formas mais rarefeitas e sutis da matéria (TIAN, 1993).
Isso significa dizer que o Qi origina tanto o corpo, como a mente e o
espírito da vida humana. A partir disso, podemos compreender que o corpo e
a mente funcionam em conjunto, através das diversas manifestações de Qi
38

em substâncias vitais, se relacionando entre si para conceber o organismo.


Como dito anteriormente, o Qi pode se manifestar de formas diversas no
corpo e consequentemente desenvolver funções específicas em regiões
variadas do corpo. Por isso, o termo Qi pode designar a síntese de energia
feita por cada um dos órgãos internos com o intuito de nutrir o corpo e a
mente, como também denominar a capacidade funcional complexa de cada
órgão interno (MACIOCIA, 2007).

● Sangue (Xue)

O Sangue (Xue) é uma expressão de Qi muito denso e material que


flui por todo o corpo, tendo sua origem a partir Essência do Rim por meio da
medula óssea e do Qi dos alimentos (Gu Qi) produzido pelo Estômago, Baço
e auxiliado pelo Qi original. Suas principais funções são nutrir o organismo,
circular o Qi Nutritivo (Yin Qi), umedecer o corpo, abrigar a mente e
determinar a menstruação da mulher (MACIOCIA, 2007).

● Fluidos corpóreos ou Líquidos orgânicos (Jin Ye)

Os fluidos corpóreos (Jin Ye) são produzidos e separados pelo baço a


partir dos líquidos e alimentos. São divididos em uma porção pura e impura,
nas quais a primeira parcela purificada flui para o pulmão para sua devida
distribuição no corpo e a parte não purificada se dirige para o intestino
delgado onde ocorre uma segunda separação dos líquidos em puros e
impuros (ROSS, 2011). A partir desta segunda filtragem, os líquidos
purificados vão para a bexiga e os impuros seguem para o intestino grosso,
onde parte da água é reabsorvida pelo organismo. A bexiga realiza a última
etapa de transformação, onde separa os fluidos impuros que se transformam
em urina e os líquidos purificados transcorrem pro exterior do corpo se
transformando em suor, lágrimas, saliva e muco (TIAN, 1993).
Os fluidos (Jin) circulam junto ao Qi defensivo no exterior do
organismo, na zona entre a pele e os músculos, e tendem a se movimentar
rapidamente. Eles são claros, aquosos e puros, tem como funções: se
incorporar na fração líquida do sangue, umedecer e nutrir parcialmente a pele
39

e os músculos. Os líquidos (Ye) circulam junto ao Qi nutritivo no interior do


organismo e tendem a se movimentar lentamente. Eles são turvos, pesados e
densos, tem como funções: lubrificar os orifícios dos órgãos dos sentidos
(olhos, ouvidos, nariz e boca), as articulações, a espinha, o cérebro e a
medula óssea (MACIOCIA, 2007).

● Mente (Shen)

A mente (Shen) é a forma mais sutil e intangível de Qi. Ela está


intimamente ligada ao Zang do coração e é agente das diversas atividades
mentais dos seres humanos que são: a consciência, o pensamento, a
memória, a perspicácia, a cognição, o sono, a inteligência, a sabedoria, as
ideias, os afetos, os sentimentos e os sentidos (MACIOCIA, 2007).

● Essência (Jing)

A Essência (Jing) é um conceito desenvolvido na MTC para transmitir


a ideia de uma substância muito valiosa e finita, elaborada a partir de um
processo complexo de refinamento, que requer um cuidado especial para ser
guardada e preservada. Ela é classificada em três formas distintas: Essência
pré-celestial, Essência pós-celestial e Essência do rim (MACIOCIA, 2007).
A Essência pré-celestial é a união das energias sexuais do genitor e
genitora no ato da concepção sendo "fixa" em quantidade e qualidade por
toda a vida, é ela que nutre e proporciona o desenvolvimento do bebê
durante toda a gestação. Além disso, é fator determinante da força
constitucional básica de cada pessoa, sua força, vitalidade e singularidade
(TIAN, 1993).
A Essência pós-celestial só é acessada após o nascimento, quando os
bebês tem a capacidade de respirar pelos próprios pulmões e se alimentar.
Ela resulta da energia provinda do Qi dos alimentos, dos fluidos do
Estômago, Baço e do ar (TIAN, 1993) .
A Essência do Rim é responsável pelo crescimento, reprodução,
desenvolvimento, maturação sexual, concepção, gravidez, menopausa e
envelhecimento. Provém da união da Essência pré-celestial com a
40

pós-celestial, e é armazenada no Rim onde pode circular por todo o


organismo quando necessário (TIAN, 1993).

3.4. Teoria do Zang Fu

A teoria dos órgãos internos (Zang Fu) é ponto chave para o


desenvolvimento da compreensão da fisiologia da medicina tradicional
chinesa, ela engloba os conceitos de Yin-Yang, dos cinco movimentos e
substâncias vitais (TIAN, 1993). Sendo assim, é de extrema importância para
prática médica chinesa, porque permite a visualização da complexa rede de
relações que o organismo desempenha para viabilizar o seu funcionamento.
Tendo corpo e mente coexistindo e interagindo entre si com as suas mais
diversas funções corporais, emocionais, mentais e também com os contextos
ambientais do meio externo (MACIOCIA, 2005).
As vísceras, de natureza Yang, são denominadas de Fu. Elas ficam
encarregadas de receber, mover, digerir e transformar os alimentos e
bebidas, com o intuito de extrair suas essências purificadas e encaminhar
para os órgãos internos (Zang). Além disso, são responsáveis por excretar
todos os resíduos não utilizados pelo organismo. Os órgãos internos, de
natureza yin, são conhecidos como Zang. Eles são responsáveis por receber
as substâncias puras e refinadas das vísceras (Fu), após a transformação
dos líquidos e alimentos, e armazenar as substâncias vitais - Qi, Sangue,
Essência e Fluidos corpóreos (TIAN, 1993) . Por estocarem as substâncias
vitais do organismo, do ponto de vista da patologia e fisiologia, os órgãos
(Zang) são mais importantes que as vísceras (Fu). Na passagem a seguir, do
livro “Fundamentos da Medicina Chinesa” de Maciocia (2007), podemos
compreender melhor a importância dos Zang Fu:

"Uma das principais funções dos Órgãos Internos consiste em


assegurar a produção, a manutenção, o abastecimento, a
transformação e a movimentação das Substâncias Vitais. Cada uma
dessas Substâncias Vitais, Qi, Sangue, Essência e Fluidos
Corpóreos está relacionada a um ou mais órgãos," (MACIOCIA,
2007, pág 82).
41

Como podemos perceber, a relação dos órgãos internos (Zang) e


vísceras (Fu) é firmada através da inter-relação e interdependência mútua
entre eles, onde os Zang refletem a estrutura e o armazenamento das
substâncias vitais e os Fu correspondem a sua função (MACIOCIA, 2007).
Na perspectiva da MTC, os órgãos e vísceras são analisados de forma
complexa, levando em consideração não apenas suas características
anatômicas e funcionais, como também aspectos energéticos, mentais,
emocionais e espirituais. Cada órgão está intimamente ligado com uma
determinada emoção, tecido, órgão de sentido, faculdade mental, cor, clima,
sabor, som, odor e outras correlações (TIAN, 1993). No total, são seis Órgãos
(Fígado, Coração, Baço-pâncreas, Pulmão, Rim e Pericárdio) e seis vísceras
(Vesícula Biliar, Intestino Delgado, Estômago, Intestino Grosso, Bexiga e
Triplo Aquecedor). Abaixo serão descritas cada uma de suas funções.

● Funções do coração

○ Governar o Sangue
É no coração que a transformação do Qi dos alimentos em
sangue acontece, além disso é este órgão o responsável pela
circulação sanguínea e possui influência indireta sobre a menstruação
dos corpos femininos. Dessa maneira, fica claro que o coração
estando saudável a pessoa terá uma boa constituição e vitalidade,
tendo em vista que o sangue estará bem nutrido e a circulação boa
(TIAN, 1993).

○ Controlar os vasos sangüíneos


É o coração que influencia o estado dos vasos sanguíneos,
estes dependem do Qi do coração e do sangue para desempenhar
plenamente as suas funções (MACIOCIA, 2005).

○ Manifestar-se na compleição
O estado do coração e do sangue se refletem na compleição da
face de uma pessoa, visto que o coração governa o sangue, os vasos
42

sanguíneos e estes se distribuem por todo o organismo (MACIOCIA,


2005).

○ Abrigar a Mente (Shen)


A mente (Shen), como já falado anteriormente, diz respeito aos
aspectos mental e espiritual de uma pessoa. Na ótica da MTC, as
faculdades mentais residem no coração, desta forma o estado do
coração e do sangue influenciam diretamente as esferas de
consciência de uma pessoa, mas principalmente: o sono, o
pensamento, a memória, a consciência, as emoções e atividades
mentais (TIAN, 1993). No capítulo 6 do livro “Fundamentos da
Medicina Chinesa” de Maciocia (2007) podemos entender melhor a
raiz desta conexão:

"O Sangue é a raiz da Mente. Tal conceito é importante na


prática, uma vez que o Sangue do Coração enraíza a Mente e
oferece um suporte para ela, de maneira que a Mente se torna feliz e
em paz." (MACIOCIA, 2007, pág 91).

Esta é uma relação de interdependência, onde a mente (Shen)


também influencia diretamente na função do coração de governar o
sangue (MACIOCIA, 2007).

○ Relacionar-se à alegria
A emoção relacionada ao coração é a alegria, esta emoção em
alta intensidade, significando um estado de excessiva excitação e
desejo, tem a capacidade de desequilibrar e prejudicar o Qi do
coração (TIAN, 1993).

○ Abrir-se na língua
O coração controla a fala, o paladar, a aparência, a forma e a
cor da língua, em especial sua ponta, tendo em vista que o Qi do
coração se comunica e influencia a língua (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar a sudorese
43

Como uma das funções do coração é de governar o sangue, e


este último tem uma íntima relação com os fluidos corpóreos, no qual
o suor é parte integrante, o coração interfere na produção de suor
(TIAN, 1993).

● Funções do fígado
○ Armazenar o Sangue
O fígado tem a função de armazenar o sangue e, com isso, é
responsável por: regular a menstruação, regular o volume do sangue
em relação à atividade e o descanso, além de lubrificar os olhos e os
tendões do corpo (TIAN, 1993). O sangue armazenado no fígado tem
relação direta na menstruação dos corpos femininos, por esta razão
esta função é especialmente importante na fisiologia e processos
patológicos das mulheres (MACIOCIA, 2007). Podendo causar
diversas alterações ginecológicas como por exemplo: amenorréia,
cólicas, tensão pré-menstrual etc.
No que diz respeito à função de regular o volume do sangue no
organismo, o fígado promove o suprimento sanguíneo de acordo com
a atividade física e o descanso, em qualquer momento, para os tecidos
que demandam desta nutrição com o intuito de garantir a energia
necessária para o movimento ocorrer (TIAN, 1993). Em repouso, o
suprimento de sangue retorna para o fígado a fim de restabelecer o
nível energético da pessoa (MACIOCIA, 2007).
Outra função importante desta ação auto-reguladora do fígado é
sua capacidade de influenciar indiretamente a resposta do organismo
frente a exposição de fatores patogênicos externos, com esta função
sadia, o volume de sangue do organismo seguirá o curso necessário
mantendo todos os tecidos bem nutridos e, por consequência, a
defesa do corpo estará fortalecida (TIAN, 1993).
Outro aspecto relevante do sangue armazenado no fígado é
prover a lubrificação e nutrição dos olhos, tendões, ligamentos e
cartilagens. Assim, possibilitando a atuação adequada de todas as
articulações (MACIOCIA, 2007).
44

○ Assegurar o fluxo homogêneo do Qi


A função principal do fígado é garantir o fluxo homogêneo do Qi
ao longo de todo o organismo em todos os órgãos e direções (ROSS,
2011). Isto significa dizer que o fígado é o centro de comando do Qi,
onde ele vai dispersar, circular, promover a liberação e equilibrar o
fluxo de Qi dentro do organismo, proporcionando a manutenção das
atividades fisiológicas dos órgãos (MACIOCIA, 2007). A Figura 2
ilustra o que foi dito.

Figura 2 - Livre fluxo do Qi do Fígado em todas as direções

Fonte: MACIOCIA (2007).

○ Controlar os tendões
Como já falado anteriormente, o estado dos tendões,
cartilagens, ligamentos dos membros são influenciados pelo fígado. É
ele que envia o sangue necessário para umedecê-los e nutri-los,
tornando possível o movimento sadio e uniforme do corpo (TIAN,
1993).

○ Manifestar-se nas unhas


Pela perspectiva da MTC, as unhas são derivadas dos tendões,
por esta razão também são influenciadas pelo estado energético do
sangue do fígado. Sendo assim, na prática clínica o estado das unhas
estão diretamente ligadas ao estado do fígado (ROSS, 2011).
45

○ Abrir-se nos olhos


Assim como a língua é conectada ao coração, o olho é o órgão
de sentido ligado ao fígado. É o sangue do fígado que nutre e lubrifica
os olhos gerando a boa acuidade visual (ROSS, 2011).

○ Controlar as lágrimas
As lágrimas basais e reflexas estão correlacionadas ao fígado,
ou seja, alterações no fígado podem alterar a lubrificação e pleno
funcionamento dos olhos (TIAN, 1993).

○ Abrigar a Alma Etérea


A alma Etérea (Hun) é a qualidade mental e espiritual do fígado.
Ela controla a capacidade de planejamento da vida de uma pessoa,
desta forma podemos dizer que ela quem dá sentido e direcionamento
das nossas ações. Sendo geradora das inspirações, criatividade,
projetos, propósitos, sonhos de vida, visões e ideias (MACIOCIA,
2007).

