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Revista

PRAIAVERMELHA Estudos de Política e Teoria Social

v. 23 n. 2
Julho/Dezembro 2013
Rio de Janeiro
ISSN 1414-9184

Revista Praia Vermelha Rio de Janeiro v. 23 n. 2 p. 321-624 Jul/Dez 2013


Revista
PRAIAVERMELHA Estudos de Política e Teoria Social

As Jornadas de Junho de 2013:


balanço e perspectivas
Valerio Arcary

RESUMO
A partir do dia 17 de junho aconteceu uma PALAVRAS-CHAVE
inflexão importante da situação política no Jornadas de Junho.
Brasil. Nas Jornadas de Junho centenas de Mobilizações progressivas.
milhares de jovens invadiram as ruas de São Reivindicações democráticas
Paulo e do Rio de Janeiro. Na dimensão Três campos políticos.
nacional, pelo menos algo próximo a dois Situação transitória.
milhões de pessoas saíram às ruas em qua-
trocentas cidades. Estavam votando com os Recebido em 09/01/14.
pés. As dimensões deste processo remetem Aprovado em 22/07/14.
à ideia de que uma situação pré-revolucio-
nária ficou mais próxima. Como sempre na
história, esta dinâmica pode ser interrom-
pida. Pode ser contida, desviada, abortada.
Ou pode prevalecer. O que aconteceu em
Junho de 2013 será chave para compreender
os resultados da eleição de 2014.

June Journeys (2013): evaluation and perspectives


In June 17 came a major turning of the political situation in Brazil. In June
journeys hundreds of thousands of young people took to the streets of São Paulo
and Rio de Janeiro. At a national scale, at least something close to two million
people took to the streets in four hundred cities. They were voting with their
feet. The dimensions of this process refer to the idea that a pre-revolutionary
situation got closer. As always in history, this momentum can be stopped. Can
be contained, or aborted. Or can prevail. What happened in June 2013 will be
key to the understanding of the results of the 2014 election.
KEY WORDS June Journeys. Progressive mobilization. Democratic demands.
Three political camps. Transitional situation.

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PRAIAVERMELHA VOLUME23 NÚMERO2 [2013]

“Os camponeses estão votando com os pés”


Vladimir Ilitch Ulianov, aliás, Lenin, quando informado que os camponeses
estavam desertando em massa do Exército Czarista na Primeira Guerra Mundial.

Em qualquer análise, respeitar o sentido das proporções é indispensá-


vel. Quando da interpretação de grandes acontecimentos, no calor da hora,
existe sempre o duplo perigo de subestimação ou de sobre-estimação. A
grande questão que desafia a compreensão das Jornadas de Junho, em uma
análise marxista, é responder em que medida a relação social de forças en-
tre as classes foi alterada. Estamos diante de uma nova realidade nacional?
Abriu-se ou não uma nova situação?
Nosso argumento é que a partir do dia 17 de junho aconteceu uma inflexão
importante da situação política no Brasil. Nas Jornadas de Junho centenas de
milhares de jovens invadiram as ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na di-
mensão nacional, pelo menos algo próximo a dois milhões de pessoas saíram
às ruas em quatrocentas cidades. Estavam votando com os pés. As dimensões
deste processo remetem à ideia de que uma situação revolucionária ficou mais
próxima. Como sempre na história, esta dinâmica pode ser interrompida.
Pode ser contida, desviada, abortada. 1 Ou pode prevalecer.

1 Uma revolução não se resume ao momento da insurreição. Uma revolução


é um processo. É preciso lembrar, também, que o conceito de situação revolucionária
é definido com muita frequência, ao mesmo tempo, de forma restrita ou imprecisa, e
confundindo situação revolucionária e crise revolucionária. Para ser mais rigoroso, uma
dupla confusão é muito comum: se esquece que uma situação revolucionária precede
necessariamente uma insurreição e que, portanto, a abertura de uma situação revolu-
cionária não desemboca sempre na abertura de uma crise revolucionária; e se esquece, tam-
bém, que uma revolução se coloca em marcha antes de que estejam maduras todas as
condições para a conquista do poder político. E que, portanto, é precedida por uma situ-
ação pré-revolucionária. Uma definição clássica de situação revolucionária é a que Lenin
apresentou em A falência da Segunda Internacional, em que é introduzida, pela primeira
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Uma sequência de quatro protestos de rua contra o aumento das pas-


sagens de ônibus em São Paulo, com alguns milhares de jovens, foi uma
faísca. Reprimidos pela polícia com uma violência selvagem, detonaram
uma reação surpreendente. Um conflito que parecia marginal deflagrou
uma onda nacional de mobilizações que o país não conhecia há vinte anos.
E isso aconteceu sem que qualquer grande aparelho político estivesse com-
prometido com a convocação. Os próprios manifestantes declararam es-
pontaneamente, aos milhares, ao que vieram: Não é por centavos!
Esta luta por transportes, educação e saúde pública gratuita e de quali-
dade chocou, frontalmente, com o PT de Fernando Haddad na prefeitura
de São Paulo e o PSDB de Alckmin. Sérgio Cabral e Eduardo Paes do
PMDB nos governos do Rio não foram poupados. Em Recife o PSB de
Eduardo Campos foi, igualmente, atingido. Depois a avalanche de mo-
bilizações se alastrou na forma de um tsunami nacional. Muitas cidades
viram as maiores passeatas de sua história. Em não poucas delas, mobi-
lizações maiores que as que conheceram quando do Fora Collor de 1992.
Algumas até maiores do que as Diretas em 1984.
O apoio ao governo Dilma, que era amplamente majoritário – mais de
65% - em menos de um mês, passou a ser minoritário: menos de 30%. A
força social de choque destas mobilizações deixou as instituições do Esta-
do, por quase uma semana, semiparalisadas. A classe dominante se dividia
entre os que exigiam mais repressão, e aqueles que temiam uma completa

vez no debate marxista, uma diferenciação entre a hierarquia dos fatores objetivos e
subjetivos. O protagonismo das massas é ressaltado como condição sine qua non, acima da
profundidade dos elementos mais objetivos, como a gravidade da crise econômica ou de
outra catástrofe: “Para um marxista, não há dúvida de que a revolução é impossível sem uma
situação revolucionária, mas nem toda situação revolucionária conduz à revolução. Quais são,
de ma­neira geral, os indícios de uma situação revolucionária? Estamos certos de não nos enga-
narmos se indicarmos os três principais pontos que seguem: 1) impossibilidade para as classes
domi­nantes manterem sua dominação de forma inalterada; crise da “cúpula”, crise da política
da classe dominante, o que cria uma fissura através da qual o descontentamento e a indignação
das classes oprimidas abrem caminho. Para que a revolução estoure não basta, normalmente,
que “a base não queira mais” viver como outrora, mas é necessário ainda que “a cúpula não o
possa mais”; 2) agravamento, além do comum, da miséria e da angústia das classes oprimi-
das; 3) desenvolvimento acentuado, em virtude das razões indicadas acima, da atividade das
massas, que se deixam, nos períodos “pacíficos”, saquear tranquilamente, mas que, em períodos
agitados, são empurradas tanto pela crise no seu conjunto como pela própria “cúpula”, para uma
ação histó­rica independente.”(grifo nosso) LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov, A Falência da
Segunda Internacional, São Paulo, Kairos, 1979, p.27/8.

