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As Recompensas do Jejum

Mike Bickle e Dana Candler

Traduzido do original em inglês: The Rewards of Fasting: Experiencing the Power


and Affections of God

Copyright © 2005 por Forerunner Books e Onething Ministries. Todos os direitos


reservados. Publicado no Brasil por Fhop Books com a devida autorização de
Forerunner Publishing, International House of Prayer – Kansas City. 3535 E. Red
Bridge Road, Kansas City, MO 64137.

Primeira edição em português © 2020 Fhop Books — abril de 2020. Todos os


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Exceto em caso de indicação em contrário, as citações bíblicas foram extraídas


da Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional (NVI), © 2011, Bíblica. Todas as
ênfases dentro das citações bíblicas são do próprio autor. Outras versões
utilizadas: Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA) e Almeida Corrigida Fiel
(ACF).

Coordenação e supervisão editorial: Marina Cases


Tradução: Maria Lucia Godde Cortez
Copidesque e revisão: Idiomas & Cia
Diagramação: Julio Fado
Design de capa: Endrew Rodrigues
Sumário

Prefácio
Introdução

Capítulo 1
O Deus Noivo

Capítulo 2
Sete Tipos de Jejum Bíblico

Capítulo 3
Como Entender o Jejum do Noivo

Capítulo 4
Famintos de Tudo o que Deus Quer nos Dar

Capítulo 5
Jejum: Abrace a Fraqueza Voluntária

Capítulo 6
Cinco Expressões do Estilo de Vida de Jejum
Capítulo 7
Jejuando para Quebrar Fortalezas Espirituais

Capítulo 8
Cinco Recompensas do Estilo de Vida de Jejum

Capítulo 9
Sete Dificuldades do Estilo de Vida de Jejum

Capítulo 10
Sete Perigos do Estilo de Vida de Jejum

Capítulo 11
Como Responder à Crise Global: A Dinâmica da
Oração

Capítulo 12
O Jejum Global do Noivo: Estabelecendo uma
Cultura de Joel 2

Sobre os Autores
Prefácio

ejum”. A própria palavra pode parecer um tanto

“J
assustadora e o ato, completamente inacessível.
Entretanto, enquanto aquele ligeiro tremor diante da ideia
do jejum percorre a espinha, eu encorajo todos vocês a
mergulhar ainda mais nas realidades encontradas dentro
deste livro. As Recompensas do Jejum é uma introdução
prática à glória encontrada em algo que foi perdido nos nossos dias.
A ideia do sacrifício voluntário é rara e se perdeu na nossa
cultura que busca o entretenimento, a gratificação e o prazer.
Especialmente no estilo de vida do jovem adulto dos nossos dias, há
uma procura constante pelo prazer. Temos toda e qualquer coisa à
nossa disposição mediante um toque com a ponta dos dedos, e
esse redemoinho de possibilidades só nos deixa desiludidos e
insatisfeitos. Na busca de resolver essa insatisfação, corremos para
mais uma coisa “melhor”, apenas para ficarmos mais insatisfeitos e
procurando com mais força ainda. Mergulhamos em uma era de
facilidade e conforto, mas perdemos vários princípios fundamentais
da vida cristã. Creio que o jejum seja um deles.
Embora viver um estilo de vida de jejum, ou mesmo fazer um
único período de jejum em geral seja visto como “radical”, creio que
o contrário é que é verdade. O jejum está na raiz do cristianismo.
Não é apenas para os radicais. Não é apenas para os extremistas.
Não é apenas para santos religiosos. Na verdade, os resultados do
jejum expõem fraqueza e humildade. Negar desejos e necessidades
básicas faz com que estejamos mais conscientes da nossa
humanidade e da nossa fragilidade. Entendemos o quanto somos
insignificantes, mas o quanto Deus é grande. Nos períodos de
jejum, somos confrontados com nossa verdadeira natureza e
lembramos mais uma vez quão infinita é a nossa Fonte.
Então, não, o jejum não é para os fortes. Não é para os
durões. Não é para os perfeitos. O jejum é para o indivíduo comum,
fraco, frágil e simples que entende sua insuficiência e tem uma
necessidade desesperada de mais de Deus. As realidades do jejum
realmente são um pouco peculiares. Não faz sentido para a mente
natural como sacrificar-se de comida e de prazeres possa
desbloquear o coração e a mente para receber mais do próprio
Deus, mas a configuração do Seu Reino é perfeita. Por que Deus
determinou que fosse assim? Sua natureza e Seu caráter devem ser
encontrados ao fazermos perguntas como essa, e eu encorajo você
a fazê-las enquanto lê este livro. Faça perguntas enquanto mergulha
no conhecimento sobre o jejum, e Deus revelará porções desse
mistério e o levará ainda mais a cultivar um estilo de vida onde o
jejum seja vivido de maneira consistente.
Amados, essa é a nossa glória! É nossa glória dizer “não” aos
prazeres terrenos passageiros que nos cercam aqui e agora. Deus
nos deu a oportunidade de escolhê-lo deste lado da eternidade,
acima de todas as coisas menos importantes. O jejum é mais que
negar comida a nós mesmos. Não se trata realmente de passar
fome. Embora realmente sintamos fome quando o praticamos, o
jejum na verdade tem a ver com experimentar mais de Deus.
Quando estamos fisicamente fracos por não comer, ficamos mais
sensíveis a Deus e às coisas de Deus. Experimentamos Jesus em
um nível mais profundo. Isso tem a ver com escolher a fraqueza
voluntária para que Cristo possa abundar ainda mais dentro de nós.
O jejum é o caminho para a revelação e o encontro que não
podemos receber de nenhuma outra maneira.
Quero encorajá-lo enquanto você inicia esta jornada. Talvez o
jejum faça parte da sua vida há muito tempo. Talvez você tenha
jejuado algumas vezes e queira saber mais. Talvez você tenha
tentado uma ou duas vezes e tenha sentido que fracassou. Talvez
você nunca tenha ouvido falar em jejum. Onde quer que você esteja,
quero elogiá-lo por chegar até aqui. O simples fato de você ter
interesse no jejum mostra sua fome por Deus. Estou empolgado
com onde Ele irá levá-lo, e com o que será destravado em você
enquanto entra na plenitude do que Ele tem para sua vida.
Estamos todos no mesmo time. Somos todos frágeis. Somos
todos fracos. Estamos todos desesperados por mais de Deus. Fale
com Ele; pergunte a Ele do que você deve jejuar e como deve
jejuar; e depois ore pela graça do Senhor, sabendo que Ele ama o
fato de você estar simplesmente em busca de mais dele. O jejum
não é assustador... É simplesmente o estilo de vida cristão. Essa
deve ser a disciplina prática da vida de todo cristão. Não é tão difícil
quanto pensamos. É totalmente alcançável pela pessoa comum,
normal, fraca, de vinte e poucos anos, que ama pizza. Todos nós
podemos entrar no estilo de vida de jejum... E estou certo de que
você verá isso fazer uma enorme diferença na sua vida.
Oro para que, ao ler este livro, você seja movido e encorajado
a abraçar o “estilo de vida de jejum”. Oro para que você leve a sério
a mensagem de que o jejum é um dom dado por Deus, destinado
por Ele a nos levar a uma revelação e a uma experiência mais
profunda com Seu poder, Seu amor, Suas afeições e Suas
emoções.

Dwayne Roberts
Upper Room, Denver, EUA
(Pastor do Campus)
Introdução

reio que existem pessoas vivas na terra agora que

C
testemunharão a segunda vinda de Jesus. Embora ninguém
saiba o dia nem a hora desse evento, a Bíblia diz que
devemos conhecer os tempos da Sua vinda (1
Tessalonicenses 5:1-6). Jesus pode voltar dentro de dez
anos, ou em cinquenta anos. Suponho que isso aconteça
mais próximo a cinquenta anos do que a dez, mas
independentemente do número de anos, creio que estamos no
começo da última geração. A Bíblia nos dá uma grande quantidade
de informações proféticas sobre a geração que verá o Seu retorno.
Deus derramará Sua glória e liberará Seus juízos de uma maneira
sem precedentes nesse tempo. Jesus tem cuidado da Sua Igreja e
vai levá-la à vitória, mesmo em meio a um mundo devastado pela
fúria de Satanás, pela intensificação do pecado de homens e
mulheres, e pelos juízos de Deus.
O Espírito Santo está preparando a Noiva de Cristo — o
Corpo de Cristo — neste momento para os dias vindouros de glória
e oposição. O Senhor precisa transformar radicalmente a Igreja a
fim de prepará-la para o Seu retorno! O que a igreja ocidental hoje
aceita como valores e práticas normais será alterado drasticamente
quando nossa mente for renovada e formos transformados no povo
que Deus originalmente nos projetou para ser.
Como podemos nos preparar para experimentar a plenitude do
que Deus está prestes a liberar? Como podemos cooperar com o
Espírito Santo enquanto Ele nos conduz à mesma intimidade e ao
mesmo poder que eram vistos na Igreja do Novo Testamento?
Assim como foi para os santos do primeiro século e para a Igreja ao
longo das eras, será parte desse processo viver o que nós na IHOP
( International House of Prayer ) chamamos de “o estilo de vida de
jejum”.
Por definição, jejuar é abster-se de alimentos. O jejum que
buscamos, porém, vai muito além de apenas negar a nós mesmos a
nutrição física. Nosso desejo é posicionar o coração para encontrar
Jesus como o Deus Noivo. Ao longo da história, as pessoas
costumavam jejuar com o foco errado, buscando conquistar o favor
e a atenção de Deus. Mas nunca podemos manipular Deus.
Podemos praticar atos de humilhação pessoal extremos no desejo
de provar nossa dedicação a Ele, mas não é isso que Deus está
buscando. O que lhe dá prazer é nossa obediência e nossa busca
por intimidade com Ele. Fazer a Sua vontade é mais importante para
Deus do que o jejum. O Senhor falou, através do profeta Samuel,
que é melhor obedecer do que oferecer a Ele um sacrifício especial
(1 Samuel 15:22-23).
Como, então, devemos abordar o jejum durante esse tempo
tão urgente? Quando jejuamos, deve ser como um meio para
chegar a um fim e não como um fim em si mesmo. Não jejuamos
para provar nada a Deus ou para merecer Seu favor. As religiões
orientais praticam o jejum que está preocupado com o eu, uma vez
que seus seguidores procuram conquistar a bênção de Deus, mas a
Bíblia nos ensina a jejuar para nos fortalecermos na busca por
envolvimento com Deus e com a Sua vontade.
O jejum regular é parte da vida cristã normal. É o cristianismo
básico. Em Mateus 6:16, Jesus usou a frase: “Quando jejuarem” (e
não se jejuarem), sugerindo que o jejum deveria ocorrer no curso
normal da vida de todo discípulo. Jesus prometeu que Deus
recompensaria abertamente aqueles que encarassem o jejum com o
espírito correto (Mateus 6:18). O jejum é uma graça que aumenta
significativamente a receptividade à voz do Senhor e à Sua Palavra,
permitindo que nos aprofundemos em nosso relacionamento com
Deus de uma maneira que vai além do que experimentamos
normalmente. Jejuamos para encontrar Deus mais íntima e
profundamente, e para transformar o mundo.
Em Isaías 58, Deus ordenou o jejum para (1) soltar as cadeias
da injustiça em nossas vidas; (2) desatar os fardos pesados na vida
de outros; (3) ajudar os oprimidos a serem libertos quando
ministramos a eles pela unção do Espírito; (4) quebrar todo jugo do
espírito religioso; (5) dar pão ao faminto e abrigo ao pobre; (6)
permitir que a luz da revelação da Palavra de Deus nasça sobre nós
como a luz da manhã; (7) permitir que nossa saúde emocional e
física brote velozmente; (8) fazer com que a justiça desponte nos
lugares nos quais temos dificuldades; e (9) fazer com que a glória e
o poder do Senhor operem em nossos ministérios.
Convoco os cristãos para jejuarem pelo menos um dia por
semana. É melhor jejuar dois dias por semana. A maioria das
pessoas pode fazê-lo. Precisamos desesperadamente de mais
revelação de Jesus como nosso Noivo, que tem um desejo e uma
afeição ardentes por nós. Enquanto vivemos na verdade do
paradigma da Noiva, jejuamos porque ansiamos por Jesus. O
Senhor disse aos fariseus que viria o dia em que o Noivo seria tirado
dos discípulos, e então eles jejuariam devido ao seu anseio por Ele
(Mateus 9:15). Quando Jesus subiu ao céu depois da Sua morte e
Sua ressurreição, Ele foi tirado, no sentido indicado nessa
passagem. A Noiva de Cristo deve ansiar por Sua volta, Sua
segunda vinda, e o jejum é uma maneira de expressarmos esse
anseio.
Minha esperança é que este livro ajude a equipar você para
abraçar a disciplina, a graça e a alegria do jejum, a fim de que possa
encontrar a plenitude de tudo o que Deus, como seu Noivo celestial,
tem para você.

Mike Bickle
Diretor
Base da International House of Prayer Missions, Kansas City,
Missouri
Capítulo 1
O Deus Noivo

á vários anos, se você falasse sobre jejum em uma reunião

H
de cristãos, provavelmente observaria uma reação, em
grande parte, de distanciamento e desinteresse geral. Eles
considerariam o jejum um tema secundário, uma disciplina
cristã opcional, um exercício entre uma série de outros.
Hoje, porém, vejo essa reação coletiva mudar entre os
cristãos. Há uma fome e um desespero crescente que flui do
reconhecimento pelo Corpo de Cristo de que somos espiritualmente
áridos. Entendemos que temos uma grande necessidade da
manifestação do amor e o poder de Deus dentro de nós.
Consequentemente, vemos claramente um entusiasmo crescente
pelo jejum, e até pelo jejum como estilo de vida.
Esse novo interesse no jejum é um dom de Deus para o Corpo
de Cristo. É parte do compromisso de Deus em preparar a Igreja
para o tempo que em breve virá, de glória e crise nos tempos do fim.
Essa resposta imediata com certeza é a obra de Deus em nosso
meio, e está inconfundivelmente alinhada com a Palavra de Deus.
Com ousadia, Jesus enfatizou que o Pai recompensa o jejum
(Mateus 6:17-18). Essa proclamação por si só torna o jejum de
grande importância para os verdadeiros seguidores de Jesus. Não é
algo secundário. A graça do jejum não deve ser negligenciada.
Há uma tensão no jejum e em viver um estilo de vida de
jejum. Embora Deus realmente recompense o jejum, as
recompensas que Ele dá não são conquistadas ou merecidas por
nós por causa do nosso jejum. Somos pessoas fracas, que nunca
podem merecer o favor de Deus ou Suas recompensas, mas
podemos apenas recebê-los. Nós recebemos a graça do jejum nos
posicionando diante da Sua infinita bondade. Ele quer inundar
nossa vida com muitas recompensas, as quais são internas,
quando nosso coração o encontra; externas, quando nossas
circunstâncias são tocadas pelo Seu poder; e eternas, quando o
jejum impacta até as recompensas eternas.
De fato, as recompensas que o Pai dá àqueles que jejuam
regularmente são vastas. E é por isso que, neste momento, Ele está
preparando o coração dos cristãos em todo o mundo para dizer
“sim” ao estilo de vida de oração e jejum do Novo Testamento. Ele
vai nos preparar à medida que experimentamos a afeição de Jesus
como nosso Deus Noivo. Nossa capacidade de experimentar mais
do nosso glorioso Deus está intimamente ligada ao fato de
abraçarmos a graça do jejum.

Nosso Dilema: Precisamos Experimentar o Amor


de Deus
No mais profundo do coração humano está o desejo de saber que
somos amados e valorizados. Sentimos a dor da solidão e da
rejeição tão intensamente porque Deus projetou nosso espírito para
o êxtase de sermos amados e de amarmos em troca. O anseio por
aceitação, o anseio por amor, é uma das principais forças motrizes
da vida. Mas temos um forte dilema: embora nosso desejo por
amor seja real, e embora sejamos projetados de maneira inata por
Deus para ficarmos extasiados com Seu amor e com Sua aceitação
por nós, ainda permanece uma distância entre o conhecimento
desse amor e nossa real experiência com ele. Acredite se quiser, o
jejum é uma das maneiras mais práticas de posicionarmos nosso
coração para experimentar mais das afeições e do amor de Deus.
Tradicionalmente, muitas pessoas pensavam no jejum como uma
disciplina espiritual praticada para evitar uma crise, ou como uma
postura de arrependimento diante de Deus. Uma das principais
razões pelas quais Deus nos deu essa graça tem a ver com o amor
e com a nossa capacidade de experimentar as recompensas desse
amor.
A distância entre saber que Deus nos ama e realmente
experimentar esse amor vem do fato de que vivemos a partir de
uma falsa identidade, que se baseia na maneira como as pessoas
nos aceitam, e não na maneira como Deus nos aceita. A maneira
como pensamos e sentimos acerca de nós mesmos é
grandemente afetada por aqueles cujas opiniões mais
valorizamos. Desde o momento em que nascemos, nosso senso
de identidade e valor pessoal é moldado pelo que nossos pais,
nossos amigos e nossos conhecidos pensam de nós. No entanto,
o Criador é o Único que sabe totalmente quem fomos projetados
para ser. Ele nos diz quem realmente somos revelando o quanto
nos ama. Nossa crença no Seu amor por nós determina a maneira
como nos sentimos acerca de nós mesmos, a maneira como
encaramos a vida, a maneira como interagimos com os outros e a
maneira como lidamos com os contratempos e as dificuldades.
Deus quer que nossa identidade e nosso senso de valor estejam
enraizados e fundamentados no conhecimento do Seu amor por
nós (Efésios 3:17-18). É aí que nosso coração passa a ter vida!
Como Jesus nos ama tanto assim? Em Sua última mensagem
pública antes de ir para a cruz (Mateus 22:11-14), Jesus revelou o
que estava ardendo em Seu coração. Ele descreveu o Reino de
Deus como um matrimônio, e o Pai como Aquele que estava
preparando um casamento glorioso para Seu Filho (Mateus 22:2).
Essa é a mais elevada revelação do Reino de Deus. É a revelação
de Jesus como nosso Deus Noivo e de nós como Sua Noiva amada.
Ao recebermos e levarmos a sério essa revelação, a distância é
preenchida e o dilema é resolvido na nossa experiência com o amor
de Deus. Assim, precisamos encontrar Jesus como nosso Deus
Noivo, posicionando o coração e a vida de tal maneira que essa
revelação realmente crie raízes em nós.

A Identidade da Igreja como Noiva


O apóstolo João profetizou sobre um tempo no fim desta era,
quando o Espírito e a Noiva clamariam: “Vem, Senhor Jesus”
(Apocalipse 22:20). Essa é uma das profecias mais importantes
sobre as atividades e as experiências da Igreja dos tempos do fim.
O Espírito Santo tocará a trombeta com a mensagem de Jesus
como um Noivo apaixonado e a identidade da Igreja como Sua
Noiva amada. A ênfase final do Espírito Santo antes da segunda
vinda de Jesus estará no relacionamento íntimo entre Ele e Sua
Noiva. João descreveu a Igreja como estando em profunda unidade
com o Espírito Santo nesse tempo, dizendo e fazendo o que o
Espírito está dizendo e fazendo. O Espírito Santo terá revelado a
identidade essencial da Igreja. Em vez de ser chamada a “Igreja”,
ela terá assumido completamente sua identidade como a “Noiva” e
estará participando plenamente do anseio nupcial de que o Noivo
“venha” e retorne.
Essa última profecia revela não apenas quais serão as
principais atividades do Espírito Santo nos dias que estão por vir,
como também três fatos cruciais que acontecerão na Igreja e
através da Igreja. Em primeiro lugar, a Igreja será ungida com o
Espírito. O Espírito repousará sobre a Igreja com grande poder e
revelação. Em segundo lugar, a Igreja estará profundamente
engajada na intercessão, clamando “Vem, Senhor Jesus”. Em
terceiro lugar, a Igreja será estabelecida na sua identidade nupcial.
Sim, somos e sempre seremos Seu exército, Sua família, Seu
corpo, Seu Reino, Seus filhos e Suas filhas, e muito mais. No
entanto, estamos nos aproximando da primeira vez na história em
que o Espírito Santo enfatizará a identidade espiritual da Igreja
como a Noiva de Jesus. Quando falamos sobre essas verdades, às
vezes nos referimos a elas como o “paradigma nupcial” do Reino de
Deus.

O Paradigma da Noiva do Reino de Deus


A palavra “paradigma” significa perspectiva ou visão. O paradigma
da Noiva vê o Reino através dos olhos de uma Noiva cujo amor é
leal, devotado e de todo o coração. É a “perspectiva nupcial” do
Reino de Deus.
Ser a Noiva de Cristo não é algo destinado a um homem ou
uma mulher, mas a todos os cristãos que receberam uma posição
de privilégio indescritível muito além até mesmo daquela que os
anjos desfrutam. É um convite para experimentar o amor e o desejo
de Deus por nós. Como filhos de Deus, herdeiros do Seu poder, foi
dada a nós uma posição que nos permite experimentar o trono de
Deus (Apocalipse 3:21; Romanos 8:17). Como Sua Noiva, estamos
na posição de experimentar o coração de Deus: Suas emoções,
Seus afetos e Seu desejo por nós.
Assim como as mulheres também estão entre os filhos de
Deus, do mesmo modo os homens são a Noiva de Cristo. Ambos
descrevem uma posição ou um privilégio diante de Deus que
transcende o gênero. A maioria das mulheres cristãs não tem
dificuldade com a ideia de serem consideradas filhos de Deus,
porque elas não veem isso como um chamado para serem menos
femininas. No entanto, os homens costumam ter dificuldades com
o fato de ser a Noiva de Cristo, porque concluem erroneamente
que é um chamado para serem menos viris. Eles não conseguem
se identificar com o fato de ser a Noiva de Jesus, pensando que
deveriam se imaginar usando um vestido de casamento.
Precisamos entender que ser essa Noiva aponta para uma posição
de proximidade privilegiada que nos permite encontrar o coração
de Jesus.
Alguns dos maiores homens de Deus viveram com base na
identidade da Noiva, que é a intimidade com Deus. O rei Davi foi o
maior guerreiro de Israel, no entanto era um adorador apaixonado,
arrebatado pelo desejo de Deus por Ele e fascinado pela beleza do
Senhor (Salmos 27:4). Ser “um homem segundo o coração de
Deus” sugere que Davi era um estudioso das emoções do coração
do Senhor.
Jesus chamou o apóstolo João de “Filho do Trovão” por causa
da sua personalidade impetuosa (Marcos 3:17). Ele quis invocar
fogo do céu sobre uma cidade samaritana (Lucas 9:54). João era
um sujeito rude e bruto, no entanto a Bíblia revela como ele se via.
Por cinco vezes ele se descreveu como o discípulo a quem Jesus
amava (João 13:23; 19:26; 20:2; 21:7; 21:20). É fácil ver que o que
era mais importante para João era o fato de ele ser aquele que
reclinava a cabeça sobre o peito do Senhor (João 21:20).
João Batista comia gafanhotos, vestia pele de camelo e
chamava os fariseus de nomes ultrajantes como “raça de víboras”.
Jesus disse que ele foi o maior homem nascido de mulher (Mateus
11:11). A fonte do poder desse profeta era a revelação que ele teve
de Jesus como o Deus Noivo. João Batista falou sobre ouvir a voz
do Noivo (João 3:29) como aquilo que fazia seu coração ser
dominado pela alegria.
Rei Davi, apóstolo João e João Batista, todos eles andaram em
profunda intimidade com Deus. Desse modo, eles experimentaram a
realidade essencial do que significa ser a Noiva de Cristo. A
intimidade deles com Deus não minou sua masculinidade, ao
contrário, a fortaleceu e definiu. A maneira como nos vemos é
grandemente afetada quando entendemos Jesus como um Noivo
apaixonado. Começamos a ver a nós mesmos como pessoas que
têm um valor imenso para Ele, assim como uma noiva amada para
seu marido. Essas verdades fazem nosso coração ficar extasiado e
dominado pelo Seu amor. Nós desfalecemos de amor. A noiva no
livro de Cântico dos Cânticos falou duas vezes sobre estar doente
de amor (Cântico dos Cânticos 2:5; 5:8).