○ Ser afetado pela raiva


A emoção do fígado é a raiva e, pela ótica da MTC, deve ser
entendida como um complexo de emoções que envolve frustração,
irritabilidade, ressentimento, fúria, e raiva reprimida. A raiva em
excesso prejudica o funcionamento do fígado, assim como a energia
do fígado em desequilíbrio produz a emoção da raiva (MACIOCIA,
2007).

● Funções do pulmão
○ Governar o Qi e a respiração
O Pulmão governa o Qi e a respiração, porque é ele que inspira
o "Qi puro" do ar disponível no ambiente e exala o "Qi impuro"
produzido pelo organismo (ROSS, 2011). Ao inalar o Qi puro do ar, o
Pulmão combina o Qi do alimento recebido pelo Baço e forma o Qi da
reunião (Zong Qi) que é distribuído por todo organismo para nutri-lo.
Assim, essa troca gasosa proporciona a constante renovação do Qi e
46

garante o completo funcionamento de todos os processos fisiológicos


do corpo (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar os canais e vasos sangüíneos


Como já falado anteriormente, o Pulmão governa o Qi como
um todo, isso significa dizer que ele comanda a circulação do Qi nos
vasos sanguíneos e dos canais (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar a dispersão e a descida de Qi e Fluidos Corpóreos


O pulmão está relacionado fisiologicamente à pele pelo fato de
ser o agente responsável por dispersar o Qi defensivo e os fluidos
corpóreos por todo o organismo, inclusive para o espaço entre pele e
músculos (ROSS, 2011). Essa atividade de dispersão de Qi é
extremamente importante para defesa do corpo por possibilitar que o
Qi defensivo seja distribuído de forma igualitária no organismo,
promovendo assim que a pele e músculos sejam aquecidos e que o
sistema imunológico esteja fortalecido (MACIOCIA, 2007). Com
relação aos fluidos corpóreos, o Pulmão os distribui em forma de
névoa fina pelo corpo com o intuito de umedecer a pele, regularizar a
abertura e o fechamento dos poros e produzir suor de forma
adequada. Em razão da localização do Pulmão, no alto do corpo, o
movimento de dispersão tanto do Qi como dos fluidos corpóreos
comandados por ele é em descida (ROSS, 2011).

○ Regular todas as atividades fisiológicas


O Pulmão auxilia na regularização de todos os processos
fisiológicos do corpo através do governo do Qi que é a base de todas
as atividades fisiológicas, da regência da respiração que distribui Qi
para todas as partes do organismo e do controle de todos os canais e
vasos sanguíneos (MACIOCIA, 2007).

○ Regular a passagem das Águas


Regular a passagem das águas é um dos papéis da função de
dispersão do Pulmão. Ele recebe os fluidos do Baço e os transforma
47

em uma "névoa" que é movida sob a pele e para o espaço entre a pele
e os músculos. Além disso, encaminha os fluidos corpóreos para o
Rim evaporar os fluidos e umedecer os pulmões e para a Bexiga
excretar os líquidos através da urina (ROSS, 2011).

○ Abrir-se no nariz e manifestar-se nos pêlos corpóreos


O nariz é o órgão de sentido relacionado ao Pulmão, visto que é
através dele que ocorre a respiração. Outra correlação importante é o
estado dos pêlos do corpo, eles espelham o estado do Pulmão, visto
que ele dissemina o Qi Defensivo e os fluidos corpóreos para a pele e
pêlos (MACIOCIA, 2007).

○ Abrigar a Alma Corpórea


A alma corpórea é a manifestação física da alma responsável
por todos os processos fisiológicos. Ela está estreitamente conectada
à essência de uma pessoa, expressando suas sensações e
sentimentos (ROSS, 2011).

○ Ser afetado por aflição, mágoa e tristeza


A tristeza é a emoção do Pulmão, além dela a aflição e mágoa
afetam de maneira negativa o Pulmão (MACIOCIA, 2007).
● Funções do Baço
○ Governar a transformação e o transporte
O Baço é o agente transformador dos líquidos e alimentos
consumidos em porções utilizáveis ou não, ele faz a extração do Qi do
alimento que é importante para o processo de digestão e para origem
da formação do sangue e dos outros Qi do organismo (ROSS, 2011).
Além de transformar e separar os fluidos, o Baço também
transporta a essência dos alimentos para os órgãos, enviando a parte
purificada ao Pulmão que combina-se com o ar e forma o Qi da
reunião (ROSS, 2011). A partir disso, o Pulmão faz a devida
distribuição do Qi na pele e no espaço entre pele e músculos, e o
coração o utiliza para a formação do sangue. Com relação a parte
48

impura, o Estômago direciona para os intestinos fazerem uma nova


separação (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar a subida do Qi
O Baço em conjunto com o Estômago comandam o curso e a
movimentação do Qi em todos os três aquecedores (ROSS, 2011). O
Estômago coordena o Qi em descida e o Baço em subida, essa
coordenação é crucial para que a transformação, transporte da
essência dos alimentos, Qi e fluidos sejam possíveis. Ademais, a
ascendência do Qi do Baço tem o papel de levantar e manter os
órgãos internos em seus lugares (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar o Sangue
Como já mencionado, o Baço tem um papel fundamental para
que a produção do sangue seja realizada e para além disso tem a
função de manter o sangue nos vasos sanguíneos que está
estreitamente conectado com sua função de controlar a ascendência
do Qi (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar os músculos e os quatro membros


É o Baço que transporta o Qi dos alimentos para todos os
músculos e membros, é ele quem faz a extração dos nutrientes dos
alimentos para sustentar todo o organismo (ROSS, 2011). Desta
forma, podemos perceber que se o Baço estiver deficiente, os
músculos e membros ficarão fracos também (MACIOCIA, 2007).

○ Abrir-se na boca e manifestar-se nos lábios


A boca tem estreita relação com o Baço, visto que o ato de
mastigar é parte integrante da absorção e transporte dos alimentos
ingeridos, etapas essenciais para ser realizada a transformação da
essência dos alimentos (ROSS, 2011). No que diz respeito aos lábios,
eles são o espelho do estado do Baço, expressando o aspecto do
sangue (MACIOCIA, 2007).
49

○ Abrigar o Intelecto
O Baço é a morada do Intelecto (Yi) que é responsável pela
capacidade de estudar, memorizar, focalizar, concentrar, pensar e ter
ideias. Isso ocorre, porque o Sangue e o Qi dos alimentos são os
alicerces do Intelecto (Yi) e como o Baço governa ambos o seu estado
influencia na vitalidade da mente (MACIOCIA, 2007).

○ Ser afetado pelo estado de ficar pensativo


O que mais agride o Baço é o excesso de pensamentos que se
relaciona ao ato de estar preocupado, remoer o passado e qualquer
trabalho mental exagerado direcionado a uma coisa específica
(MACIOCIA, 2007).

● Funções do Rim
○ Armazenar Essência e governar nascimento, crescimento, reprodução
e desenvolvimento
A Essência (Jing) do Rim é composta pela junção da Essência
pré-celestial, herdada pelos pais, e a Essência pós-celestial derivada
dos alimentos (ROSS, 2011). Em razão de armazenar as Essências, é
o Rim que determina: o crescimento, o desenvolvimento, a maturação
sexual, a fertilidade (produção de esperma, óvulos e sangue
menstrual), a gravidez, a menopausa, o envelhecimento e a morte de
uma pessoa (MACIOCIA, 2007).

○ Produzir Medula, abastecer cérebro e controlar ossos


Na ótica da MTC, a medula é uma substância ancestral que
deriva os ossos, medula óssea, cérebro e espinha dorsal. A origem da
Medula é a Essência, isso significa dizer que o estado do Rim
influencia diretamente a vitalidade das faculdades mentais, ossos e
medula óssea de uma pessoa (ROSS, 2011).

○ Governar a Água
O Rim governa a água, Isso significa dizer que ele é
encarregado de controlar e regular a micção, influenciar a excreção
50

dos fluidos corpóreos impuros, controlar a capacidade dos intestinos


de transformar e separar os fluidos puros dos impuros, receber e
encaminhar os fluidos do Pulmão a fim de umedecê-lo e, por fim, o
Rim tem a função de fornecer calor para o Baço desempenhar suas
funções de transformação e transporte dos fluidos corpóreos
(MACIOCIA, 2007).

○ Controlar a recepção do Qi
O Rim e o Pulmão coordenam o trabalho de usufruir o Qi do ar
do meio ambiente, para tal o Pulmão recepciona o Qi do ar e o
descende para o Rim que o conserva embaixo para evitar que ocorra a
congestão do Qi do ar em subida no tórax (ROSS, 2011).

○ Abrir-se nos ouvidos


Os ouvidos estão correlacionados ao Rim, porque precisam
fisiologicamente da nutrição da Essência para seu pleno
funcionamento (MACIOCIA, 2007).

○ Manifestar-se nos cabelos


Os cabelos são considerados o espelho do Rim, pois o seu
crescimento e aspecto dependem da nutrição da Essência (ROSS,
2011).

○ Controlar os dois orifícios inferiores


Os orifícios inferiores são representados pela uretra, ducto
espermático nos homens e o ânus. Todos esses orifícios são
comandados pelo Rim por necessitarem do Qi e a Essência do Rim
para o seu funcionamento (MACIOCIA, 2007).

○ Abrigar a Força de Vontade (Zhi)


A Força de Vontade (Zhi) tem domicílio no Rim, ela determina
disciplina, motivação e propósito diante dos objetivos ao longo da vida.
Portanto, é correto dizer que a força de vontade é influenciada
51

diretamente pelo estado do Rim. Se ele estiver saudável, a força de


vontade irá atuar (ROSS, 2011).

● Funções do Pericárdio
O Pericárdio é uma membrana que envolve o Coração, dando suporte,
com o objetivo de protegê-lo externamente de fatores patogênicos (ROSS,
2011). Por estar unido ao Coração, suas funções fisiológicas são
praticamente iguais às do Coração, a de abrigar a Mente (Shen) e governar o
Sangue (Xue). Ademais, também tem um papel fundamental nas relações,
viabilizando interações sociais saudáveis (MACIOCIA, 2005).

● Funções do Triplo Aquecedor


○ Mobilizar Q/ Original (Yuan Qi)
O triplo aquecedor é responsável por auxiliar o Qi Original na
tarefa de fornecer calor para todas as atividades do organismo (ROSS,
2011). O aquecedor superior proporciona a regularidade do transporte
do Qi dos alimentos no tórax, através do Qi Original, para que sua
transformação em sangue no Coração ocorra. Além disso, é no
aquecedor superior que o Qi Original possibilita a transformação do Qi
da Reunião em Qi Verdadeiro (TIAN, 1993).
É o aquecedor médio que viabiliza a conexão do Qi Original
com o Baço-pâncreas com o intuito de tornar possível a
transformação e transporte da essência dos alimentos e é o aquecedor
inferior que garante que o Qi Original forneça calor ao Rim para
transformar os fluidos (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar transporte e penetração do Qi


O triplo aquecedor controla o transporte e penetração do Qi
através do mecanismo do Qi que rege a entrada, saída, subida e
descida do Qi por todos os órgãos, canais e cavidades. A passagem
livre desse fluxo de Qi permite a produção do Sangue, dos fluídos
corpóreos, do Qi Defensivo e do Qi Nutritivo (ROSS, 2011).

○ Controlar passagem de Água e excreção de fluidos


52

O triplo aquecedor tem o papel de controlar a passagem da


água a partir do mecanismo do Qi que governa a passagem livre do Qi
e penetração dele (TIAN, 1993). É através da regência da subida,
descida, entrada e saída do Qi que os fluídos corpóreos são
transformados, transportados e excretados. A partir dessa complexa
rede que são formados os diversos tipos de fluidos corpóreos: o suor
no aquecedor superior, os fluidos estomacais no aquecedor médio e a
urina e fluidos das fezes no aquecedor inferior (MACIOCIA, 2007).

● Funções da Vesícula Biliar


○ Estocar e excretar a bile
A vesícula biliar é uma víscera extraordinária, porque é a única
que guarda em seu interior uma substância pura: a bile (ROSS, 2011).
É o Qi do fígado quem produz a bile, mas quem armazena e excreta
quando necessário para facilitar a digestão do baço, estômago e
intestinos, é a vesícula biliar (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar a decisão
A vesícula biliar tem a tarefa de motivar todos os outros órgãos
e vísceras em razão de um propósito em comum, é ela quem comanda
a nossa capacidade de tomar decisões e agir de forma adequada
(ROSS, 2011).

○ Controlar os tendões
A vesícula biliar controla os tendões fornecendo o Qi necessário
para eles, assim, tornando possível sua movimentação e agilidade
(TIAN, 1993).

● Funções do Estômago
○ Controlar a recepção
O Estômago recebe, guarda e controla o líquido e alimento
ingeridos. Essa recepção se relaciona com o apetite - quando o
Estômago tem uma boa recepção do alimento, significa que o estado
53

de apetite da pessoa está bom e saudável. Quando a recepção está


fraca, quer dizer que o apetite está alterado, debilitado (TIAN, 1993).

○ Controlar a maceração e a decomposição dos alimentos


O Estômago é responsável por iniciar o processo de
transformação dos líquidos e alimentos consumidos, é através da
maceração e decomposição deles que o Estômago facilita para o Baço
separar e absorver a essência dos alimentos ingeridos. É por causa
desse trabalho em conjunto que o Estômago e o Baço são conhecidos
como "Raiz do Qi pós-celestial", pois são eles que recebem, preparam,
transformam e transportam o Qi dos alimentos (MACIOCIA, 2007).