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desmoralização política dos governos, caso a fúria policial descontrolada


provocasse um ou mais mortos. O recuo no aumento das passagens não
foi o bastante para retirar as massas das ruas durante alguns meses. Uma
maioria dos setores médios deslocou-se para o apoio aos manifestantes.
Por isso, faz sentido trabalhar com a hipótese de que pode ter sido aberta
uma nova situação, de tipo transitório, ou mesmo pré-revolucionária. O
que só poderá ser confirmado com o desenvolvimento futuro. 2
Esta questão político-teórica é da maior gravidade. Expliquemo-nos.
Esta inflexão pode ou não se manter, pode avançar ou retroceder. Ao
longo dos próximos meses veremos mudanças de conjuntura, favoráveis
ou desfavoráveis às lutas populares. Se, no entanto, a evolução da situação
política a confirmar, estará aberta para os socialistas-revolucionários a pos-
sibilidade de uma disputa pela consciência de milhões de trabalhadores e
jovens em condições imensamente mais favoráveis.
Esta luta pela consciência não é somente uma luta de ideias. Trata-se de
um combate político contra a influência de aparelhos muito poderosos que,

2 Sobre os tempos da revolução existe uma ampla esfera de problemas em debate.


Consideremos, em primeiro lugar, a questão da diferença entre as revoluções políticas
e as revoluções sociais. Parece muito sensato que as diferenças entre elas não possam
ser resumidas aos resultados distintos que produziram, e devamos procurar o que as dife-
renciava, nas suas dinâmicas diferentes antes da conquista do poder. As grandes revoluções
políticas do século XX (que, por analogia com o processo russo, Trotsky denominou de
Fevereiros), exigiram as duas condições chaves que Lenin fixou, tanto antes como depois
de Outubro, para definir uma situação revolucionária: quando os de cima “não podem”,
e quando os de baixo “não querem”. Mas Outubro foi uma revolução muito diferente da
de Fevereiro e, portanto, é razoável concluir que a situação que a precedeu, foi também
uma crise revolucionária muito diferente. Assim, parece ser necessário distinguir as di-
ferenças entre a situação e a crise revolucionária de Fevereiro das de Outubro. Nesse
caminho avançou a análise, por exemplo, de Nahuel Moreno. A seguir, uma citação
sobre o que seria uma situação pré-revolucionária de Fevereiro. Impressiona como a su-
mária definição parece útil, como uma luva, para descrever o momento político no Brasil
em junho de 2013: “Essas situações revolucionárias de fevereiro são precedidas por situações
pré-revolucionárias que poderíamos denominar de “pré-fevereiros”. Tais situações pré-revolu-
cionárias ocorrem quando o regime burguês entra em crise e o povo rompe com ele, deixando-o
sem nenhun apoio social. São pré-revolucionárias porque ainda não está colocado o problema do
poder, mas as condições para que esteja colocado já estão maduras. Tornam-se revolucionárias
quando as massas populares conseguem unificar seu ódio ao regime em uma grande mobilização
unificada à escala nacional fazendo com que a crise do regime se torne total e absoluta. (Grifo
nosso.) MORENO, Nahuel. As Revoluções do Século XX, Brasília, Edição da Câmara dos
Deputados, 1989, p.66.
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durante os últimos trinta e cinco anos, foram se organizando em torno da


direção lulista-petista. Trata-se de uma luta contra as ilusões reformistas e
contra as esperanças na solução concertada dos conflitos preservando-se as
instituições do regime democrático-presidencialista. 3

3 O Estado burguês ou capitalista é compatível com os mais exdrúxulos regimes


políticos, e pode assumir diferentes formas institucionais: ele conviveu, na sua origem,
com monarquias absolutas, com monarquias parlamentares, com repúblicas com uma
ou duas câmaras (uma assembléia de deputados, e um senado, por exemplo), com re-
públicas com voto censitário ou com sufrágio universal, repúblicas presidencialistas ou
semi-presidencialistas (em que o poder da presidência, unindo ao mesmo tempo as fun-
ções de chefe de Estado e de chefe de Governo é limitado por um congresso), com regi-
mes bonapartistas, com repúblicas federalistas ou unitárias, com regimes de Apartheid,
com regimes teocráticos, com ditaduras fascistas, ou com ditaduras militares, etc... As
passagens de um regime a outro podem se dar por vias reformistas ou por vias revolu-
cionárias (o que é o mesmo que dizer, dependendo do signo do processo, por vias rea-
cionárias ou contra-revolucionárias). No nosso século, entretanto, de forma frequente,
como uma regularidade histórica impressionante, mesmo as mudanças de regime, que não
afetam a natureza social do Estado, têm exigido revoluções políticas. Isso expressa as estreitas
margens de manobra da burguesia, mesmo para mudanças muito limitadas, uma das ex-
pressões de sua natureza histórica obsoleta. Para uma definição mais precisa da crise re-
volucionária, como o momento no interior da situação revolucionária em que a luta pelo poder
é possível, podemos conferir o extrato que transcrevemos em seguida. Foi elaborado em
1920, como parte do esforço de generalização da experiência bolchevique de construção
de um partido marxista-revolucionário, na polêmica contra as pressões esquerdistas que
se abatiam, como uma avalanche, sobre uma boa parte das organizações constituídas
depois de Outubro, com um muito tênue fio de continuidade com os partidos com in-
fluência de massas da Segunda Internacional. Merece ser observado que a formulação de
Lênin se adequa mais à experiência da situação que a Rússia viveu em 1905 ou em Feve-
reiro de 1917, do que a situação prévia a Outubro. Nela não há referências por exemplo
ao duplo poder “institucionalizado”, como forma mais orgânica da democracia direta da
mobilização das massas, ou ao armamento das forças populares: “A revolução é impossível
sem uma crise nacional geral (que afete a explorados e exploradores). Por conseguinte, para que
estoure a revolução é necessário, em primeiro lugar, conseguir que a maioria dos operários (ou,
em todo caso, a maioria dos operários conscientes, reflexivos e politicamente ativos) compreenda
a fundo a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em segundo lugar,
é preciso que as classes dirigentes sofram uma crise governamental que arraste à política inclu-
sive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou até a
centuplicação do número de pessoas aptas para a luta política pertencentes à massa trabalhadora
e oprimida, antes apática), que enfraqueça o governo e torne possível seu rápido derrocamen-
to pelos revolucionários” (grifo e tradução nossos) LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov, La
maladie infantile du communisme (Le Gauchisme), Pekin, Editions en langue etrangéres,
1970, parte IX, p.85.

