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ESTRADAS I I I

2º semestre
2008
E – DRENAGEM DE RODOVIAS - OBRAS

E.1 – REVISÃO
Na primeira metade do Século XIX, Metcalf,
Telford e Mac Adam, redescobriram a “necessi-
dade de manter secos os leitos viários”, e
apresentaram princípios como:
“ Enquanto o solo puder ser mantido seco,
poderá suportar qualquer peso, sem defor-
mações importantes ”.
“ Se passar água através da estrada, e
saturar o solo natural, qualquer que seja a sua
espessura, perderá a sua capacidade de
suporte e se despedaçará ” .
“ É o solo que realmente suporta o peso do
tráfego ” .
Conceitos populares relacionados à estrada:

Existem três maneiras de construir uma


estrada: drenando, drenando, drenando.

A boa conservação de uma estrada, se


assemelha a boa conservação de uma casa ,
“porão seco e cobertura impermeável”.
As principais causas de deterioração de
uma estrada são:

água e martelamento dinâmico das


cargas pesadas do trânsito.
A água, em particular, é o principal
agente agressivo – destruidor. Os principais
danos causados pela água são:

Redução da capacidade de suporte –


ação física alterando a umidade ótima;
Provocação de tensões internas – ação
física devido as mudanças de temperatura
(gelo, desgelo e vapor);
Arraste de materiais – ação física
(bombeamento);
Flutuação – ação física, reduzindo o peso
específico dos materiais da base por
supersaturação;
Lâmina Líquida – ação física, provocando
deslizamento, reduzindo a aderência.
Pela oxidação, em materiais betuminosos,
que se tornam rígidos, perdendo a sua
capacidade ligante.
E– OBRAS DE TRAVESSIA
E.2.1 – GENERALIDADES
Travessia ⇒ obra especial, destinada a
transposição de um fundo de vale, por uma
via pública, de forma a permitir o livre esco-
amento das águas pluviais, sem risco de
represamentos causadores de inundações.
No planejamento de cidades, a melhor
maneira ecológica e econômica, consiste em
observar e resguardar ao máximo as
situações que a natureza, em milhares de
ano criou:

Para tanto, deve-se raciocinar e planejar


em termos de topografia e hidrografia.
Normalmente a hidrografia, é deixada em
segundo plano, devido custos, interesses
imediatos ⇒ investimento em obras que não
aparecem (enterradas).

Inundações:

Como conseqüências de falta ou falha de


planejamento temos como causas das
inundações:
a) ocupação desordenada: crescimento
natural de uma cidade, sem planejamento,
onde as situações críticas estabelecidas,
tem uma difícil solução econômica. É o caso
de ocupação de áreas inundáveis em fundos
de vale, de áreas de maré, etc...

b) aumento do coeficiente de escoamento


superficial (C)
A fórmula Q = C.i.A , representa a vazão
de afluência (vazão hídrica) num determina-
do ponto, de um fundo de vale, onde:

™ C = coeficiente de escoamento superficial,


representa a parcela de escoamento das
precipitações pluviais;

Ex: Área verde C = 0,2


Área pavimentada C = 0,8 / 0,9
™ i = intensidade da precipitação;

™ A = Área da bacia de montante.

Os fatores i, A, permanecem constantes no


tempo. O dimensionamento de uma travessia,
feita durante a cobertura verde, tem sua vazão ~
quadruplicada, como a ocupação para a área a
montante, conseqüência – inundações.
c) Elevação das cotas de fundo:

Em conseqüência do assoreamento do
leito dos rios, causado pelo lixo, arraste dos
finos dos revestimentos primários, arraste
dos materiais de terraplenagem,..., as cotas
de fundo dos rios se elevam.

A capacidade de vazão do rio, se reduz,


pela redução da sua seção e declividade.

Resultado: inundações.
d) Travessias de capacidade de vazão
insuficientes:

provocam represamentos ⇒ inundações e


contribuem p/ o a assoreamento a montante.
d) Legislação:

As Legislações Federal, Estadual e


Municipal, através de legislação específica
para ocupação e uso dos fundos de vale, as
Prefeituras estabelecem diretrizes, procuran-
do conciliar os interesses público e privado
em relação ao:
Escoamento dimensionado,
Acesso p/ inspeção e limpeza.
E.2.2 - OBRAS DE TRAVESSIAS
As travessias em fundo de vale podem ser, em
função da área de bacia, e do tipo de construção:
- Pontes,
- Viadutos,
- Bueiros circulares,
- Bueiros quadrados, retangulares.
Fig. 1 – Obras de Travessia.
- As pontes e viadutos, tem a sua
superestrutura, ao nível do greide da rua.

