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E-book licenciado para Elaine cristina de Miranda Freire elainefreireparis@hotmail.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET – INTRODUÇÃO. Página 1
Oscar-Claude Monet nasceu em As obras de um pintor chamado Eugène Boudin eram Os impressionistas franceses
Paris, França, em 14 de também mostradas naquela vitrine. Boudin acompanhava o Durante os oito anos
novembro de 1840. Quando trabalho de todos os que apareciam ali. Percebendo que seguintes, Monet estudou em
tinha cinco anos de idade, sua Monet tinha um olhar observador, convidou o adolescente a Paris, serviu no exército,
família mudou-se para a cidade pintar com ele, mas Monet não queria ser pintor. No dia em pintou quase sem parar e
portuária de Le Havre. Lá ele foi à que finalmente viu Boudin trabalhando, entretanto, Monet conheceu muitos artistas.
escola, mas não era um bom mudou de ideia. “De repente foi como se tirassem um véu” Entre seus novos amigos
estudante. Gostava de desenhar de seus olhos, recordou mais tarde, e compreendeu “o que a estavam Pierre-Auguste
caricaturas irreverentes de seus pintura poderia ser”. Daí em diante acompanhava com Renoir, Camille Pissarro,
mestres, que em vão tentavam frequência o artista mais velho em excursões de pintura ao ar Alfred Sisley e Jean-Frédéric
fazer com que ele se livre. Naquela época, pintar ao ar livre não era considerado Bazille. Todos queriam pintar
concentrasse em outros artístico. As escolas de arte ensinavam seus alunos a pintar a vida tal como era, agarrando
assuntos. nos ateliês e a procurar temas na história e nos mitos. Mas o momento fugidio,
Boudin mostrou a Monet que essas regras, e muitas outras, capturando o primeiro
eram ridículas. instante da visão de um tema.
Juntos observavam paisagens e tentavam pintar exatamente o que viam. Ao pintar ao ar livre, no lugar
Boudin gostava de capturar uma cena na tela tal como a via pela primeira vez, e e com rapidez, aprenderam a
não depois num ateliê. A impressão inicial era especial para ele. Monet imitava fazer quadros frescos e cheios
facilmente Boudin porque desenhar caricaturas tinha lhe dado prática na captura de atmosfera. Seu segredo
rápida de imagens. Mas como Boudin insistia em manter-se fiel à natureza, Monet era não se concentrar nas
Mais tarde, Monet confessaria que não aprendeu muito na não podia exagerar o que via. Quanto tinha dezessete anos, uma de suas pinturas cores da paisagem até que
escola, a não ser um pouco de ortografia. “Parecia uma prisão, foi exibida numa exposição patrocinada pela cidade de Le Havre. Era uma tivesse primeira captada a cor
e eu não aguentava ficar ali, ainda que apenas quatro horas por paisagem do lugar onde ele e Boudin tinham ido a sua primeira excursão de da luz do dia. Era cinza,
dia, especialmente quando o sol brilhava e o mar estava pintura. dourada, rosa ou azul?
tranquilo”, disse. A atividade favorita de Monet era caminhar Com frequência o céu é proeminente nas telas de Boudin, ocupando muito Quando percebiam isso, as
pelas praias, fazendo caricaturas dos turistas. Geralmente mais espaço do que o mar e a areia embaixo. Filho de um marinheiro, Boudin outras cores surgiam fácil e
desenhava a pessoa com um corpo muito pequeno e a cabeça ficava impaciente dentro de casa e foi um dos primeiros artistas a dominar a gloriosamente. Esses pintores
muito grande, exagerando o nariz ou outra parte do rosto. pintura de exteriores. Monet disse que, com o exemplo de Boudin: “Meu destino se tornaram os
Vendia suas caricaturas por dez ou vinte francos, mais do que como pintor abriu-se diante de mim”. impressionistas franceses, um
seus professores ganhavam por dia. Quando Monet tinha dos mais famosos grupos de
quinze anos de idade, uma loja local de material de pintura artistas da história.
começou a exibir suas caricaturas na vitrine. Depois disso, Outros pintores franceses uniram-se a eles
muitas pessoas começaram a encomendar seus retratos nessa ruptura com a tradição. Depois, os
humorísticos ao jovem artista. americanos começaram a tomar
/ conhecimento do impressionismo, e
espanhóis e italianos os seguiram. Monet era
adorado como líder, posição que nunca
desejou, chegando a recusar honrarias do
governo francês. O que era importante para
ele, no decorrer dos setenta anos em que
pintou, era honrar as lições de seu mestre,
Boudin.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “JARDIM EM SAINTE-ADRESSE”. Página 2
Apaixonado pelo mar: Monet era Em “Jardim em Sainte-Adresse”, Monet captou um mar diferente, aquele A cena está cheia de claras linhas verticais e horizontais. O
apaixonado pelo mar. Ele dizia que queria mar tranquilo que servia como pano de fundo para a vida social de sua família. horizonte azul-esverdeado e o topo da balaustrada são os
estar sempre “perto dele ou nele”. Quando O pai de Monet domina a cena, firmemente sentado em sua cadeira de vime, elementos horizontais dominantes. Os mastros, as duas figuras
rapaz subia pelas falésias e seguia as trilhas olhando para o porto. Sua postura imponente e sua concentração quase em pé, os gladíolos vermelhos (flores) e os mastros dos navios
escarpadas da costa perto do movimentado transformam o terraço em um navio, e ele em seu capitão. são as ênfases verticais. Para tornar a pintura mais viva, Monet
porto da cidade em que sua família vivia. precisava de uma poderosa linha diagonal que atravessasse a
Quando descobriu sua carreira como pintor, já rígida moldura que tinha construído. Nada suave serviria. Ele
conhecia todos os cais e praias da região. Suas posicionou o pai para conseguir esse efeito, fazendo seu olhar
primeiras pinturas foram desses cenários estabelecer a linha diagonal que buscava, reforçada pela sombra
familiares. A paisagem de um porto e uma do seu corpo e da cadeira a seu lado. Essa linha imaginária
pintura da costa na maré baixa lhe atravessa o terraço, os mastros, a balaustrada e chega ao porto.
proporcionou o primeiro reconhecimento, na A composição “deslocada” de Monet é assim balanceada pelo
gigantesca exposição anual de artes de Paris, olho náutico do “capitão” Monet.
conhecida como “Salon”. Nessas duas belas
pinturas, Monet mostrou a crueza e o perigo
Um jardim de pontos coloridos: Monet pintou tudo no
terraço para que parecesse real, e assim o próprio terraço
da natureza retratando o mar da forma como
parece plano, estendendo-se na direção da água tal como seria
o veria um pescador que tivesse enfrentado
visto na realidade. Em contraste, representou o mar de forma
tempestades.
simplificada, pintando linhas escuras como ondas sore um
colorido mais claro. Sem suas sombras verdadeiras, o oceano
parece o pano de fundo liso do cenário de um palco. O jardim
florido levanta-se no terraço do lado esquerdo do quadro. Ao
lado do pai de Monet está sentada sua tia Sophie, com uma
sombrinha escondendo sua cabeça.