A Mensagem do Noivo
A Mensagem do Noivo é um chamado para uma intimidade ativa
com Deus. Paulo ensinou que o Espírito sonda as profundezas de
Deus para revelá-las a nós (1 Coríntios 2:10-12). Deus convidou
cada um de nós a experimentar as coisas profundas do Seu
coração. Ele se abriu para entendermos e sentirmos Suas
emoções, Seus desejos e Suas afeições. Isso foi fundamental para
Paulo quando orou pela Igreja e pediu que pudéssemos
compreender a profundidade do amor de Deus (Efésios 3:18-19). À
medida que descobrimos as profundezas do amor de Deus, pouco
a pouco, combinadas com a graça do jejum, começamos a alcançar
as recompensas internas prometidas a nós por Jesus (Mateus 6:17-
18). E ficamos radiantes interiormente quando despertamos para
essa realidade.
Qual é a profundidade do Seu amor? Quais são as emoções
de Jesus? Em primeiro lugar, vamos considerar que Ele é cheio de
terna misericórdia. Em outras palavras, Ele é gentil conosco nas
nossas fraquezas. É terno conosco na nossa imaturidade espiritual.
Algumas pessoas confundem imaturidade com rebelião. Na sua
imaturidade, elas imaginam que Deus está zangado com elas como
se fossem rebeldes. É verdade que Deus fica irado com a rebelião,
mas Ele tem um coração de ternura para com os cristãos sinceros
que, embora imaturos e fracos, procuram obedecer a Ele. Deus nos
aprecia mesmo na nossa fraqueza. Essa é a verdade profunda que
precisamos entender. Durante o tempo da sua juventude, Davi
disse que Deus o livrou porque tinha prazer nele (Salmos 18:19).
Davi não era um homem maduro espiritualmente quando escreveu
o Salmo 18. No mesmo salmo ele proclamou que a bondade de
Deus o engrandeceu (v. 35). Davi não temia que Deus o tratasse
com dureza por causa das suas fraquezas. Deus realmente tem
prazer em nós na nossa fraqueza; Ele tem prazer em nós enquanto
estamos crescendo, e não apenas depois que amadurecemos.
Em segundo lugar, o coração de Jesus é cheio de alegria. Ele
tem um coração feliz, mais do que qualquer homem da história.
Deus ungiu Jesus com óleo de alegria, mais do que a qualquer um
dos Seus companheiros ou dos demais seres humanos (Hebreus
1:9). Tradicionalmente, muitas pessoas costumavam ver Deus como
alguém irado ou triste quando se relacionava com elas. A verdade
nos confunde — Jesus é acima de tudo alegre quando interage com
cristãos sinceros. Mesmo nas nossas fraquezas podemos nos
aproximar dele e ter confiança de que Ele tem prazer em se
relacionar conosco.
Em terceiro lugar, as emoções de Jesus são cheias de afetos
ardentes por nós. Jesus se sente a nosso respeito da mesma
maneira que o Pai se sente a respeito dele (João 15:9). Isso é
estonteante! A segunda Pessoa da Trindade se sente acerca dos
seres humanos imperfeitos da mesma maneira que a Primeira
Pessoa da Trindade se sente a respeito dele. A profundidade do
amor do Pai por Jesus é insondável, e nós compartilhamos do
mesmo amor. Isso parece impensável, mas a Bíblia nos diz que é
verdade.
Em quarto lugar, Jesus, o Noivo, é zeloso. O amor não é
passivo e o Deus da afeição é um fogo consumidor (Deuteronômio
4:24). Seu ciúme por nós é tão forte quanto a sepultura, uma chama
poderosa, a própria chama de Deus (Cântico dos Cânticos 8:6-7).
Com um zelo atroz, Ele consome tudo que impede o amor em nós,
tudo o que se coloca no caminho. Ele não aceitará ter apenas uma
parte do nosso coração. Ele o quer por inteiro, portanto continuará a
buscar zelosamente cada aspecto da nossa vida até sermos
completamente dele. Do Seu zelo vêm Seus juízos, que destroem
tudo o que se opõe ao amor e tudo o que fere a Sua Igreja
(Provérbios 6:34; Ezequiel 38:18-19; Zacarias 1:14; 8:2; Apocalipse
19:2). O Senhor vigia Seu povo com grande zelo e com grande
fervor (Zacarias 8:1-2).

Nosso Deus Perdidamente Apaixonado


Na essência da mensagem do Noivo estão as emoções de Jesus
por nós e Seu comprometimento conosco como um Deus
perdidamente apaixonado. O Deus que criou o céu e a terra é um
Noivo cujo coração queima de amor santo pela Sua Noiva. O Deus
que tem todo o poder deseja ter intimidade com os seres humanos.
A natureza de Deus como Noivo é uma realidade dramática e
significativa. Não conheço nada que revele mais sobre a vida e a
identidade de alguém do que o entendimento de que Jesus tem um
amor ardente por ela. Esse paradigma do Reino exerce um impacto
profundo sobre nós, transformando-nos completamente de dentro
para fora. Só quando entendemos o grande desejo de Jesus por nós
é que podemos entender quem realmente somos. Somos Seus
eternos companheiros. Ele compartilha conosco aquilo que o Pai
deu a Ele. Ele compartilha conosco Seu coração.
O Rei dos reis é um Deus de paixão indescritível. O fato de
essa paixão queimar ardentemente de amor por você e por mim é
uma verdade poderosa que pode definir nossa vida. As emoções
humanas são transformadas radicalmente quando vemos Jesus
como um Deus Noivo apaixonado e a nós mesmos como Sua Noiva
amada. Se não nos sentimos amados e apaixonados, ficamos
entediados espiritualmente e assim somos mais vulneráveis a fazer
concessões, e nos faltam coragem e força. Por outro lado, quando
ficamos face a face com os afetos extravagantes de Deus, o cerne
do nosso ser é impactado. Esse impacto eterno é o que estamos
buscando. É o que transforma a vida.
Viver de acordo com a realidade de Jesus ser nosso Noivo
celestial e nos vermos como Sua Noiva amada é a única maneira
pela qual podemos nos preparar para a volta do Senhor. É a única
esperança de preencher o vazio da nossa solidão e rejeição. Mas
não temos consciência dessas verdades naturalmente. Não vivemos
naturalmente nesta identidade, embora ela seja a mais alta
revelação de quem somos diante do Senhor. Atualmente, a
revelação de Jesus como o Noivo não é comumente entendida pela
Igreja, mas Deus tem um plano para despertar Seu povo. Ele irá se
revelar a eles como um Noivo, e fará isso através da oração e do
jejum. Jesus nos convida a conhecê-lo como nosso Noivo e a
experimentar as recompensas da oração e do jejum. Deus nos
chama para nos aproximarmos dele.
Ah, que atendamos ao Seu convite de todo o coração!

Respondendo ao Noivo
Ao reconhecermos Jesus como nosso Noivo e nos vermos como
Sua Noiva, receberemos o poder do espírito de oração e seremos
cheios de coragem para viver uma vida entregue a Deus em
santidade. Só então o jejum parecerá apropriado, razoável ou
mesmo sábio. A única resposta lógica ao amor extravagante de
Deus por nós é a resposta do amor sincero, caracterizado por
negarmos a nós mesmos. Ao fazer isso, tomaremos posse das
coisas mais elevadas que Deus tem para nós. A presente era não
passa de uma breve janela na eternidade. À luz da eternidade,
esta vida não passa de um pequeno “momento” que temos para
responder em plena obediência e amor a Jesus. Amando-o,
buscamos obedecer a Ele a qualquer preço. Respondendo ao Seu
amor, recebemos tudo o que Ele anseia derramar em nossa vida.
Jesus disse que se nós amamos o Senhor, guardaremos Seus
mandamentos; mas se não os guardarmos, nosso amor não é
genuíno (João 14:15, 23-24).
O primeiro mandamento é amar a Deus de todo o coração
(Mateus 22:37). A Igreja ocidental atualmente não coloca esse
mandamento no seu lugar de direito, mas o Espírito Santo usará a
revelação de Jesus como o Deus Noivo para restaurá-lo ao primeiro
lugar em nossa vida. Antes de o Senhor retornar, toda a Igreja
estará perdidamente apaixonada por Deus e vivendo um estilo de
vida de entrega e de feliz santidade. O Deus perdidamente
apaixonado será adorado por uma Noiva que também desfalece de
amor.
Como podemos passar de um amor imaturo para um amor
ardente e totalmente entregue a Deus? Mergulhando de cabeça na
revelação do Seu desejo por nós. É simples assim. É tão simples,
na verdade, que parece quase bom demais para acreditar. Com fé,
devemos receber o testemunho do Seu amor irredutível por nós,
mesmo na nossa fraqueza, e isso nos dará o poder de corrermos
para Deus quando cairmos, em vez de fugirmos dele. Em meio ao
fracasso, precisamos lembrar que nosso Deus é um Deus de
alegria, que nos ama e que gosta de nós, e não um Deus que é
rápido em se irar e que está continuamente decepcionado
conosco. Nosso amor por Ele crescerá à medida que levarmos a
sério esse princípio fundamental com relação aos sentimentos do
Senhor por nós.
É a beleza indescritível de Jesus, o Deus Noivo, que fascina
nosso coração assim como fez com o coração de Davi. Davi
desejava uma coisa acima de tudo: contemplar a beleza de Deus
(Salmos 27:4). À medida que entramos mais profundamente na
compreensão do amor de Deus por nós, nosso desejo de viver
“vidas voltadas para o único alvo”, governadas pelo primeiro
mandamento, crescerá e expandirá. Começaremos,
inevitavelmente, a ansiar por ter uma revelação contínua do Seu
coração, um entendimento mais profundo da nossa identidade
como Noiva, e ter maior experiência do Seu amor imutável.
Teremos fome por mais de Deus.
A graça do jejum é a resposta de Deus ao nosso clamor por
“mais”. O jejum amplia nossa capacidade de receber a verdade e
acelera o processo das verdades de Deus criando raízes em nosso
coração. É uma maneira dada por Deus para abrir espaço para mais
de Deus e, portanto, é um componente essencial para a antiga
pergunta: “Como posso crescer em meu amor por Deus?”. Para
crescer em amor, nossa capacidade para Deus precisa aumentar, e
para isso precisamos incorporar a prática do jejum à nossa vida. O
jejum alimenta nossa experiência do amor de Deus. Essa verdade
profunda é o centro deste livro. Precisamos entender os
fundamentos bíblicos do que chamamos de “o jejum do Noivo”, que
recebe poder pelo encontro do Corpo de Cristo com Jesus como o
Deus Noivo. No próximo capítulo, veremos os diferentes tipos de
jejuns que a Bíblia estabelece, inclusive o jejum do Noivo.
Capítulo 2
Sete Tipos de Jejum Bíblico

uando conheci o Senhor, ainda jovem, eu não gostava de

Q jejuar. Eu amava a adoração e as reuniões de ensino, mas


detestava orar e jejuar. Ao ler livros sobre esses temas,
porém, comecei a ver que Deus estabeleceu Seu Reino
para funcionar melhor quando Seu povo ora e jejua. Eu não
gostava dessa ideia. Jamais imaginaria que um dia estaria pregando
e escrevendo livros sobre esses assuntos — esse era o assunto de
que eu menos gostava.
Muitas vezes eu posicionava meu coração para passar o dia
em jejum e oração, mas desistia algumas horas depois, reclamando
com Deus: “Por quê? Por que o Senhor estabeleceu Seu Reino
assim? Eu não entendo! Por que Tu queres que eu fique sentado
aqui sem fazer nada a não ser lhe dizer o que o Senhor já sabe, e
sem comer? Qual é o sentido disso? Que sabedoria há em tudo
isso? Deus, eu poderia estar fazendo tantas coisas para o Senhor!
Eu poderia impactar muitas pessoas se o Senhor simplesmente me
deixasse fazer alguma coisa em vez de desperdiçar minha vida em
oração e jejum”. Nada parecia mais estúpido ou sem proveito para
mim, mas Deus queria que eu entendesse que esse era
verdadeiramente o caminho da sabedoria e a maneira como Seu
poder seria liberado de modo mais efetivo em meu coração e no
meu ministério.

O Poder da Oração e do Jejum


Deus estabeleceu Seu Reino de tal maneira que algumas coisas
que parecem fracas para as pessoas, na verdade, são as mais
poderosas diante de Deus. A mente natural argumenta: “Por que
oração e jejum?”. Afinal, orar e jejuar é simplesmente dizer a Deus o
que Ele já sabe, enquanto a pessoa não se alimenta. Sem a mente
de Cristo, é difícil entender a sabedoria de um estilo de vida de
oração e jejum. Mas na verdade não há nada mais poderoso ao qual
possamos dedicar nossa vida. O Reino de Deus é governado pela
oração. Quando nos dedicamos à oração e ao jejum isso afeta a
dimensão espiritual, e até a atividade de anjos e demônios.
A oração transcende o tempo e a distância. O apóstolo Paulo
pôde impactar e trazer mudança à igreja de Éfeso orando enquanto
estava longe, em uma prisão em Roma. Na verdade, o lugar de
oração é o centro de governo do universo, mas a realidade é que o
espírito de oração é estranho ao espírito humano, a não ser que
estejamos experimentando a graça de Deus (Zacarias 12:10). A
vida cristã requer cooperação com Deus em Sua graça.
Deus não fará a nossa parte e nós não podemos fazer a parte
dele. Se nós não fizermos a nossa parte, uma parcela da ajuda e
da bênção que Deus daria a nós é retida. Nosso papel inclui tomar
decisões de qualidade para negarmos a nós mesmos (dizer não ao
pecado e ao orgulho); alimentar o espírito com a Palavra; pedir a
ajuda e a intervenção divina através da oração e do jejum; e abraçar
atividades (ministério, serviço) e relacionamentos com pessoas
tementes a Deus. O papel de Deus inclui liberar influências
sobrenaturais em nosso coração (poder, sabedoria, desejos), em
nosso corpo (cura), em nossas circunstâncias (provisão, proteção,
direção) e em nossos relacionamentos (favor).
Deus governa o universo em parceria íntima com Seu povo
através da intercessão. Ele escolheu dar ao Seu povo um papel
dinâmico na determinação de parte da nossa qualidade de vida,
com base em nossa resposta à graça de Deus, particularmente na
oração, no jejum, na obediência e na mansidão. Deus abre portas
de bênção e fecha portas de opressão em resposta à oração. Há
bênçãos que Ele escolheu dar, mas somente se Seu povo se
levantar em parceria de oração para pedir por elas. Tiago disse que
não temos porque não pedimos em oração (Tiago 4:2). E Jesus
falou sobre demônios que não deixariam de atormentar as pessoas
até que fossem expelidos pela oração e pelo jejum (Mateus 17:21).
Há três passos na nossa parceria com Deus. Primeiro, Deus
inicia o que Ele quer declarando isso na Sua Palavra e movendo
nosso coração para crer nisso. Em segundo lugar, respondemos em
obediência com oração e jejum. Em terceiro lugar, Deus responde à
nossa reação liberando aquilo pelo que clamamos. Nossas orações
têm grande importância, mesmo quando não sentimos o poder
delas. Algumas pessoas “confiam” na soberania de Deus de uma
maneira não bíblica, acreditando em Deus para exercer o papel que
Ele designou a nós. Isso não é confiança; é presunção. É verdade
que Seu grande plano para os maiores eventos da história não será
frustrado, mas há muitas coisas que Deus não nos dará
individualmente até que as busquemos em fé e obediência.
O fundamento da intercessão, que é um tipo de oração, é dizer
de volta para Deus o que Ele nos disse primeiro, seja em forma de
versículos ou através de uma informação profética pessoal que nos
foi dada pelo Espírito Santo (1 Timóteo 1:18). A oração nos faz
internalizar a Palavra de Deus à medida que declaramos as ideias
dele de volta para Ele. Toda vez que dizemos de volta para Deus o
que Ele nos declarou, isso marca nosso espírito, ilumina nossa
mente e comove nosso coração. Nosso caráter é transformado.
Tudo isso acontece à medida que nos envolvemos com a
intercessão, porque as palavras de Deus são espírito e vida (João
6:63). A exigência de Deus para orarmos reflete Seu desejo de
uma parceria e de uma conexão íntima conosco.
A oração e o jejum são armas espirituais que usamos para
resistir ativamente a Satanás. Nossa guerra é tanto física quanto
espiritual. Paulo disse que não lutamos contra carne e sangue, mas
contra principados e contra as hostes (exércitos) espirituais da
maldade. Portanto devemos tomar toda a armadura de Deus para
podermos apagar todos os mísseis inflamados do maligno, orando
sempre (Efésios 6:12-18). As armas da nossa milícia não são
carnais, mas espirituais (2 Coríntios 10:3-5). Precisamos resistir
ativamente aos mísseis sobrenaturais inflamados que Satanás dirige
contra nós (Tiago 4:6-7; 1 Pedro 5:8-9). Na guerra contra o pecado
e as trevas, não basta apenas exercer as atividades físicas externas
de resistir ao pecado ou ministrar a outros. Precisamos também nos
envolver na parte espiritual da batalha, resistindo ativamente a
Satanás através da oração com jejum.

Princípios Fundamentais do Jejum Bíblico


Para entender o poder que Deus libera através da oração e do
jejum, precisamos analisar alguns princípios fundamentais. Em
primeiro lugar, o jejum é um convite. Deus nos convida a jejuar
porque Ele quer que nós desejemos mais dele. A natureza do
verdadeiro desejo de estar com alguém exige que não sejamos
forçados a isso. É algo que precisa ser voluntário. Deus nos
convida para que o aspecto voluntário seja preservado. Ainda
podemos ser salvos e ir para o céu sem nunca jejuarmos ou
conhecermos a Deus mais intimamente; entretanto, se dissermos
“sim” a Ele no jejum, Deus usará essa resposta como uma porta
de entrada para nos levar para maiores medidas do Seu coração.
Há bênçãos que só serão liberadas quando a fome espiritual
chegar ao ponto em que queiramos jejuar para receber mais de
Deus. Ele recompensa a fome e transmite mais graça àqueles que
são famintos de mais dele.
O segundo princípio é que o jejum é um paradoxo . Quando
jejuamos, as escoras que usamos para nos apoiar são removidas;
as coisas que nos dão a ilusão de força são retiradas
temporariamente. Às vezes, quando jejuamos, nós nos sentimos
crus diante de Deus à medida que nos tornamos ainda mais
conscientes de nossos motivos e nossas paixões pecaminosas. O
paradoxo é que à medida que experimentamos a dor dessa crueza,
nosso espírito se torna mais sensível. Nosso corpo está fraco e
faminto, mas nosso homem espiritual está mais sensível ao Espírito
Santo. Em tudo isso, nossa decisão é fortalecida para vivermos
inteiramente para Deus. O paradoxo do jejum é que à medida que
experimentamos a fraqueza na carne, somos fortalecidos no
espírito.
Em terceiro lugar, o jejum é uma graça . Só podemos manter
uma vida de jejum pela graça de Deus, e não pela própria força. O
jejum é mais do que cerrar os dentes enquanto resistimos à fome.
Em vez disso, pedimos a Deus graça para entrar no mistério de nos
conectarmos com Ele no jejum. À medida que abraçamos a
fraqueza voluntária do jejum, recebemos mais força espiritual na
nossa caminhada com Deus. Sua graça se multiplica para aqueles
que a perseguem (2 Pedro 1:2; 3:18).
Deus realmente nos concede graça para jejuar — até mesmo
às pessoas dos nossos dias que vivem na cultura ocidental
moderna. Quero expor a mentira de que os cristãos do século XXI
não podem jejuar como os cristãos da antiguidade. Trata-se de
uma mentira que gera passividade com relação a esse poderoso
dom. Entorpecemos a consciência com o argumento falso de que,
uma vez que nosso “ritmo de vida” é estressante, o jejum regular
não é prático. Amado, nunca houve uma sociedade menos
desafiada fisicamente todos os dias do que esta. As conveniências
modernas nos garantem uma existência sedentária, comparada
com as gerações anteriores, e a maioria de nós precisa inventar
maneiras de nos empenharmos. Dizemos a nós mesmos que
jejuar é difícil demais, e que ficaremos cansados demais e
desconfortáveis demais, quando na verdade o medo do jejum é
muito pior que o jejum em si.
Deus projetou o corpo humano para operar na sua melhor
forma com jejuns regulares. O corpo, na verdade, é purificado e
fortalecido no processo do jejum. Recomendo uma abordagem ao
estilo de vida de jejum que inclua reservar dias regulares de jejum
toda semana, em vez de jejuns ocasionais longos ou curtos.
Quando jejuamos regularmente, uma mudança na nossa
mentalidade e no ritmo do nosso corpo começa a se instalar. Essa é
uma expressão da graça do jejum. É como o exercício físico.
Quando não nos exercitamos regularmente, é difícil começar. Até
começarmos a nos ajustar, isso requer tempo e exercício
constantes. A mesma coisa acontece com o jejum regular.
Não existe um momento mais fácil do que agora para dizer
“sim” a essa graça e para entrar em parceria com Deus no jejum, a
fim de desenvolver uma história com a oração e o jejum. Sem
dúvida, à medida que a pressão aumenta no fim desta era, um
número de cristãos maior do que nunca entrará na graça do jejum.
O quarto princípio do jejum é que ele nos humilha. A Bíblia
descreve o jejum como algo que nos humilha e que “aflige” a alma
(Isaías 58:3, 5). Davi falou sobre o jejum como uma maneira de se
humilhar diante de Deus (Salmos 35:13; 69:10). O corpo fica
cansado, a mente fica confusa, não estamos operando na nossa
plena capacidade, e a fraqueza parece permear tudo em que
colocamos as mãos. De repente nos encontramos incapazes de
fazer bem até as tarefas mais corriqueiras —— coisas que sempre
consideramos banais. Amado, não há dúvida: o jejum nos humilha.
Foi assim que Deus planejou.
O quinto princípio é que jejum é adoração . Só pessoas fracas
jejuam e oram. Somente aqueles que reconhecem a necessidade de
mais de Deus jejuam. Jejuar para o Senhor é uma declaração da
nossa grande necessidade dele. Jejuamos por um desejo de
estarmos mais bem equipados para derramarmos a vida
completamente diante dele. Isso é precioso para o Senhor. Quando
o povo de Deus se humilha através do jejum de modo a andar em
maior pureza, Deus recebe isso como adoração. Romanos 12:1 diz:
“Rogo... que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus; este é o culto racional de vocês [ou o seu ato espiritual de
adoração]” (grifo nosso).
Os Sete Tipos de Jejum Bíblico
Há sete categorias de jejum na Bíblia. O jejum poderia ser
classificado de muitas maneiras diferentes; esta é apenas uma entre
muitas. Essas sete maneiras diferentes de jejuar são respostas a
diferentes circunstâncias e motivações. Observe que essas
categorias muitas vezes se sobreporão umas às outras. Algumas
delas estão enraizadas no Antigo Testamento, mas continuam a ser
necessárias na Igreja do Novo Testamento.

1. Jejum para Experimentar o Poder de Deus no


Ministério Pessoal
Podemos jejuar para ter uma maior liberação de poder no nosso
ministério. Há muitos exemplos bíblicos desse tipo de jejum.
Quando os discípulos não conseguiram libertar um menino
endemoninhado, Jesus lhes disse que o demônio envolvido era de
um tipo que não sairia a não ser por meio de oração e jejum
(Mateus 17:21). O grande poder com o qual João Batista pregava
sem dúvida estava ligado ao seu estilo de vida de jejum (Mateus
11:18). O mesmo pode ser dito com relação ao poder que era visto
no ministério do apóstolo Paulo. O jejum fazia parte da sua vida
(Atos 9:9; 2 Coríntios 6:5; 11:27).
A Igreja Primitiva jejuava duas vezes por semana, às quartas-
feiras e às sextas-feiras, para experimentar mais do poder de Deus.
Ao longo da história da Igreja, muitos homens e mulheres ungidos
praticaram o jejum regular quando dirigiam grandes avivamentos.
Comentando sobre os líderes do avivamento na história, Andrew
Murray, o famoso líder da Igreja sul-africana, disse que poderíamos
aprender muito com esses líderes ungidos que se dedicavam a
Deus separando-se do espírito e dos prazeres do mundo através do
jejum e da oração regulares.
Charles Finney foi um dos pregadores mais poderosos da
história dos Estados Unidos. Uma intensa unção de convicção se
manifestava durante suas pregações. Ele relatou ter levado mais de
quinhentas mil pessoas ao Senhor em um período de oito semanas
durante o grande avivamento de Nova York, em 1857. Finney
escreveu que quando a graça da oração o deixava, sua pregação se
tornava tão fraca quanto a de outros homens. Quando isso
acontecia, ele passava vários dias em oração e jejum, até o espírito
da oração retornar, junto com poder, na sua pregação. Ele
proclamava que o poder na sua pregação estava ligado a tempos
regulares de oração e jejum. Finney escreveu: “Eu era levado a um
estado de grande insatisfação com a minha falta de fé e amor. Eu
me sentia fraco na tentação e precisava prosseguir com frequência
com dias de jejum e oração a fim de manter a comunhão com Deus
que me permitiria operar no avivamento com poder”.
Muitos pregadores famosos do passado seguiam esse mesmo
princípio. Eles foram abençoados com uma unção incomum do
Espírito que sempre se manifestava como um poder especial em
suas pregações para ganhar almas. Em alguns casos, eles eram
ungidos com sinais e maravilhas. Os exemplos incluem George
Whitefield, Jonathan Edwards, David Brainerd, Charles Wesley,
Maria Woodworth-Etter e Aimee Semple McPherson.
Um dos exemplos mais notáveis de uma pessoa cuja vida
ilustra a conexão entre jejum e oração e a liberação de sinais e
maravilhas é John G. Lake, que ministrou em princípios dos anos
1900. O Senhor chamou esse homem ligado ao ramo dos seguros a
sair de Chicago para orar e jejuar até experimentar grandes
manifestações de poder na sua pregação e em sinais e maravilhas.
Deus liberou de maneira inusitada milagres poderosos através dele
por muitos anos. Ele foi para a África do Sul, onde passou cinco
anos e plantou centenas de igrejas, e estima-se que tenha visto
quinhentas mil curas, que incluíram pessoas sendo ressuscitadas.
Milhares de pessoas foram levadas a Cristo por ele naqueles dias.
Mahesh Chavda, um exemplo dos dias atuais, fez dois jejuns
de quarenta dias por ano, durante os quais ingeriu somente água,
por dez anos. O Senhor liberou milagres incomuns no seu
ministério, usando-o várias vezes para ressuscitar os mortos e para
abrir olhos de cegos. Ele é particularmente conhecido por ser ungido
com autoridade sobre demônios.
O Senhor está à procura de pessoas hoje que o busquem de
todo o coração. Ele pode confiar a essas pessoas o Seu poder. Ele
falou profeticamente a um homem no nosso meio, dizendo que Ele
daria o Espírito sem medida a um povo sem mistura. O estilo de
vida de jejum é uma parte importante da nossa busca por sermos
esse povo nesta hora.

2. Jejum para Ter Revelação Profética dos Tempos


do Fim
Estamos vivendo na geração em que Deus levantará homens e
mulheres com uma visão profética incomum. Haverá uma liberação
sem precedentes de revelação profética na Igreja antes da volta de
Jesus (Atos 2:17-21). Daniel profetizou que no fim dos tempos Deus
levantaria “pessoas com entendimento profético” que ensinariam
multidões (Daniel 11:33-35; 12:4, 10). Essas pessoas proféticas vão
se firmar no conselho do Senhor com um entendimento maduro
acerca do que Ele está fazendo no tempo do juízo. “Porque quem
esteve no conselho do Senhor, e viu, e ouviu a sua palavra?... Não
se desviará a ira do Senhor, até que ele execute e cumpra os
desígnios do seu coração; nos últimos dias, entendereis isso
claramente” (Jeremias 23:18, 20).