○ Controlar o transporte das essências dos alimentos


Como já mencionado anteriormente, é o Estômago em conjunto
com o Baço que transportam o Qi dos Alimentos para todas as partes
do corpo, especialmente para os membros - esse trabalho em conjunto
oferece força e vigor para que todo o organismo funcione
perfeitamente (ROSS, 2011).

○ Controlar a descida do Qi
O trabalho do Baço e Estômago é realizado em conjunto, eles
transformam os líquidos e alimentos em energia que será utilizada por
todo o corpo para desempenhar cada uma de suas funções (ROSS,
2011). Como estão em um lugar central do organismo, no aquecedor
médio, o movimento do Qi do Baço em subida e o do Estômago em
descida são primordiais para viabilizar a movimentação do Qi nos três
aquecedores (TIAN, 1993). Após a transformação dos alimentos, o
Estômago envia em descida o bolo alimentar para o Intestino Delgado
(MACIOCIA, 2007).

○ Ser a origem dos fluidos


Para a transformação dos alimentos ser possível, o Estômago
precisa de um volume considerável de líquidos, já que eles são
importantes para a extração da essência dos alimentos. Ele vai
54

gerando esses fluidos, a partir da maceração e decomposição dos


líquidos e alimentos (MACIOCIA, 2007). A parte que não for
transformada em essência dos alimentos, o Estômago condensa
formando os Líquidos Corpóreos (Jin Ye) (ROSS, 2011).

● Funções do Intestino Delgado


○ Controlar a recepção e a transformação
O intestino delgado recebe do estômago os líquidos e alimentos
para executar sua tarefa de separação das partes puras e impuras
(ROSS, 2011). A fração impura é enviada para o intestino grosso
excreta-la em fezes e para a bexiga excretá-la em urina. Enquanto a
fração pura é encaminhada para o Baço transportar o Qi dos alimentos
para todo o organismo, assim nutrindo os tecidos e viabilizando suas
diferentes funções (MACIOCIA, 2007).

○ Separar os fluidos
O intestino delgado é responsável pelo processo de separação
dos fluidos, ele recebe esses fluidos impuros do estômago e divide em
uma fração pura e outra impura (ROSS, 2011). A porção impura é
transportada para o intestino grosso para ser transformada em fezes e
a porção pura é enviada para a bexiga para ser formada a urina,
ambos produtos excretados do organismo (TIAN, 1993.

● Funções do Intestino Grosso


○ Controlar a passagem e a condução
O intestino grosso recebe os líquidos e alimentos processados
do intestino delgado com a finalidade de transformá-los em fezes e
direcioná-los para baixo, assim tornando possível a excreção dos
resíduos impuros do organismo (ROSS, 2011).

○ Transformar fezes e reabsorver fluidos


Ao receber os alimentos digeridos o intestino grosso os
transforma em fezes para em seguida serem excretadas, durante esse
processo de transformação, o intestino grosso reabsorve uma
55

quantidade suficiente de fluidos para deixar as fezes hidratadas, mas


não amolecidas (TIAN, 1993).

● Funções da Bexiga
○ Remover a água pela transformação do Qi
A bexiga recebe os fluidos "puros" filtrados pelo intestino
delgado para transformá-los em urina, com o auxílio do Qi e do calor
do Yang do Rim. Após essa transformação, a urina é armazenada e
excretada pela bexiga quando necessário (MACIOCIA, 2007).

3.5. Oito princípios

Essa teoria é o alicerce fundamental para todos os demais métodos de


análise e categorização dos padrões de desequilíbrio e doença de um
indivíduo, fornecendo orientações para terapeuta determinar tanto a
localização quanto a natureza da desarmonia, ao mesmo tempo em que
estabelece os princípios de tratamento na medicina chinesa (ROSS, 2011).
Os Oito Princípios são quatro pares de características opostas que
descrevem a natureza e as características dos desequilíbrios do corpo. Esses
princípios são: Interior-Exterior, Frio-Calor, Deficiência-Excesso, Yin-Yang
(TIAN, 1993).
Com relação aos princípios “Exterior-Interior”, descrevem a localização
do desequilíbrio e não a sua etiologia. Os padrões externos se concentram
na parte exterior do corpo que engloba a pele, os músculos e os canais, com
um enfoque particular no espaço entre a pele e os músculos. Esse espaço
abriga o Qi Defensivo (Wei Qi) e o suor, além de ser a primeira área a ser
invadida pelos fatores patogênicos externos. Geralmente, esse padrão de
doenças envolve sintomas superficiais, como febre, dor de cabeça e dor
muscular (MACIOCIA, 2007).
Já os padrões internos são classificados quando afetam os Órgãos
Internos, mesmo que possa ter se originado de fatores patogênicos externos,
uma vez que a doença se estabelece no interior do corpo, ela é caracterizada
como um padrão interno e tratada como tal. Quando a doença se localiza no
56

interior, aparecem sintomas como fadiga, disfunção digestiva e problemas


respiratórios (ROSS, 2011).
As características de calor e frio se referem às qualidades de
temperatura do corpo e estão relacionadas à natureza de um padrão, além
disso suas manifestações clínicas variam dependendo de se combinam com
uma condição de excesso ou deficiência. O padrão de frio envolve sintomas
de frio, aversão ao frio e palidez, enquanto o padrão de calor envolve
sintomas de calor, febre e rubor (MACIOCIA, 2007).
Com relação aos princípios Deficiência-Excesso, a distinção é feita
com base na presença ou ausência de um fator patogênico e na força das
energias do corpo (ROSS, 2011). No caso de uma condição de Excesso,
observamos a presença de um fator patogênico (que pode ser interno ou
externo) e, ao mesmo tempo, o Qi do corpo permanece relativamente forte.
Isso resulta em uma luta contra o fator patogênico, o que se reflete na
abundância de sintomas e sinais como inflamação e tensão. Portanto,
"Excesso" se refere ao excesso de um fator patogênico, não de Qi (TIAN,
1993).
Já em uma condição de “Deficiência”, há enfraquecimento do Qi do
corpo em determinados órgãos ou sistemas e ausência de um fator
patogênico, resultando em sintomas como fadiga e fraqueza. Se o Qi do
corpo estiver enfraquecido, mas um fator patogênico ainda estiver presente, a
condição será caracterizada como “Deficiência” agravada com “Excesso”
(TIAN, 1993).
As categorias do Yin-Yang nos Oito Princípios têm dois propósitos
distintos: em um contexto amplo, servem como uma síntese dos outros seis
Princípios o que ajuda a determinar o tipo de tratamento necessário; em um
contexto mais específico, são principalmente aplicadas na Deficiência do Yin
e Yang e no Colapso do Yin e Yang (ROSS, 2011). Yin e Yang representam
uma generalização dos outros seis Princípios, pois Interior, Deficiência e Frio
são atributos Yin, enquanto Exterior, Excesso e Calor são atributos Yang
(MACIOCIA, 2007).
Ao aplicar a Teoria dos Oito Princípios, o acupunturista avalia os
sintomas, a história médica e realiza um exame físico para determinar o
padrão de desequilíbrio predominante em um indivíduo. Com base nessa
57

análise, o tratamento com acupuntura é personalizado para restaurar o


equilíbrio e promover a saúde (TIAN, 1993).

3.6. Canais de energia ou Meridianos

Os Canais de Energia, também conhecidos como Meridianos da


Acupuntura, não são estruturas anatômicas físicas, como vasos sanguíneos
ou nervos, contudo fazem parte da leitura energética que fornece um sistema
de referência para a prática da acupuntura e outras técnicas da medicina
tradicional chinesa (TIAN, 1993). Eles representam uma compreensão
holística do corpo e da saúde, enfatizando a conexão entre mente, corpo e
espírito (MACIOCIA, 2007).
Os Meridianos são considerados vias ou trajetos por onde flui a
energia vital (Qi) e o sangue (Xue) no corpo humano. Esses canais principais
formam uma rede energética que conecta diferentes partes do corpo,
incluindo cinco órgãos (Zang), seis vísceras (Fu), tecidos, músculos e
sistemas que são encarregados de conectar as partes superiores e inferiores
do corpo, bem como de equilibrar as energias Yin e Yang, formando assim
um sistema unificado no organismo (TIAN, 1993).
É por esta razão que os pontos de acupuntura (acupontos)
representam a expressão da energia dos Zang-Fu na superfície corporal,
servindo como portas de entrada para o interior do corpo, em particular para
os órgãos internos (MACIOCIA, 2007). Acredita-se que quando o fluxo de Qi
em um meridiano está desequilibrado, obstruído ou bloqueado, isso pode
levar a problemas de saúde e doenças. A prática da acupuntura atua
estimulando pontos específicos ao longo dos meridianos, utilizando agulhas
finas ou outras técnicas, a fim de regular e restabelecer o equilíbrio do fluxo
de Qi. Esses acupontos estão localizados em regiões específicas ao longo
dos meridianos, onde a energia vital (Qi) pode ser acessada e influenciada
(TIAN, 1993).
Existem 12 principais meridianos que são divididos simetricamente ao
longo do corpo em seis pares de meridianos yang e seis pares de meridianos
yin, com um lado esquerdo e um lado direito do corpo: os canais Yin das
mãos, os canais Yang das mãos, os canais Yin dos pés e os canais Yang dos
58

pés (TIAN, 1993). Cada meridiano está associado a um órgão e víscera


(Zang-Fu) específico e recebe o seu nome. Por exemplo, há o meridiano do
fígado, do coração, do pulmão, do baço-pâncreas, do rim, da vesícula biliar,
do intestino delgado, do estômago, da bexiga, entre outros (MACIOCIA,
2007). A Figura 3, a seguir, mostra o trajeto dos principais meridianos do
organismo.

Figura 3 - Trajeto dos 12 principais meridianos do corpo

Fonte: EAST MEETS WEST (sd).

Os três meridianos Yin da mão têm o seu percurso do tórax à mão,


onde se cruzam com os três meridianos Yang da mão, os quais percorrem da
mão à cabeça, onde se intersectam com os três meridianos Yang do pé
(MACIOCIA, 2007). Estes, por sua vez, vão desde a cabeça ao pé, onde se
cruzam com os três meridianos Yin do pé que têm o seu percurso do pé ao
59

abdómen. Neste ponto, ocorre a reunião com os três meridianos Yin da mão,
formando um ciclo constante de comunicação entre o Yin e o Yang (TIAN,
1993). Ademais, existem também canais colaterais e ramificações que se
conectam aos meridianos principais. São cerca de 365 pontos de acupuntura
distribuídos ao longo dos meridianos principais, esses canais colaterais
ajudam a distribuir e regular o fluxo de Qi e sangue em áreas mais
específicas do corpo (MACIOCIA, 2007).
Quadro 6 - Divisão dos doze canais principais

Fonte: (TIAN, 1993).

Os seis pares de meridianos Yang, três localizados nas mãos e três


nos pés, estão associados às vísceras (Fu) e percorrem o corpo em direção à
parte exterior dos membros (MACIOCIA, 2007). Eles representam o aspecto
yang ou ativo da energia, responsáveis por conduzir a energia Yang, que é
quente, luminosa e ativa, pelo corpo humano, de acordo com a medicina
tradicional chinesa (TIAN, 1993). Abaixo a descrição desses canais Yang:
Intestino Grosso (Yangming das mãos): começa na ponta do dedo
indicador, segue pelo braço, passando pelo cotovelo e ombro, até chegar à
face lateral do nariz, possuindo 20 pontos. Este meridiano está associado ao
intestino grosso, à boca e ao nariz, e pode ser utilizado para tratar distúrbios
gastrointestinais e problemas respiratórios (TIAN, 1993).
60

Triplo Aquecedor (Shaoyang das mãos): começa na ponta do dedo


anelar e segue pelo braço, passando pelo cotovelo e ombro, até chegar à
região da orelha, possuindo 23 pontos (TIAN, 1993). Este meridiano está
associado ao sistema nervoso autônomo e pode ser utilizado para tratar
problemas neurológicos, como dor de cabeça, dor no pescoço e nas costas
(MACIOCIA, 2007).
Intestino Delgado (Taiyang das mãos): começa na ponta do dedo
mindinho da mão e segue pelo braço, passando pelo ombro e chegando à
região da orelha, possuindo 19 pontos (MACIOCIA, 2007). Este meridiano
está associado ao intestino delgado e pode ser utilizado para tratar
problemas de audição, dor no pescoço e nos ombros, além de problemas
digestivos (TIAN, 1993).
Estômago (Yangming dos pés): começa no canto do olho e segue para
baixo, passando pela mandíbula, garganta, tórax, abdômen, pernas e pés,
possuindo 45 pontos (TIAN, 1993). Este meridiano está associado ao
estômago e pode ser utilizado para tratar problemas digestivos, como
náusea, vômito e dor abdominal (MACIOCIA, 2007).
Vesícula Biliar (Shaoyang dos pés): começa no canto externo do olho
e segue para cima, passando pela lateral da cabeça e pelo couro cabeludo,
depois desce pela lateral do corpo passando pela face, pescoço, ombro,
costelas, flancos, coxas e pés, possuindo 44 pontos (MACIOCIA, 2007). Este
meridiano está associado à vesícula biliar e pode ser utilizado para tratar
problemas de visão, dores de cabeça, enxaquecas, tonturas e problemas
digestivos (TIAN, 1993).
Bexiga (Taiyang dos pés): começa no canto interno do olho e segue
para baixo, depois subindo e passando pela testa, topo da cabeça, pescoço,
costas, nádegas, coxas e pés, possuindo 67 pontos (MACIOCIA, 2007). Este
meridiano está associado à bexiga e pode ser utilizado para tratar distúrbios
urinários, dor nas costas, dor ciática e dores de cabeça (TIAN, 1993).
Os seis meridianos Yin, três localizados na mão e três no pé, estão
associados aos órgãos (Zang), percorrem o corpo em direção à parte interior
dos membros (TIAN, 1993). Eles são responsáveis por conduzir a energia
Yin, que é fresca, escura e nutritiva, pelo corpo (MACIOCIA, 2005). A seguir,
a descrição de cada um desses meridianos:
61

