Você está na página 1de 38

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – SEDIS


CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA – EAD
POLO - LAJES

CLEBER LUIZ DE SOUSA LIMA

DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA EDUCAÇÃO: A LITERATURA INFANTO-


JUVENIL AFRO-BRASILEIRA COMO CAMINHO PARA UMA EDUCAÇÃO
ANTIRRACISTA.

Lajes/RN
2021
2

CLEBER LUIZ DE SOUSA LIMA

DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA EDUCAÇÃO: A LITERATURA INFANTO-


JUVENIL AFRO-BRASILEIRA COMO CAMINHO PARA UMA EDUCAÇÃO
ANTIRRACISTA.

Artigo de conclusão de curso, apresentado à


Banca Examinadora da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte para obtenção do grau de
Licenciatura em Pedagogia, sob orientação do
Prof. Dr. Paulo Souto Maior Júnior

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Paulo Souto Maior Júnior


Orientador (UFRN)

Dâmares Saldanha Toscano de Souza Gomes


Examinadora interna

Andrialex William da Silva


Examinador interno

Lajes/RN
2021
3

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN


Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Lima, Cleber Luiz de Sousa.


Diversidade étnico-racial na educação: a literatura infanto-
juvenil afro-brasileira como caminho para uma educação
antirracista / Cleber Luiz de Sousa Lima. - Lajes, RN: UFRN,
2021.
37 f.: il.

Artigo Cientifico (Graduação) - Universidade Federal do Rio


Grande do Norte. Centro de Educação, Secretaria de Educação a
Distância, Curso de Pedagogia a Distância. Licenciatura em
Pedagogia.
Orientador: Dr. Paulo Souto Maior Júnior.

1. Diversidade na Educação - TCC. 2. literatura infanto-


juvenil - TCC. 3. Antirracista - TCC. 4. Étnico-racial - TCC. I.
Maior Júnior, Paulo Souto. II. Título.

RN/UF/BSIQ CDU 37:323.12

Elaborado por FERNANDO CARDOSO DA SILVA - CRB-759/15


4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente а Deus, por ser essencial em minha


vida, autor de meu destino, meu guia, socorro presente na hora da angústia, que
nos criou e foi criativo nesta tarefa. Seu fôlego de vida em mim me foi sustento e
me deu coragem para questionar realidades e propor sempre um novo mundo de
possibilidades.
À Francisca Bezerra de Souza Lima, minha mãe, mulher guerreira,
compreensiva, imbatível de todas as horas, força propulsora de todos os instantes.
Ao meu pai, Manoel Rodrigues de Lima (In memorian) companheiro de
tantas horas.
Ao meu irmão Clézio de Sousa Lima por me apoiar constantemente.
Também por ajudar com esclarecimentos em informática, os quais foram
imprescindíveis para que eu pudesse organizar este trabalho.
À minha cunhada Edileuza e as minhas sobrinhas Letícia Yasmin e
Manuela Lima pelos momentos de convívio roubados.
À minha irmã de criação, Brena Stephania, pelo apoio incondicional na
formatação, diagramação e tradução do resumo deste trabalho.
À minha tia Francisca Rodrigues de Lima (In memorian) por me ensinar
particular e ter contribuído desde o início da minha vida estudantil. Um dos motivos
por eu ter adquirido o gosto pela leitura e pelos estudos.
5

AGRADECIMENTOS

Este trabalho só pode ser realizado com a colaboração, em diversos graus,


de um bom número de pessoas a quem desejo expressar meu agradecimento
mais sincero.
Primeiramente ao professor Dr. Paulo Souto Maior Júnior, meus sinceros
agradecimentos por me aceitar como orientando. Agradeço pelo aprendizado por
meio de seus conhecimentos, indicações de leituras, correção de trabalhos, pelo
simples convívio nesse período tão exíguo como orientador, pelas orientações
claras ou mesmo as “implícitas” que fizeram nós lermos tanto e construirmos nosso
próprio caminho. Preciso dizer que Paulo, para mim, foi mais que orientador, foi
amigo, presença forte, acolhedor, sensível e equilibrado durante todo o percurso.
Em tempos difíceis ou mais fáceis da pesquisa, ele sempre estava ali bem perto,
aguardando para que fosse chamado. Sem nenhuma dúvida, devo este trabalho ao
meu orientador, Prof. Dr. Paulo Souto Maior Júnior, porque em sua amplitude de
critério intelectual, sempre encontrei o alento necessário para prosseguir com
minhas próprias intuições e fazê-lo com a confiança de que seus profundos
conhecimentos assegurariam, finalmente, o rigor no desenvolvimento deste
trabalho.
Ao examinador Andrialex William da Silva por aceitar ler meu trabalho e
fazê-lo com enorme atenção a ponto de perceber lacunas e, sugerir melhorias, as
quais seguramente contribuíram para um trabalho mais claro, pois sua visão
percebeu o que eu ainda não tinha visto.
À examinadora Dâmares Saldanha Toscano de Souza Gomes por aceitar
ler este trabalho fazendo uma leitura detalhista, ainda que em pouco espaço de
tempo. Obrigado!
Gostaria de reunir ainda, neste agradecimento todos os professores da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, do Polo de Lajes, com quem desde
o início deste trabalho, cursei disciplinas cujas leituras e estudos foram
fundamentais para o amadurecimento de minhas ideias. Para cada um desses
professores guardo uma imagem carinhosa adquirida durante o convívio em suas
6

aulas, colóquios, palestras, cursos, simpósios, dentre outros. Ter tido a liberdade
de interagir e a oportunidade de aprender com cada um deles foi realmente um
privilégio. Obrigado!
À coordenação do Departamento do Curso de Pedagogia – EaD
representada pelo professor Azemar dos Santos Soares Júnior pela colaboração
e simpatia.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sеυ corpo docente, direção
е administração qυе oportunizaram а janela a qual hoje vislumbro um horizonte
superior, eivado pеlа acendrada confiança no mérito е ética aqui presentes.
Aos amigos que o curso de Pedagogia – Polo de Lajes me deu, pelos
encontros, conversas, convívio, viagens, trabalhos, estudos e festas. A nova
jornada propiciou a ampliação de amigos, os quais jamais esquecerei. Joaquim
Azevedo, Ednara Alves e Alinice Matias. Foram momentos inesquecíveis!
À Escola Estadual Monsenhor Honório – Pendências/RN, meu local de
trabalho atualmente, pelo apoio a minha pesquisa e por me oportunizar o meu
afastamento para estudo.
Aos amigos, minha segunda família, que fortaleceram os laços e me
apoiaram nos momentos de dificuldades! Jamais lhes esquecerei!
E finalmente, agradeço a todos que me ajudaram direta ou indiretamente
para a conclusão dessa pesquisa. Um MUITO OBRIGADO a todos vocês.
O acolhimento, a palavra amiga, um texto sobre a diversidade étnico-racial,
uma instigação.... Por fim, cada rosto, cada face, cada Ser, com sua singularidade,
marcou minha trajetória.... Eu, agora, não tenho palavras... elas simplesmente
escapam-se pelas minhas mãos como grãos de areia... Mas, mesmo assim, tento
dizer o indizível: obrigado a todos pela singeleza do encontro nas travessias da vida
e por ajudar-me, de alguma maneira, concluir essa jornada.
7

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 10

2. ESCOLA: LÓCUS PRIVILEGIADO PARA PROMOÇÃO DE UMA


EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA ....................................................................... 14

3. A LITERATURA: UM CAMINHO PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA


....................................................................................................................... 25

4. O MENINO MARROM DE ZIRALDO: A ANÁLISE DE UMA OBRA DE


LITERATURA INFANTO-JUVENIL AFRO-BRASILEIRA.............................. 30

5. CONCLUSÃO ................................................................................................ 34

REFERÊNCIAS................................................................................................... 36
8

DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL NA EDUCAÇÃO: A LITERATURA INFANTO-


JUVENIL AFRO-BRASILEIRA COMO CAMINHO PARA UMA EDUCAÇÃO
ANTIRRACISTA.

