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Paul Ekman, psicólogo?

É comum alunos de psicologia aqui no Brasil, não saberem


quem é Paul Ekman.

Recentemente, conversando com uma professora de psicologia de uma universidade, ela


me disse que não acredita na teoria das emoções apresentadas por Ekman.

Minha indagação foi: mas qual livro de Ekman você leu e chegou a essa conclusão?

Ela respondeu: nenhum, apenas havia lido artigos e falado com algumas pessoas sobre
o assunto e todos tinham opinião parecida.

Bem, apesar de parecer cômico, isso é preocupante. Ainda mais vindo de um


profissional que leciona em uma cadeira de psicologia para uma universidade.

Concordar ou não com as evidências apresentadas por Ekman, não é unanimidade.


Aliás, tudo requer contrapontos.

Nesse post, a ideia não é defender Paul Ekman, mas sim, mostrar o tamanho de sua
contribuição para os estudos das emoções.

Paul Ekman, um psicólogo fora da caixa


Paul Ekman é considerado um dos maiores psicólogos de todos os tempos. Estando na
lista dos 100 mais notáveis psicólogos do século XX.

Sua grande contribuição no mundo científico é muito maior do que a compreensão de


boa parte dos profissionais da área da saúde mental, hoje em dia.

Muitos acadêmicos de psicologia dizem não conhecer ou concordar, com as afirmações


de Ekman, mas a verdade é que a maioria sequer conhece ou leu algum livro, artigo
ou alguma de suas contribuições.

Quando Ekman se propôs a pesquisar as emoções, ele queria respostas que até aquele
momento pareciam fora da realidade, para a maioria, já que até então, somente
Charles Darwin havia iniciado suas pesquisas, que posteriormente foram registradas
em forma de livro – A expressão das emoções nos homens e nos animais.

Em sua época, o que havia de assuntos relacionados às emoções eram boa parte
ligados à antropologia.

Profissionais como Margareth Mead, antropóloga cultural, defendia a tese que as


emoções eram aprendidas quando éramos expostos ao convívio com outras pessoas.

As expressões faciais e as emoções eram ou não universais?


Ekman, inspirado por Charles Darwin e incentivado pelo seu mentor, Silvan Solomon
Tomkins, um teórico das emoções, decidiu sair em sua busca por respostas, em
dezenas de países como Japão, Chile e aqui no Brasil.

Silvan Solomon Tomkins


Silvan Solomon Tomkins
Quando Paul Ekman voltou para os Estados Unidos apresentando seus estudos, a
comunidade científica revirou na cadeira. Para eles, era um absurdo aquele tipo de
afirmação, já que Paul Ekman havia visitado países onde já sofreram exposição à
ocidentalização.

Mead era persuasiva e enfática em afirmar que o comportamento social era maleável,
extraído de culturas que haviam tido contato.

Então, segundo a lógica dos especialistas que se opunham, seria: Se você convive
com pessoas que tem um mesmo hábito, a chance de se tornar semelhante, é imensa.
Com as expressões faciais não seria diferente.

Mas aqui, entra um baita de um detalhe: Margaret Mead nunca estudou as expressões
faciais.

Tretas e Fake News no mundo científico


A grande questão é que tudo não passava de ciúmes, inveja. As tretas eram comuns,
assim como são nos dias de hoje.

Os renomados antropólogos da época; Gregory Bateson (ex marido de Mead), Ray


Birdwhistell, se opunham ferozmente contra a universalidade das emoções.

Gregory Bateson (ex marido de Mead), Ray Birdwhistell


Margaret Mead, Gregory Bateson, Ray Birdwhistell
Ekman via com uma mentalidade nova, cheio de energia para novas pesquisas e com
grandes questionamentos. Os grandes teóricos da época sentiam-se incomodados, já
que eles estavam chegando ao ‘fim’ da carreira, Ekman era mais novo.

A visão criacionista do homem, batia de frente com as teorias apresentadas por


Darwin. Apesar de ter sido cuidadoso para não criar mais problemas, deixou seu
legado para pessoas como Paul Ekman.

Ainda hoje há quem diga que Ekman só conseguiu fazer seus estudos, porque teve
incentivo do governo. Mas a verdade é, ele só conseguiu investimento porque de
alguma forma, conseguiu que acreditassem que poderia estar certo.

Ninguém investe tempo e dinheiro em quem não traz retorno!

A prova que faltava


Paul Ekman não conseguiu provar que as emoções eram universais, quando voltou aos
Estados Unidos, após sua primeira viagem.

A comunidade científica não aceitava seus argumentos, a ocidentalização era muito


clara para eles.

Para conseguir chegar à universalidade das expressões emocionais, Ekman teve então
que fazer uma viagem até Papua Nova Guiné, na tribo dos Fore.