Pulmão (Taiyin das mãos): começa na região do tórax, na parte


superior do peito, e segue pelo braço, passando pelo pulso, até chegar ao
polegar, possuindo 11 pontos. Este meridiano está associado ao pulmão e
pode ser utilizado para tratar problemas respiratórios, como asma, tosse e
sinusite (TIAN, 1993).
Pericárdio (Shaoyin das mãos): começa na região do peito, segue pelo
braço e termina na região do dedo mindinho, possuindo 9 pontos. Este
meridiano está associado ao pericárdio (membrana que envolve o coração) e
pode ser utilizado para tratar problemas cardíacos, ansiedade, distúrbios do
sono e dor no peito (MACIOCIA, 2007).
Coração (Shaoyin das mãos): começa na região do peito, próximo ao
coração, e segue pelo braço, passando pelo cotovelo, até chegar ao dedo
mindinho, possuindo 9 pontos. Este meridiano está associado ao coração e
pode ser utilizado para tratar problemas cardíacos, como palpitações, insônia
e ansiedade (MACIOCIA, 2007).
Baço-Pâncreas (Taiyin dos pés): começa na ponta do dedão do pé,
sobe pela perna, passa pelo abdômen e segue pelo braço, terminando na
parte interna do polegar, possuindo 21 pontos. Este meridiano está associado
ao baço-pâncreas e pode ser utilizado para tratar distúrbios digestivos, fadiga
e fraqueza, entre outros sintomas (TIAN, 1993).
Fígado (Jueyin dos pés): começa na região do pé, sobe pelo tornozelo,
passa pela perna, abdômen, segue pelo tórax e termina na região do peito,
possuindo 14 pontos. Este meridiano está associado ao fígado e pode ser
utilizado para tratar distúrbios hepáticos, problemas menstruais, dor
abdominal, irritabilidade e distúrbios emocionais (TIAN, 1993).
Rim (Shaoyin dos pés): começa na região do pé, sobe pela perna,
passa pelo abdômen e segue pelo tórax, terminando na região do coração,
possuindo 27 pontos. Este meridiano está associado aos rins e pode ser
utilizado para tratar distúrbios urinários, problemas de fertilidade, dor lombar
e problemas ósseos (TIAN, 1993).
Além dos meridianos principais, o corpo humano também possui vasos
extraordinários e um conjunto de pontos adicionais conhecidos como pontos
extras (TIAN, 1993). Esses pontos extras são acupontos que têm funções
energéticas específicas e estão localizados em posições determinadas, mas
62

não seguem o trajeto de um meridiano principal (MACIOCIA, 2007). Quanto


aos Vasos Extraordinários, também conhecidos como "vasos maravilhosos"
ou "vasos profundos", são canais de energia da acupuntura que têm uma
natureza diferente dos meridianos regulares. Eles são considerados
"extraordinários" porque possuem funções especiais e desempenham um
papel importante no equilíbrio energético do corpo (TIAN, 1993). Existem oito
vasos extraordinários principais na acupuntura, cada um com características
e funções específicas. Entre os vasos extraordinários, merecem destaque o
Vaso Governador (VG) e o Vaso Concepção (VC). Esses são meridianos com
percursos específicos que apresentam seus próprios pontos de acupuntura
(MACIOCIA, 2007).
Vaso Governador (Du Mai): é o meridiano que domina todos os canais
Yang do organismo, ele segue ao longo da linha média dorso-lombar do
corpo, da região perineal, se eleva ao longo da coluna vertebral, atravessa o
crânio, passa entre os olhos e termina no frênulo do lábio superior, possuindo
28 pontos (TIAN, 1993). Este vaso ajuda a regular o Yin e o Yang, fortalece o
sistema imunológico, promove a circulação de Qi e controla o sistema
nervoso central. Vaso de Concepção (Ren Mai): é o canal de energia que
domina todos os canais Yin do organismo, ele percorre a linha média do
abdômen e do tórax, indo desde a região do períneo até a parte inferior do
lábio, possuindo 24 pontos (TIAN, 1993). Ele regula o equilíbrio Yin e Yang,
nutre o feto, governa o útero e o ciclo menstrual, nutre o corpo e harmoniza
as energias Yin (MACIOCIA, 2007).

3.7. Sistema métrico da acupuntura

Para identificar os pontos de acupuntura, também conhecidos por


acupontos, a técnica da acupuntura desenvolveu um sistema de medição
próprio que é utilizado para localizá-los com precisão (LIAN, 2004). O sistema
métrico da acupuntura é baseado nas medidas anatômicas do próprio
paciente e é conhecido como "cun" ou “tsun”, que é uma unidade de medida
chinesa. O cun é uma medida relativa que varia de pessoa para pessoa, e é
baseada na largura dos dedos do próprio paciente, conforme ilustra a Figura
4. Um cun é igual à largura da região mais larga da falange distal do polegar
63

(FOCKS & MÄRZ, 2008). Por exemplo, se a largura da falange do polegar de


um paciente for de 1,5 cm, então um cun para esse paciente seria de 1,5 cm;
todas as descrições de medidas estão listadas na Figura 5.
Antes de encontrar os pontos, o acupunturista deve fazer uma análise
comparativa das dimensões de suas próprias mãos com as do paciente
(MACIOCIA, 2007). Os pontos de acupuntura são descritos em termos de
sua localização em relação a outras estruturas anatômicas, como ossos,
tendões, músculos e articulações. Os pontos são geralmente localizados em
áreas onde há uma grande concentração de terminações nervosas e vasos
sanguíneos, tornando-os mais sensíveis e acessíveis aos estímulos da
acupuntura (FOCKS & MÄRZ, 2008).

Figura 4 - Medidas de Cun ou Tsun com os dedos das mãos

Fonte: Médico Fisiatra (2022).

Figura 5 - Descrição das medidas de Cun ou Tsun

Fonte: Médico Fisiatra (2022).


64

3.8. Diagnóstico e Plano de tratamento

O diagnóstico na acupuntura é um processo multifacetado e altamente


especializado que integra quatro métodos profundamente enraizados na
Medicina Tradicional Chinesa (TIAN, 1993). Esta anamnese une táticas
complexas de avaliação que visa compreender os desequilíbrios energéticos
no corpo de um paciente, abrangendo uma ampla gama de fatores físicos,
emocionais e socioambientais (MACIOCIA, 2007).
O primeiro método desse processo de diagnóstico envolve a coleta de
informações, ou seja, o “Interrogatório” (TIAN, 1993). O acupunturista realiza
uma extensa entrevista com o paciente, abordando sua história médica,
hábitos alimentares e de sono, estilo de vida, relacionamentos, sintomas,
fatores ambientais e condições emocionais. Esse questionamento detalhado
busca uma compreensão abrangente do quadro do paciente e pode revelar
informações que são fundamentais para o diagnóstico (MACIOCIA, 2005).
O segundo método de diagnóstico é a “Observação”, que é a segunda
etapa do diagnóstico (TIAN, 1993). Durante o exame físico, o acupunturista
realiza uma análise minuciosa da língua do paciente, já que ela é
considerada um espelho dos órgãos internos; portanto, a sua cor, forma,
movimento, revestimento e umidade fornecem pistas úteis sobre os
desequilíbrios energéticos (MACIOCIA, 2007). Além disso, o acupunturista
analisa a cor da pele, a face, os lábios, os cabelos, as pernas, os braços, os
dentes, a gengiva, as orelhas, as unhas e os olhos, bem como manifestações
emocionais (como raiva, euforia, medo, tristeza etc.) e comportamentais
(MACIOCIA, 2005).
O terceiro método é a “Ausculta e Olfação” que se relaciona,
respectivamente, com a identificação dos sons emitidos e cheiros, odores
exalados pelo organismo do indivíduo em questão que está sendo avaliado.
Essas identificações são integradas ao interrogatório, observações e ao
exame físico para obter uma imagem mais precisa da saúde do paciente
(TIAN, 1993).
O quarto e último método de diagnóstico é a “Palpação” que avalia a
função dos órgãos internos através da palpação dos pontos de
assentimentos, pontos alarmes e trajeto dos meridianos ao longo do
65

organismo do paciente, essa etapa sendo de extrema importância para


determinar quais órgãos estão envolvidos nos desequilíbrios energéticos
(TIAN, 1993). Ademais, os pulsos em ambos os braços do paciente são
avaliados - é verificado o ritmo, a força e a qualidade dos pulsos, também em
busca de alterações específicas que podem indicar desequilíbrios em órgãos
e meridianos (MACIOCIA, 2007).
Após a anamnese realizada na primeira sessão que engloba os quatro
métodos de diagnóstico citados anteriormente, o acupunturista segue para a
próxima etapa, a do diagnóstico energético que se trata da identificação de
padrões de desequilíbrio da pessoa a ser tratada (TIAN, 1993). O
acupunturista avalia quais órgãos e vísceras estão afetados e têm maior
relevância nos sinais e sintomas do paciente, descobrindo qual a raiz de sua
desarmonia energética. A partir disso, é possível traçar o quadro geral do
paciente e seu padrão energético. Os sintomas do paciente são
categorizados em termos de padrões específicos: deficiência, excesso,
plenitude, vazio etc. E é essencial destacar que cada padrão é tratado de
maneira única (TIAN, 1993).
Com base no diagnóstico energético é desenvolvido um plano de
tratamento personalizado - o acupunturista seleciona pontos específicos de
acupuntura e técnicas que visam equilibrar o sistema energético do paciente
e promover sua saúde (MACIOCIA, 2005). O processo de diagnóstico em
acupuntura, reflete a profundidade e complexidade da Medicina Tradicional
Chinesa (TIAN, 1993), essa metodologia garante uma avaliação completa
dos desequilíbrios energéticos e oferece uma base sólida para um tratamento
eficaz e personalizado na acupuntura. É uma abordagem terapêutica que
visa regular os desequilíbrios energéticos subjacentes e busca restaurar o
equilíbrio para promover a saúde e o bem-estar do paciente (MACIOCIA,
2005).

3.9. Fundamentação da Acupuntura

A acupuntura é uma prática terapêutica que faz parte da Medicina


Tradicional Chinesa (MTC) e envolve a aplicação de agulhas finas em pontos
específicos do corpo para estimular o equilíbrio do fluxo de energia vital (Qi),
66

facilitando a movimentação, circulação e liberação de energia, com o objetivo


de promover a homeostase e o fortalecer os órgãos internos (Zang-fu) do
organismo (MACIOCIA, 2005).
A ação terapêutica da acupuntura baseia-se nos princípios da MTC,
que considera a saúde como um estado de equilíbrio energético dinâmico,
porém, quando há um desequilíbrio ou bloqueio no fluxo de Qi nos
meridianos, surgem doenças e desconfortos (TIAN, 1993). A acupuntura visa
restaurar esse equilíbrio, estimulando os acupontos nos meridianos,
removendo obstruções e estimulando áreas deficientes de energia para
influenciar o fluxo energético e promovendo o equilíbrio entre Yin e Yang.
Desta forma, alcançando a harmonia e a saúde do corpo (MACIOCIA, 2005).
Durante uma sessão de acupuntura, o terapeuta realiza uma avaliação
inicial para entender a condição de saúde do paciente e identificar os
desequilíbrios energéticos presentes (TIAN, 1993). Em seguida, são
selecionados os pontos de acupuntura apropriados com base no diagnóstico
da MTC (MACIOCIA, 2005). As agulhas de acupuntura utilizadas são finas e
estéreis, e sua inserção nos pontos de acupuntura é geralmente indolor. O
que diz respeito a profundidade e a técnica de inserção, elas podem variar de
acordo com o objetivo do tratamento, anatomia e a sensibilidade do paciente.
As agulhas permanecem no local por um determinado período de tempo, que
pode variar de alguns minutos a meia hora, enquanto o paciente relaxa
(YAMAMURA, 2001).
No que diz respeito à estimulação do sistema nervoso, a inserção das
agulhas afeta os receptores nervosos presentes na pele, músculos e tecidos
subjacentes. Assim, causando modulação de neurotransmissores cerebrais,
na inibição da via triptofano-quinurenina, na redução dos níveis de cortisol e
ACTH e na regulação do sistema límbico da rede de estrutura cerebral
subcortical, culminando em respostas fisiológicas benéficas (TAMAYO et al.,
2022). Desta forma, é possível perceber que a acupuntura é amplamente
utilizada para tratar uma variedade de condições de saúde, incluindo
distúrbios do sono, estresse, ansiedade, depressão, problemas digestivos,
problemas ginecológicos, entre outros (YAMAMURA, 2001), ou seja, esta
técnica pode ser utilizada como terapia complementar para ajudar no
gerenciamento de condições crônicas e promover o bem-estar geral
67

(MACIOCIA, 2007). É importante destacar que sua eficácia varia de acordo


com a condição de saúde e a resposta individual de cada pessoa e sua
prática só deve ser realizada por profissionais qualificados e experientes para
garantir a segurança, redução de possíveis efeitos adversos e o máximo
benefício terapêutico (YAMAMURA, 2001).

4. METODOLOGIA

No intuito de atingir o objetivo proposto desta revisão integrativa da


literatura, foram seguidas as seguintes etapas: (I) elaboração da pergunta de
norteadora; (II) pesquisa da literatura, (III) seleção da literatura, (IV) extração
das informações, (V) análise da qualidade da metodologia proposta, (VI)
resumo dos dados, (VII) qualidade das evidências e (VIII) escrita e publicação
dos resultados.