Cleber Luiz de Sousa Lima1


Paulo Souto Maior Júnior (Orientador)2
RESUMO

Nesse trabalho, discutimos a temática da diversidade étnico-racial. O trabalho foi


intermediado por meio da literatura infanto-juvenil afro-brasileira, como meio para
superação do preconceito e da discriminação racial. Na proposta em tela, propomos
analisar como a literatura infantojuvenil afro-brasileira pode ser pensada e utilizada
como uma ferramenta no combate à discriminação e preconceito racial a favor de
uma educação antirracista. Elegemos o livro “O Menino Marrom”, do autor brasileiro
Ziraldo. Para isso, surgiu a seguinte questão problema: Como a literatura infanto-
juvenil afro-brasileira pode contribuir para uma educação antirracista numa sala de
aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental? Optamos por trabalhar com alguns
autores que consideramos fulcral para as discussões acerca das relações étnico-
raciais e a literatura. As principais bases teóricas advêm dos estudos de: Munanga
(2005; 2006), Gomes (2006) e Guimarães (2004; 2008). Em relação aos estudos
críticos destacamos as contribuições de: Cavalleiro (2000), Garcia (2010),
Gonçalves e Silva (1996), Ramos-Lopes (2010; 2015). No que concerne a literatura
afro-brasileira nos pautamos nos estudos e construtos teóricos de Fúlvia
Rosemberg (1985), Heloísa Pires Lima (2001), Fany Abramovich (1991), autores
que se propõem ao estudo do texto literário e suas implicações sociais no âmbito
das discussões étnico-raciais. Metodologicamente, adotamos a pesquisa
bibliográfica e a análise da obra literária infanto-juvenil. Com isso também
buscamos trabalhar a questão da formação identitária e utilizamos para tal
referência a literatura infanto-juvenil afro-brasileira na busca de identificar de que
maneira a obra pode nos ajudar a construir uma educação plural sem a reprodução
dos estereótipos racistas da sociedade. Os dados indicam que o trabalho com a
referida temática, intermediado pela literatura infanto-juvenil afro-brasileira, poderá
provocar uma cadeia de reações positivas e afirmativas, possibilitando a
ressignificação da postura dos sujeitos a respeito das relações étnico-raciais. As
proposições apresentadas têm efetiva relevância social e indicam caminhos para o
favorecimento de uma sociedade menos excludente que respeite e valorize a
diversidade, em especial, a étnico-racial.

Palavras-Chaves: educação (e); literatura infanto-juvenil (lij); antirracista (a);


diversidade (d); étnico-racial (er).

1
Graduado em Letras (UERN), licenciando em Pedagogia (UFRN), EEMH/Pendências,
cleberllima2012@gmail.com

2
Professor Doutor, DPEC/UFRN, Natal/RN
9

ABSTRACT

In this work, we discuss the theme of ethnic-racial diversity. The work was mediated
through Afro-Brazilian children's literature, as a means to overcome racial prejudice
and discrimination. In the present proposal, we propose to analyze how Afro-
Brazilian children's literature can be thought of and used as a tool in the fight against
racial discrimination and prejudice in favor of an anti-racist education. We chose the
book “O Menino Marrom”, by Brazilian author Ziraldo. For this, the following problem
question arose: How can Afro-Brazilian children's literature contribute to an anti-
racist education in a classroom in the early years of elementary school? We chose
to work with some authors that we consider central to discussions about ethnic-
racial relations and literature. The main theoretical bases come from the studies of:
Munanga (2005; 2006), Gomes (2006) and Guimarães (2004; 2008). Regarding
critical studies, we highlight the contributions of: Cavalleiro (2000), Garcia (2010),
Gonçalves and Silva (1996), Ramos-Lopes (2010; 2015). With regard to Afro-
Brazilian literature, we are guided by the studies and theoretical constructs of Fúlvia
Rosemberg (1985), Heloísa Pires Lima (2001), Fany Abramovich (1991), authors
who propose to study the literary text and its social implications in the context of
ethnic-racial discussions. Methodologically, we adopted bibliographical research
and analysis of children's literary works. With this, we also seek to work on the issue
of identity formation and use the Afro-Brazilian children's literature for such
reference in order to identify how the work can help us build a plural education
without reproducing the racist stereotypes of society. The data indicate that the work
with the referred theme, mediated by the Afro-Brazilian children's and youth
literature, may provoke a chain of positive and affirmative reactions, enabling the re-
signification of the subjects' posture regarding ethnic-racial relations. The proposals
presented have effective social relevance and indicate ways to favor a less
excluding society that respects and values diversity, especially ethnic-racial.

Keywords: education; children's literature; anti-racist; diversity; ethnic-racial.


10

1. INTRODUÇÃO

Nesse estudo, visualizamos questões de ensino e aprendizagem, utilizando


a literatura como meio de fomento à uma educação antirracista. Ultrapassamos os
liames de uma prática de ensino da literatura isolada das discussões sociais e
aplicamos um trabalho norteado pela discussão da diversidade étnico-racial,
respaldado pela Lei nº 10.639/03, que altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura
Afro-Brasileira", e dá outras providências (BRASIL, 2003).
O tema do presente artigo é parte de uma pesquisa de trabalho de conclusão
de curso (TCC) no curso de Pedagogia EaD da UFRN. Tem como foco destacar a
importância de trabalhar a diversidade étnico-racial na escola, especificamente nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, atrelando à temática ao uso da Literatura
Infanto-Juvenil Afro-Brasileira. – LIJAB.
Propomos uma intervenção por meio da LIJAB, a favor de uma educação
antirracista, tendo em vista que em nossa prática efetiva de sala de aula, sentimos
a necessidade de construir e fortalecer relações étnico-raciais sadias na escola.
Partimos dos estudos de Ramos-Lopes (2010; 2015) ao evidenciarem que
nas práticas discursivas escolares, além da temática das relações étnico-raciais ser
tratada inadequadamente, muitas das manifestações de racismo são abordadas
como tabu. A omissão acerca de discussões sobre a temática racial torna-se
extensiva ao fazer pedagógico de docentes que muitas vezes silenciam em
detrimento de práticas discriminatórias que circulam na escola.
Assim, muitos estudantes negros e afro-brasileiros ao chegarem às escolas
se deparam com uma maioria de educadores em que nas suas práticas não
despertam para a discussão a respeito da temática étnico-racial e,
consequentemente, não estabelecem discussões que abordem a singularidade dos
negros africanos e afro-brasileiros e das contribuições dadas para a história do
povo brasileiro por meio da dança, da religião, das comidas típicas, do trabalho
braçal e da cultura afro-brasileira.
A constatação anterior parece atrelada ao conflito social e político entre as
classes, posto que o interesse pela questão racial negra, sempre foi relegado e
11

quando existiu foi ora comprometido com a ideia de caldeamento/assimilação que


serviu de base à ideologia do branqueamento físico e cultural da nação por meio
da imigração europeia, ora envolto pelo mito da democracia racial que contribuiu
para a circularidade e a construção do discurso da unidade entre brancos, negros
e indígenas. Fatos que encobriram as hierarquias e as discriminações constitutivas
das relações entre brancos e não-brancos. (BRASIL, 2008).
O motivo da escolha pela temática étnico-racial partiu da constatação em
sala de aula das dificuldades que os alunos têm de aceitar o “outro” com suas
particularidades e diferenças. Resolvemos vincular o estudo da temática à prática
com a literatura como uma oportunidade dos alunos lerem, se posicionarem,
argumentarem e, por extensão, melhorarem sua visão de mundo acerca da aludida
temática.
Na história da educação brasileira, observamos em sua essência a
presença das desigualdades sociais, culturais e principalmente raciais. As
diferenças notadamente demarcadas historicamente, especialmente a racial, foram
e continuam sendo o foco central na definição, construção e manutenção dessa
desigualdade que geram marcas profundas naqueles que vivem a mais de
trezentos anos à margem do processo educacional formal do nosso país.
A esse respeito, Brasil (2004) explicita:

É necessário que se questionem relações étnico-raciais baseadas


em preconceitos que desqualificam os negros e salientam
estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou
explicitamente violentas, expressam sentimentos de superioridade
em relação aos negros, próprios de uma sociedade hierárquica e
desigual.

´Compreendemos que faz-se necessário um posicionamento firme que


possa resistir contra qualquer forma de preconceito, em especial o étnico-racial,
para que possamos construir uma sociedade sadia que respeite e valorize o outro
com suas singularidades.

No tocante a sua relevância, o trabalho poderá oferecer uma reflexão às


pessoas tiverem acesso a ele, incluindo-se o pesquisador. Esta discussão ainda se
12

torna proeminente, pelo fato de que na escola a problematização e o diálogo acerca


da diversidade étnico-racial sempre foi silenciada. Desse modo, ao abordá-la em
sala de aula, estaremos contribuindo para que sujeitos se posicionem, argumentem
e construam visões diferenciadas sobre a temática em tela.
Com foco nessa problematização emerge a questão norteadora de nosso
trabalho: Como a literatura infanto-juvenil afro-brasileira pode contribuir para uma
educação antirracista numa sala de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental?
Elegemos como objetivo geral: Analisar como a literatura infantil afro-
brasileira pode ser pensada e utilizada como um meio de combate à discriminação
e o preconceito racial, a favor de uma educação antirracista. Para isso, elegemos
o livro “O Menino Marrom”, do autor brasileiro Ziraldo, por se tratar de uma obra
literária de um escritor brasileiro e por possibilitar o trabalho, considerando a
temática da diversidade étnico-racial, como também está voltada para o público
infanto-juvenil.
Como desdobramento, propomos os seguintes objetivos específicos: 1 -
Refletir sobre o papel da literatura infantil afro-brasileira e africana na discussão da
temática da diversidade étnico-racial; 2 - Analisar o livro “O Menino Marrom” de
Ziraldo e as potencialidades de um debate nos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
A aludida pesquisa apropriou-se de forma exploratória de alguns estudos e
para isto faz uso como fonte bibliográfica: livros, teses, artigos, periódicos, entre
outros que subsidiarão a organização do trabalho. O recorte temporal considerou a
Lei nº 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais (BRASIL, 2004).
Optamos por trabalhar com alguns autores que consideramos fulcral para
as discussões acerca das relações étnico-raciais e a literatura. As principais bases
teóricas advêm dos estudos de: Munanga (2005; 2006), Gomes (2006) e
Guimarães (2004; 2008). Em relação aos estudos críticos destacamos as
contribuições de: Cavalleiro (2000), Garcia (2010), Gonçalves e Silva (1996),
Ramos-Lopes (2010; 2015). No que concerne a literatura afro-brasileira nos
pautamos nos estudos e construtos teóricos de Fúlvia Rosemberg (1985), Heloísa
Pires Lima (2001), Fany Abramovich (1991), autores que se propõem ao estudo do
texto literário e suas implicações sociais no âmbito das discussões étnico-raciais.
13