Constants Across Cultures in The Face and Emotion


Constants Across Cultures in The Face and Emotion
Durante um certo tempo, Paul Ekman e Wallace Frisen, estudaram o comportamento dos
indígenas que não haviam tido contato com outras civilizações, resultando na
pesquisa cross cultural (neuro-cultural) que considera as expressões faciais
emocionais inatas, quanto os display rules (regras de exibição) que atuam como
filtros niveladores, se baseiam no grupo em que se encontram.

O método utilizado para provar a universalidade


Os Fore não tinham espelhos, água represadas, nenhum tipo de tecnologia. Então era
o cenário perfeito.

Com ajuda de um intérprete, Ekman contava histórias e fazia perguntas que tinham
contextos emocionais envolvidos, como por exemplo:

Quando você vê um alimento estragado, podre, que cara você costuma fazer?

Mostrava fotos com opção de expressões faciais, e os indígenas apontavam para a que
mais se assemelhava com o fato narrado.

Quando Paul Ekman contava histórias carregadas de viéses emocionais, buscava


observar na face dos indígenas as expressões faciais acompanhadas das falas, para
determinar o caráter de uma emoção.

Fore

Esses estudos, concluíram que haviam seis expressões universais ligadas às emoções
em todas as culturas: raiva, medo, tristeza, nojo, alegria e surpresa.

A universalidade se dá pelo fato de que, em qualquer cultura, em qualquer pessoa,


os músculos envolvidos na ativação dessas emoções, são os mesmos.

FACS – Facial Action Coding System


A investigação da universalidade das expressões faciais emocionais, deu origem a
uma metodologia científica capaz de mensurar as intensidades e movimentos
musculares.

Facial Action Coding System

Cada um dos 44 músculos que estão na sua face, podem ser medidos em movimentos e
intensidades.

A tão desejada e famosa detecção de mentiras, surge por meio do FACS, já que foi
por meio dele a possibilidade de chegar mais próximo de uma intenção de suprimir
uma emoção, que ocasiona a micro expressão facial.

As expressões possuem uma escala de 5 pontos:


A – Vestigial, B – Sutil (essas duas são onde se encontram micro expressões
faciais)
C – Marcado e Pronunciado, D – Máximo, E – Extremo (são macro expressões faciais)
O FACS é usado de forma ampla, em diversos tipos de segmentos.

Indo da animação de desenhos animados pela Pixar, até sistemas de segurança, no


reconhecimento facial.

No mundo corporativo, áreas de recrutamento e seleção, compliance, vendas,


negociação, segurança, tem sido aplicado com ferramenta na redução de custos e
aumento de produtividade, já que profissionais bem treinados são capazes de
identificar riscos, fazendo uso da ferramenta.

Como aprender o FACS


O Facial Action Coding System pode ser aprendido por qualquer pessoa, desde que
estude.

O que estou falando é óbvio, mas muita gente acaba não fazendo, mesmo sendo tão
óbvio.

Há dezenas de motivos para isso, primeiro porque ele é em inglês, então muita gente
não consegue entender o que está escrito no manual.

Segundo, porque há uma cultura de baixar pirata ou conteúdo de graça, aqui no


Brasil, então muita gente não quer investir em um produto para se aperfeiçoar.

Mas já respondo de cara: Não há livros que ensine o FACS (até o momento que escrevo
esse post).

Para adquirir o Manual, você pode acessar diretamente o site do Paul Ekman na linha
abaixo:

MANUAL DO FACS
Somente por esse Manual você irá aprender a codificar uma face. É importante saber
que ele não ensinará a identificar nem fazer a leitura das emoções. É um Manual
para quem deseja se certificar e aprender a codificar.

Se tratando de cursos, se você quer aprender a fazer a codificação, iniciando pela


parte básica das emoções e indo até as codificações mais avançadas do FACS, temos o
treinamento online chamado Método O Corpo Fala, onde mostramos por meio de vídeo-
aulas, como codifica a face, como interpreta a emoção e o jeito correto de fazer
análises.

Para isso, você pode acessar diretamente o link abaixo:

Método O Corpo Fala

É importante você entender que humanos possuem emoções e, elas são idioma
universal.

Quando falamos de comportamento, sua base está no comportamento.

Estamos vivendo uma era tão tecnológica que, o grande diferencial em um futuro
próximo, serão as habilidades sociais.

O Fórum Econômico Mundial elencou 7 das 10 profissões do futuro, sendo


indispensável a habilidade social, a partir de 2020.

“No tempo das cavernas, a necessidade era por tecnologia que nos facilitassem a
vida. Hoje, a necessidade é por afeto.”

Referências:
Ekman, P (2011) A linguagem das emoções, Lua de Papel.

Ekman P. (2006) Darwin and Facial Expression: A Century of Research in Review.

Ekman P. (1972) Emotion in the Human Face

Ekman P. (1996) Universality of Emotion Expression? A Personal History of The


Dispute.

Ekman P. & Friesen W. V. (1971) Constants Across Cultures in The Face and Emotion.
Journal Personality and Social Psychology.

Ekman P. & Friesen W. V. & Hagger, J. C. (2002) The Facial Action Coding System
(2nd ed.)

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