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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA

MIQUEIAS ALEX DE SOUZA PEREIRA

O ENSINO DE EDITORAÇÃO NOS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA DO


NORDESTE BRASILEIRO

NATAL/ RN
2019
MIQUEIAS ALEX DE SOUZA PEREIRA

O ENSINO DE EDITORAÇÃO NOS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA DO


NORDESTE BRASILEIRO

Monografia de graduação apresentada ao


Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel (a) em Biblioteconomia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Gabrielle Francinne de


Souza Carvalho Tanus.

NATAL/ RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro
Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Pereira, Miqueias Alex de Souza.


O ensino de editoração nos Cursos de Biblioteconomia do
nordeste brasileiro / Miqueias Alex de Souza Pereira. -
2019.
89f.: il.

Monografia (Graduação em Biblioteconomia) - Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais
Aplicadas, Departamento de Ciências da Informação. Natal,
RN, 2019.
Orientador: Prof.ª Dr.ª Gabrielle Francinne de Souza
Carvalho Tanus.

1. Editoração - Monografia. 2. Editora - Monografia. 3.


Biblioteconomia - Monografia. 4. Periódico - Monografia. 5.
Gestão editorial - Monografia. 6. Ensino da Biblioteconomia
– Monografia. I. Tanus, Gabrielle Francinne de Souza
Carvalho. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
III. Título.

RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 001.816:02

Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355


MIQUEIAS ALEX DE SOUZA PEREIRA

O ENSINO DE EDITORAÇÃO NOS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA DO


NORDESTE BRASILEIRO

Monografia de graduação apresentada ao Centro de Ciências


Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Biblioteconomia.

Natal/RN, 29 de dezembro de 2019.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________
Dra. GABRIELLE FRANCINNE DE SOUZA CARVALHO TANUS
Orientadora – UFRN

_____________________________________________________
Dra. NANCY SANCHEZ TARRAGO (UFRN)
Examinadora

___________________________________________________
Me. GUSTAVO TANUS CESÁRIO DE SOUZA (UFRN)
Examinado
Dedico este trabalho a Meirilane Floriano de
Souza (in memorian), por ter sido a melhor prima
em sua estada na terra. Hoje cuida de mim lá do
céu. Saudades eternas;
Ao sobrinho, Ismael vittor, por me arrancar os
melhores sorrisos;
A minha mãe, Mirtes Floriano de Souza, pelo
seu amor incondicional.
AGRADECIMENTOS

Chegou o momento de agradecer. A gratidão é um sentimento tão bom, que


sempre tive comigo que se trata do sentimento mais belo que pode florescer dentro
do ser de alguém para com o outro e, por mais que sejamos falhos, e em
determinados momentos de nossas vidas sejamos magoados a gratidão, sempre
estará ali, pois ela se externa, principalmente em momentos de conquistas, vitórias e
pelas pessoas que estiveram presentes, sobretudo nos momentos difíceis que
antecederam tal conquista.
Portanto, estou aqui para agradecer da mesma forma que os grandes
autores agradecem em seus livros (ainda não sou um grande autor, muito menos
vos escrevo um livro, mas, quem sabe um dia?). Digo isto, pelo fato de nunca ter lido
um livro sem que, ao chegar ao final eu não tenha voltado para conferir a página de
agradecimentos. Muitas vezes os textos estão envoltos a agradecimentos para
patrocinadores, familiares, amigos, editora/editor/revisor (estes três últimos têm tudo
a ver com a temática do TCC). No entanto, os mais emocionantes, são aqueles que
exaltam a figura de alguém como forma de inspiração para a criação do projeto. Sim,
existem pessoas que inspiram. E inspiram de diversas formas. E eu tive minhas
inspirações, mãe, você é a principal delas.
Antes de iniciar os agradecimentos, gostaria de citar uma frase/texto que me
deparei ao vasculhar uma das minhas redes sociais, dias atrás. A frase é do Padre
Fábio de Melo e diz o seguinte: “Eu gostaria de lhe agradecer pelas inúmeras vezes
que você me enxergou melhor do que eu sou. Pela sua capacidade de me olhar
devagar, já que nessa vida muita gente me olhou depressa demais”. Talvez a frase
esteja um pouco fora do contexto para os agradecimentos e temática do TCC, no
entanto, cada nome que surgirá no decorrer desta escrita foram peças fundamentais
para que hoje estes agradecimentos estivessem sendo escritos. Então, leia até o fim
para conferir se seu nome consta aqui.
Agradeço a Deus, em primeiro lugar, pois sem Ele, sem a fé nEle, sem a
ajuda dEle, nada teria se feito.
Aos meus pais, Marcelo e Mirtes, por nunca me deixarem desistir dos
estudos, principalmente pelo fato dos mesmos não terem tidos tantas oportunidades
no que diz respeito à vida acadêmica. Se estou aqui hoje foi por conta do
investimento que fizeram por mim. Amo.
A família “Floriano de Souza”. Família que Deus me deu, cheia de defeitos,
mas que exala muito amor e afeto. A minha avó, tias e primos.
Ao amigo Haniel Souza, que escolheu trilhar caminhos opostos aos meus,
mas que me incentivou muito lá no início desse sonho que era o curso de
Biblioteconomia. Serei sempre grato.
Ao melhor amigo do mundo, Ítalo Imperial, por se fazer presente em meio
aos meus momentos de glorias e de derrotas. Por nunca julgar minhas escolhas e
pelos incentivos diários. Te amo, cara.
Não poderia deixar de agradecer a turma de Biblioteconomia 2015.2. Cada
integrante com seu perfil e suas particularidades que somadas ao conjunto tornou-se
uma turma que se ajudava em tudo. Uma turma harmoniosa de se conviver.
Allana, Amanda, Brenna, Bruna, Flawber, Joice, Michel, Melqui (nos
abandonou no início, mas o carinho e o afeto continuram), Paulo, Priscila, Rafa e
Samita. A Gang do Mimi, título dado carinhosamente pela professora Nádia Vanti ao
nosso grupinho. Amo vocês demais da conta. A graduação se tornou mais leve
caminhando ao lado de vocês.
Bruna e Samita, obrigado pelas inúmeras parcerias em trabalhos em grupo.
Admiro muito a inteligência de vocês.
Samita, minha eterna dupla, dois gênios fortes, tantas brigas por conta de
trabalhos, dias estranhos, mas bastava algum professor mencionar trabalhos em
dupla que nossos olhos se encontravam e o sorriso largo se abria, e mais uma vez
começava o ciclo e ao fim sempre comemorávamos as glorias. Te amo muito, te
admiro pela mulher que és.
Ao Amigo Pedro Bernardino por ser meu psicólogo nos momentos livres. Te
amo! Suas palavras confortam a alma.
A melhor equipe de bolsistas que a UFRN já teve Dally, Isabelle, Larissa,
Layanne (bolsista nos momentos livres) e Lany. Obrigado pelo acolhimento (meu
primeiro dia como bolsista foi inesquecível), pela a oportunidade de nos tornarmos
amigos. 2015 foi o ano de conhecer pessoas maravilhosas, vocês fazem parte disso.
Amo muito!
A bibliotecária Iara Celly, por ter me dado a oportunidade de trabalhar ao seu
lado como estagiário durante dois anos; a bibliotecária Ericka Luana por ter me
recebido de braços abertos durante minha estada no estágio supervisionado. Com
vocês aprendi na prática as vivencias profissionais do bibliotecário. Eternas
gratidões.
A Cleiane Bondade, auxiliar de biblioteca, pela paciência diária,
principalmente no ato de me ensinar algo novo. Só faltou a arte da programação.
A Taíse Costa, colega de curso, parceira de estágio e grande amiga, por me
incentivar, principalmente na etapa de criação do TCC. Por ouvir da minha boca
palavras como esta: “Olha isso, eu não escrevo nada com nada, vou desistir”. E a
resposta era sempre: “Muito bom, o notão vem”. Obrigado por ser quem és, por sua
essência e pelas inúmeras dúvidas tiradas. Mora em meu coração.
Ao GC dos Improváveis, caras, vocês me inspiram.
Aos amigos de perto, aos amigos de longe, aos amigos virtuais, aos colegas,
e ao simples desconhecido que retribuiu meu sorriso ao passar por mim pela rua
A Laerte, secretário do DECIN e a Nathália Dayanne ex-bolsista que nunca
hesitaram em ajudar diante das minhas queixas e problemas.
Aos colegas que fiz, de outras turmas, no decorrer do curso.
A todos os professores que fizeram e fazem parte do DECIN, obrigado pelos
conhecimentos repassados, pois sou fruto deles. A banca de defesa os professores
Nancy e Gustavo, pelas leituras cuidadosas e pelo carinho.
Por fim, mas não menos importante, gostaria de agradecer a quem comprou
comigo a ideia deste TCC, desde o sexto período, quando eu timidamente fui
procurá-la, pois gostaria de tê-la como orientadora e com o tema envolto da
Editoração. Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus, obrigado por ser parte
disso, desde a elaboração do projeto, até hoje em seu ciclo final. Obrigado por ser
incansável! Por acreditar e não desistir de mim nos momentos em que eu mesmo
não acreditava. Lembro-me até hoje de um comentário que recebi em uma
postagem, de um meme, sobre trabalhos acadêmicos, e o comentário era
exatamente a frase de Isaac Newton: “Se vi mais longe... é porque me apoiei nos
ombros de gigantes”. E não sei se se lembras, mas o comentário veio de ti. E hoje te
agradeço por teres sido o gigante que me apoiou entre os ombros. Admiração e
respeito.
“Vivia nos livros mais que em qualquer outro
lugar”
Neil Gaiman.
RESUMO

A formação e o mercado de trabalho do bibliotecário vêm sofrendo diversas


modificações ao longo das últimas décadas. Dentre essas mudanças está o
encontro da Editoração com a Biblioteconomia, em que ambas convocam
conhecimentos interdisciplinares e a produção, organização e disseminação de
produtos editoriais/informacionais. Assim, tendo como foco o ensino da editoração
nos cursos de Biblioteconomia do nordeste brasileiro é proposto o seguinte
problema de pesquisa: Quais são os conteúdos da disciplina de editoração do curso
de Biblioteconomia do nordeste brasileiro? Para embasar o estudo, buscamos
mediante a revisão de literatura, trabalhos que abordassem a editoração, passando
pela sua história, como também as fases da editoração tanto a convencional quanto
a eletrônica. Identificamos a partir da literatura os processos e as fases da
editoração, bem como o bibliotecário e a editoração. No que diz respeito aos
caminhos metodológicos, essa pesquisa é classificada como descritiva quanto aos
objetivos, pesquisa documental quanto aos procedimentos, pesquisa quantitativa
quanto à abordagem. Percebemos com a coleta de dados que mais da metade dos
cursos oferta a disciplina de editoração, sendo de natureza obrigatória ou optativa.
Constamos que a disciplina congrega a editoração de livros e de periódicos, além de
temas correlatos que perpassam o processo editorial. Quanto à análise dos planos
de ensino verificamos uma dispersão de obras e autores mais citados tanto das
bibliografias básicas quanto das complementares, dentre a tipologia mais citada nos
está o artigo, e documentos da década de 2000. Consideramos a disciplina de
editoração importante e necessária para a formação de bibliotecários competentes
para atuar com a editoração de livros e de periódicos seja ela tradicional ou
eletrônica.

Palavras-chave: Editoração. Editora. Periódico. Mercado de trabalho do


bibliotecário. Gestão editorial. Ensino da Biblioteconomia.
ABSTRACT

The education and the job market of the librarian have undergone several changes
over the last decades. Among these changes is the meeting of Publishing with
Library Science, in which both call for interdisciplinary knowledge and the production,
organization and dissemination of editorial / informational products. Thus, focusing
on the teaching of publishing in library courses in northeastern Brazil, the following
research problem is proposed: What are the contents of the publishing discipline of
the library course in northeastern Brazil? To support the study, we searched through
the literature review, works that approached the publishing, going through its history,
as well as the phases of publishing, both conventional and electronic. We identified
from the literature the processes and phases of publishing, as well as the librarian
and the publishing. Regarding the methodological paths, this research is classified as
descriptive as to objectives, documentary research as to procedures, quantitative
research as to approach. We realize from the data collection that more than half of
the courses offer the discipline of publishing, being mandatory or optional. We note
that the discipline brings together the publishing of books and periodicals, as well as
related themes that permeate the editorial process. As for the analysis of the
teaching plans we found a dispersion of works and authors most cited from both
basic and complementary bibliographies, among the most cited typology is the
article, and documents from the 2000s. We consider the publishing discipline
important and necessary for the training of competent librarians to work with
publishing of book and periodicals whether traditional or electronic.

Keywords: Publishing. Publishing company. Periodic. Librarian job market. Editorial


Management. Teaching of Librarianship.
LISTA DE QUADROS

QUADRO1: Primeiro período da história da atividade editorial brasileira (1808 -1914)


.................................................................................................................................. 26

QUADRO 2: Segundo período da história da atividade editorial brasileira ............... 28

(1914 – 1930) ............................................................................................................ 28

QUADRO 3: Terceiro período da história da atividade editorial brasileira ................. 29

(1930 – 1945) ............................................................................................................ 29

QUADRO 4: Quarto período da história da atividade editorial brasileira ................... 31

(1945 – 1964) ............................................................................................................ 31

QUADRO 5: Quinto período da história da atividade editorial brasileira ................... 33

(1964 – 1980) ............................................................................................................ 33

QUADRO 6: Sexto período da história da atividade editorial brasileira ..................... 35

(1980 – 1995) ............................................................................................................ 35

Continua... ................................................................................................................. 59

QUADRO7: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de Biblioteconomia do


Norte ......................................................................................................................... 66

QUADRO 8: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de Biblioteconomia do


Centro-Oeste ............................................................................................................. 66

QUADRO 9: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de Biblioteconomia do


Sul ............................................................................................................................. 67

QUADRO 10: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de Biblioteconomia


do Sudeste ................................................................................................................ 67

QUADRO 11: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de Biblioteconomia


na modalidade EAD .................................................................................................. 68

QUADRO 12: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de Biblioteconomia


do Nordeste ............................................................................................................... 69

QUADRO 13: Síntese das presenças da disciplina de Editoração ............................ 70

QUADRO 14: Instituições em análises ...................................................................... 71


QUADRO 15: Semestres em que as disciplinas são ofertadas ................................. 72

QUADRO 16: Carga horária das disciplinas de editoração ....................................... 73

QUADRO 17: Conteúdos programados das disciplinas de Editoração ..................... 73

QUADRO 18: Ementas das disciplinas de Editoração dos cursos de Biblioteconomia


do Nordeste brasileiro ............................................................................................... 76

QUADRO 19: Obras mais citadas da bibliografia básica da disciplina de Editoração


.................................................................................................................................. 78

QUADRO 20: Autor mais citado entre as bibliografias básicas ................................. 79

QUADRO 21: Obras mais citadas da bibliografia Complementar da disciplina de


Editoração ................................................................................................................. 80

QUADRO 22: Autor mais citado entre as bibliografias complementares ................... 82

QUADRO 23: Classificação das obras citadas nas modalidades básica e


complementar............................................................................................................ 82

QUADRO 24: Décadas nas obras citadas nas modalidades básica e complementar
.................................................................................................................................. 83
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Fases da editoração e seus responsáveis .............................................. 41

FIGURA 2: definições dos papéis de cada usuário/profissional ................................ 44

FIGURA 3: Lista de perfis de usuários que excutam as atividades no fluxo editorial 45

FIGURA 4: decisões baseadas nos pareceres.......................................................... 47

FIGURA 5: Fluxograma do processo editorial OJS 3 ................................................ 48

FIGURA 6: Locais de atuação do Bibliotecário ......................................................... 50

FIGURA 7: Locais de atuação do Bibliotecário ......................................................... 50

FIGURA 8: Competências do profissional da informação, suas correspondências no


núcleo de competências exigidas pelas organizações e pela editora eletrônica. ...... 56

FIGURA 9: Competências do bibliotecário para atuar na editoração ........................ 57

FIGURA 10: Atividades dos bibliotecários em equipes editoriais .............................. 59

FIGURA 11: Presença de bibliotecários na equipe editorial ...................................... 61

FIGURA 12: Atividades exercidas pelos bibliotecários nas equipes editoriais .......... 61

FIGURA 13: Grau de importância atribuído ao trabalho do bibliotecário na equipe


editorial ...................................................................................................................... 62

FIGURA 14: Interesse dos editores admissão de bibliotecários................................ 63


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

2. EDITORAÇÃO ...................................................................................................... 20

2.1 Editoração no Brasil ......................................................................................... 24

2.2 Processos da Editoração.................................................................................. 37

2.2.1 Fases da editoração ...................................................................................... 39

2.2.2 Fases da editoração eletrônica .................................................................. 41

3. O BIBLIOTECÁRIO E A EDITORAÇÃO ............................................................. 49

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................. 64

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .............................................................. 71

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 84

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 87
16

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, ao se ouvir falar em Biblioteconomia, ou até mesmo na


profissão de Bibliotecário (a), percebemos que aquela associação estereotipada da
imagem de um profissional que apenas trabalha em uma biblioteca, detrás de um
balcão pedindo silêncio, vem se modificando, e, felizmente, mais distante da
realidade. Ao decorrer dos anos, os bibliotecários foram se reinventando,
atualizando, e mostrando que as competências adquiridas durante os anos de curso
de graduação não estavam apenas ligadas ao que concernem as atividades
executadas dentro de uma biblioteca e, diante disso, o leque de perspectivas de
atuação foi crescendo e modificando conforme as novas demandas também
impostas pela sociedade.
Dentre os diferentes campos de atuação existentes podemos citar: centros
de documentação; museus; centros históricos; empresas – de qualquer ramo –;
bancos e bases de dados; arquivos; repositórios institucionais; periódicos; livrarias.
Existem muitos outros espaços dependendo do perfil, o bibliotecário se encontra e
se realiza profissionalmente em sua área de maior interesse. No entanto, neste
trabalho, iremos abordar mais uma possibilidade de atuação, a editoração. A
editoração, tal como a Biblioteconomia, é um campo que conta com a participação
de vários profissionais de diferentes áreas, no seu espaço de atuação, e que pode
estar vinculada às editoras ou aos processos editorais de modo mais amplo,
sobretudo quando se aborda a gestão de periódicos, comumente dentro das
universidades públicas federais.
O bibliotecário, por sua vez, para integrar uma equipe editorial, precisa
possuir algumas habilidades e competências específicas. Uma das habilidades mais
comentadas na literatura sobre o bibliotecário e a editoração é a de normalização.
Todavia, o bibliotecário pode exercer suas atividades em muitos outros ramos dentro
da editoração, os quais serão também discutidos neste trabalho. Compartilhamos da
concepção que a normalização é apenas mais uma dentre as muitas atividades que
podem ser desenvolvidas pelo bibliotecário, não restringindo-o, portanto, a tarefas
mais técnicas, pelo contrario tal profissional lida com o conhecimento e com a
gestão dos recursos informacionais que perpassa a criação de livros e de periódicos.
17