Ao se propor trilhar pelos caminhos da pesquisa, faz-se necessário


evidenciar os fios metodológicos, que orientaram o nosso olhar, bem como os
caminhos epistemológicos que sustentaram nosso percurso. Os pressupostos
teórico-metodológicos consistiram na pesquisa de cunho bibliográfico e na análise
e interpretação de uma obra literária infanto-juvenil.
A pesquisa bibliográfica está imersa principalmente no meio acadêmico e
tem o propósito de aprimoramento e atualização do conhecimento, através de uma
investigação científica de obras já publicadas.
No que se refere à pesquisa bibliográfica, observe o que nos diz Andrade
(2010, p. 25):
A pesquisa bibliográfica é habilidade fundamental nos cursos de
graduação, uma vez que constitui o primeiro passo para todas as
atividades acadêmicas. Uma pesquisa de laboratório ou de campo
implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica preliminar.
Seminários, painéis, debates, resumos críticos, monográficas não
dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é obrigatória nas pesquisas
exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa,
no desenvolvimento do assunto, nas citações, na apresentação das
conclusões. Portanto, se é verdade que nem todos os alunos
realizarão pesquisas de laboratório ou de campo, não é menos
verdadeiro que todos, sem exceção, para elaborar os diversos
trabalhos solicitados, deverão empreender pesquisas
bibliográficas.

A pesquisa bibliográfica, nessa perspectiva, exige do pesquisador certo


cuidado com as fontes, com a escolha da bibliografia, com o olhar que se quer
imprimir à discussão que, no limite, pode ser traduzida na necessidade de certa
competência no manuseio da documentação e dos referenciais teóricos, nas
escolhas que são feitas.

De acordo com Fonseca (2002):

A pesquisa bibliográfica é realizada a partir do levantamento de


referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos
e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites.
Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa
bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se
estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas
que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando
referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher
informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a
respeito do qual se procura a resposta.
14

Dessa maneira, este texto está disposto da seguinte forma: no primeiro


momento, apresentamos a introdução, que expõe os caminhos metodológicos e
teóricos da proposta. O segundo momento, analisamos e estudamos os autores
que buscam a construção de uma educação antirracista. Logo em seguida, o
terceiro momento refletimos sobre o papel da literatura infanto-juvenil afro-
brasileira como ferramenta a favor de uma educação antirracista e quarto
momento, relatamos a análise da obra literária “O menino marrom” de Ziraldo.
Esperamos com essa proposta contribuir com a discussão em tela,
intermediada pela literatura infanto-juvenil afro-brasileira, norteada pelo viés da
diversidade étnico-racial.

2. ESCOLA: LÓCUS PRIVILEGIADO PARA PROMOÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO


ANTIRRACISTA.

Neste tópico, discutiremos sobre um dos papéis da escola, qual seja, o de


promotora de uma cultura de enfrentamento ao preconceito e à discriminação, em
especial a racial, como também analisar as questões raciais que perpassam a
escola e de que forma comprometem o seu cotidiano.
Atualmente, a discussão em torno da temática da diversidade cultural e racial
como construção sócio-histórica tem feito parte dos principais debates e estudos
da educação brasileira. A temática ganha notoriedade, também, nos diversos
espaços sociais, acadêmicos, midiáticos, dentre outros. Percebe-se que há um
discurso de tolerância que é confrontado com outro que diz respeito à afirmação
dos direitos civis, sociais, políticos e identitários de reconhecimento e de respeito
ao direito à diferença.
A escola é um “lócus” excepcional de convivência humana. A maioria,
encontra-se uma enorme variedade cultural, étnica e socioeconômica; entretanto,
a forma como este espaço social é organizado inviabiliza que as diferenças
presentes no cotidiano escolar sejam respeitadas e valorizadas enquanto
diversidades.
15

É cada vez mais necessário reconhecer e valorizar o caráter polissêmico da


educação e, em extensão, o da escola. A esse respeito, Machado (2002, p. 51)
afirma:
A escola é polissêmica porque leva em conta que seu espaço, seus
tempos, suas relações podem estar sendo dotados de significados
diferentes, tanto pelos alunos quanto pelos professores,
dependendo da cultura e do projeto dos diversos grupos sociais
nela existentes.

Elementos como o espaço, o tempo, a diversidade cultural, os múltiplos


sujeitos, as mais variadas formações, os diversos interesses revelam significados
diversos, tornando a escola cada vez mais plural. Nesse sentido, defendemos ser
o ambiente escolar um espaço ímpar para a construção e ressignificação de
valores, dentre eles, o respeito ao outro, independente, de seu fenótipo, da
condição social, da orientação sexual, dentre outros elementos sinalizadores de
práticas preconceituosas e discriminatórias.
Nessa perspectiva, compreendemos que dialogar sobre racismo,
preconceito e discriminação na escola não é tarefa fácil. É comum os docentes
ficarem inibidos, sem saberem como direcionar a discussão. Nossa sensibilidade
docente e humana, muitas vezes não atenta para o fato de que essa é uma
problemática social que vem perpassando os séculos e que precisa circular na
escola, na perspectiva de desmistificação. É notório a constatação de que falta, em
muitos cursos de licenciatura, um currículo acadêmico que contemple a discussão.
Cavalleiro (2001), Munanga e Gomes (2006) e Guimarães (2004; 2008) ao
buscarem compreender a dinâmica das relações multirraciais na educação,
revelam a existência de muitos conflitos nas relações cotidianas e por este motivo
asseveram que é necessário um enfrentamento contra as práticas discriminatórias
que surgem nos ambientes sociais, que despertem a consciência e possibilitem o
empoderamento da população negra.
Os Estudos e Pesquisas sobre as relações raciais e a educação não é
recente no país, como podemos evidenciar nos trabalhos empreendidos de:
Guimarães (2004; 2008); Munanga (2005); Munanga e Gomes (2006); Gonçalves
e Silva (2000) e Ramos-Lopes (2010; 2014), como também se trata do resultado
das lutas sociais, históricas e políticas dos movimentos sociais, em específico o
16

movimento negro. Nas últimas décadas, o acúmulo de estudos sobre as


desigualdades raciais tem provocado a elaboração de políticas públicas
específicas, debates na sociedade civil, a produção de materiais didáticos
pedagógicos, a formação docente inicial e continuada, a implementação de
legislação específica, tais como: Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 que institui
o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989,
9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de
novembro de 2003. Lei 12990/14, de 9 junho de 2014, que reserva aos negros 20%
(vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de
cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal,
das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades
de economia mista controladas pela União
Nessa perspectiva, é fulcral ressaltar que “a educação não deve ser apenas
uma reprodução, mas principalmente, uma produção e uma adaptação dos
conhecimentos e culturas” (MACHADO, 2002, p. 50, 51). A nossa compreensão é
de que a instituição educativa deve transcender a função de reprodutora de
conhecimento, porque só assim ela possibilitará a construção e apropriação de
novos saberes e de novas culturas. Cristina Machado (2002) afirma ainda que:

A desnaturalização da cultura escolar dominante nos sistemas de


ensino se faz urgente e se articula à necessidade de se buscarem
novos caminhos para incorporar positivamente a diversidade
cultural no ambiente escolar, pois a problemática das relações entre
diversidade cultural e cotidiano escolar constitui, portanto, um tema
de especial relevância para a construção de uma escola
verdadeiramente democrática. (MACHADO, 2002, p. 51, 52)

Compreendemos que a partir do entrelaçamento entre as várias culturas


existentes na escola e suas relações é que realmente poderemos transformá-la em
um local essencialmente democrático.
É perceptível que crianças e adolescentes, negros e negras, têm se
deparado com um ambiente escolar coibente e desfavorável ao seu sucesso e ao
pleno desenvolvimento de suas potencialidades.
Cavalleiro (2001, p. 145) ao estudar o espaço escolar, observa:

[...] não são encontrados no espaço de convivência das crianças


cartazes, fotos, ou livros infantis que expressam a existência de
17

crianças não-brancas na sociedade brasileira. Dessa maneira, o


espaço escolar reproduz o modelo de beleza branca/europeia
predominante nos meios de comunicação e na vida social. A
ocorrência desses acontecimentos também na escola parece
confirmar às crianças uma suposta superioridade do modelo
branco. São acontecimentos que podem parecer apenas um
detalhe do cotidiano pré-escolar, porém são reveladores de uma
prática que pode prejudicar severamente o processo de
socialização de crianças negras, imprimindo-lhes estigmas
indeléveis.