4.1. Estratégias de pesquisa e seleção

Para responder a pergunta norteadora, utilizou-se da estratégia


PICOT, que consiste na identificação do P= participante, I= intervenção, C=
controle e O= desfecho T= tipo de estudo. A questão norteadora estabelecida
para esta revisão foi: A acupuntura é uma estratégia terapêutica eficiente
para o tratamento da insônia e sintomas de humor depressivo associados?
Utilizou-se, assim, P: 0; I: acupuntura; C: Insônia e depressão; O: eficácia do
tratamento; e T = ensaios clínicos randomizados (ECRs).
As seguintes bases de dados foram pesquisadas: Medline/Pubmed,
Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), EBSCO e
Science Direct. Os manuscritos completos de todos os estudos relevantes
publicados em língua inglesa foram obtidos. A seleção das bases ocorreu em
virtude da diversidade de periódicos indexados contidos.
A busca das informações ocorreu em novembro de 2023, através da
modalidade avançada, utilizando as seguintes palavras-chave associadas ao
operador booleano AND: (Acupuncture OR Electroacupuncture OR "head
acupuncture" OR "scalp acupuncture") AND (insomnia OR "sleep disorder"
OR "sleep disturbance") AND (depression OR "depressive disorder") AND
68

(Therapeutics OR Treatment OR Efficiency). Os descritores foram


entrecruzados, respeitando a peculiaridade de cada base de dados.

4.2. Critérios de elegibilidade

4.2.1. Tipos de estudos

Para a determinação da elegibilidade dos artigos, foram adotados os


seguintes critérios de inclusão: seleção de artigos completos, incluindo
apenas estudos clínicos randomizados, publicados na íntegra durante o
período de 2003 a 2023, disponíveis em inglês e relacionados ao âmbito
temático deste estudo. Por outro lado, não foram considerados para esta
pesquisa: dissertações, teses, carta ao leitor, artigos de opinião, revisões
narrativas, sistemáticas, integrativas, artigos de opinião, revisões de
literatura, opiniões de especialistas, comentários, relatos de casos, séries de
casos, estudos não clínicos, protocolos de revisão sistemática, meta-análise
e ensaios clínicos randomizados, pesquisas envolvendo animais ou
intervenções consideradas irrelevantes, bem como qualquer artigo que não
oferecesse acesso gratuito ao seu conteúdo.

4.2.2. Tipos de participantes

Participantes com diagnóstico de insônia e depressão ou que


relataram sintomas depressivos associados à insônia, independente da
idade, sexo e país. Devem ser fornecidos no ECR original, um ou mais dos
seguintes critérios diagnósticos de insônia: Pacientes que relataram sintomas
de insônia pelo menos três vezes por semana, há pelo menos 1 mês; Índice
de Gravidade da Insônia (ISI) pontuação igual ou maior que 15 na triagem e
no início do estudo; Pontuação total superior a cinco no questionário Índice
de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI); Diagnóstico de insônia segundo
os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-IV); Critérios diagnósticos para insônia da terceira versão do
Classificação Internacional de Distúrbios do Sono (ICSD-3) e Critérios
69

diagnósticos para insônia da Classificação Chinesa de Transtornos Mentais-3


(CCMD-3).
Além disso, os artigos que relacionam a insônia com depressão ou
sintomas depressivos, um ou mais dos seguintes critérios de diagnóstico
foram considerados: Diagnóstico de depressão de acordo com o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV); Escala de
Avaliação de Depressão de Hamilton (HAMD) >14 pontos; Diagnóstico de
TDM com base nos critérios do DSM-IV; Depressão de acordo com a
Classificação Chinesa de Transtornos Mentais-3 (CCMD-3); Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) para depressão e
Pontuação da Escala de Autoavaliação de Depressão (SDS) 60 pontos.

4.2.3. Tipos de intervenção

No grupo de intervenção, somente será utilizada a técnica de


acupuntura. Com o objetivo de reduzir a variedade nos ensaios clínicos
incluídos neste estudo, a terapia de acupuntura é definida como a inserção
de agulhas no corpo, incluindo as formas manuais, eletroacupuntura,
acupuntura auricular e acupuntura do couro cabeludo. São excluídas outras
formas de acupuntura que não envolvem a perfuração da pele, como
acupressão, estimulação elétrica nervosa transcutânea, injeção, irradiação a
laser, moxabustão infravermelha distante, acupressão auricular e
ventosaterapia. Nos estudos que relacionam a insônia com a depressão
grave, será considerado tomar os mesmos antidepressivos em uma dose fixa
por pelo menos 12 semanas antes do início do estudo e durante o estudo. No
grupo controle, os pacientes dos cuidados habituais foram permitidos
qualquer tratamento para insônia (exceto fitoterapia e acupuntura) e todos os
tratamentos concomitantes foram registrados em um formulário de relato de
caso (CRF).

4.2.4. Tipos de resultados

4.2.4.1. Resultados primários


70

No desfecho primário foi mensurada a qualidade do sono por


questionários auto-relatados validados, como Índice de Qualidade do Sono
de Pittsburgh (PSQI) e/ou Índice de Gravidade da Insônia (ISI), e/ou
eficiência do sono derivada do diário do sono e/ou parâmetros objetivos do
sono registrados pelo dispositivo, como tempo total de sono, eficiência do
sono (ou seja, o porcentagem de tempo de sono em relação ao tempo gasto
na cama), latência para o início do sono e vigília após o início do sono.

4.2.4.2. Resultados secundários

Nos desfechos secundários foram observados resultados nos


sintomas de humor dos pacientes, especialmente o de depressão, e descritos
os eventos adversos dos estudos. Para avaliação da qualidade de sintomas
psicológicos como ansiedade ou depressão foram medidas por questionários
padronizados com validade estabelecida, como o Inventário de Depressão de
Beck (BDI), Escala de Depressão de Hamilton (HAMD - com 17 itens ou 21
itens ou 24 itens), Escala de Avaliação de Ansiedade de Hamilton (HARS),
Escala de Autoavaliação de Depressão (SDS), Escala Hospitalar de
Ansiedade e Depressão (HADS), Autoavaliação de Ansiedade Escala (SAS)
e Escala de Ansiedade de Hamilton (HAMA);

4.2.4.3. Seleção dos estudos e extração de dados

A seleção dos artigos seguiu o checklist do PRISMA – Preferred


Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses. Nesse
procedimento, três filtros foram empregados para a seleção e avaliação dos
artigos. O primeiro filtro foi utilizado para a seleção dos artigos com base em
sua relevância de conteúdo; em seguida, um filtro adicional foi empregado
para a escolha dos estudos, de acordo com critérios específicos de
qualidade; por último, um último filtro foi aplicado para a seleção dos dados
pertinentes.
Foi realizada uma revisão independente de todos os registros e
extraído minuciosamente todos os dados relevantes dos artigos
selecionados. Esses dados incluem informações como: ano de publicação,
71

título, nome do primeiro autor, tipo de estudo, número de participantes do


grupo de intervenção, os pontos de acupuntura utilizados no tratamento,
detalhes da intervenção para os grupos de tratamento, grupo controle, testes
de avaliação, os resultados obtidos, eventos adversos e os países onde as
pesquisas foram conduzidas. As inconsistências dos dados foram resolvidas
por discussão interna ou consulta a uma pesquisadora sênior (Amorim Lúcia).
A apresentação dos resultados foi feita de maneira descritiva,
utilizando quadros consolidados, com o intuito de condensar e resumir as
informações obtidas. Os dados foram submetidos a uma análise temática, um
método que começou pela organização do material a ser analisado. Após a
sistematização das ideias iniciais, ocorreu a busca por agrupamentos em
categorias relevantes. Em seguida, os resultados foram tratados, e as
informações foram condensadas e destacadas para análise. Por fim, uma
análise reflexiva e crítica foi realizada, confrontando os resultados com a
literatura atual, proporcionando uma visão mais aprofundada e
contextualizada do estudo em questão.

4.3. Análise de dados

Os resultados foram agrupados em três categorias distintas, incluindo


resultados positivos (que contribuem efetivamente para o tratamento da
insônia e redução dos sintomas de humor depressivo correlacionados),
resultados negativos (contraproducentes para o tratamento) e resultados
indiferentes (sem qualquer impacto relevante nos sintomas de insônia e nas
condições mentais correlacionadas).

5. RESULTADOS

5.1. Resultados de pesquisa de literatura

Inicialmente, um total de 1.295 estudos foram encontrados durante a


busca inicial. Após a remoção de 722 duplicatas, restaram 573 estudos para
análise subsequente. Durante a triagem dos títulos e resumos, 557 estudos
foram excluídos por se tratarem de dissertações, teses, carta ao leitor, artigos
72

de opinião, revisões narrativas, sistemáticas, integrativas, artigos de opinião,


revisões de literatura, opiniões de especialistas, comentários, relatos de
casos, séries de casos, estudos não clínicos, protocolos de revisão
sistemática, meta-análise e ensaios clínicos randomizados, pesquisas
envolvendo animais ou intervenções consideradas irrelevantes. Dos 16
estudos remanescentes, após a leitura integral dos textos, 3 artigos
atenderam um ou mais critérios de exclusão da presente revisão de literatura.
Apenas 13 estudos satisfizeram os critérios estabelecidos para inclusão em
nossa análise qualitativa. O fluxograma de seleção dos artigos é resumido na
Figura 6.

Figura 6 - Fluxograma do processo da seleção de estudos

Fonte: Autoria própria baseada na declaração PRISMA 2020.

5.2. Características dos estudos incluídos

As características básicas dos estudos incluídos estão listadas na


Tabela (tal) de acordo com: o ano de publicação, título, nome do primeiro
73

autor, tipo de estudo, número de participantes do grupo de intervenção, os


pontos de acupuntura utilizados no tratamento, detalhes da intervenção para
os grupos de tratamento, grupo controle, testes de avaliação, os resultados
obtidos, eventos adversos e os países onde as pesquisas foram conduzidas.
Considerando os 13 artigos selecionados, a maioria dos estudos foram
desenvolvidos na China (n=12) e apenas (n=1) na Coreia.
Obtivemos um total de 1.425 participantes, sendo 983 mulheres e 442
homens, com 527 casos no grupo de tratamento efetivo com acupuntura e
898 casos nos grupos de controle. É importante ressaltar que o número de
pacientes do grupo controle é significativamente maior, porque houve estudos
que a acupuntura ativa foi comparada concomitantemente com dois tipos de
controle. O período de publicação dos artigos coletados na língua inglesa foi
de 2009 a 2023, ademais a maioria dos pacientes incluídos estavam
concentrados na China, com grande variação na idade dos indivíduos (18-70
anos). Todos os estudos incluíram pelo menos um dos principais indicadores
de resultados, que correspondem aos padrões de diagnóstico dos sintomas
de insônia e sintomas depressivos relacionados à insônia. O total de
consultas de tratamento efetivo variou de 9 a 24 sessões, durante 5 dias a 8
semanas, e o tempo de intervenção variou de 20 a 30 minutos (tempo de
retenção da agulha).
Todos os ensaios clínicos randomizados adotaram um protocolo de
tratamento padronizado, com uma seleção fixa de pontos de acupuntura
administrados para cada paciente designado para o mesmo grupo em cada
sessão de acupuntura. Apenas o estudo de Wen et al. (2018) adotou um
protocolo de tratamento semi-padronizado que consiste em pontos de
acupuntura semi-fixos, incluindo um conjunto predefinido de pontos de
acupuntura extras utilizados em combinação com pontos de assentimento de
acupuntura. A seleção de pontos de acupuntura variou e incluiu pontos de
acupuntura localizados na cabeça, extremidades e abdômen. Entre eles, os
cinco pontos de acupuntura mais utilizados foram Baihui (VG20), Yintang
(EX-HN3 ou VG29), Shenmen (C7), Neiguan (PC6) e Sanyinjiao (BP6).
Nos dez ensaios que incluíram acupuntura simulada/placebo (YEUNG
et al., 2009; YIN et al., 2017; ZHANG et al., 2020; LIU et al., 2021; WANG et
al., 2021; YIN et al., 2022; ZHANG et al., 2023; YEUNG et al., 2011; CHUNG
74

et al., 2016; YIN et al., 2020), a acupuntura simulada foi realizada perfurando
superficialmente uma região próxima, mas não um ponto de acupuntura, com
uma agulha, e a acupuntura placebo foi realizada colocando uma agulha
Streitberger na superfície da pele (sem penetrar na pele) no mesmo ponto de
acupuntura da acupuntura real ou em uma região ao lado de um ponto de
acupuntura.

5.3. Análise de medidas de resultados

Dividimos os resultados dos artigos em quatro subgrupos de acordo


com suas diferentes comparações de tratamento. O primeiro subgrupo foi
“acupuntura versus acupuntura placebo” em 7 estudos: (YEUNG et al., 2009;
YIN et al., 2017; ZHANG et al., 2020; LIU et al., 2021; WANG et al., 2021; YIN
et al., 2022; ZHANG et al., 2023). O segundo subgrupo foi o de “acupuntura
versus acupuntura mínima e acupuntura placebo” em 3 estudos: (YEUNG et
al., 2011; CHUNG et al., 2016; YIN et al., 2020). O terceiro subgrupo foi o de
“acupuntura aumentada versus acupuntura padrão” em 2 estudos: (HUO et
al., 2013; WEN et al., 2018). O quarto subgrupo foi “acupuntura versus
acupuntura simulada e cuidados habituais” em 1 estudo: (LEE et al., 2020).
75

Tabela - Características básicas dos estudos incluídos.