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Progressiva ou regressiva?
As mobilizações de junho de 2013 foram acéfalas. Foram, politicamen-
te, caóticas, controvertidas, imprecisas, ambíguas, confusas. Mas tentar
desqualificar o seu significado, como fizeram intelectuais próximos ao go-
verno, com a caracterização de que seriam somente a expressão do mal
estar das classes médias urbanas mais escolarizadas e hostis ao PT, ou seja,
reacionárias, demonstrou-se insustentável.
É verdade que nem todas as mobilizações de massas são progressivas. O
papa reuniu em julho de 2013 alguns milhões nas ruas do Rio de Janeiro,
e não havia nada de progressivo no apoio ao Vaticano. Foi uma mobiliza-
ção regressiva. Aqueles que se posicionaram contra as manifestações de
Junho argumentaram que uma onda reacionária de classe média ameaçava
a democracia. A presença de fascistas nas ruas foi o bastante para que o
PT levantasse um espantalho para assustar os incautos. Esta avaliação in-
sinuava que os milhões mobilizados respondiam a um programa de direita
levantado pela oposição burguesa. 4
O sentido dominante das Jornadas de Junho, apesar de muito tumultu-
oso, foi oposto. A esmagadora maioria dos cartazes se restringia aos limi-
tes de reivindicações democráticas, mas era maravilhosa: se o povo acordar,

4 Um aspecto interessante que a citação de Trotsky que apresentamos na se-


quência suscita é a polêmica, para a Inglaterra dos anos vinte do século XX, sobre as
condições em que o fantasma do fascismo, ou do golpe de Estado iminente é uma arma
política para disciplinar e domesticar as lutas dos trabalhadores e suas reivindicações:
“Isso é suficiente para explicar por que é completamente errado sugerir que na Inglaterra, o
conflito político se dá entre a democracia e o fascismo. A era fascista começa a sério depois de uma
vitória importante e, temporalmente decisiva da burguesia sobre a classe trabalhadora. Mas
na Inglaterra as grandes lutas ainda não foram dadas. Como já assinalamos referindo-nos a
outro tema, o próxirno capítulo político da Inglaterra, após a queda do governo nacional e do
conservador que provavelmente deva sucedê-lo, será, possivelmente, liberal-trabalhista. ( ...
) Condicionalmente chamamos a essa etapa kerenskisrno britânico. Mas é preciso acrescentar
que não necessariamente em todas as fases e em todos os países o kerenskismo será tão fraco como
era o russo, que era fraco, porque o Partido Bolchevique era forte(...) O kerenskismo combina a
fraseologia (...) ‘’socialista” com reformas democráticas e sociais de secundária importância com
a repressão da ala esquerda da classe trabalhadora. Este método é o oposto do fascismo, mas tem
a mesma finalidade. A derrota do lloydgeorgismo futuro só será possível se sabemos prever a sua
chegada , se não nos deixamos hipnotizar pelo fantasma do fascismo, que hoje é um perigo muito
mais distante que Lloyd George e sua ferramenta do futuro, o partido trabalhista.” (grifo e tra-
dução nosso) TROTSKY, Leon, “Que é uma situação revolucionária?” in Escritos, Tomo
II, volume 2, p. 514 (de 14/11/1931), Bogotá, Pluma, 1976.
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eles não dormem! Não adianta atirar, as ideias são à prova de balas! Não é por
centavos, é por direitos! Põe a tarifa na conta da Fifa! Verás que um filho teu não
foge à luta! Se seu filho adoecer, leve-o ao estádio! Ô fardado, você também é ex-
plorado! Havia algum desafino, é verdade, entre o que as multidões faziam
e muitos dos cartazes. Alguns cartazes, por exemplo, eram contraditórios
com outros. Este desacerto é previsível.5 Uma pesquisa do Ibope sobre
as razões da participação nas manifestações revela que a grande maioria
estava nas ruas em defesa de serviços públicos e gratuitos, e contra a cor-
rupção. 6
Assistimos a uma desconcertante explosão de protesto e euforia. Não
devemos nos preocupar com o que vimos de singelo, irreverente e até um
pouco crédulo. No vendaval desta primeira onda de protestos, depois de
dez anos de governos de colaboração de classes dirigidos pelo PT, era pre-
visível uma grande confusão política. Tanto tempo de deseducação política

5 A mobilização social esteve na história, invariavelmente, à frente da consciên-


cia política. As grandes massas em luta por suas reivindicações, isto é, por uma vida
melhor, têm uma compreensão muito parcial das tarefas históricas necessárias para a
sua vitória: quais devem ser as mudanças econômico-sociais, ou seja, um programa contra
o sistema capitalista. Também têm imensa dificuldades de imaginar o que seria uma
mudança política-social, ou seja, a conquista do poder, e o exercício da política, por elas
mesmas, sem a mediação das instituições do regime que desmorona. Vivem “ fora da
politica”, a maior parte de suas vidas, e por isso, a delegação do poder político, seja de forma
coercitiva, pela usurpação violenta, seja de forma mascarada, pelo voto em alguém, é uma da
forças de inércia histórica mais poderosas. As massas, sejam elas operárias, camponesas, ou
populares se colocam em movimento para derrubar o governo e o regime sem uma idéia
muito clara do que seria necessário erguer no seu lugar, sem um projeto definido de ordem social
e política alternativo, e sem propostas previamente acordadas de quais mudanças realizar. A
obra “destrutiva” da revolução, surge sos olhos das multidões em luta com uma urgência
e uma clareza proporcionalmente inversa à dificuldade de perspectiva do que seria o novo
regime. Nesse sentido, também, o papel subjetivo da direção revolucionária, o sujeito
politico coletivo, os milhares de pequenos chefes que emergem de qualquer processo
revolucionário mais profundo é decisivo. Ele pode ser qualitativo para garantir que a
revolução não fique estacionada ou congelada na fase politica da queda do regime, e
para ajudar as massas a procurar a via da sua auto-organização e construção de orga-
nismos independentes de democracia direta, a chave para avançar para uma revolução
econômico-social do tipo Outubro. Conferir em: DRAPER, Hal. Karl Marx’s theory of
revolution: The theory of the state. New York and London, Monthly Review Press, volume
I, 1978.
6 http://especial.g1.globo.com/fantastico/pesquisa-de-opiniao-publica-sobre-
-os-manifestantes. Consulta em 28/10/2013.