*Sendo em concreto armado, estrutura


metálica, ou em alvenaria de pedra quando em
arco.
- Os bueiros são obras enterradas, com um
recobrimento, em função do dimensionamento
estrutural e em função da capacidade de vazão.
Alturas disponíveis e o custo é que
determinam o tipo de bueiro adotado.

- As galerias têm a extensão da largura da


estrada, ou rua, acrescidas de extensão
necessária a proteção dos taludes.
Como materiais, empregamos:

- Tubulação de concreto,
- Tubulação metálica,
- Tubulação em PVC,
- Bueiro em alvenaria de pedra,
- Bueiros celulares (simples, duplos e triplos).
Abreviatura de obras de arte:

P = pontes,
V = viadutos,
M.A.A = muro de arrimo de alvenaria,
M.A.C = muro de arrimo de concreto,
B.S.T.C. = bueiro simples de tubos de concreto,
B.D.T.C. = bueiro duplo de tubos de concreto,
B.S.T.M. = bueiro simples de tubo metálico,
B.S.T.F. = bueiro simples de tubo de ferro,
B.S.C.C. = bueiro simples celular de concreto.
RECOMENDAÇÕES :

- As obras das travessias em fundo de vale,


devem preceder os serviços de terraplenagem,
a fim de garantir sua continuidade.
- Embora as condições de vazão permitam φs
inferiores -em travessias de altos aterros- adotar
uma dimensão mínima 0,8 a 1,0 m, para permitir
as vistorias e eventuais acessos para limpeza.
-Para condutores até 1,2 m é conveniente o
emprego de seção circular, sendo admissível

estruturalmente, o emprego de até 2,0 m de φ


interno.
-No entanto,quando a dimensão interna exce-
der 1,2 m é mais conveniente o emprego de
seções retangulares, de preferência quadrada.
-As paredes de seção retangular, não devem
ultrapassar 3,0 m, a fim de não tornar muito fundo
o bueiro celular, e criar uma lâmina d'água
demasiadamente alta. Recorre-se aos bueiros
celulares múltiplos.
E.3 - OBRAS DE DRENAGEM SUPERFICIAL

E.3.1 - FINALIDADES

- Consiste em captar e conduzir as águas das


precipitações para seu destino final, o mais
rapidamente possível.
Drenagem superficial
revestida com biomanta.
Vantagens ⇒ infiltração
parcial da água no solo,
pois quando a biomanta
satura, a água escorre
superficialmente sobre
ela, drenando o fluido
com rapidez e
eficiência.

Fig. 3 – Canaletas revestidas


de biomantas.
- Em estrada temos: o abaulamento (tornar
curvo), valetas, calhas, ...
- Em ruas temos: o abaulamento, as galerias,
as sarjetas, as bocas de lobo, ...
- Boca de Lobo: estrutura hidráulica destinada a
captar as águas superficiais, consistindo de
uma caixa de alvenaria ou pré-moldado de
concreto localizada sob o passeio ou sob a
sarjeta. No 1o caso, capta águas superficiais
através da abertura na guia; no 2o caso, capta
águas superficiais por meio de grelha de ferro
fundido.
- Boca de Lobo na calçada: maior vazão, não
é sifonada, há problema de mau cheiro,
entope mais fácil e não tem grelha.

- Boca de Lobo com grelha: é melhor, não


entope, é sifonada, não volta o cheiro e
diminui a vazão.
Fig. 4 – Boca de Lobo com Grelha.
-Galeria: conduto destinado a transportar a
água pluvial desde a captação até o local de
despejo. Pode ter seção circular, retangular,
oval ou de outra forma.

-Sarjeta: canal longitudinal destinado a coletar


e conduzir as águas superficiais da faixa
pavimentada da via pública à boca de lobo .
Dispositivos com o objetivo
de impedir que as águas
precipitadas sobre a
plataforma escoem pelo
talude de aterro, provocando
erosões neste ou na borda do
acostamento.