Acupuntura versus
acupuntura placebo

Ano Título Autor Tipo de Pacientes Acupontos Medidas de intervenção Grupo controle Avaliação Evento adverso (EA) Resultados obtidos e eventos País
estudo tratados adversos

2009 Eletroacupuntur Yeung Ensaio 30 Yintang (EX-HN3), 3 sessões de eletroacupuntura por Acupuntura Desfechos EAs leves em dois Foi observada que após 9 China
a para insônia et al. clínico Baihui (VG20), semana, com duração de 30 placebo não primários: ISI, PSQI, pacientes do grupo de sessões de tratamento:
primária randomiza orelha bilateral minutos, durante 3 semanas invasiva diários de sono (TIB, tratamento com (+) A eletroacupuntura teve
do, cego, Shenmen, consecutivas. SOL, WASO, TST e eletroacupuntura (dor ligeira eficácia na insônia
controlado Sishencong Totalizando 9 sessões. SE), actigrafia; de cabeça, dormência primária;
por (EX-HN1) e Anmian Acompanhamento de 1 semana Desfechos nas mãos e hematoma (0) Nenhum efeito sobre
placebo, (EX-HN ou pós-tratamento. secundários: HADS, local) sintomas emocionais.
grupo EX-HN22) SDI, CTRS e EA.
paralelo

2017 Eficácia e Yin et Ensaio 36 Baihui (VG20), 3 sessões de acupuntura por Acupuntura Desfechos EAs leves em 2 Foi observado que após 12 China
segurança do al. cego, Shenting (VG24), semana, com duração de 30 placebo não primários: ISI, pacientes do grupo de sessões de tratamento:
tratamento com randomiza Yintang (VG29 ou minutos, durante quatro semanas invasiva parâmetros do sono acupuntura (hematoma (+) Acupuntura ativa teve
acupuntura na do e EX-HN3), Anmian consecutivas. Totalizando 12 (SE, SA, TST); local no ponto de aumento na qualidade do sono
insônia primária controlado bilateral (EX-HN ou sessões. Desfechos acupuntura e cefaléia dos pacientes com insônia;
por EX-HN22), Shenmen Acompanhamento de 4 semanas. secundários: SAS, durante a sessão que (+) Efeito benéfico nos sintomas
avaliador bilateral (C7) e SDS e EA. passou no dia emocionais em comparação
do Sanyinjiao bilateral seguinte) com acupuntura placebo;
paciente (BP6)

2020 Os efeitos da Zhang Ensaio 48 Pontos de 1 sessão de acupuntura por dia, Acupuntura Desfechos EAs leves em 4 Foi observado que após 10 China
acupuntura et al. clínico acupuntura aplicados cada uma com duração de 30 placebo não primários: PSQI, pacientes (hematoma, sessões de tratamento:
ativa e da randomiza bilateralmente: minutos, durante 5 dias invasiva parâmetro derivado do tontura, dor aguda com (+) Em comparação com a
acupuntura do Anmian (EX-HN ou consecutivos, seguidas de um diário do sono (taxa agulha) acupuntura placebo, a
placebo em EX-HN22), Neiguan intervalo de 2 dias, durante 2 de sono), acupuntura ativa melhorou
pacientes com (PC6), Shenmen semanas. Totalizando 10 sessões. Desfechos significativamente a insônia e
insônia (C7), Hegu (IG4), Acompanhamento de 8 semanas. secundários: SDS, sua eficácia clínica é mantida
Zusanli (E36), SAS e EA. por pelo menos 6 semanas;
Zhaohai (R6), (+) Melhora nos sintomas
Shenmai (B62) e emocionais.
Taichong (F3)

2021 Ensaio Liu et Estudo 29 Baihui (VG20), 3 sessões de acupuntura sistêmica Acupuntura Desfechos EA leve em 1 paciente Foi observado que após 12 China
randomizado al. randomiza Yintang (VG29 ou e Eletroacupuntura em VG20 e placebo não primários: PSQI (hematoma sessões de tratamento:
controlado de do, EX-HN3), Shenmen EX-HN3 de 30 minutos por invasiva Desfechos subcutâneo) (+) A acupuntura mostrou
acupuntura simples-ce (C7, bilateral) e semana, em dias alternados, secundários: HAMA, melhoria significativa nos
para ansiedade go, Sanyinjiao (BP6, durante 4 semanas. Totalizando 12 HAMD e sintomas de insônia crônica e
e depressão paralelo e bilateral) sessões. concentrações séricas eficácia estável a longo prazo;
em pacientes controlado Acompanhamento de 3 meses. de CORT e 5-HT e (+) Melhora nos sintomas
com insônia por EA. emocionais.
crônica placebo
76

2021 Impacto da Wang Ensaio 28 Shenmen (C7) e 10 sessões de tratamento com Acupuntura Desfechos EAs leves em alguns Foi observado que após 10 China
acupuntura no et al. randomiza Fuliu (R7) bilaterais acupuntura de 20 minutos, durante placebo não primários: PSQI, ISI, pacientes tratados sessões de tratamento:
sono e do, cego, 3 semanas. invasiva variáveis derivadas do (sangramento (+) A acupuntura mostrou
comorbidades paralelo e O período de acompanhamento foi diário de sono (TIB, subcutâneo local após efeitos benéficos no sono;
Sintomas de controlado de 8 semanas. SOL, REM-sl, WASO, a remoção das (0) Embora a ansiedade e a
insônia crônica por TST e SE); agulhas) depressão dos indivíduos
simulação Desfechos tenham sido reduzidas, não foi
secundários: BAI, observado nenhuma diferença
BDI, PSG, FSS, EEG, significativa nos escores em
EMG, ECoG e ESS. comparação com a acupuntura
simulada.

2022 Efeito da Yin et Ensaio 90 Eletroacupuntura: Acupuntura sistêmica e Acupuntura Desfechos EAs leves em 7 Foi observado que após 24 China
eletroacupuntur al. clínico Baihui (VG20), eletroacupuntura em VG20 e placebo não primários: PSQI, ISI pacientes no grupo de sessões de tratamento:
a na insônia em multicêntri Shenting (VG24), EX-HN3 de 30 minutos, 3 sessões invasiva e actigrafia; Eletroacupuntura (+) A eletroacupuntura, a partir
pacientes com co, cego Yintang (VG29 ou por semana (geralmente em dias Desfechos (hematoma e dor local) da semana 8, melhorou
depressão para EX-HN3), pontos de alternados, exceto domingo), secundários: significativamente a qualidade
pacientes acupuntura Anmian durante 8 semanas. HDRS-17, SASe EA. do sono dos pacientes;
e (EX-HN ou Acompanhamento observacional, (+) Redução dos sintomas
avaliadore EX-HN22), Shenmen após tratamento, de 24 semanas depressivos.
s, (C7), Neiguan (PC6)
randomiza e SanYinjiao (BP6)
do e
controlado
por
simulação

2023 Os efeitos da Zhang Ensaio 44 Anmian bilateral 10 sessões de acupuntura Acupuntura Desfechos Não foram relatados Foi observado que após 10 China
acupuntura na et al. clínico, (EX-HN ou sistêmica de 30 minutos, tratados placebo não primários: PSQI; EA sessões:
eficácia clínica cego,rand EX-HN22), Neiguan uma vez ao dia por cinco dias invasiva Desfechos (+) A acupuntura melhorou a
e nos omizado e (PC6), Shenmen consecutivos, seguidos de 2 dias secunários: SAS, qualidade do sono;
potenciais controlado (C7), Hegu (IG4), de descanso, durante 2 semanas. SDS e SSVEP. O (+) Melhora significativa no
evocados por Zusanli (E36), período de estado emocional dos
visuais de simulação Zhaohai (R6), acompanhamento foi pacientes;
estado Shenmai (B62) e de 6 meses, com (*) Tratamento teve efeito
estacionário em Taichong (F3) avaliações concluídas negativo (regulatório) relevante
pacientes com em 6, 18 e 42 nos potenciais cerebrais
insônia e semanas. anormalmente excitados,
distúrbios positivamente correlacionada
emocionais com a eficácia clínica do
tratamento;

Acupuntura versus acupuntura


mínima e acupuntura placebo

Ano Título Autor Tipo de Pacientes Acupontos Medidas de intervenção Grupo controle Avaliação Evento adverso (EA) Resultados obtidos e eventos País
estudo tratados adversos
77

2011 Eletroacupuntur Yeung Ensaio 26 Eletroacupuntura: 3 sessões de eletroacupuntura por Acupuntura Desfechos EA leves em 2 Os efeitos observados foram: China
a para insônia et al. clínico Yintang (EX-HN3), semana, com duração de 30 mínima primários: ISI,PSQI, indivíduos do grupo (+) A eletroacupuntura teve
residual randomiza Baihui (VG20), minutos, durante 3 semanas (agulhamento variáveis derivadas do eletroacupuntura uma ligeira vantagem nos
associada à do, orelha bilateral consecutivas. Totalizando 12 superficial em diário de sono (TIB, (cefaléia e tontura) índices de melhora, mas no
depressão controlado Shenmen, sessões. pontos não SOL, WASO, TST e geral, a acupuntura mínima
maior por Sishencong acupunturais) e SE), actígrafos; também resultou em maior
Transtorno placebo (EX-HN1) e Anmian Acupuntura Desfechos melhora nas medidas subjetivas
(EX-HN ou placebo não secundários: do sono em 1 semana e 4
EX-HN22) invasiva HDRS-17, SDS, semanas após o tratamento
CTRS e EA. comparada com o grupo de
acupuntura placebo;
(0) Nenhuma melhora relevante
nos sintomas depressivos;
(*) As diferenças observadas
poderiam ser devidas a efeitos
inespecíficos do agulhamento.

2016 Acupuntura Chung Ensaio 60 Eletroacupuntura: Tratamento com eletroacupuntura Acupuntura Desfechos Não foram relatados Os efeitos observados foram: China
para insônia et al. randomiza ponto auricular de 30 minutos, três vezes por mínima primários: PSQI, ISI, EA (0) Nenhum eficácia no
persistente do, Shenmen bilateral, semana, durante três semanas (agulhamento Diário do sono, tratamento para insônia residual
associada ao controlado Sishencong consecutivas. superficial em medidas de actigrafia; associada ao TDM;
transtorno por (EX-HN1), Anmian pontos não Desfechos (0) Nenhuma alteração nos
depressivo placebo, (EX-HN), Neiguan acupunturais) e secundários: sintomas emocionais;
maior cego para (PC6), Shenmen Acupuntura HRSD-17, HARS, (*) Identificado efeitos
sujeitos e (C7), Sanyinjiao placebo não HADS, SSI, SDS, inespecíficos no agulhamento.
avaliadore (BP6),Yintang invasiva MFI, ESS, SF-36 e
s (EX-HN3) e Baihui CTRS.
(VG20).

2020 Eficácia da Yin et Ensaio 30 Eletroacupuntura: 24 sessões de acupuntura Acupuntura Desfechos EAs leves em 3 Após 8 semanas consecutivas China
eletroacupuntur al. clínico Baihui (VG20), sistêmica e Eletroacupuntura em mínima primários: PSQI, pacientes tratados com de tratamento, foi observado:
a no tratamento cego, Shenting (VG24), VG20 e EX-HN3 de 30 minutos (3 (agulhamento parâmetros do sono eletroacupuntura (+) A eletroacupuntura pode
de insônia randomiza Yintang (VG29 ou sessões de acupuntura por superficial em (SE, TST, SA), (dormência nas mãos melhorar a qualidade do sono
relacionada à do e EX-HN3), Anmian semana, durante 8 semanas pontos não actigrafia; e dor nos pontos de de pacientes com depressão;
depressão controlado bilateral (EX-HN ou consecutivas) acupunturais) e Desfechos acupuntura). (+) Melhora significativa nos
por EX-HN22), Shenmen Acupuntura secundários: sintomas emocionais.
avaliador (C7), SanYinjiao placebo não HAMD-17, SDS,
de (BP6) e Neiguan invasiva HAMA e EA
pacientes (PC6)

Acupuntura aumentada versus


acupuntura padrão

Ano Título Autor Tipo de Pacientes Acupontos Medidas de intervenção Grupo controle Avaliação Evento adverso (EA) Resultados obtidos e eventos País
estudo tratados adversos
78

2013 Efeitos da Huo et Ensaio 30 Grupo B: Baihui 1 sessão de acupuntura de 30 Acupuntura Desfechos Não foram relatados Os efeitos observados foram: China
acupuntura al. clínico (VG20), Zusanli minutos, em dias alternados, padrão com primários: PSQI e EA (+) A acupuntura aumentada
com pontos de randomiza bilateral (E36), durante 4 semanas. pontos de valores de eficiência melhorou a qualidade do sono
acupuntura do e Neiguan (PC6), acupuntura do sono; de pacientes com insônia.;
meridianos e controlado Shenmen (C7), meridianos Desfechos (+) Melhora significativa nos
três pontos de Sanyinjiao (BP6), primários: SDS e sintomas de depressão e
acupuntura Taichong (F3) e SAS ansiedade dos pacientes
anmianos na Yongquan (R1) + 3 tratados em ambos os grupos,
insônia e pontos Anmian porém escore de SDS foi maior
depressão bilaterais (da cabeça, no grupo de acupuntura
relacionada e das mãos e dos aumentada.
estado de pés). Entre Yintang e
ansiedade Baihui, os pontos de
acupuntura Anmian
bilaterais foram
aplicados por
eletroacupuntura por
aproximadamente 30
minutos.