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teriam que resultar em algum infantilismo. Tampouco devemos exagerar


os episódios dramáticos de choques com quadrilhas que queriam derrubar
as bandeiras vermelhas.7 Embora muito grave esta disputa esteve longe de
ser o mais importante do que ocorreu em junho, ainda que tenha sido o
mais triste.
A alegria das massas nas ruas se explica pela descoberta, surpreenden-
te para elas mesmas, de que é possível mudar a vida, mudar o mundo, e
mudarmo-nos a nós mesmos pela ação política coletiva. Por isso, a força
ingênua da palavra de ordem o povo acordou. Ou o clássico o povo unido
jamais será vencido.
A composição social predominantemente jovem e universitária não di-
minui em nada o caráter progressivo das Jornadas de Junho. Assim foram,
também, durante muitos anos as manifestações de rua que, entre 1978 e
1984, saíram às ruas na fase final da luta contra a ditadura militar. Nas so-
ciedades urbanas e industrializadas contemporâneas, a juventude universi-

7 Se em junho apareceu o que existe de mais generoso, valente e solidário no


coração da juventude, apareceu, também, o que existe de ingênuo, confuso e até rea-
cionário. Como em todos os processos históricos, quando as mobilizações são ainda
policlassistas, ou seja, quando o peso social da classe operária ainda não se impôs, não
foi tudo progressivo. Apareceram jovens embriagados de nacionalismo, embrulhados na
bandeira nacional. Cantavam: “sou brasileiro com muito orgulho e muito amor”. O na-
cionalismo é uma ideologia política perigosa. Só é positivo quando defende o Brasil do
imperialismo. Alguns destes jovens fizeram ainda pior. Avançaram sobre militantes de
esquerda e suas bandeiras. Atacaram as bandeiras do PSOL, do PCB e do PSTU, asso-
ciando toda a esquerda ao PT. Não fosse isso bastante, durante as manifestações na Ave-
nida Paulista em São Paulo e no Rio de Janeiro de 20 de junho, as colunas de militantes
da esquerda foram atacadas por grupos de indescritível boçalidade que queimaram as
faixas. As bandeiras vermelhas foram perseguidas com ferocidade fascista. Dezenas de
militantes foram agredidos, violentamente e, para evitar um confronto físico que poderia
ter sido muito mais grave, em condições imensamente desfavoráveis, porque os agres-
sores fascistas eram apoiados por uma parcela da manifestação que gritava “sem partido,
sem partido”, a esquerda decidiu se retirar da manifestação. O que aconteceu foi uma tra-
gédia. A esquerda teve que enfrentar a repressão policial nos últimos anos, incontáveis
vezes, é verdade. Mas há décadas que não tínhamos que disputar o direito de marchar
nas ruas contra os fascistas. A esquerda manteve a hegemonia nas ruas depois do final
dos anos setenta, há trinta e cinco anos atrás. Gritar “sem violência” não é o mesmo que
gritar “sem partidos”. Quando gritamos juntos “sem violência” estamos denunciando a
presença de provocadores infiltrados da polícia que querem oferecer, conscientemente ou
não, um pretexto para a repressão. Sobre este tema, uma leitura indispensável é a última
obra de Mandel: MANDEL, Ernest, Trotsky como alternativa. São Paulo, Xamã, 1995.
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tária foi incontáveis vezes um setor que se antecipou à entrada em cena dos
trabalhadores. Quem estava nas ruas não era uma nova classe média as-
cendente. Era uma nova geração da classe trabalhadora mais escolarizada.8

As greves nacionais de 11 de Julho e 30 de Agosto


A ordem em uníssono dos maiores partidos políticos, ou seja, tanto
aqueles que são o núcleo central de apoio ao governo Dilma, como da opo-
sição de direita, foi dispersar o movimento com a repressão. Mas foram,
esmagadoramente, derrotados. Os governos, todos os governos, ficaram
mais fracos do que eram antes de junho. Depois da perplexidade, o gover-
no Dilma Roussef ensaiou uma resposta mais elaborada e colocou como
um desafio público ao Congresso Nacional a convocação de eleições para
uma Constituinte exclusiva para realizar uma reforma política. A proposta
durou menos de uma semana, bombardeada pela oposição burguesa e pelo
PMDB de José Sarney, Michel Temer, Jader Barbalho e Sergio Cabral, e
sabotada por uma ala do próprio PT, liderada por Candido Vacarezza, que
não agia sozinho.
O que veio se expressando a partir de junho foi uma irresistível dispo-
sição de luta. A juventude conquistou o apoio da maioria da população. A

8 Esta questão da articulação dos fatores objetivos e subjetivos é mais complica-


da do que pode parecer. Uma situação revolucionária exige, evidentemente, condições
objetivas. Mas elas podem estar maduras há décadas, podem até ter apodrecido de tão
maduras, sem que uma situação revolucionária tenha se aberto. A passagem de Deuts-
cher, comentando Trotsky, ajuda a esclarecer esta questão: “Detendo-se na ligação entre os
fatores “constante” e “variável” demonstra que a revolução não se ex­plica simplesmente pelo fato
de estarem as instituições sociais e políticas, há longo tempo, em decadência e prontas a serem
der­rubadas, mas pela circunstancia de que muitos milhões de pessoas perceberam tal coisa pela
primeira vez. Na estrutura social, a revolução já estava madura bem antes de 1917; na mente
das massas, ela só amadureceu naquele ano. Assim, paradoxalmente, a causa mais profunda
da revolução está não na mobilidade da mente dos homens, mas em seu conservantismo inato.
Os ho­mens só se levantam em massa quando percebem subitamente como estão mentalmente
atrasados em relação aos tempos e desejam reparar esse atraso imediatamente É a lição que
nos mos­tra a “História da Revolução Russa”: as grandes convulsões na sociedade seguem-se
au­tomaticamente da decadência de uma velha ordem; gerações po­dem viver em uma ordem
decadente, sem terem consciência disso. Mas quando, sob o impacto de alguma catástrote como
a guerra ou o colapso econômico, adquirem consciência disso, há uma ex­plosão gigantesca de
desespero, esperança e atividades.”(grifo nosso) DEUTSCHER, Isaac, Trotsky, O Profeta
Banido, Rio de janeiro, Civilização Brasileira, 1984, p.241.