A citação acima revela que embora a escola tenha o papel de promotora da


tolerância, da igualdade e do respeito às diferenças, as observações da autora
instruem-nos a considerar que essa função não é cumprida quando a escola
privilegia um único segmento racial. Observamos que essas práticas
discriminatórias favorecem de forma danosa a formação do imaginário social dos
discentes negros em relação a si mesmo.
A autora Cavaleiro (2001) comenta que nos espaços escolares pesquisados
não é comum a presença de fotos, livros e cartazes de crianças negras. O que se
configura em uma reprodução da cultura eurocêntrica predominando um modelo de
beleza branca. O que pode parecer um simples detalhe, para as crianças negras é
a negação de sua existência.
Nessa seara, a proposição é de que seja efetivada a implantação, no
cotidiano escolar, de uma educação voltada para a valorização da diversidade e do
respeito às diferenças e uma compreensão mais ampla da história do racismo no
Brasil e no mundo.
Pesquisas empreendidas por Ramos-Lopes (2010; 2015), Munanga (2000;
2005; 2008) e que foram ampliadas através de um estudo iniciado com o Projeto
Educação e Diversidade Étnico-racial: experiências e desafios de docentes da
educação básica com a aplicação da lei 10.639/03 (RAMOS-LOPES, 2014-2015),
realizado em escolas públicas do município de Assu/RN, debatem a proposta de
uma educação voltada para a diversidade étnico-racial, que exige de nós
educadores, o grande desafio de estarmos atentos às diferenças econômicas,
sociais, raciais, dentre outras, que geram no espaço escolar desconfortos,
constrangimentos.
A esse respeito, a pesquisadora enfatiza a luta histórica dos movimentos
sociais, e, de maneira específica, a dos movimentos negros brasileiros por uma
18

sociedade mais justa e uma educação que valorize os seres sociais, inclusive o
negro. Este, na maioria das vezes excluído da história e da cultura desse país ou
muitas vezes incluído de forma negativa, estereotipada.
Discutir a temática do preconceito dentro da escola é interessante para ser
problematizada, pesquisada e debatida, apresentando o olhar do professor que
convive diretamente com uma problemática tão presente, recorrente e atual.
Nessa discussão, o papel da escola é essencial na formação de seu alunado
buscando um melhor caminho, para todos que fazem parte de uma instituição
educativa, que busca ser plural e inclusiva. Conforme Menezes (2008, p. 10) "A
escola é um espaço privilegiado para aprender a resolver conflitos e conviver com
a diferença”.
De acordo com Paulo Silva (2008 p.25):

É também na escola que a criança tem principais contatos com as


diferenças culturais e, talvez o reforço às atitudes discriminatórias,
seja por meio dos livros didáticos que trazem o negro como figura
diferente e folclórica, criando um estereótipo que passa a fazer
parte do imaginário dessas crianças que dependendo, da educação
que recebem, tornam-se adultos preconceituosos e perpetuam
essa visão através de seus filhos.”

Nilma Lino Gomes (2003) assevera que a discussão e a implementação de


ações, voltadas à valorização da cultura negra no ensino básico, é despertar o
respeito para com as diferenças e trabalhar a construção da identidade de cada
indivíduo em formação. Afinal, “o fato de sermos diferentes, enquanto seres
humanos e sujeitos sociais, talvez seja uma das nossas maiores semelhanças”
(GOMES, 2003, p.3), sendo esses aspectos de vital relevância para a composição
de uma sociedade mais tolerante e consciente, em um país tão marcado pela
diversidade.
É consensual pela maioria dos pesquisadores da temática em tela, de que
se deve buscar abrigar, no ambiente escolar, posicionamentos e posturas mais
democráticos, plurais e garantidores do respeito às diferenças, que são condições
básicas para construção do sucesso escolar para os educandos.
19

Diante da discussão ora empreendida, consideramos que lutar para


implementar uma educação antirracista é um desafio necessário e que deve nortear
a prática escolar diária. Tal prática deve-se pautar no estudo da cultura afro-
brasileira, alicerçada em especial na Lei nº 10.639/2003, no abandono dos padrões
tradicionais e etnocêntricos, desmitificando o “mito da democracia racial” e o
estímulo a posturas e reflexões críticas da realidade.
De acordo com Lewgay (2006), surge no Brasil, na década de 1920, o mito
da democracia racial, que se consolidou no imaginário social baseando-se na ideia
de que o racismo havia acabado. A ideia de que o Brasil era uma sociedade sem
barreiras legais que impedissem a ascensão social de pessoas de cor a cargos
oficiais ou a posições de riqueza ou prestígio, era já uma ideia bastante difundida
no mundo, principalmente nos Estados Unidos e na Europa (GUIMARÃES, 2002).
Logo, o mito da democracia racial fez com que se propagasse no Brasil uma
das formas mais perversas de racismo: o racismo velado mascarado pelo status
liberal e democrático (MUNANGA, 2000).
Nesse sentido, é necessário considerar a escola como o lugar de
experiências e trocas, de valorização da diversidade e da igualdade, mudando o
rumo de uma história de exclusão e discriminações que excluem os
afrodescendentes de direitos básicos para construção da sua personalidade.
Em certos momentos, as práticas educativas que se pretendem iguais para
todos acabam sendo as mais discriminatórias. (GOMES, 2001, p.86). A autora
explicita que muitas vezes essa postura reforça ainda mais o desrespeito e a falta
de empatia em relação ao sujeito que é diferente.
A esse respeito, Munanga e Gomes (2006, p.181,182, 184) explicitam:

O preconceito é um julgamento negativo e prévio que os membros


de uma raça, de uma etnia, de um grupo, de uma religião ou mesmo
de indivíduos constroem em relação ao outro. Esse julgamento
prévio apresenta como característica principal a inflexibilidade, pois
tende a ser mantido a qualquer custo, sem levar em conta os fatos
que o contestem. A palavra “discriminar” significa distinguir,
diferenciar, discernir. A discriminação racial pode ser considerada
como a prática do racismo e a efetivação do preconceito.
20

Ou seja, o preconceito é algo subjetivo, um misto de ideias formadas sem


conhecimento da realidade, incluindo-se a relação entre os sujeitos sociais. Já a
discriminação, refere-se à ação propriamente dita, ou seja, a capacidade de
diferenciar, separar as raças a partir de ideias preconcebidas.
Ainda sobre preconceito e discriminação, destacamos Guimarães (2004, p.
18):
O preconceito seria apenas a crença prévia (preconcebida) nas
qualidades morais, intelectuais, físicas, psíquicas ou estéticas de
alguém, baseada na ideia de raça. [...] o preconceito pode
manifestar-se, seja de modo verbal, reservado ou público, seja de
modo comportamental, sendo que só neste último caso é referido
como discriminação.

No dizer do autor, o preconceito remete a uma ideia antecipada baseada em


atributos físicos e psicológicos do indivíduo abalizada no conceito de raça. A
discriminação é revelada verbalmente, da forma particular ou pública e expressada
através do comportamento humano.
Ramos-Lopes (2010) lembra que: na metade do século XIX, na Bahia, foram
empregados dois termos raciais: “preto” referindo-se aos africanos e “crioulo” para
aqueles nascidos no Brasil. Paulatinamente, o termo “preto” passou a ser usado
tanto para os africanos quanto para seus descendentes passando a expressão
“negro” a não ser mais designativa de cor, ela contraiu um significado mais racial e
pejorativo. O termo “negro” tornou-se carregado de preconceitos, lembranças e
lutas, de determinados grupos sociais, em prol de sua constituição identitária.
Assim, concordamos com os estudos multiculturalistas de que tentar negar
as diferenças físicas, culturais e sociais entre as pessoas em nada vai ajudar no
combate ao racismo. Nas práticas escolares não se deve silenciar mediante tais
diferenças, e sim, discuti-las, sem o sentido de perpetuá-las. Elas devem ser
consideradas como uma construção histórica, social, política, cultural (MUNANGA,
2006).
Na educação brasileira, a falta de uma reflexão sobre as relações raciais no
planejamento educacional e escolar tem impedido a promoção de uma educação
antirracista e a construção de relações interpessoais respeitáveis e igualitárias
entre os agentes sociais que integram o cotidiano da escola.
21

No contexto educacional brasileiro, a manutenção do silêncio sobre o


racismo, o preconceito e a discriminação raciais nas diversas instituições
educacionais contribuem para que as diferenças entre negros e brancos sejam
compreendidas como desigualdades naturais. Mais do que isso, reproduzem um
discurso de que os negros são seres inferiores.