Aqueles que são sábios instruirão a


muitos, mas por certo período
cairão... para que sejam refinados,
purificados e alvejados até a época
do fim, pois isso só acontecerá no
tempo determinado.
Daniel 11:33, 35

Deus respondeu à determinação feroz de Daniel de ser um


homem com entendimento profético. Quando o profeta buscou a
Deus com jejum e oração, foi-lhe dada revelação acerca do destino
de Israel no fim da era (Daniel 9:1-3, 20-23; 10:1-3, 12-14). Depois
de ter orado e jejuado por vinte e um dias, ele recebeu a visita de
um anjo, o qual lhe disse que suas orações haviam sido ouvidas
desde o primeiro dia em que ele havia disposto o coração para
entender e para se humilhar diante de Deus (Daniel 10:10-12).
Enquanto Daniel estava em oração, o anjo Gabriel veio lhe dar
“habilidade para entender” (Daniel 9:20-23).

Por isso me voltei para o Senhor


Deus com orações e súplicas, em
jejum, em pano de saco e coberto de
cinza... enquanto eu ainda estava em
oração, Gabriel, o homem... disse:
“Daniel, agora vim para dar a você
percepção e entendimento... Por
isso, preste atenção à mensagem
para entender a visão...”. E ele
prosseguiu: “Não tenha medo,
Daniel. Desde o primeiro dia em que
você decidiu buscar entendimento e
humilhar-se diante do seu Deus,
suas palavras foram ouvidas, e eu
vim em resposta a elas”.
Daniel 9:3, 21-23; 10:12

É preciso uma habilidade sobrenatural para entender as coisas


profundas do coração de Deus e Seus planos para os tempos do
fim. Não vamos alcançar esse entendimento por meios naturais.
Serão necessários encontros com Deus. Ele enviará anjos a alguns
dos Seus profetas dos tempos do fim, como fez com Daniel.
Precisamos dispor o coração para buscar entendimento profético,
como Daniel fez, jejuando e orando em busca de entendimento
sobrenatural.

3. Jejum pelo cumprimento das promessas de


Deus para nossa cidade ou nação
O Senhor tem planos e promessas proféticas para cada cidade na
terra. Ele deu promessas à Igreja da sua região, assim como fez
com a Igreja aqui em Kansas City. Não devemos tentar receber
essas promessas passivamente, com uma fé ociosa. O Senhor
pretende que peçamos a Ele ativamente o cumprimento dessas
promessas. Não existe tarefa mais completa para isso que a
adoração intercessória e a oração coletiva contínua com jejum.
As Escrituras estão cheias de exemplos de homens de fé que
foram usados por Deus para introduzir o cumprimento das Suas
promessas. Por exemplo, Deus disse que restauraria os israelitas do
seu terrível cativeiro de setenta anos como escravos na Babilônia
(606-536 a.C.) Quando os persas conquistaram a Babilônia, Daniel
orou e jejuou pelo cumprimento das promessas de Deus. Em
consequência, Israel foi liberta do cativeiro e teve permissão para
retornar à sua terra e reconstruir a nação (Daniel 9:1-3; 10:1-3).
Alguns anos depois, Neemias, enquanto ainda estava na capital
persa de Susã, ouviu relatos sobre a situação terrível que seus
companheiros judeus estavam passando em Israel. O muro e as
portas de Jerusalém ainda estavam destruídos; eles não tinham
proteção contra os inimigos que os cercavam. Neemias, assim como
Daniel, buscou o Senhor com jejum e oração, pedindo que Deus
cumprisse Suas promessas àquela geração em Israel. Neemias
jejuou, chorou e confessou os pecados de Israel, e orou a Deus
para que Ele liberasse Suas promessas para aquele povo (Neemias
1:1-11; 9:32-38). Deus respondeu às orações de Neemias e
abençoou Israel naquele tempo. A profetisa Ana jejuou e orou por
mais de sessenta anos para que Deus visitasse Israel e cumprisse
Suas promessas (Lucas 2:36-38). Deus respondeu permitindo que
ela visse o menino Jesus, o tão esperado Messias que salvaria a
nação.
Jesus disse aos Seus discípulos que a colheita de almas era
abundante, e aqueles que semeassem em oração e que colhessem
no evangelismo se alegrariam juntos (João 4:34-38). Em outras
palavras, a primeira obra a ser feita na colheita de Israel era o
trabalho da oração e do jejum. Assim, os esforços de Jesus, Ana,
Simeão e de João Batista prepararam o caminho para o avivamento
que os apóstolos colheram após o derramamento do pentecostes.
Quando Cornélio jejuou e orou, Deus enviou-lhe um anjo
mensageiro e o apóstolo Pedro, levando à salvação de toda sua
casa (Atos 10:1-4, 30-31). O espírito do avivamento foi derramado
na região e uma porta de graça foi aberta para os gentios. O
apóstolo Paulo abraçou o jejum como uma chave para liberar as
promessas de Deus para seu ministério (Atos 9:15; 26:17-18; 2
Coríntios 6:5; 11:27). Ele também orou e jejuou para que o espírito
do avivamento tocasse as igrejas da Galácia, levando-as à
maturidade espiritual (Gálatas 4:19).
Hoje, ao vermos multidões se dirigindo para o inferno diante de
uma Igreja que é espiritualmente estéril e à qual falta poder para
cura e libertação, nossa resposta bíblica deveria ser a mesma
daqueles cujas respostas estão registradas nas Escrituras.
Precisamos orar e jejuar até vermos um rompimento de barreiras
com o surgimento das coisas que Deus prometeu à nossa cidade e
à nossa nação.

4. Jejum para Deter uma Crise


O jejum para evitar uma crise nacional ou individual era praticado
com frequência nos tempos do Antigo Testamento. Repetidamente,
Deus reverteu a situação desesperadora dos israelitas quando eles
se voltavam para Ele em oração e jejum coletivos. Nos dias do
profeta Joel, Israel enfrentou diversos juízos divinos. Primeiro, os
gafanhotos e a seca ocasionaram uma crise na agricultura (Joel 1).
Em seguida, o exército babilônico se preparou para invadir a terra
(Joel 2:1-9). Joel convocou uma assembleia solene por toda a
nação, proclamando que Deus podia reverter Sua decisão de julgá-
los se o povo se humilhasse e se arrependesse com jejum e oração
(Joel 1:13-14; 2:12-15).
O profeta Jonas foi enviado para advertir a malvada cidade
assíria de Nínive de que o Deus de Israel iria destruí-la. Quando o
povo de Nínive se humilhou e se arrependeu com jejum, o Senhor
demonstrou misericórdia e poupou a cidade (Jonas 3:3-9).
Moisés jejuou no monte Sinai e recebeu os Dez Mandamentos
e as instruções para construir o Tabernáculo, mas quando desceu a
montanha, encontrou o povo adorando ídolos. Deus estava pronto
para destruir Israel, mas Moisés entrou imediatamente em um
segundo jejum de quarenta dias com oração (Deuteronômio 9:7-21).
Deus poupou Israel por causa da intercessão de Moisés.
Do mesmo modo, o sacerdote Esdras chorou porque os filhos
de Israel haviam feito concessões com sua fé. Quando chegou a
Jerusalém, ele descobriu que eles haviam casado com pagãos,
muito embora soubessem que isso era expressamente proibido nas
Escrituras. Corrigir o problema era complexo, porque novas famílias
haviam sido iniciadas e filhos haviam nascido. Esdras jejuou com
grande dor, sabendo que essas concessões desagradavam
profundamente a Deus e levariam a mais idolatria em Israel (Esdras
9:1-6). A oração e a confissão de Esdras fizeram com que muitos
outros tivessem convicção de seus pecados. Eles se reuniram para
confessar e cessar com aquele tipo de concessão com o pecado
(Esdras 10:1-6). O favor de Deus foi restaurado a Israel e o juízo foi
evitado.
O jejum para ter livramento nacional foi praticado ao longo da
história. Os líderes da Inglaterra convocaram dias de oração e jejum
nacional em vários momentos notáveis de crise. Em 1588, a nação
jejuou quando foi ameaçada pela Armada Espanhola. Mais tarde,
eles jejuaram para ter a ajuda de Deus quando Napoleão se
preparava para invadir a Inglaterra. Novamente, durante a Segunda
Guerra Mundial, George VI convocou um dia de oração e jejum
enquanto a Batalha da Grã-Bretanha era travada, pedindo a Deus
para impedir a invasão nazista. Em cada uma dessas três ocasiões,
Deus poupou a Inglaterra de uma grande crise.
O princípio da humilhação com jejum durante um período de
crise também é visto em um nível pessoal ao longo da Bíblia. Ana, a
mãe de Samuel, estava tão devastada por sua esterilidade física
que “chorava e não comia”. Deus atendeu ao seu clamor e lhe deu
um filho que cresceu e tornou-se um grande profeta (1 Samuel
1:7).
Davi também entendia que o arrependimento com jejum era a
única esperança de preservar a vida da criança que ele havia
concebido através de um relacionamento adúltero com Bate-Seba (2
Samuel 12:15-23). Nesse caso, o Senhor tirou a vida da criança,
mas a situação mostra que em uma crise pessoal, Davi sabia que a
única saída era voltar-se para Deus com oração e jejum (Salmos
35:13; 69:10; 109:24).
Nos dias do jovem rei Josias, uma profetisa chamada Hulda
mandou um recado ao rei dizendo que Deus estava se preparando
para julgar Israel por causa do pecado do povo. Josias respondeu
com jejum e oração (2 Crônicas 34:23-28). Deus viu o coração
sincero de Josias e retardou os juízos da invasão babilônica até
depois da morte de Josias.
O rei Acabe foi um dos reis mais cruéis da história de Israel.
Ele se humilhou com oração e jejum e Deus deteve o juízo que
estava preparado contra ele (1 Reis 21:25-29). O mesmo aconteceu
com o rei Manassés, que também foi um mau rei em Israel. Ele se
humilhou e recebeu a misericórdia de Deus, em vez do juízo certo
que estava para vir sobre ele (2 Crônicas 33:9-13).

5. Jejum por Proteção


O jejum por proteção pessoal também é bíblico. Depois que os
cativos judeus da Babilônia voltaram para Israel a fim de
começarem a reconstruir a nação, eles precisaram de ajuda. O
sacerdote Esdras liderou um grupo de pessoas de volta a Israel
para ajudá-los nessa tarefa. Enquanto ainda se preparavam para a
viagem, eles dedicaram tempo para jejuar e orar, pedindo a Deus
proteção na perigosa jornada. Os perigos da viagem no mundo
antigo eram sérios porque bandos de ladrões atacavam os grupos
de viajantes e roubavam o ouro e os suprimentos. Eles
costumavam matar todas as pessoas e vender seus bens. No
entanto, Esdras não queria solicitar uma escolta de soldados ao rei
persa, pois dissera ao rei que a bênção de Deus estaria sobre
eles. Ele jejuou e orou, e pediu a Deus proteção sobrenatural
enquanto eles passassem por terras estrangeiras. Deus atendeu
ao pedido de Esdras (Esdras 8:21-23).
Quando Daniel foi lançado na cova dos leões, o rei Dario e
Daniel jejuaram e oraram pedindo proteção. Em resposta, Deus
enviou um anjo à cova para fechar a boca dos leões (Daniel 6:18-23).
A vida de Daniel foi poupada em resultado da oração e do jejum.
Ester, uma mulher judia na corte persa, convocou os judeus na
Pérsia para jejuarem por três dias depois que um homem mau
chamado Hamã colocou em ação um plano para aniquilar todos eles
e tomar seus bens (Ester 3:13; 4:7). Ester precisou primeiro da
proteção divina quando compareceu diante do rei Assuero (Xerxes)
sem ser convocada. A penalidade para fazer o que Ester fez era a
morte. Muitos clamaram em oração e jejum (Ester 4:3, 16). O
Senhor poupou a vida de Ester diante do rei (Ester 5:1-6) e depois
reverteu a situação que os judeus estavam enfrentando e salvou-os
do plano maligno de Hamã (Ester 9:1).
Quando Pedro estava na prisão, a Igreja Primitiva se reuniu
para orar incessantemente. Em resposta, Deus enviou um anjo até
Pedro durante a noite. As cadeias que o prendiam caíram e o portão
de ferro da cidade se abriu espontaneamente (Atos 12:1-19).
A história da Igreja está cheia de exemplos de como a oração
e o jejum levaram à libertação dos servos de Deus do perigo. E
isso acontecerá muitas vezes nos tempos do fim (Salmos 91).

6. Jejum por Direção


Imediatamente depois de sua conversão no caminho para Damasco,
Paulo jejuou por três dias, esperando receber direção clara do
Senhor (Atos 9:9). Ao longo do Novo Testamento, vemos a Igreja
jejuando por sabedoria e direção sobrenatural. Enquanto estava em
Antioquia, Paulo e sua equipe jejuaram e oraram por direção
profética. Deus falou claramente, dando a eles a missão estratégica
de alcançar os gentios, conforme registrado em Atos 13:1-2. Essa
turnê missionária mudou a história. Paulo e sua equipe oraram
novamente com jejum quando precisaram escolher e comissionar os
presbíteros das novas igrejas em Listra, Icônio e Antioquia. “Paulo e
Barnabé designaram-lhes presbíteros em cada igreja; tendo orado e
jejuado, eles os encomendaram ao Senhor, em quem haviam
confiado” (Atos 14:23).
Jesus orou a noite inteira para receber direção antes de
escolher os Seus doze apóstolos. “Jesus saiu para o monte a fim de
orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus
discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou como
apóstolos” (Lucas 6:12-13).

7. Jejum para ter encontro e intimidade com Deus:


o jejum do Noivo

Então os discípulos de João vieram


perguntar-lhe: “Por que nós e os
fariseus jejuamos, mas os teus
discípulos não?”. Jesus respondeu:
“Como podem os convidados do
noivo ficar de luto enquanto o noivo
está com eles? Virão dias quando o
noivo lhes será tirado; então
jejuarão”.
Mateus 9:14-15

Durante o tempo de Jesus na terra, os discípulos se


acostumaram com Sua presença. Eles se sentiam amados e
valorizados por Ele e se alegravam na intimidade dessa amizade.
Jesus disse que a alegria que eles estavam experimentando com
Sua proximidade se transformaria em tristeza e saudades quando
Ele fosse tirado deles através da Sua morte. Ele falou sobre um
novo tipo de jejum fundado na Sua identidade como o Deus Noivo, e
no desejo de estarem com Ele. Os discípulos jejuariam com tristeza
por causa da Sua ausência e jejuariam ansiando pela Sua volta.
Eles jejuariam para potencializar a experiência da Sua presença e a
revelação de Sua beleza e Seu afeto por eles. Isso é o que
chamamos de “o jejum do Noivo”. Ele é alimentado principalmente
pelo desejo por Jesus , em vez de por um desejo de mais poder no
ministério ou de ser liberto de um juízo ou de uma crise.
Um precursor do jejum do Noivo foi o Yom Kippur, o Dia da
Expiação, que era um período anual de jejum para que Israel
chorasse pelo seu pecado e buscasse renovação (Levítico 23:26-
32). Deus estabeleceu esse jejum por revelação divina (Levítico
16:29), ao passo que outros jejuns no calendário judaico, como o
Purim, e aquele que é descrito em Zacarias 7-8, têm suas origens
na tradição histórica. Paulo e seus companheiros podem ter
observado o jejum do Dia da Expiação durante a jornada até Roma
(Atos 27:9).
Deus prometeu nos revelar as profundezas do Seu coração (1
Coríntios 2:10). Apenas uma pequena prova do Seu amor nos deixa
insaciavelmente famintos por mais, e o jejum acelera a velocidade
com a qual recebemos revelação de Deus. Ao entrarmos no jejum
do Noivo, lamentamos pelos nossos pecados, nosso coração é
ativado por um anseio por Jesus, e nossa capacidade espiritual de
receber livremente mais dele é aumentada.
O jejum por intimidade e por renovação espiritual também inclui
chorar pelo pecado que impede nosso relacionamento com o Senhor.
Lamentamos devido ao nosso desejo de sermos um com Deus e
devido à nossa pouca semelhança com Ele. Sentimos a dor da
imaturidade e de todas as coisas que temos abrigado na alma que se
colocam no caminho da nossa intimidade com Deus. Trata-se de
uma tristeza dada pelo próprio Deus, e é uma das maneiras pelas
quais o Senhor nos alinha com Ele próprio. Davi falou sobre humilhar
e purificar a alma com jejum quando confrontou os pecados que
atrapalhavam sua capacidade de contemplar a beleza de Deus
(Salmos 27:4; 35:13; 69:10; 109:24). Esse choro destina-se a “afligir”
a alma (Isaías 58:3), à medida que renunciamos a tudo que se coloca
contra o conhecimento do amor de Deus em nossa vida.

ALGUNS DETALHES PRÁTICOS SOBRE O


JEJUM
Várias durações de jejuns descritas na Bíblia
Jejum de um dia no Dia da Expiação (Levítico 16:29;
23:27).
Jejum de três dias, como fez Paulo após sua
conversão (Atos 9:9).
Jejum de sete dias, como o feito por Davi antes de
seu filho morrer (2 Samuel 12:15-18, 21-23).
Jejum de três semanas, como foi por Daniel,
buscando entender as Escrituras proféticas (Daniel
10: 2-3).
Jejum de quarenta dias, como o de Moisés (Êxodo
24:18; 34:28; Deuteronômio 9:9, 18); Elias (1 Reis
19:8); e Jesus, durante a Sua tentação (Mateus 4:2-
3).

Exemplos bíblicos de jejum coletivo


A Igreja jejuou e orou pela libertação de Pedro da
prisão (Atos 12:1-19).
Paulo e sua equipe em Antioquia jejuaram para
receber direção profética (Atos 13:1-3).
Paulo e sua equipe jejuaram ao comissionarem
presbíteros em Listra, Icônio e Antioquia (Atos 14:23).
Israel jejuou no Yom Kippur, Dia da Expiação (Levítico
16:29; 23:37; Atos 27:9).
Israel jejuou durante o Purim (Ester 9:30-31).
Israel jejuou no quarto, no quinto, no sétimo e no
decimo mês durante o cativeiro (Zacarias 7:3-5; 8:19).
Israel jejuou em Mispa antes de os filisteus atacarem
(1 Samuel 7:3-10).
Israel jejuou quando estava em guerra civil com os
benjamitas (Juízes 20:26-28).
Josafá e Israel jejuaram antes de irem para a guerra
com Moabe e Amom (2 Crônicas 20:3-4).
O rei Josias se humilhou (2 Reis 22:11-20).
O povo de Israel jejuou nos dias do rei Jeoaquim
(Jeremias 36:9-10).
A convocação de Joel para assembleias solenes (Joel
1:13-14; 2:12-15).
Ester e o povo de Israel jejuaram antes de um futuro
holocausto na Pérsia (Ester 3:13; 4:3, 7, 16: 5:6).
Esdras e outros jejuaram para buscar a Deus a fim de
alcançarem proteção a caminho de Jerusalém (Esdras
8:21-23).
Neemias e Israel, em Jerusalém, jejuaram para ter
renovação espiritual (Neemias 9:1).
O povo de Nínive jejuou após a pregação de Jonas
(Jonas 3:3-9).

Exemplos bíblicos de jejum individual


Os cristãos jejuam para experimentar Jesus como o
Deus Noivo (Mateus 9:14-15).
Jesus jejuou por quarenta dias (Mateus 4:1-3; Lucas
4:1-2).
Moisés jejuou no monte Sinai por quarenta dias
(Êxodo 24:18; 34:28; Deuteronômio 9:9, 18).
Elias jejuou por quarenta dias a caminho do monte
Horebe/Sinai (1 Reis 19:8).
João Batista seguia um estilo de vida de jejum
(Mateus 11:18).
Paulo seguia um estilo de vida de jejum (2 Coríntios
6:5; 11:27; Gálatas 4:19).
Paulo jejuou por três dias para receber direção clara
(Atos 9:9).
Paulo jejuava a fim de receber direção clara para
situações do ministério (Atos 13:1-2; 14:23).
Daniel jejuou para receber revelação sobre os tempos
do fim (Daniel 9:1-3, 20-23; 10:1-3, 12-14).
O rei Dario jejuou a noite inteira pela proteção de
Daniel na cova dos leões (Daniel 6:18-23).
A profetisa Ana viveu um estilo de vida de jejum e
oração por mais de sessenta anos (Lucas 2:36-37).
Cornélio orou e jejuou por um rompimento de
barreiras espirituais (Atos 10:1-4, 30-31).
Ester jejuou pelo livramento de Israel (Ester 4:16-5:6).
O rei Acabe se humilhou com oração e jejum (1 Reis
21:25-29).
Ana jejuou por causa da sua esterilidade (1 Samuel
1:7-8).
Davi jejuava com frequência (2 Samuel 12:15-23;
Salmos 35:13; 69:10; 109:24).
Esdras jejuou enquanto chorava por causa dos
casamentos entre israelitas e pagãos (Esdras 9:1-6).
Esdras jejuou novamente quando o povo se juntou a
ele em arrependimento (Esdras 10:1-6).
Neemias jejuou em Jerusalém pela renovação
espiritual de Israel (Neemias 9:1).
Neemias jejuou pela restauração (Neemias 1:1-11) e
renovação (Neemias 9:32-38) de Israel.
Capítulo 3
Como Entender o Jejum do
Noivo

Então os discípulos de João vieram


perguntar-lhe: “Por que nós e os
fariseus jejuamos, mas os teus
discípulos não?” Jesus respondeu:
“Como podem os convidados do
noivo ficar de luto enquanto o noivo
está com eles? Virão dias quando o
noivo lhes será tirado; então
jejuarão. Ninguém põe remendo de
pano novo em roupa velha, pois o
remendo forçará a roupa, tornando
pior o rasgo. Nem se põe vinho novo
em vasilhas de couro velhas; se o
fizer, as vasilhas se rebentarão, o
vinho se derramará e as vasilhas se
estragarão. Pelo contrário, põe-se
vinho novo em vasilhas de couro
novas; e ambos se conservam”.
Mateus 9:14-17

Um Jejum da Nova Aliança


Os discípulos de João Batista foram a Jesus com uma pergunta
preocupada e sincera. Eles estavam confusos e perturbados com a
falta de jejum entre os discípulos dele. João havia ensinado seus
discípulos a jejuarem com frequência, e eles viram que até os
fariseus hipócritas reconheciam o quanto essa disciplina era
essencial. Será que Jesus não valorizava o jejum? Será que lhe
faltavam as habilidades de discipulado e liderança para ensinar isso
aos Seus homens? A fome intensa dos discípulos de João por Deus
os havia levado a abrir mão de tudo na sua busca por Ele. A
sugestão que estava por trás da pergunta deles era a de que João
era um líder mais espiritual do que Jesus.
Jesus respondeu à indagação fazendo o que lhes pareceu uma
pergunta estranha. “Como podem os convidados do noivo ficar de
luto enquanto o noivo está com eles?” Então, Ele fez outra
declaração inusitada, dizendo que estavam chegando os dias em
que o Noivo seria tirado deles. Ele estava se referindo a Si mesmo
como o Noivo que seria tirado deles ao morrer na cruz. Jesus
sugeriu que, então, Seus discípulos jejuariam com a mesma
consistência e intensidade que os discípulos de João jejuavam. O
jejum deles, porém, seria resultado do anseio e do lamento por
Jesus como Noivo. Jesus usou a pergunta deles para apresentar-se
como o Noivo — essa foi Sua primeira referência nas Escrituras a Si
mesmo como o Noivo. Ele estava introduzindo um novo paradigma
de jejum, um jejum motivado pelo desejo de encontrar Sua bela e
amorosa presença.
No Antigo Testamento, o jejum em geral era uma expressão
de tristeza pelo pecado ou uma súplica a Deus para que Ele
livrasse fisicamente Seu povo da calamidade. Em muitos casos,
isso havia se degenerado em um exercício puramente religioso,
como o que os fariseus legalistas praticavam. Agora, o Senhor
estava dizendo que havia algo novo. Após Sua morte, depois que
a Nova Aliança havia sido estabelecida, o jejum assumiria uma
dimensão inteiramente nova. O Espírito Santo que habita em cada
cristão tornaria isso possível. O jejum no qual os discípulos dele
entrariam seria um jejum relacionado à intimidade com Jesus
como o Noivo.
Na Nova Aliança, Deus abriu as profundezas do Seu coração
para todos os cristãos através do Espírito Santo (1 Coríntios 2:10;
Hebreus 10:19-22). É um privilégio além da compreensão o fato de
seres humanos fracos poderem experimentar as profundezas do
coração de Deus. Essa é a nossa herança e o nosso destino. Nunca
devemos nos contentar em viver sem uma experiência crescente
com o coração de Deus. “O Espírito sonda todas as coisas, até
mesmo as coisas profundas de Deus... Recebemos... o Espírito...
para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado
gratuitamente” (1 Coríntios 2:10-12).
Os apóstolos experimentaram essa intimidade de conhecer o
Homem Cristo Jesus enquanto Ele andou sobre a terra. Jesus
insistiu que eles não jejuassem durante esse tempo, mas se
alegrassem. Assim como não haverá jejum na era que está por vir,
porque estaremos face a face com Ele, seria desnecessário os
discípulos jejuarem quando Deus era sua companhia diária.
Mas as coisas mudaram para os apóstolos depois que Jesus
foi levado pela morte. A promessa da Nova Aliança ainda pertencia
a eles — a intimidade com Jesus —, mas Sua presença física se
fora. Eles choraram e ansiaram por experimentar mais da Sua
presença. Ele havia despertado um profundo desejo no coração
deles do qual eles não estavam totalmente cientes até serem feridos
pela Sua ausência. Os discípulos ansiavam por Ele, pela Sua
proximidade. Quando a alegria transbordante da presença imediata
de Jesus lhes foi tirada, eles ficaram tristes. Então, jejuaram.