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centelha foi o aumento das passagens. Depois foi a luta contra a repressão
da polícia, ou seja, pelo direito democrático de lutar.
Na sequência, talvez até três milhões de assalariados foram à greve em
11 de julho, e um número inferior, ainda assim, significativo no 30 de
agosto, se considerarmos que o Brasil não viveu convocação à greve na-
cional desde 1989. Neste processo ficou claro que a “lua de mel” que be-
neficiou os governos do PT em Brasília durante dez anos acabou. A nova
geração saiu às ruas e está exasperada. Estão realizando um aprendizado
acelerado. A pedagogia da luta nas ruas é muito intensa. 9
Na sequência o governo tentou uma nova operação política retirando da
gaveta duas propostas: (a) o Mais Médicos, um plano inspirado no envio de
milhares de médicos cubanos para a Venezuela; (b) a constituição de um

9 Muitos argumentaram, ecoando as análises elaboradas pelo núcleo dirigente do


governo Dilma e do PT que a flutuação da situação econômica depois de Junho teria sido
suficiente para encerrar a conjuntura de efervecência política. O desemprego baixo, os
acordos salariais com ganhos reais, a desaceleração da inflação, a permanência de um nível
alto de consumo, um pouco acima até de 2012, sinalizariam uma tendência de recuperação
da estabilidade política. Este viés de análise economicista é perigoso. Um dos aspectos que
preocupava, entre outros, Leon Trotsky era dissociar o conceito de situação revolucionária
das velhas polêmicas sobre a inexorabilidade da “crise final”. O compromisso de educar as
novas geracões marxistas em torno da experiência russa de que a situação revolucionária é
um processo político e, portanto, guarda sempre uma relativa autonomia, até temporal, em
relação aos processos econômicos, mesmo quando esses assumem a forma de um cataclis-
mo: a crise econômica pode ser gravíssima, e no entanto, pode não se abrir uma situação
revolucionária. A crise econômica seria uma das condições objetivas, mas não suficiente. O
outro alerta, tão ou mais importante que o primeiro, recorda que a análise da relação de
forças deve considerar qual é a situação de todas as classes da sociedade. Análises obrei-
ristas, sejam por euforia ou por desalento, não permitem uma compreensão de qual seria a
situação. Eis uma citação inspiradora:“ Para analisar uma situação (...) é necessário distinguir
entre as condições econômicas e sociais de uma situação revolucionária e a situação revolucionária
mesmo. As condições econômicas e sociais de uma situação revolucionária se dão, falando em geral,
quando as forças produtivas de um país estão em decadência, quando diminui sistematicamente
o peso do país capitalista no mercado mundial e os rendimentos das classes também se reduzem
sistematicamente; quando o desemprego já não é simplesmente a conseqüência de uma flutuação
conjuntural, mas um mal social permanente com tendência a aumentar(...). Mas não podemos
esquecer que a situação revolucionária a definimos politicamente, não só sociologicamente, e aqui
entra o fator subjetivo. E este não consiste somente no problema do partido do proletariado, mas
é uma questão de consciência de todas as classes.” (grifo nosso) TROTSKY,Leon, “Que é uma
situação revolucionária?” in Escritos, Tomo II, volume 2, p. 513 (de 14/11/1931), Bogotá,
Pluma, 1976.
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fundo social para a educação e saúde com os recursos a serem recolhidos


pelos royalties do Pré-sal.
Essas iniciativas permitiram ao governo um intervalo de relativa, porém,
ainda não consolidada recuperação. Porque a campanha Aonde está Amaril-
do? comoveu o país inteiro. E em outubro a repressão à greve dos professo-
res do Rio de Janeiro voltou a incendiar as ruas contra Cabral e Paes.

Uma nova situação política?


Dez anos de um governo de colaboração de classes significaram um
intervalo histórico longo. A rigor, a estabilidade político social veio desde
a implantação do Plano Real, da vitória de FHC nas eleições presiden-
ciais de 1994, e da derrota da greve petroleira de 1995. Este processo não
poderia deixar de ter um impacto ideológico poderoso. A inércia de dez
anos de estabilidade não poderia deixar de ter uma refração na percepção
da realidade.
O tempo não é uma variável irrelevante na luta de classes. Dependendo
da relação de forças sociais e políticas, para resumir brutalmente o proble-
ma, ele corre a favor ou contra as massas populares. A questão do tempo
necessário para as classes populares resolverem os seus impasses subjetivos
é um paradoxo fascinante, mas, também, perturbador.
Na longa duração, em um sentido, o tempo corre, tendencialmente, a
favor das classes trabalhadoras. Em primeiro lugar, porque na longa dura-
ção as crises econômicas cíclicas, recorrentes, demonstram a impossibili-
dade histórica do capitalismo resolver os impasses da civilização. O capital
pode ganhar tempo, mas a sua caducidade fica evidente a cada nova crise.
Apesar de todas as derrotas políticas, e mesmo considerando todas as der-
rotas históricas, enquanto o sujeito social existe e luta, a última palavra ainda
está por ser dada e, nesse sentido, os combates decisivos são os que estão
colocados à sua frente, e não os que ficaram para trás.
Por que o fator tempo é mais significativo quando se abre uma situação pré-re-
volucionária? Primeiro, porque se abre uma situação de aceleração histórica. Em-
bora sejam flutuantes as conjunturas, seus tempos são mais breves, e os impasses
políticos mais frequentes. Ou a situação evolui para revolucionária ou retrocede, e a
classe dominante recupera a estabilidade das instituições. Este foi o alerta de Leon
Trotsky para os franceses quando da eleição de Frente Popular em 1936:
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PRAIAVERMELHA VOLUME23 NÚMERO2 [2013]

O pensamento marxista é dialético: considera todos os fenômenos em


seu desenvolvimento, em sua passagem de um estado a outro (...) A
oposição absoluta entre uma situação revolucionária e uma situação
não-revolucionária é um exemplo clássico do pensamento metafísico,
segundo a fórmula: o que existe, existe; o que não existe, não existe,
e o resto é coisa de feitiçaria. No processo histórico existem situações
estáveis absolutamente não-revolucionárias. Existem ainda situações
notoriamente revolucionárias. Há também situações contrarrevo-
lucionárias (é preciso não esquecê-lo). Mas o que existe sobretudo em
nossa época de capitalismo em decomposição são situações intermediárias,
transitórias: entre uma situação não-revolucionária e uma situação pré-
-revolucionária, entre uma situação pré-revolucionária e uma situação
revolucionária... ou contra-revolucionária. São precisamente esses estados
transitórios que têm uma importância decisiva do ponto de vista da estra-
tégia política.... Uma situação revolucionária se forma pela ação recíproca
de fatores objetivos e subjetivos. Se o partido do proletariado se mostra
incapaz de analisar a tempo as tendências da situação pré-revolucio-
nária e de intervir ativamente em seu desenvolvimento, em lugar de
uma situação revolucionária surgirá, inevitavelmente, uma situação
contrarrevolucionária.. 10(grifo nosso)
Mas “a falta de tempo” não “pune’ por igual todas as classes. Porque o tem-
po é, também, indispensável para as massas proletárias e populares amadure-
cerem “quem são os seus inimigos” e “quem são os seus amigos”. Nesse sentido,
o tempo corre contra essa necessidade subjetiva. São os acontecimentos e a luta
de partidos que permitem às amplas massas retirar conclusões.
Disto decorre um fenômeno político único: na aparência, as massas po-
pulares se fortalecem na abertura de uma situação pré- revolucionária, já que
ocupam um lugar central pelo impacto e surpresa de sua mobilização, enquan-
to encurralam a reação burguesa. Mas, quanto mais avançam no seu combate,
mais desesperadora fica a desigualdade de condições de luta pela vitória, se não
se resolve o problema da direção. E isso por uma razão muito simples: estando os
outros fatores anulados no desenvolvimento da luta, o lugar da qualidade da
direção pode desequilibrar a balança. E o tema da direção remete, também, ao
do papel dos trabalhadores à frente da luta de todos os oprimidos. A situação é
muito diferente, e mais desfavorável, se quem está na liderança da mobilização
são os setores médios, arrastando a maioria assalariada. Porque a possibilidade