Em particular sobre a editoração cumpre destacar que ela faz parte do


desenvolvimento de produtos editorais da e para a sociedade. O processo editorial é
complexo e conta com a participação de profissionais de distintas áreas, envolve
também diversos sujeitos, como os consumidores dos produtos finalizados, não se
esquecendo dos livreiros e seus funcionários, que conformam uma indústria da
informação.
Ao pesquisar sobre editoração e bibliotecário, constatamos que a literatura
existente é menor em termos quantitativos que outras temáticas da área.
Visualizando por esse lado, surgiu a justificativa de cunho científico, vinculado a
temática, visando, pois o aumento das perspectivas da Biblioteconomia e Ciência da
Informação perante a sua comunidade acadêmica, deixando um legado que
futuramente poderá ser usado para outros estudos focados em discutir acerca da
editoração, em específico, do ensino da editoração no nordeste brasileiro.
Com o olhar para além da biblioteca, focando, então, no não convencional
para uma possível oportunidade de um vínculo empregatício, como também pelo
modo fascinante de como é todo o processo editorial, visto em sala de aula no
decorrer da disciplina de editoração, surge a justificativa pessoal para o
desenvolvimento deste trabalho de conclusão do curso de Biblioteconomia. E
mesmo sabendo das demandas, dos prazos, dos possíveis estresses, o interesse
por conhecer ainda mais as nuances que a editoração possa oferecer os
bibliotecários, este campo de trabalho é muito promissor para a área que lida com os
livros, com as informações, os conhecimentos e as pessoas, chamadas ora de
usuários ora de leitores.
Como antes falado, é necessário que o bibliotecário desenvolva habilidades
e competências para sua atuação no ambiente de editoração, tais competências são
adquiridas durante a graduação e devem ser continuamente desenvolvidas e
aperfeiçoadas após a formatura, configurando a educação continuada como uma
exigência de um bom profissional. Particularmente, existe uma disciplina que diz
respeito diretamente a questão em estudo, essa disciplina é a Editoração.
Para algumas universidades que possuem o curso de Biblioteconomia tal
disciplina encontra-se na grade curricular como obrigatória no programa do curso,
em outras, como optativas ou eletivas, isto é, disciplinas que o próprio aluno escolhe
de acordo com os seus interesses. Sendo assim, houve a necessidade de levantar
tais dados. Mas, para a análise foi feito um recorte, isto é, estudar os cursos de
18

Biblioteconomia do nordeste brasileiro. Neste contexto, apresentamos a seguinte


pergunta de pesquisa: Quais são os conteúdos da disciplina de editoração do
curso de Biblioteconomia do nordeste brasileiro?
Assim, o presente trabalho possui como objetivo geral: analisar a presença
do ensino da Editoração nos cursos de Biblioteconomia no Nordeste a fim de discutir
os conteúdos curriculares. Como objetivos específicos: a) identificar a presença da
disciplina de editoração nos cursos; b) compreender o conteúdo da disciplina a partir
da análise dos planos das disciplinas; c) mapear os autores e obras mais citadas
nos planos de ensino da disciplina de editoração; d) identificar a tipologia como
também os anos de publicações das obras obrigatórias e complementares que
compõem os planos de ensino da disciplina.
No que diz respeito aos caminhos metodológicos, seguimos a linha de
raciocínio de Gil (2010). Portanto, classificamos essa pesquisa como descritiva
quanto aos objetivos, em razão da busca em compreender da melhor forma o
problema central do estudo. Passamos, então, para a pesquisa documental quanto
aos procedimentos, em decorrência da coleta dos planos das disciplinas, pois além
tal modalidade de pesquisar ser bem frequente no âmbito geral dos estudos
elaborados pelas Ciências Sociais, tratando da equivalência do poder do uso da
vastidão de documentos já existentes, que possuem certas atribuições e que irão
ajudar no desenvolvimento de tal pesquisa, ou seja, para nosso estudo foi feito o uso
dos planos das disciplinas de editoração mais, especificamente, dos cursos de
Biblioteconomia. Quanto à abordagem pesquisa quantitativa essa se manifestou
com os estudos métricos, tendo em vista a quantificação dos autores e obras mais
citadas justamente nos planos de ensino coletados, o que caracteriza uma
abordagem quantitativa.
Quanto aos capítulos deste trabalho apresentamos seis partes. A primeira
delas consiste na exposição do problema de pesquisa e seus objetivos ainda na
Introdução. O capítulo dois aborda a editoração, história e conceitos; e nos
subcapítulos, um pouco de sua história no Brasil, trazendo momentos marcantes de
editores, autores e editoras que foram idealizadas em nosso país; os processos da
editoração e suas fases, tanto da editoração convencional quanto da editoração de
periódicos também foram abordados. No capítulo três, que envolve outra revisão de
literatura, fazemos menção ao bibliotecário e a editoração com vistas a explanar
acerca das habilidades e competências para trabalhar em tal área, assim, como
19

também, quais atividades podem ser atribuídas a esse profissional diante do meio
da editoração. No capítulo quatro, trazemos os caminhos metodológicos, ou seja,
como a pesquisa foi desenvolvida. Diante da quinta etapa, serão expostos as
análises e os resultados alcançados perante o levantamento dos dados sobre a
disciplina de editoração nos cursos de Biblioteconomia do nordeste brasileiro. Por
fim, no sexto capítulo, tecemos as considerações finais.
20

2. EDITORAÇÃO

Com seu marco estabelecido no século XV com a criação dos tipos móveis
reutilizáveis pelo Alemão Johannes Gutenberg, a produção de livros impressos
revolucionou a história da produção do conhecimento. Tudo isso só foi possível a
partir da impressão da Bíblia, sendo, então o primeiro livro da história a ter sido
impresso com os tipos de metais e reutilizáveis. Diante dos feitos trazidos pelos tipos
móveis, culminaram novos avanços, principalmente nos suportes que passaram a
ser usados para a veiculação das informações para a sociedade. Vale ressaltar que
na China já existiam experiências de tais feitos séculos antes, sendo eles os
criadores do papel e da xilogravura e dos tipos móveis feitos de madeira e argila.
Mas, como já dito, foi através do Gutenberg que os tipos móveis e a tipografia foram
reformulados e reconhecidos (FARIAS; LIMA; SANTOS, 2018).
Os processos e a história dos registros foram se desenvolvendo, como
afirma Araújo (1986), e em cada fase recebeu uma titulação que vai desde a época
dos “Livros dos Bibliotecários” até a época dos “Livros dos Editores”. Sendo assim,
cada uma das épocas foi caracterizada e reconhecida de uma forma. Podemos,
então, visualizarmos um pouco de ambas as fases, segundo Araújo (1986):
A fase dos “Livros dos Bibliotecários” tem sua caracterização iniciada em
função da transcrição feita pelos copistas da época, a fim de que sua veiculação
fosse apenas de forma oral. (ARAÚJO, 1986).
Em seguida, veio à época dos “Livros dos Monges”, que se deu logo após a
queda de Roma e só então, entre o século V e o século XV que foi possível o
surgimento de uma editoração mais meticulosa para a época. E mediante a toda
evolução que surgiu entre esses dez anos, surge à próxima era. (ARAÚJO, 1986)
A era dos “Livros dos Impressores” chegou com a novidade da criação da
xilogravura e do papel, ambos criados pelos chineses, e que logo foram
incorporados a Europa. (ARAÚJO, 1986)
Chegando aos anos dos “Livros dos Editores”, conseguimos visualizar o
início da utilização dos tipógrafos o que resultou, logo, na comercialização dos
mesmos, aumentando a concorrência entre os que trabalhavam na área. No entanto,
a partir daí as áreas do conhecimento se variaram. (ARAÚJO, 1986).
21

Em virtude de tais aprimoramentos ao decorrer dos anos, os tipos e técnicas


de impressões também foram se alinhando à modernidade e se modificando ao
longo de cada era, passando por diversos tipos. O “Manual de editoração” do
Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER/Brasil) apresenta alguns
modos de impressão: tipografia, litografia, off-Set e serigrafia. Sobre a tipografia:

Apresenta a vantagem de as letras de metal fundido poderem ser usadas


repetidas vezes e para muitos textos diferentes. Os caracteres, letras
minúsculas e maiúsculas, sinais de pontuação e números são chamados de
tipo, daí o nome tipografia para este processo. (BRASIL, 1998, p. 5).

Ainda sobre a abordagem das técnicas, o manual fala o seguinte sobre a


litografia ou como ele mesmo sugere “impressão química”:

Desenha-se com um produto gorduroso, sobre a pedra, o que se quer


imprimir. Em seguida, lava-se a pedra com um outro produto que adere às
partes que não foram “engorduradas” e que tem a propriedade de repelir a
tinta graxa. Assim quando se passa tinta sobre a pedra apenas as partes
engorduradas, que contêm a forma a ser impressa, a absorverão. (BRASIL,
1998, p.6).

O off-set, é, basicamente, uma reinvenção das técnicas litográficas, visto


isso, o manual comenta sobre o assunto de forma sucinta e informa: “o original é
gravado em uma placa metálica que é entintada e entra em contato com um cilindro
de borracha. O cilindro de borracha é que passa a tinta para o papel”. (BRASIL,
1998, p. 7). A última técnica abordada pelo manual, como principal para a área da
editoração, é a serigrafia e traz a seguinte definição:

O nome serigrafia vem do fato de que esta técnica tem por base a
permeabilidade de um fino tecido de seda. Sobre uma tela de tecido,
vendam-se com cola os poros que não devem deixar passar a tinta,
deixando abertos aqueles que correspondem à forma que se quer gravar.
(BRASIL, 1998, p. 7).

Entendemos que tais técnicas foram revolucionárias para suas épocas e que
contribuíram anos após anos para o aperfeiçoamento de novos tipos e técnicas de
impressões, o que nos mostra que daqui a 100 ou 200 anos, o que usamos como
tecnologia pode vir a ser algo apenas lembrado pela história, algo do passado, mas
que marcou toda uma geração.
Hoje, no século XXI, estamos imersos na era digital, e a editoração não ficou
para trás, é o que percebemos ao pesquisarmos sobre o tema em bases de dados,
como, por exemplo, na Base de Dados de Periódicos em Ciência da Informação
22

(BRAPCI), somos logos expostos a termos como: “editoração digital”, “Sistema


Eletrônico de Editoração de Revistas – SEER”, entre outros. Entretanto, vale refletir
acerca do baixo índice de publicações e estudos que envolvem a editoração como
um todo, principalmente, no que concerne à Biblioteconomia e Ciência da
Informação, quando se comparado a outros temas abordados como temas de
pesquisa.
Para comprovar tal afirmação foram verificados a partir da BRAPCI1,
quantos arquivos seriam recuperados com a consulta do termo “editoração”, e
apenas 116 títulos foram elencados. Ao buscar “editoração AND Biblioteconomia”
apenas 39 títulos foram sugeridos. Não podemos esquecer que o livro impresso
nunca entrou em desuso diante da era digital e que a problematização acerca da
editoração do livro deveria ser mais constante e objeto de estudo da área. Válido
salientar que tal base atualmente disponibiliza referências e resumos de 19.255
textos publicados em 57 periódicos nacionais impressos e eletrônicos da área de CI.
Dos periódicos disponíveis 40 estão ativos e 17 históricos (descontinuados).
Dada essa breve contextualização, é de suma importância conceituar o que
é editoração, desta feita, veremos o que afirma alguns autores sobre a o termo
editoração. Barraco (1975) mostra que, o termo “editoração” relacionado a dois
verbos latinos usados em sua criação, pode ter desenvolvido um equívoco diante do
contexto pelo qual a editoração havia sido criada, e continua explicando:

Um é o verbo “edo, edis, edidi, editum, edere” que significa por fora, fazer
sair, parir, produzir etc.”. O outro é o verbo “educo, is, xi, ctum, edurece”
cujo significado também é conduzir, levar, transportar, colocar fora etc.”.
(BARRACO, 1975, p. 11)

Como para a época a editoração havia sido criada apenas para proteger,
antes de expor, ou pôr para fora a informação, Barraco continua sua afirmação:

Todos os dois são formados pela preposição latina “e” o “ex” que guarda a
idéia de “fora” ou “para fora” preposição que oferece o sentindo ao verbo
que lhe é acrescentado. No primeiro caso então teríamos a junção da
preposição “e” ao verbo “do”, das dedi, datumdare” que significa dar,
oferecer. No segundo caso teríamos a junção de preposição “e” com o
verbo “duco, duci, duci, ductum, ducere, cujo significado é conduzir, levar
etc. (BARRACO, 1975, p. 11)

1
Base de Dados Referenciais de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci). Disponível em:
http://www.brapci.inf.br/index.php/res/. Acesso em: 24 out. 2019.
23

O que nos leva a pensar que os dois verbos, em um primeiro ponto de vista,
possuem o mesmo sentindo, no entanto, Barraco (1975), continua seu raciocínio e
comunica que o segundo caso é o que mais se aproxima da real intenção da criação
da editoração:

[...] no primeiro caso, a expressão verbal com sua preposição nos fornece o
significado de “oferecer para fora ou dar fora”, significado este bastante
afastado daquilo que quis manifestar a editoração ao nascer. No segundo
caso, a expressão verbal, com sua preposição, significaria “conduzir fora, ou
levar para fora”, significado cada vez mais próximo àquilo que, ao início dos
tempos editoriais, este gênero quis oferecer. (BARRACO, 1975, p. 11-12)

Para Dumont et al., “Editoração é o conjunto de teorias, técnicas e aptidões


artísticas e industriais destinadas ao planejamento, feitura e distribuição do produto
editorial final”. (DUMONT et al., 1979, p. 156). As autoras complementam ainda com
a seguinte observação:

A editoração não é simplesmente o ato de produzir material para a leitura. É


acima de tudo um processo caracterizado por um conjunto: este conjunto
por sua vez tem um caráter interdisciplinar de envolver uma multiplicidade
de teorias e técnicas (DUMONT et al., 1979, p. 156).

Ainda sob essa linha de raciocínio consideram que: “enfim, editoração é a


arte e indústria. É unir a criatividade à técnica”. Mais recentemente, destacamos o
texto de Farias, Lima e Santos (2018, p. 64) que explícita o que é a editoração:

Ao pensarmos no conceito do termo editoração somos remetidos ao fazer


do editor e às fases do processo de produção e a publicação de livros,
revistas, cadernos e uma infinidade de outros produtos editoriais; contudo
trata-se de uma tarefa mais ampla.

Já para os ingleses, o editor, como comenta Araújo (1986), tem a


incumbência de coordenar todo o processo pelo qual, a obra original, passará desde
a sua revisão literária, até a sua distribuição. Ou seja, o editor, do inglês publisher
(publishé) o responsável, seja sendo proprietário ou servidor, que possua
habilidades na área da edição, de uma determinada organização, geralmente
editoras, responsáveis pela publicação de livros, em suas palavras:
24

Editor possui o sentido de pessoa encarregada de organizar, selecionar,


normalizar, revisar e supervisar, para a publicação, os originais de uma obra
e, às vezes, prefaciar e anotar os textos de um ou mais autores. (ARAÚJO,
1986, p. 35,)

Araújo (1986) ainda aborda que a linha de raciocínio dos ingleses é também a
de outros povos, perante o termo editor. Temos o francês, éditeur; o espanhol,
editor; o italiano, editore; o português, editor.
Logo, a editoração, por meio dos autores citados, é um processo técnico que
reúne técnicas e práticas que ajudam na construção do livro, ou melhor, dos
produtos editorais, que vão além do livro. Processo que vai desde a entrada do
documento, em seu formato bruto, na editora, até o momento de sua publicação.
Ainda, ousamos em dizer que, editoração é o processo de aprimoramento de
um texto rústico, em que se pode ser chamado de original ou manuscrito, que
passou por várias etapas e procedimentos a fim do seu aprimoramento, ganhando,
ao final, uma nova roupagem. Sobre as atividades do editor, brevemente, Rubiano
(2015) elucida, como editor, que:

É minha função acompanhar a feitura do livro em todos os processos de


produção (recepção do original, revisão do texto, diagramação do miolo,
criação da capa e impressão final), articulando equipes com vários perfis
profissionais [...]. É dever do editor também captar tendências, novas
práticas, perceber o mercado editorial, mesmo que o comercial (RUBIANO,
2015, p. 3).

Assim, compreendemos que o editor é o responsável por toda a


complexidade que é a atividade de editoração, a qual, grosso modo, consiste na
produção de um produto editorial realizado comumente nas editoras sejam elas
públicas ou privadas. A partir dos conceitos acima, podemos entender a importância
da área e seus efeitos. Dessa forma, abordaremos, brevemente, sobre seu
surgimento no Brasil e suas contribuições no decorrer dos anos.

2.1 Editoração no Brasil

No ano de 1808 chegava ao Brasil o que chamamos hoje de atividade


editorial. Em relação a outros países, tal atividade chegou com certo atraso devido
complicações da imprensa no período colonial. O campo editorial só passou a ter
mais visibilidade na década de 1960, entretanto, ainda assim, não era tão
25

considerável devido ao Brasil, dentre outros países da América do Sul, estar em


dificuldades econômicas, afetando, assim, a indústria dos livros (DUMONT et
al.,1979).
Hallewell (1985, p. 5), afirma que os portugueses foram os principais
envolvidos para que houvesse tal atraso, pois impediam a implantação da editoração
no Brasil. Todavia, havia aspectos em que os mesmos utilizavam, dentre eles
estavam os culturais e econômicos, ou seja, as cidades de mais poderes aquisitivos,
centros urbanos, e possuíam uma grande demanda de escambos, seriam as
escolhidas para desenvolver atividades editoriais.

No Brasil, colônia de produção agrícola, a tipografia inexistiu durante quase


todo o período colonial. Na verdade, durante grande parte desse período, a
administração do Brasil era tão rudimentar e a população tão pequena e
espalhada por uma área tão vasta, que a indústria impressora não era
administrativamente necessária nem economicamente possível.
(HALLEWELL, 1985, p. 5)

No entanto, para Knnap (1986, p. 30) “a explosão das grandes editoras no


país começou a partir dos anos 1930, com Monteiro Lobato”. Este, além de escritor,
apresentava-se também como empresário visionário nos métodos de produção e
marketing editorial, sendo com o tempo visto como modelo para outros editores.
Passados 50 anos o Brasil consegue comparar sua sofisticação gráfica e comercial
com outros países que sempre foram reconhecidos por suas tradições na linha da
editoração. (KNNAP, 1986).
Para entendermos um pouco mais, mesmo que de forma rápida, sobre o
processo da editoração/livro no Brasil, expõe-se a leitura do livro Momentos do livro
no Brasil. Seus editores afirmam que tal obra não objetivou realizar um projeto que
trouxesse à tona toda a história, passo a passo, do livro em solo brasileiro, mas, sim,
os momentos mais cruciais para a memória brasileira no que diz respeito aos
caminhos percorridos pela editoração e o livro no Brasil. O projeto segue uma linha
de raciocínio e a inspiração em torno de outra obra, que tem por título O livro no
Brasil – esta, por sua vez, considerada a obra mais completa pelos estudiosos da
área, a que nos remete toda a história do livro no nosso país – de Laurence
Hallewell. (PAIXÃO, 1998).
Diante de uma obra tão rica em detalhes, decidimos adaptar-nos a
“Cronologia: principais momentos da atividade editorial no Brasil”, que o livro nos
traz em forma de linha do tempo e que se subdividem em seis períodos, tais
26

períodos vão de 1808 até 1995. Tal cronologia tem a finalidade de expor, no melhor
sentido da palavra, os autores e editoras que tiveram grande importância no
decorrer desses anos, ou melhor, ao longo do século XX. Então, para sintetizar,
dividiremos a linha do tempo em seis quadros, cada uma representando seu
respectivo período, os quais foram construídos a partir da leitura de Fernando
Paixão (1995):

QUADRO 1: Primeiro período da história da atividade editorial brasileira (1808 -


1914)
PRIMEIRO PERÍODO
ANO ACONTECIMENTO
Mudança da Corte Real Portuguesa para o Brasil.
1808
Início da atividade editorial com a criação da Imprensa Régia.
1810 Criação da Biblioteca Nacional.
1822 Independência do Brasil.
1827 Criação dos cursos jurídicos no Brasil.
1838 Fundação da Typograhia Universal por Eduard Laemmert.
Criação da livraria Garnier por Baptiste Louis Garnier, grande esteio da literatura no
1844 período.
1860 Inauguração da casa Garraux, em São Paulo.
1876 Abertura da Livraria Teixeira em São Paulo, a mais antiga ainda em funcionamento.