2018 Os efeitos dos Wen et Ensaio 27 Acupuntura 12 sessões de acupuntura com Acupuntura Desfechos EAs leves em 2 Após o período de tratamento, China
protocolos de al. clínico aumentada: Hegu duração de 30 minutos, sendo padrão nos primários: PSQI; indivíduos do grupo foi observado:
acupuntura randomiza (IG4), Taichong (F3), duas sessões por semana, com pontos: Hegu Desfechos controle de tratamento (+) O protocolo de acupuntura
padrão e do, cego e Yintang (EX-HN3), intervalo mínimo de dois dias entre (IG4), Taichong secundários: HAMD, de acupuntura padrão aumentada teve melhor eficácia
aumentado na multicêntri Baihui (VG20), as sessões, durante seis semanas (F3), Yintang CTRS e EA. (relataram desconforto na qualidade do sono de
qualidade do co Lieque (P7) e consecutivas. (EX-HN3) e Acompanhamento de nos locais das pacientes com depressão;
sono e nos Zhaohai (R6) / Dois Baihui (VG20) 4 semanas após agulhas). (+) Melhora nos sintomas
sintomas grupos de pontos tratamento. depressivos;
depressivos em incluindo XinShu (-) Um paciente do grupo
pacientes com (B15) com ShenShu controle relatou piora da
depressão (B23) e DanShu insônia.
(B19) com Anmian
(EX-HN ou
EX-HN22) foram
usados
alternativamente.

Acupuntura versus acupuntura


simulada e cuidados habituais

Ano Título Autor Tipo de Pacientes Acupontos Medidas de intervenção Grupo controle Avaliação Evento adverso (EA) Resultados obtidos e eventos País
estudo tratados adversos
79

2020 Eficácia e Lee at Ensaio 49 Eletroacupuntura: 10 sessões de eletroacupuntura de Eletroacupuntur Desfechos EA leves em 42 casos Os efeitos bservados foram: Corei
segurança da al. multicêntri Baihui (VG20), 30 minutos, 2 a 3 vezes por a placebo e primários: PSQI, ISI, de 626 consultas (+) A eletroacupuntura a
eletroacupuntur co, Yintang (VG29 ou semana, durante 4 semanas. cuidados variáveis derivadas do durante o tratamento promoveu melhora significativa
a para randomiza EX-HN3), e bilateral habituais diário de sono (TIB, com eletroacupuntura na gravidade da insônia em
Transtorno de do, Shenmen (C7), SOL, WASO, TST e (infecção do trato pacientes com insônia
insônia controlado Neiguan (PC6), SE); respiratório superior, moderada a grave tratados,
e cego Jinmen (B63) e Desfechos dispepsia, cefaléia, dor gerando melhor qualidade do
para Dazhong (R4) secundários: HADS, na lombar e prurido) sono, após 4 semanas até à
avaliador EQ-5D, PGIC. EA e semana 12;
níveis de melatonina e (+) Melhora relevante no humor
cortisol salivares. ansioso, depressivo e qualidade
de vida relacionada à saúde

Fonte: Autoria própria.


Legenda: (+) resultado favorável ao tratamento com acupuntura; (-) resultado não favorável ao tratamento com acupuntura; (0) resultado
indiferente ao tratamento com acupuntura; (*) observações importantes.
80

5.4. Avaliação de eficácia

5.4.1. Medidas de desfechos primários: questionários auto-relatados


e/ou diário do sono e/ou actígrafos

Entre os artigos, 12 utilizaram o Índice de Qualidade do Sono de


Pittsburgh (PSQI): (YEUNG et al., 2009; YEUNG et al., 2011; HUO et al.,
2013; CHUNG et al., 2016; WEN et al., 2018; Lee at al., 2020; ZHANG et al.,
2020; YIN et al., 2020; LIU et al., 2021; WANG et al., 2021; YIN et al., 2022;
ZHANG et al., 2023), e 8 aplicaram o Índice de Gravidade da Insônia (ISI):
(YEUNG et al., 2009; YEUNG et al., 2011; CHUNG et al., 2016; YIN et al.,
2017; LEE et al., 2020; LIU et al., 2021; WANG et al., 2021; YIN et al., 2022).
Além disso, 10 artigos usaram os parâmetros derivados do diário do sono:
(YEUNG et al., 2009; YEUNG et al., 2011; HUO et al., 2013; YIN et al., 2017;
CHUNG et al., 2016; YIN et al., 2017; LEE et al., 2020; YIN et al., 2020;
WANG et al., 2021; ZHANG et al., 2020), e 5 estudos empregaram a
actigrafia: (YEUNG et al., 2009; YEUNG et al., 2011; CHUNG et al., 2016;
YIN et al., 2020; YIN et al., 2022).

5.5. Avaliação da eficácia nos sintomas depressivos e eventos


adversos (EA)

5.5.1. Resultados secundários: Avaliação da eficácia na depressão ou


sintomas depressivos

Dos estudos incluídos, seis aplicaram a Escala de Depressão de


Hamilton (HAMD): (YEUNG et al., 2011; CHUNG et al., 2016; WEN et al.,
2018; YIN et al., 2020; LIU et al., 2021; YIN et al., 2022); três aplicaram a
Escala de Ansiedade e Depressão (HADS): (YEUNG et al., 2009; CHUNG et
al., 2016; LEE et al., 2020); um aplicou a Escala de Avaliação de Ansiedade
de Hamilton (HARS): (CHUNG et al., 2016); sete artigos utilizaram a Escala
de Autoavaliação de Depressão (SDS): (YEUNG et al., 2011; HUO et al.,
2013; CHUNG et al., 2016; YIN et al., 2017; ZHANG et al., 2020; YIN et al.,
2020; ZHANG et al., 2023); dois estudos utilizaram a Escala de Ansiedade de
81

Hamilton (HAMA): (YIN et al., 2020; LIU et al., 2021); e cinco artigos
utilizaram a Escala de Autoavaliação de ansiedade (SAS): (HUO et al., 2013;
YIN et al.,2017; ZHANG et al., 2020; YIN et al., 2022; ZHANG et al., 2023).
Além disso, um artigo utilizou o Inventário de ansiedade de Beck (BAI) e o
Inventário de depressão de Beck (BDI): (WANG et al., 2021). Apenas quatro
artigos utilizaram a Escala de Avaliação de Credibilidade do Tratamento
(CTRS): (YEUNG et al., 2009; YEUNG et al., 2011; CHUNG et al., 2016;
WEN et al., 2018).

5.5.2. Desfechos secundários: eventos adversos (EA)

Dez artigos investigaram e relataram os eventos adversos (EA) leves:


(YEUNG et al., 2009; YEUNG et al., 2011; WEN et al., 2018; YIN et al., 2017;
LEE et al., 2020; ZHANG et al., 2020; YIN et al., 2020; LIU et al., 2021;
WANG et al., 2021; YIN et al., 2022); enquanto 3 artigos não relataram: (HUO
et al., 2013; CHUNG et al., 2016; ZHANG et al. 2023). Todos os eventos
adversos observados foram de gravidade leve, os mais comuns relatados nos
estudos foram: desconforto e dor nos locais das agulhas, sangramento
subcutâneo local após a remoção das agulhas, cefaléia, tontura, dormência
nas mãos e hematoma local. O artigo de Wen et al. (2018) relatou que uma
pessoa do grupo de tratamento de acupuntura padrão comparada com
acupuntura aumentada teve piora da insônia.

5.6. Acupuntura versus acupuntura placebo

Sete ECRs (YEUNG et al., 2009; YIN et al., 2017; ZHANG et al., 2020;
LIU et al., 2021; WANG et al., 2021; YIN et al., 2022; ZHANG et al., 2023)
estavam nesta categoria e abordaram a comparação entre acupuntura e
placebo (usando agulhas Streitberger). Seis artigos indicam que a acupuntura
é eficaz na redução dos sintomas da insônia: (YIN et al., 2017; ZHANG et al.,
2020; LIU et al., 2021; WANG et al., 2021; YIN et al., 2022; ZHANG et al.,
2020); e um ECR indica ligeira eficácia, segundo Yeung et al. (2009), essa
conclusão é amparada pelo fato de apenas dois índices em comparação com
a acupuntura placebo não invasiva - WASO (P = 0,007) e um SE (P = 0,001)
82

de pelo menos 85% após o tratamento - foram moderadamente mais altas no


grupo de eletroacupuntura.
Adicionalmente, não foram observadas disparidades entre os grupos
no que tange à pontuação global do ISI, no desfecho primário e em outras
medidas secundárias na consulta pós-tratamento. Com relação aos
desfechos secundários do mesmo artigo não se verificaram diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos nas pontuações HADS, SDI,
CTRS uma semana após o tratamento, ou seja, o tratamento não obteve
eficácia nos sintomas emocionais.
Segundo Zhang et al. (2023), após 10 sessões de tratamento, a
acupuntura pode melhorar efetivamente a qualidade do sono, demonstrada
pela diminuição do escore de PSQI, como também o estado emocional e
qualidade de vida dos sujeitos - indicados pela diminuição dos escores de
SAS e SDS. Eles apontaram que a acupuntura tem um efeito negativo
significativo na SSVEP da excitação cerebral anormal e ela foi positivamente
correlacionada com a eficácia clínica, onde eles correlacionaram com a
diminuição da pontuação total do PSQI e SAS. Eles indicaram que quando os
potenciais cerebrais dos lobos frontal, parietal e occipital foram regulados
negativamente, a qualidade do sono e os distúrbios do humor foram
efetivamente ajustados.
Cinco ECRs incluíram acompanhamento: Yin et al. (2017), Zhang et al.
(2020), Wang et al. (2021), Liu et al. (2021), Yin et al. (2022). No
acompanhamento de 4 semanas do estudo de Yin et al. (2017), a partir da
segunda semana, o grupo de tratamento com acupuntura teve vantagem
sobre a acupuntura placebo/simulada na redução significativa dos escores de
ISI (todos p < 0,01), redução da SA, aumento do TST e SE. Além disso,
apresentou redução significativa dos escores de SDS, SAS em duas
semanas pós-tratamento. Sugerindo que a acupuntura pode ser eficaz no
tratamento da insônia, melhorando a gravidade de seus sintomas e aliviando
o humor depressivo ou ansioso relacionado.
Durante o tratamento e após 2 semanas dele, totalizando um mês de
acompanhamento, o artigo Zhang et al. (2020) indicou que a acupuntura ativa
pode melhorar a taxa de sono em 93,8% e reduzir significativamente o
escores de PSQI (8,40), SAS (19,90) e as pontuações SDS (19,90). A
83

pontuação diminuída de SAS e SDS aponta a eficiência da intervenção nos


sintomas emocionais, ademais foi observada que a eficácia clínica do
tratamento durou pelo menos 6 semanas.
O estudo de Wang et al. (2021), com acompanhamento de 8 semanas,
revelou que a acupuntura pode melhorar os indicadores subjetivos e objetivos
do sono em pacientes com insônia crônica. Eles observaram que no grupo de
acupuntura, os escores do PSQI e ISI diminuíram 5,04 e 7,65 pontos,
respectivamente, após 10 sessões de intervenção. O grupo de acupuntura
mostrou uma diminuição estatisticamente significativa no SOL e melhora na
arquitetura do sono - menos tempo no estágio N1 e mais tempo no estágio
N3. Embora a ansiedade e a depressão dos indivíduos tenham sido
reduzidas subjetivamente, não houve diferença significativa nos escores de
BAI e BDI em comparação com a acupuntura simulada.
No artigo de Liu et al. (2021), após o tratamento e durante o
acompanhamento de três meses, os escores PSQI, HAMA e HAMD no grupo
de acupuntura foram significativamente mais baixos em comparação com o
grupo placebo, indicando que a acupuntura pode melhorar significativamente
a qualidade, a eficiência, a latência do sono dos pacientes e aliviar a
ansiedade e a depressão. Os resultados positivos nos parâmetros de
avaliação do sono e escores de ansiedade e depressão em comparação com
o grupo de acupuntura simulada foram sustentados e relativamente estável
ao longo do tempo nesses pacientes.
O estudo de Yin et al. (2022), indicou que o uso de eletroacupuntura
(EA) produziu melhorias na eficiência do sono e no tempo total de sono e
uma tendência decrescente no número de despertares do sono,
demonstrando esses resultados através da redução significativa da
pontuação de PSQI que perdurou durante o acompanhamento de 24
semanas. Além disso, os pacientes do grupo EA também tiveram maior
redução do humor depressivo e sintomas de ansiedade ao final da
intervenção, indicado pela pontuação de HDRS-17 (5,5) significativamente
menor do que o grupo controle.

5.7. Acupuntura versus acupuntura mínima e acupuntura placebo


84

Três ECRs (YEUNG et al., 2011; CHUNG et al., 2016; YIN et al., 2020)
estavam nesta categoria e abordaram a comparação entre a acupuntura, a
acupuntura mínima e a acupuntura placebo. No artigo de Yeung et al. (2011)
foi descrita uma ligeira vantagem da eletroacupuntura e da acupuntura
mínima em relação à acupuntura placebo não invasiva como tratamento
adicional para a insônia residual associada ao Transtorno Depressivo Maior
(TDM), pois tiveram redução nos escores ISI e PSQI do que aqueles no
grupo de acupuntura placebo em 1 semana e 4 semanas após o tratamento.
Nenhuma diferença significativa foi observada entre a eletroacupuntura e a
acupuntura mínima nos índices (SOL, TST, WASO, SE, HRSD-17 e SDS).
O tratamento com acupuntura neste estudo não teve impacto
significativo nos sintomas depressivos e no funcionamento psicossocial,
talvez devido à ligeira melhora no sono e ao fato de o regime de acupuntura
ter sido direcionado principalmente à insônia. A Acupuntura mínima e a
eletroacupuntura tiveram eficácia hipnótica semelhante, sugerindo que as
reduções das pontuações nos escores podem ser devidas aos efeitos
fisiológicos gerais do agulhamento e da eletroestimulação.
O ECR de Chung et al. (2016) apontou que não houve diferença
significativa na proporção de participantes que atingiram uma eficiência de
sono >85% ou WASO >30 minutos em 1 semana e 5 semanas após o
tratamento. Não houve evidências que apoiassem uma melhor eficácia da
acupuntura tradicional com agulha como intervenção para a insônia residual
associada ao TDM. Embora um tamanho de efeito dentro do grupo >1,0
tenha sido observado na pontuação ISI, o tamanho do efeito na eficiência do
sono derivado do diário de sono foi bastante pequeno. A eficiência do sono
derivada do diário pós-tratamento foi de 71,4%, indicando que a acupuntura
provavelmente não será uma monoterapia adequada para a insônia residual
associada ao TDM.
O artigo de Yin et al. (2020) mostra que 8 semanas de tratamento com
eletroacupuntura melhoraram a pontuação do PSQI (redução de -6,64
pontos) do que aqueles nos grupos de controle ao longo do tempo. Estas
descobertas objetivas sugeriram que a EA desempenhou um papel positivo
no prolongamento do tempo de sono do paciente, diminuindo os despertares
do sono e, assim, aumentando a qualidade e eficiência do sono de pacientes
85

com Transtorno Depressivo Maior (TDM). Além disso, o tratamento com EA


obteve uma redução significativa nas pontuações HAMD-17, SDS e HAMA
nas semanas 4, 8 e 12 (todos p<0,01), esses resultados sugeriram que a EA
poderia não apenas melhorar a qualidade do sono dos pacientes, como
também melhorar efetivamente seu estado mental.