10 TROTSKY, Leon. Aonde vai a França? São Paulo, Editora Desafio, 1994, p.70.
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de manipulação da classe média por alguma fração burguesa é muito grande.11


Entretanto, por maior que seja a crise política, é apropriado lembrar que a
burguesia sempre tem maior facilidade de improvisar uma direção do que as
classes populares. Já sabemos que a única possibilidade das ideias revolucioná-
rias conquistarem uma importante influência sobre a maioria das massas em
luta é justamente no calor de uma situação revolucionária. Logo, se ela se fecha
muito rapidamente, por uma reviravolta política qualquer, e a estabilidade so-
cial e política é recuperada, o processo de radicalização política aborta, porque
não houve tempo suficiente para as experiências necessárias.

11 A seguir, um extrato de um texto do início dos anos 1930, posterior à derrota


da revolução chinesa. Trotsky considera, também, que à situação revolucionária cor-
responde uma forma excepcional e atípica de regime político que por analogia com a
revolução russa, denominou de Kerenskismo. O seu principal traço definidor consistiria
na necessidade da presença dos partidos reformistas com influência de massas no gover-
no, como última tentativa e alternativa limite para conter o ascenso revolucionário de
massas. No pós-guerra de 1945, entretanto, a presença dos partidos reformistas da classe
operária nos governos dos países centrais, deixou de poder estar associado à definição
de uma situação revolucionária. Trotsky chega a essas conclusões, não somente à luz da
vitória russa, mas em função de todas as derrotas posteriores: “A situação revolucionaria
só se dá quando as condições econômicas e sociais que permitem a revolução provocam mudanças
bruscas na consciência da sociedade e de suas diferentes classes. Que mudanças? (a) para nossa
análise temos que levar em conta as três classes sociais: a capitalista, a classe media e o proleta-
riado. São muito diferentes as mudanças de mentalidade neces­sárias em cada uma destas classes;
(b)(...) Mas a situação revolucionária se desenvolve só quando o proletariado começa a buscar
uma saída, não sobre os trilhos da velha sociedade, mas pelo caminho da insurreição revolu-
cionária contra a ordem existente. Esta é a condição subjetiva mas importante de uma situação
revolucionária. A intensi­dade dos sentimentos revolucionários das massas é um dos indícios
mais importantes do amadurecimento da situação revolucionária; (c) (...) e isto depende até cer-
to ponto (embora menos na Inglaterra que nos outros países) das ideias e sentimentos políticos da
classe média, de sua desconfiança em todos os partidos tradicionais (incluindo o Partido Traba-
lhista, que é reformista, isto é, conservador) e de que deposite suas esperanças em uma mudança
radical, revolucionária, da sociedade (e não em uma mudança contrarevoIucionária, ou seja,
fascista);(d) As mudanças no estado de ânimo da classe media e do proletariado correspondem e
são paralelas às mudanças no estado de ânimo da classe dominante, quando esta vê que é inca-
paz de salvar seu sistema, perde confiança em si mesma, começa a desinte­grar-se, se divide em
frações e camarilhas. Não se pode saber de antemão, nem indicar com exatidão matemática, em
que momento destes processos está madura a situação revolucionária.(..) As condições políticas de
uma situação revolucionária se desenvolvem simultaneamente e, mais ou menos, paralelamente
mas isto não significa que amadurecem todas ao mesmo tempo; este é o perigo que nos ameaça.
Das condições políticas em questão, a mais imatura é o partido revolucionário do proletariado.”
(grifo e tradução nossos) TROTSKY,Leon, “Que é uma situação revolucionária?” in Es-
critos, Tomo II, volume 2, p. 510/11/12/13 (de 14/11/1931), Bogotá, Pluma, 1976.

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A luta pela defesa do direito de levantar as bandeiras vermelhas


Que uma parcela de juventude, ingenuamente, tenha profunda repug-
nância pela política, que associe toda a esquerda ao PT, o PT à corrupção,
e o prefeito Haddad ao aumento das passagens, embora sejam conclusões
superficiais, portanto, meia verdade e meia mentira, é algo compreensível.
Que grupos reacionários que estão contra o governo Dilma pela ultradi-
reita, que odeiam a esquerda porque ela representa o projeto coletivista e
igualitarista da classe operária, aproveitem da confusão de uma manifes-
tação com muitos milhares para expressar seu ódio de classe, insuflados
pelas televisões, é previsível.12 Que alguns núcleos ultraesquerdistas ainda
insistam na divisão do movimento, querendo impor pela força dos gritos
sua vontade, é antidemocrático, divisionista, portanto, lamentável.
Mas o que aconteceu em São Paulo, no Rio de Janeiro e Salvador foi
diferente, e muito, muito mais grave. Os confrontos em defesa das ban-
deiras vermelhas foram, inescapavelmente, um dos episódios que revelam
a imaturidade política das jornadas de junho. Foi parecido com o Cairo,
onde a Irmandade Muçulmana tentou impedir a esquerda, desde 2011, de
se apresentar publicamente. As lutas são apartidárias, mas não são mono-
líticas, são plurais. 13

12 Queremos mudar o mundo, mas para isso é preciso mudar as pessoas. A luta
política é uma luta educativa. Somos honestos, e dizemos quem somos e pelo que lu-
tamos. E isso não é fácil. Porque, a maior parte do tempo, defendemos ideias revolu-
cionárias em situações políticas em que a maior parte dos trabalhadores não concorda
conosco. Seria mais fácil nos adaptarmos e dizer somente aquilo que a maioria, nas
fábricas e escolas, quer ouvir, porque já concordam. Queremos ser um instrumento de
organização para que eles, trabalhadores e jovens, possam lutar e vencer contra o capita-
lismo. Não escondemos nossa identidade, não nos mascaramos atrás de siglas obscuras e
mutantes, não apresentamos nossas ideias pela metade. Não queremos o apoio fácil, não
queremos ser votados sem que os trabalhadores saibam em quem estão votando. Não
somos oportunistas, somos honestos.
13 Os símbolos são menos importantes que as ideias. Não é uma questão de prin-
cípios levantar bandeiras em todos os atos. É uma escolha tática, portanto, em última
análise, depende da relação de forças. Debaixo de uma ditadura não levantamos bandei-
ras, senão vamos presos. E só idiotas agem sem medir a consequência de seus atos. Mas
há uma questão de princípios envolvida na polêmica sobre abaixar ou não as bandeiras
vermelhas. É bom lembrar que a luta política é quase sempre assim, difícil, porque
é contra a maioria. Se fossemos maioria não seria difícil. Quando estamos diante de
grandes mobilizações de massas, com milhares de pessoas, em condições de liberdades
democráticas, em que não seremos presos pela polícia, não é somente um direito, mas,
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As Jornadas de Junho de 2013: balanço e perspectivas
Valerio Arcary