1879 Pedro Quaresma funda a Livraria do Povo e a Quaresma & Editores, especializada em
1808 - 1914

livros populares.
1882 O futuro editor Francisco Alves de associa à Livraria Alves, criada por seu tio em 1854.
1888 Abolição da escravatura.
1889 Proclamação da República.
1893 A livraria Alves cria abre uma filial em São Paulo, especializando-se em livros didáticos.

1901 Inauguração da nova sede da Garnier por HippolyteGarnier, com a distribuição da 2ª


edição de "Dom Casmurro" aos convidados.
Publicação de "Os Sertões" de Euclides da Cunha pela Universal, com grande sucesso
de público e crítica.
1902
A Garnier publica "Canaã" de Graça Aranha, o maior sucesso editorial do início do
século.
1904 Reforma urbana do Rio de Janeiro.
1907 Criação da Revista "Vozes" em Petrópolis, que daria nome a editora Vozes.
1910 Inauguração do atual prédio da Biblioteca Nacional na Cinelândia, Rio de Janeiro.

1914 Joaquim Ignácio da Fonseca abre em São Paulo a livraria que daria origem à Editora
Saraiva.
Fonte: Adaptado de Paixão, Fernando (1998). Momentos do livro no Brasil, p. 202. Cronologia:
principais momentos da atividade editorial no Brasil.
27

Em análise, é perceptível que todos os períodos que irão ser expostos aqui,
em uma breve contextualização, foram de grande importância para a indústria
editorial no Brasil nos anos que se seguiram, sobretudo gostaríamos de enfatizar
que, neste primeiro período, que vai de 1808 a 1914.
Paixão (1998, p. 12) faz alusão ao momento de chegada da atividade
editorial ao Brasil nos anos de 1808, que de seu “a partir da transferência da corte
para o Brasil”. Mas, como já citado, era proibido pela administração colonial qualquer
meio editorial, pois temiam uma represália por meio das possíveis críticas que
poderiam a ser veiculadas sobre a colônia.
É visível o grande avanço da área que estava se iniciando no Brasil. Foi
possível perceber a criação de editoras e livrarias criadas durante esses anos
abordados, que marcam o início da editoração brasileira.
Em 1844 era criada a livraria Garnier, pelo Baptiste Louis Garnier,
considerada a base de sustento para a literatura dá época. No mesmo período foram
a ser criadas outras livrarias, dentre elas estão a livraria Teixeira no estado de São
Paulo, a Livraria do Povo que foi criada em conjunto com a Quaresma Editores, a
Livraria Alves abre uma filial em São Paulo e não podemos esquecer da feitura do
Joaquim Ignácio da Fonseca, que inaugurou em São Paulo a livraria que logo mais à
frente se tornaria a Saraiva.
Segundo Paixão (1998, p. 14), Garnier e Laemmert foram os primeiros
editores europeus a investirem em território brasileiro, sendo eles, bastante
importantes para o desenvolvimento da historia do livro no Brasil.
Entre tantas livrarias criadas é justo mostrar as obras que estavam no gosto
popular da época, e com a criação de uma nova sede da Garnier, em 1901, foi
distribuído para todos os convidados a segunda edição do livro Dom Casmurro, de
Machado de Assis. Também ficou por conta da Garnier, um ano após, a publicação
do livro que se tornou o maior sucesso do meio editorial no início do século.Sobre
Machado de Assis, Paixão (1998, p. 21), comenta sobre o ano de 1955 que foi o
inicio dos primeiros passos de Machado de Assis na escrita, mas só em 1899 que o
mesmo passou a ser reconhecido, pois sua obra, Dom Casmurro, foi sucesso, o que
levou a Livraria Garnier lançar a segunda edição da obra em sua inauguração.
O primeiro período ainda contou com as seguintes publicações: Canaã, de
Graça Aranha, outra obra com grande sucesso em público e crítica foi Os sertões,
do Euclides Cunha, pela Universal. E a criação da revista “Vozes”, no ano de 1907,
28

em Petrópolis logo daria nome a editora Vozes, uma importante editora ainda em
funcionamento nos dias atuais.

QUADRO 2: Segundo período da história da atividade editorial brasileira


(1914 – 1930)
SEGUNDO PERÍODO
ANO ACONTECIMENTO
1914 Início da Primeira Guerra Mundial.

1915 A Melhoramentos inicia suas atividades como editora com a publicação de "O
patinho feio".
Criação da "Revista do Brasil", revolucionária no aspecto gráfico e como experiência
1916 de distribuição.
Revolução Russa.
1917
Publicação de Urupês, primeiro grande sucesso de Monteiro Lobato.
1918 Final da Primeira Guerra Mundial.
Criação da Monteiro Lobato & Cia., primeira oficina gráfica moderna voltada para a
1919 produção de livros.
São Paulo faz a primeira reforma de ensino com Sampaio Dória
1920 Lobato publica A menina do narizinho arrebitado com a extraordinária tiragem de
50 500 exemplares.
Eclode o Movimento Tenentista no Rio de Janeiro.
Semana de Arte Moderna em São Paulo.
1914 - 1930

1922 Inauguração da Rádio por iniciativa de Roquete Pinto.


Começa a circular a revista Klaxon, modelo para as demais revistas modernistas.
Revolução Tenentista em São Paulo.
1924
A Biblioteca Nacional inicia sua série Documentos Históricos.
Falência da Monteiro Lobato & Cia.
1925
Monteiro Lobato e Octalles Ferreira fundam a Companhia Editorial Nacional.
Inauguração da Biblioteca Municipal de São Paulo, hoje Biblioteca Mário de
Andrade.
1926
Início das atividades da São Paulo Editora, que aprimorou o aspecto gráfico do livro
brasileiro.
1927 Criada a Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais.
Reforma do ensino no Rio de Janeiro por Fernando Azevedo.
Livraria do Globo, futura Editora Globo, de José Bertaso, inicia sua atividade
1928 editorial em Porto Alegre.
Primeira edição de Macunaíma.
Oswald de Andrade cria a Revista de Antropofagia.
1929 Crack da Bolsa de Valores de Nova York
Publicação de Alguma poesia de Carlos Drummond de Andrade, que inclui o poema
1930 "No meio do caminho."
Fonte: Adaptado de Paixão, Fernando (1998). Momentos do livro no Brasil, p. 203. Cronologia:
principais momentos da atividade editorial no Brasil.
29

O segundo período teve início no ano de 1914 e, seu fim, em 1930, e logo
em 1915 era publicado a obra O patinho feio, que faz sucesso até hoje entre o
público infantil, a veiculação de tal obra ficou por conta da Melhoramentos Editora
que estava iniciando suas atividades no ramo. Paixão (1998, p. 74) afirma: “tendo
iniciado com uma tipografia, a família Weiszflog passou a editar livros e foi a pioneira
na produção de papel de impressão”. A partir de tal evento, os Weiszflog mudaram
sua forma gráfica e editorial.

Foi a partir do lançamento de O patinho feio, em 1915, que Weiszflog


Irmãos & Cia. decidiu mudar seu perfil gráfico editorial. Até então a empresa
era líder do mercado de livros comerciais, e desde 1909 produzia material
escolar, sobretudo mapas e cadernos de caligrafia. (PAIXÃO, 1998, p. 74).

Surgiria, em 1917, o primeiro grande sucesso do Monteiro Lobato, por título


Urupês, três anos mais tarde, ele lançaria A menina do narizinho arrebitado com um
recorde extraordinário em sua tiragem. Ainda neste mesmo período foi publicados a
primeira edição de Macunaíma, do Mário de Andrade, como também Alguma poesia,
de Carlos Drummond de Andrade, não esquecendo que nessa obra está incluso o
famoso poema “No meio do caminho”.
Dá início as suas atividades neste mesmo período a “Revista do Brasil”, a
“Monteiro Lobato & Cia”, que mais tarde abriria falência, no entanto o Lobato entra
como sócio de Octalles Ferreira e criam a “Companhia Editorial Nacional”, a revista
“Klaxon”, a “Biblioteca Municipal de São Paulo”, a “São Paulo Editora”, a “Revista de
Antropofagia”, a “Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais”, como também a
“Livraria do globo” que seria anos depois a “Editora Globo”, que segue ainda em
funcionamento em nosso século XXI. Sobre algumas dessas editoras, revistas
criadas na época, Paixão (1998, p. 56), afirma que: “arrematando maquinas
importadas por Lobato, a São Paulo Editora e a Revista dos Tribunais começaram
seu parque gráfico”.

QUADRO 3: Terceiro período da história da atividade editorial brasileira


(1930 – 1945)
TERCEIRO PERÍODO
ANO ACONTECIMENTO
1930 -

Getúlio Vargas é vitorioso na Revolução de 3 de outubro.


1930 Criação do Ministério da Educação e saúde sob a direção de Francisco Campos.
1945

A primeira edição de O quinze de Rachel de Queiroz é impressa no Ceará.


30

A companhia Editora Nacional inaugura a coleção Biblioteca Pedagógica Brasileira


dirigida por Fernando de Azevedo.
Augusto Frederico Schmidt publica O país do Carnaval de Jorge Amado.
1931
José Olympio abre sua livraria em São Paulo, comprando a Biblioteca particular de
Alfredo Pujol.
Início das atividades das Edições Paulinas.
Revolução Constitucionalista em São Paulo.
1932 A Editora Anderson publica Menino de engenho, primeiro romance de Jorge Lins do
Rego.
Publicação de Evolução política no Brasil, de Caio Prado Jr.
Sai pela editora Schmidt a primeira edição de Casa grande & senzala, de Gilberto
1933 freyre.
Publicação de Caetés, o primeiro romance de Graciliano Ramos, pela editora
Schmidt.
Criação da Universidade de São Paulo
1934
José de Olympio se estabelece no Rio de Janeiro
1935 Criação da Universidade do Rio de Janeiro
Coleção Documentos Brasileiros, da José Olympio, dirigida por Gilberto Freyre,
1936
publica seu primeiro número: Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
Início do Estado Novo.
Criação do Instituto Nacional do Livro, dirigido pelo poeta gaúcho Augusto Meyer.
1937
A W. M Jackson inaugura o sistema de venda de coleções com as obras completas de
Machado de Assis.
Início da Segunda Guerra Mundial
1939
A Tecnoprint inicia suas edições de bolso com a marca Edições de Ouro.
Criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).
1940
José de Barros Martins inicia carreira de editor.
1942 Pedro Sciliano inaugura sua primeira livraria.
Criação do Clube do Livro, o primeiro no estilo no Brasil
1943
Ex-funcionários da Companhia Editora Nacional criam a Editora do Brasil.
Arthur Neves, Caio Prado Jr. e Leandro Duprê fundam a Editora Brasiliense, com a
1944
colaboração de Monteiro Lobato.
Final da Segunda Guerra Mundial.
1945
Getúlio é deposto.
Fonte: Adaptado de Paixão, Fernando (1998). Momentos do livro no Brasil, p. 204. Cronologia:
principais momentos da atividade editorial no Brasil.

O terceiro período já se inicia no ano de 1930 e com um grande marco, a


criação do Ministério da Educação e Saúde.

Através do Ministério da Educação e Saúde, por exemplo, realizou uma


ampla reforma do ensino, que acabou beneficiando a indústria do livro –
imediatamente consolidando o mercado didático e a médio prazo ampliando
o público leitor. (PAIXÃO, 1998, p. 80)
31

Entre os anos de 1930 a 1945 foram quinze anos de grandes publicações,


começando pela autora Rachel de Queiroz que publicou no Ceará a primeira edição
de O quinze. O país do Carnaval, de Jorge Amado, também foi lançado no mesmo
período. Graciliano Ramos tem seu primeiro romance veiculado pela editora Schimit,
com o título Caetés. Os livros Evolução da política no Brasil do Caio Prado Jr. e
Casa Grande & senzala, de Gilberto Freire também foram publicados entre esses
anos, obras tidas como clássicas das Ciências Sociais. Outro livro que ficou
reconhecido entre os anos do terceiro período foi Menino de engenho, escrito pelo
Jorge Lins do Rego.
Entre as livrarias e editoras que tiveram início estão “Edições Paulinas”,
“Sciliano”, “Editora Brasil” e a “Editora Brasiliense”. É importante expor, no mesmo
período, a criação de duas unidades de ensino superior no Brasil, a Universidade de
São Paulo, no ano de 1934 e a Universidade do Rio de Janeiro, um ano mais tarde.
Em 1937, estava sendo criado o Instituto Nacional do Livro (INL), que
segundo Paixão (1998, p. 94), “foi criado por Getúlio Vargas para fazer uma
enciclopédia brasileira, o Instituto Nacional do Livro cumpriu papel importante na
disseminação da leitura no Brasil”.
Em 1940 era iniciado Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), e por
fim, neste quesito, em 1943 estava sendo criado o primeiro Clube do livro.
Destacamos a importância do INL para a publicação de diversos livros, os quais
eram inclusive doados para as bibliotecas públicas estaduais e municipais
brasileiras.

QUADRO 4: Quarto período da história da atividade editorial brasileira


(1945 – 1964)
QUARTO PERÍODO
ANO ACONTECIMENTO
1945 Redemocratização do país com a queda de Getúlio Vargas.
1946 Fundação da Câmara Brasileira do Livro.
1945 - 1964

1947 Eva e Kurt Herz abrem um pequeno negócio de aluguel de livros, que daria origem
à Livraria Cultura.
1948 Início da Coleção Saraiva de livros vendidos à domicílio.
1949 Érico Veríssimo publica a primeira parte de O tempo e o vento.

1950 Implantação da televisão no Brasil e inauguração do MASP, ambas por iniciativas


de Assis Chateaubriand.
1951 Criação da editora Difel.
32

Início da publicação da revista Anhembi.


Ênio Silveira assume a direção da Civilização Brasileira.
1953 A editora Maltese lança a primeira enciclopédia em cores do Brasil.
Tem início a história de Zahar Editores.
1955 Criação da revista "Brasiliense", de orientação marxista.
Eleição de Juscelino Kubitscheck.
É criada a editora Cultrix.
Guimarães Rosa publica pela José Olympio a versão definitiva de Sagarana e
Grande sertão: veredas, sua obra-prima.
1956 José Olympio publica Duas águas de João Cabral de Melo Neto, que inclui Morte e
vida Severina.
Tem início a coleção Vera Cruz de literatura brasileira com Encontro marcado, de
Fernando Sabino.
Sai o primeiro número da Revista do Livro, publicada pelo INL.
Criação do GEIL (Grupo Executivo da Indústria do Livro).
1959
A Editora Itatiaia inicia suas atividades em Belo Horizonte.
Inauguração de Brasília.
1960 Surge a Editora do Autor, associação entre Rubem Braga, Fernando Sabino e
Manuel Bandeira.
1961 Fundação da editora Tempo Brasileiro.
1962 A civilização Brasileira inicia a edição dos Cadernos do Povo Brasileiro.
1964 Sai pela Editora do Autor A paixão segundo G. H., de Clarice Lispector.
Fonte: Adaptado de Paixão, Fernando (1998). Momentos do livro no Brasil, p. 205. Cronologia:
principais momentos da atividade editorial no Brasil.

Entre os anos 1945-1964 está o quarto período de momentos importantes


para a atividade editorial no Brasil. No Ano de 1945, com o final da Guerra, o
mercado editorial caiu em crise, algumas editoras vieram a fechar suas portas,
entretanto, nesse mesmo período, mantinha-se uma estabilidade mediante a sua
produção.
A guerra acabou, Getúlio caiu. O mercado editorial enfrentava novo período
de dificuldades, inclusive o fechamento de várias editoras sobretudo devido
à taxa cambial que se tornara desfavorável para o livro. Entretanto, o setor
entrava numa fase de estabilização, com a produção média anual de 20
milhões de exemplares. (PAIXÂO, 1998, p. 108)

Logo, em 1946, é fundada a Câmara Brasileira do Livro (CBL), em


funcionamento até hoje e de grande importância para cenário editorial. Em 1947,
com uma visão empreendedora, Eva e Kurt Herz, iniciam um negócio de aluguel de
livros o que resultou na criação da “Livraria Cultura”. A Saraiva dava início no
mesmo período a série de livros vendidos à domicílio, uma prática amplamente
comercializada atualmente, sobretudo, em razão das facilidades das tecnologias de
informação.
33

Na década de 1940 também ficam marcados pelo início de uma nova


estética no meio editorial do Brasil, tudo isso se deu pela iniciativa de Santa Rosa.
(PAIXÃO, 1998, p 118).

O livro brasileiro perdia de longe em comparação com os estrangeiros,


sobretudo os de origem européia, até a década de 30. Dizia-se que os
editores nacionais não estavam preocupados com o aspecto visual das
obras que lançavam, e o que importava mesmo era o conteúdo. Por isso é
que brochuras mal aparadas, tipos (letras) grosseiros e impressão
descuidada eram comuns nos livros brasileiros (PAIXÃO, 1998, p. 118)

Todavia o paraibano Santa Rosa mudou o cenário editorial brasileiro em


relação a estética das obras, como afirma PAIXÃO (1998, p. 118):

Mas as mudanças de ordem gráfica acabariam vindo com o tempo, e em


geral inspiradas em obras francesas, cujas edições de luxo despertavam a
admiração dos editores e do público. José Olympio foi o primeiro a atentar
para a questão. Na verdade, ele e seu colaborador Tomás Santa Rosa
foram os responsáveis pela primeira revolução estética no mercado editorial
brasileiro, que daria aos livros capas mais sofisticadas, ilustrações e leveza.

As editoras Difel, Zahar Editores, Cultrix, Itatiaia, Editora do Autor e a


Templo Brasileiro dão início as suas atividades entre os anos que fazem parte do
quarto período, como também tivemos a criação das revistas Anhembi, Brasiliense e
a revista do Livro. Não podemos esquecer-nos das obras veiculadas nesse período,
começando pelo autor Érico Veríssimo com a publicação da primeira parte de O
tempo e o vento. Guimarães Rosa, por sua vez, traz duas publicações, Sagarana e
Grande sertão: veredas, João Cabral de Melo Neto também tem sua obra impressa,
a Duas águas e Clarice Lispector publica o livro A paixão segundo G. H. Vale
ressaltar que também foi publicada a primeira enciclopédia em cores no Brasil pela
editora Maltese.