Por escoamento longitudinal,


levam as águas até local de
desague, em caixas coletoras
Fig. 5 – Sarjeta de aterro. ou no terreno natural.
Fig. 6 – Sarjeta de corte.
Captam a água e a conduzem para que saia
lateralmente para o terreno, para a valeta de aterro,
ou para a caixa coletora de um bueiro de greide.
Fig. 7 – Caixas Coletoras.
- As galerias, são representados pelos bueiros
de grande extensão, e os processos de direcio-
namento, são semelhantes, utilizando a fórmula
de CHÉZI:
Q = W . V, sendo:
Q = vazão de afluência,
V = velocidade,
W = seção.
V=C.R. I

C = coeficiente de rugosidade hidráulico,


R = raio hidráulico = W / P,
P = perímetro molhado,
I = declividade.
FÓRMULA DE
C = R . 1/6
n MANNING

n = 0,011⇒ seção retangular em concreto


n = 0,013 ⇒ seção circular em concreto
E.3.2 - Tipos e critérios (cobertas/descobertas)

a) As galerias, em áreas urbanas, p/


pequenas vazões, são normalmente cobertas,
apresentando seções circulares ou retangulares.
Como recomendações, no planejamento,
temos:
- emprego de seção circular até Ø 1,2 m,
- em casos especiais admiti-se até 2 m,
- quando exceder Ø 1,2 m, é conveniente a
seção retangular, de preferência quadrada, com
altura máxima de 3 m.

- as galerias retangulares, poderão ser múlti-


plas, e neste caso deverão ser abertas janelas
de comunicação entre as seções, para equilibrar
as alturas de lâmina líquida, com espaçam. máx.
de 50 m.
- os condutores que servem a uma única boca
de lobo, devem ter um Ø mín. de 30 cm, p/ evitar
entupimentos constantes.
- a velocidade máx. permitida será de 3,5 m/s p/
evitar erosão excessiva. Pode-se admitir até 6 m/s,
se for previsto revestimento adequado.
- a declividade da galeria, tanto quanto possível,
deve ser igual a do terreno, para termos menos
escavação.
b) as galerias descobertas (a céu aberto) não
são aconselháveis nas áreas urbanas.
As seções, nesses casos são:

- seção retangular

- seção trapezoidal

- seção semicircular
A tendência, o bom senso e o elevado
custo das canalizações recomendam, na
fase de planejamento, a máx. manutenção
das condições geológicas, topográficas e
hidrológicas.
Desta forma, as áreas de fundo de vale,
serão urbanizadas com pequenas obras de
correção, respeitando estas características.
Ex: bacias de detenção (lagos), instalações
desportivas, avenidas marginais...
E . 4 – OBRAS DE DRENAGEM PROFUNDA
E.4.1 – Finalidades/Tipos
Em qualquer obra de eng. de construção, a
economia depende do custo final total, conside-
rado sobre toda sua vida útil incluindo não
somente o investimento inicial, mas também
todos os custos significativos de manutenção e
reposição.
Estes custos crescentes de manutenção e
reparos ocorrem devido à diversas causas,
inclusive o crescente tráfego de caminhões
pesados, mas há pouca dúvida de que os
efeitos danosos das rodas pesadas sobre os
leitos rodoviários saturados ou inundados
contribuem pesadamente para estes custos
inesperados.
- As prefeituras municipais normalmente
despendem maiores recursos na manutenção,
que na execução de novas obras de pavimen-
tação.
Ex.: São Paulo ± 2/3 na manutenção,
1/3 na implantação.
As conseqüências das falhas nas construções
das travessias e da drenagem superficial, são
imediatamente visíveis.
Quanto à drenagem profunda, mesmo projetistas
e construtores, consideram um “dispendioso luxo”.
Porém grandes gastos são necessários perma-
nentemente para reparar e substituir pavimentos
danificados.
- No próprio método de dimensionamento do
DNER, o Fator Climático (FR), leva em conta
as variações de umidade dos materiais do pa-
vimento, em função da média anual de chuva.
Até 800 mm/ano......................FR = 0,70
De 800 à 1.500 mm/ano..........FR = 1,40
Acima de 1.500 mm/ano..........FR = 1,80
- Em testes de perfuração de bases e sub-bases,
em pavim. bem e mal drenados, as condições de
suporte eram completamente diferentes e conse-
quentemente a vida útil remanescente da rodovia.