5.8. Acupuntura aumentada versus acupuntura padrão

Dois ECRs (HUO et al., 2013; WEN et al., 2018) estavam nesta
categoria e abordaram a comparação entre acupuntura aumentada versus
acupuntura padrão. Todos os artigos deste grupo indicam que a acupuntura é
eficaz na redução dos sintomas da insônia.
O artigo de Huo et al. (2013) apontou que a acupuntura usando pontos
de acupuntura meridianos combinados com três pontos Anmianos foi mais
eficaz no tratamento da insônia em 93,3% do que apenas os pontos de
acupuntura meridianos que teve sua eficácia de tratamento medida em
(66,7%, P<0,05). Os pontos Anmianos estão demonstrados na Figura 7.

Figura 7- Três pontos de acupuntura Anminianos

Fonte: Hou et al. (2013).

A conclusão deste artigo foi amparada pela observação da redução


significativa dos escores de PSQI (P<0,01 ou P<0,05). Além disso, após o
tratamento, o estado de depressão e ansiedade dos pacientes em ambos os
grupos comparados melhorou significativamente, no entanto a melhoria na
pontuação SDS foi ainda maior no grupo de acupuntura aumentada do que
no grupo controle, provavelmente devido à evolução da qualidade do sono
dos pacientes.
O artigo de Wen et al. (2018) elucida que os resultados mostraram que
o protocolo de acupuntura aumentada foi melhor na evolução positiva da
86

qualidade do sono e dos sintomas depressivos nos participantes. Esta


conclusão foi amparada pela diminuição dos escores de PSQI em todas as
áreas (exceto na eficiência habitual do sono) e a melhora dos escores de
HAMD ao longo do tempo de tratamento.

5.9. Acupuntura versus acupuntura simulada e cuidados habituais

Um ECR Lee et al. (2020) estava nesta categoria e abordou a


comparação entre acupuntura simulada e cuidados habituais. Nesse estudo
houve acompanhamento de 8 semanas após a intervenção final, os
resultados deste trabalho indicaram que, após 4 semanas de intervenção, a
eletroacupuntura (EA) leva a uma maior melhora na gravidade da insônia
medida pela diminuição do ISI (8,83) e PSQI (3,73) em pacientes com insônia
moderada a grave em comparação com os cuidados habituais e que as
diferenças significativas benéficas dos resultados perduraram bem até à
décima segunda semana.

6. DISCUSSÃO

6.1. Principais resultados

No presente trabalho, após investigar as evidências sobre a eficácia e


a segurança da acupuntura como terapia alternativa no tratamento da insônia
e sintomas de humor depressivo relacionados, foi observado que 12 dos 13
estudos analisados tiveram um efeito favorável para o tratamento da insônia,
melhorando a qualidade e/ou quantidade do sono dos pacientes, com
nenhum efeito adverso moderado ou grave (YEUNG et al., 2009; X.YIN et al.,
2017; L. Zhang et al. 2020; LIU et al., 2021; WANG et al., 2021; YIN et al.,
2022; Zhang et al. 2023, YEUNG et al., 2011; YIN et al., 2020; HUO et al.,
2013; WEN et al., 2018; Lee at al., 2020). Desta maneira, fica evidente a
eficácia e opção de intervenção não farmacológica segura e útil para o
tratamento complementar da insônia.
Com relação aos sintomas depressivos relacionados, sete estudos
(YIN et al., 2017; ZHANG et al., 2020; LIU et al., 2021; YIN et al., 2022;
87

ZHANG et al., 2023; YIN et al., 2020; HUO et al., 2013) obtiveram resultados
benéficos sobre esses sintomas emocionais, indicando redução nos escores
dos índices e escalas utilizados como medida de avaliação, como também
sensação de bem estar geral relatado pelos pacientes tratados; ou seja, a
eficácia da acupuntura como estratégia terapêutica dos sintomas depressivos
relacionados a insônia também foi confirmada. Talvez, os resultados não
tenham sido tão expressivos, pelo fato da combinação de pontos utilizados
nos protocolos de tratamento dos ECRs terem sido voltados principalmente
para o manejo terapêutico da insônia.

6.2. Principais pontos utilizados no tratamento com acupuntura

Os pontos de acupuntura possuem singularidades e devem ser


avaliados conforme a condição individual de cada paciente (LIAN et al.,
2004). No entanto, é válido ressaltar que determinados pontos se destacam
pela sua frequência de ocorrência nos artigos coletados, sinalizando a
existência de correlações resultantes de suas funções energéticas e
terapêuticas.
Embora a seleção de pontos de acupuntura tenha variado entre os
artigos, ao examinar o quadro de atributos fundamentais dos estudos
incluídos, é possível constatar quais pontos de acupuntura foram aplicados
com mais frequência pelos pesquisadores: (1) Yintang (VG29 ou EX-HN3),
Baihui (VG20), Anmian (EX-HN ou EX-HN22) citados por 10 artigos, (2)
Shenmen (C7) citado por 8 artigos, (3) Neiguan (PC6) citado por 7 artigos e
(4) Sanyinjiao (BP6) citado por 6 estudos.
Nesse sentido, 76,9% dos estudos empregaram Yintang, Baihui e
Anmian - pontos são localizados na cabeça, reguladores da energia Yang do
corpo (MACIOCIA, 2007). Esses acupontos merecem atenção pela sua
eficácia demonstrada nos resultados das pesquisas, no que diz respeito ao
tratamento da insônia e dos sintomas depressivos associados. O “Yintang”
(VG29 ou EX-HN3), é conhecido por acalmar a mente, eliminar o Vento, a
tensão e a hiperatividade da mente (LIAN et al., 2004). Ele é um ponto
regulador muito importante, pois trata todas as síndromes energéticas de
insônia (MACIOCIA, 2005).
88

O ponto "Baihui" (VG20) localizado na área de potencial máximo da


energia e de encontro dos canais Yang, possui a finalidade de apaziguar o
shen, fortalecer o Qi, o Yang, e promover o envio de Qi e Yang para a região
da cabeça (LIAN et al., 2004). Fazendo uma leitura mais aprofundada, é
utilizado para equilibrar o excesso e a deficiência da energia na cabeça, tratar
o fogo do Coração e do Fígado, a hiperatividade do Yang do Fígado,
deficiência do sangue do Coração e do Baço (ROSS, 2011). Dentre as
indicações sintomáticas deste ponto destacam-se a fraqueza de memória e
concentração, ansiedade, depressão, cefaléia, vertigem, hipertensão e
episódios de perda de consciência (MACIOCIA, 2005). O “Anmian” (EX-HN
ou EX-HN22), é um ponto extra que significa "sono tranquilo", ele apazigua a
Mente (Shen) e o Fígado, assim tendo como sua principal função tratar
transtornos relacionados ao sono e inquietação mental (DEADMAN, 2012).
Segundo Maciocia (2005), o “Shenmen” (C7), é o ponto mais
importante do meridiano do Coração, ele é conhecido como ponto de
drenagem e trata o fogo, fleuma no Coração, deficiência do Qi e do sangue
do Coração (MACIOCIA, 2007). Sua principal função é acalmar a mente e
aliviar consideravelmente a ansiedade, sendo indicado para casos de insônia
devido a preocupações excessivas ou agitação emocional (LIAN al., 2004).
O ponto “Neiguan” (PC6) trata o fogo no Coração, estagnação do Qi
do Coração e fleuma no Coração (MACIOCIA, 2007), promove a eliminação
de bloqueios, acalma o estado mental, proporciona relaxamento ao tórax,
restaura a clareza cognitiva, fortalece o órgão do Baço e harmoniza a função
gástrica (DEADMAN, 2012). Além disso, exerce uma influência significativa
na área do tórax e é recomendado para aplicação em problemas nessa
região do corpo, especialmente para casos relacionados à obstrução do fluxo
de energia vital (Qi) ou de circulação sanguínea (ROSS, 2011). Ele é um
ponto excelente para tratar insônia, pois tem uma ação calmante sobre a
Mente, aliviando sintomas de ansiedade (DEADMAN, 2012). Além disso, é
usado no tratamento de dor torácica, palpitações, déficits de memória, pânico
e outros sintomas (LIAN et al., 2004).
Por fim, o “Sanyinjiao” (BP6) é o ponto de encontro dos três Yin da
perna (MACIOCIA, 2007), por isso manifesta um amplo efeito no corpo,
proporcionando benefícios aos tendões e articulações, fortalecendo o
89

Estômago e o Baço (em qualquer uma de suas síndromes de deficiência),


removendo a umidade, restaurando o equilíbrio sanguíneo do Fígado e Rins,
promovendo a circulação sanguínea, eliminando a estagnação e
tranquilizando a mente (TIAN, 1993). A utilização do BP6 é recomendada em
situações de baixa função do baço e/ou estômago, distensão abdominal,
sensação de peso, insônia, palpitações, agitação mental, depressão, diarreia,
constipação, entre outros sintomas (MACIOCIA, 2007).

Figura 8 - Localização dos pontos (VG20, VG29, C7 e BP6)

Fonte: Liu et al. (2021).

Figura 9 - Localização do ponto Anmian (EX-HN ou EX-HN22)

Fonte: DEADMAN (2011).


90

Figura 10 - Localização do ponto Neiguan (PC6)

Fonte: DEADMAN (2011).

7. CONCLUSÃO

Nos artigos da presente revisão, foi identificado que havia


significativamente mais mulheres como participantes nos estudos coletados,
o que indica um desenho mal feito dos ECRs. O ideal seria dividir a
quantidade de pessoas por sexo em cada grupo para observar melhor os
resultados apresentados sem nenhum viés. No processo de análise crítica,
essa diferença chamou tanto a atenção que buscamos respaldos da literatura
que justificassem um número tão superior de participantes mulheres nos
estudos, por conseguinte, identificamos que esse fenômeno pode ser
explicado pelo fato delas terem maior prevalência no desenvolvimento da
insônia em comparação com os homens (DSM-5, 2014).
Além disso, foi observado heterogeneidade com relação aos índices
dos desfechos primários e secundários dos artigos, o ideal seria padronizar
escalas e índices internacionais que medissem a qualidade e quantidade do
sono, como também a redução dos sintomas depressivos avaliados - essa
padronização reduziria significativamente a incoerência dos resultados de
pesquisas futuras. Essas foram limitações que percebemos nos artigos,
portanto, sugerimos que mais estudos sobre a eficácia da acupuntura no
tratamento da insônia e dos sintomas depressivos associados, sejam
realizados no futuro com ECRs adequadamente desenhados com amostras
91

grandes, rigorosas, prospectivas e multicêntricas, de modo a reduzir a


influência do viés de publicação, melhorar a credibilidade da pesquisa e
orientar melhor o que esperar na prática clínica. Esses estudos futuros
poderão ajudar a compreender bem os mecanismos de ação da acupuntura e
seus benefícios a curto, médio e longo prazo no tratamento e promoção à
saúde das pessoas que convivem com esses Transtornos Mentais Comuns
(TMCs).
Os achados deste estudo favoreceram a compreensão da
sintomatologia da insônia e sintomas depressivos associados, como também
ofereceram insights preciosos a respeito dos principais acupontos utilizados
nos estudos atuais. Além disso, exploramos as funções energéticas e
indicações clínicas dos pontos de acupuntura sustentado no embasamento
teórico da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), o que pode favorecer
resultados ainda mais positivos nos tratamentos futuros. O intuito é oferecer
insights relevantes para profissionais de saúde e pesquisadores na área
sobre a eficácia desses pontos de acupuntura na prática clínica para que seu
uso seja realizado de forma consciente e criteriosa.
Foi constatado que os pontos Yintang (VG29 ou EX-HN3), Baihui
(VG20), Anmian (EX-HN ou EX-HN22), Shenmen (C7), Neiguan (PC6) e
Sanyinjiao (BP6), tiveram uma eficiência significativa na redução dos
sintomas dos Transtornos Mentais Comuns (TMCs) avaliados nos estudos;
apesar do diagnóstico individualizado e seleção de pontos específicos para o
tratamento das desarmonias energéticas únicas dos pacientes, na maioria
dos ECRs incluídos, não terem sido adotados.
Desta forma, é possível prever que a eficácia melhorada da
acupuntura para o tratamento da insônia e sintomas depressivos associados,
com os acupontos relatados no presente trabalho, pode ser alcançada com o
aumento da frequência das sessões semanais, maior tempo de intervenção e
acompanhamento, e investindo em protocolos individualizados de acordo
com as desarmonias energéticas únicas de cada paciente - fundamentado
nos conhecimentos da MTC.
92

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