QUADRO 5: Quinto período da história da atividade editorial brasileira


(1964 – 1980)
QUINTO PERÍODO
ANO ACONTECIMENTO
1964 Os militares tomam o poder.
1964 –

Começa a ser editada a revista "Civilização Brasileira".


1985

Fundação de Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica).


1965
Início das atividades da Editora Ática.
Criação da Nova Fronteira.
34

Tem início a publicação dos fascículos da Editora Abril com A Bíblia mais bela do
mundo.
Começa a atuar a Editora Perspectica.
Fernando Sabino e Rubem Braga fundam a Editora Sabiá.
Surge a editora Paz e Terra
1966
Criação do Geipag (Grupo Executivo da Indústria de Papel e Artes Gráficas).
É criada a Colted (Comissão Nacional do Livro Técnico e didático).
Criação da Embratel.
1967 Criação do Mobral.
Criada a editora Imago, para publicar as obras completas de Sigmund Freud.
1968 Decretação do Ato Institucional número 5.
1970 A Câmara Brasileira do Livro organiza a I Bienal Internacional do Livro (SP).

1971 Publicação de A fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida, marco da
renovação da literatura infantil.
A produção brasileira ultrapassa a barreira de um livro por habitante no ano.
1972 A editora Record compra da Martins os direitos autorais de diversos autores
brasileiros, entre eles Jorge Amado e Graciliano Ramos.
Começa a "crise do milagre".
1973
A Editora Abril lança o Círculo do Livro, a mais bem-sucedida experiência no setor.
1974 Surge a L&PM, editora gaúcha de maior projeção no período
A Nova Fronteira publica o "Novo dicionário da língua portuguesa", o Aurélio.
1975 Começa a atuar a Editora Rocco.
A Ática inicia sua atuação em textos universitários lançando a coleção Ensaios.
Início da abertura do regime militar: movimentos pela anistia, sindicalismo, novos
partidos.
1977
Surge a Nova Aguilar, especializadas em obras completas.
Início da publicação de "Leia Livros".
1980 A Brasiliense inicia a edição da Coleção Primeiros Passos.
Fonte: Adaptado de Paixão, Fernando (1998). Momentos do livro no Brasil, p. 206. Cronologia:
principais momentos da atividade editorial no Brasil.

O quinto período tem início com a tomada do poder pelos militares, o que
causou uma grande censura ao que era referente à cultura.

No campo cultural instalou-se a autoridade implacável da censura: centenas


de peças teatrais, letras de músicas, roteiros de filmes e até mesmo
sinopses de novelas foram proibidas. A perda da liberdade de expressão foi
ainda mais abrupta na imprensa periódica em que, durante anos, vigorou a
censura prévia. O mesmo aconteceu com os livros, considerados perigosos
veículos de idéias contestatórias. O arbítrio dos censores condenou uma
infinidade de títulos, tendo como consequência a apreensão de inúmeras
edições e a prisão de diversos autores e editores. Ênio Silveira e a sua
Civilização Brasileira figuraram entre os mais visados pela ditadura.
(PAIXÃO, 1998, p. 142)

Mesmo com toda a censura, as quantidades de editoras em funcionamento


não paravam de crescer, assim, Paixão (1998, p. 143), conclui que:
35

Apesar da censura, o número de editoras em funcionamento aumentou e,


no início da década de 80, atingiu a marca das quatro centenas. Algumas
delas, como a Ática, a Paz e Terra, a Perspectiva e a Zahar, destacam-se
pela densidade política de alguma de suas publicações, especialmente as
coleções universitárias. Foi também um momento de inovação gráfica e
editorial: pela primeira vez organizaram-se as listas dos mais vendidos;
multiplicaram-se resenhas de lançamentos, tanto em colunas de jornais e
revistas como em publicações especializadas sobre livros.

Dito isto, passamos para o Quinto Período, que ficou marcado pela criação
de inúmeras editoras, como podemos ver, então surgiram tais empresas do ramo da
editoração: Editora Ática, Nova Fronteira, Editora Perspectiva, Editora Sabiá, Editora
Paz e Terra, Editora Imago, L & PM, Editora Rocco, Nova Aguilar e a Leia Livros.
Podemos perceber que os anos deste momento período foram de grande
visibilidade e salto entre os empresários que investiam no ramo da edição.
Diante dos fatos expostos, é interessante ainda expor além do fim do golpe
civil-militar, mais três acontecimentos: o primeiro foi a realização da Primeira Bienal
do Livro no estado de São Paulo, idealizado pela Câmara Brasileira do Livro; o
segundo acontecimento fica por mérito da escritora Fernanda Lopes de Almeida que
a partir da publicação do seu livro A fada que tinha idéias, renovou a literatura infantil
da época; o terceiro acontecimento, é datado no ano de 1972 e diz que a produção
brasileira ultrapassa a barreira de um livro por habitante.

QUADRO 6: Sexto período da história da atividade editorial brasileira


(1980 – 1995)

SEXTO PERÍODO

ANO ACONTECIMENTO
1981 O SNEL organiza a I Bienal do Livro do Rio de Janeiro

1983 A Ática publica o Engenho Colonial, estabelecendo um padrão de livros


paradidáticos.
Fim do regime militar com eleição indireta de Tancredo Neves.
1985
A Pensamento-Cultrix lança O tão da física, de Fritjof Capra.
1980 -1995

Início da onda dos esotéricos com a publicação As brumas de Avalon de Marion


1986 Zimmer Bradley.
Luiz Schwarcz cria a Companhia das Letras.
1987 A editora Rocco publica Diário de um mago, de Paulo Coelho.
1989 1ª eleição direta para presidente da República desde 1960.
1992 O presidente Fernando Collor de Mello é afastado por impeachment.
É lançado em CD-ROM a "LIS - Legislação Informatizada Saraiva".
1994 O Brasil é o país-tema da Frankfurt Book Fair.
A XIII Bienal Internacional do Livro vende mais de 13 milhões de exemplares.
36

Fonte: Adaptado de Paixão, Fernando (1998). Momentos do livro no Brasil, p. 207. Cronologia:
principais momentos da atividade editorial no Brasil.

Chegamos então ao Sexto período, com data de início 1980, e têm seu final
em 1995, alguns anos antes da virada de um novo milênio. E o meio editorial passa
a competir com os meios audiovisuais, porém nessa década, o publico jovem ficou
mais atraído pela leitura. Segundo as palavras de Paixão (1998, p. 78), na época da
escrita de sua obra:

Apesar da concorrência dos meios audiovisuais, mas, por vezes, estimulada


por eles, a leitura tem atraído o público jovem. Desde os anos 80 um
segmento do mercado vem se dirigindo a essa significativa parcela da
população brasileira, e com tal êxito que chega a rivalizar em vendagem
com livros para adultos. A literatura infanto-juvenil mantém, na atualidade,
intenso diálogo com as escolas, agrada os alunos e alavanca a produção
editorial.

Em 1981, era realizada a Primeira Bienal do Livro no Rio de Janeiro, evento


que ocorre até os dias de hoje. O quadro nos remete a mais uma informação sobre a
Bienal Internacional do Livro com uma expressiva venda de livros. Entre os livros
publicados na era estão Engenho Colonial, O tão da física, de Fritjof Capra, As
brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley e Diário de um mago, do Paulo
Coelho. Em 1986 era criada a Companhia das Letras.
Entre o primeiro e o sexto período, como ficou dividido nos quadros
expostos, são quase 200 anos de história, e uma história bastante rica em detalhes.
É louvável o papel de algumas editoras e livrarias que estão no mercado até hoje.
Também, podemos enfatizar as grandes obras nacionais que, ainda hoje, são atuais,
certamente, clássicos editados pelas editoras brasileiras E não podemos esquecer-
nos da Bienal do Livro, evento que ano após ano reúne os apaixonados por livros e
leitura no Brasil, evento este criado no século passado.
Remontar essa história da editoração brasileira demonstrou como é cheia de
importantes acontecimentos e como ela é complexa. Assim, podemos dizer que, o
livro/linha editorial no Brasil foi um ato de resistência. Continuar essa história
constituiria em um processo de pesquisa que, certamente, poderia ser o foco de um
outro trabalho. Todavia, optamos por seguir com os processos e as fases
necessárias da editoração nos capítulos a seguir.
37

2.2 Processos da Editoração

Na apresentação do seu livro, Ensaios de editor: pensando livros, projetos e


práticas, Rubiano (2015) relata sobre sua vivência como editor e, em suas palavras,
manifesta o desejo que o leitor, após possuir uma obra, nunca mais observe o livro
apenas com o olhar de leitor, mas “também como um fazedor dele”. Assim Rubiano
(2015) continua externando sua compreensão pela editoração/edição e enfatiza que:

Minha proposta é refletir o editor como um arranjador de um dos


instrumentos mais caros ao conhecimento e, conseqüentemente, à
liberdade proporcionada por ele, tal qual um barco que nos leva longe, a
mares densos, mas que, se bem guiado, nos traz de volta, agora
atravessados por experiências novas, enriquecedoras, primordiais para
reencontrar a realidade sobre uma ótica não mais estanque, alargando
perspectivas e estimulando ações. Fazer parte desse percurso é um
privilégio. Sinto-me assim, pois é um prazer trabalhar com livros,
(RUBIANO, 2015)

Ao entrar, de fato no assunto sobre o editor, Rubiano (2015) faz menção à


obra de Plínio Martins Filho, A arte invisível, e assim, infere que tal obra traz um
conjunto de frases pensadas por especialistas acerca das áreas de design e edição
de livros. Sobre a obra, Rubiano (2015, p. 19) afirma que:
O objetivo da publicação é dar relevo às escolhas gráficas e tipográficas
feitas pelo designer, as quais, normalmente, passam despercebidas aos
olhos do leitor. Este se prende ao conteúdo, não atentando para o fato de
que a elaboração visual e gráfica contribui para a plena fruição desse objeto
de consumo.

Todavia, reforça o pensamento sobre o leitor não perceber, de fato, todo o


processo de transformação que foi gerado no material que se encontra em suas
mãos. Seguindo a mesma linha de raciocínio da citação acima o autor transfere a
mesma lógica ao que diz respeito ao fazer do editor:

Nesse sentido, irei transferir a mesma lógica para o trabalho do editor, ou,
de um modo geral, para aqueles que realizam a prática profissional de
“intervenção nos textos”, termo proposto por José de Souza Muniz Jr. em
sua dissertação de mestrado. Para esse pesquisador, incluem-se nessa
categoria todos os envolvidos no trabalho de tornar um texto publicável em
livro, incluindo nesse rol a figura do editor. (RUBIANO, 2015, p. 19)

Então, para que o texto possa ser aprovado para sua publicação em formato
de livro é necessário que o mesmo passe pelo processo de editoração, ou seja,
38

várias profissionais o terão em mãos. Então, Rubiano (2015) intitula um dos


capítulos do seu livro de “Várias mãos sobre o mesmo livro”.

É conhecido que o livro não é feito por um só. O autor, ao concluir o seu
texto, não o tem finalizado, tal qual é posto na livraria, é claro. Antes disso,
o conteúdo passa por diversos profissionais que viabilizam sua
metamorfose em produto para o conhecimento e (por que não?) para o
mercado. (RUBIANO, 2015, p. 27)

Assim, Rubiano (2015) faz um traçado pelos principais passos que o


manuscrito irá percorrer durante seu processo de editoração, assim podemos
visualizar as cinco etapas segundo o autor: “revisão de originais ou preparação de
textos”; “diagramação do texto”; “revisão de provas”; “criação da capa”; “enviar
arquivos à gráfica”. Sabemos que esses processos podem ser mais detalhados a
depender da complexidade da editora onde se realiza a atividade, que pode ter mais
ou menos editores em sua equipe, por exemplo.
Mas, antes de entramos a fundo nos processos e fases da editoração, é
importante lembrar que como qualquer instituição, empresa, departamento, tudo tem
seu início mediante a uma política que irá reger todos os processos idealizados ou
que, de alguma, forma será solicitada pelos seus clientes. Não é diferente quando
falamos sobre a editoração, pois é de suma importância que a editora possua sua
política editorial
Os objetivos corporativos de uma editora ou de uma instituição especificam
as áreas editoriais amplas através das quais seus negócios, objetivos
sociais ou institucionais serão alcançados. A equipe editorial tem que se
defini dentro desses objetivos declarados: áreas de edição; métodos pelos
quais essas áreas serão atingidas; a ênfase que se deve dar a cada área;
definição do tempo em que o programa editorial será desenvolvido.
(UNESCO, 1992, p. 46)

Para se tomar todas essas decisões são de suma importância um estudo em


que aponte quais as melhores estratégias deverão ser seguidas tendo por base toda
a ambientação da instituição, quais suas ambições mediantes ao mercado de
trabalho, sua função mediante ao contexto cultural e não podemos esquecer-nos do
enfoque no seu público alvo.

Portanto, os gerentes editoriais requerem como um pré-requisito a filosofia


da empresa para identificar, entre outras coisas, como, por que e onde
estão os originais para ser editados, o processo pelo qual eles serão
avaliados e os autores mantidos informados, o tipo de suporte que o livro
receberá em termos de propaganda e promoção, qual é o público alvo e
como esse público terá conhecimento do livro [...], quais serão os passos
39

para desenvolver autores, quais as novas áreas de edição previstas e em


qual seqüência essas áreas serão implementadas. A filosofia editorial deve
também atribuir aos vários participantes da equipe editorial seus respectivos
papéis, funções e limites, de modo que a operação total se realize em um
fluxo, sem qualquer desvio. [...] Ela deve funcionar como um plano de
trabalho baseado na facilidade de objetivos comunicáveis para a consulta e
adesão de todos os participantes da editora. (UNESCO, 1992, p. 46)

Sobre todas essas afirmativas, é de suma importância também para que os


autores, que possuem o desejo de publicar seus textos originais, se atenham
principalmente no conceito da linha editorial em que a editora buscou para si.

A conversão de idéias do escritor em livros é o processo editorial que


acontece quando o manuscrito é analisado e aprovado para publicação. É
um procedimento que demanda tempo para ser efetuado, pois todo original
deve ser analisado a fim de chegar a uma tomada de decisão: publicar ou
não a obra. (SOUZA, 2017, p. 14)

Pois de que adianta um manuscrito de tema “Literatura – Ficção” ser enviado


para avaliação de uma editora que só publique livros da linha “Didática”? Lembrando
que o mesmo será avaliado em diversos aspectos, sobretudo no que diz respeito a
sua temática, e para que o mesmo passe pelo crivo do ser aprovado ou não, é
necessário que o produto esteja dentro da política editorial desenvolvida pelos
editores que compõem a equipe da editora.

2.2.1 Fases da editoração

Essa seção está fundamentada no “Manual de Editoração da Empresa


Brasileira de Pesquisa Agropecuária” (EMBRAPA), em razão da sua completude e
possibilidade de sistematização mais clara das fases da editoração. O documento
ressalta que o processo e fluxo editorial requer uma diversidade de profissionais
alinhados e qualificados perante o objetivo final, que é a produção de um livro, por
exemplo. Cada profissional possui sua função e é fundamental em todo o processo.
Tal processo, para a Embrapa, divide-se em três fases, fase (a), fase (b) e fase (c).
Cada fase está atribuída a determinados profissionais.
A fase (a) caracteriza-se pelo “Processo Decisório”, e fica sobre a
responsabilidade de tais agentes e departamentos: Diretoria e chefia da unidade,
Chefia de P&D, Chefia de comunicação e negócios, Editor técnico e/ou autor,
40

Comitê de publicações. Como já está implícito, a fase tem como objetivo os


processos de decisão, geração e aprovação dos projetos.
A fase (b), intitulada “Atividades de Editoração”, está sobre os comandos do
Editor Técnico e/ou autor e conta com os serviços dos seguintes profissionais: o
Supervisor editorial, o mesmo fica incumbido de pelo processo de conferência a fim
de identificar se todos os requisitos para a obtenção dos originais foram atendidas; o
Revisor, responsável pelo processo de correção ortográfica, visando a melhor forma
gramatical, sintática e semântica em que o texto aparecerá em sua seu produto final;
o Bibliotecário – este um dos temas centrais do referido estudo – fica responsável
pela arte da normalização, dentre elas, a normalização de citações e referências,
seguindo sempre as normas em vigências da ABNT ou de outras normas que a
empresa prefira seguir, ainda, podemos associar ao fazer bibliotecário, a criação das
fichas catalográficas e solicitação de ISBN e ISSN; o Programador visual,
encarregado de toda a parte gráfica da obra, capa, diagramação, fonte utilizada, a
fim de se chegar a uma produção visual que agrade ao cliente e aos futuros leitores
da obra; o Guardião da marca, após a finalização do projeto gráfico o guardião
possui a função de fiscalizar a utilização da marca no projeto; o Formatador, é o
responsável pelas correções finais de formas da obra, seja ela sendo um livro
impresso ou digital; o Cadastrador de publicação, etapa final da fase (b), é o
momento em que a obra será registrada, momento de muita importância e atenção,
visto não se deve ter erros, pois é nessa fase de registro que serão atribuídos os
responsáveis pela obra.
A fase (c), última fase da produção, é reconhecida como “Produção Gráfica”,
e conta com a supervisão do cadastrador de publicações. Então, como
colaboradores temos: o Técnico em fotomecânica, responsável pela manipulação
das chapas em seu processo de gravação, ao final da gravação das chapas segue-
se para impressão e mediante as páginas impressas, forma-se o caderno, ou como
conhecemos miolo do livro; o Impressor fica com a responsabilidade de manipular os
equipamentos de impressão do livro; o Profissional de acabamento, não menos
importante que todos os outros e que desempenha o processo final da obra, fica
sobre sua responsabilidade tais atividades: dobra, vinco, picote, alceamento,
colagem e costura, encadernação, plastificação, corte e muitos outros.
41

FIGURA 1: Fases da editoração e seus responsáveis

Fonte: elaborado a partir do Manual de Editoração da Embrapa, 4. ed. 2017.

Então, como representado na figura 1, as fases da editoração vão desde o


processo decisório, passando pela editoração como um processo e finaliza na
produção gráfica onde se tem o produto finalizado, impresso ou digital. Ressaltando
que todo o processo possui a finalidade central de pôr no mercado editorial um novo
produto informacional, um produto editorial, que passou por um processo de
transformação.