O Jejum do Noivo Tem a Ver Com Desejo


O livro de Cântico dos Cânticos 5:8 diz: “...se encontrarem o meu
amado... Digam-lhe que estou doente de amor!”. O Cântico dos
Cânticos descreve o relacionamento entre Jesus, o Noivo; e a
Igreja, Sua Noiva. Ele descreve a Igreja doente de amor por Deus
(Cântico dos Cânticos 2:5; 5:8). Até a lembrança dos encontros mais
chegados com Jesus há muitos anos criam uma fome hoje, um
anseio que não se satisfará até que o experimentemos vez após vez
em medidas cada vez maiores. Estar doente de amor é chorar pela
presença amorosa de Jesus como o Deus Noivo. Ninguém pode
consolar nosso coração doente de amor a não ser Ele. Um coração
que não chora por mais dele é um coração que aceita seu estado
atual de esterilidade espiritual como tolerável e suportável. Um
coração que chora está terrivelmente descontente; ele tem uma
fome desesperada por Deus. Esse é o jejum do Noivo.
O jejum do Noivo está focado no desejo: tanto de entender o
desejo de Deus por nós quanto de despertar nosso desejo por Ele.
Deus nos transmite novos desejos enquanto atende aos já
existentes. A esperança de um coração doente de amor não será
decepcionada, pois Jesus prometeu que seríamos saciados quando
chorássemos por mais dele. “Bem-aventurados os que choram, pois
serão consolados” (Mateus 5:4). “Bem-aventurados os que têm
fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos” (Mateus 5:6).
A alegria que os primeiros apóstolos experimentaram com a
proximidade de Jesus se transformou em tristeza e anseio, e até
adoeceu o coração deles, quando Jesus lhes foi tirado. Esse mesmo
anseio e desfalecimento no coração tem um propósito dinâmico em
nós. A fome espiritual é um dom divino que nos leva a buscar
experiências maiores com Seu amor, não importa o preço. Ela faz
com que estejamos dispostos a realizar as mudanças necessárias
em nosso coração e em nossa vida para que o amor possa fazer
toda a sua vontade em nós.
Fomos criados para amar e sermos amados por Deus, e Ele
nos criou para ansiarmos por Ele até que o clamor do nosso
coração seja atendido. O Senhor aumenta nossa experiência com
Ele despertando e depois respondendo ao desejo dentro de nós.
Primeiro, nos estágios iniciais, Ele nos envolve amorosamente, nos
faz sentir Seu amor se agitar dentro de nós. Embora isso traga certa
satisfação à alma, também desperta um anseio mais profundo e
uma fome maior por mais. Quando provamos apenas um pouco da
presença de Deus, não podemos mais viver sem Ele. Essa foi a
maneira como Deus planejou. Fome gera fome e as profundezas
clamam por ir mais fundo ainda (Salmos 42:7). A cada satisfação
que Deus nos traz, ficamos com uma fome ainda maior por mais
dele. É através da nossa fome que Ele nos conduz para a plenitude
do amor. Jejuamos em resposta ao gemido do coração por mais de
Deus.

O Propósito do Jejum do Noivo


Por que Jesus iria querer que Seus amigos chorassem enquanto Ele
estivesse longe? Ele não é um Deus de alegria que quer que Seus
seguidores vivam vidas definidas por essa mesma alegria? Essas
perguntas nos levam ao coração do jejum do Noivo e ao seu
propósito. Sim, fomos criados para viver em alegria, mas essa
alegria só pode ser encontrada na Pessoa e na presença de Jesus.
Alegria sem Jesus não é alegria.
Chorar e jejuar pelo Noivo é a nossa maneira de posicionar o
coração para viver pelo desejo por Deus, e não pelas
concupiscências desta era. Nosso choro por Ele dá testemunho de
que não somos deste mundo e de que nos recusamos a ser
controlados pelas seduções de Satanás, o dominador deste mundo.
Esse anseio santo não será satisfeito plena ou completamente até
vivermos face a face com Jesus na era que está por vir. Sua
segunda vinda é, no fim das contas, a plenitude da resposta e do
consolo pelo qual choramos. É na Sua vinda que encontraremos
nossa maior alegria (Salmos 119:19-20; Romanos 8:23-25; Hebreus
11:16). Até esse dia, porém, continuaremos a gemer dentro de nós,
aguardando ansiosamente que Ele venha mais uma vez.
O propósito do jejum do Noivo vai além de ansiar pelo retorno
de Jesus: é o anseio por experimentar Sua presença agora. Em
meio à demora, a espera entre a Sua primeira vinda e a segunda,
Deus permite que experimentemos uma medida da Sua presença.
Ele enviou o Espírito Santo para podermos encontrar Sua presença
e amar sem medida até mesmo agora. O jejum do Noivo alarga
nosso coração para experimentarmos esse amor divino e essa
presença divina agora.
Deus nos projetou de modo que quando nos entregamos a Ele
por meio do jejum e da leitura da Palavra, nossa capacidade de
receber mais dele aumenta. Nenhuma outra dimensão da graça de
Deus escancara os lugares mais profundos do nosso ser como o
jejum e o ato de enchermos o coração com textos bíblicos que
enfatizem as verdades de Jesus como nosso Noivo. O jejum atua
como um catalisador para aumentar a profundidade e a medida
até onde recebemos do Senhor. Jejuando recebemos medidas
maiores de revelação em um ritmo acelerado , o que exerce um
impacto mais profundo no nosso coração.
Um dos principais propósitos do jejum do Noivo é fazer nosso
coração se mover em amor e anseio por Deus. Não jejuamos na
tentativa de fazer Deus prestar atenção em nós, mas para
entrarmos plenamente no amor e na presença de Deus, que já são
nossos em Cristo. Não é para mover o coração dele, mas para
mover o nosso , que tende à preguiça e ao enfraquecimento — e se
não confrontarmos isso deliberadamente, ficamos endurecidos sem
perceber. O jejum do Noivo enternece nosso coração de modo que
o enfraquecimento acaba e podemos experimentar as afeições de
Deus em maior medida. Nosso coração se torna terno e nosso
desejo é alimentado à medida que experimentamos os prazeres de
conhecê-lo.
Enfatizo que nosso desejo por Deus é o presente dele para
nós. Entretanto, esse anseio por Deus gera dor. Somos feridos por
esse amor. Isso opera coisas boas em nós. Ele não nos inflige um
sofrimento sem sentido, de modo que podemos ter certeza de que
esse anseio tem um propósito. A fome espiritual é um agente divino
que nos leva a um amor maior. É um instrumento que abre espaço
para o amor e a pureza em nossos corações e expande a alma. Não
podemos entrar na plenitude do amor sem a etapa preparatória de
chorarmos por mais dele.
Nosso desejo por Jesus gera o pranto ou a dor do
desfalecimento de amor, que por sua vez nos compele a fazer
mudanças na vida para podermos receber tudo o que é nosso em
Deus. Somos feridos no amor porque Ele retém deliberadamente
uma medida da Sua presença, a fim de nos levar a uma maior
intimidade enquanto Ele opera a humildade e produz mansidão em
nós, a fim de que a proximidade com Deus seja mantida em nós em
longo prazo.
O jejum do Noivo também gera santidade na alma. Jejuar por
renovação espiritual inclui chorar pelo pecado que impede nosso
relacionamento com Ele. Quanto mais desfalecemos de amor por
Deus, maior é nossa convicção interior, assim passamos a não
tolerar nada que se opõe à vida de Deus em nós. Não nos
contentamos mais em viver em pecado ou fazendo concessões com
a fé — entregamos tudo porque o desfalecimento de amor nos
compele a isso. O jejum destina-se a “afligir” a alma enquanto
renunciamos a tudo que se levanta contra o conhecimento do amor
e do poder de Deus em nossa vida (Isaías 58:3, 5). Davi falou sobre
humilhar e castigar a alma com jejuns quando confrontou os
pecados que limitavam sua capacidade de contemplar a beleza de
Deus (Salmos 27:4; 35:13; 69:10; 109:24).
Jejuar por causa do amor expõe as concessões que fazemos e
nossa dependência ímpia das coisas mundanas. É uma maneira de
manter o coração espiritualmente desperto e alerta em um mundo
tenebroso, que naturalmente enfraquece e contamina o espírito
humano. Nosso amor a Deus deve ser expresso em nossa busca
por perseguir a obediência total. Jesus disse: “Quem tem os meus
mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que
me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me
revelarei a ele” (João 14:21).
Uma maneira essencial de mantermos o amor por Deus
enquanto procuramos viver retamente, é guerreando com as
concupiscências dentro de nós. A concupiscência tem muitas
expressões diferentes, entre elas: orgulho, ira, cobiça, roubo,
imoralidade, pornografia, amargura, ódio, difamação, ciúme,
embriaguez, exagero com comida ou diversão, vícios legais e
ilegais, e outros (Marcos 7:21-22; Gálatas 5:19-21; 1 João 2:16-17).
1 Pedro 2:11 diz: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e
forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que
combatem contra a alma” (ACF). Assim, prantear pelo Noivo
envolve arrependimento. Prantear é rasgar o coração, como o
profeta Joel insistiu: “‘Agora, porém’, declara o Senhor, ‘voltem-se
para mim de todo o coração, com jejum, lamento e pranto. Rasguem
o coração... pois Ele é misericordioso e compassivo...’” (Joel 2:12-
13). Quando jejuamos, nosso coração se enternece em direção ao
Senhor, somos mantidos na posição de rasgar o coração (v. 13)
continuamente e de convidar o Espírito Santo para nos sondar, para
ver se existe algum caminho mau em nós (Salmos 139:23-24). O
jejum é um presente dado por Deus que nos ajuda a “escapar” das
preocupações desta vida e da corrupção do pecado e das trevas.
Ele permite que nos libertemos do domínio das seduções da nossa
cultura para que possamos tomar posse do propósito para o qual
Deus nos conquistou (Filipenses 3:12).

No Jejum é Preciso Ter Visão Elevada


Qualquer pessoa que deseje viver uma vida caracterizada pelo
jejum precisa começar com uma visão elevada, uma visão de
experimentar a plenitude do que Deus quer dar a cada um de nós
nesta era. Jejuamos porque não podemos suportar viver em
esterilidade espiritual. A pessoa que jejua entende o vácuo
existente entre o que Deus quer dar a ela e o que ela tem
experimentado de fato. A falta na nossa experiência faz com que
fiquemos descontentes e lamentemos. Quando reconhecemos que
há uma dimensão em Deus à qual somos convidados, mas ainda
não estamos experimentando, ficamos devastados. Precisamos ter
essa plenitude. Esse estado de “devastação” é uma parte essencial
do estilo de vida de jejum. Sem visão ou esperança de alcançar
mais em Deus, não jejuaremos.
A Igreja hoje carece de uma visão renovada do jejum.
Precisamos reconhecer o jejum como um presente de Deus que
leva o espírito humano à fascinação e ao êxtase diante dele. Deus
nos deu a graça do jejum do Noivo para que possamos maximizar o
privilégio de encontrar o Deus Noivo, Jesus. Deus não pretende que
o jejum seja algo que detestamos. É um presente que se destina a
enternecer nosso coração e a trazer grande mudança à nossa vida.
Jejuar expressa visão e determinação de ter mais de Deus, e a dor
de reconhecer as formas como costumamos deixar a desejar.
Jejuamos porque cremos que Deus deseja tomar a visão com a qual
Ele nos marcou e cumpri-la com o tempo. Cremos na promessa de
Jesus de que existem verdadeiramente recompensas dadas pelo
Pai, e nos recusamos a viver como se essa promessa não fosse
verdade (Mateus 6:17-18).

Vinho Novo e Odres Novos

Ninguém põe remendo de pano novo


em roupa velha, pois o remendo
forçará a roupa, tornando pior o
rasgo. Nem se põe vinho novo em
vasilhas de couro velhas; se o fizer,
as vasilhas se rebentarão, o vinho se
derramará e as vasilhas se
estragarão. Pelo contrário, põe-se
vinho novo em vasilhas de couro
novas; e ambos se conservam.
Mateus 9:16-17
Imediatamente depois que Jesus apresentou a ideia do jejum
do Noivo, Ele falou do vinho novo sendo colocado em odres novos
(Mateus 9:16-17). É notável que Ele tenha profetizado sobre odres
novos no contexto do jejum do Noivo. O vinho novo fala da presença
do Espírito Santo e do Seu impacto sobre as pessoas à medida que
Ele libera poder em nós, o que faz com que nos regozijemos em
amor. O vinho dele é sempre “novo”, pois Ele transmite
continuamente revelações novas e frescas sobre o coração de
Deus. Não é que a Palavra de Deus seja nova, mas que a
descoberta ou a ênfase de certas passagens bíblicas é nova para
uma geração em particular.
Agora mesmo, o Espírito está levantando muitos homens e
muitas mulheres que estão tendo e terão novos encontros com
Jesus. Eles são os antigos tesouros que os santos ao longo das
eras experimentaram, mas são novos para nós. O resultado será
uma companhia ungida de pessoas que têm um coração fascinado
e que desfalece de amor por Jesus. Mas onde essa companhia de
cristãos se encaixa na cultura atual de concessão espiritual que
permeia a Igreja?

Odres Novos
Odres novos representam as novas estruturas necessárias para
servir às pessoas que têm experiências com o vinho novo. As
pessoas do vinho novo veem Deus, veem a si mesmas e veem sua
missão de maneira muito diferente do que viam antes de
encontrarem Jesus como Noivo. Elas têm novos valores e novos
paradigmas do Reino. Esses cristãos que recentemente começaram
a desfalecer de amor precisam de novas estruturas, e essas novas
estruturas precisam ser governadas por líderes que compartilhem
dos valores que fluem de experimentar as afeições e o poder do
Noivo. Aqueles que sustentam os paradigmas, os valores e o
controle do velho odre não podem liderar essas pessoas.
Jesus falou sobre odres novos para aquela geração,
apontando para as novas estruturas que surgiriam em resultado do
derramamento do Espírito no dia de Pentecostes. Ele sabia que o
sistema da sinagoga não seria suficiente para prover uma estrutura
para aqueles que estavam experimentando continuamente Seu
poder, Sua revelação e Sua paixão. Jesus estava profetizando que
as velhas estruturas se romperiam e que o vinho se derramaria e
seria perdido. O Senhor logo substituiu o odre velho existente (a
estrutura religiosa da sinagoga) por uma comunidade de cristãos do
Novo Testamento liderada por pessoas improváveis, como
pescadores, ex-prostitutas e coletores de impostos. Esse princípio
de precisar de odres novos para um novo mover do Espírito se
repetiu muitas vezes ao longo da história, e se repetirá no fim desta
era.
Hoje, o Espírito Santo deseja novamente derramar vinho novo
— a presença ativa do Noivo. Deus nos dará tudo que Ele deu à
Igreja Primitiva. Na geração na qual o Senhor voltar, os milagres do
Livro de Atos se combinarão aos milagres do Livro de Êxodo.
Quando o Espírito Santo vier em pleno poder manifesto, todos os
odres que não concordarem com Ele serão rompidos e quebrados.
Não é possível habitar com Deus a não ser estando em unidade
com Ele. O vinho do Espírito Santo só será derramado
continuamente dentro de um ambiente ou de uma estrutura que lhe
seja apropriada. O vinho das verdades recém-enfatizadas que o
Espírito Santo ilumina em um avivamento, em geral se perde nos
sistemas antiquados. Nada é mais trágico que o vinho sendo
derramado e a presença e o poder manifesto do Espírito se
perderem. Algumas estruturas antiquadas deste tempo serão
reavivadas e renovadas. Entretanto, a maioria não o será. A história
mostra que um novo mover de Deus geralmente encontra
resistência por parte das pessoas. Grandes mudanças estão vindo
para cada um de nós, assim como para a estrutura da Igreja e dos
ministérios.
Nesta hora vindoura, milhões de pessoas experimentarão
novas dimensões do coração e do poder de Deus enquanto elas o
encontram como o Rei Noivo e Juiz. As estruturas religiosas de hoje
são lideradas predominantemente por pessoas que não estão
desfalecendo de amor. Elas não saberão o que fazer com as ex-
prostitutas e os pescadores que são ungidos com esse
desfalecimento. O jejum do Noivo é um jejum dos meios através dos
quais a onda de desfalecimento de amor dominará a Igreja,
resultando na criação de novas estruturas para acomodá-los. A
revelação de Jesus como o Noivo, junto com o jejum do Noivo, será
uma parte vital da transição dos sistemas de odres velhos para as
estruturas e o modo de vida do Novo Testamento.
Capítulo 4
Famintos de Tudo o que Deus
Quer nos Dar
ana falando) Vários anos atrás, o Senhor começou a trazer
(Dconvicção ao meu coração sobre a pouca fome que eu tinha
por Ele. Deus abriu meu entendimento para o quanto queria me
dar verdadeiramente e me mostrou o quanto minha experiência real
estava distante dessa plenitude. Então, Ele começou a
desestabilizar minha vida de propósito, revelando-me o princípio de
que Ele dá mais de Si mesmo de acordo com nossa fome por mais.
Até que minha capacidade de receber dele fosse ampliada pela
fome espiritual, eu ficaria limitada na minha experiência com Deus.
Embora conhecesse Deus a vida inteira, eu nunca havia
considerado que me faltava essa fome interior. Meu coração era
muito pequeno, não tinha tanta capacidade, mas eu não sabia disso.
Eu pensava que amava Deus intensamente, mas Ele me revelou
que, na verdade, minha sede era pequena se comparada com o que
poderia ser. Essa revelação foi realmente um presente. Naquele
momento, entrei no que agora chamo de “anseio por ansiar” ou
“fome por ter fome”. Eu estava na tensão entre querer
sinceramente querer Deus e ainda não ter sido dominada pela
fome por Ele; e era exatamente aí que Deus queria que eu
estivesse. Fome gera fome e, com o tempo, Ele fez meu desejo
inicial se desenvolver para um desejo forte e, então, o Senhor me
respondeu com mais dele, como Ele ama fazer. Jesus disse: “Bem-
aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão
saciados” (Mateus 5:6, ARA).
Jesus libera Seu poder e Sua presença a nós em proporção
direta à nossa fome por Ele. A fome espiritual vem quando
adquirimos a visão de ter tudo que Deus quer dar ao nosso espírito
deste lado da eternidade. Deus quer levar os cristãos de hoje muito
além do que os primeiros cristãos experimentaram no Livro de
Atos. Antes de voltar, Ele vai derramar o Espírito Santo em níveis
que a Igreja historicamente nunca testemunhou. A dimensão total
daquilo com o qual Ele quer inundar nosso ser em termos de
experiência do prazer divino e de encontros poderosos com o
Espírito Santo ainda não chegou sequer à nossa mente (1 Coríntios
2:9-12). Mas essa plenitude, essa abundância da recompensa
divina transferida para o homem interior, é a visão que Deus anseia
que busquemos. Mais uma vez, Ele dará de acordo com nossa
fome; assim, nossa prioridade deve ser a de nos tornarmos
famintos.
Alguns pensam que estão espiritualmente famintos quando
têm um interesse recém-despertado pelas coisas de Deus. Mas
interesse ainda não é fome. Comprar um livro que fala do Reino é
bom, mas ainda não é fome. Fome é quando não podemos viver
sem mais, quando fazemos alterações radicais no nosso estilo de
vida a fim de buscarmos Deus. Uma boa maneira de medir a
realidade da nossa fome é medindo o quanto somos capazes de
reorganizar a vida, o tempo, o dinheiro e o conforto para buscar o
motivo da nossa fome.
Jeremias profetizou sobre a fome espiritual genuína quando o
Senhor disse estas palavras através dele: “‘Então, clamareis a mim
e eu os ouvirei. Buscar-me-eis e achar-me-eis, quando me
buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós’, diz o
Senhor” (Jeremias 29:12-14, ARA). Deus promete que será
encontrado quando for buscado por qualquer pessoa que tenha um
coração genuinamente faminto.
Jeremias nos ensinou que apenas fazer orações não é o que
Deus requer de nós. Usar uma linguagem espiritual e fazer
declarações grandiosas na oração não impressiona Deus. Ele
inspeciona as profundezas do coração humano e vê o vazio e a
esterilidade espiritual. É aí que boa parte da Igreja ocidental erra o
alvo. Podemos frequentar cultos com regularidade e até ir a
algumas reuniões de oração. Podemos dizer a Deus que o amamos
e que queremos mais no nosso relacionamento com Ele. Mas,
enquanto isso, Deus está nos chamando para viver o estilo de vida
radicalmente diferente e necessário para experimentarmos uma
intimidade profunda com Ele. O Senhor está buscando algo muito
mais profundo que a frequência às reuniões de oração. Ele quer
realmente tomar posse de nós. Quer que nossa vida seja governada
e regida pelo nosso anseio por Ele. E a fome espiritual é de máxima
importância para mantermos a busca por Deus.
Precisamos de mais encontros pessoais com Deus, mas
também de que Seu poder seja liberado em sinais, maravilhas e
milagres. A manifestação do Seu poder também é precedida por
uma fome desesperada. A Igreja precisa operar em oração intensa e
constante, aliada ao jejum, a fim de que o poder manifesto de Deus
se revele em nosso meio. Enquanto nos contentarmos com
paralíticos que não andam, cegos que não veem e surdos que não
ouvem, viveremos sem esses milagres. A mudança que ansiamos
não acontecerá sem intensidade espiritual (Jeremias 29:13),
portanto, em Sua graça, o Senhor está fazendo de nós um povo que
não pode viver sem a plenitude da Sua bênção. Nossa parte é nos
tornarmos tão dominados pela visão elevada de tudo o que Deus
quer nos dar, que simplesmente não possamos viver com as coisas
da maneira como elas estão. Precisamos fazer nossa parte e Deus
fará a dele.

Violência Espiritual
No Antigo Testamento havia uma grande limitação do que um
cristão podia experimentar em Deus. A porta para todos entrarem
nas coisas profundas do Espírito (1 Coríntios 2:10) só foi aberta
quando Jesus estabeleceu a Nova Aliança por meio da Sua morte
e ressurreição, que deu o Espírito Santo ao coração dos homens
(Hebreus 10:19-22). Antes disso, o Espírito de Deus vinha
ocasionalmente sobre certas pessoas, geralmente profetas ou reis,
a fim de ungi-los para que realizassem uma tarefa específica.
Entretanto, após a morte e a ressurreição de Jesus, o Espírito
Santo se tornou acessível a todos. Ele agora habita em todos os
cristãos e os impulsiona, possibilitando uma experiência de
proximidade a todos os que estão famintos da presença de Deus.
Trata-se de uma transição grandiosa, um presente e um convite
tão ilimitado e glorioso, que não creio que tenhamos compreendido
ainda a profundidade do que aconteceu. Deus disponibilizou tudo a
nós por meio do Seu Espírito Santo no nosso homem interior! O
peso desse presente é tão grande que deveria nos fazer tremer de
assombro.
Jesus abriu toda uma nova compreensão sobre como viver a
vida no Espírito quando ensinou que o Reino de Deus é tomado de
maneira violenta, ou seja, que força espiritual pode ser empregada
para buscá-lo. “E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz
violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele” (Mateus
11:12, ACF). Dizer que o Reino sofre violência ou é tomado à força
significa que ele “permite” (recompensa ou requer) força espiritual
na nossa busca por Deus. Sim, tudo está disponível a nós no
Espírito, mas precisamos entrar nessas coisas de maneira ativa.
Precisamos tomar posse delas. Nessa passagem, Jesus nos
convidou a usar de força espiritual ao dizer, basicamente: “O Reino
do céu permite que usemos de intensidade violenta — alguém
aceita o convite?”. Isso não se aplica apenas às áreas óbvias de
batalha espiritual. O Senhor está nos estimulando a buscar uma
intimidade profunda com Ele, por meio de um amor santo e violento,
e a cultivar um estilo de vida de “violência espiritual”.
Mais uma vez, o jejum exerce um papel vital e insubstituível
nesse contexto. É “violento” tanto nas suas exigências quanto no
seu impacto sobre a nossa existência. Exige que confrontemos cada
área da vida que não esteja em concordância com o Espírito.
Requer que declaremos guerra ao pecado, a Satanás e ao espírito
religioso. Entretanto, o jejum libera um impacto gloriosamente
violento sobre a nossa vida, nos libertando dos caminhos de pecado
e nos enchendo com a revelação de Deus.
Ser espiritualmente violento significa que pagaremos qualquer
preço de renúncia a fim de obedecer à vontade de Deus. Salomão
disse isso bem: “Se alguém oferecesse todas as riquezas da sua
casa para adquirir o amor, seria totalmente desprezado” (Cântico
dos Cânticos 8:7). Em outras palavras, quando o amor está fazendo
a sua obra em nosso coração, não existe preço alto demais. O
homem dará a quem ama todos os seus bens liberalmente, sem
levar em conta o preço. A fonte da nossa “violência espiritual” não é
o medo; é o amor de Deus. Qualquer tipo de violência ou entrega
que não esteja enraizada no amor não tem proveito algum, segundo
a descrição de Paulo (1 Coríntios 13:3). O amor alimenta nossa
intensidade espiritual.
A obediência radical exerce um efeito devastador sobre a
carne, mas faz o espírito voar em Deus. Ela confronta e reorganiza
a maneira como gastamos nosso tempo e nosso dinheiro; como
falamos e nos divertimos; como expressamos nossa sexualidade e
buscamos sucesso ou honra. Não é uma realidade casual. Ela
permeia todas as áreas da vida. O jejum é tão violento em sua
oposição à própria carne e ao próprio orgulho quanto em seu
impacto sobre o reino do diabo e seus sistemas religiosos. Mas,
interiormente, ele tem o efeito de nos aproximar daquilo para o qual
fomos criados, à medida que as fortalezas são destruídas e somos
libertos para voar em Deus.
Jesus associou a violência espiritual ao estilo de vida radical
de João Batista. Ele chamou João de o maior homem nascido de
mulher (Mateus 11:11). Qual era a medida da grandeza de João? A
que Jesus fez referência nessa descrição maravilhosa do profeta?
Sem dúvida, não foi ao tamanho do seu ministério ou ao número de
pessoas que ele impactou. Os números eram muito baixos se
comparados ao tamanho dos ministérios de hoje. Jesus estava se
referindo à violência espiritual de João. João carregava uma
determinação tremenda de seguir a Deus sem concessões, por isso
Jesus descreveu-o com uma aclamação tão forte.
Nós também podemos ser grandes em Deus se formos
determinados e violentamente intensos em nossa obediência a Ele.
Você pode imaginar estar diante do trono de Deus um dia e ouvir a
voz real de Jesus, aquela Voz de muitas águas, declarar: “Eu chamo
você de grande aos Meus olhos”? Grandeza para Deus tem a ver
com amor, obediência e mansidão; tem a ver com uma
determinação violenta no coração daqueles que o buscam. Todo
aquele que quiser ser grande em Deus pode ser. O Reino dos céus
leva em conta a intensidade violenta, e os violentos o tomam pela
força.