A silhueta redonda da sombrinha repete-se nas costas e braços
das cadeiras e no canteiro de flores que a separa do casal que
Os amantes da arte em 1867 ficaram conversa intensamente às margens da água. A moldura viçosa
perplexos com a composição de Monet. que cerca o terraço começa logo atrás da tia Sophie, e seu
Não conseguiam compreender por que ele vestido se destaca dos brilhantes pontos vermelhos, amarelos e
tinha deslocado o terraço do centro. verdes ao seu redor.
Insistiam em que a posição dos dois
mastros provava que a visão do artista
O nome tornou-se conhecido fora do seu
estava torcida. Mas se Monet tivesse se
pequeno círculo de amigos quando um
voltado mais para sua esquerda,
popular jornal de arte elogiou este quadro, um
centralizando a cena, a bandeira
dos dois que Monet pela primeira vez expôs
vermelha, branca e azul da França teria
no Salon. A “maneira audaciosa de ver as
batido na moldura do quadro. Outra razão
coisas” de Monet e sua sensibilidade à cor
importante para o arranjo assimétrico de
estavam entre os bons resultados destacados
Monet era proporcionar um espaço amplo
no comentário. Um crítico amável disse que “A
em torno da figura de seu pai. Não porque
Foz do Sena em Honfleur”, de Monet, “fez
desejasse que ele parecesse estar sozinho,
com que nos detivéssemos abruptamente, e
mas porque tinha uma ideia audaciosa em
nunca esqueceremos disso”.
mente enquanto compunha o quadro.
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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “O ALMOÇO”. Página 3
Começando pobre: Monet não ganhou dinheiro suficiente para se Mas toda a atenção que recebe é direcionada para a criança por meio de seu olhar calmo, de olhos quase fechados.
sustentar com a venda de seus quadros. Sua pobreza forçou-o a viver Camille, a mãe, também olha para o garoto. Seu rosto, de perfil, focaliza o sacudir da colher, e ela passa um braço
durante um ano na casa de veraneio da tia em Sainte-Adresse. Ela cedeu- sobre seus ombros. Até a tolha sugere ao observador que dirija seu olhar para a criança. O tecido de linho branco
lhe um estúdio no sótão, mas ele nunca o usou. Andava pelas praias para parece emendar-se com seu guardanapo branco, e ele parece ser o único que está ansioso para comer.
descobrir os temas que pintava na hora e no lugar. Embora a situação Com pouco dinheiro no bolso, Monet tinha uma empregada, para Camille poder se ocupar da educação do filho.
econômica de Monet melhorasse bastante nos anos posteriores, muitos Embora isso pareça uma extravagância para um artista pobre, a comida na mesa prova que suas necessidades
de seus interesses permaneceram os mesmos. Flores e água foram dois de continuavam simples, ovos, pão, salada com azeite e vinagre, salame e biscoitos, uma travessa de presunto, vinho
seus temas favoritos nos sessenta anos seguintes. tinto e água.
“O Almoço”: Em 1868, Dois livros repousam no aparador, sinal de que Claude e Camille liam os últimos autores, alguns dos quais
Monet alugou um chalé conheciam pessoalmente. O boneco quebrado, a bola no chão e a toalha de mesa amarrotada são sinais de que no lar
perto do mar junto com de Monet outras coisas eram mais importantes que manter tudo arrumado. Monet não pretendia que o público
Camille, sua modelo soubesse que aquela era sua família. Ele queria que Jean, Camille, a empregada e a visita representassem a vida
frequente, e o filho dos moderna, um assunto popular na época. Muitos artistas jovens procuravam captar na pintura o que os autores
dois, Jean. Seu quadro, “O descreviam com palavras.
Almoço”, descreve uma O título que Monet escolheu para o quadro. “O Almoço” era um termo familiar e todos os detalhes da sala de jantar
cena doméstica e calorosa. também eram comuns. As pessoas de classe média veriam a cena como algo conhecido. “Ah, sim!”, poderiam dizer,
Aqui, Monet dá a “Na minha casa também é assim!”.
acolhedora impressão de
que o lugar vazio na mesa
está posto para a pessoa
que observa a pintura.
Numa distância tão curta,
são necessários apenas
alguns olhares para captar
tudo. A atenção é atraída
primeira para a mesa
ensolarada. Uma rápida
inspeção mostra travessas,
pratos, garrafas e um
galheteiro, com comida e
bebida saborosas.
Em seguida, o olhar sobe para a mulher sentada, o bebê e a mulher junto
à janela. Um olhar final percebe o assoalho.
Em “Jardim em Sainte-Adresse”, Monet posicionou cuidadosamente seu
pai para criar a forte linha diagonal que sua pintura necessitava. Aqui seu
orgulho paterno o leva a usar truque parecido de composição para fazer
com que Jean, seu filho de um ano, seja o centro da tela. A convidada, que
ainda não levantou seu véu ou removeu suas luvas cinzas, descansa de
forma relaxada apoiada no peitoril da janela. Monet a fez séria, recatada.
