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Aluno: César Augusto Guedes Silva

GRUPO DE PESQUISA: Física das Emoções

EKMAN, Paul. Emoções por meio da cultura. In:____. A Linguagem das


Emoções. São Paulo: Texto Editores Ltda, 2011. cap. 1, p. 19-34.

RESUMO

O primeiro capítulo do livro A Linguagem das Emoções de Paul Ekman,


intitulado de “Emoções por meio da cultura”, apresenta uma discussão baseada
nas experiencias e estudos do autor, que dedicou mais de 40 anos da sua
carreira nos estudos das expressões faciais, sobre a universalização das
emoções, com o intuito de responder a seguinte questão: expressões são
universais ou são, como os idiomas, específicas a cada cultura?
Para encabeçar essa discussão, o autor comenta sobre sua pesquisa no
ano de 1965, que teve início ao ser convidado para participar de um projeto para
realizar estudos interculturais a respeito do comportamento não verbal, esse
projeto seria financiado pela Advanced Research Projects Agency (Arpa) com o
intuito de descobrir o que era universal e oque era culturalmente variável na
comunicação não verbal.
Ekman não possuía interesse em expressões faciais, porém, aceitou o
desafio da Arpa e elaborou o projeto acreditando que as expressões e os gestos
eram socialmente aprendidos e culturalmente variáveis, pensamento
compartilhado com o grupo de pessoas que havia consultado, além de ser a
visão dominante na antropologia cultural e em grande parte da psicologia na
época.
Em seu primeiro estudo, mostrou algumas fotografias para pessoas de
cinco países – Chile, Argentina, Brasil, Japão e Estados Unidos – e pediu para
que julgassem as emoções exposta em cada expressão facial. A maioria das
pessoas chegaram a mesma conclusão, o que indicou que as expressões não
variavam com as culturas diversas. Carrol Izard, psicólogo que estava
trabalhando em outras culturas, fez quase a mesma experiencia que Paul e
obteve os mesmos resultados, reforçando ainda mais a ideia de que as
expressões realmente poderiam ser universais.
Havia um problema, como assumir que pessoas de diversas culturas
chegaram à mesma conclusão a respeito de uma emoção quando tantas outras
pessoas constataram exatamente o oposto? Partindo dessa problemática,
Ekman conciliou os resultados obtidos de que as expressões são universais com
a observação de Birdwhistell de como elas diferem de uma cultura para outra,
criando a ideia de “regras de exibição”.
Essas “regras de exibição”, seriam socialmente aprendidas, muitas vezes
culturalmente diferentes, a respeito do controle da expressão das emoções. De
quem pode demonstrar que emoção, para quem e de quando pode fazer isso.
Sendo assim, essa proposta de existirem regras culturais dada pelo autor,
validava a universalização das emoções, uma vez que, as mesmas não
mudariam de acordo com a cultura, mas sim, as regras de exibição que seriam
diferentes, como o próprio autor exemplifica:
Eis por que, na maioria das competições esportivas públicas, o
perdedor não demonstra a tristeza e o desapontamento que
sente. As regras de exibição estão incorporadas na advertência
dos pais: "pare de parecer contente". Essas regras podem ditar
a diminuição, o exagero, a dissimulação ou o fingimento da
expressão do que sentimos. (EKMAN, 2011, p.22)

Paul testou sua ideia em uma série de estudos que mostravam que,
quando sozinhos, japoneses e norte-americanos exibem as mesmas expressões
faciais ao assistir a filmes de cirurgias ou acidentes, mas quando um cientista
estava próximo, os japoneses, mais que os norte-americanos, mascaravam as
expressões negativas com um sorriso. Ou seja, em particular eles exibiam
expressões inatas, enquanto em público, expressões controladas e isso variando
de acordo com a cultura, de acordo com as “regras de exibição”.
Segundo o autor, tanto sua pesquisa, como a de Carol Izard haviam
brechas que poderiam afetar sua descoberta. Ele percebeu que todas as
pessoas que eles tinham estudado podiam ter aprendido o significado das
expressões faciais ocidentais assistindo a filmes como Charlie Chaplin e John
Wayne. Isto é, o contato com as mídias ou com outras culturas podia explicar
por que pessoas de culturas diferentes chegaram a uma mesma conclusão a
respeito das emoções das fotografias mostradas em suas pesquisas.
Sendo assim, Ekman precisava de uma cultura “visualmente isolada”,
onde as pessoas não tivessem contato com filmes, programas de tevê ou
revistas e que possuíssem pouco conhecimento de outras culturas. Se essas
pessoas isoladas chegassem às mesmas conclusões das pessoas estudadas
por ele, sua descoberta estaria correta.
Através do neurologista Carleton Gajdusek, que trabalhava há maus de
uma década em lugares isolados nas regiões montanhosas de Papua-Nova
Guiné, Paul consegue cópias de muitas horas de filmes de duas dessas culturas
registradas pelo neurologista.
Analisando cuidadosamente esses filmes, não chegou a ver nenhuma
expressão estranhas, por tanto, se as expressões faciais fossem completamente
aprendidas, então esses povos isolados deveriam ter as próprias expressões.
Além disso, apesar de os filmes nem sempre revelarem o antes e o depois de
uma expressão, quando revelavam, confirmavam suas interpretações.
Ainda com o intuito de solucionar essa brecha, o autor viaja para Nova
Guiné, no final de 1967, para pesquisar o povo fore, uma cultura isolada, a fim
de realizar a mesma pesquisa de identificar as expressões faciais em fotografias,
que fez com pessoas de 5 países diferentes, pois como o próprio autor disse:
“Se as expressões indicassem emoções diferentes em cada cultura, essas
sociedades isoladas, sem nenhuma familiaridade com qualquer cultura a não ser
a própria, não deveriam ser capazes de interpretar as expressões corretamente.”
(EKMAN, 2011, p.23)
O que de fato Ekman descobriu foram diferenças culturais no controle das
expressões faciais, indicando a universalização das emoções. Em 1969, quando
comunica suas descobertas na conferencia anual de antropologia, muitos
pesquisadores ficaram insatisfeitos, pois estavam convencidos de que o
comportamento humano é todo aprendido e nada tem a ver com a natureza.
Hoje, apesar de vários estudos apontarem os mesmos resultados, nem todos os
antropólogos se convenceram.

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