Nesse sentido, vejamos o que Cavalleiro (2000) postula:

Na educação brasileira, a ausência de uma reflexão sobre as


relações raciais no planejamento escolar tem impedido a promoção
de relações interpessoais respeitáveis e igualitárias entre os
agentes sociais que integram o cotidiano da escola. O silêncio
escolar sobre o racismo cotidiano não só impede o florescimento
do potencial intelectual de milhares de mentes brilhantes nas
escolas brasileiras, tanto de alunos negros quanto de brancos,
como também nos embrutece ao longo de nossas vidas,
impedindo-nos de sermos seres realmente livres “para ser o que for
e ser tudo” – livres dos preconceitos, dos estereótipos, dos
estigmas, entre outros males.

É salutar ressaltar que o silêncio escolar sobre o racismo cotidiano não só


impede o surgimento e o desenvolvimento do potencial intelectivo de inúmeros
indivíduos de cérebros brilhantes nos colégios brasileiros, tanto de estudantes
negros quanto de brancos, como também nos tornam seres embrutecidos ao longo
de nossas vidas.
Nesse sentido, como educadores(as) ou cidadãos(ãs) comuns, é
inadmissível nos silenciar diante do crime de racismo no cotidiano escolar, em
especial se desejamos realmente ser considerados educadores e ser sujeitos de
nossa própria história.
É importante observar que o negro sempre lutou e continua lutando pela sua
equidade. Um dos resultados dessa luta é a Lei Federal nº 10.639/03, de 09 de
janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História
e Cultura Afro-Brasileira.
Analisando a referida lei é que reconhecemos:
22

o grande desafio da escola é investir na superação da


discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela
diversidade étnico-racial e cultural que compõe o patrimônio
sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos
grupos que compõem a sociedade, como também respeitar e
valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos
valores do outro, mas, sim, respeitá-los como expressão da
diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por
sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação (BRASIL,
1997, p. 117, 121).

A aludida lei foi uma vitória para a sociedade brasileira, especialmente a


negra que viu a partir da sanção desta lei as seguintes possibilidades:
"Art. 26-A. - Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio,
oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e
Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o - O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo
incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação
da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro
nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do
Brasil.
§ 2o - Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira
serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
Brasileiras.

Pesquisa3 realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas


(FIPE, 2009), sobre Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, a pedido do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP),
aponta que o preconceito e a discriminação estão profundamente presentes entre
estudantes, pais, professores, gestores e funcionários das escolas brasileiras e que
94,2% das pessoas entrevistadas na referida pesquisa tem preconceito racial. A
pesquisa foi realizada com o intuito de dar subsídios para a elaboração de ações
que transformem a escola em um ambiente de promoção da diversidade e do
respeito às diferenças.
O preconceito racial é evidenciado todos os dias em nosso país. É só
buscarmos nos jornais impressos e virtuais que encontramos casos que revelam
exemplos de preconceito e discriminação racial que atentam contra a autoestima

3
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/relatoriofinal.pdf
23

de indivíduos negros, associando-os a posições de servilidade ou criminosas,


posicionamentos que refletem a persistência da mentalidade escravocrata da
sociedade brasileira.
A esse respeito, podemos elencar alguns fatos que foram veiculados na
mídia brasileira nos últimos anos, conforme apresenta as manchetes de alguns
meios de comunicação citados a seguir:
Exemplo – 1: PAI ACUSA Fonte: http://g1.globo.com/sao-
paulo/noticia/2015/03/pai-acusa-de-
DE RACISMO
racismofuncionaria-de-loja-na-rua-oscar-freire-em-
FUNCIONÁRIA DE LOJA sp.html
NA RUA OSCAR
FREIRE, EM SP
Exemplo –2: Fonte:
https://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2009/08/612053-
CONFUNDIDO COM
confundido-com-ladrao-vigilante-agredido-em-
LADRÃO, VIGILANTE mercado-diz-ter-sido-vitima-de-racismo.shtml
AGREDIDO EM
MERCADO DIZ TER
SIDO VÍTIMA DE
RACISMO
Exemplo – 3: JOVEM Fonte:
NEGRO É AGREDIDO https://www.cartacapital.com.br/sociedade/jovem-
negro-e-agredido-em-shopping-e-diz-ter-sido-
EM SHOPPING E DIZ
confundido-com-ladrao/.
TER SIDO
CONFUNDIDO COM
LADRÃO

Ao fazer uma análise sobre essas situações exemplificadas, revela-se que


uma parcela da sociedade age com intolerância, com discriminação e com racismo,
em relação a esse grupo social.
Ratificamos esse pensar, com Borges, Medeiros e d’Adesky (2002) quando
destacam que práticas discriminatórias, intolerância e racismo são ações ou
omissões que, em razão do indivíduo ou grupo pertencer a determinada raça, cor,
nacionalidade ou origem étnica, violam o princípio da igualdade e do respeito diante
das crenças alheias.
24

Reportamo-nos a Santos (1980) quando o autor afirma que o racismo é um


aparelho ideológico social que ratifica a superioridade de um grupo racial sobre
outros. No nosso entendimento, a partir das vivências em sala de aula, percebemos
que esse pensamento é muito forte e presente, mas acreditamos que através de
práticas pedagógicas esclarecedoras, sérias e comprometidas com o respeito às
diferenças é possível minimizar esse problema.
Outro dado expressivo que o estudo evidencia é que quanto mais
comportamentos preconceituosos e práticas discriminatórias existem em uma
instituição escolar pública, pior é o desempenho de seus estudantes. Dessa forma,
faz-se necessário um trabalho muito consistente na escola para que a
discriminação se reduza nesse espaço de ensino e aprendizagem.
Para corroborar com esse pensar, vejamos o que afirma Ribeiro (2019):

Pesquisa do Datafolha realizada em 1995, mostrou que 89% dos


brasileiros admitiam existir preconceito de cor no Brasil, mas 90%
se identificavam como racistas. Na época, a pesquisa foi
considerada a maior sobre o tema, entrevistando 5081 pessoas
maiores de dezesseis anos, em 121 cidades, de todas as unidades
da federação. Dessa forma, reconhecer o racismo é a melhor forma
de combatê-lo. Não tenha medo das palavras “branco”, “negro”,
“racismo”, “racista”. Dizer que determinada atitude foi racista é
apenas uma forma de caracterizá-la e definir seu sentido e suas
implicações. A palavra não pode ser um tabu, pois o racismo está
em nós e nas pessoas que amamos - mais grave é não reconhecer
e não combater a opressão.

Com foco nessa acepção, consideramos que é importante levar essa


discussão para o âmago das salas de aula, com o intuito de provocar discussões
acaloradas e significativas e dessa maneira contribuir para a diminuição de práticas
excludentes tão repugnantes e indesejáveis na vida de todos nós e dessa forma
consolidar uma educação antirracista no interior das escolas brasileiras.
Ainda sobre a implementação de uma educação como foco nas relações
étnico-raciais, observemos o que Gomes (2008, p. 83) postula:

A educação para as relações étnico-raciais que cumpre o seu papel


é aquela em que as crianças, os adolescentes, os jovens e os
25

adultos negros e brancos, ao passarem pela escola básica,


questionem a si mesmos nos seus próprios preconceitos, tornem-
se dispostos a mudar posturas e práticas discriminatórias,
reconheçam a beleza e a riqueza das diferenças e compreendam
como essas foram transformadas em desigualdades nas relações
de poder e de dominação.

Essa afirmação nos faz refletir sobre o compromisso que deve ser assumido
pela educação e, consequentemente, pela escola na formação dos sujeitos
partícipes do processo educativo, principalmente, intervindo na mudança de
posturas e práticas preconceituosas, reconhecendo o valor das diferenças.
O preconceito na sociedade brasileira é um fato. É comportamento
impregnado e reproduzido, entretanto não pode continuar sendo acolhido ou
camuflado, por isso essa questão deve ser abordada explicitamente, sem
constrangimento, especialmente em âmbito escolar.
Faz-se necessário a descolonização do currículo, a democratização do
processo de formação na educação básica e no ensino superior e a garantia de
reflexividade e autonomia para a construção de espaços de intercâmbio, de diálogo
e de valorização da diversidade humana em sua plenitude.
Logo, acreditamos que a literatura é uma importante meio para identificar e
problematizar as questões étnico-raciais, assim, desmistificando imagens e
discursos estereotípicos que foram pedagogicamente construídos e introjetados no
imaginário coletivo. Nesse sentido, passamos a discutir as possibilidades da
literatura no combate ao racismo, com o intento de buscar um espaço de debate,
de inserção da leitura, em busca de uma identidade étnico-racial, de respeito aos
diretos e deveres, para acrescentar e fazer com que as pessoas/leitores reflitam as
condições de exclusão social que os negros foram submetidos.