Ela é mais alta que as figuras sentadas, o lado esquerdo da toalha pende
para seu lado e o pão que se equilibra precariamente na beirada da mesa
aponta para ela.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “LA GRENOUILLÈRE”. Página 4
Monet gostava de estar próximo a À esquerda, banhistas estão mergulhando até quase os ombros, mulheres vestidas de negro dos tornozelos ao pescoço e os
Paris. Era o melhor lugar para mostrar e homens sem camisa. Uma segunda passarela passa pelos barcos de aluguel até a margem. Monet dedica a maior parte de sua
vender seus quadros, e assim mudou-se atenção a sua grande paixão, a água. Ela é tão importante no quadro quanto as pessoas, a ilha, o pavilhão e os barcos. Um dom
com a família para uma cidade nas para pintar água: O Sena faz ondas suaves na margem e contra o pavilhão flutuante, os barcos balançando nas ondas. O sol brilha
margens do Sena, perto da grande capital. na superfície do rio. Pinceladas escuras e vigorosas indicam o reflexo das árvores sobre a água. Brilhantes traços fortes de tinta
Seu bom amigo dos tempos da escola de branca indicam a luz do sol. Na parte de baixo do quadro, as pinceladas são livres e largas. Mais ao fundo, elas se tornam
artes, Pierre-Auguste Renoir, unia-se a ele gradualmente mais estreitas, indicando a distância. Perto da margem, longas pinceladas de verde, azul e rosa mostram a água
em excursões a um lugar muito popular batendo na margem. Enquanto a água se agita na parte da frente, no fundo ela desliza suavemente. O grande romancista Émile
nos fins de semana, chamado “La Zola, contemporâneo de Monet, descreveu seu dom de pintar água: “Com ele, a água é viva, profunda e, sobretudo, real”.
Grenouillère”, que quer dizer “Poço das Barcos a vela eram populares em “La Grenouillère”, mas Monet mostra apenas barcos a remo. Os padrões do céu entre as
Rãs”. Ficava numa ilha no Sena não muito árvores na margem oposta, entretanto, parecem velas e movimentam aquele canto do quadro.
longe da casa que Monet tinha alugado. As árvores do fundo são pintadas com toques rápidos e largos de verde. As folhas mais escuras que descem em cascata dos
galhos à esquerda e a folhagem da árvore solitária na ilhota são trabalhadas com pinceladas curtas e energéticas.
As figuras também são criadas de forma simplificada. Com apenas meia dúzia de movimentos do pincel, Monet indica a forma
e a curvatura de cada corpo. As duas mulheres na ilhota com roupas de banho negras não ganharam rostos. Por sua postura,
entretanto, Monet indica que a que está à esquerda tem medo da água e a outra está curiosa para saber o que o banhista tem
nas mãos.
Monet recortou o barco negro a remo ao lado direito do quadro, mas não ignorou suas vistosas listras vermelhas. Pintou-as
duas vezes, primeiras no próprio bote e depois refletidas na água ondulada. Os ziguezagues rosados se destacam contra a seção
mais escura das águas e parecem estar se movendo constantemente.

1 – Padrões do céu.
2 – Pinceladas largas e soltas.
3 – Pinceladas mais curtas.
4 – Figuras simplificadas.
5 – Barco a remo e seu reflexo.

O “Poço das Rãs”: Monet e


Renoir pintavam lado a lado, com
os pés quase dentro da água.
Monet fez da pequena ilha
redonda o centro de seu quadro,
com suas passarelas, banhistas e
barcos. O teto do pavilhão
flutuante à direita protege do sol
os frequentadores. Um deles,
cartola na cabeça, caminha pela
tábua estreita até a ilhota
sombreada por uma árvore.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: O NASCIMENTO DO IMPRESSIONISMO. Página 5
O esboço é um quadro: Monet inicialmente considerou seu “Impressão –Alvorada”: Com a esperança
quadro de “La Grenouillère” um esboço. Fez alguns outros, de vender quadros, Monet e seus amigos
mostrando ângulos diferentes da mesma cena. Planejava usá- decidiram expor seus trabalhos em conjunto.
los como referência para um quadro muito maior para o Salon, Sua primeira exposição em grupo aconteceu
mas nunca o fez. Talvez tenha compreendido que seu “esboço” em 1874. Um jornalista escreveu muitas
era uma obra de arte completa em si mesma. O Salon coisas ruins sobre o estilo de pintar de
apreciava grandes quadros baseados em acontecimentos Monet, dizendo que era apenas uma
históricos, temas que não interessavam a Monet. Cenas da impressão. Suas palavras sugeriam que o
vida diária, que ele gostava de pintar, eram consideradas de quadro não era uma pintura acabada. Apesar
menor importância. Monet acabou compreendendo que o do insulto, o estilo dos jovens artistas agora
tamanho de um quadro não importava mais do que pintar o tinha um nome, Impressionismo.
passado, e produziu assim uma ruptura significativa na
maneira como a arte vinha sendo praticada havia centenas de Um ateliê flutuante: Monet mudou-se
anos. Ele se deleitava com o trabalho em menor escala, muitas vezes durante esses primeiros anos,
recriando o que via ao seu redor. morando com amigos, em quartos de hotéis
ou acomodações alugadas. Em 1871, alugou
uma casa em Argenteuil, cidade às margens
do Rio Sena, perto de Paris. A cidade era
famosa por sua regata, e entusiastas do
remo iam para lá nos fins de semana, no
verão. Monet tinha o barco mais estanho de
todos, um pequeno ateliê flutuante que um
de seus vizinhos ajudou a construir. Era um
barco de remos largos, equipado com uma
cabana onde ele guardava telas e outros
materiais de pintura, e onde sua mulher
Camille às vezes sentava-se abrigada do sol.
O nascimento do Impressionismo: Diz-se que quando Monet e Havia espaço para Monet e seu cavalete sob
um toldo listrado.