2.2.2 Fases da editoração eletrônica

Comenta-se, com frequência, a respeito dos avanços tecnológicos, no meio


editorial não foi diferente. Mediante aos avanços do campo editorial a editoração
eletrônica vem sido alavancada principalmente pelo fato da veiculação da
informação ser mais rápida nesse meio se comparado às informações em formato
impresso, e todo esse fator se deve ao surgimento e desenvolvimento da internet e
das tecnologias de informação e comunicação.
Com o avanço das tecnologias, desde a década de 1990, passou-se a haver
um contínuo redirecionamento de periódicos do meio tradicional para o formato
eletrônico, como também é bom lembrar que alguns periódicos hoje em dia já
nascem digitais. Destarte, não foi apenas o livro que sofreu modificações em seu
42

processo de produção e editoração, o periódico, outra fonte de informação, também


é impactado pelas tecnologias. Nessa direção, destacamos que:

A internet tornou-se o principal veículo para divulgação dos periódicos


científicos pela facilidade de uso e de publicação em relação ao impresso,
sendo que a redução de custos também é visível, além da agilidade com
que as pesquisas são divulgadas. Na chamada era da informação, verifica-
se um aumento considerável na produção e no consumo de informação.
Neste sentido, os periódicos eletrônicos disponíveis em rede, tornam-se
uma importante ferramenta de divulgação de informações. (COUTINHO;
BUSE, 2014, p. 4)

O que comprova que o advento da internet veio para somar, principalmente


para os editores, pesquisadores e cientistas que podem reaver informações para
suas pesquisas com as buscas em periódicos, bases de dados, repositórios digitais,
etc. Sendo assim, é de suma importância mostrar, particularmente, o processo de
editoração de um periódico, visando quais do processo o bibliotecário pode tomar
para si como responsabilidade ao fazer parte de uma equipe editorial, bem como
outras séries de atividades.
Podemos visualizar no Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e
Tecnologia (IBICT) o apoio para o uso do Sistema Eletrônico de Editoração de
Revistas (SEER), que foi criado em 2003, tendo como modelo base o Open Journal
Systems (OJS) que é um software criado pelo Public Knowledge Project (PKP) na
University of British Columbia, e foi idealizado com o intuito de assegurar o ato de
gerenciamento das publicações de revistas eletrônicas. (BRASIL)

O Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) é um software


desenvolvido para a construção e gestão de uma publicação periódica
eletrônica. Esta ferramenta contempla ações essenciais à automação das
atividades de editoração de periódicos científicos. Recomendado pela
CAPES, o processo editorial no SEER permite uma melhoria na avaliação
da qualidade dos periódicos e uma maior rapidez no fluxo das informações.
A aceitação do SEER pela comunidade brasileira de editores científicos vem
do desempenho do sistema e de sua fácil adaptação aos processos de
editoração em uso. Também o SEER permite que a disseminação,
divulgação e preservação dos conteúdos das revistas brasileiras
apresentem uma melhoria na adoção dos padrões editoriais internacionais
para periódicos on-line 100% eletrônicos. (BRASIL, 2019)

No Brasil, o primeiro periódico a se aliar ao SEER, após a tradução do


software da OJS para a língua portuguesa realizada pelo IBICT, foi a revista “Ciência
da Informação”. Desde então, a ferramenta SEER passou a ser distribuída entre
vários editores brasileiros, que demonstravam interesse em publicações de revistas
43

eletrônicas de acesso livre em ambiente virtual. Com o sucesso do software, ao


mesmo tempo em que era distribuído, o IBICT teve a iniciativa de montar formas de
capacitação técnica para o uso da ferramenta. Os treinamentos tiveram início no ano
em novembro de 2004 alcançando várias regiões do país. Após cinco anos de
atividades, em 2009, a ferramenta SEER já havia possibilitando a criação de
diversos periódicos científicos no Brasil, alcançando a marca de mais de 800 títulos
em veiculação, fortalecendo inclusive o movimento do acesso aberto as publicações,
que são um problema político, econômico, científico, quando também se aborda os
periódicos. (BRASIL, 2019)
Em virtude do grande crescimento dos periódicos científicos no Brasil e no
mundo, é interessante a abordagem acerca das etapas da editoração eletrônica, ou
seja, a editoração no que diz respeito às revistas cientificas. Então, mediante ao
Guia do Usuário do OJS 3, de 2018, é possível termos uma visualização dos
processos editoriais que vão desde a submissão do documento até a sua
publicação. Vale salientar que, assim como na editoração convencional, a editoração
eletrônica necessita de profissionais aptos a exercer suas funções nos processos
que a cerca. Podemos chamá-los de agentes e cada agente tem seu papel
fundamental.
O OJS 3 informatiza grande parte do fluxo editorial, dando mais rapidez no
processo, além de manter registrado todas as transações. Para tanto requer
usuários que executem as atividades, conforme o seu papel dentro do fluxo
editorial. (BRITO et al, 2018, p. 21)

Para a OJS 3, esses mesmos profissionais ou agentes, como denominamos,


são chamados de usuários, e o curso de modalidade EAD desenvolvida pelo IBICT,
fundamentado pelo Guia do Usuário do OJS 3 desenvolveu algumas imagens que
mostram quais são esses usuários e quais funções os mesmos possuem.
44

FIGURA 2: definições dos papéis de cada usuário/profissional

Fonte: Curso OJS3 para Editor Gerente.

Como visualizado na figura 2 ao fazer uso da ferramenta OJS o periódico


necessita dos serviços de: Administrador(a) geral; Editor(a) gerente; Editor(a);
Editor(a) de seleção; Editor(a) de texto; Editor(a) de layout; Leitor(a) de prova;
Avaliador(a); Autor(a); Leitor(a). Entretanto, tais profissionais listados podem chegar
a acumular funções dependendo da estrutura do periódico, sendo assim o sistema
permite a criação de novos perfis como também a capacidade do usuário ser
renomeado, o que facilita na hora de serem concebidas as permissões que compete
45

a cada um. Assim, o OJS, por meio de uma padronização pré-estabelecida, nos
apresenta um quadro com definições sobre os seus usuários. (BRITO et al, 2018).

FIGURA 3: Lista de perfis de usuários que excutam as atividades no fluxo


editorial

Fonte: BRITO et al. 2018.


No âmbito da editoração eletrônica de periódicos o percurso do processo de
editoração é iniciado perante a solicitação do autor, isto é, diante do seu envio do
arquivo para as devidas análises que resultará no seu aceite total, parcial ou na
recusa do trabalho. Tal etapa é chamada de submissão. Como algumas revistas
eletrônicas possuem editores vinculados, o editor geral designa, mediante ao
assunto ou seções, alguns dos demais editores para tomar a frente da avaliação do
trabalho. Porém, antes mesmo desse envio aos avaliadores, o editor tem o poder,
por meio de suas habilidades adquiridas mediante os serviços prestados para a
46

revista se o arquivo tem potencial de fazer parte ou não do periódico, sendo assim, o
mesmo já avalia o tema, o formato, etc., e só então, os pares são acionados.
(BRITO et a;, 2018). Para recorrer à avaliação pelos pares o editor leva em
consideração alguns quesitos que vai ajudará na otimização de todo o processo.

O processo de busca por avaliadores pode utilizar filtros adicionais, como a


área de atuação, média de dias que o avaliador demora para responder ou
avaliar, quantidade de avaliações, tempo decorrido da última avaliação ou
quantidade de avaliações ativas para um mesmo avaliador. Desta forma, o
editor pode otimizar os prazos de avaliação e não sobrecarregar
avaliadores. (BRITO et al., 2018. p. 88)

É de suma importância que os periódicos façam o uso das avaliações por


pares, pois este é um dos requisitos para que uma revista possa ser considerada
científica de qualidade, como afirma Brito et al., (2018, p. 102): “caso os originais de
uma revista não sejam submetidos à avaliação por pares, seja qual modalidade de
avaliação for, ela não é considerada um periódico científico”. Assim, como já
observamos anteriormente, podemos considerar, também, como critério para
avaliação da informação veiculada, colocando em prova da dúvida se a mesma é
confiável ou não.

Os melhores indexadores nacionais e internacionais colocam a avaliação


por pares como um dos critérios para que uma revista seja indexada. Por
isto, podem solicitar senha para realizar auditoria no sistema adotado, a fim
de comprovar se o processo de avaliação por pares foi realmente efetuado.
É altamente recomendável, portanto, que as revistas executem, a partir do
sistema que adotam, o processo de avaliação pelos pares (BRITO et al.
2018. p. 102)

Após a rodada de avaliações, o autor recebe as notificações que podem ser


favoráveis ou não ao seu arquivo. As avaliações que vão desde ‘aceito’ e ‘rejeitado’,
podem seguir por caminhos alternativos que são ‘solicitar modificações’ e ‘solicitar
reenvio’. A figura 4, que segue abaixo, explica o que acontece mediante a cada uma
dessas avaliações.
47

FIGURA 4: decisões baseadas nos pareceres

Fonte: BRITO et al. 2018.

Com o arquivo aceito, passa-se para a etapa da editoração de texto, que vai
seguir os critérios exigidos pela revista no que diz respeito a diagramação, formato
de edição, quadros, figuras, como também os formatos que serão disponibilizados:
PDF, HTML, ou seja, cada revista possui seu próprio layout, seu próprio template, e
sua própria política do acesso ao arquivo avaliado pelos pares. Ainda ao final da
edição do texto é solicitada a validação do texto, ou seja, a leitura de prova, que
consiste na etapa final do processo de editoração, momentos finais que o editor ou
mesmo o autor avaliar como o arquivo final estará disponível para os leitores, como
explica:

A parte final do fluxo de editoração compreende a validação do texto no seu


formato final de diagramação, denominado ‘leitura de prova’. Assim, inicia
com os documentos diagramados para a publicação e termina com eles já
publicados, incluindo os todos processos envolvidos para que se tenha o
documento final publicado, versão final. (BRITO et al. 2018, p. 97)

Com a finalização do processo de editoração o editor geral possui a


responsabilidade de agendar as próximas submissões, porém antes ainda de pensar
nas novas edições, cabe ao editor a criação do expediente da revista e a divulgação
da edição. (BRITO et al. 2018). Todo o processo editorial da OJS 3, é contemplado
mediante a figura 5, vista logo a seguir:
48

FIGURA 5: Fluxograma do processo editorial OJS 3

Fonte: Curso OJS3 para Editor Gerente.

Com os processos e fluxos da editoração convencional e eletrônica


concluídas, na próxima seção, trataremos sobre a abordagem do Bibliotecário
envolto em tais processos. Portanto o próximo capítulo será “O Bibliotecário e a
editoração”.
49

3. O BIBLIOTECÁRIO E A EDITORAÇÃO

“Biblio o quê?”; “mas é preciso graduação para trabalhar em uma


biblioteca?”; “nossa, vocês leem todos os livros da biblioteca”?; “mas vocês fazem o
quê mesmo?”... Estas são algumas das perguntas mais frequentes que um
Bibliotecário ou estudante de Biblioteconomia escuta diariamente, o que vem
comprovar a falta do (re)conhecimento de tais profissionais por meio da sociedade,
visto que se trata de uma profissão milenar. A falta de informação sobre a profissão
reverbera inclusive na possibilidade que tem o bibliotecário em trabalhar no
processo editorial, em editoras, por exemplo. Silva e Ribeiro (2004) nos faz refletir
sobre tal assunto, sobre sua prática natural e que a evolução de tal prática resultou
no aprimoramento das comunicações da informação.

Sabemos que este exercício profissional é milenar e que foi, desde sempre,
uma prática “natural” pelo simples facto de que a produção da informação é
inerente à condição humana e social e que a necessidade do uso dessa
mesma informação ditou inevitavelmente a existência de processos de
armazenamento, organização e representação como meios para tornar
exequível a sua recuperação e acesso.E sabemos, também, que esta
prática foi evoluindo, se complexificou à medida que a própria sociedade
também se tornou mais estruturada e se adaptou às diferentes tecnologias
de produção, uso e comunicação da informação. (SILVA; RIBEIRO, 2004.
s.p).

Por estes motivos, é essencial mostrar que o bibliotecário não é apenas o


profissional que está na biblioteca, mas o profissional que pode desenvolver sua
habilidade e competência em diversos ambientes profissionais, seja em órgãos
públicos, empresas privadas, jornais, revistas, escritórios, museus, editoras, entre
outros, como mostram as figuras disponíveis na página do facebook “Biblio Eventos”
que traz trinta áreas diferentes onde o bibliotecário pode desenvolver suas
atividades. Cabe ao profissional o continuo desenvolvimento de suas competências
e a educação contínua com o objetivo de manter sempre atualizado com as
mudanças práticas e teóricas da área da Biblioteconomia.
50

FIGURA 6: Locais de atuação do Bibliotecário

Fonte: Facebook.com/Biblioeventos.

Ainda podemos fazer o uso de uma segunda imagem que faz referência,
também, aos campos de trabalhos do profissional da informação, o bibliotecário, que
faz menção a diversos ambientes.

FIGURA 7: Locais de atuação do Bibliotecário

Fonte: Conselho Federal de Biblioteconomia

É notável que além dos diversos tipos de bibliotecas que vai da escolar até a
mais especializada, o bibliotecário, por sua formação, possui o potencial de se
51

reinventar e se adaptar em diversas outras áreas. É importante lembrar que


depende muito da motivação de cada profissional, pois cada um possui a área em
que mais se identifica e gostaria de desenvolver seu trabalho. Em síntese, as
imagens 6 e 7 nos remete a tais campos: videotecas, biblioterapia, rádio, TV,
livrarias, brinquedotecas, pinacotecas, centros culturais, redes sociais, ONG’s,
agências de publicidade, e muitos outros. Todavia, gostaríamos de pôr em destaque
um local que aparece em ambas às imagens, assim como outros locais, sobretudo o
que representa o nosso estudo: as editoras. Portanto, a partir deste ponto
iniciaremos a abordagem sobre o bibliotecário e sua participação no campo editorial.
Santana e Francelin (2016) desenvolveram um estudo com a finalidade de
elencar atividades que podem ser exercidas pelas mãos e competências de
bibliotecários; são atividades que vão além da normalização de documentos, no
entanto, esta, é ainda, a atividade mais relacionada ao bibliotecário quando se faz
referências aos serviços prestados sendo desempenhados em uma editora ou no
processo de editoração. Na verdade, destacamos que os poucos bibliotecários que
atuam em editoras estão em editoras universitárias, sobretudo as das universidades
federais, que tem no seu quadro de servidores o bibliotecário.
Mesmo diante de inúmeras perspectivas, os bibliotecários que estão imersos
neste ambiente são de uma amostra muito pequena e que se concentra, muitas
vezes, apenas em editoras universitárias. Talvez, ocorra essa falta de oportunidade,
pela falta de percepção por parte das editoras do quão o bibliotecário pode ser de
valia em conjunto com o editor. Cabe também aos profissionais se mostrarem
competentes e interessados em fazer parte da equipe, as autoras destacam que:

Nos últimos anos a participação dos bibliotecários no mercado editorial tem


se dado pela atuação de bibliotecas universitárias como editoras de
trabalhos acadêmicos produzidos em suas instituições. Em alguns casos, a
biblioteca trabalha com a imprensa universitária ou publica trabalhos de
forma independente (FARIAS; LIMA; SANTOS, 2018, p. 68)

Ainda assim é difícil encontrar um bibliotecário desenvolvendo seus serviços


editoriais, o fato se deve ao pouco reconhecimento que o profissional sofre em
decorrência do mercado de trabalho, como também, por parte dos próprios
profissionais que se acomodam e não vão em busca de novas experiências,
ocasionando, assim, o seu apagamento em meio aos possíveis cargos que os
mesmos possam chegar a tomar posse, pois, bem sabemos que, com todas as
52

competências, qualidades e habilidades que o profissional bibliotecário adquire


durante sua formação e especializações, são diversas, além de ser um curso
interdisciplinar. Como reforçado pelas autoras:

[...] ainda são poucos os bibliotecários que atuam nessa área. Isso pode
ocorrer devido à falta de conhecimento por parte do mercado editorial das
diversas competências que esse profissional desenvolve durante a
graduação, as quais podem ser um diferencial para uma empresa/
instituição editorial (FARIAS; LIMA; SANTOS, 2018, p. 68)

Farias, Lima e Santos (2018) continuam com a abordagem sobre a


necessidade também dos órgãos de classe responsáveis pelos profissionais
bibliotecários de estarem sempre divulgando, ou seja, fazendo o marketing do
profissional e das suas variadas competências para atuar em diversas áreas, assim
a probabilidade de reconhecimento de mercado obteria uma vasta ampliação.
(FARIAS; LIMA; SANTOS, 2018).
É interessante nos atentarmos, também, que para um manuscrito, livro ou
um periódico científico – este último o mais abordado entre a literatura – seja
fabricado, é necessário que ocorra toda a modificação do original, mediante o
processo de editoração, pois nem sempre o autor possui as habilidades de um editor
que vai desde a revisão do manuscrito até, possivelmente a elaboração da capa,
podendo também ser um processo em conjunto com profissionais de diversas áreas.
É necessário que esse editor possua algumas habilidades, então observe o que diz
a Confederação Brasileira de Ocupações (CBO) sobre as habilidades do editor. É
fundamental que o editor possua tais competências pessoais:

1 dominar a língua portuguesa; 2 manter-se bem informado; 3 possuir


espírito de equipe; 4 manter postura ética; 5 admitir opiniões divergentes; 7
exercitar a criatividade; 8 cultivar a capacidade de observação; 9 Cultivar a
curiosidade; 10 exercer o senso crítico; 11 desenvolver capacidade de
organização; 12 desenvolver capacidade de improvisação; 13 manter
imparcialidade; 14 comunicar-se em outro idioma; 15 seguir o código de
ética dos jornalistas. (BRASIL, online, n. p.).

A parceria entre o bibliotecário e o editor surge em decorrência da etapa de


normalização, pois, bem se sabe que não existe profissional mais qualificado que o
bibliotecário para exercer tal atividade.

Percebe-se que o trabalho desenvolvido por esses dois profissionais na


editoração é importante. Por ser uma atividade que necessita de mão de
53

obra qualificada, para executar as etapas da produção dos livros, a junção


desses profissionais resulta no desenvolvimento intelectual e a transmissão
do conhecimento através da informação contida nos livros. Enquanto um se
dedica a produção, divulgação e difusão dos livros, o outro se dedica na
aplicabilidade das normas na publicação, assim qualificando e valorizando
os livros e as instituições a quem estão vinculadas. (SOUZA, 2017, p. 21)

A normalização pode ser a chave de entrada do profissional da informação


no meio editorial, no entanto, em decorrência as suas competências e habilidades, o
mesmo pode exercer outras funções mediante ao processo técnico e criativo da
criação de um produto, em uma editora ou em um “serviço de editoração” de uma
empresa, por exemplo.
A Confederação Brasileira de Ocupações faz lembrar às seguintes
competências que o bibliotecário necessita possuir:

1 manter-se atualizado; 2 liderar equipes; 3 trabalhar em equipe e em rede;


4 demonstrar capacidade de análise e síntese; 5 demonstrar conhecimento
de outros idiomas; 6 demonstrar capacidade de comunicação; 7 demonstrar
capacidade de negociação; 8 agir com ética; demonstrar senso de
organização; 9 demonstrar capacidade empreendedora; 10 demonstrar
raciocínio lógico; 11 demonstrar capacidade de concentração; 12
demonstrar pró-atividade; 13 demonstrar criatividade. (BRASIL, online, n.
p.).