Buscando a Medida Total


“‘Considerem atentamente o que vocês estão ouvindo’, continuou
ele. ‘Com a medida com que medirem, vocês serão medidos; e
ainda mais lhes acrescentarão’” (Marcos 4:24). Jesus nos ensinou a
prestar atenção àquilo que ouvimos — o que entendemos e
recebemos como o padrão de Deus para nossa vida. A qual nível de
intimidade Deus está querendo nos atrair? Acreditamos realmente
nas recompensas que Deus prometeu para aqueles que alinharem a
vida da maneira prescrita na Sua Palavra? Ouvimos Seu convite? O
que estamos aceitando como a visão da nossa vida em Deus? Qual
é a visão que você tem de onde seu coração pode ir em Deus?
Isso pode nos surpreender, mas de fato nós mesmos
determinamos parte da medida de bênçãos espirituais que o Senhor
nos dará, assim como parte da medida da nossa grandeza na era
que está por vir. Crer em uma medida pequena demais irá nos levar
apenas a isso. Aqueles que realmente ouviram acreditarão e agirão
com base no que Deus disse. Àqueles que “ouvirem” o que Deus
realmente quer lhes dar, mais será dado. A postura necessária é a
de ouvinte; uma postura de receber Suas promessas como
verdadeiras e de organizar a vida de maneira a alcançá-las. Por que
coisas lutaremos na nossa experiência com Ele? O que
reivindicaremos como herança? Precisamos ter uma visão do que
Deus dará ao nosso coração, assim como uma visão do que Ele
fará através de nós no nosso ministério.
Porém, não limite sua visão apenas ao seu ministério.
Precisamos ter uma visão de até onde Deus levará nosso coração
em amor, mansidão e revelação. Não devemos ficar
excessivamente satisfeitos com uma medida pequena, pois Jesus
nos dará de acordo com a medida ao redor da qual edificarmos
nossa vida. A extensão da nossa expectativa, ou da nossa fé,
define o que perseguimos tenazmente em Deus. Se nos recusarmos
com veemência a nos contentarmos com qualquer coisa menos que
Sua plenitude, seremos recompensados com aquilo que desejamos.

Pagando o Preço
A maioria dos cristãos não se importa de ouvir pregações sobre
santidade e obediência radical. O que perturba a Igreja ocidental é
ver alguém realmente viver esses princípios em áreas da vida real
que afetem seu tempo e seu dinheiro. Isso é algo que atinge o alvo.
Isso convence os cristãos que ainda não decidiram viver em cem
por cento de obediência. A razão para isso é uma sensação
automática de juízo.
Sim, Deus recompensa a intensidade espiritual. A medida que
Ele abrirá para nós será tão grande quanto a medida da nossa
busca perseverante. Mas há um preço. O preço da obediência não é
indefinido; e não é algo sobre o que podemos simplesmente falar. É
aí que a tensão começa a aumentar. Precisamos deixar de lado as
concessões, os confortos egoístas, o orgulho, o medo e o raciocínio
religioso. A obediência precisa ser vivida nas questões práticas da
vida real. Para aqueles com almas radicais, eis uma advertência:
isso não é um convite para ser irresponsável. Não precisamos
abandonar as responsabilidades que Deus nos deu a fim de
obedecermos a Ele. Isso é uma contradição. O que estamos falando
é sobre o compromisso abnegado de ouvir e obedecer,
independentemente do que Ele nos diga para fazer.
O rei Davi viveu uma vida de obediência radical e zelo
consumidor, e isso lhe custou o respeito de muitas pessoas,
inclusive de sua família. O Salmo 69 é um salmo messiânico, o que
significa que ele expressa a vida e a oração de Davi, e ao mesmo
tempo aponta para Jesus, nosso Messias. Davi fala sobre suportar
afrontas por causa do seu zelo por Deus (v. 7). Ele foi ridicularizado
por buscar a Deus radicalmente. Ele se sentia como “um estranho”
para os seus irmãos (v. 8). Seus amigos e sua família não o
reconheciam mais porque seus valores, suas práticas e seu estilo
de vida (v. 9) eram muito diferentes dos deles. O zelo por Deus o
havia consumido, e eles o rejeitavam por isso.

Pois por amor a ti suporto zombaria,


e a vergonha cobre-me o rosto. Sou
um estrangeiro para os meus irmãos,
um estranho até para os filhos da
minha mãe; pois o zelo pela tua casa
me consome, e os insultos daqueles
que te insultam caem sobre mim.
Até quando choro e jejuo, tenho que
suportar zombaria; quando ponho
vestes de lamento, sou motivo de
piada. Os que se ajuntam na praça
falam de mim, e sou a canção dos
bêbados.
Salmos 69:7-12
Davi havia se tornado uma pessoa diferente segundo o ponto
de vista deles. Os que lhe eram próximos não o entendiam mais.
Ele havia mudado tanto que seus amigos lamentavam a perda da
pessoa que ele costumava ser. Davi estava disposto a suportar
afrontas, a parecer tolo. Em seu zelo, ele chorava e jejuava. Isso
fazia com que ele recebesse ainda mais zombarias (v. 10). O jejum
abranda nosso espírito. As lágrimas associadas ao jejum não são
apenas lágrimas de arrependimento, mas também lágrimas de
ternura. A família de Davi não gostava que ele jejuasse e não
gostava das lágrimas dele. Tudo aquilo incomodava os que o
cercavam (v. 11).
Em um momento como este — sim, hoje — Deus está
levantando aqueles que o buscarão com violência espiritual, como
João Batista fazia, e com o zelo apaixonado que o rei Davi exibia.
Fazemos isso vivendo um estilo de vida de jejum. Nos capítulos a
seguir, trataremos da razão pela qual Deus quer que levemos um
estilo de vida de jejum.
Capítulo 5
Jejum: Abrace a Fraqueza
Voluntária
Para impedir que eu me exaltasse
por causa da grandeza dessas
revelações, foi-me dado um espinho
na carne, um mensageiro de
Satanás, para me atormentar. Três
vezes roguei ao Senhor que o tirasse
de mim. Mas ele me disse: “Minha
graça é suficiente para você, pois o
meu poder se aperfeiçoa na
fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei
ainda mais alegremente em minhas
fraquezas, para que o poder de
Cristo repouse em mim.
2 Coríntios 12:7-9

Três vezes fui golpeado com varas,


uma vez apedrejado, três vezes sofri
naufrágio, passei uma noite e um dia
exposto à fúria do mar... enfrentei...
perigos dos falsos irmãos. Trabalhei
arduamente; muitas vezes fiquei sem
dormir, passei fome e sede, e muitas
vezes fiquei em jejum; suportei frio
e nudez.
2 Coríntios 11:25-27

jejum é um chamado para abraçar voluntariamente a

O
fraqueza a fim de experimentar mais do poder e da
presença de Deus. Talvez nada seja menos atraente para
nós que a fraqueza. Assim, nada parece menos convidativo
do que abraçar essa fraqueza voluntariamente. Entretanto,
esse é o convite que Deus nos faz. É um paradoxo que nos
tornemos fracos no natural a fim de recebermos a força do Espírito.
Por que Deus escolheu o jejum como uma maneira tão importante
para encontrá-lo? Por que Ele fez de algo tão simples — como orar
e não comer — algo tão poderoso? A mente natural não consegue
encontrar sentido nisso porque nós, por natureza, desprezamos a
fraqueza e rejeitamos todos os tipos de deficiência. Amamos nos
sentir fortes e poderosos, mas desprezamos a sensação de
vulnerabilidade e fragilidade. No entanto, há algo na dimensão da
fraqueza que Deus não permitirá que evitemos.
A encarnação de Jesus deixa claro que a fraqueza é parte do
plano de Deus de levar as pessoas a Ele em amor. Quando
pensamos na vida de Jesus, percebemos que o próprio Deus se
revestiu da carne fraca do homem e abraçou voluntariamente as
fraquezas físicas quando andou sobre a terra. “Pois não temos um
sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de
tentação, porém, sem pecado” (Hebreus 4:15). Podemos chamá-lo
de irmão porque Ele se tornou um de nós, sujeitando-se à mesma
fraqueza que nós experimentamos. Não foi por acaso, mas sim o
plano perfeito de Deus.
Quando Paulo estava lutando com o chamado de Deus para
andar em fraqueza, Jesus encorajou-o revelando que a liberação do
poder de Deus em sua vida estava ligada à disposição de abraçar a
fraqueza (2 Coríntios 12:9). Trata-se de uma revelação fantástica e
fundamental para entendermos o propósito do jejum. As fraquezas
das quais Paulo está falando nas passagens citadas (2 Coríntios 1-
12) não eram morais, e sim resultados de suas escolhas divinas.
Elas se encaixam em duas categorias. Primeiro, vemos que as
fraquezas na vida de Paulo eram voluntárias. Elas incluem oração,
jejum, viver uma vida simples e servir com humildade e diligência.
Segundo, havia fraquezas no ministério de Paulo que eram
involuntárias, inclusive o espinho em sua carne, a perseguição, a
enfermidade, a reprovação e a angústia. Quando Paulo se gabava
da sua fraqueza (2 Coríntios 12:9), ele estava se referindo tanto às
fraquezas involuntárias da perseguição quanto à fraqueza voluntária
do estilo de vida de jejum.

O Paradoxo do Poder e da Fraqueza


O que era essa “força aperfeiçoada” (ver 2 Coríntios 12:9), esse
poder aperfeiçoado que Paulo experimentava nas suas fraquezas?
São as dimensões maiores do poder do próprio Deus. Muitos
desejam andar em poder aperfeiçoado, mas não querem abraçar a
fraqueza necessária para entrar nele. A cultura ocidental detesta a
fraqueza. Desdenhamos da ideia de nos tornarmos fracos.
Entretanto, a fraqueza é obrigatória para aqueles que desejam
força espiritual. Paulo ensinou que “Deus escolheu as coisas
loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas
fracas do mundo para envergonhar as fortes... para que ninguém
se vanglorie diante dele” (1 Coríntios 1:27, 29). Deus se revela
mais quando estamos no nosso ponto de maior fraqueza. Paulo foi
até ao ponto de se gabar, e até de se alegrar, com a perseguição
que sofria. Isso deixou muitas pessoas perplexas. O raciocínio
dele, porém, é simples. Ele teve uma revelação divina de que a
fraqueza era a porta de entrada para o poder de Deus, portanto ela
não deve ser evitada. Paulo queria ver o poder de Deus em sua
vida, e entendeu que o caminho mais seguro para experimentá-lo
era nas próprias fraquezas, tanto nas voluntárias quanto nas
involuntárias.
Existem paradoxos na maneira como Deus governa Seu
Reino. Ele nunca parece fazer as coisas da maneira que a nossa
sabedoria natural imaginaria. Um desses paradoxos é que Ele libera
poder espiritual em resposta às nossas fraquezas físicas. O jejum
não é, em sua essência, um chamado para passarmos fome. A
questão mais desafiadora do jejum é a fraqueza física que ele
produz, e não a fome. Nós nos tornamos fisicamente fracos, e assim
não podemos funcionar da maneira como funcionamos
normalmente. O pensamento fica nebuloso, os movimentos vacilam,
a comunicação enfraquece e a memória fica enevoada. Até mesmo
o grande guerreiro Davi deu testemunho de ficar fisicamente fraco
quando jejuava (Salmos 109:24). Tanto Paulo quanto Davi
abraçaram as fraquezas voluntárias do estilo de vida de jejum; eles
se sujeitavam voluntariamente às vulnerabilidades e às dificuldades
do jejum e da oração. Assim como Paulo e Davi, temos a escolha de
abraçar ou negligenciar essas fraquezas. Vamos abraçá-las,
deixando para trás a própria força, e avançar com o poder que só o
próprio Deus supre.

O Jejum Revela e Silencia a Carne


Uma das primeiras coisas que descobriremos quando nos
entregarmos ao jejum e à oração, e ao silenciar a carne, é que
nosso clamor interno é mais escandaloso do que imaginávamos.
Nada revela o quanto nossos desejos e anseios são barulhentos até
eles terem seus apelos negados. Como membros da cultura
ocidental, e infelizmente, da Igreja ocidental, procuramos satisfazer
imediatamente nossos anseios naturais. Até os cristãos são
enganados a ponto de ver isso como uma virtude em vez de vê-lo
como é, uma vida cativa ao domínio do prazer. Quando o clamor
interno surge, rapidamente fazemos o que for necessário para calar
o ruído e silenciar os apelos a fim de podermos voltar a fazer as
coisas como de costume em nossa vida. O jejum tanto revela
quanto silencia o ruído e os apelos do nosso homem natural. A
carne tem um domínio natural sobre o espírito. O jejum é uma
maneira temporária de reverter propositalmente esse domínio, para
que o espírito adquira o controle por um breve tempo.
A Bíblia ensina sobre a necessidade de negarmos a nós
mesmos — tomando nossa cruz para seguir a Jesus (Mateus
16:24). “Sentir-se bem” e agradar a carne com os confortos desta
vida não é o objetivo do povo do Reino. O jejum está
diametralmente oposto à nossa cultura voltada para a necessidade
de “sentir-se bem” — ele traz um despertamento abrupto do quanto
dependemos desses confortos falsos e menores. O fato é que,
quando estou com fome, meu corpo não se sente bem. E quando eu
não me sinto bem, mas não consigo aliviar isso com comida, amigos
e diversão, o caos da minha alma é desmascarado.
Nós, e a cultura cristã em que vivemos, temos a ilusão de que
somos poderosamente rendidos a Deus, mas na verdade, a maioria
de nós está espiritualmente sufocada e entorpecida sem saber
disso. Uma vida de jejum expõe a verdadeira realidade da nossa
saúde espiritual ao nos confrontar diretamente com os anseios da
nossa alma, que grita. E qual é nosso estado real? Nós nos
agarramos aos falsos prazeres e seguranças. Temos pouca
capacidade de ouvir Deus. Ansiamos pela aprovação do homem.
Defendemos nossa reputação. Satisfazemos a alma com
entretenimento, música e televisão. Somos complacentes e
distantes nas orações. Nós nos submetemos ao próprio julgamento
antes de nos submetermos aos que ocupam posições de
autoridade. Dependemos de estimulantes externos para acalmar a
vida. E a lista é interminável. A natureza do jejum e da oração é que
eles nos separam de todo o “ruído de fundo” que tem escondido
essas realidades. Nesse novo silêncio, somos forçados a confrontar
os vícios e o entorpecimento espiritual dos quais temos estado
inconscientes.
Ninguém gosta de ter as trevas reveladas e os vícios expostos.
No nosso homem natural, viveríamos o resto da vida amparados por
outros estímulos alheios a Deus e Sua Palavra. É por isso que o
papel do desejo , esse dom precioso de Deus, é tão necessário
para o jejum. É preciso uma grande insatisfação com nosso estado
atual para fazer com que nos posicionemos voluntariamente diante
de Deus em oração, em jejum e em total vulnerabilidade, permitindo
que Seu Santo Espírito exponha os falsos apegos e as atrações
ímpias no nosso interior. Somente um anseio profundo por
intimidade com Deus poderia nos convencer a passar
voluntariamente pela dor que acompanha essa revelação da nossa
carne. No entanto, nos dispomos a passar por isso porque sabemos
que só conheceremos genuinamente Seu coração quando nossa
alma for liberta de todos os amores secundários e afeições
temporais. Em nome do amor, colocamos o coração voluntariamente
nesse crisol para sermos refinados pelo fogo. Clamamos: “Revela o
que Tu precisas revelar em mim, Deus. Faz tudo o que precisas
fazer para purificar meu coração, calar minha carne e me atrair para
mais perto de Ti!”.

O Jejum Gera Humildade


O jejum não apenas nos enfraquece, ele nos humilha. O rei Davi
disse que ele se humilhava com o jejum (Salmos 35:13). O corpo
fica cansado, a mente fica confusa, a força se vai — nossas
capacidades simplesmente não estão operando a pleno vapor.
Achamos difícil fazer as coisas que normalmente realizamos com
facilidade. Sim, quando jejuamos definitivamente não estamos na
nossa melhor forma na dimensão natural. A maioria das pessoas
acha isso humilhante, não apenas diante dos outros, mas dentro da
própria alma.
A essência do jejum é “afligir a nossa alma” (Isaías 58:5). Isso
pode soar como algo medieval, mas é uma maneira bíblica de
expressar nossa busca desesperada por encontrar Deus mais
profundamente. Realmente pagamos certo preço abrindo mão da
força, do conforto e do prazer. E, para completar, o jejum nem
sempre parece “funcionar”. Às vezes jejuamos sem nenhum
resultado imediatamente perceptível. Isso é ainda mais humilhante.
Devemos admitir que entendemos muito pouco e que podemos
controlar ainda menos. Entretanto, parte de nos humilharmos é
estarmos determinados a crer mais na Palavra de Deus do que nos
nossos sentidos naturais, e a continuar a orar e a jejuar. Precisamos
estar convencidos de que Ele é galardoador daqueles que o buscam
diligentemente (Hebreus 11:6).

Vencendo o Vício Por Prazeres Lícitos


Existem três categorias gerais de prazeres que estimulam a alma:
primeira, os prazeres ilícitos; segunda, os prazeres que são lícitos,
embora não nos aprimorem espiritualmente; e terceira são os
prazeres santos, que vêm de viver segundo a Palavra de Deus.
Os incrédulos vivem principalmente por meio dos desejos
pecaminosos ilegítimos e frutos da fantasia. Eles são impulsionados
por todo tipo de imaginação sobre o quanto sua vida e seu futuro
seriam melhores se eles continuassem tendo relacionamentos
melhores, empregos melhores, mais crescimento econômico, etc.
É óbvio para os cristãos que devemos negar todos esses
desejos e fantasias pecaminosos (Mateus 16:24). Nosso maior
desafio é na área dos prazeres lícitos . A norma no cristianismo é
encher a vida com prazeres naturais permissíveis, como honra,
recreação, comida, conforto e dinheiro, para provar que não somos
religiosos. Eles não são pecaminosos em si, mas também não
intensificam a vida no Espírito. Eles não nos levam a um contato
maior com Deus.
No nível mais elevado da vida, o espírito humano foi criado
para viver primeiramente pela Palavra de Deus , e não pelos
estímulos naturais. Embora o corpo necessite de comida, a alma
deve ser alimentada e estimulada principalmente pela Palavra de
Deus. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra de
Deus” (Mateus 4:4).
Estimulamos a alma de várias maneiras em vez de fazer isso
através de Deus e da Sua Palavra. Nossa fraqueza nua e crua
raramente é exposta porque nós a mantemos estimulada por coisas
como comida, entretenimento, recreação, dinheiro, música,
atividades e até empreendimentos ministeriais. Charles Finney, um
poderoso evangelista do século XIX, falou sobre o engano do que
ele chamou de “diversões inocentes”, declarando que muitas
pessoas exageram nos entretenimentos que não são pecaminosos
em si, mas que não aprimoram a alma na comunhão com Deus.
Muitos cristãos ficam aterrorizados diante da ideia de
abandonar esses estímulos para esperar em Deus na crueza
absoluta de seus corações. Mas como podemos chorar por Deus
quando sobrecarregamos a alma com tantas atividades? Em
alguns casos, o espírito fica entorpecido a ponto de mal estarmos
cientes dos movimentos carnais do coração. O jejum envolve
silenciar deliberadamente os prazeres deste mundo, até os lícitos
e legítimos, a fim de podermos ouvir a voz da Palavra de Deus
mais claramente. De repente, passamos a estar conscientes dos
nossos falsos impulsos, motivos e paixões. À medida que o ego for
suprimido e o espírito for abrandado pelo jejum, veremos nosso
homem espiritual alcançar a proeminência e viver de acordo com
as realidades e os prazeres do mundo invisível, em vez de se
conformar com o espírito desta era.

O Jejum Intensifica o Prazer Espiritual


O jejum não restringe o prazer; ele o intensifica. Parece estranho?
Fomos criados em uma cultura que pensa ao contrário. Fomos
ensinados que experimentaremos mais vida se mimarmos o corpo.
Isso é errado até mesmo em um nível puramente natural. Os
nutricionistas nos dizem que quanto mais comemos, menos
sensíveis nossas papilas gustativas ficam. Na verdade, sentimos
menos o sabor das coisas quando não estamos com fome. Quanto
mais somos indulgentes com nós mesmos, mais os nossos sentidos
se tornam entorpecidos. A moderação na dimensão física de fato
aumenta o prazer que obtemos com as atividades físicas. Faz
sentido que exagerar na alimentação do corpo possa prejudicar não
apenas nossa satisfação física, mas também nossa sensibilidade
espiritual. Isso coloca nossos prazeres físicos em uma nova
perspectiva, mais adequada.
A verdade é que nosso maior prazer vem de nos
banquetearmos na Pessoa de Jesus. A busca por intimidade com
Ele envolve o jejum porque ele coloca nosso corpo no
relacionamento adequado com a vida do Espírito. Embora nossa
alma viva em um corpo físico, ela não está destinada a ser escrava
dos prazeres e das paixões físicas. Se quisermos que nosso homem
espiritual tenha domínio sobre a carne, precisamos calar
deliberadamente as compulsões do nosso homem natural. Somente
ao negarmos algumas das paixões carnais é que os aspectos físicos
e emocionais do nosso ser podem experimentar os prazeres
superiores da vida no Espírito.
Deus ordenou o jejum para fortalecer a vida física, e não para
frustrá-la. Costumamos abordar o jejum como uma atividade que
guerreia contra o corpo, quando na verdade se destina a libertá-lo. É
o sistema do mundo que guerreia contra nós, tanto física quanto
espiritualmente. Deus criou o corpo físico para jejuar a fim de que
possamos entrar nos lugares mais altos na nossa experiência com
Ele.

Jejuando Regularmente
Jejuar é um presente que deveríamos abraçar mais, em vez de
ocasionalmente. O jejum deve ser um estilo de vida. Não deveria ser
empregado como uma injeção no braço algumas vezes por ano, ao
contrário, foi destinado a ser uma parte consistente da nossa vida,
uma ferramenta disponível para expandir nossa capacidade
espiritual para termos mais de Jesus.
Quanto mais jejuamos, mais fácil o jejum se torna. De fato, o
ritmo do corpo muda quando jejuamos regularmente. É semelhante
ao exercício. Quando não nos exercitamos com frequência e, então,
começamos, a princípio é difícil. O sistema cardiovascular grita
pedindo para que desaceleremos e os músculos doem no dia
seguinte. Temos de nos exercitar constantemente por um período
antes que o corpo se ajuste. Do mesmo modo, nosso corpo vai se
acostumar e nossas emoções vão mudar quando passarmos para
um ritmo natural de jejum.
O medo de jejuar é pior que o jejum em si. É uma mentira dizer
que as exigências do nosso ritmo de vida moderno tornam o jejum
impraticável para o cristão atual. Na verdade, o jejum não é nem
difícil demais nem desconfortável demais para nós. Podemos ficar
cansados, mas a mesma graça que Deus dava aos cristãos do
passado será dada a nós. Na verdade, no fim desta era haverá um
percentual muito maior de cristãos entrando na graça do jejum do
que em qualquer outro momento da história.

Entrando no Deserto
O estilo de vida de jejum é mais do que um conceito ou uma nova
atividade que experimentamos por algum tempo. É uma jornada
pessoal na vida de oração pelo desvendar de dimensões cada vez
maiores em Deus. Essa jornada de oração, fortalecida e
intensificada por uma vida de jejum, também pode ser chamada de
“estilo de vida de deserto”. Fraqueza e deserto são quase
sinônimos. O deserto no Antigo Testamento era um lugar de teste,
treinamento e de encontro com Deus. No deserto, deixamos tudo
para trás a fim de sermos sustentados somente por Ele. Não existe
nada mais lá a não ser Deus. Ao dizer “sim” a um estilo de vida de
jejum, entramos voluntariamente no deserto. Abraçamos a fraqueza
natural a fim de adquirir força sobrenatural.
Deus treinou muitos dos Seus servos escolhidos no deserto.
Moisés ficou no deserto por cerca de oito anos. Davi amadureceu no
deserto. A experiência de José na prisão foi um período de deserto.
Elias retirou-se para lá, João Batista vivia lá, Paulo passou três anos
lá, e Jesus ia até lá para jejuar.
Um dos mistérios de Deus é que em nossa fraqueza no
deserto podemos encontrar portas de entrada para a força dele.
Esse mistério é revelado no fim da jornada da noiva em Cântico dos
Cânticos. A Sulamita, uma representação da Noiva, surge do
deserto, recostada ao seu Amado Jesus. Ela descobriu o segredo
da Sua força sendo aperfeiçoada na fraqueza enquanto sobe
vitoriosamente da jornada de sua vida na terra, apoiada na força
dele. “Quem é esta que sobe do deserto e vem encostada ao seu
amado?” (Cântico dos Cânticos 8:5, ARA).
No deserto da oração e do jejum, enfrentamos a esterilidade
da própria alma. Esse deserto voluntário é o lugar de transformação.
Ali contendemos com Deus, como Jacó fez, para que Ele nos
transforme nesse processo. Negamos a nós mesmos
voluntariamente alguns dos “prazeres legítimos” a fim de
experimentarmos os “prazeres superiores”. O deserto do jejum nos
despoja dos falsos confortos, forças e seguranças. Temos de
encarar o fato do quanto nossa alma se escora em mil coisas que
não são Deus, e do quanto é difícil sentir amor por Ele ou pelos
outros quando essas escoras são removidas. Será que estamos
entorpecidos pelo espírito desta era sem que o saibamos? Estamos
debaixo do cativeiro do consumismo da nossa sociedade? Fomos
cegados por comer demais, dormir demais e pelo excesso de
entretenimento? Nosso coração está inchado e rígido por termos
dado a ele muito pouco da Palavra de Deus e demais dos confortos
deste mundo? A resposta na maioria das vezes é sim. A solução é
entrar no deserto voluntário da oração e do jejum. À medida que nos
despojamos de todos os outros amores, o Senhor nos transforma
em pessoas que amam a Ele.