3. A LITERATURA: UM CAMINHO PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA

A literatura infantil e juvenil, em seu percurso histórico, nunca ficou alheia


aos problemas sociais, culturais e étnico-raciais. É por meio da literatura que
imergimos no universo dos seres ficcionais e nos transportamos para outros
mundos e ao mesmo tempo por meio dela discutimos temáticas reais de relevância
social.
26

É importante destacar que a literatura, quando for criteriosamente escolhida,


com o rigor que requer, pode ser considerada como uma aliada no combate ao
racismo e uma porta-voz relevante na construção da identidade étnico-racial e da
apropriação e disseminação de conhecimentos sobre diversas culturas africanas.
A batalha contra o racismo inicia quando paramos e nos questionamos sobre o
porquê do outro ser tratado com diferença, apenas pela cor da sua pele.
Ao escolher à obra literária “O Menino Marrom”, de Ziraldo, constatamos,
através da análise, a predominância de uma tendência temática: o enaltecimento
da beleza “marrom” de um personagem protagonista, revelando o empoderamento
do negro. Para refletirmos acerca da questão étnico-racial na obra literária levamos
em conta as considerações de relevantes estudiosos das Ciências Humanas e
Sociais, para visualizar os fios do racismo à brasileira e do mito da democracia
racial. Assim, compreendemos a literatura infantojuvenil afro-brasileira como uma
importante produção artística trabalhada no contexto escolar que sugere, através
dos personagens, leituras e (re)leituras que possibilitam a análise das relações
raciais.
Segundo Abramovich (2001), durante muitas décadas, os negros e negras
foram retratados nas histórias infantis, como figuras ingênuas, escravos, serviçais,
subalternos, desempregados, órfãos, abandonados, como coadjuvantes da ação,
temos como exemplo a personagem do Sítio do Pica Pau Amarelo, “Tia Nastácia”
de Monteiro Lobato.
O que a autora evidencia é que o negro sempre foi excluído, menosprezado
e desvalorizado em todas as esferas sociais. Nas obras literárias e nos livros
didáticos é possível constatar essa postura, apesar de hoje observarmos algumas
mudanças no tratamento dado a essa população.
Segundo a psicóloga Letícia Araújo, integrante da Equipe de Curadoria da
Leiturinha “, portal de conteúdos do maior clube de assinatura de livros infantis do
Brasil, a literatura pode ser uma ótima ajuda na hora desse diálogo, observemos:

“os livros infantis interferem e auxiliam na formação dos nossos


pequenos como críticos-sociais, dando estrutura para enfrentar o
mundo com mais segurança. Introduzir assuntos através da
literatura pode ser mais fácil, uma vez que o tema é apresentado
de maneira lúdica e de fácil acesso”.
27

A esse respeito, comungamos com a psicóloga ao afirmarmos que o texto


literário é rico em possiblidades e pode ser utilizado como uma ferramenta de
combate ao racismo, preconceito à discriminação das mais variadas maneiras.
A ausência de uma educação que permita a ressignificação da diversidade
étnico-racial no ambiente educativo é um problema que vem perpassando durante
anos ao longo da história da humanidade e, especialmente, no Brasil, onde a
escravidão do povo negro apresentou-se e ainda apresenta vestígios de uma certa
forma camuflada, de maneira sistemática e legalizada, conectada aos interesses
das elites do país, persistindo por mais de quatrocentos anos.
Diante dessa realidade, é válido destacar que nas instituições educacionais
públicas, um elemento decisivo que pode ser implementado diz respeito à inserção
dentro do espaço escolar e que permite o fomento das discussões étnico-raciais é
a literatura, notadamente, a literatura infanto-juvenil afro-brasileira.
A literatura tem um potencial relevante e possibilita discussões referentes ao
tema da negritude e do preconceito sendo um instrumento na luta por uma
construção sadia e saudável de uma educação das relações étnico-raciais eficiente
que não se contente apenas com improvisos ou trabalhos isolados apenas no mês
de novembro, mas um compromisso político dos educadores e unidades escolares
com disposição para desfazer e combater mentes, comportamento e posturas
racistas.
Evidenciamos sem nenhuma dúvida, de que a literatura contemporânea
exibe uma imagem positiva do negro. As produções recentes que trazem a temática
da cultura negra, são geralmente, bem respeitosas, como os livros de Joel Rufino
dos Santos, André Neves, Sonia Rosa, diferentes das produções do século XX, por
exemplo, as de Monteiro Lobato.
Gouvêa (2005), ao analisar o histórico da presença do negro na literatura
afirma que:

O ícone da brasilidade traduziu-se, na literatura infantil brasileira,


pela tentativa de construção de personagens e temáticas que
recuperassem uma tradição oral presente no imaginário social do
país e que, ao mesmo tempo, falasse sobre seu patrimônio cultural.
Os autores buscaram no chamado folclore nacional referências
temáticas e estéticas para construção de um texto dirigido à
criança. Desse modo, a temática racial torna-se constante nas
obras escritas entre as décadas de 1920 e 1940, por meio da
28

presença de personagens negros, associados às raízes culturais


do país (GOUVÊA, 2005, p. 83).

O posicionamento da autora nos alerta para uma suposta valorização da


cultura negra na literatura. Isso porque, no dizer da autora, há no período descrito,
uma visão dual da figura do negro presente na literatura brasileira. Muito embora
se tente trazer à tona essas personagens no cenário literário, o negro aparece
descrito a partir de estereótipos, como é o caso do folclore, colocando essa camada
da população em segundo plano, numa atitude simbólica de embranquecimento.
Apesar de iniciativas e da legislação vigente que garante no momento
sobretudo ações afirmativas, no cenário nacional, e a literatura é considerada uma
ferramenta de resistência e de combate à discriminação e o preconceito racial,
ainda encontramos muitos focos de resistência nos espaços sociais como
secretarias estaduais e municipais de educação, escolas e em alguns educadores.
A despeito do silenciamento e das omissões dos órgãos mencionados, ainda
podemos nos regozijar com práticas e ações que vão de encontro ao que foi
relatado. No ano de 2011, o município de Pendências/RN, situado na região do
Vale do Açu realizou um movimento de implementação de ações voltadas à
aquisição de material didático, em especial, livros paradidáticos para as escolas do
Ensino Fundamental com o intento de discutir a temática da negritude e dessa
implementar a Lei nº 10.639/2003 no âmbito da rede municipal de ensino.
Diante da temática em tela, não poderíamos deixar de registrar um trabalho
de pesquisa que foi realizado entre os anos e 2013 a 2015 em uma escola estadual
de Ensino Fundamental, no município de Pendências, estado do Rio Grande do
Norte, que foi materializado por meio de uma dissertação de Mestrado e de um
caderno pedagógico intitulados: “Diversidade cultural e relações étnico-raciais: os
gêneros discursivos e as ações afirmativas na escola” (LIMA, 2015).
Corroborando com esse pensamento é importante observar alguns aspectos
positivos da legislação e em particular da Lei nº 10.639/03. Um deles é o objetivo
central da correção das desigualdades, a construção de oportunidades iguais para
os grupos sociais e étnico-raciais com um comprovado histórico de exclusão,
primando pelo reconhecimento e valorização da história, da cultura e da identidade
desses segmentos (GOMES, 2008, p. 79).
Acerca dessa discussão, Gomes (2008, p. 83) assevera:
29

A educação para as relações étnico-raciais que cumpre o seu papel


é aquela em que as crianças, os adolescentes, os jovens e os
adultos negros e brancos, ao passarem pela escola básica,
questionem a si mesmos nos seus próprios preconceitos, tornem-
se dispostos a mudar posturas e práticas discriminatórias,
reconheçam a beleza e a riqueza das diferenças e compreendem
como essas foram transformadas em desigualdades nas relações
de poder e de dominação.

Essa afirmação nos faz refletir sobre o compromisso que deve ser assumido
pela educação e, consequentemente, pela escola e o ensino da literatura na
formação dos sujeitos envolvidos no processo educativo, principalmente, intervindo
na mudança de posturas e práticas preconceituosas, reconhecendo-se o valor das
diferenças.
Outro aspecto que consideramos relevante é sobre a aplicabilidade da
legislação vigente, enquanto ação afirmativa, e a possibilidade de elaboração e
execução de projetos pedagógicos interdisciplinares no contexto escolar, como
também a utilização da literatura, contribuindo assim, para uma escola plural e que
privilegia a diversidade.
Nesse sentido, é importante destacar os estudos empreendidos pelos
pesquisadores que se debruçaram sobre a temática étnico-racial na literatura
infantojuvenil destacando-se: Rosemberg (1985), Abramovich (1991) e Saraiva
(2001), que dedicaram um pequeno capítulo de seus livros ao personagem negro,
embora não fosse este o principal objeto de estudo das pesquisadoras.
Rosemberg (1985, p. 86) evidencia que:

“[...] esses textos deveriam ser submetidos à lei da imprensa, em


virtude do preconceito racial”. Tal preconceito é perceptível ao se
valorizar o grupo étnico-racial branco em detrimento do negro, o
qual é preterido nas obras ou, então, elaborado nas narrativas sem
nome, animalizado, em papéis de serviçais, desqualificados, além
de serem associados a personagens maus, à sujeira, à tragédia, e
de ter um acabamento “ficcional” inferior em relação aos
personagens brancos”.