Automaticamente, o pensamento remete às competências do editor, pois ao


confrontá-las, chega-se a percepção que em alguns critérios os dois profissionais
necessitam possuir capacidades iguais, como, por exemplo, o manter-se sempre
atualizados, possuir capacidade de liderar equipes, procurar sempre manter uma
boa comunicação não só no idioma de sua origem, mas também se aperfeiçoar em
outras línguas, demonstrar suas habilidades em estar sempre em busca de algo
novo pondo sua criatividade em ação etc.
De acordo com Maimone e Tálamo (2008), a editoração eletrônica ou de
periódicos surgiu para otimizar o processo editorial quanto ao seu custo, quanto na
pressa da veiculação da informação, e mostra que o bibliotecário pode fazer parte
disso.
Até pouco tempo atrás, as editoras dependiam dos serviços gráficos e do
mercado do papel, além dos serviços postais para a distribuição dos
periódicos. Atualmente, com a utilização das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC’s), os periódicos ganharam um novo suporte gerencial e
operacional. De fato, com o advento da moderna editoração eletrônica,
simplifica-se o processo editorial, reduzindo-se o seu custo, barateando o
processo e permitindo a especialização de atividades. Uma possível
conseqüência disso é o aumento da participação de bibliotecários no
processo editorial de periódicos, sobretudo os científicos para os quais os
54

conhecimentos e habilidades de normalização e gestão são muito


importantes. (MAIMOME, TÁLAMO, 2008, p. 302)

Então, as autoras citadas acima, buscaram apresentar competências que


cercam a presença do bibliotecário no mundo chamado de processo editorial. Mas,
antes fazem menção as constantes atualizações que o profissional bibliotecário deve
buscar em sua formação, não só acadêmica, mas de mundo, através dos avanços
informacionais advindos das novas tecnologias. Ou seja, como dito no decorrer
deste trabalho, a partir das atualizações no perfil profissional, o leque de
oportunidades se abre em diferentes áreas. Sendo assim, é necessário que o
profissional bibliotecário também busque atualizações referentes ao meio editorial.
Maimome e Tálamo (2008, p. 309) após citar Ferreira (2003, p. 45) sobre o
dever de qualquer profissional, inclusive o bibliotecário, perante manter-se sempre
em constante atualização de suas competências, conclui que:

[...] a importância de uma contínua atualização em relação a todas as


atividades que podem fazer parte do leque endereçado ao bibliotecário.
Neste sentido inferimos que, neste amplo conjunto de atividades, encontra-
se o campo da editoração científica colocando aos profissionais atividades
que permitem abrir mão de afazeres hoje substituídos por processamentos
eletrônicos e enfocar aspectos relativos à organização, normalização e
gestão das atividades envolvidas no processo editorial.

Enfim, em meio ao estudo, Maimome e Tálamo (2008), chegaram à


conclusão que três, entre as diversas competências atribuídas ao profissional
bibliotecário, são as competências quem as chamam mais atenção:

Figuram entre as muitas competências atribuídas ao bibliotecário, três delas


que nos chamam a atenção para o tema da editoração: a normalização de
documentos; a análise de trabalhos técnico-científicos e, a organização e
gerenciamento de bases de dados virtuais (grifo nosso). Analisando-as
conjuntamente podemos relacionar as varias atividades realizadas pelos
bibliotecários. (MAIMOME, TÁLAMO, 2008, p. 311)

Sendo assim, as autoras continuam com suas conclusões acerca das três
atividades que fazem lembrar algumas outras:

A normalização de documentos – livros, dissertações, teses, periódicos,


manuais, etc já é efetivada há um bom tempo. Qual seria a dificuldade em
incluir esta mesma atividade a artigos de periódicos eletrônicos, de modo a
disponibilizá-los on-line? Talvez somente uma questão de adequação de
paradigmas para este tipo de material. A análise de trabalhos técnico-
científicos para elaboração de resumos e síntese de documentos também já
55

se incluem no itinerário deste profissional, sendo que poderia ser inclusa


também para a editoração de periódicos científicos eletrônicos. E,
finalmente a organização e gerenciamento de bases de dados virtuais as
quais poderiam figurar como suporte de armazenamento e disseminação de
informações científicas dos periódicos anteriormente labutados. (MAIMOME,
TÁLAMO, 2008, p. 311)

Entretanto, para não ficar apenas nas três competências, Maimome e


Tálamo (2008), abordam também as competências inferidas pela Confederação
Brasileira de Ocupações (CBO) ao profissional da informação. Todavia, busca
também a junção do quadro criado por Faria et al (2005) a partir da junção das
competências da CBO com as encontradas em um estudo feito por um grupo da
Unicamp, todavia feito referente ao meio organizacional. Ao adaptar o quadro,
Maimome e Tálamo (2005, p. 312) afirmam: “A propósito, sugerimos, de forma a
complementar esta literatura já posta, o relacionamento em paralelo com a
editoração eletrônica”. Então, ao agrupar as competências exigidas pela CBO,
juntamente com as associadas pelas organizações juntamente as atribuídas pela
editoração eletrônica, chegaram ao seguinte resultado:
56

FIGURA 8: Competências do profissional da informação, suas


correspondências no núcleo de competências exigidas pelas organizações e
pela editora eletrônica

Fonte: Maimome e Tálamo (2008, p. 313) adaptado de Faria et al. (2005, p. 30)

Ao deparar-se com as 14 associações das competências, destacaram as


mais importantes, assim Maimome e Tálamo (2008, p. 314) afirmam serem estas:
1. Manter-se atualizado;
2. Trabalhar em equipe e em rede;
3. Demonstrar conhecimento de outros idiomas;
4. Demonstra capacidade de negociação + capacidade empreendedora;
5. Demonstrar proatividade.

Farias, Lima e Santos (2018, p. 75), reforçam outras competências que o


bibliotecário necessita possuir para que possa ser inserido em meio ao campo da
editoração. Tais competências foram divididas em duas categorias denominadas de
57

“competências técnicas” e “competências comportamentais”, e para a divisão nas


categorias as autoras afirmam: “percebemos que o nicho de mercado para o
bibliotecário em editoração é bastante promissor, e sua atuação se torna necessária
por meio de competências técnicas e comportamentais” (2018, p. 74). Ambas as
categorias de competências foram compiladas em um infográfico, o qual será
possível visualizarmos logo em seguida.

FIGURA 9: Competências do bibliotecário para atuar na editoração

Fonte: Farias, Lima e Santos (2018, p. 73)

Em meio a todas as competências listadas nessa imagem, as autoras nos


fazem refletir sobre uma das competências comportamentais, sendo ela a
proatividade e afirmam:
58

[...] ser proativo certamente possibilitará o mapeamento da realidade das


publicações no contexto universitário, identificando aspectos como a
periodicidade das revistas, quem são os responsáveis pela gestão do
periódico e o que se pretende alcançar, de fato, com o status que o título
poderá adquirir no futuro. O bibliotecário precisa ter a visão do todo para
que possa agir exatamente na função que lhe compete no processo
editorial. Portanto, a proatividade fará com que as oportunidades sejam
enxergadas numa perspectiva de gestão da informação. (FARIAS; LIMA;
SANTOS, 2018, p. 76).

Ao ser proativo o bibliotecário pode chegar a possuir uma visão geral de


todo o fluxo exigido aos profissionais da área e terá a consciência da função que lhe
cabe no caminhar editorial. Assim como afirma o Dicionário Online de Português –
Dicio2, o profissional proativo é aquele que possui “característica de quem busca
identificar ou resolver o problema por antecipação, com antecedência; presteza,
diligência”.
Ao depararmos com tantas competências e habilidades, surge a curiosidade
sobre as atividades que possivelmente os bibliotecários teriam possibilidades de
atuação, diante de sua proatividade, em linha editorial. Assim sendo, observou-se
que Santana e Francelin (2016) ao fazerem referência a Funaro, Ramos e Hespanha
(2012) constataram um total de 19 possibilidades de atividades desenvolvidas por
bibliotecários entregues no campo da editoração. As atividades elencadas foram:
a) Análises de provas editoriais (fluxo editorial);
b) Assessoria aos autores e pareceristas;
c) Avaliação técnica de revista para inclusão em bases de dados;
d) Catalogação na fonte;
e) Conferência da terminologia (palavras-chave);
f) Controle de assinaturas, permuta e doação (distribuição);
g) Diagramação;
h) Divulgação;
i) Elaboração de projetos;
j) Elaboração de relatórios;
k) Expedição;
l) Formatação dos manuscritos;
m) Gestão de processos (da pré-avaliação à publicação);
n) Indexação;
o) Manutenção do site da revista;
p) Normalização;
q) Prestação de contas;
r) Secretaria;
s) Supervisão de marcação em XML.

2
Fonte: https://www.dicio.com.br/proatividade/
59

Todavia, como o campo da Biblioteconomia e ciência da informação


encontra-se sempre em constante atualização, outras atividades podem surgir e ficar
em ascensão como afirma Santana e Francelin (2016, p. 14) ao seguir a linha de
pensamento de Funaro, Ramos e Hespanha (2012):

[..] a diversidade de tarefas executadas pelos bibliotecários, ressaltando


ainda que há outras atividades em ascensão em instituições de ensino
superior, como assessoria aos autores na escolha de periódicos para
publicação e o auxílio na elaboração do manuscrito. É possível notar que as
categorias de atividades identificadas pelas autoras são vastas e se
relacionam a diferentes esferas de atuação profissional, assinalando um
diversificado espaço de atuação para o bibliotecário.

Ao fazer uso das informações de Santana e Francelin (2016), Farias, Lima e


Santos (2018, p. 73) montaram um infográfico que contemplam as atividades dos
bibliotecários em equipes editoriais o que reafirma que não são poucas as
possibilidades de atuação de tal profissional que só foi possível mediante as suas
competências e habilidades, por isso a importância de reafirmá-las em meio a este
estudo.

FIGURA 10: Atividades dos bibliotecários em equipes editoriais

Continua...
60

Fonte: Farias, Lima e Santos (2018, p. 73)

Tendo a preocupação de entender o editor acerca da possível contratação


do profissional bibliotecário para integrar o corpo da equipe editorial, Santana e
Francelin (2018), contactaram, através de questionários, um total de 99 editores dos
quais apenas 37 editores encarregados por editar periódicos, revistas responderam.
Vale ressaltar que todos os periódicos que entraram na análise são indexados pelo
Portal de Revistas da USP. As autoras ainda mostram que as questões caminhavam
por quatro perspectivas, são elas:

a) A presença de bibliotecário (s) na equipe editorial;


b) Atividades desempenhadas pelo (s) bibliotecário (s) na equipe editorial;
c) Grau de importância do trabalho do (s) bibliotecário (s) na equipe editorial;
d) Possibilidade de admissão de bibliotecário (s).

Então, após as tabulações e analises dos dados chegaram aos seguintes


resultados, dos quais faremos uso das imagens. Em relação ao que diz respeito à
presença do bibliotecário na equipe editorial, chegou-se ao seguinte resultado:
61

FIGURA 11: Presença de bibliotecários na equipe editorial

Fonte: Santana e Francelin (2016, p.15)

Vinte dos 37 periódicos afirmaram ter em suas equipes a presença de


bibliotecários, somando, ao todo 25 profissionais da área dentre os vinte periódicos.
Ao que se trata das atividades realizadas pelos 25 profissionais encontrados
desenvolvendo seus trabalhos em editoração, os resultados foram os seguintes:

FIGURA 12: Atividades exercidas pelos bibliotecários nas equipes editoriais

Fonte: Santana e Francelin (2016, p.16)

Os editores chegaram a citar 23 atividades, as com maiores frequências


foram (acima de dez): normalização técnica, gerenciamento do fluxo editorial,
assessoria aos autores e parecerístas, divulgação ao público, o que nos faz
62

perceber que as atividades relacionadas à gestão e focadas nas questões


administrativas ficaram em alta quando o assunto é atribuir atividades ao
bibliotecário no ambiente editorial.
Para os resultados referentes ao grau de importância atribuído ao trabalho
do bibliotecário, apenas 28 dos 37 editores responderam, chegando aos seguintes
resultados:

FIGURA 13: Grau de importância atribuído ao trabalho do bibliotecário na


equipe editorial

Fonte: Santana e Francelin (2016, p.17)

O grau de importância exposto pelas autoras foram de 1 (pouco importante)


até 5 (muito importante) e elas afirmam:

Em relação à importância do trabalho do bibliotecário na equipe editorial, 28


editores responderam à questão. Destes, 20 respondentes (69,57%)
atribuíram nota 5 (Muito importante) à atuação do bibliotecário,
considerando-se a nota 5 (Muito importante) como nota máxima e nota 1
(Pouco importante) como mínima. A média obtida junto aos respondentes
foi 4,25, o que situa a atuação deste profissional na equipe editorial entre
“Muito importante” e “Importante”. (SANTANA; FRANCELIN, 2016, p. 17)

Sobre as notas atribuídas de 1 a 3 não foram expostas as justificativas por


parte dos entrevistados, assim, como as autoras justificam, as análises pelo qual
foram atribuídas as notas foram inviabilizadas.
Por fim, no que diz respeito ao interesse dos editores na contratação de
bibliotecários para desenvolverem seus serviços juntamente com o mesmo, os
resultados, mediante as 28 respostas, foram os seguintes:
63

FIGURA 14: Interesse dos editores admissão de bibliotecários

Fonte: Santana e Francelin (2016, p.18)

Os 17 editores afirmaram possuir o interesse em admitir bibliotecários,


contra 11 que se pronunciaram acerca da não contratação, enquanto os outros nove
se abstiveram de suas respostas. As autoras chegaram a seguinte análise:

O interesse na admissão de bibliotecários pelos editores reforça a


possibilidade de maior inserção do bibliotecário em equipes editoriais, uma
vez que esse profissional, tendo em vista sua formação interdisciplinar,
apresenta uma gama conhecimentos relacionados ao universo da
comunicação científica que podem favorecer atuação nesse campo
profissional. (SANTANA; FRANCELIN, 2016, p. 18)

Portanto, em análise das competências exigidas, infere-se que diante das


atividades identificadas nos estudos das autoras, o bibliotecário possui sim
habilidades que vão além da normalização, podendo desenvolver também sua
função no processo editorial, inclusive nas abordagens voltadas para a organização
da informação e disseminação da informação, que envolve a indexação, marcação
XML, indexação de bases de dados, estudos métricos e redes sociais, por exemplo,
atividades pouco exploradas, e que seria de fundamental importância para o
periódico. Sendo preciso demonstrar a importância dos bibliotecários dentro das
equipes editoriais e a diferença que o mesmo promove para a qualidade dos
periódicos científicos. E um dos caminhos para o desenvolvimento de competências
e habilidades dos bibliotecários inicia-se na graduação com o ensino, assim,
partiremos para os procedimentos metodológicos, onde se expõe o desenvolvimento
da pesquisa.
64

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Baseado em leituras sobre metodologias científicas, verificamos que diante


do problema e dos objetivos desejados, o método de abordagem mais eficaz, é o
indutivo. Tendo em vista a amostra, que fica por parte dos cursos de Biblioteconomia
existentes no nordeste brasileiro. Realizando, assim, análises em seus projetos
pedagógicos, grades curriculares e planos de ensino da disciplina de editoração.
Como já dito, a pesquisa tem como intento investigar a disciplina de
Editoração nos cursos de Biblioteconomia localizados na região nordeste, todavia se
faz importante olhar para as outras regiões brasileiras, de modo a apresentar um
panorama da disciplina no país. Todavia, a análise mais contempla focaliza no
nordeste como definido em outro momento. Para o andamento da pesquisa foi
necessário coletar os planos das disciplinas, que envolve, então, a pesquisa
documental e a convocação do método comparativo que ajudará na verificação das
similaridades e divergências entre esses planos.
Foram estabelecidos para análise dos planos as seguintes variáveis:
características da disciplina (período ofertada, carga horária); conteúdos da
disciplina; ementas; obras mais citadas da bibliografia básica e complementar; autor
mais citado da bibliográfica básica e complementar, tipologia dos documentados
citados e ano de suas publicações.
As técnicas de abordagem, segundo Lakatos (2010, p. 157) “são um
conjunto de preceitos ou processos de que serve uma ciência ou arte”. Para esse
conjunto, foi escolhida a técnica de documentação indireta, por intermédio da
pesquisa documental e bibliográfica. Ainda, por se tratar de uma pesquisa
bibliográfica e documental, será construída de forma descritiva e estatístico e/ou
bibliométrico.
Para tais análises passaremos a usar, como forma de métrica, a bibliometria
a fim de se chegar a resultados estatísticos e matemáticos dos dados que nos
propusemos.

De maneira geral, a Bibliometria pode ser definida como um conjunto de leis


e princípios aplicados a métodos estatísticos e matemáticos que visam o
mapeamento da produtividade científica de periódicos, autores e
representação da informação. (CAFÉ; BRÄSCHER, 2008, p. 54)
65

Vale ressaltar que os dados de todo o Brasil será apenas tratado e descrito
de forma rápida, entrando em detalhamento apenas quanto a Região Nordeste, que
é a região que dá sentido ao estudo.
A página do e-MEC3, por sua vez, apresenta uma lista completa de cursos
de Biblioteconomia, classificando-os ainda em presencial ou à distância. Em uma
primeira análise, constata-se a quantia de 58 cursos listados. Todavia, ao verificar
melhor, encontraram-se instituições citadas mais de uma única vez, tendo em vista
atualizações do curso, mudança no nome da instituição e, até mesmo, pelos
resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Depois de
feita a verificação, a quantidade de 58 instituições caiu para 51 instituições.
Em seguida, ainda no site do e-MEC, consta três instituições em que os
cursos entraram em extinção, todas elas na Região Sudeste, são elas: Faculdade
Capixaba da serra – MULTIVIX; Faculdade Integrada Coração de Jesus; Instituto
Manchester Paulista de Ensino Superior – IMAPES. Outro quesito que veio a
diminuir a quantidade de cursos e instituições foi à etapa de análise dos sites de
cada instituição, visando à certificação de que a unidade de ensino realmente
disponibilizava o curso. Nessa etapa os cursos de Biblioteconomia em números
reduziram, pois algumas instituições não traziam o curso em sua grade de cursos
disponíveis em suas páginas, exemplos destas instituições são: Centro Universitário
UNIC; Universidade Santa Úrsula – USU; Centro Universitário UNIVEL; Universidade
Federal do Pará – UFPA está no quesito à distância.
Constatou-se, enfim, 45 cursos, em 43 instituições de ensino no Brasil em
atividades. Lembrando que 36 no quesito presencial e 9 no quesito à distância,
somando 45 cursos, embora o número de instituições seja apenas 43, no entanto, é
simples explicar, as instituições Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS e Universidade Federal de Sergipe – UFS possuem o curso nas duas
modalidades, contando, assim, duas vezes cada instituição no quesito curso, mas
apenas uma vez no quesito instituição de ensino.
Como o intuito da pesquisa é encontrar nos cursos de Biblioteconomia ativos
e que possua em sua estrutura curricular a disciplina de editoração, seja ela,
obrigatória, optativa ou eletiva. Foi realizada, portanto, a consulta aos planos

3
Fonte: http://emec.mec.gov.br/
66

pedagógicos dos cursos de Biblioteconomia a fim de responder então a presença e


ausência da disciplina e o caráter da disciplina. Ficamos da seguinte forma:
O Norte com três instituições de ensino com o curso de Biblioteconomia,
todas em instituições públicas, apenas uma disponibiliza, para seus alunos, a
disciplina de editoração.

QUADRO7: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de


Biblioteconomia do Norte
Instituição Possui Caráter
Editoração?
Universidade Federal da Amazônia – Não -
UFAM
Fundação Universidade Federal de Não -
Rondônia
Universidade Federal do Pará Sim Obrigatória
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Já o Centro-Oeste, apresenta quatro cursos de Biblioteconomia, um sendo


em instituição privada e os outros na modalidade pública, esses das instituições
públicas, todos trazem em suas grades curriculares a disciplina de editoração, já a
instituição privada não disponibiliza informações sobre o curso, em especial, sobre a
disciplina.