Marchamos todos juntos, não importa a ideologia, pelas reivindicações


comuns que nos unem. Cada um abraça sua ideologia, seu programa e se
quiser um partido. Mas, dentro de um movimento unitário ninguém pode
impedir os outros de apresentar sua identidade, ou de expressar sua posi-
ção. O antipartidarismo, mais grave quando se dirige contra a esquerda
socialista, é uma ideologia reacionária e tem nome: chama-se anticomu-
nismo. Foi ela que envenenou o Brasil para justificar o golpe de 1964 e
vinte anos de ditadura.

Perigos reais e onda reacionária imaginária


A esquerda socialista não tem porque se assombrar com a juventude nas
ruas. Quem tem razões para se assustar é o governo de coalizão liderado
pelo PT, e os partidos que o sustentam. E a oposição de direita, também.
Porque governo e oposição de direita? Porque estes dois campos políti-
cos são os que têm muito a perder com as mobilizações populares. Mas é
verdade, também, que os confrontos em defesa do direito dos partidos de
esquerda de levantarem suas bandeiras vermelhas foi uma expressão dos
gigantescos limites da consciência média da juventude nas ruas.
Um deslocamento do governo Dilma Roussef pela oposição
burguesa seria reacionário, mas a derrota do governo nas ruas por
uma aliança social da juventude escolarizada e o movimento dos
trabalhadores seria, extraordinariamente, progressiva. Nenhuma

também, um dever dos socialistas levantar as suas bandeiras. Muitos concordam conos-
co que é um direito, mas discordam que é um dever. Nossa opinião é que oportunismo
não é levantar as bandeiras, mas ao contrário, escondê-las. Os revolucionários podem
e devem usar os métodos conspirativos contra a polícia, os patrões, e todos os inimigos
para se proteger. Em condições adversas, entramos na clandestinidade, se necessário.
Mas, ainda nessas condições extremamente difíceis, com as mediações de segurança
necessárias, não escondemos quem somos, e pelo que lutamos. E o fazemos porque os
socialistas têm o dever de não se esconder do proletariado. O que nos faz agir assim é
simples: a honestidade política nos obriga a dizer quem somos, e qual é o nosso pro-
grama. Sabemos que hoje estamos em minoria. Mas só poderemos ser maioria, um dia,
quando se abrir uma situação revolucionária, se tivermos a coerência e honradez de
defender o programa enquanto somos, paciente, porém, corajosamente, uma minoria.
Confiamos nos trabalhadores. Até quando eles mesmos não confiam em si próprios.
Sobre este tema: Lenin, O que fazer? Problemas candentes do nosso movimento. São Paulo,
Expressão Popular, 2003.

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PRAIAVERMELHA VOLUME23 NÚMERO2 [2013]

das duas hipóteses, contudo, esteve colocada na conjuntura aberta pelas


mobilizações de junho de 2013.
Não se colocou, em primeiro lugar, porque as massas que protagoni-
zaram a explosão de junho não foram às ruas para derrubar o governo,
mas para pressionar todos os governos. Não se colocou, também, porque
a esmagadora maioria da classe dominante não queria desestabilização.
Queria a manutenção do calendário eleitoral. Não estávamos nem em
Honduras, nem no Paraguai, onde foram feitos golpes de Estado. A teoria
imaginária da onda reacionária tinha como objetivo encobrir o real, obje-
tivo, indiscutível giro à direita do governo Dilma. Que elevou à enésima
potência as anistias fiscais para frações burguesas, privatizou portos, aero-
portos e estradas, acelerou parcerias público-privadas, e realizou o leilão
do pré-sal do campo de Libra para a iniciativa privada, para tranquilizar a
classe dominante com a redução do crescimento econômico, porém, sem
queda do salário médio real.
As teorias conspirativas que surgiram depois de confrontos com fascis-
tas nas ruas são paranoicas. É verdade que grupos fascistas agiram, provo-
cativamente, nas ruas. Mas não houve nem perigo de golpe de direita, nem
sequer de um movimento de massas fascista. Combater os fascistas foi, é
e permanecerá sendo uma tarefa imposta pela nova situação. É porque a
situação mudou com as Jornadas de Junho que os fascistas, que é bom lem-
brar, alimentam um movimento virtual na internet com muitas dezenas de
milhares de adeptos, se sentiram motivados a ir às ruas. Não foi diferente
na Grécia nos últimos cinco anos. Mas os que gritavam sem partido não
podem ser considerados fascistas.

Duas armadilhas e três campos


Duas armadilhas estão no caminho da luta. A primeira e, de longe,
a mais perigosa é o risco de que o mal estar social seja canalizado para
o processo eleitoral, ou seja, por dentro das instituições do regime. Os
sujeitos políticos que representam este projeto são os partidos que têm
presença nos movimentos e defendem o governo. E aqueles que se posi-
cionam como oposição, mas abraçam a mesma estratégia, sendo o mais
grave o projeto de Marina Silva e seus aliados.

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As Jornadas de Junho de 2013: balanço e perspectivas
Valerio Arcary

A segunda é a desmoralização, dispersão e divisão dos movimentos por


ações ultraesquerdistas. Aqueles que se apresentam como os Black Bloks
têm sido os protagonistas de iniciativas aventureiras, às vezes, diretamen-
te, provocativas. Defendê-los contra a repressão do Estado permanece um
compromisso moral com os jovens honestos, um imperativo pedagógico
com os militantes de todos os movimentos, uma necessidade política das
organizações sociais. Mas esta solidariedade não deve ser confundida com
cumplicidade política com seu comportamento. Ao contrário, a polêmica
com o ultra-esquerdismo é incontornável. 14