Renoir pintaram esses quadros frescos e espontâneos sobre a
vida moderna, “La Grenouillère” testemunhou o nascimento “Monet trabalhando em seu barco em
do Impressionismo. Embora não pretendesse, Monet deu o Argenteuil”, de Edouard Manet. O pintor
nome ao novo movimento. Em 1874, quanto trinta artistas moderno mais estimado pelos
rebeldes decidiram exibir juntos seus trabalhos, uma das impressionistas era Edouard Manet, ainda
contribuições de Monet chamava-se “Impressão – Alvorada”. que se recusasse a expor com seus
admiradores, procurando ao contrário o
Um crítico ridicularizou o título e a pintura, mas a palavra
reconhecimento oficial. Por volta de 1874,
“Impressionista” se tornou um distintivo de honra. Muitos dos ano em que pintou esse quadro de Monet
artistas originais abandonaram o grupo, mas um grupo menor sob o toldo de seu ateliê flutuante. Manet
fez sete exposições conjuntas, desfazendo-se em 1886. A estava trabalhando no estilo raiado-de-sol
forma inovadora de pintar de Monet provocou, durante anos, dos impressionistas.
sua frequente exclusão da exposição oficial do Salon.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “CAMPO DE PAPOULAS, ARGENTEUIL”. Página 6
Foi provavelmente em seu estranho barco que Monet remou Usando a cor para compor: No fundo do quadro, manchas Outros pintores também foram atraídos para Argenteuil.
pelo rio com o filho Jean, de oito anos, para pintar um amarelas brilhantes da luz do sol caem sobre os campos como Manet vivia não muito longe do campo de papoulas. Renoir,
resplandecente campo de flores silvestres perto da margem. bandeiras de seda. Essa extensão de amarelo faz mais do que Sisley e Berthe Morisot desfrutavam a variedade de paisagens
descreve o tipo do dia. Ela dobra a espessura da linha oferecida pela cidade, e a visitavam. Lá, todos sempre pintaram
horizontal das colinas distantes, adicionando peso suficiente à
quadros leves e coloridos, cheios de otimismo e felicidade.
composição em seu lado direito para que as duas robustas
árvores não se desiquilibrem para a esquerda.
Padrões de rosas embaixo do lado direito da tela também
ajudam no equilíbrio, pois o vermelho sempre se sobressai das
cores ao seu redor. Ao capturar o olhar do observador, as
brilhantes papoulas evitam que as árvores se transformem no
centro do quadro. O tem parece ser o momento especial em
que uma grande extensão do céu cheio de nuvens une-se à
extensão quase infinita dos campos coloridos. As linhas
inclinadas do campo e a altura dos pequenos morros
provocam essa sensação.
Quando pintou “La Grenouillère”, Monet aplicou grandes
manchas com seu pincel grosso para captar a aparência da
água. Em “Campos de Papoulas, Argenteuil”, usou pequenas
pinceladas rápidas e traços. Cada hábil aplicação do pincel na
“A Família de Monet em seu jardim”, de Edouard Manet:
Um arco-íris de pintura: Colocando seu cavalete no meio do tela definia uma flor ou ramo de folhas.
Se Jean tivesse olhado a tela enquanto o pai pintava, não Manet retrata aqui Monet jardinando enquanto Camille e Jean
campo, Monet pintou uma cena dos sonhos. Nela, um trecho
prateado do Rio Sena pode ser observado entre os dois teria visto ne nhuma parte terminada. Monet não pintava descansam por perto. Antes que Manet terminasse, Monet
pequenos morros no canto esquerdo. As nuvens que correm primeiro o céu, depois as árvores, depois o fundo, terminando pegou uma tela e o retratou pintando esse quadro. Enquanto
pelo horizonte e se encapelam no alto do céu estão raiadas de uma parte depois da outra. Esse era o método antigo. Ele isso, outro famoso pintor estava por ali, ignorando seus amigos
cor de alfazema. Embaixo, uma avenida longa e suavemente começava preenchendo rapidamente a tela com as artistas enquanto fazia um retrato duplo de Camille e Jean. Era
curva floresce com brilhantes papoulas vermelhas, sálvias de tonalidades certas, pincelando cores por todos os lugares, até Renoir. Todos eles, e muitos outros, apreciavam pintar em
cores vivas, artemísias, lavandas e outras flores que crescem que as formas reconhecíveis emergiam. Os detalhes eram por Argenteuil.
até a cintura do jovem Jean. Um chapéu de palha protege do fim acrescentados e parecia então que todas as partes da tela
Embora se diga que o Impressionismo atingiu seu
sol o rosto do garoto. Jean era o centro da obra “O Almoço”, entravam simultaneamente em foco.
mas aqui é simplesmente parte da paisagem. Para pintar a ápice nos anos 1870, em Argenteuil, na época o
beleza pura e a riqueza do cenário diante de si, Monet aplicou público odiava o que os impressionistas faziam. A
um arco-íris de tintas em pinceladas ligeiras e suaves. imprensa tratava-os com sacarmos. Um crítico
escreveu: “Cinco ou seis lunáticos reuniram-se para
exibir suas obras”. As poucas pinturas que Monet
vendeu foram para outros artistas ou para amigos.
Durante anos ele teve uma renda porque seu
patrocinador (Marchand) comprava seus quadros,
embora não tivesse clientes para eles. Mais de dez
anos se passaram antes que os quadros de Monet
fossem aceitos.
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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “GARE SAINT-LAZARE”. Página 7
“Última parada – Gare Saint-Lazare”. O primeiro trem com As primeiras exposições tinham sido criticadas pelos jornais Todas as vezes que voltava à estação, Monet descobria que
locomotiva a vapor da França passava apenas em duas cidades, e desta vez até uma peça cômica de teatro foi escrita sobre a suas cores mudavam com a hora do dia e com o clima. Ele
em 1832. Treze anos mais tarde, quando a família de Monet exposição. Nela, um artista impressionista gira seu quadro para buscou cores diferentes para cada quadro que pintou. Em um,
mudou-se para Le Havre, quase 5 mil locomotivas a vapor todos os lados, sem nunca ser capaz de dizer qual é o tema. azul é dominante, em outro, o amarelo e, em outro ainda, a cor
ligavam Paris a todas as partes do país. Os críticos queixavam- Mas outro escritor, amigo dos impressionistas, qualificou os de alfazema. Apesar de a estação permanecer a mesma e as
se de que os trilhos e as máquinas vomitando fuligem quadros de Monet da Gare Saint-Lazare de “magníficos”. locomotivas que iam e vinham serem iguais, cada quadro é
estragavam a paisagem, mas muitas pessoas admiravam as Olhando para um deles, escreveu que “desperta a mesma único. Ao ver os quadros da Gare Saint-Lazare um crítico acusou
locomotivas. Os trens permitiam excursões de famílias e emoção que a natureza, porém talvez mais forte ainda porque Monet de “fazer uma bagunça com o arco-íris”. Ele ficara muito
amigos nos fins de semana, e facilitavam a visita de parentes a emoção do artista também está evidente no quadro”. mais espantado com as cores do que com a estação. Isso deve
distantes. Um trem levava Monet da estação da aldeia de ter agradado a Monet, que via as cores do que pintava antes de
Argenteuil até o rebuliço da Gare Saint-Lazare sempre que ele qualquer outra coisa. O grupo de telas da Gare Saint-Lazare foi o
precisava ir a Paris. Ele e seus companheiros pintavam trens primeiro de muitas séries que Monet executou durante sua
como belas características das paisagens. Em janeiro de 1877, longa vida. Cada uma delas das séries concentrava-se em um
Monet decidiu retratá-lo sob o moderno teto de aço e vidro da único tema ou motivo.
estação de Paris.