QUADRO 8: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de


Biblioteconomia do Centro-Oeste
Instituição Possui Caráter
Editoração?
Instituto de Ensino Superior - Funlec - -

Universidade Federal de Goiás - UFG Sim Obrigatória


Universidade Federal do Mato Grosso - UFMT Sim Obrigatória
Universidade de Brasília - UNB Sim Obrigatória
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Com seis instituições, o Sul do país apresenta com a disciplina de editoração


apenas três cursos, sendo que em três instituições não se teve acesso a existência
dessa disciplina, como também em uma universidade pública.
67

QUADRO 9: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de


Biblioteconomia do Sul
Instituição Possui Caráter
Editoração?
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Sim Eletiva
Centro Universitário UNISEP Não -
Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina - Não -
UDESC
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC Sim Obrigatória
Fundação Universidade do Rio Grande – FURG Sim Obrigatória
Universidade Estadual de Londrina – UEL Não -
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Na região Sudeste constatamos a presença de 13 cursos ficando,


praticamente, meio a meio em quesito público com sete instituições e quanto ao
privado seis instituições. É interessante perceber que apesar da quantidade de
cursos ativos na área da Biblioteconomia, somente seis cursos estão ministrando a
matéria em estudo, a editoração. Todavia, sabemos que a disciplina pode ser
ofertada em algum momento como eletiva ou optativa nos cursos, mas para esse
levantamento a fonte foi o registro da disciplina no projeto pedagógico do curso.

QUADRO 10: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de


Biblioteconomia do Sudeste
Instituição Possui Caráter
Editoração?
Universidade de São Paulo – USP Não -
Centro Universitário Assunção Sim Obrigatória
Universidade Federal do Estadual do Rio de Sim Optativa
Janeiro – UNIRIO
Universidade Estadual Paulista Júlio de Sim Optativa
Mesquita Filho – UNESP
Universidade Federal do Espírito Santo Sim Obrigatória
Pontifica Universidade Católica de Campinas Sim Obrigatória
– PUC CAMPINAS
68

Faculdade Prominas de Montes Claros Não -


Universidade Federal de Minas Gerais – Não -
UFMG
Centro Universitário Teresa D’ávila – FATEA Sim Obrigatória
Faculdade de Biblioteconomia e C. da I. – Não -
FaBCI
Centro Universitário de Formiga – Não -
UNIFORMG
Universidade Federal de São Carlos - Não -
UFSCAR
Universidade Federal Fluminense – UFF Não -
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Algumas instituições, geralmente privadas, disponibilizam o curso na


modalidade de Ensino à Distância – EAD, com pólos de ensino em várias cidades
distribuídos pelo Brasil inteiro. Em pesquisa, chegamos a quantidade de sete
instituições somando com mais duas que também se enquadram na modalidade
presencial que são elas: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que será
iniciado no primeiro semestre de 2020, e a Universidade Federal de Sergipe.
Entretanto, percebe-se que nesta modalidade de ensino, não é comum a presença
da editoração em suas grades curriculares.

QUADRO 11: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de


Biblioteconomia na modalidade EAD
Instituição Possui Caráter
Editoração?
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Sim Obrigatória
UFRGS
Universidade Federal de Sergipe – UFS Sim Obrigatória
Universidade Salgado de Oliveira Sim Obrigatória
Centro Universitário Claretiano – CEUCLAR Não -
Universidade Metropolitana de Santos Não -
Universidade de Caxias do Sul Não -
Centro Universitário de Jaguariúna Não -
69

Universidade Comunitária da Região de Não -


Chapecó
Centro Universitário Leonardo da Vinci Não -
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Chegamos, enfim, a Região Nordeste, a segunda região com mais cursos


ativos da área de Biblioteconomia, atrás apenas da região Sudeste. O Nordeste
possui dez instituições com o curso de Biblioteconomia, sendo todas públicas.
Dentre as dez, sete possuem a editoração em suas grades curriculares, os outros
três cursos não disponibilizam a disciplina editoração.

QUADRO 12: Presença da disciplina de Editoração nos cursos de


Biblioteconomia do Nordeste
Instituição Possui Caráter
Editoração?
Universidade Estadual do Piauí – UESPI Não -
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Sim Eletiva
Universidade Federal do Carirí – UFCA Sim Obrigatória
Universidade Federal da Paraíba – UFPB Não -
Universidade Federal do Ceará – UFC Sim Obrigatória
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Sim Optativa
UFRN
Universidade Federal do Maranhão – UFMA Não -
Universidade Federal de Sergipe – UFS Sim Optativa
Universidade Federal da Bahia – UFBA Sim Obrigatória
Universidade Federal de Alagoas – UFAL Sim Eletiva
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Como o intuito é observar o ensino da Editoração nos currículos dos cursos


de Biblioteconomia ativos no Brasil, sobretudo no Nordeste, podemos então olhar
pelo parâmetro nacional, por meio das buscas e pesquisas que realizamos e afirmar
os seguintes dados: entre os 45 cursos ativos, dentro das 43 instituições
observadas, 23 currículos trazem a disciplina de Editoração em suas grades, porém
elas podem ser observadas em três modalidades, obrigatória, optativa e eletiva.
70

QUADRO 13: Síntese das presenças da disciplina de Editoração


REGIÃO
MODALIDADE Nordeste Norte Centro- Sudeste Sul EAD TOTAL
Oeste
Obrigatória 3 1 3 4 2 3 16
Optativa 2 - - 2 - - 4
Eletiva 2 - - - 1 - 3
TOTAL 7 1 3 6 3 3 23
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Com o quadro acima, é possível perceber que a disciplina editoração é mais


ofertada na modalidade obrigatória, o que se considera bastante positivo para a
formação dos futuros bibliotecários. A editoração como optativa apareceu no
nordeste, sudeste com dois cursos em cada região, e como eletiva em três cursos,
sendo dois do nordeste e um do sul.
A fim de investigar os conteúdos das disciplinas de Editoração, em especial
na região Nordeste buscamos os planos das disciplinas nos sites dos cursos, e
quando necessário foram enviados e-mails para os coordenadores e/ou professores
da disciplina solicitando o documento.
71

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Os dados que serão apresentados no decorrer desta seção foram coletados


a partir do portal do e-MEC com o objetivo de elencar os cursos de Biblioteconomia
em atividade no Brasil especialmente os da Região Nordeste. Tal seção será
fundamentada nas análises dos dados com o propósito de atender as expectativas
propostas pela investigação que permeia este estudo, com o intuito que o mesmo
possa a ser reutilizado em outras pesquisas que irão ser fundamentadas na mesma
área. Os dados serão apresentados em forma de quadros, o que ajudará na
resolução das informações.
Assim, em torno de tais dados, será possível a exposição, principalmente, no
que diz respeito às obras mais usadas nas disciplinas de editoração, sendo assim,
automaticamente nos remeteremos quais os autores mais utilizados da literatura
pelos professores em seus planos de ensino.
Tendo em vista que as análises seguirão em torno das Instituições
localizadas no Nordeste é indispensável reafirmar quais são estas instituições e em
quais se aplicarão as análises tendo em vista que só os que possuem a Editoração
em meio aos seus planos de ensino contribuirão para os resultados. Podemos
verificar no quadro de número 14, que apenas 70% das Instituições levantadas no
pré-requisito de localização regional nordestina se enquadraram nos padrões
exigidos pela pesquisa.

QUADRO 14: Instituições em análises


Instituição Possui Editoração Freqüência %
UFPE
UFC
UFCA
UFRN Sim 7 70
UFS
UFBA
UFAL
UESPI
UFPB Não 3 30
UFMA
TOTAL 10
Fonte: elaborado pelo autor (2019)
72

Com o total de dez Instituições, destacamos que sete instituições possuem a


disciplina de Editoração, o que corresponde a 70% de aproveitamento em relação às
análises que seguirão a partir daqui, dentre as Instituições estão: UFPE, UFC,
UFCA, UFRN, UFS, UFBA e UFAL. Os outros 30% ficaram por parte de tais
instituições: UESPI, UFPB, UFMA, que não comporão a análise pelo fato de que em
suas grades curriculares não fazerem referência ao estudo da editoração.
É interessante se ater a qual semestre do curso está vinculada a disciplina
de editoração, no entanto salientamos que as disciplinas de caráter obrigatório nos
remetem a tal informação do semestre em que ofertada. Cumpre salientar que toda
a análise dos dados desta pesquisa foi coletada e analisada no segundo semestre
de 2019.

QUADRO 15: Semestres em que as disciplinas são ofertadas


Semestre Instituições Frequência
2º semestre UFC; UFCA 2
Optativa UFRN; UFS 2
Eletiva UFPE; UFAL 2
Não informado UFBA 1
TOTAL 7
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Tendo observado os dados chegamos a seguinte conclusão, com uma


frequência de duas Instituições, que estão adequadas no quesito obrigatório, estão a
UFC e a UFCA. Todas as demais se enquadram no quesito optativo, com a
frequência de duas instituições, sendo elas a UFRN e a UFS; temos também as
instituições UFPE e UFAL que se associam a disciplina em caráter eletivo, isto é
disciplinas que não são obrigatórias para os discentes, cabendo a eles escolher ou
não em cursar essa disciplina. Por fim, temos a UFBA que não disponibiliza tal
informação. Ou seja, as disciplinas obrigatórias, exceto a UFBA que não traz tal
informação, estão sendo ministradas logo no primeiro ano do curso para os seus
estudantes, e as optativas e eletivas não se sabe ao certo quando o aluno vai fazer.
Apesar de ser uma informação pouco objetiva, pois não diz respeito sobre a
qualidade da disciplina, abordaremos, em seguida, sobre a carga horária disponível
em cada instituição, tendo em vista que quanto maior a carga horária, maior a
possibilidade de abrangência e tempo para se trabalhar os conteúdos programados.
73

QUADRO 16: Carga horária das disciplinas de editoração


Instituição C. Horária Freq.
UFBA 68h 1
UFC 64h 1
UFAL 60h
UFS 60h 3
UFRN 60h
UFCA 48h 1
UFPE 30h 1
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Os dados analisados vão desde 30h até 68h programadas. Ficamos então
com a frequência máxima, contabilizando três unidades, por meio das 60h aulas que
foram nas instituições UFAL, UFS e UFRN. As outras instituições obtiveram
frequência um, pois cada uma possui uma quantidade de horas aula específica,
ficamos assim: UFBA com a maior quantidade de horas aulas, ou seja, sua carga
horária possui 68h; UFC vem logo em segundo colocado neste quesito,
apresentando-se com 64h/aula; em quarto, já que o terceiro lugar ficou por
intermédio das instituições que possuem 60h, ficamos com a UFCA, com 48h; por
último, a UFPE, que disponibiliza apenas 30h/aulas para a disciplina de editoração.
Observando as horas/aula de cada instituição é interessante visualizarmos o
que cada plano de curso traz como conteúdos programados assim poderemos
observar o que é exigido em cada instituição, a saber:

QUADRO 17: Conteúdos programados das disciplinas de Editoração


Instituição Conteúdos
1. Relações entre atividade editorial e ciência da informação
2. Atividade editorial: Imprensa no Brasil e na Bahia
3. Política editorial no Brasil
4. Política editorial na Bahia
5. Indústria editorial: estrutura e funcionamento
UFBA 6. Editora, editor, autor, produtor
7. Editora comerciais e universitárias
8. Produtos editoriais: Livro: características e funções
9. Periódico: características e funções
10. Livro e Periódico: impresso e digital
11. Produção e comercialização dos produtos editoriais.
1. Publicações oficiais
2. Publicações comerciais
UFS
3. Política editorial
4. Normas de documentação
1. Evolução conceitual e histórica da editoração
UFCA
2. O Livro (Manuscrito e Impresso). Outros formatos editoriais
74

3. Direitos Autorais
4. O papel do editor. O fazer bibliotecário no processo de editoração
5. Comunicação científica e a produção intelectual
6. Leitura e legibilidade
7. Normas técnicas de editoração (livros e periódicos)
8. Política editorial e processo editorial
9. Projeto gráfico: tipos, diagramação, tipografia, periódicos científicos
10. Periódico científico eletrônico. Ferramenta SEER
11. Editoração eletrônica
1. Conceitos de editoração e editor
2. O papel do editor
3. O fazer bibliotecário no processo de editoração
4. Comunicação científica e produção intelectual
5. Leitura e legibilidade
6. Direito autoral
7. CreativeCommons
8. Visita técnica à tipografia
9. Evolução dos processos editoriais
10. Editoração eletrônica
UFC
11. Políticas editoriais
12. Produção, distribuição e comercialização de livros
13. Visita técnica à editora universitária e/ou convencional
14. Marketing editorial
15. Periódicos científicos eletrônicos
16. SEER - Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas: conceitos
17. Oficina de utilização da ferramenta SEER
18. Visita técnica à impressão universitária
19. Elaboração e execução de um projeto baseado nos conhecimentos adquiridos
durante a disciplina e durante as visitas técnicas.
1.Processos de editoração impressa
2. Processos de editoração digital
3. Periódico técnico-científico: características e funções
UFPE
4. Tipologia de periódicos técnico-científicos
5. Editoração eletrônica de periódicos técnico-científicos
6. Indexação de periódicos técnico-científicos.
UFAL Não apresentam seus conteúdos nos planos do curso
1. Editoração, editor e editora
2. Política, Linha e Conselho editorial
3. Processo de Editoração de Livros (fluxos)
4. Atribuição de identificadores para publicações
5. Periódicos e editoração eletrônica
UFRN
6. Editoração eletrônica
7. Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas
8. Lei de Direitos Autorais
9. Acessibilidade em documentos
10. Serviços de editoração
Fonte: elaborado pelo autor (2019)
75

O que percebemos na UFBA é que sua disciplina está voltada para o


conhecimento histórico da área, ou seja, além de abordar a história da editoração no
Brasil, possui um foco muito intenso no que foi desenvolvido em seu próprio
território. Assim, em seus conteúdos, estão inseridos a como fundamentação teórica
a evolução da atividade editorial em volto a imprensa no Brasil e na Bahia, assim
como também as políticas editoriais que estão imersos. Ainda aborda sobre as
características e funções dos produtos editoriais, livros e periódicos, que podem ser
em suportes físicos ou digitais, confluindo na disciplina os dois formatos.
A UFS apresentou um conteúdo mais reduzido, focando nas publicações
oficiais e publicações comerciais, não se esquecendo de um dos principais quesitos
para que um documento, ou qualquer outro tipo de trabalho, tenha sucesso em sua
função, que é o uso das normas de documentação. A política editorial também
consiste em um item importante e que é abordado na disciplina.
A UFCA explicita com mais detalhes os conteúdos da disciplina. Bem como
as duas instituições anteriores, o foco recai nas políticas editoriais, evolução da
história, os formatos dos produtos editoriais. No entanto, a Editoração para a UFC
vai além, pois suas abordagens fazem reflexões sobre direitos autorais, produção
intelectual como também a leitura e legibilidade das obras. Além do mais faz
menção a SEER, que é o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas como
também a projetos gráficos.
Com a maior quantidade de conteúdos programados, a UFC possui a
segunda maior carga horária entre as instituições, são 64h reservadas para tais
disciplinas. O programa da UFC é muito semelhante ao da UFCA, o diferencial fica
por conta das aulas de visitas técnicas e de uma proposta mais numerosa de
conteúdos da supracitada universidade, a UFC. Ainda como diferencial traz
abordagens sobre o CreativeCommons e suas licenças e oficinas sobre o uso do
SEER, por fim, os alunos são instigados a criação de um projeto sobre tudo que foi
aprendido durante a disciplina e aulas técnicas.
A UFPE, com apenas 30h, traz em suas atividades, além de algumas
temáticas que já foi descrito perante as outras instituições, a indexação de
periódicos técnico-científicos, sendo esse o seu diferencial. Percebemos ainda que
essa disciplina apesar de trazer a editoração impressa e digital, parece se
concentrar nos periódicos científicos, sem adentrar com mais detalhes nos
conteúdos que envolvem justamente esses periódicos, ou seja, mesmo com o foco
76

na editoração eletrônica, as horas/aulas são insuficientes para adentrar com mais


especificidade no assunto.
Na UFRN, a disciplina de editoração perpassa conceitos essenciais como
editoração, editor e editora, o que convoca abordar sobre outro tema que é o da
política, linha e conselho editorial, bem como os diversos processos que perpassam
a produção de materiais. Seguindo a editoração, os periódicos entram em cena com
a editoração eletrônica e o sistema de editoração de revistas, antes, na verdade é
abordado os identificadores de publicações e de pessoas como o ISSN, ISBN,
ORCID, DOI, essenciais dentro desse contexto da comunicação e editoração. A lei
de direitos autorais e a acessibilidade de documentos é item da disciplina, uma vez
que diz respeito aos processos editoriais e, por fim, os serviços de editoração.
Por se tratar de um elemento obrigatório a se ter nos programas de cursos,
resolvemos trazer em um quadro todas as ementas das disciplinas de editoração,
extraídas dos projetos políticos pedagógicos, a saber:

QUADRO 18: Ementas das disciplinas de Editoração dos cursos de


Biblioteconomia do Nordeste brasileiro
Instituição Ementas

Relações entre atividade editorial e ciência da informação. Panorama da atividade


UFBA editorial no Brasil e na Bahia. Elenco de produtos editoriais: características e
funções. Estudo das técnicas tradicionais e contemporâneas de produção.
Publicações oficiais. Publicações comerciais. Política editorial. Normas de
UFS
documentação
Introdução geral às técnicas de edição de texto e aos processos de produção,
UFAL distribuição e comercialização de livros e periódicos. Editoração eletrônica de
documentos.
Introdução geral às técnicas de textos e aos processos de produção, encadernação,
UFCA restauração, distribuição e comercialização de livros e periódicos, fundamentados
em técnicas tradicionais e eletrônicas.
Editoração científica: conceitos, história e estrutura. Processos de editoração
UFRN científica tradicional e eletrônica. Propriedade intelectual no contexto da
comunicação científica.