14 A questão do ultra-esquerdismo não é um fenômeno novo. Porém, ações sec-


tárias e ultra-esquerdistas como a ação dos black bloks foram raras no Brasil. Sendo as-
semelhados, os dois fenômenos são, no entanto, distintos, embora possam vir associados.
O elemento em comum às duas formulações, a sectária e a ultra, é a unidade metodológica que os
aproxima, o ultimatismo. Há, grosso modo, três formas clássicas de ultimatismos: o ultima-
tismo pode se manifestar como um desafio para ações que as massas não estão dispostas a
realizar naquele momento (por exemplo ocupar um prédio, ou manter uma greve, “custe
o que custar”); pode se traduzir na forma de consignas aparentemente justas, mas que as
massas não sentem confiança em abraçar, pelas mais diferentes razões (como a clássica
discussão sobre índices de aumento, 10% ou 50%; e finalmente pode ser um ultimatismo
de organização (abandonar os sindicatos com direções moderadas). O elemento comum a
todos os ultimatismos é desprezar o processo de aprendizagem sindical e parlamentar das
massas e, portanto, a completa indiferença pelo seu nível de consciência. Os ultimatistas
não compreendem que a melhor proposta não é necessáriamente a mais avançada ou mais
esquerdista, mas aquela que mobiliza as massas. A consigna mais revolucionária não é aquela
“mais à esquerda”, mas aquela que coloca as massas em movimento. Rosa Luxemburgo lutou
toda a sua vida contra as pressões ultimatistas. A seguir uma passagem de Trotsky sobre
o tema, que voltou a se colocar com a aguda importância no início dos anos trinta na Ale-
manha, quando o KPD abraçou a fórmula do social-fascismo para definir a social-demo-
cracia:“Sob a influência de Bogdanov a secretaria peterburguesa do Comitê Central bolchevique
adoptou em outubro de 1905 esta decisão : propor ao Soviete de Petrogrado o pedido de reconhe-
cimento da direção do Partido, em caso contrário seria decidido abandonar-se o Soviete. O jovem
advogado Krassikov, membro do Comitê Central bolchevique nessa época, lançou este ultimato à
assembléia plena do Soviete. Os deputados operá­rios, inclusive os bolcheviques, se entreolharam
com espanto e passaram à ordem do dia. Ninguém deixou o Soviete. Pouco depois, Lenine chegou
do estrangeiro e passou um sabão tre­mendo nos ultimatistas Não se pode, ensinava ele, com au-
xílio de ultimatos, obrigar a massa a saltar por cima das fases indispensáveis de seu próprio de-
senvolvimento político. Bogdanov, entretanto, não renunciara à sua metodologia e criou, depois
disso, toda uma fração de ‘’ultimatistas” ou de “otzovistas”: esta ultima designação lhes foi dada
porque eram inclinados a retirar os bolcheviques de todas as organizações que se negavam a aceitar
o ultimato enviado de cima: “Reconheçam primeiro a nossa direção’’. (grifo nosso) TROTSKY,
Leon, Revolução e Contra-revolução na Alemanha, São Paulo, Livraria Editora Ciências
Humanas, 1979, p.164.

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Três campos, pelo menos, irão se definir, nos próximos meses. Uma
parte da burguesia, representada pelo PSDB, DEM e a Rede Globo, agora
reforçados pela aliança do PSB de Eduardo Campos com Marina Silva da
Rede Sustentabilidade, entre outros partidos menores, vão tentar canalizar
o mal estar para desgastar o governo do PT até as eleições de 2014.
Mas o que os trabalhadores denominam de esquerda está dividida em
dois campos, irreconciliáveis, desde a posse do governo Lula. Em primeiro
lugar está o campo daqueles que consideram que é preciso unir a esquerda
para defender o governo Dilma, porque o maior perigo seria a desesta-
bilização do governo liderado pelo PT, ou até do regime democrático. É
o campo dos que consideram o governo Dilma um governo em disputa.
Estão, podemos admitir, comprometidos em fazer exigências ao governo
Dilma. Exigências para que Dilma abra negociações com as reivindicações
das massa em luta. Exigências para que o PT no governo não capitule
diante do PMDB de Michel Temer e Sérgio Cabral. Ou exigências para
que o PT fora do governo não capitule aos ministros do PT que aconse-
lham moderação a Dilma. Em resumo, estão engajados em pressionar o
governo Dilma, mas não estão dispostos a romper com ele. E reafirmam
que não era possível antes de junho, e continua não sendo possível, mesmo
depois de milhões nas ruas, construir uma esquerda à esquerda do governo
Dilma.
Em outro campo estão aqueles que compreendem que a mobilização
pelas reivindicações deve avançar, tendo a prioridade de unificação com os
trabalhadores. Este campo afirma que para lutar contra os os empresários
do transporte urbano, os banqueiros, os fazendeiros do agro-business, a
FIESP, não é possível dar trégua a nenhum governo.
A nenhum governo significa isso mesmo, a nenhum, portanto, nem
a Dilma. Depois de dez anos, ficou claro que os governos liderados pelo
PT em aliança com partidos burgueses estão mais comprometidos com a
preservação do pagamento da dívida pública, do que com os transportes
públicos, a educação e saúde públicas. Sem romper com o pagamento da
dívida pública, de onde viriam as verbas para os investimentos necessários
à implantação, por exemplo, do passe livre?
Nós, que nos colocamos nesta posição, queremos ajudar a juventude
nas ruas a continuar ocupando as avenidas com as reivindicações que ela
mesma foi forjando com sua experiência prática: conquistar o passe livre,
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As Jornadas de Junho de 2013: balanço e perspectivas
Valerio Arcary

desmilitarização das PM’s, mais verbas para educação e saúde, punição dos
corruptos. E queremos agregar as reivindicações que respondem às neces-
sidades do proletariado: o aumento dos salários e a redução da jornada de
trabalho, por exemplo, ou a anulação da reforma da previdência, e a sus-
pensão dos leilões de privatização do petróleo do pré-sal, e tantas outras.
A juventude abriu uma janela de esperança. Se olharmos bem por ela,
veremos que nas fábricas e empresas de todo o país há milhões de traba-
lhadores que estão há muito tempo querendo acreditar que é preciso lutar.
Em junho e julho ficou provado que, se lutarmos, é possível vencer.

Referências Bibliográficas
DEUTSCHER, Isaac, Trotsky, O Profeta Banido, Rio de janeiro, Civiliza-
ção Brasileira, 1984.
DRAPER, Hal. Karl Marx’s theory of revolution: The theory of the state. New
York and London, Monthly Review Press, 1978. (vol. I).
LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. A Falência da Segunda Internacional,
São Paulo, Kairos, 1979.
LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. O que fazer? Problemas candentes do nosso
movimento. São Paulo, Expressão Popular, 2003.
LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov, La maladie infantile du communisme (Le
Gauchisme), Pekin, Editions en langue etrangéres, 1970.
MANDEL, Ernest, Trotsky como alternativa. São Paulo, Xamã, 1995.
MORENO, Nahuel. As Revoluções do Século XX, Brasília, Edição da Câ-
mara dos Deputados, 1989.
TROTSKY, Leon, Revolução e Contra-revolução na Alemanha, São Paulo,
Livraria Editora Ciências Humanas, 1979, p.164
TROTSKY, Leon, “Que é uma situação revolucionária?” in Escritos, Tomo
II, volume 2, p. 514 (de 14/11/1931), Bogotá, Pluma, 1976.

* Valerio Arcary é Doutor em História (USP) e professor do IFSP.


<arcary@uol.com.br>

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375
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