Retirando as Escoras
Deus ordenou um tempo de espera no nosso processo de transição
dos prazeres inferiores e do pecado para os prazeres superiores do
Evangelho. Precisamos fazer a transição para vivermos
primeiramente pela Palavra de Deus, e em segundo lugar pelos
prazeres legítimos que Deus nos dá, em vez do contrário, que é a
maneira como a maioria de nós vive agora. Podemos ter uma vida
em Deus que é real, profunda e poderosa após essa transição, uma
vida na qual somos primeiramente alimentados, estimulados e
apoiados pela Palavra de Deus. Nessa transição, existem
obstáculos a serem vencidos. Esses impedimentos podem ser
vencidos e este é o processo da nossa transformação.
Quando colocamos em espera nossas fontes carnais normais
de conforto e apoio, vemos a nossa miséria e a nossa esterilidade
espiritual com olhos bem reais. O que estava adormecido vem à
tona. Quando todas as escoras do conforto foram retiradas daqueles
que estavam no estádio Superdome depois do furacão Katrina, foi
possível ver a fúria que estava a apenas um centímetro da
superfície mostrar sua cara feia. Essa fúria está em todos nós sem a
graça de Deus. É difícil encarar essas fraquezas, mas depois que
recebemos mais de Deus, mesmo em pequena medida, sabemos
que não podemos voltar ao velho modo de vida estimulado
predominantemente pela carne.
Muitos de nós experimentamos uma sensação de estar
“divididos ao meio” quando jejuamos voluntariamente dos nossos
velhos estímulos e confortos, mas os estímulos espirituais ainda não
adquiriram vida em nós. Durante um período, sentimos o vazio do
jejum, mas ainda não experimentamos os prazeres superiores do
Espírito. Temos a visão do que está por vir, em termos de uma vida
vibrante em Deus, e a luta do que ficou para trás; mas ainda não
temos a realidade plena. Tivemos uma pequena prova das
dimensões que estamos prestes a conhecer em Deus, mas esse
conhecimento não é tão dominante ou predominante a ponto de
colocar um fim aos nossos velhos vícios. Quando não
experimentamos os prazeres superiores pelos quais estamos nos
esforçando, costumamos voltar aos velhos estímulos de conforto,
apenas para descobrir que eles perderam seu poder por causa da
nossa visão elevada em Deus. O velho caminho não tem mais força
para nos satisfazer, e ainda não temos a capacidade de receber o
novo caminho. Podemos sentir que estamos pendendo entre duas
dimensões. Bem-vindo ao estilo de vida de jejum!
Ainda não desenvolvemos a capacidade para receber
exatamente aquilo que necessitamos para ter vida e força. Vemos
essa dinâmica nas áreas naturais da alimentação, da luz do sol e do
exercício. Alguém que acaba de ser salvo da inanição não tem
capacidade de digerir a maioria dos alimentos que lhe são
oferecidos imediatamente. Uma pessoa que ficou trancada no
escuro por muito tempo anseia pela luz do sol, mas seu brilho a
princípio é doloroso demais para suportar. Uma pessoa que não se
exercitou por anos não pode fazer exercícios pesados por muitas
horas no primeiro dia sem se machucar. Estamos em uma transição,
e nossas capacidades precisam ser ampliadas para entrarmos
naquilo pelo que almejamos. Tudo isso faz parte da nossa jornada
para avançarmos em amor. Fomos trazidos até aqui por causa do
nosso desejo por Deus. No processo de transformação, o Senhor
responderá ao nosso anseio por Ele, mas não imediatamente.
Nessa transição, somos deixados por algum tempo na
excentricidade crua da queda livre. Nesse lugar, Deus gera
humildade. É precioso. Por causa da dificuldade da nossa jornada,
ficamos menos dispostos a ter atitudes julgadoras para com os
outros. Todo esse processo dá origem à mansidão em nós,
enquanto lembramos continuamente a doçura e a dor da nossa
própria jornada. Mas o período de transição terminará. De acordo
com Jesus, os pobres de espírito e aqueles que têm fome e choram
por Deus, serão abençoados e cheios (Mateus 5:3-6).
O Senhor quer levantar um povo que pode falar com
autoridade sobre encontrar alegria no deserto. À medida que o
Corpo de Cristo em todo o mundo entrar nessa transição no fim
desta era, esses precursores poderão articular a visão do
conhecimento de Deus e explicar os detalhes e as razões da
jornada. Eles irão trilhar o caminho do deserto primeiro, e, portanto,
podem guiar outros com a sabedoria aprendida com a própria
jornada com o Senhor. As pessoas cuja principal fonte de vida é a
Palavra de Deus dão esperança e coragem àqueles que desejam
ingressar em uma vida mais profunda no Senhor. Suas vidas
provam que isso pode ser feito. O estilo de vida de jejum é
simplesmente uma vida dedicada regularmente à oração, ao jejum,
às ofertas, ao serviço a outros e a abençoar os inimigos. O primeiro
passo em direção a essa vida é receber a visão de ter uma
existência profunda em Deus. João Batista foi um precursor que fez
do deserto o seu lar. Ele vivia no espírito de oração e jejum. Deus
está derramando esse mesmo espírito nesta geração.
Capítulo 6
Cinco Expressões do Estilo
de Vida de Jejum
ocê consegue imaginar o que as pessoas reunidas ao redor

V
de Jesus devem ter sentido quando Ele começou a fazer
Seu sermão mais importante, aquele que hoje chamamos
de Sermão do Monte? Elas eram apenas pessoas como
você e eu, com a vida cheia de preocupações, questões e
dificuldades. Imagino todos os tipos de homens, mulheres e
crianças reunidos ao redor de Jesus. De um lado está um senhor
idoso com a fisionomia um tanto triste, mas também um homem
com uma aparência terna, que viveu muitos anos sob o fardo
maçante da Lei. Ele procurou criar os filhos sob esses princípios, e
embora um deles esteja realmente seguindo esse caminho, dois se
rebelaram, cheios de ira e desprezo, e seus corações estão
amargurados e distantes até agora. Do outro lado de Jesus imagino
uma mulher jovem, viúva recente, com a dor ainda queimando em
seu coração. Ela espera encontrar algum raio de esperança e luz
nas palavras que esse novo Mestre irá dizer hoje.
O carpinteiro de Nazaré abre a boca e começa a pronunciar
verdades e princípios vivos sobre o Reino de Deus que deixam
Seus ouvintes perplexos. Ele fala como alguém que tem autoridade,
e quando as pessoas comuns ouvem Suas palavras, seus corações
ficam atordoados e suas mentes giram em total perplexidade. Ele
ensina de uma maneira que ninguém jamais fez. Os ensinamentos
dos escribas pareciam túmulos vazios e abandonados se
comparados à vida e ao peso que transpiravam de cada palavra da
boca de Jesus (Mateus 7:28-29). “Quem é este Homem?”, eles se
perguntam. “Que tipo de autoridade é esta?”
E o que foi que Jesus falou naquele dia que Mateus disse que
foi tão extraordinário? Ele pronunciou mistérios totalmente
imponentes e incapazes de ser discernidos? As palavras dele foram
tão difíceis de compreender que as pessoas se afastaram, confusas
e desanimadas com sua falta de entendimento? Não, o Sermão do
Monte, embora estivesse cheio de autoridade divina e sabedoria
eterna, não poderia ser mais simples em sua apresentação e
aplicação. Até as crianças ali reunidas podiam entender. Quando
ouviram as palavras de Jesus e se impressionaram com Sua
autoridade, creio que elas também ficaram atônitas com a
simplicidade do que Ele apresentou como os princípios
fundamentais do Reino.

Estilo de Vida do Sermão do Monte


Muitos cristãos sentem que a vida cristã é misteriosa demais e difícil
demais para eles realmente entenderem, como se houvesse algum
segredo bem guardado de como viver rendido a Deus que ninguém
nunca contou antes. Eles olham em volta e veem homens e
mulheres tementes ao Senhor e pensam: Com certeza não estou
entendendo. Isso parece difícil demais para mim . Há uma tensão
definida no Reino de Deus, e muitas vezes nos deparamos com ela
em nossa busca por Ele. A tensão está entre a facilidade e a
dificuldade de uma vida de retidão. Jesus disse que Seu jugo é fácil
e Seu fardo é leve (Mateus 11:29-30), mas também disse que o
caminho é estreito e poucos o encontram: “Entrem pela porta
estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição,
e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e
apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a
encontram” (Mateus 7:13-14).
Devemos crer que o caminho do verdadeiro cristianismo é
difícil para a carne e que somente alguns o encontram? Sim.
Embora a verdadeira vida cristã se torne fácil para o espírito e seja
um fardo fácil quando decidimos viver segundo os valores de Deus,
tomar essa decisão é difícil. É penoso para nosso orgulho, para
nossas cobiças e para nossa carteira. É algo que impacta a vida
diária e causa inúmeros conflitos relacionais para aqueles que se
recusam a fazer concessões, que se recusam a andar pelo caminho
largo que leva à perdição (Mateus 7:13).
No entanto, a parte difícil de viver com dedicação e entrega
total não é um mistério. Jesus não poderia ter sido mais direto e
simples. Andar com Deus de todo o coração, o que devemos
realmente desejar, é algo que conquistamos realizando as coisas
básicas e simples que estão na Bíblia. Isso não é complicado, mas é
difícil negar nossos desejos carnais e nosso orgulho (Mateus 7:14).
Jesus explicou no Sermão do Monte o que significa viver uma vida
de todo o coração diante de Deus. O caminho para avançar em
amor e em justiça é viver o que chamo de “estilo de vida do Sermão
do Monte” (Mateus 5-7).
O que é esse estilo de vida? Jesus o definiu como adotar
atitudes de temor ao Senhor (Mateus 5), como nos dedicarmos à
oração e à Palavra de Deus com jejuns, ofertando e servindo aos
outros (Mateus 6). Servir aos outros em amor é algo que acontece
quando temos comunhão com os cristãos e ministramos aos
incrédulos (Mateus 6-7). Esse chamado de Jesus a todos os que
responderem de todo o coração é difícil em meio às tensões atuais
e aos atritos gerados ao tentarmos viver esses princípios na vida
diária.
O Sermão do Monte contém princípios inegociáveis, ou a
“constituição” do Reino de Deus. Ele define a natureza do
verdadeiro discipulado e é o padrão segundo o qual a maturidade
espiritual deve ser medida. Uma vida e um ministério que não são
construídos com base nesses princípios, não resistirão sob pressão
(Mateus 7:24-27). O Sermão destina-se a ser interpretado
literalmente. Seus mandamentos são simples e diretos; fala de
maneira clara e suas intenções são explícitas. Ao mesmo tempo, ele
não deve ser entendido ou recebido à parte das motivações cruciais
da vida espiritual: o amor e o desejo.
Esses princípios inegociáveis são estabelecidos por Aquele
que foi esmagado na morte para que pudéssemos ter vida
abundante, tudo por causa do amor e da paixão desenfreados que
há em Seu coração. O Jesus que se sentou sobre o monte e pregou
essa mensagem é o mesmo Jesus que é o nosso Noivo, queimando
com desejo santo. O desejo em Seu coração é transferido ao nosso
coração pelo Espírito Santo, fazendo nosso amor aumentar e
vivermos o estilo de vida do Sermão do Monte. O segredo que faz
Seu fardo ser leve encontra-se no amor que alimenta nosso coração
todos os dias. Onde o amor está presente, a característica
extenuante do sacrifício e da abnegação está ausente.
Moisés disse aos filhos de Israel que amassem a Deus de todo
o coração (Deuteronômio 30:6). Ele continuou explicando que o
caminho para amá-lo não era misterioso (Deuteronômio 30:11).
Ninguém precisa ser arrebatado até o terceiro céu para saber como
amar a Deus. E ninguém precisa cruzar os mares até lugares
distantes a fim de descobrir os passos secretos para fazer isso
(Deuteronômio 30:12-13). Não, está tudo bem aqui. Está escrito em
nosso coração e está tão claro quanto as palavras simples que são
ditas pela nossa boca (Deuteronômio 30:14).
O caminho para a rendição total a Deus não é complexo,
confuso ou misterioso, mas a própria simplicidade da definição de
Jesus do que é amar de todo o coração pode ser uma pedra de
tropeço. Algumas pessoas gostariam que se tratasse de uma vida
inatingível, cheia de princípios secretos, ou um mandamento
complicado que apenas uns poucos entendessem. Então, elas se
sentiriam superiores nas suas conquistas espirituais. No entanto,
Deus projetou Seu caminho para pessoas fracas e quebradas como
nós. Por quê? Porque pessoas fracas e quebradas são o único tipo
de gente que existe. Todos nós podemos obedecer à Palavra de
Deus — e todos nós podemos amar de todo o coração. O
mandamento de Deus está perto de nós, no nosso coração e na
nossa boca. E o Espírito Santo no nosso interior, dado como um
presente no nosso novo nascimento, é zeloso por levar nosso
coração a essa retidão radiante.

Cinco Expressões do Estilo de Vida de Jejum


Então, como esse estilo de vida do Sermão do Monte se mostra na
nossa existência diária, e como podemos andar em fraqueza
voluntária para que o poder de Deus possa ser aperfeiçoado em
nossa vida? Há cinco tipos de “jejum” descritos no Sermão do
Monte. Jejuamos de comida, tempo, energia, dinheiro e palavras.
Mateus 6:1-18 descreve as cinco principais atividades da vida de
jejum correspondentes. Eles incluem ofertar, servir, orar (com a
Palavra), abençoar os inimigos e jejuar de alimentos . Cada um
deles é um tipo de jejum, no sentido de que estamos abraçando
voluntariamente a fraqueza, declarando a Deus que extraímos
nossa vida e nossa força dele, e somente dele.
Jesus estabeleceu essas cinco atividades como fundamentais
para o Reino de Deus. Ao ofertar, jejuamos do nosso dinheiro e da
nossa força financeira. Ao servir e orar, estamos jejuando do nosso
tempo e da nossa energia, investindo-os nos outros e na
intercessão. Abençoar nossos inimigos requer que jejuemos das
palavras e da reputação. Ao abrir mão de comida, estamos jejuando
da força física e emocional.
Mais uma vez, a não ser que sejam realizadas com um
coração de amor, essas atividades são vazias e vãs. Elas também
não são um substituto para a busca de cem por cento de
obediência. Deus não mantém uma contagem das boas e das más
obras para que possam compensar umas às outras. Alguns tentam
barganhar com Ele, prometendo dar mais dinheiro ou jejuar por mais
tempo a fim de compensar uma trapaça em um acordo financeiro ou
uma vida de imoralidade. No poder do Espírito Santo, o profeta
Samuel bradou contra esses atos, declarando que o Senhor ama a
obediência mais que o sacrifício (1 Samuel 15:22). O verdadeiro
amor por Jesus é demonstrado em nossa obediência à Sua vontade
(João 14:15, 21-23). O Jesus que fez esse chamado ao estilo de
vida de jejum é Aquele que sonda as motivações do coração. Ele
está à procura de um amor não dividido e de uma obediência pura.
Ele abriu o coração nesse chamado e nos transmitiu o que Ele
deseja e requer de todos aqueles que o amam. É um maravilhoso
privilégio para nós ter de responder a Ele.
O estilo de vida de jejum é um compromisso de longo prazo
com essas cinco expressões (ofertar, servir, orar, abençoar os
inimigos e jejuar de alimentos). Ninguém se gradua nelas a fim de
passar para as “coisas mais profundas” de Deus. É vivendo essas
cinco expressões, na existência rotineira e mundana da vida diária,
que alcançaremos os lugares mais profundos na intimidade com
Deus. À medida que formos consistentemente fiéis em andar nessas
manifestações do estilo de vida de jejum, construiremos uma rota
pelo caminho estreito da vida, e descobriremos a abundância de
alegria a ser encontrada ali.

Ofertar

Mas quando você der esmola, que a


sua mão esquerda não saiba o que
está fazendo a direita, de forma que
você preste a sua ajuda em segredo.
E seu Pai, que vê o que é feito em
segredo, o recompensará...
Não acumulem para vocês tesouros
na terra, onde a traça e a ferrugem
destroem, e onde os ladrões
arrombam e furtam. Mas acumulem
para vocês tesouros no céu, onde a
traça e a ferrugem não destroem, e
onde os ladrões não arrombam nem
furtam. Pois onde estiver o seu
tesouro, aí também estará o seu
coração. Ninguém pode servir a dois
senhores; pois odiará a um e amará
o outro, ou se dedicará a um e
desprezará o outro. Vocês não
podem servir a Deus e ao Dinheiro.
Mateus 6:3-4, 19-24

Jesus falou sobre nossos atos de caridade, referindo-se tanto a


ofertar financeiramente quanto aos atos de serviço. Essas são duas
das cinco expressões do jejum. Dar aos outros é jejuar de parte do
nosso dinheiro. Estamos confiando em Deus para nos devolver e
multiplicar as finanças que demos a outros. Todos nós conhecemos
a história da viúva que deu as duas últimas moedas. Jesus
observou-a e se admirou, e comparou-a aos ricos, que só davam do
que lhes sobrava financeiramente (Lucas 21:1-4). Eles mal sentiam
falta do dinheiro que davam, mas a oferta da viúva lhe custou tudo.
No estilo de vida de jejum, é importante dar de tal maneira que
sintamos o impacto disso.
O dinheiro é um tipo de força social e material. Nossa base
de recursos pessoal se torna mais fraca quando ofertamos. Em
vez de usarmos todo o nosso dinheiro só para nós mesmos,
damos tudo o que podemos para edificar o Reino de Deus em
outros. Estamos investindo no “Banco de Deus”, e esse é um
investimento eterno, com dividendos incomparáveis. Sabemos que
Deus nos dará um retorno em bênçãos em grande medida nesta
era e na era que está por vir (Lucas 6:38), embora nem sempre
saibamos quando ou como. A taxa de câmbio nesse banco é
altamente favorável, e podemos dar com confiança de que Deus
irá nos recompensar.
Na verdade, fazemos melhor uso do nosso dinheiro quando o
entregamos para ajudar a edificar as pessoas e os projetos do
Reino do que o guardando para nós mesmos. Esse ato de ofertar
pode ser difícil temporariamente, no sentido de que nos custa mais
dar do que falta do que dar do que sobra, mas Deus tem riquezas
mais do que o suficiente para recompensar a todos cem vezes mais
pelo seu sacrifício. Os benefícios adquiridos superam em muito o
desconforto inicial. Nossa obediência, nossa confiança e nossa
lealdade na área das finanças honram o Senhor. Não é apenas
uma expressão pitoresca dizer que Deus ama aquele que dá com
alegria (2 Coríntios 9:6-7). O coração dele se move quando
semeamos com abundância e prontidão na vida de outros, com a
certeza de que Ele suprirá nossa falta. Quando damos alegremente
em vez de fazer isso de má vontade, por causa da nossa confiança
na Sua generosidade, movemos o coração do Deus a quem
amamos.

Servir
Servir aos outros é o segundo dos atos de caridade de que Jesus
falou. Quando gastamos nosso tempo e nossa energia com outros
estamos jejuando do que poderíamos ter usado para promover os
próprios interesses. É bíblico usar uma parte do nosso tempo e da
nossa energia para prover para nós mesmos, para nossa família,
para nosso negócio ou nosso ministério, ou apenas para nossa
reserva de emergência. No entanto, quando participamos de atos de
caridade — atos de bondade e de serviço a outros — estamos
gastando esse tempo em benefício de outros. Isso está no centro do
que significa ter um espírito de servo. O tempo “desperdiçado”
servindo é um tempo que não podemos usar para lutar por uma
posição ou para estabelecer nosso conforto e nosso prazer pessoal.
Assim, confiamos no Senhor para trabalhar em nosso favor de uma
maneira que excede o que poderíamos ter realizado gastando
aquela mesma quantidade de tempo para promover nosso nome,
nossa causa e nosso conforto. No quadro maior, fazemos mais
investindo tempo em servir e permitindo que Deus recompense
nossos esforços.
Jesus exemplificou a vida de serviço mais do que qualquer
outra. Ele não veio para ser servido, mas para servir (Mateus 20:28).
Jesus não nos chama para nada que Ele próprio não tenha nos
excedido tremendamente ao realizar. Ao entregarmos a vida para
servir a outros, estamos abraçando o que Ele abraçou, e assim nós
o abraçamos. Parte da intimidade mais profunda com Deus
acontece quando derramamos a vida no serviço a outros. Ele não
nos chamou para isso simplesmente porque essa é uma maneira
boa e piedosa de viver, mas porque ao servirmos a outros ficamos
face a face com o Servo de todos.

Orar
“Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a
seu Pai, que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto, o
recompensará” (Mateus 6:6). Jesus seguiu em frente nos chamando
para uma vida de oração — a terceira expressão do estilo de vida de
jejum. Orar também é difícil no sentido de que a carne combate
intensamente a aparente falta de produtividade. Orar a um Deus
invisível é um empreendimento oneroso: o impacto da oração em
geral é retardado e frequentemente não é discernido, e a
recompensa prometida por Deus nem sempre é o que imaginamos.
Orar e ler a Palavra de Deus são tipos de fraqueza voluntária
que representam um jejum do nosso tempo e das nossas emoções
(Mateus 6:5-13). Em vez de usar todo o tempo que temos para
aumentar nosso status ou nosso sucesso, usamos parte dele para
buscar a face de um Deus invisível. Em vez de sermos entretidos
pela televisão ou de navegar na Internet, intercedemos por aqueles
a quem Ele ama.
Quando doamos tempo a Deus, perdemos outras
oportunidades de fazer contatos; de edificar o ministério, os
negócios ou o status pessoal; ou de recreação e entretenimento.
Como mencionei anteriormente, nos meus primeiros anos, eu
reclamava: “Senhor, eu poderia fazer muito mais para Ti se eu não
tivesse de passar tempo orando”. Orar me parecia um desperdício.
Esse tipo de jejum, porém, é o oposto de um “desperdício” de
tempo. É verdade que não usamos aquelas horas para socializar,
ter comunhão ou promover nossa posição, mas, por isso, somos
forçados a confiar nossa vida ao Senhor para que Ele nos dê favor e
promoção, e rapidamente descobrimos que nunca conseguiremos
dar mais do que Deus, até mesmo em questão de tempo e energia.
Também estamos jejuando da nossa energia emocional
durante a oração quando nos derramamos e intercedemos pela
bênção de Deus sobre outros. Ao fazer isso, confiamos que Deus
tocará aqueles a quem amamos. Isso já seria recompensa
suficiente. Entretanto, Deus também nos dá o retorno pelo tempo e
pela energia emocional a fim de nos abençoar pessoalmente. Ele
costuma multiplicar esse investimento nos dando uma produtividade
maior. Realizamos mais pelos outros e por nós mesmos ao pedir a
Deus do que realizaríamos trabalhando sem orar. O prazo no qual
Deus nos recompensa com maior produtividade pode não ser
notado por anos. Você pode semear dez ou vinte anos em oração e
de repente Deus pode abrir uma porta de oportunidade para você
exercer maior impacto através da oração em um evento ou em um
período da vida do que durante os vinte anos anteriores. Parte
dessa produtividade intensificada não será vista até a era que está
por vir, mas Ele nos recompensa durante a presente era.
Perseverar em uma vida de oração e estudar Sua Palavra gera
tanto dificuldades quanto recompensas. Embora jejuemos da nossa
energia emocional e do nosso tempo, somos levados à comunhão
com o coração ardente de Jesus, o grande Intercessor. Adquirimos
vida interior através dos encontros de amor no nosso homem
interior, que Ele derrama enquanto esperamos diante dele. Esse
chamado à oração é árduo, mas também vem com a promessa de
um aumento imenso da nossa intimidade com Deus.