CONCLUINDO: A drenagem profunda contribui


para o prolongamento da vida útil da obra, e a
conseqüente redução de custo final.
E.4.2 – Dreno profundo longitudinal: se estende
paralelamente a rodovia, a uma profundidade mé-
dia de 1,2 a 2 m, destinado a interceptar as águas
de acesso lateral e rebaixar o lençol freático.

E.4.3 – Drenos profundos transversais: são drenos


executados transversalmente a uma rodovia, com
a finalidade de interceptar o lençol freático quando
este corta a estrada longitudinalmente.
Fig. 8 – Saída de dreno longitudinal
profundo, com geotêxtil.
E.4.4 – Dreno profundo sub-horizontais: são
geralmente executados em túneis e taludes.
Correspondem a perfuração no solo, onde é
instalado um tubo de PVC perfurado, coberto
com tela nylon devidamente fixada. Preenchi-
mento ou não do espaço restante com areia.
E.4.5 – Drenos profundos verticais: são perfura-
ções verticais preenchidas com material permeá-
vel, que apressam o recalque por adensamento
em solos saturados.
A água dos vazios do solo, drenam vertical-
mente p/ a superfície, pelo estabelecimento de
uma “permeabilidade vertical”, em conexão com
uma camada de “permeabilidade horizontal”, que
descarrega a céu aberto.
E.4.6 – Colchão drenante:

No caso de estradas de rodagem, o sistema


de camadas pode possuir:
-uma só camada filtrante - drenante
-uma camada filtrante e 1 camada drenante.
O sistema (colchão drenante) tem por finali-
dade, interceptar, as infiltrações por capilarida-
dade, e drenar as águas de infiltração
superficial.
E.4.7 – Materiais empregados:

Os materiais aplicados em drenagem profun-


da devem garantir: permeabilidade e assegurar
a descarga.
Os materiais aplicados podem ser discrimi-
nados de acordo com a sua finalidade:

a) Materiais drenantes,
b) Materiais filtrantes,
c) Tubos drenantes coletores.
a) Materiais drenantes

-Materiais granulares, são materiais de granu-


lometria fina (areias), empregados nos drenos
tradicionais.
-Materiais sintéticos, não tecidos, são mantas
produzidas por travamento e/ou entrelaçamen-
to de fibras ou fios de material sintético, efetu-
ados por processos mecânicos ou térmicos ou
químicos (Agulhamento).
a) Materiais drenantes

- Atualmente se empregam filamentos de:


Poliester/ Poliamida/ Polipropileno/ Polietileno.

- Material sintético, como drenos verticais,


correspondem as estacas de areia, temos as
fitas de papel ou material sintético.
b) Materiais filtrantes (areia, agregados, brita-

dos, geotêxtil, etc)

Materiais de granulometria graúda, dimensio-


nada em função do material granular fino
envolvente ⇒ baixo custo e bom funciona-
mento.
GEOTÊXTIL NÃO-TECIDO

É uma manta não-tecida de filamentos de


polipropileno, fabricada por um processo de
superagulhagem em véus de fibras não
orientadas. Trata-se de um material cujas propri-
edades hidráulicas o tornam substituto de filtros
de areia convencionais. Indicados para projetos
de drenagem, constitui-se em excelente alterna-
tiva técnico-econômica.
™ Apresenta baixos valores de filtração mesmo
para pequenas gramaturas, acarretando grande
economia na determinação da gramatura
necessária em cada projeto.

sua alta permeabilidade possibilita a livre


passagem das águas de infiltração para o meio
drenante, garantindo rapidez no estabelecimento
das vazões do projeto.
Fig. 9 – Geotêxtil.
c) Tubos drenantes coletores

-Manilhas cerâmicas perfuradas,


-Tubos de concreto poroso
-Tubo dreno corrugado (tigre).
Fig. 10 – Tubo drenante.
d) Outros materiais

-Telas de nylon,
-Bambu (obras temporárias, sem responsabi-
lidade)
-Fibras de Vidro, etc,...
CONCLUSÕES

A drenagem profunda, dipõem de materiais


locais, e atualmente de uma série de produtos
que permitem uma série de opções.
Não há razão portanto, de omitir tais cuidados,
em obras de caráter permanente.

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