De acordo com as colocações até então explicitadas, é necessário uma


valorização e utilização da literatura e dos textos presentes no livro didático, como
uma forma de combater comportamentos racistas e discriminatórios.
30

Nesse caminho, Lima (2001) evidencia:

A Literatura Infantojuvenil apresenta-se como filão de uma


linguagem a ser conhecida, pois nela reconhecemos um lugar
favorável ao desenvolvimento do conhecimento social e à
construção de conceitos. As imagens ilustradas também constroem
enredos e cristalizam as percepções sobre aquele mundo
imaginado.

Logo, através dos textos literários pode-se comunicar cosmovisões negras e


dos povos originários, seus sistemas de mundo e significações, sua visão da
história e formas de elaborar a própria imagem e a dos outros.
É vital o estudo a respeito da história, cultura e em especial da literatura
infanto-juvenil afro-brasileira, no cotidiano escolar, que combata a omissão de
realidades absurdas como a escravidão, o preconceito e a discriminação, para que
seja possível dar a devida atenção e respeito a todas as etnias e cores do território
de nossa nação, já que o processo de valorização é algo que começou a poucas
décadas, elaborar estudos e pesquisas sobre a história e as necessidades desses
povos em nossa pátria são fundamentais para que essas mudanças possam
continuar de modo amplo e assertivo.
A escola é um “lócus” absolutamente central para a formação de sujeitos
capazes de viver em uma sociedade plurirracial, preparados para compreender que
as diferenças que nos individualizam não podem justificar a desigualdade racial e
o extermínio de corpos e mentes.
Portanto, reafirmamos o papel e a importância da literatura, atualmente, em
prol de uma educação antirracista, pois ela fortalece a identidade, a ancestralidade
e o reconhecimento dos processos de resistência desses povos. Ressignificar a
escola nesse sentido é, assim, tarefa de todas as pessoas educadoras,
independentemente do seu pertencimento étnico-racial.

4. O MENINO MARROM DE ZIRALDO: ANÁLISE DE UMA OBRA DE


LITERATURA INFANTO-JUVENIL AFRO-BRASILEIRA

O livro O Menino Marrom, em sua primeira edição, foi escrito, ilustrado e


publicado por Ziraldo em 1986. Considerado um dos mais importantes autores e
31

ilustradores de livros destinados ao público infantil, Ziraldo tem 88 anos e


completará em 24 de outubro de 2021, 89 nove anos de existência, acumulando
prêmios e recorde de vendas. Neste livro, dois amigos – um negro e um branco, ou
um “marrom” e um “cor-de-rosa” nas palavras do autor – crescem juntos,
compartilhando questionamentos importantes, próprios da infância. O menino
marrom possibilita ao leitor uma reflexão bem-humorada, com uma pitada de
lirismo, acerca da amizade e das diferenças.
Figura 1: O Menino Marrom

A narrativa introduz um olhar diferenciado e uma nova perspectiva de


tratamento a um personagem negro. Discordando de outras histórias infantis, O
menino marrom se coloca como uma obra literária atípica dentro das tendências de
representação comuns à figura do negro na década de 1980: associação à favela,
a marginalidade, temas africanos ou afro-brasileiros, quilombo, ridicularização e
humilhação do negro em determinados espaços sociais etc.
Essa análise é merecedora de um olhar especial da educação e da
sociedade como um todo, tendo em vista que o preconceito racial é ideia
preconcebida, suspeita de intolerância e aversão de uma raça em relação a outra,
sem razão objetiva ou refletida. O fato é que ao apresentar personagens negros
como protagonistas é, sim, para alguns estudiosos, um índice de inovação, haja
vista a tendência em narrarem-se estórias com personagens brancos em papéis
principais, de acordo com o padrão ocidental (ABRAMOVICH, 1989;
ROSEMBERG, 1985).
32

A obra já está na sua 40ª edição, voltado para faixa etária de leitores de 08
a 10 anos de idade, pertence à categoria Ficção Infantil e Juvenil. O personagem
age de maneira ativa em todas as decisões no decorrer da história. Trata-se de
uma descrição objetiva e não uma comparação. O menino é de origem humilde, é
curioso, estava sempre questionando. Quando fazia alguma arte, suas respostas
eram sempre inteligentes. Mesmo antes de ser alfabetizado já jogava damas com
o pai. Inventava seus próprios jogos, é claro que quem ganhava era ele, como toda
criança que inventa regras para não perder.
A amizade com o menino branco é intencional, não com intenção de reforçar
as diferenças, mas sim de reforçar a identidade étnica. É, pois, imprescindível
reconhecer suas próprias características, para identificar-se como pessoa. É
importante perceber que a etnia não interfere na condição de sujeito social. Nesse
sentido, leva o leitor a pensar na questão da etnia e na condição humana. A aula
com Disco de Newton4 deixa a oportunidade de trabalhar as misturas de cores e
demonstrar que todas as cores são importantes. O uso do Disco de Newton foi uma
experiência vivenciada pelo Menino marrom na escola, ao ser trabalhado por sua
professora no laboratório da escola. Ao tratar da mistura de raças, comum no Brasil,
deixar claro que a raça brasileira é na verdade a mistura de várias etnias. É
importante salientar que o menino sabia que era negro e isso não fazia diferença,
nunca houve preocupação por um ser negro e o outro branco. Cabe reforçar que
existem diferenças étnicas, porém há igualdade no aspecto humano.
A escolha pela obra possibilita que os alunos conheçam e se apropriem de
valores como o respeito a si próprios e ao outro e, ainda, resgatem a necessidade
de se desvincular de arraigados "pré-conceitos" em relação a outras culturas e
outros povos.
A história do Menino Marrom inicia-se pela voz de um narrador que se
assemelha à imagem de um contador de histórias. Este narrador interfere a todo
momento, com comentários pessoais, opiniões, digressões e um número
considerável de referências à cultura de massa.
Observe a primeira parte do texto da obra:

4
É um pequeno círculo de metal, plano como um disco comum, dividido em raios (como uma roda
de bicicleta). São sete espaços entre os raios, cada espaço com uma das cores do arco-íris. O disco
gira em pé, como uma pequena roda-gigante, tocado por uma manivela.
33

Era uma vez um menino marrom.


Ele era um menino muito bonito. Acho que dá para se ter uma ideia
pelo desenho (que está logo aí, na virada da página)4. Caprichei
no desenho do menino, mas acho que ele era muito mais bonito
pessoalmente. Vou ter até que ajudar com algumas informações,
que é para a descrição do menino marrom ficar mais completa. Sua
pele era cor de chocolate. Chocolate puro, não aqueles misturados
com leite (não gosto de chocolate com leite, daí achar a cor do
chocolate puro mais bonita). Os olhos dele eram muito vivos,
grandes. (ZIRALDO, 2013, p.3)

A figura do narrador começa a descrição física do personagem com o


seguinte trecho: “Ele era um menino muito bonito”, a frase é reveladora de uma
simpatia antecipada. Dando continuidade, ele nos fala que: “sua pele era cor de
chocolate”, aqui evidencia uma comparação ao relacionar a cor marrom com algo
considerado pela maioria das pessoas como bom e delicioso, o chocolate.
No olhar do narrador “o menino marrom tinha os dentes claros, certinhos,
certinhos. Pareciam as teclas de um piano, sem cáries.” Ele elogia as bochechas
do menino marrom, seu queixinho pontudo, sua testa alta, bem redonda, tudo
harmoniosamente organizado no seu rosto. Afirma que “o nariz do menino marrom
tinha uma qualidade especial”. (ZIRALDO, 2013, p.04).
Toda essa descrição detalhada de forma positiva do personagem menino
marrom é reveladora de um olhar diferente e amoroso com ele, o que evidencia o
empoderamento e nos faz refletir acerca da temática em nossas vidas.
No olhar do narrador “o menino marrom tinha os dentes claros, certinhos,
certinhos. Pareciam as teclas de um piano, sem cáries.” Ele elogia as bochechas
do menino marrom, su queixinho pontudo, sua testa alta, bem redonda, tudo
harmoniosamente organizado no seu rosto. Afirma que “o nariz do menino marrom
tinha uma qualidade especial”. (ZIRALDO, 2013, p.04).
Retomamos a compreensão dessa pesquisa, com foco em Cavaleiro (2001)
quando evidencia que a escola deve ter o papel de promover a tolerância, a
igualdade e o respeito às diferenças, tendo a literatura como aliada nesse percurso.
Depois da referência à descrição física do personagem, Menino marrom, o
narrador se preocupa em oferecer ainda algumas características psicológicas da
criança. De personalidade curiosa – “Era, isto sim, muito curioso” -, o menino
marrom é uma criança normal, inventiva e inteligente. Esse posicionamento na voz
do narrador, nos revela o empoderamento do personagem na obra em questão.
34