Abençoar os inimigos

Mas eu lhes digo: Amem os seus


inimigos e orem por aqueles que os
perseguem.
Mateus 5:44

Pois se perdoarem as ofensas uns


dos outros, o Pai celestial também
lhes perdoará.
Mateus 6:14
Outra parte do estilo de vida de jejum acontece quando
abençoamos e perdoamos nossos inimigos. Essa é uma expressão
do jejum relacionada aos relacionamentos e à posição diante das
pessoas. Quando abençoamos os inimigos, estamos jejuando das
palavras e da reputação. Pode ser uma ideia nova para alguns, mas
evitar dizer palavras negativas sobre nossos inimigos é um
verdadeiro jejum. O silêncio pode ferir nossa reputação porque nos
recusamos a sair em defesa própria. Uma boa reputação faz parte
da força da vida e todos nós temos um forte impulso de
autopreservação e autopromoção.
Em vez de fazer pleno uso das palavras para nos defender e
nos promover, o Senhor nos chama para restringirmos a fala e o
foco, colocando-os em outros, inclusive abençoando os inimigos.
Um “inimigo”, em sentido geral, é alguém que bloqueia nossos
objetivos. Ele fala e age de uma maneira que atrapalha nossos
planos e propósitos. O que os inimigos fazem, em geral, resulta na
perda da nossa honra, do nosso tempo, do nosso dinheiro e até dos
nossos relacionamentos. Ninguém aprecia essa perda.
Entretanto, o Senhor nos chama para agir no sentido contrário
quando enfrentarmos uma perda como essa. Assim como Ele fez,
precisamos perdoar e abençoar ativamente os inimigos. Isso
significa conter as palavras que poderiam expor o inimigo, defender
nossa posição e nos fortalecer com a simpatia e o apoio dos outros.
Quando perdemos essa força natural, imitando o silêncio do Senhor
diante de Seus acusadores, somos forçados a obter força e consolo
de Deus. Abençoar os outros diante da acusação deles requer que
nos confiemos a Deus. Isso é raro. Ficar em silêncio e deixar que
Deus responda em nosso favor talvez seja a maneira mais difícil de
jejuar.
Nosso egoísmo precisa morrer antes que possamos deixar
nossa defesa completamente nas mãos de Deus. Recusarmo-nos a
falar contra aqueles que nos maltratam vai contra a tendência
natural de autopreservação. Jesus se entregava a Deus para
consertar as coisas quando os homens o ameaçavam e criticavam.
Assim, Jesus confiava em Deus para vingá-lo da maneira correta e
no momento certo: “Quando insultado, não revidava; quando sofria,
não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça”
(1 Pedro 2:23).
Quando abençoamos nossos inimigos, abrimos mão do direito
à força emocional e social que poderíamos ter recebido ao
reagirmos. Jejuamos de defender nossa reputação, e confiamos no
Senhor para lutar por nós quando ficamos em silêncio. Essa talvez
seja a expressão do estilo de vida de jejum que é interpretada
menos literalmente pelos cristãos. Pensamos: Com certeza Deus
não iria querer que eu ficasse calado logo agora quando essa
pessoa está totalmente errada! Ele iria querer que a verdade
vencesse, certo? Confiantes de que estamos fazendo a coisa certa,
falamos para nos defender e expomos nossos inimigos. Mas o
convite de Deus é para que entreguemos a Ele voluntária e
completamente nossa reputação e nossos relacionamentos.

Fazer jejum de alimentos


“Ao jejuar, ponha óleo sobre a cabeça... para que não pareça aos
outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê no
secreto. E seu Pai, que vê no secreto, o recompensará” (Mateus
6:17-18). Finalmente, Jesus nos chama para o jejum de alimentos.
Abster-se de comida é o que costumamos pensar quando nos
referimos ao jejum. Como mencionei antes, a grande dificuldade do
jejum de alimentos não é tanto a fome quanto a fraqueza — nossa
força natural é diminuída quando jejuamos de alimentos. Quando a
carne se levanta contra o jejum, não é apenas porque temos fome e
queremos nos empanturrar de comida; é porque ficamos cansados
de nos sentirmos física e mentalmente fracos. Não gostamos de nos
sentir assim. Isso é um fardo. Dar nossa força física a Deus não é
apenas um fardo; é algo que pode nos fazer perder oportunidades.
O paradoxo do jejum surge novamente quando entendemos e
acreditamos que na graça de Deus faremos mais coisas investindo
nossa energia no jejum de alimentos do que teríamos realizado
trabalhando sem jejuar. A energia “usada” no jejum não é usada
para dar conforto ao corpo. Somos forçados a confiar a vida ao
Senhor tanto para receber força quanto conforto, e ao fazer isso,
passamos a focar em encontrar Deus. E embora frequentemente
haja o elemento da demora para vermos as recompensas do jejum,
a sabedoria de nos entregarmos ao Senhor desse modo não se
torna menos real.

Cinco Tipos Diferentes de Jejuns de Alimentos


Há cinco categorias comuns de jejuns de alimentos. Primeiro, o
jejum regular é aquele no qual passamos sem comida, bebendo
apenas água ou líquidos leves. A extensão comum desse jejum é de
um, três ou sete dias. Ocasionalmente ele pode durar mais tempo,
às vezes vinte e um ou até quarenta dias.
Segundo, o jejum líquido é aquele no qual passamos sem
alimentos sólidos e tomamos apenas líquidos leves, como sucos de
frutas. A maioria das pessoas não inclui leite nesse tipo de jejum.
Terceiro, o jejum absoluto , às vezes chamado jejum de Ester,
é aquele no qual nos abstemos de todo alimento e água. Esse jejum
dura de um a três dias. Encorajo as pessoas a serem cautelosas
quando estiverem fazendo o jejum absoluto e a nunca o estenderem
para além de três dias.
O quarto tipo de jejum, o jejum parcial, às vezes chamado
jejum de Daniel, é aquele no qual nos abstemos de alimentos
saborosos, e comemos apenas certas coisas, como vegetais ou
nozes. John Wesley costumava jejuar comendo apenas pão e
bebendo água. As pessoas que sofrem de hipoglicemia ou de outros
problemas de saúde podem fazer um jejum parcial sendo criativas.
Também encorajamos as pessoas a adotarem um jejum de mídia,
no qual elas se abstêm de entretenimento pela mídia, excluindo os
noticiários.
Quinto, o Jejum de Benedito , estabelecido por São Benedito
de Nursia, na Itália (525 d.C.), é um jejum no qual fazemos apenas
uma refeição ao dia. Muitos monges nos monastérios da Europa
viveram assim por anos e tinham corpos fortes e espíritos mais
fortes ainda.

O Estilo de Vida de Jejum é o Cristianismo


Normal
Possivelmente o maior inimigo e a maior mentira sobre o estilo de
vida de jejum no Corpo de Cristo seja a falsa noção de que jejuar é
um tipo de cristianismo radical , um exercício opcional para a vida
cristã saudável. Mas não é. Jejuar é normal e é básico para a vida
cristã — é o cristianismo básico, ou cristianismo puro e simples. No
entanto, a maioria de nós cresceu em ambientes onde o jejum
raramente era mencionado, ou era ignorado ou tratado como algo
inusitado; mas não existe cristianismo do Novo Testamento sem o
jejum regular.
Não é possível viver o cristianismo bíblico sem estar
comprometido com um estilo de vida de oração, jejum, ofertas,
serviço e a prática de abençoar os inimigos. Uma forma de
cristianismo destituída de quaisquer desses cinco elementos não é o
cristianismo do Novo Testamento. Todos nós somos chamados para
jejuar regularmente. Há exceções óbvias; grávidas ou pessoas com
problemas de saúde devem consultar o médico antes de jejuar de
alimentos. Mas a regra para a vida cristã é jejuar habitualmente, e
ainda que alguns não possam jejuar de alimentos por problemas de
saúde, ainda existem quatro outras maneiras pelas quais podem
jejuar. Não existe nenhuma passagem bíblica que exclua o povo do
século XXI do estilo de vida do Sermão do Monte porque estamos
ocupados demais ou somos importantes demais, ou por qualquer
outra razão. Quando estivermos face a face com Jesus um dia, Ele
não fará uma exceção para nós porque vivemos no século XXI. O
que Ele chamou a Igreja Primitiva para fazer é o que Ele chama
todos os cristãos para fazer, e Ele nos dá a mesma graça para
respondermos.
Alguns têm uma ideia distorcida da graça. Pensamos que se a
nossa vida for motivada pela graça ela será fácil. Jesus disse que
Seu jugo é suave (Mateus 11:29-30). Ele é suave porque em nossa
fraqueza podemos ter a confiança de que somos aceitáveis e
agradáveis a Deus. Ele é suave porque não temos de produzir nada
para receber o prazer de Deus. Deus ajuda a nos motivar e a nos
sustentar, e nos dá a confiança de que Ele tem prazer na nossa
obediência e nos recompensará na eternidade por isso. É fácil estar
no favor de Deus e receber Seu amor. Assim, por um lado, o
cristianismo é fácil.
Porém, por outro lado, o caminho é difícil. Jesus disse para
entrarmos pela porta estreita, uma porta que é apertada, mas
conduz à vida. Apenas poucos a encontram (Mateus 7:13-14). É
preciso um coração resoluto para permanecer na rota ao longo da
vida. Graça não significa que o caminho será difícil. Deus sempre
proverá o que necessitamos para andar nele.
Sou profundamente comprometido em chamar as pessoas
para viver o estilo de vida do Sermão do Monte, e para responder a
ele com o cristianismo básico. Encorajo os membros da nossa
equipe da IHOP-KC a buscar o Senhor em oração, usando a
Palavra. Eu os incentivo a ler dez capítulos do Novo Testamento
todos os dias. Ao fazer isso, eles lerão todo o Novo Testamento uma
vez por mês. Eu os estimulo a jejuar pelo menos um dia por
semana. Dois dias por semana é melhor. Na área financeira, os
encorajo a dar além dos seus dízimos e a dar mais do que daquilo
que lhes sobra, e a dar até que sintam o preço de dar. Também os
exorto a servir a outros e a abençoar os inimigos. Todas essas
coisas são parte do cristianismo normal e não deveriam ser tratadas
como opcionais ou não importantes. Nosso tesouro no céu não
corresponde apenas aos nossos hábitos de ofertar aqui na terra,
mas é constituído à medida que nos envolvemos em todas as cinco
atividades do Reino diariamente (Mateus 6:19-20). Deus valoriza
esses atos e se lembra deles por toda a eternidade.
Capítulo 7
Jejuando para Quebrar
Fortalezas Espirituais

O Falso Deus da Comida


Uma das coisas mais significativas que Jesus disse com relação ao
poder do jejum está registrada no livro de Mateus. Seus discípulos
não conseguiram curar um menino endemoninhado e o pai do
menino foi até Jesus clamando por libertação para seu filho. Os
discípulos ficaram perplexos com a razão pela qual eles não
puderam expulsar o demônio, e Jesus lhes disse que a chave era
um estilo de vida de oração e jejum:
“Senhor, tem misericórdia do meu
filho. Ele tem ataques e está
sofrendo muito. Muitas vezes cai no
fogo ou na água. Eu o trouxe aos
teus discípulos, mas eles não
puderam curá-lo.”
Respondeu Jesus: “Ó geração
incrédula e perversa, até quando
estarei com vocês? Até quando terei
que suportá-los? Tragam-me o
menino”.
Jesus repreendeu o demônio; este
saiu do menino e, desde aquele
momento, ele ficou curado. Então os
discípulos aproximaram-se de Jesus
em particular e perguntaram: “Por
que não conseguimos expulsá-lo?”.
Ele respondeu: “Por que a fé que
vocês têm é pequena. Eu lhes
asseguro que se vocês tiverem fé do
tamanho de um grão de mostarda,
poderão dizer a este monte: ‘Vá
daqui para lá’, e ele irá. Nada lhes
será impossível. Mas esta espécie só
sai pela oração e pelo jejum”.
Mateus 17:15-21
Na essência, Jesus estava dizendo aos discípulos que a unção
para quebrar o poder de Satanás sobre a vida do Seu povo estava
ligada à oração e ao jejum. O jejum é um dos elementos
necessários que deveríamos abraçar quando confrontamos as
fortalezas demoníacas.
Há um falso deus que precisa ser destronado em nossa vida —
o deus dos apetites físicos, especificamente o deus da comida .
Esse deus mina a cruz de Cristo. Filipenses 3:18-19 diz: “Pois... há
muitos... que vivem como inimigos da cruz de Cristo. O destino
deles é a perdição, o seu deus é o estômago...”. A comida, que é
uma bênção ordenada por Deus, tem sido explorada pelos poderes
demoníacos. Paulo mencionou esse falso deus, que havia
estabelecido uma fortaleza espiritual em algumas pessoas na Igreja
do Novo Testamento. Ele disse que o deus delas era o estômago,
ou seja, os apetites físicos.
Por mais chocante que isso possa parecer, entregamos um
território real da vida aos demônios, permitindo que a comida seja
um ídolo. Paulo apontou o dedo diretamente para esse ídolo e
chamou-o de falso deus. Ele geralmente não é reconhecido hoje. Os
cristãos na Igreja ocidental permitem que esse deus reine em suas
vidas sem contestação, diariamente, e não percebem que através
da indulgência estão adorando outro deus que não o único Deus
verdadeiro.
Ninguém pensa que adora a comida; nenhum cristão quer
adorar a comida. Mas nossos apetites — o desejo por comida —
podem ocupar o primeiro lugar nos nossos planos e programas a
ponto de se tornarem um dos nossos principais objetivos na vida.
Alguns pensam continuamente em comida, imaginando o que irão
comer no dia seguinte e organizando o dia ao redor disso. Eles nem
sequer reconhecem que foram presos no laço de colocar a
confiança na comida. Essa falsa confiança se manifesta quando
comemos para acalmar os nervos; para ter coragem de enfrentar os
medos; para cobrir a realidade das nossas lutas internas; e para
sentir conforto e alegria. Honestamente, para você, qual é o
principal método que as pessoas utilizam para se acalmar, aliviar
medos, distraí-las dos problemas e lhes trazer alegria? Sem dúvida
a comida é um deus , um ídolo e uma fortaleza espiritual.
É fácil ver a verdade sobre essa fortaleza nas pessoas que têm
obsessão por comida — aquelas que falam sobre isso na maior
parte do tempo e aquelas que estão pensando nisso continuamente.
Pensamos que não estamos presos nessa armadilha, mas o laço
está na natureza sutil do engano. Embora não estejamos nos
prostrando, cantando louvores e adorando nossos estômagos,
podemos estar mais enlaçados do que pensamos. Podemos estar
muito mais ligados emocional e mentalmente à comida do que
gostaríamos de admitir e, sem dúvida, precisamos da graça do
jejum tanto para destronar esse ídolo quanto para nos proteger do
perigo de permitir que ele crie raízes em nossa vida.
O quanto essa fortaleza nos domina é algo que não ficará
aparente até que comecemos a jejuar com regularidade. Se você
não tem certeza quanto ao fato de que um amor exagerado pela
comida é realmente uma fortaleza espiritual em sua vida, veja o que
acontece quando a comida é retirada. A fúria vem à tona
imediatamente. Os filhos de Israel se rebelaram porque estavam
cansados de comer somente maná dia após dia no deserto. Eles
estavam dispostos a abandonar a aliança com Deus e a voltar para
o cativeiro egípcio apenas para ter comida saborosa novamente. A
medida do nosso desconforto e da nossa raiva quando o prazer e o
conforto da comida nos são negados é a medida da nossa adoração
a ela.
A realidade paradoxal da comida é que Deus a criou com todas
as complicações do seu uso adequado e do seu mau uso. Deus
conhecia a natureza complexa desse presente, mas o entregou a
nós para lidarmos com ele. Por que o Senhor permitiria que algo tão
elevado tivesse um aspecto tão perigoso? Esse é um paradoxo que
nos faz tremer. O Senhor quer pessoas que o amem
voluntariamente, aquelas que repudiarão sua lealdade suprema à
comida, ao conforto e à facilidade para poderem entrar na plenitude
de Deus.
A comida é boa, não é má em si. O apetite físico foi dado por
Deus; a comida é um dos grandes presentes que nos foram dados
por Ele. Ele a criou para dar força e para ser um meio de celebrar
Sua bondade, tanto durante esta era quanto na era que está por vir
(Lucas 22:16-18). Para participar desses dois propósitos divinos
para a comida — força física e celebração da bondade de Deus —
precisamos de discernimento . Precisamos agir cuidadosamente
porque aquilo que é bom para nosso equilíbrio se torna um objeto
de idolatria quando o interpretamos de maneira injusta. Essa
bênção da comida e da bebida tem o grande potencial de nos
afastar do seu propósito natural quando os poderes demoníacos a
exploram. De um lado, celebramos recebendo força, prazer e
comunhão através dela. Por outro lado, o exagero permitirá que o
inimigo conquiste um território em nossa vida que leva a fortalezas
demoníacas e a uma tremenda destruição.
Para entender como a comida pode sabotar nossa vida em
Deus, precisamos primeiro considerar como Deus nos criou. O
corpo exerce um papel significativo em nossa vida espiritual. Ele foi
projetado por Deus para ser o veículo através do qual nós o
experimentamos. Por isso, corpo, alma e espírito estão
profundamente interligados. É pelo projeto de Deus que a vida
emocional, as capacidades espirituais e o apetite físico se
sobrepõem uns aos outros, interagem uns com os outros e afetam
uns aos outros de maneira dinâmica. Não podemos separar o
espírito daquilo que alimenta a vida emocional e mental, ou do que
fazemos com o apetite físico. A alma prospera quando o corpo está
sob o controle do Espírito Santo, e o espírito se torna entorpecido e
entristecido quando isso não acontece.
Nosso corpo é o templo do Espírito Santo. Se ele é dominado
pelo pecado, nossa capacidade de experimentar a vida de Deus é
sufocada. Contaminamos tanto nosso espírito quanto nosso corpo
quando alimentamos o apetite físico de uma maneira contrária a
Deus. Algumas coisas são óbvias, como o álcool, as drogas e a
imoralidade sexual. Entretanto, essa contaminação em potencial
também ocorre quando apetites legítimos são levados ao excesso
em nossa vida. A definição de excesso é diferente para cada
pessoa, e pode mudar de acordo com diferentes períodos da vida.
A maioria de nós enxerga facilmente a relação entre atos de pecado
e a contaminação do espírito, mas muitas vezes não associa o
exagero nos apetites legítimos ao entorpecimento espiritual.
Precisamos entender que eles estão profundamente ligados.
Muitos cristãos no mundo ocidental estão presos no laço de
viverem preocupados com comida, entretenimento e recreação. Não
é raro que um número incontável de homens e mulheres que se
consideram tementes ao Senhor busque uma vida de facilidade da
mesma maneira que o mundo busca, enquanto ao mesmo tempo
acredita que a graça de Deus lhes dá o direito a essas coisas.
Nosso espírito está clamando para entrar em uma ascensão divina,
para voar com o Espírito Santo como fomos criados para fazer, mas
empanturramos a alma e o corpo de uma maneira que trava nosso
espírito e nos enraíza na contaminação da carne.
O jejum de alimentos é uma estratégia brilhante de Deus.
Embora a princípio fiquemos assombrados diante da ideia de por
que deveríamos jejuar daquilo que Deus nos deu para termos força
e celebração, descobrimos que a maneira de ingressarmos em mais
da bênção de Deus é recebendo essas bênçãos na medida certa, e
não permitindo que elas se tornem fortalezas de idolatria em nossa
vida. O jejum serve a esse propósito mantendo a bênção da comida
sob controle e libertando nosso espírito para alcançar as alturas da
intimidade com Deus.

Cativeiro Espiritual Através da Comida


O falso deus da comida tem operado ao longo da história humana,
afetando os pagãos e o povo de Deus de igual maneira. O primeiro
vestígio disso foi quando Satanás tentou Eva no jardim do Éden. O
inimigo apresentou a ela algo que mexeu com seu apetite físico e o
prazer do fruto contribuiu para a tentação de Eva de cruzar um limite
dado por Deus, o conhecimento do bem e do mal (Gênesis 3:6).
Vemos essa fortaleza novamente quando o Senhor se referiu ao
ídolo da comida na geração de Ezequiel, dizendo que Israel havia
caído no pecado de Sodoma, em parte por ter sido vencido pela
indulgência excessiva com comida, junto com outros excessos.
“Ora, este foi o pecado de sua irmã Sodoma: Ela e suas filhas eram
arrogantes, tinham fartura de comida e viviam despreocupadas; não
ajudavam os pobres e os necessitados” (Ezequiel 16:49).
Em geral, pensamos no pecado de Sodoma como sendo a
imoralidade, mas a imoralidade era o resultado de outros pecados
presentes. O pecado de Sodoma consistia de quatro coisas:
abundância de comida; abundância de ociosidade e cobiça, que se
recusava a ajudar os pobres; e tudo isso oriundo de um orgulho que
utilizava mal a comida, o tempo e o dinheiro. Esses eram os
tentáculos que se esgueiravam até o espírito humano para chegar a
um esgoto de perversão sexual.
Essa fortaleza da comida também estava bem viva na geração
de Israel que Deus retirou do Egito. Deus os alimentou fielmente com
maná que caía do céu, mas eles queriam uma mudança na dieta.

Um bando de estrangeiros que havia


no meio deles encheu-se de gula, e
até os próprios israelitas tornaram a
queixar-se, e diziam: “Ah, se
tivéssemos carne para comer! Nós
nos lembramos dos peixes que
comíamos de graça no Egito, e
também dos pepinos, das melancias,
dos alhos porós, das cebolas e dos
alhos. Mas agora perdemos o
apetite; nunca vemos nada, a não ser
este maná!”.
Números 11:4-6

O Senhor retirou o povo da terra e o povo se rendeu aos


anseios intensos dos apetites físicos. Embora tivessem o maná de
Deus, eles clamaram por uma mudança na dieta, querendo peixe,
alho, cebola e outras comidas saborosas. O problema não era eles
estarem com fome, mas desejarem o sabor e o prazer da comida.
Eles disseram que a alma deles estava seca porque não tinham
uma comida saborosa. Eles choraram amargamente diante de Deus
dizendo que estavam dispostos a voltar para o cativeiro egípcio por
causa dessas coisas saborosas.
Essas são as mesmas pessoas que testemunharam as dez
pragas do Egito e a divisão do mar Vermelho. Uma coluna de fogo
os conduzia à noite e uma nuvem de dia. No entanto, eles estavam
dispostos a rejeitar as promessas divinas, seu chamado e os
milagres de Deus em benefício próprio, tudo em troca de uma
comida saborosa. Eles estavam dispostos a abrir mão de verem a
glória do fogo de Deus, da nuvem de fumaça e até das promessas
proféticas nas quais seus filhos entrariam — tudo pelo paladar . O
quanto o deus da comida é real? A alma dos israelitas não havia
realmente se ressecado da maneira como eles reclamavam, mas
eles secaram espiritualmente depois que Deus lhes deu o que eles
queriam. Ele enviou “magreza às suas almas” (Salmos 106:15,
ACF).
Os filhos de Israel disseram o que nós na Igreja ocidental
jamais seríamos capazes de reconhecer abertamente, e também o
que nem sequer percebemos: o deus da comida escravizou nosso
coração e estabeleceu ali uma fortaleza. A escravidão é perigosa.
Ela significa que somos possuídos por um senhor ou senhores que
não são o Senhor Deus. É muito fácil nos afastarmos dessas
histórias e pensarmos em nós mesmos como sendo mais espirituais
ou mais maduros em Deus, no entanto somos tão insaciáveis hoje
com relação aos nossos prazeres físicos quanto os israelitas eram
na época.
A cultura da imoralidade de Sodoma e de Israel nos dias de
Ezequiel é a mesma do mundo ocidental hoje, e o anseio que os
israelitas tinham pelas comidas saborosas do Egito pode ser
encontrado em quase todas as casas, mercados e anúncios de
comida em nossas cidades. Esse espírito permeia nossa cultura.
Esses apetites físicos não são neutros, inocentes ou inofensivos
quando estão fora da vontade de Deus; em vez disso, eles são
prejudiciais e poderosos, e a Igreja ocidental sabe pouca coisa a
respeito deles. Embora Deus não nos ame menos por causa da
nossa participação nisso, nosso espírito fica entorpecido por essas
coisas. Quando rendemos nossa paixão aos ídolos da comida e do
bem-estar, nos submetemos ao poder deles sobre nossa vida e nos
tornamos escravos do seu domínio. Essa idolatria não tem sido
confrontada na Igreja ocidental de maneira significativa. A realidade
é que esta é uma guerra espiritual que escapou à nossa
observação.
Jesus abordou essa perigosa realidade na parábola do
agricultor rico e louco (Lucas 12:16-20). O agricultor queria viver
uma vida de conforto, desfrutando de comida e vinho, com pouca
preocupação com a vontade de Deus. Ele sem dúvida não queria
ficar debaixo do fardo dos propósitos de Deus. Na parábola, o
Senhor chamou-o de louco. Ele vivia para o dinheiro, para a comida
e para ter tempo livre para poder desfrutar de conforto e prazer.
Muitos hoje têm o mesmo objetivo. Querem escapar das
pressões da vida através dos divertimentos. Até algumas pessoas
na Igreja estão dispostas a abrir mão do futuro espiritual pelos
prazeres da comida e do conforto agora. Os que fazem parte da
Igreja ocidental se reúnem para adorar e ouvem a Palavra no
domingo, desde que o culto não dure mais de uma hora, para
poderem ir comer e se distrair. Na verdade, nós nos reunimos para
fazer quase tudo além de orar e jejuar. A fortaleza da comida está
estrangulando nosso coração, e precisamos responder ao convite
do Senhor para nos libertarmos dela. Meu interesse não é
repreender, mas fazer sacudir a mente a fim de que despertemos
para a realidade de que provavelmente não sejamos tão dedicados
a Deus quanto imaginamos.
O estado da Igreja hoje exige que destronemos o deus da
comida e comecemos a abraçar estilos de vida de oração e jejum. A
Igreja hoje se contentou em não ser capaz de curar os enfermos ou
de libertar as pessoas por quem oramos dos demônios. Tornou-se
natural o pecado destruir famílias e casamentos. As salas de oração
estão vazias, o evangelismo de poder é raro e os incrédulos não
tremem diante da Igreja como tremiam no Livro de Atos. Nossa
pregação, em geral, é impotente e voltada para agradar as pessoas.
Mas, apesar de tudo isso, existem alguns que veem claramente o
que está acontecendo. Não fiquemos mais com as almas
ressequidas. Em vez de continuar a viver presos ao cativeiro do
prazer, do entretenimento e da recreação, precisamos começar a
orar e a jejuar com consistência. Deus promete que se entrarmos
em oração e jejum, Ele vai nos libertar do nosso cativeiro e nos levar
a uma vida livre das cobiças desta era e das fortalezas da comida,
do conforto e da facilidade.