Pintando o vapor em ondas: Neste


quadro da Gare Saint-Lazare, o céu
sombrio e cinza-azulado do inverno
encobre o grande edifício ao fundo. O
vapor da locomotiva, que sobre para
as alturas da estação, tem a mesma
cor do céu, porém ainda mais escuro.
A luz passando pelos vidros do teto
derrama toques de cor no chão
avermelhado entre os trilhos. O vapor
em ondas, a coisa mais transitória de
tudo o que Monet via, enche o centro
da metade superior da tela. Neste
quadro, Monet joga com formas
redondas contra formas retangulares.
Com a ajuda de um amigo artista rico, Monet alugou um Os trilhos, o teto e os trens dirigem o
ateliê perto da Gare Saint-Lazare. Nos três meses seguintes, olhar na direção da enevoada cidade
fora da estação. Mas os rolos brancos
ele nada pintou além da estação, sua vizinhança, e trens
de fumaça no meio dos trilhos,
chegando e partindo. Em abril, tinha terminado mais de uma
flutuando como feixes de balões,
dúzia de telas, e sete delas foram exibidas numa exposição detêm esse olhar. Eles trazem o
impressionista. Era a terceira vez em três anos que os observador de volta à cena do trem
impressionistas expunham suas obras coletivamente. chegando.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “BUQUÊ DE GIRASSÓIS”. Página 8
Monet gostava de estar fora de casa e a maioria de seus Em 1878, ajudado por amigos, Monet alugou uma grande Um lar em Giverny: Quando Monet se aproximou da meia-
quadros foi pintada ao ar livre, mas quando não podia sair, casa em Vétheuil, numa curva do Rio Sena, a mais de duas idade, já podia contar mais de duas dúzias de diferentes lugares
pintava o que estivesse a mão. Seus temas variam de sua horas de trem da Gare Saint-Lazare. Lá, ele cuidava de um onde tinha vivido. O tempo que passava com sua nova e extensa
própria paleta de tintas a um corte de carne crua. Em 1879, jardim de flores, com escadas largas e uma trilha atravessando família deve tê-lo inspirado a se estabelecer de vez, pois em
sua esposa Camille morreu e, em 1881, ele se tornou pai os canteiros coloridos rodeados por uma fila de girassóis. Este 1883 alugou a casa na qual passaria a metade seguinte de sua
adotivo de uma nova família. Então, quando permanecia em quadro mostra um ramalhete num vaso de porcelana vida. Era em Giverny, a 65 quilômetros de Paris. Gostava de lá
casa, ficava rodeado por seis efusivas crianças. Disso resultou japonesa, que repousa sobre uma mesa coberta com um porque estava perto da água, havia escolas na estrada para as
uma série de flores igualmente vivazes. quadrado enfeitado de seda vermelha. crianças e um jardim florido na propriedade. Depois de descobrir
Fora do centro é mais interessante: Monet poderia ter a casa, escreveu rapidamente para seu marchand
(patrocinador): “Uma vez acomodado, espero produzir obras-
posicionado o vaso no meio do quadro, mas decidiu que ficaria
primas!”.
mais interessante se o colocasse ligeiramente fora do centro. A arte de Monet
Como o vaso está à direita do eixo central, duas flores chocam- mudou em Giverny. No
se contra a moldura desse lado. À esquerda, um botão se passado, ele com
estica para tocar o limite da tela. As flores que não esticam se frequência tinha
aninham na folhagem. Com as folhas descendo e os botões escolhido temas
saltando para fora ou retraídos, o buquê é um brilhante centro populares da época,
fatias da vida moderna.
de energia.
Mas em Giverny as
coisas modernas e as
atividades da classe
média não mais o
atraíam.
Ele abandonou temas como os de “O Almoço”, “La
Grenouillère”, e a série da “Gare Saint-Lazare”. Tornou-se mais
do que nunca possuído pela natureza transitória do que via.
O pintor Paul Cézanne, um dos contemporâneos
famosos de Monet, descreveu-o como: “Apenas
um olho”, um insulto leve querendo dizer quer
que Monet pintava o que via mas não pensava
sobre isso. Apesar de Cézanne esperar mais de
um artista, rapidamente acrescentou palavras de
admiração por Monet: “Mas que olho!”. Monet
Para criar seus girassóis, Monet dava pinceladas curtas de comprou a casa e a propriedade que vinha
Cores têm seus opostos, chamados de complementos. O laranja, amarelo e marrom, colocando uma cor sobre a outra. alugando em Giverny, em 1890. A construção de
complemento do amarelo é o violeta, e o do laranja é o azul. dois andares de estuque rosa com janelas verdes
Pinceladas mais longas e curvas indicavam as folhas caindo.
Vermelho e verde também se complementam. Colocadas uma está localizada num pequeno afluente do Sena,
ao lado da outra, as cores complementares vibram. No quadro Elas eram pintadas em diferentes tonalidades de verde, um chamado Ru.
“Buquê de Girassóis”, Monet usou esse poder, pintando flores dos quais é quase negro. Bem perto das flores enquanto as
amarelas brilhantes e laranja contra um fundo violeta e azul. pintava, Monet notava todos os detalhes, mas usava as
De maneira similar, pintou uma toalha vermelha embaixo do mesmas pinceladas fortes que se observam em suas pinturas
belo verde das folhas. Monet frequentemente fez uso das ao ar livre.
cores complementares.