5. CONCLUSÃO

De acordo com as pesquisas realizadas, compreendemos que a escola é o


órgão responsável pelo fomento de práticas antirracistas. Através da instituição
educacional, os professores podem ajudar na construção de ações afirmativas que
contribuam para o empoderamento dos sujeitos negros. Desse modo, os alunos
poderão refletir sobre a realidade vivida e o processo de discriminação pelo qual
passou e ainda passa a população negra do nosso país.
A escola deve oportunizar a problematização da questão racial,
possibilitando aulas com qualidade, valorização e respeito à diversidade étnico-
racial, como preceitua a Lei nº 10.639/03. Não podemos esquecer que a referida lei
proporciona um avanço significativo em nosso país, pois determina a
obrigatoriedade da temática ser abordada transversalmente no currículo escolar.
Para tal aplicabilidade, compreendemos que há diversas proposituras positivas
para atuar no cenário educacional, especialmente na Educação Básica.
Esta pesquisa centrou-se na investigação da importância da escola e do
papel da literatura a favor de uma educação para as relações étnico-raciais e no
combate ao racismo. A pesquisa realizada nos direcionou a compreensão de que
a escola deverá oportunizar em seu espaço a problematização da questão racial,
possibilitando aulas com qualidade, valorização e respeito à diversidade étnico-
racial.
Em nossa sociedade a temática da diversidade étnico-racial é muito
polêmica. Mesmo assim, nas práticas pedagógicas, ainda continua a ser relegada
a segundo plano, apesar da exigência das leis e em especial da Lei nº 10.639/03.
A pesquisa possibilita a discussão sobre a trajetória de luta e desigualdade
social vivenciada pelo negro em nosso país. Também é um indicativo do papel que
a escola e a literatura têm através da sua ação social e inclusiva, ao atender a
legislação e proceder segundo as diretrizes, contribuindo de forma a minimizar as
consequências da história com este pano de fundo excludente e discriminatório.
Para tanto, sugerimos algumas orientações para elaboração de estratégias
de intervenção para enfrentar as práticas preconceituosas e discriminatórias no
âmago da escola:
• não iniciar o trabalho sobre a questão racial a partir da escravidão/escravização;
35

• referenciar positivamente o continente africano: apresentar fotos de grandes


cidades, heróis, artistas; falar sobre as lutas de resistência ao processo de
escravização;
• abordar sobre a contribuição dos africanos na formação da cultura de
outros povos, em especial a cultura brasileira;
• superar a ideia de que o fim da escravidão foi um presente de uma princesa boa;
• realizar oficinas de literatura com histórias africanas, proporcionando
momentos de reflexões para que as crianças, jovens e adultos brancos e negros
construam uma convivência livre do preconceito e da discriminação;
• utilizar a arte dramática para problematizar e discutir a presença do preconceito
no cinema, na TV, no teatro, na literatura, analisando os papéis que são reservados
para os negros;
• elaborar projetos pedagógicos, oficinas, minicursos que trabalhem a temática da
diversidade étnico-racial, não de maneira pontual em algumas datas como o 13 de
maio e o 20 de novembro, mas como uma política de ação afirmativa na escola,
durante o ano todo;
• promover a participação em prêmios e concursos que deem empoderamento ao
negro;
• realizar visitas a comunidades quilombolas com o intuito de conhecer o modo de
vida, os costumes e as tradições desse povo.
A pesquisa não se encerra com este trabalho. Acreditamos que os dados
construídos e as propostas apresentadas possam ser explorados por outros
pesquisadores, os quais poderão trazer novas análises e contribuições sobre a
temática em foco.
Portanto, é vital o estudo a respeito da história, cultura e a literatura afro-
brasileira, no cotidiano escolar, que combata a omissão de realidades absurdas
como a escravidão, o preconceito e a discriminação, para que seja possível dar a
devida atenção e respeito a todas as etnias e cores do território de nossa nação, já
que o processo de valorização é algo que começou há poucas décadas.
36

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil – Gostosuras e bobices. São Paulo:


Scipione, 2001.

ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração


de trabalhos na graduação. São Paulo, SP: Atlas, 2010.

BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações


étnico raciais e para o ensino da História afro-brasileira e africana. Brasília/DF:
Secretaria Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2004.
BRASIL. Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm >. Acesso em: julho de
2021.

BORGES, Edson, MEDEIROS, Carlos Alberto e D`ÁDESKY, Jacques. Racismo,


preconceito e intolerância; coordenação Wanderley Locante. – São Paulo: atual,
2002. – (Espaço e debate)

CAVALLEIRO, E. Educação anti-racista: compromisso indispensável para um


mundo melhor. In: CAVALLEIRO, E. (org.) Racismo e anti-racismo na educação:
repensando nossa escola. São Paulo: Summus, 2001. p.141-160.
CAVALLEIRO, Eliane S. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo,
preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Contexto, 2000.

________. Racismo e antirracismo na educação: repensando nossa escola. São


Paulo: selo Negro, 2001.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.


Apostila.
GOMES, Nilma Lino. A questão racial na escola: desafios colocados pela
implementação da Lei 10.639/03. In: CANDAU, V.M. & MOREIRA, A. F. (Orgs.)
Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2008.
GOMES, Nilma Lino. Diversidade e Currículo. In: BEAUCHAMP, Janete; PAGEL,
Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro. Indagações sobre currículo:
diversidade e currículo. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação
Básica: 2007a.
GOMES, Nilma Lino. Diversidade étnico-racial e educação no contexto brasileiro:
algumas reflexões. In: GOMES, Nilma Lino (Org.). Um olhar além das fronteiras:
educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2007b.
GOMES, Nilma Lino. Educação cidadã, etnia e raça: o trato pedagógico da
diversidade. In: Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola.
CAVALLEIRO, Eliane. São Paulo: Summus, 2001.
37

GOUVÊA. Maria Cristina Soares de. Imagens do negro na literatura infantil


brasileira: análise historiográfica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.1, p. 77-
89, jan./abr. 2005.

GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Preconceito racial: modos, temas e


tempos. São Paulo: Cortez, 2008.

________. Preconceito e discriminação. São Paulo: Fundação de Apoio à


Universidade de São Paulo; Ed. 34, 2004.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio. Classes, raças e democracia. São Paulo: editora


34, 2002.
LEWGOY, Bernardo. Do racismo clássico ao neo-racismo politicamento
correto: a persistência de um erro. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de
Janeiro, v.13, n. 2, 2006.
LIMA, Cleber Luiz de Sousa. Diversidade cultural e relações étnico-raciais: os
gêneros discursivos e as ações afirmativas na escola. Dissertação de Mestrado,
UERN, Assu, RN, 2015.
LIMA, Heloísa Pires. Personagens negros: um breve perfil na literatura
infantojuvenil. In: MUNANGA, K (org.). Superando o racismo na escola. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2001.

MACHADO, Cristina Gomes. Multiculturalismo: muito além da riqueza e da


diferença. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo,
identidade e etnia. In: Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade
Brasileira. André Augusto P. (Org). Niterói: EdUFF, p. 16-34, 2000.
MENEZES, L.C. O preconceito está entre nós. Revista Nova Escola. Fundação
Vitor Civita. São Paulo: Ed. Abril, out, 2008.

MUNANGA, Kabengele & GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje.


Coleção para entender, São Paulo: Global, 2006.

___________. Superando o Racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação,


Secretaria de Educação Continuada, 2005.

MUNANGA Kabengele organizador. Superando o Racismo na escola. 2ª edição


revisada. – [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, 2005. 204p.: il.
_______________________________Uma abordagem conceitual das noções
de raça, racismo, identidade e etnia. In: BRANDÃO, A.A.P. (Org.). Programa de
educação sobre o negro na sociedade brasileira. Niterói, EDUFF, 2000.
38

___________________________Rediscutindo a mestiçagem no Brasil:


identidade nacional versus identidade negra. 3ª ed. Belo Horizonte, Autêntica,
2008.
PINTO, Ziraldo Alves. O Menino Marrom / Ziraldo; (ilustrações do autor) – 45 Ed.
São Paulo: Editora Melhoramentos, 2005.

RAMOS-LOPES, Francisca Maria de Souza. A constituição discursiva de


identidades étnico-raciais de docentes negros/as: silenciamentos, batalhas
travadas e histórias (re) significadas. Tese de doutorado: PPgEL-UFRN, Natal, RN,
2010.
___________. Educação e diversidade étnico-racial: experiências e desafios de
docentes de educação básica com a aplicação da lei 10.639/03. Projeto
PIBIC/UERN, 2014.
ROSEMBERG, Fúlvia. Literatura Infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1985.
SANTOS, Joel Rufino. O que é racismo. São Paulo, Brasiliense, 1980.
SILVA, Paulo. V.B. Racismo em livros didáticos na escola: estudo sobre negros
brancos em livros de língua portuguesa
WWW.anped.org.br\reuniões\29ra\trabalhosGT21-acessado\ set. 2013.
ZIRALDO. O menino marrom. São Paulo: Melhoramentos, 2013.

https://leiturinha.com.br/blog/como-a-literatura-infantil-pode-colaborar-no-
combate-ao-racismo/ Acesso em: 23/08/2021

Você também pode gostar