Introdução à editoração e demais fenômenos editoriais contemporâneos, realçando


suas políticas e gestões editoriais, suas legislações em vigor e as técnicas de
UFC escritura textual. Conhecimento das fases e processos de produção, distribuição e
comercialização de livros, periódicos e demais suportes editoriais impressos,
eletrônicos e digitais.
77

Processos de editoração impressa e digital. Periódico técnico-científico:


UFPE características, funções e tipos. Procedimentos e propostas de editoração eletrônica
de periódicos técnico-científicos. Procedimentos para indexação
de periódicos técnico-científicos
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Como ficou faltando discutir os conteúdos programáticos da UFAL, damos


aqui luz a análise de seus conteúdos. Assim, a UFAL, por sua vez, faz menção a
todo o aparato à introdução geral com foco nas técnicas de edição textual como
também na parte dos processos de produção, distribuição e comercialização dos
livros e periódicos, e, como não poderia faltar, a editoração eletrônica, uma
constante também nas outras disciplinas, e um tema próprio da editoração dos
cursos de Biblioteconomia.
Ao longo de toda a trajetória da análise dos dados sobre as atividades
programadas e as ementas, podemos observar que o cenário não abandonou as
práticas da editoração convencional, todavia encontra-se bastante focado no que diz
respeito à editoração eletrônica, mais especificamente, aos periódicos eletrônicos.
Ao fecharmos tal análise, percebeu-se que, talvez, seria interessante,
dissociar a editoração de livros da editoração de periódicos, pois, devido à
complexidade de ambos os conteúdos em conjunto com a carga horária, seja
insuficiente para que seja uma disciplina bem aproveitada. Assim, com a
desvinculação, o aluno, ao analisar a ementa e os conteúdos que a disciplina
apresenta, poderia se enveredar pela editoração mais ligada ao perfil profissional
que o mesmo deseja seguir. Ademais, a separação entre a edição de livros e a
edição de periódicos poderia ser nesses dois momentos distintos mais
verticalizados, em vez de em uma disciplina abarcar dois universos amplos e
complexos.
A próxima variável em análise ficara por conta das obras mais citadas entre
as bibliografias básicas e complementares dos currículos disponíveis. Para tal
averiguação, dividimos em dois quadros, ficando no primeiro quadro as bibliografias
básicas e no segundo, as complementares.
É importante salientar que cada instituição segue seus critérios de acordo
com o plano pedagógico de seus cursos referente à quantificação de suas
referências bibliográficas básicas e complementares, sendo assim, não há uma
padronização referente a isso, apesar da diretiva do MEC. Assim, chegou-se ao
78

resultado de 28 referências básicas, ao somar a de todos os currículos em estudo,


com a seguinte frequência: UFBA, 3; UFAL, 3; UFS, 2; UFCA, 4; UFC, 10; UFPE, 3;
UFRN, 3. Já as somatórias das referências complementares totalizaram 44. Sendo
estas as frequências: UFBA, 7; UFAL, 5; UFS, 7; UFCA, 3; UFC, 13; UFPE, 4;
UFRN, 5. Assim, chegou-se a elaboração dos quadros 19 e 21 das obras mais
citadas.

QUADRO 19: Obras mais citadas da bibliografia básica da disciplina de


Editoração
Freq. Autor Título
6 ARAÚJO, Emanuel A construção do livro
2 CHARTIER, R.; LEBRUN, J. A aventura do livro: do leitor ao navegador
A palavra escrita: história do livro da imprensa e da
2 MARTINS, Wilson biblioteca
História universal da destruição dos livros: das tábuas
1 BÁEZ, Fernando da Suméria à guerra do Iraque
Manual de padronização de textos: normas básicas de
BRANDÃO, Nagete Habli; editoração para elaboração de originais, composição e
1 MADRUGA, Lígia do Amaral revisão
CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. V.; Fontes de informação para pesquisadores e
1 KREMER, J. M. (Org.). profissionais
1 COLLARO, Antônio Celso Projeto gráfico: teoria e prática da diagramação
Qualidade de periódicos científicos eletrônicos
COSTA, S. M. de S.; GUIMARÃES, L. brasileiros que utilizam o sistema eletrônico de revistas
1 V. de S (SEER)
1 DARNTON, Robert A questão dos livros: passado, presente e futuro
FERREIRA, S. M. S. P.; TARGINO, M.
1 das G. (Org.) Preparação de revistas científicas: teoria e prática
FRANÇA, J. L. VASCONCELLOS, A. Manual para normalização de publicações técnico-
1 C. de científicas
1 HALLEWELL, L. O livro no Brasil
1 KOTAIT, Ivani Editoração científica
1 LIMA, Antonio Oliveira Manual de redação oficial: teoria, modelos e exercício
Pensar com tipos: guia para designes, escritores,
1 LUPTON, E editores e estudantes
Editoração: mercado de trabalho e regulamentação de
1 LUSTING, Sílvia (org.) profissão
1 MACEDO, Helton Rubiano de Ensaios de editor: pensando livros, projetos e práticas
MAIMONE, , G. D.; TÁLAMA, M. F. A atuação do profissional da informação no processo
1 G. M de editoração de periódicos científicos
MÁRDERO ARELLANO, Miguel A.;
SANTOS, R. M. D. M. ; FONSECA, SEER: disseminação de um sistema eletrônico para
1 Ramón Martins Sodoma da editoração de revistas científicas no Brasil
1 ROBREDO, Jaime Manual de editoração
1 SMITH JÚNIOR, Datus C Guia para editoração de livros
Fonte: elaborado pelo autor (2019)
79

Ao agrupar em quadros todas as referências das sete instituições em


estudo, verificamos a soma de 28 referências, que correspondem ao total de 21
títulos distintos. Esse resultado demonstrou uma dispersão ampla, chegando à
somatória de 18 títulos com frequência um que perpassam entre vários seguimentos
relacionados à editoração, ou seja, vão desde manuais para normalizações de
publicações, manuais para redações científicas e oficiais até artigos que abordam a
utilização do SEER. E não podemos esquecer-nos das obras que falam sobre os
livros, em especial O livro no Brasil, do Hallewell, considerado a obra mais completa
do seguimento quando se aborda sobre as editoras.
Contudo, algumas obras se destacam principalmente a que tem por título A
construção do livro que alcançou uma frequência de seis entre os sete currículos
estudados. O título encontra-se presente na UFBA, UFAL, UFS, UFCA, UFRN e
UFC, ficando de fora apenas da UFPE. Em segundo lugar, podemos elencar duas
obras as quais ficaram com uma frequência de dois currículos cada. Tais obras são
conhecidas como A aventura do livro: do leitor ao navegador e A palavra escrita:
história do livro da imprensa e da biblioteca, o primeiro de Roger Chartier e o
segundo de Wilson Martins.
É interessante também listar os autores mais recorrentes dos programas das
disciplinas de editoração. No que diz respeito aos autores mais frequentes na
bibliografia básica, correspondem justamente aos autores mais citados no quadro
anterior das obras mais citadas, assim desta forma tivemos o seguinte resultado:

QUADRO 20: Autor mais citado entre as bibliografias básicas


Freq. Autor
6 ARAÚJO, Emanuel
2 CHARTIER, R.; LEBRUN, J.
2 MARTINS, Wilson
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

O próximo quadro fica a cargo das obras mais citadas no quesito


bibliografias complementares.
80

QUADRO 21: Obras mais citadas da bibliografia Complementar da disciplina de


Editoração
Freq. Autor Título
2 CHARTIER, Roger A aventura do livro: do leitor ao navegador.
2 HALLEWELL, L. O livro no Brasil: sua história
AZEVEDO, E.; CONCI, A.;
1 LETA, F. R. Computação gráfica: teoria e prática
Periódicos científicos em formato eletrônico: elementos para
1 BARBALHO, C. R. S. sua avaliação
Las revistas académicas em lãs ociedad Del conocimiento:
1 BARITÉ, Mario balance y perspectivas
BLATTMANN, Ursula;
BOMFÁ, Cláudia Regina Gestão de conteúdos em bibliotecas digitais: acesso aberto
1 Ziliotto de periódicos científicos eletrônicos
1 BRAGANÇA, A. Sobre o editor
BRAGANÇA, A.; ABREU,
1 Márcia (Orgs) Impresso no Brasil: dois séculos de livros brasileiros
Lei dos Direitos Autorais, Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de
1 BRASIL 1998
1 BRASIL Lei nº. 5.988/73: a lei do direito autoral
Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva Subsecretaria de
Assuntos Administrativos. Glossário Temático Gestão
1 BRASIL Editorial
Editoras universitárias no Brasil: uma crítica para a
1 BUFREM, Leilah Santiago reformulação da prática
1 CHARTIER, Roger Do códice ao monitor: a trajetória do livro

1 COSTA, E. A Broffice.org: da teoria à prática


FERREIRA, A. G. C.; A editoração eletrônica de revistas científicas brasileiras: o
1 CAREGNATO, S. E. uso de SEER/OJS
FERREIRA, Sueli Maria
Soares Pinto; TARGINO,
1 Maria das Graças. Mais sobre revistas científicas: em foco a gestão
Contribuição das revistas brasileiras de Biblioteconomia e
Ciência da Informação enquanto fonte de referência para a
1 FORESTI, N. A. B pesquisa
1 FRANÇA, Junia Lessa Manual para normalização de publicações técnico-científicas
O dilema do editor de uma revista biomédica: aceitar ou não
1 GREENE, Lewis Joel aceitar
A publicação de revistas eletrônicas: economia de produção,
1 KING, Donald W. distribuição e uso
1 KNAPP, W O que é editora
1 KNYCHALA, Catarina Helena Editoração: técnica da apresentação do livro
1 KOTAIT, I. Editoração científica
Autoria e plágio: um guia para estudantes, professores,
1 KROKOSCZ, Marcelo pesquisadores e editores
Manual de redação e normalização textual: técnicas de
1 MEDEIROS, João Bosco editoração e revisão
81

MIRANDA, D. B. de; O periódico como veículo de comunicação: uma revisão de


1 PEREIRA, M. de N. F literatura
Atividade editorial & ciência da informação: convergência
1 ODDONE, N. epistemológica
OLIVEIRA, Erica Beatriz
1 Pinto Moreschi Periódicos científicos eletrônicos: definições e histórico
1 QUEIROZ, Sonia Editoração arte e técnica
Proíbo a publicação e circulação...- censura a livros na
1 REIMÃO, S. ditadura militar
1 RIBEIRO, Milton Planejamento visual gráfico
1 ROBREDO, Jaime Manual de editoração
ROSA, Flávia Goullart Mota
1 Garcia; ODDONE, Nanci Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca
1 SABATINI, Marcelo Publicações eletrônicas na Internet
Fontes de indexação para periódicos científicos: um guia
1 SANTOS, G. C. (Comp.) para bibliotecários e editores.
Características de periódicos científicos produzidos por
1 SCHULTZE, S. editoras universitárias brasileiras
SOUZA, Eliana Pereira Salles
1 de Publicações de revistas científicas na internet
As dimensões da qualidade dos periódicos científicos e sua
1 TRZESNIAK, P presença em um instrumento daárea da educação
O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade
1 VELLOSO, Ricardo Viana contemporânea
Crítica textual e técnica editorial: aplicável a textos gregos e
1 WEST, M. L latino
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Por se tratar das bibliografias complementares que compõem a disciplina de


editoração, o acumulado de todos os títulos é bem superior quando comparado com
as obras somadas da categoria básica. Então, terminamos a soma com 44
referências, entre elas, 42 títulos diferentes. No entanto, dois deles são sites, por
isso não entraram para a listagem das obras, ficamos então com 40 títulos para
análise.
Dentre os 40 títulos, apenas dois se repetem em mais de uma bibliografia
das sete em estudo, ficando então com frequência dois também. O mais curioso é
que a obra O livro no Brasil: sua história, como já citado anteriormente por ser a obra
mais completa sobre o tema e que havia sido mais citada nas bibliografias básicas é
também uma das duas mais citadas na bibliografia complementar, coincidentemente
o outro livro mais citado na bibliografia básica é o mesmo da complementar, A
aventura do livro no Brasil: do leitor ao navegador.
82

Vale ressaltar que diferente dos autores mais citados referentes às


bibliografias básicas que ficaram sendo os autores das obras mais recorrentes, nas
bibliografias complementares tal título do autor mais citado ficou por conta do Brasil,
em razão da citação da lei de direitos autorais e um glossário. Em segundo lugar
dentre os autores mais citados das bibliografias complementares está Roger
Chartier que além de ter uma das obras mais citadas completa o quadro de autores
mais recorrentes. Com frequência dois, ambos, Bragança e Hallewell ficaram na
segunda posição.

QUADRO 22: Autor mais citado entre as bibliografias complementares


Freq. Autor
3 BRASIL
3 CHARTIER, Roger.
2 BRAGANÇA, A.
2 HALLEWELL, L.
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Outro dado interessante a se mostrar, é o fato de quantas vezes o termo


manual é contemplado entre ambas as bibliografias. O termo ao ser contabilizado
traz uma soma de sete vezes. Tal informação nos faz refletir sobre o quanto à
disciplina de editoração permeia sobre viés prático, pois o termo “manual” nos
remete a algo que deve ser praticado passo a passo.
Para finalizar as discussões dos dados, verificaremos as classificações em
tipologias das obras mais citadas de ambas as categorias dos planos de ensino das
disciplinas de editoração em estudo, que no caso são sete.

QUADRO 23: Classificação das obras citadas nas modalidades básica e


complementar

Tipologia da
Freq. %
Obra
Livro 50 69,4
Artigo 16 22,2
Legislação 2 2,8
Dissertação 1 1,4
Glossário 1 1,4
Site 2 2,8
Total 72
Fonte: elaborado pelo autor (2019)
83

QUADRO 24: Décadas nas obras citadas nas modalidades básica e


complementar
Décadas das obras Freq. %
2010 10 13,89
2000 37 51,39
1990 11 15,28
1980 14 19,44
Total 72
Fonte: elaborado pelo autor (2019)

Ao somarmos todas as referências das bibliografias básicas (28 obras) e das


bibliografias complementares (44 obras) chegamos à somatória de 72 obras. Ao que
diz respeito ao delineamento das 72 obras citadas nas referências podemos
visualizar que o formato livro contabiliza 69,4% das obras, o que nos remete a 50
títulos. Os artigos vêm logo em seguida com 22,2%, somando 16 obras. Sobre
legislações e sites, ambos se destacam com 2,8% somando duas obras cada. Por
fim, as dissertações e glossários ficam com 1,4% cada, somando um título por
tipologia.
Sobre as décadas das obras, os anos 2000 faz menção a 37 obras, o que
nos mostra ser mais de 50% dos títulos, mais especificadamente tal década chega a
primeiro lugar com 51,3%. Em segundo lugar vem os anos 1980, com 14 obras,
somando ao total 19,4%. Os anos 1990 com 11 obras ficam com 15,2%. Em último
estão os anos 2010, com apenas 13,8%, com 10 obras ao total. Tais dados nos
fazem refletir sobre o quão escasso pode ter sido as publicações e obras feitas
sobre o tema editoração entre os anos de 2010 até 2019, lembrando que em 2020 já
se chegará a contar como mais uma década. Seria interessante acompanhar os
projetos pedagógicos dos cursos, em particular, no que se refere a disciplina ora
estudada, a editoração, para ver justamente se há uma mudança dos conteúdos,
das referências indicadas nos planos de ensino.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo foi pautado tendo como norte a tarefa de examinar os


conteúdos das disciplinas de Editoração, nos cursos de Biblioteconomia, que
auxiliam aos seus estudantes na tarefa da formação humana e também no futuro
ingresso no mercado de trabalho. Em especial, concentramos em abordar a
editoração como mais uma das atividades que podem ser exercidas pelos
bibliotecários, o que parece ainda ser uma minoria os bibliotecários que atuam na
editoração. Todavia, tal cenário mostra-se frutífero com os periódicos científicos e a
editoração eletrônica, em que os bibliotecários estão mais engajados e é uma
constante temática das disciplinas em análise, a editoração.
É notório que o profissional não deva depender apenas dos ensinamentos
durante a graduação. É necessária a constante atualização de suas competências e
habilidades, pois a graduação é apenas a base de uma vida profissional, sobretudo
o profissional da informação, pois como bem sabemos a informação está, todos os
dias, em constante mudanças tanto em formato como em sua veiculação, e, por isso
é necessário adaptar-se sempre ao novo.
De início, a motivação do estudo em questão, em relação ao estado da arte,
se daria por meio apenas ao que diz respeito a editoração convencional, ou
editoração de livros, entretanto mediante ao levantamento bibliográfico e leituras dos
textos, constatamos que os textos referentes ao assunto nos remetiam em grande
parte a Editoração eletrônica, a editoração de periódicos. Percebendo tal fato,
adicionamos mais este viés ao estudo, buscando deixar ainda mais completo acerca
do tema da editoração, que envolve tanto a edição de livros quanto a de periódicos,
que mais recentemente tem ganhado destaque como prática dos bibliotecários e
espaço nos currículos e cursos de Biblioteconomia.
Mesmo com a maioria dos textos voltados para a editoração eletrônica, um
outro fato que nos chamou bastante a atenção, foi a escassez de títulos – livros,
artigos, monografias, teses, dissertações – que envolvem a Editoração juntamente a
Biblioteconomia. O que nos faz refletir, se é um mercado que não para, se é por
meio dos periódicos e da editoração eletrônica o alcance da informação é mais
acessível e veloz, onde se encontra o pesquisador da informação com novos
estudos acerca da gestão editorial e desses avanços?
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Verificamos que a editoração, como oportunidade de crescimento


profissional para o bibliotecário, encontra-se atrelada, inicialmente, a questão da
normalização dos documentos, todavia se relaciona ao profissional proativo, curioso
e que se impõe ao mercado de trabalho com ousadia em dizer: “eu tenho
competência para esta atividade”, o leque que se abre é extenso. Podemos citar
atividades como: catalogação na fonte; indexação, normalização, supervisão de
mercado em XML; atentar-se ao fluxo editorial; consultoria; revisão textual,
elaboração de analises métricas; assessoria técnica, podendo até ser o editor-chefe
de editoras ou de periódicos.
Muitas outras atividades, durante o processo criativo deste trabalho foram
levantas. No entanto, ainda é pouca a visibilidade a do bibliotecário no meio editorial.
Foi visto que o problema está em o bibliotecário não se mostrar perante a área,
como também a falta de marketing em relação aos órgãos responsáveis pelo
profissional bibliotecário. É necessário deixar o bibliotecário em evidência,
atenuando suas habilidades e em quais áreas suas competências o permitem
trabalhar.
Julgamos, então, que os objetivos deste estudo, elencados no início, foram
alcançados, pois no que se refere a incidência da disciplina de Editoração nos
currículos dos cursos de Biblioteconomia no nordeste, foi satisfatória. Inferimos tal
satisfação pelo fato de que, entre as dez instituições analisadas, sete delas
apresentam a editoração como proposta de ensino, como categorias obrigatória,
optativa e eletiva. Assim, caso a disciplina não seja obrigatória e o estudante queira
se enveredar pelos caminhos da editoração, há, sim, o suporte da instituição.
Quanto aos conteúdos programáticos e suas ementas, verificamos que há
um misto entre os dois vieses, tanto a editoração convencional, quanto a editoração
eletrônica, o que ajuda na percepção do estudante sobre qual o caminho mais o
atrai. Os conteúdos programáticos e as ementas da disciplina de editoração das
universidades analisadas demonstram que podemos dizer que a editoração possui
seus conteúdos específicos, que vai do impresso ao eletrônico, do livro ao periódico,
convocando os saberes correlacionados a esses dois grandes temas.
Ao concluirmos com satisfação, nosso desejo é que este trabalho possa
servir de base para outros estudos da área da Biblioteconomia e Ciência da
Informação ao fazer editoração. Consideramos que muitas outras pesquisas podem
ser ampliadas apoiadas nesta. Podemos citar, como exemplo, o levantamento de
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dados em outras regiões do país, o que facilitaria a coletada dos dados, pois em
meio à metodologia do presente trabalho, para se ter uma ampla visão do ensino da
editoração no Brasil, fez-se o levantamento dos dados referente a todo o território
nacional, região por região, enquadrando-se nas categorias, os cursos em formato
presenciais e a distância. Só então, após os levantamentos, que foram feitas as
pesquisas a fundo sobre a Editoração nos cursos de Biblioteconomia no nordeste do
Brasil, o que poderia ser objeto de estudo de futuras pesquisas a verticalização
dessa disciplina em todo território nacional, bem como o acompanhamento dessa
disciplina ao longo das décadas e das próprias mudanças dos próprios projetos
políticos pedagógicos dos cursos.
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