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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “MONTES DE FENO”. Página 9
Cenas de colheita que glorificavam os trabalhadores comuns O inverno chegou e o fazendeiro proprietário do campo Apesar de Monet alegar que pintar os montes de feno era
do campo tornaram-se populares na juventude de Monet. O queria remover os montes de feno. Monet pagou para ele os uma “tortura contínua”, o trabalho final foi um sucesso quando
monte de feno simbolizava a dignidade do trabalho e até deixasse lá até que completasse sua série. Ele os pintou em exposto em Paris. Quinze foram mostrados juntos, como Monet
mesmo ideias políticas e religiosas. Nada disso motivou Monet. todos os climas, mas gostava particularmente da sua aparência
pretendia que fossem vistos e, em três dias, todos tinham sido
Ele pintou montes de feno porque estavam por perto e porque nos meses mais frios. Muitos de deus quadros com montes de
gostava do brilho da palha e da forma das pilhas. feno são cenas de neve. vendidos. Um crítico entusiasmado chamou Monet de poeta, e
artistas americanos começaram a visita-lo para aprender sobre o
Impressionismo. Monet logo regressou aos campos para pintar
mais montes de feno. Esse foi seu tema favorito por dois anos.

“Montes de feno – Fim do Verão”. Em 1891, Monet expôs


quinze de seus quadros de montes de feno. Os visitantes
ficaram maravilhados pelas mudanças de luz e atmosfera que
ele capturava em cada quadro. Aqui Monet explora o calor do
sol de verão.
Monet tinha pintado montes de feno pela primeira vez em
1888, mas foi somente em 1890 que começou a se concentrar
neles. Um escritor francês, Guy de Maupassant, observou
Monet pintar e descreveu como o artista capturava suas
impressões: “Na verdade, ele já não era um pintor, mas um
caçador”. O escritor disse que Monet geralmente tinha cinco
ou seis telas, todas incompletas, descrevendo o mesmo Usando o espaço negativo: Neste quadro, os dois montes
assunto em diferentes horas do dia e com efeitos diferentes. de feno se sobrepõem, suas bordas formando um V do mesmo
tamanho que o monte de feno menor. O V não é apenas um
Monet esperava, observava o sol e as sombras, captando com
espaço, mas uma forma, uma forma negativa, em terminologia
algumas pinceladas um raio de luz que caia ou uma nuvem de arte. Evita que o lado esquerdo da composição se torne
passageira. Monet, durante muitos meses, carregava um pesado demais. Ao dar ao pequeno monte de feno um
carrinho de mão com muitas telas para poder captar a companheiro fantasma, Monet duplicou seu peso visual e
impressão da luz. Uma queixa comum de Monet era: “O sol se equilibrou a composição. Anos de prática tinha dado ao artista
põe tão rápido que não consigo segui-lo”. Ele buscava o o instinto para colocar formas justamente nos lugares certos.
instante e assim tinha que ser rápido para pegar a tela certa Seu V marca o centro da pintura.
quando a luz mudava.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “CHOUPOS”. Página 10
Impressões de sete minutos: Uma fileira de choupos crescia Um americano que passava os verões em Giverny recorda
ao longo do sinuoso Rio Epte, perto da casa de Monet. Mais ou que esses quadros “foram pintados em um barco de fundo
menos na época em que começou a série dos montes de feno, chato com ranhuras, nas quais eram colocadas várias telas. Ele
passou também a pintar essas árvores. Levantando-se altos e (Monet) me disse que em um dos seus (Choupos) o efeito
retos para o céu e refletindo-se na água embaixo, os choupos
durava apenas sete minutos, ou até a luz do sol deixar certa
deram a Monet ideias para quadros surpreendentes diferentes
daqueles com os atacarrados e terrestres montes de feno. Um folha, quando então pegava a tela seguinte e trabalhava nela”.
admirador chamou os novos quadros de: “Série de remoinho”. Enquanto pintava a série de choupos, Monet soube que as
árvores iriam ser cortadas e leiloadas como lenha. Ele pediu ao
prefeito da cidade que o deixasse primeiro acabar o trabalho,
mas lhe disseram que nada poderia ser feito. Monet foi, então, Enquanto o rio Epte desliza pelo terreno sem acidentes, os
choupos em suas margens podem ser vistos entre os choupos ao
até o proprietário de uma serralheria local interessado nas
fundo. Esta ampliação mostra como Monet sugeria essas formas
árvores e o convenceu a cobrir as ofertas no leilão, distantes com pinceladas de amarelo, verde e cor de alfazema
prometendo pagar a diferença, entre a oferta vencedora e a do sobre tinta rosa e branca. Marcas vermelhas captam a aparência
homem, não importando quão alta essa fosse e o que as de joias do brilho das folhas dos choupos ao sol do entardecer.
árvores realmente valiam. O madeireiro concordou e as Camadas de púrpura e cor de alfazema sobre verdes claros e
árvores não foram derrubadas até Monet completar sua série escuros representam as moitas cerradas das margens do rio.
de pinturas. Essas cores se misturam no olhar do observador.

Monet trabalhou em vários quadros ao mesmo tempo,


trocando de tela quando as cores do dia mudavam, era difícil
captar uma impressão. Quando o sol estava atrás de uma
nuvem, as cores das folhas, da água e do céu mudavam. Se
uma neblina matinal fazia uma cena agradar Monet, ele se
tornava diferente no momento em que a neblina evaporava.
As tonalidades azuis de uma manhã fria logo se tornavam
amarelas ou alaranjadas quando o sol esquentava o dia. Assim,
Monet demorava em dizer: “Está terminada!”. Ele achava que
outro dia traria a impressão perfeita para ajudá-lo a terminar o
Neste quadro, quatro troncos de árvores enchem a tela quadro. Guardava as telas, e não as assinava até que
quadrada. Árvores distantes, pintadas em amarelo, são vistas à estivessem prontas para uma exposição ou fossem vendidos.
Sua assinatura era um simples “Claude Monet” na parte
esquerda. Tudo é refletido nas águas claras e paradas do rio, e
inferior do quadro. Um dos enteados de Monet relatou que,
é fácil confundir o céu com a água e as árvores e plantas com quando assinava um quadro, ele muitas vezes acrescentava
seus reflexos. Monet escolheu um lugar onde as árvores não também mais cor, lembrando-se de um momento particular do
eram nem perfeitamente retas nem igualmente espaçadas, já dia em que pintou a cena.
que gostava da pequena variação que isso provocava na
composição. Ele enquadrou dramaticamente a cena. Os topos
das árvores estão cortados, tal como a maior parte do reflexo
na água, embaixo.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: ‘CATEDRAL DE ROUEN”. Página 11
“Catedral de A construção da Catedral de Notre-Dame de Rouen começara em 1202 progredira ao longo da vida de muitos entalhadores e
Rouen: O portal pedreiros. Quando terminada, mais de duzentos anos depois, sua fachada era uma das mais ornamentadas da França, com quatro
ao sol”. De Rouen, torres, dúzias de arcos, figuras esculpidas de santos e uma enorme janela arredondada na entrada. Pouco céu e quase nenhuma
Monet escreveu chão aparecem na pintura de Monet. Ele estava tão perto da catedral que não podia ver mais do que isso. Uma grande torre à
para sua esposa: direita estava fora de sua visão e o topo das outras torres erguiam-se acima do batente de sua janela. Outros pedaços da cena são
“Quem tempo omitidos, mas não por causa do ponto de observação de Monet. O calcário castanho da igreja refletia o brilhante sol de inverno
terrível! E como de forma tão forte que Monet não podia ver os detalhes das esculturas ou dos ornamentos arquitetônicos. Os pilares verticais do
muda! Deus do céu, edifício, suas janelas e arcos pontiagudos, unidos por poucos elementos horizontais, são como um esqueleto ou estrutura em
como é difícil pintar direção ao alto. Tudo o mais parece se fundir ao redor desses suportes. Com o desenho das linhas, a catedral parece inclinar-se
esta catedral! para trás. Em suas pinturas, Monet retratava o impressionante edifício antigo como um grande monumento de pedra e, ao
Amanhã vai fazer mesmo tempo, como uma miragem.
oito dias que estou Monet voltou a Rouen no inverno seguinte, levando as telas não acabadas. Mais uma vez observou como o tempo e a luz
aqui, tenho mudavam a cor da pedra da igreja. Quando as condições atmosféricas se igualavam com as de uma tela especifica, era esse o
trabalhado todos os quadro em que trabalhava. Ele escreveu à esposa: “A cada dia, adiciono ou subtraio algo que nem sabia como ver antes”. Talvez
dias nas mesmas por estar acostumado com a liberdade de pintar ao ar livre, ficava frustrado com a dificuldade de pintar a catedral. Chegou a
duas telas e ainda pensar em abandonar os quadros, mas levou-os de volta para Giverny. Ocupado demais para regressar a Rouen para uma terceira
assim não consegui sessão de pintura, completou as obras de memória. Pela primeira vez Monet abandonou a principal regra de seu mentor Boudin,
fazer o que queria”. de pintar exatamente o que via quando e onde via.
A Catedral de Rouen: O inverso de 1892 foi frio demais para Monet disse: “Quanto mais avanço, mais dificuldade tenho em transmitir o que sinto. Quem quer que diga que terminou um
que Monet, então com 52 anos, ficasse caminhando pelos quadro é terrivelmente presunçoso”. Ele logo vendeu quatro desses quadros por um preço recorde. Vinte outros foram expostos
campos gelados perto de sua casa em Giverny. Em vez disso, em 1895, em Paris. Georges Clemenceau, estadista francês, escreveu que Monet: “Nos deu a sensação de que poderia ter,
decidiu pintar a Catedral de Notre-Dame na cidade de Rouen, deveria ter feito cinquenta, cem, mil quadros, tantos quantos fossem os segundos de sua vida”.
algo que desejava fazer havia muito tempo. Várias das
excursões de pintura Sena acima e abaixo, e às cidades
costeiras que amava tanto, levavam Monet a passar por
Rouen. Ele conhecia bem a cidade e sua arquitetura. Teve
sorte e encontrou um quarto com uma grande janela em
frente à igreja. Pela primeira vez o artista iria pintar uma cena
ao ar livre a partir do interior.
O ponto de vista elevado
de Monet a partir de uma
janela no segundo andar do
outro lado da rua da
catedral cortava o topo das
torres, as características do
edifício. Mas Monet estava
mais interessado na mágica
da luz sobre as antigas
pedras, mudando suas
cores dia a dia, e mesmo
minuto a minuto.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “PONTE SOBRE UM LAGO DE NINFÉIAS”. Página 12
Conhecendo uma nova paisagem: Monet passou muitos Monet projetou uma ponte arqueada sobre o lago. Todos a
anos em Giverny, planejando e plantando um esplêndido chamavam de “ponte japonesa”, e provavelmente foi inspirada
jardim entre sua casa rosada e a estrada. Em 1893, comprou a em alguma ponte das gravuras japonesas que havia em sua
propriedade vizinha, para além dos trilhos da estrada de ferro. casa. Uma cortina de bambus atrás das outras plantas
Em um de seus limites deslizava o estreito rio Ru. O novo reforçava a aparência japonesa do jardim. A virada do século
terreno possuía um pequeno lago, que Monet transformou em encontrou Monet pintando muitas paisagens da ponte.
elaborado jardim aquático. O lago raso foi escavado para Visitantes lembram-se de um pequeno bote a remo ancorado
torná-lo mais amplo, o riozinho foi desviado para alimentá-lo e perto; talvez Monet se sentasse nele para ter esta visão
dúzias de árvores, e flores que se adaptavam a proximidade da frontal. A ponte atravessa a tela e se estende para além de
água e moitas floridas foram plantadas ao seu redor. Mas suas bordas. Acima da ponte estão salgueiros chorões,
essas belas, raras e exóticas plantas apenas serviram para refletidos na água embaixo. Na parte frontal do quadro, as
realçar as ninféias. ninfeias são grandes, mas para além da ponte ficam
gradualmente menores, fazendo com que pareçam estar ainda
mais longe.

Monet não estava interessado em distinguir os tipos de


árvores e plantas que cresciam nas margens do lago. As
ninfeias e os reflexos dos salgueiros eram o que lhe
interessava. As folhas flutuantes das ninfeias são pintadas com
um brilhante verde-prateado, refletindo a radiante luz do sol.
As flores são indicadas com pinceladas largas de tinta branca,
com traços de amarelo e rosadas. O reflexo da ponte aparece
em vermelho profundo na parte de baixo da tela. Monet falava
de “meditação pacífica” e da ideia japonesa de evocar “o todo
Ao pintar as ninfeias, Monet teceu uma rica rede de cores. por meio de um pedaço” quando conversava sobre seus
Suas pinceladas contêm não apenas verde, mas também quadros da ponte em Giverny. Talvez desejasse que as telas
amarelo, rosa, vermelho, branco, cor de alfazema e azul. No
despertassem a imaginação dos observadores, construindo
começo, Monet não pintou muitas delas. “Sempre se demora
um pouco para conhecer uma paisagem”, disse. Mas, no final, adoráveis jardins em suas mentes. Ele confessou que durante
ele expandiu muito o lago e pintou quase apenas ninfeias. Elas toda a sua vida “não teve outro desejo a não ser o de mesclar-
foram seu tema principal por mais de 25 anos. se mais estreitamente com a natureza”.

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CONHENCENDO O ARTISTA: CLAUDE MONET: “AS CASAS DO PARLAMENTO”. Página 13
Pinturas finalmente recuperadas: Essa cena romântica foi
pintada a partir do Hospital Saint Thomas, localizado do outro
lado do rio. Monet conseguiu ali um quarto para guardar suas
telas e equipamentos. Durante a mesma visita a Londres, ele
pintou vistas das pontes que atravessavam o Tâmisa. Cada um
de seus quadros londrinos combina efeitos diferentes de
neblina, luz e hora do dia. Quando o cenário mudava, ele
colocava de lado uma tela e trabalhava em outra. No momento
de voltar a Giverny, estava exausto e nenhuma pintura tinha
sido finalizada. No todo, Monet trabalhou em cada quadro
muitas vezes. Apesar desses esforções, não conseguia terminar
as pinturas. “Arruinei mais de cem telas”, confessou um ano
mais tarde. A atmosfera “ficava mudando o tempo todo, e de
um dia para o outro eu não conseguia descobrir a mesma
paisagem”. Ele volta para seu ateliê, para trabalhar nelas por
mais um ano. Por fim, em 1904, três anos e meio depois de
começar a série. Monet enviou 37 quadros para Paris, para que
fossem vistos em conjunto pelo público.
No outono de 1899, Monet viajou para Londres. Quando
jovem, ele tinha retratado as recém-construídas “Casas do Paisagens aquáticas: Nos últimos doze anos de sua vida, Testemunhando o universo: No fim de sua vida Monet
Parlamento”. Agora, quase trinta anos depois, ele as retratava Monet raramente saiu de casa. Os muitos americanos que iam embarcou no maior projeto que jamais empreendera. Ele estava
novamente. Em vez dos edifícios em si, a neblina tornou-se o até lá, para aprender sobre o Impressionismo com ele, pintando uma série de enormes murais de ninfeias que tinha
verdadeiro tema da série. As névoas que sobre do Rio Tâmisa e tornavam a aldeia uma colônia cosmopolita de artistas. Mas quase 2 metros de altura e 6 a 8 metros de comprimento. Hoje
Monet os ignorava, dedicado e concentrado em suas pinturas. eles ocupam as paredes de duas grandes salas do museu
os suaves valores que substituem o céu obscurecem todos os
Ele agora tinha um único tema – os jardins e, particularmente,
detalhes da arquitetura. Monet pintou as torres como simples Orangerie, em Paris. Monet morreu em dezembro de 1926. Os
o lago de ninfeias. Chamava esses quadros de “paisagens
silhuetas. Da água e da atmosfera, ele criou uma imagem murais, inaugurados cinco meses mais tarde, imortalizam as
aquáticas”. Monet pintou esta vibrante visão de seu jardim
encantadora. aquático quando tinha 79 anos. É diferente de suas paisagens ninfeias e a forma de ver muito especial de Monet. Quando
anteriores. Não há céu nem horizonte, nenhuma terra é estudantes de arte iam até Monet para aprender sobre pintura,
Um castelo flutuando num rio fantasma: Monet fez com mostrada, nem mesmo as margens do lago. E o quadro é duas ele geralmente dispensava. Sentia que as palavras não lhes
vezes maior do que os anteriores. Ele tinha um assistente para ensinariam nada; eles deviam fazer o que ele fizera. Se o
que as “Casas do Parlamento“ pairassem acima do rio como se
carregar suas telas de dois metros até o jardim e colocá-las seguissem até os campos, como ele seguira Boudin, um véu
fosse um castelo flutuando. Ele viu o maciço centro do governo num ponto perto da água. Monet escreveu sobre sua série de
como algo não muito mais sólido do que os trêmulos reflexos poderia ser tirado de seus olhos tal como tinha sido tirado dos
ninfeias: “Trabalho nessas telas o dia inteiro. Levam até mim
de suas torres no rio, que pintou com pinceladas de cor de uma tela depois a outra”. Na sua maneira costumeira, tentava seus. A lição era olhar com atenção e tentar captar a impressão
fixar as cores fugidias e capturar uma impressão passageira. imediata. Monet olhou tão atentamente para a natureza
alfazema e azul. O alaranjado faz a água e o céu brilharem,
com o sol poente ardendo através da neblina. À esquerda, o Disse também que estava “sempre se atracando com a durante toda a sua vida que, quando velho, pôde ver mais do
natureza”. As árvores e o céu dos primeiros dias agora só que jamais fora capaz antes. Por isso as paisagens aquáticas
horizonte se obscurece, pois o céu e a água se transformaram
existiam para Monet como reflexos na água. Folhas de tornaram-se m universo inteiro para ele e, por meio de seu
num véu de cor. Para equilibrar esse campo de neblina e água, ninfeias, algumas com flores rosadas, flutuam graciosamente
o artista usou cores mais escuras e brilhantes no lado direito pincel, também para os outros. Estuda-las é como seguir Monet
pelo lago, agarrando o ouro do sol em suas superfícies verdes.
da tela. e aprender a viver.

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