Destruindo a Fortaleza dos Apetites Físicos


A comida é um prazer muito decepcionante em certo sentido,
porque a satisfação que ela traz é superficial e temporal, mas ela
pode ser espiritualmente poderosa e sedutora. Temos de confrontar
seu poder em nossa vida. Está claro que o caminho para sair desse
cativeiro inclui jejum e oração. Mas a maioria das pessoas fica
quase paralisada diante do medo do jejum. Lembro-me desse medo
inicial na minha jornada pessoal quando eu disse “sim” pela primeira
vez ao chamado de Deus para viver um estilo de vida de jejum.
Fiquei paralisado de medo. Logo descobri, porém, que o medo de
jejuar é pior que o jejum em si.
Jesus jejuou por quarenta dias quando foi para o deserto para
ser tentado (Mateus 4). O jejum não fazia parte do teste, mas era
parte do processo que o fortaleceu para resistir às tentações de
Satanás. Era comum a Igreja Primitiva jejuar para resistir ao inimigo.
Muitos dos santos ao longo da história entendiam que o jejum
ordenado pelo Espírito de Deus é uma maneira poderosa de
neutralizar o ataque de Satanás que vem durante os períodos de
unção especial de Deus. O jejum combinado com a concordância
com Deus, que é o arrependimento, e a meditação focada na
Palavra, resultam nas nossas fortalezas mentais serem destruídas.
“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas
em Deus para a destruição de fortalezas” (2 Coríntios 10:4, ARA).
O falso Deus da comida resiste ao jejum e à oração. Os
poderes demoníacos sabem que o jejum é uma ferramenta
poderosa na batalha espiritual, de modo que é o máximo interesse
deles nos manter cativos da comida e, assim, incapazes de nos
rendermos a essa arma explosiva. João Batista foi atacado pelo seu
estilo de vida de jejum radical. Jesus disse que João veio sem
comer e sem beber e eles acharam que ele tinha demônios (Mateus
11:18). João era considerado perigoso e louco por causa da sua
mensagem e do seu estilo de vida de jejum e oração. O mesmo
espírito que atacou João Batista é a fonte do poder de toda a nossa
cultura ocidental imoral. Ele não sairá silenciosamente. Ele se
levantou contra João e atacará aqueles que se dedicarem à oração
e ao jejum nesta geração. Ele finalmente não terá êxito contra
aqueles que vivem consistentemente o estilo de vida de jejum.

Guerreando Contra os Pecados Persistentes


Através da Oração e do Jejum
“Livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos
envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é
proposta” (Hebreus 12:1). O jejum não é só uma ajuda para nos
livrar dos vícios relacionados aos apetites físicos, Deus também nos
deu essa graça para destruir as fortalezas demoníacas em nossa
mente. Deus quer nos libertar dos “pecados que nos envolvem” e
das mentiras acerca da nossa identidade que nos aprisionam.
Os pecados que nos assediam são mais graves que os
pecados nos quais tropeçamos ocasionalmente. São ações ou
atitudes habituais que mantêm o povo de Deus cativo. Paulo falou
sobre isso como sendo aprisionados pela armadilha do diabo (2
Timóteo 2:26). Os pecados comuns que assediam as pessoas
incluem pornografia, imoralidade, ira, álcool, drogas, tabaco e
diferentes distúrbios alimentares, como comer demais ou comer de
menos. Isaías nos exorta a “soltar as correntes da injustiça” (Isaías
58:6), para podermos ser libertos do comportamento pecaminoso
ao qual estamos viciados. Os que lutam contra um pecado
persistente se sentem impotentes e são incapazes de ver um meio
de escape. A força de vontade não é forte o suficiente para nos
libertar dos pecados persistentes. As fortalezas são fortificadas
pela ação demoníaca; são estabelecidas em territórios nos quais
Satanás recebeu o direito de manter, seja através do nosso
pecado ou do pecado dos que viveram nas gerações antes de nós.
Os cristãos se sentem impotentes quando passam anos
tentando ser bons e fortes, mas ainda não conseguem vencer o
distúrbio alimentar, ou se libertar da pornografia pela internet, ou
parar de beber, ou romper com um relacionamento imoral. Eles
clamam a Deus, frequentam sessões de aconselhamento e correm
para todas as filas de oração que encontram, mas a libertação não
vem. Como, então, podemos ser libertos dessas fortalezas em
nossa vida? Precisamos reconhecer a fonte das fortalezas
espirituais se quisermos quebrar o domínio delas sobre nós, e usar
as armas espirituais que o Senhor nos deu em vez das nossas
armas carnais. Precisamos nos arrepender sinceramente do nosso
envolvimento com cada área específica de trevas em nossa vida.
Abrimos a porta para fortalezas espirituais através do pecado,
dos valores heréticos ou da atividade ocultista, e permanecemos
ligados a elas especialmente através da amargura ou de ideias e
pensamentos errados. A amargura é um pecado que nos mantém
presos àqueles que nos maltrataram (Mateus 18:21-35). Valores,
mentalidades e pecados podem exercer controle espiritual sobre
uma linhagem familiar por gerações. Outras pessoas caem sob o
poder de fortalezas espirituais através do envolvimento com
ocultismo, sessões espíritas, astrologia ou magia branca ou negra.
Precisamos incluir nessa lista a nossa contribuição para
continuarmos nos enganando. Escolhemos ficar entrincheirados nas
trevas quando negligenciamos nos encher com as verdades da
Palavra de Deus.
Independentemente de como estamos envolvidos, precisamos
nos arrepender sem misericórdia de tudo que fizemos para permitir
a construção de fortalezas espirituais e para dar ao inimigo o direito
de ocupar território em nossa vida. Se pedirmos com fé, o Espírito
Santo revelará que fortalezas Satanás possui e que áreas de trevas
perpetuamos através do pecado da mentalidade errada. Nossa
capacidade de nos arrepender, de resistir ao diabo e de andar na
verdade da Palavra e no poder do Espírito Santo é aprofundada à
medida que jejuamos e oramos.
Não devemos negligenciar o jejum e a oração como partes
dessa jornada para vencermos pecados viciantes e demolir
fortalezas. Muitos dos ministérios de aconselhamento na Igreja hoje
menosprezam a oração e o jejum como sendo desnecessários,
oferecendo, em lugar deles, o que eles acreditam ser meios mais
“práticos” de libertação. Entretanto, Jesus enfatizou o lugar da
oração com jejum na luta contra o pecado e o cativeiro (Mateus
17:21). Nossos conselheiros são mais sábios e mais sofisticados
que Jesus? Eu não mandaria ninguém para um ministério de
aconselhamento que não valorizasse a oração e o jejum. Embora os
ministérios que valorizam a oração e o jejum sejam difíceis de
encontrar na Igreja hoje, Deus está levantando mais destes o tempo
todo.

Guerreando Contra os Pecados Persistentes


Através da Palavra
A eficácia na oração e no jejum está dinamicamente ligada à
profundidade na Palavra de Deus. Paulo disse que a Palavra opera
com efeito em nós para nos libertar dos pecados que nos assediam
(1 Tessalonicenses 2:13). Mas por que a Palavra de Deus é tão
eficiente? Porque ela é viva e poderosa, e mais afiada do que
qualquer espada de dois gumes, uma vez que quebra cativeiros em
nossa vida (Hebreus 4:12). A oração e o jejum nos tornam mais
abertos para que a Palavra viva e opere em nós. João 15:7 diz: “Se
permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em
vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (ARA). Tiago 1:21
diz: “Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que
prevalece, e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês,
a qual é poderosa para salvá-los”. Jesus prometeu que se as
palavras de Deus, que são Seus pensamentos, permanecerem em
nós, teríamos poder na oração. A Palavra permanece em nós
quando meditamos nas Escrituras e buscamos ter cem por cento de
obediência. A Palavra permanece em nós quando cria raízes em
nossa mente. O combustível do espírito de oração é a Palavra de
Deus saturando nosso homem interior.
Não queremos apenas “fazer orações” de uma maneira
religiosa e mecânica. Alguns jejuam como se isso fosse uma
espécie de truque mágico para remover o pecado do coração. Eles
não se arrependem nem se enchem com a Palavra de Deus. O
jejum em si não nos transforma; o poder de Deus, sim. Armazenar a
Palavra de Deus no coração é o caminho para a liberdade dos
prazeres terrenos ou pecaminosos, e o caminho para a liberdade e
o prazer em Deus. À medida que isso acontece, poderemos deixar o
falso deus no pó, nos alegrar somente em Deus e ver nossas
orações atendidas.

Ponha no coração as suas palavras.


Se você voltar-se para o Todo-
poderoso, voltará ao seu lugar: Se
afastar da sua tenda a injustiça,
lançar ao pó as suas pepitas, o seu
ouro puro... o Todo-poderoso será o
seu ouro... você achará prazer no
Todo-poderoso ... A ele orará, e ele o
ouvirá... O que você decidir se fará,
e a luz brilhará em seus caminhos...
Jó 22:22-25, 27-28

Estabelecendo um Plano de Ação para Estar Na


Palavra
Cada um dos quatrocentos membros da equipe da Base Missionária
da International House of Prayer em Kansas City permanece na
Sala de Oração por determinado número de horas por semana.
Sugeri algumas diretrizes simples para ajudá-los a permanecer
focados durante os momentos em que não estão envolvidos
ativamente com a equipe de adoração ou orando no microfone.
Usamos essas diretrizes fora da sala de oração também.
Precisamos crer que é a vontade de Deus que tenhamos uma vida
de oração dinâmica. Deixe-me sugerir um plano de ação simples,
mas eficaz, para seu desenvolvimento espiritual.
Primeiro, estabeleça um plano de estudo bíblico pessoal para
encher seu coração com a Palavra até que ela ganhe vida dentro de
você. Se você achar a Palavra entediante, siga em frente. Não
desista até sentir seu poder no coração. Ler dez capítulos do Novo
Testamento seis dias por semana é uma maneira simples de ler todo
o Novo Testamento uma vez por mês. Também encorajo a equipe a
participar de aulas de estudo bíblico. Nós as oferecemos pela
Internet, como fazem muitas escolas bíblicas. Frequente aulas de
estudo bíblico em sua igreja, sua escola ou seu local de trabalho.
Algumas pessoas estudam mais quando participam de ensinos
bíblicos com outros. Leia biografias de pessoas que viveram vidas
dedicadas ao Senhor e atuaram no poder do Espírito Santo. Estude
os livros da Bíblia usando pelo menos dois comentários para ajudá-
lo a compreender as passagens. Leia livros cristãos que lhe deem
uma percepção prática da vida com Deus e o encorajem a viver uma
vida santa.
Em segundo lugar, ore muito no Espírito. Encorajo todos a
tentarem orar no Espírito por uma hora por dia, enquanto focam no
Trono de Deus conforme descrito em Apocalipse 4. É importante
fazer um diário enquanto faz isso. Paulo disse que quando oramos
no Espírito, edificamos o nosso espírito e recebemos mistérios
(revelação) de Deus (1 Coríntios 14:2, 4). Orar no espírito era tão
importante para Paulo que ele orava assim mais do que qualquer
outra pessoa (v. 18). Paulo escreveu: “Pois quem fala em língua não
fala aos homens, mas a Deus... em espírito fala mistérios. Mas
quem profetiza o faz para a edificação, encorajamento e consolação
dos homens. Quem fala em língua a si mesmo se edifica...” (v. 2-4);
e “Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês”
(v. 18).
Em terceiro lugar, programe dias de jejum regular. Incentivo
todos a jejuarem pelo menos uma vez por semana. É melhor jejuar
dois dias na semana. Faça também um jejum longo ocasionalmente.
Em quarto lugar, desenvolva uma lista pessoal de oração. Isso
ajudará você a focar enquanto ora seguindo essa lista todos os dias.
Orar em voz alta me ajuda a controlar meus pensamentos. Até orar
sussurrando faz diferença. Minha lista pessoal de oração tem três
áreas principais. Primeiro, oro por uma transformação em meu
coração. Foco em crescer em intimidade pedindo ao Senhor para
liberar em mim a unção para amar. Isso inclui o Espírito me ajudar a
entender e a sentir o amor de Deus e, então, amá-lo em troca
(Efésios 3:16-19). Peço que o temor de Deus seja liberado em mim
(Salmos 86:11) e que eu possa aprender a mansidão de Jesus
(Mateus 11:29). Precisamos imitar Jó quando fez aliança com seus
olhos para andar em pureza (Jó 31:1; Salmos 101:3). Parte da
mudança no coração envolve pedir ajuda divina para controlar a
língua (Salmos 141:3; Tiago 3:2). Em tudo isso, quero ouvir Deus
claramente e obedecer a Ele prontamente.
Em seguida, oro por uma mudança na mente . Peço a Deus
sabedoria e direção para cada uma das áreas específicas da minha
vida e do meu ministério, depois peço revelação da Palavra de Deus
(Efésios 1:17-18). Especificamente, peço para entender a
personalidade e os propósitos de Deus. Quero conhecer as
emoções dele (Salmos 27:4) e Sua vontade para minha vida e meu
ministério (Colossenses 1:9). Peço revelação dos propósitos de
Deus para o fim dos tempos (Daniel 11:35; 12:10).
Por fim, peço a Deus uma manifestação de poder no meu
ministério. Peço mãos e palavras ungidas. Quero que o poder de
Deus flua através de todos nós em curas e milagres. Também peço
poder apostólico nas minhas palavras, que a convicção do Espírito
repouse sobre elas quer eu esteja orando, pregando ou em
conversas pessoais com amigos ou incrédulos. Peço visão profética
para perceber os segredos do coração dos homens a fim de que eu
possa ministrar a eles com eficácia (1 Coríntios 14:25). Uso as
orações do Novo Testamento dos apóstolos para cada uma dessas
áreas. Há muitas listas de oração diferentes no website da IHOP-
KC para ajudar você a começar.
Em quinto lugar, desenvolva uma lista de oração que foque em
orar pelos outros . Ore especificamente pela ação de Deus em
várias áreas da vida deles. Inclua nessa lista família, amigos,
ministérios, os não salvos, os enfermos, etc. Ore pelas três áreas
citadas na minha lista de oração pessoal.
Uma palavra de exortação: use suas noites para fortalecer o
espírito. Muitos cristãos diminuem sua vida com Deus à noite,
depois procuram recuperar terreno espiritual durante o dia. A noite
é a hora em que a maior parte das perdas espirituais acontece e é
quando a maior parte do território espiritual é entregue. Não
devemos ficar constantemente dando um passo para frente e outro
para trás. O território que conquistamos na batalha espiritual pode
ser perdido novamente através da negligência ou do pecado.
Vamos ser diligentes em oração, em jejum e também
permanecendo na Palavra. Só então veremos as fortalezas do
inimigo serem demolidas progressivamente em nossa vida e o
poder do amor de Deus começar a ser cada vez mais manifesto na
nossa experiência.
Capítulo 8
Cinco Recompensas do Estilo
de Vida de Jejum

(Dana
falando.) Quando realmente senti o convite do Senhor para
dizer “sim” à graça do jejum há vários anos, lembro-me de
tremer até mesmo diante da simples ideia de jejuar. Parecia
uma montanha à minha frente. Eu achava difícil me conectar com a
razão pela qual isso era tão importante para a vida cristã e ainda
mais difícil imaginar que poderia haver realmente recompensas ao
fazer isso. Entretanto, o Senhor logo me surpreendeu, como Ele
ama fazer quando dizemos “sim” a esse convite.
Quando comecei a incorporar o jejum regular à minha agenda,
percebi, pouco a pouco, que o jejum não era o trabalho penoso que
eu havia imaginado. Não apenas isso, mas havia partes dele que
eram maravilhosas. Por exemplo, eu amava a ternura que sentia
diante de Deus nos tempos de jejum, a sensibilidade e o amor pelo
Senhor que repousavam em meu coração. Progressivamente, Deus
começou a me conquistar ao me permitir experimentar os benefícios
do jejum. Passei a valorizá-lo e a amá-lo a tal ponto que agora
anseio pelos dias de jejum. Essa talvez seja uma das realidades
mais surpreendentes que encontrei no jejum: receber a graça para
realmente amá-lo.
O jejum por natureza não tem nada de atraente. Como
pessoas que foram criadas para o prazer, por um Deus de prazeres
intermináveis, não somos naturalmente atraídos por esse tipo de
disciplina. Antes de desfrutar alguns dos benefícios reais
adquiridos com o jejum, eu jamais teria imaginado que poderia ser
possível, ainda que remotamente, gostar de jejuar. Mas isso é
possível, e comprovável, quando essas recompensas começam a
tocar nosso coração. Embora eu saiba que mal me aproximei das
profundezas desses benefícios maravilhosos, creio de todo o meu
coração na existência real deles. Meu desejo é passar o resto dos
meus dias, pela graça de Deus, respondendo ao convite do jejum e
recebendo suas recompensas. Jesus acena para cada um de nós a
fim de participarmos desse convite (Mateus 6:17-18).

O Jejum Gera Recompensas Internas


“Ao jejuar, ponha óleo sobre a cabeça e lave o rosto, para que não
pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai,
que vê no secreto. E seu Pai, que vê no secreto, o recompensará”
(Mateus 6:17-18). Dizer “sim” ao estilo de vida de jejum e posicionar
o coração diante de um Deus Noivo no jejum é um maravilhoso
convite do Senhor, e há muitas recompensas a serem colhidas ao
se fazer isso. O que precisamos saber desde o começo dessa
jornada, porém, é que muitas dessas recompensas a princípio estão
escondidas de nós porque são recompensas internas, relacionadas
à nossa intimidade com Deus. Elas estão centradas ao redor daquilo
que toca o coração e, assim, muitas vezes são difíceis de serem
reconhecidas facilmente ou rapidamente. Uma transformação está
ocorrendo em nós, a qual não podemos detectar imediatamente,
mas que, ainda assim, é real. Esses benefícios costumam ser
“retardados”, no sentido de que não podemos reconhecê-los até
olharmos para trás. Saber sobre esse atraso antecipadamente nos
permite resistir ao desânimo diante do que parece ser a ausência de
mudanças quando começamos a jejuar.
Para muitas pessoas, pode ser um conceito novo buscar a
Deus para ter recompensas que são principalmente internas. Alguns
indivíduos só encaram o jejum como uma maneira de aumentar o
poder de Deus em seu ministério. É bíblico jejuar com esse
propósito (Mateus 17:21). No entanto, aquele que jejuou mais do
que qualquer outro nas Escrituras, além de Ana, foi João Batista,
que não fez milagres, sinais ou maravilhas (João 10:41). Mas a
visão do céu sobre João era impressionante. Gabriel profetizou que
ele seria grande aos olhos de Deus, e Jesus chamou-o de o maior
homem já nascido de mulher (Lucas 1:15; Mateus 11:11). Sua
grandeza não estava relacionada a milagres no seu ministério. Ele
não fez nenhum. Sua grandeza estava na obediência a Deus e na
intimidade com Ele, coisas que João cultivou vivendo um estilo de
vida de jejum.
Sem um entendimento acerca da transformação que Deus nos
trará através do jejum, poderíamos estar propensos a temê-lo.
Muitos só estão cientes do lado negativo e difícil do jejum. Pois a
boa notícia é que o jejum traz benefícios impressionantes com
relação à nossa intimidade com Deus. Neste capítulo, iremos focar
em cinco recompensas do jejum — benefícios tão poderosos que,
com o tempo, nos farão amar jejuar! Alguma vez imaginamos que o
jejum poderia ser estimulante? Isso só acontece porque temos um
Deus lindo e um Noivo que arde de desejo por nós. Por fim,
ficaremos tão famintos para aumentar nossa experiência com a
presença de Deus que jejuaremos ainda mais. O jejum não é uma
experiência a ser temida, mas uma experiência na qual deveríamos
nos lançar com ansiedade. Antes do retorno do Senhor, será comum
que aqueles que o amam também amem jejuar.
Recompensa no 1: o jejum abranda e sensibiliza
o coração para receber mais de Deus
O jejum abranda as emoções. O coração é, por natureza, propenso
à dureza e à apatia com relação ao Senhor. Pelo fato de estarmos
nos movendo ou em direção ao Senhor ou para longe dele, não
havendo território neutro, podemos desenvolver sutilmente uma
apatia espiritual sem sequer nos darmos conta disso. Costumamos
começar de maneira inconsciente a passar lentamente da
sensibilidade espiritual para o entorpecimento. Quando nos damos
conta dessa propensão alarmante em nosso coração, então
começamos a levar a sério o chamado ao jejum. Jejuar diante do
Noivo sensibiliza e abranda o coração.
Esse abrandamento do coração é algo que é difícil de
reconhecer a princípio. A princípio não é intenso ou notório, de
modo que nem sempre conseguimos perceber seu progresso. Às
vezes apenas quando olhamos para trás é que podemos perceber o
quanto Deus sensibilizou nosso coração para com Ele através da
graça do jejum.
Com o passar do tempo descobrimos um aumento da unção
para colocar o primeiro mandamento em primeiro lugar em nossa
vida: começamos a amar a Deus de todo o coração, de toda a alma,
com toda a mente e com toda a força. Crescemos na capacidade de
sentir e experimentar o amor e a beleza de Deus. Sentimos o amor
dele por nós e sentimos amor por Ele em troca. Que experiência na
vida poderia ser mais poderosa que essa? Não apenas estamos
tendo um vislumbre maior da Sua beleza, como também estamos
vendo a nossa beleza nele. Essa interação entre nós e Deus é o
fundamento do romance divino. Encontramos e experimentamos os
prazeres superiores do Evangelho. Nada impacta e liberta mais o
coração humano que o sentimento arrebatador que sentimos
quando o Espírito comunica o amor de Jesus ao nosso coração.
A liberdade do coração é encontrada quando essa troca de
amor acontece no nosso homem interior e nossa vida passa a ser
governada pelo desejo por mais de Deus. Ainda que pareçamos ser
maravilhosamente bem-sucedidos, a vida é um fardo quando
nossos desejos internos não estão alinhados com Deus. A vida se
torna muito diferente quando nossos desejos são tocados pela Sua
graça. David Brainerd, o famoso evangelista dos índios americanos,
escreveu isto em seu diário:

Sentindo um tanto da doçura da


comunhão com Deus e da força do
Seu amor e o quanto Ele cativa
minha alma e faz com que todos os
meus desejos e afeições estejam
centralizados no Senhor, separo este
dia para o jejum e a oração a Deus,
a fim de que Ele me abençoe para
pregar o Evangelho. Tive vida e
poder na oração esta tarde. Deus me
permitiu combater ardentemente na
intercessão por meus amigos. O
Senhor me visitou maravilhosamente
na oração. Creio que minha alma
nunca esteve em tamanha agonia
antes. Não senti qualquer restrição,
pois os tesouros da graça de Deus
me foram abertos. Combati pelos
amigos ausentes e pela colheita das
pobres almas. Estive em tamanha
agonia desde meia hora após o
nascer do sol até quase escurecer,
que fiquei banhado de suor. Ah! Meu
querido Salvador suou sangue por
essas pobres almas! Eu ansiei por
ter mais compaixão para com elas.
Estava debaixo de uma sensação de
amor divino, e fui me deitar nesse
mesmo estado de espírito, com meu
coração fixado em Deus.

Recompensa no 2: o jejum amplia nossa


capacidade de ter uma vida reta e focada
Através do jejum do Noivo, nossos desejos mudam. Deus amplia
nossas emoções com relação à justiça e permite que sintamos mais
do que Ele sente. Jejuar nos faz crescer em um zelo apaixonado por
justiça e nos dá um ódio renovado pelo pecado. A Bíblia declara que
Jesus ama a justiça e odeia o pecado com paixão: “Amas a justiça e
odeias a iniquidade...” (Hebreus 1:9). Ele quer transmitir isso a nós.
Em nossa natureza humana, amamos o pecado e odiamos a
justiça, até que a graça de Deus transforma nosso coração. O
desejo de Deus por nós é que passemos a amar o que
costumávamos odiar, e odiemos o que costumávamos amar.
Quando os cristãos são permissivos com relação ao pecado em
sua vida, eles sentem a mesma passividade para com o pecado na
Igreja e na nação como um todo. Não queremos ficar estagnados
nessa terrível passividade espiritual. Queremos que o pecado seja
tão repugnante para nós quanto é para Jesus, e queremos ser
fascinados pelo Seu intenso amor pela santidade. O jejum gera
essa mudança na nossa química emocional. Começamos a
receber poder sobrenatural para ter novos desejos de andar em
total obediência a Deus. É nossa glória e herança viver de maneira
pura e nos sentirmos puros. É um dom glorioso de Deus sentir um
pouco do que Jesus sente acerca da justiça. Ah, a glória de viver
uma vida santa e amar isso!
Deus não apenas nos dá Seu amor pela justiça, como Ele
também nos dá o poder e o zelo para viver uma vida focada. Fomos
criados para viver com uma intensidade nascida do Espírito Santo
no nosso ser, criados para ter todas as energias focadas
primeiramente na direção de Deus. Ao dizer que Deus deveria ser
nossa principal ocupação na vida, não quero dizer que não devemos
nos envolver com as coisas menores. Parte de ser como Ele é
andar em fidelidade ao longo da rotina e das coisas mundanas da
vida — mas em todas as coisas, direcionando o coração para o
único objetivo predominante: Jesus.
Jesus disse a Marta que apenas uma coisa era necessária, e
que Maria a havia escolhido (Lucas 10:42). Maria ainda lavava
roupa e tinha amizades saudáveis. Ao mesmo tempo, a bandeira
que estava sobre a vida de Maria era que ela era uma mulher de
uma única coisa. Do mesmo modo, o rei Davi declarou que tinha
somente um desejo: contemplar a beleza de Deus (Salmos 27:4).
Davi sentia o zelo de Deus pelas coisas de Deus (Salmos 69:7-12).
Ele estava preocupado com Deus como seu principal objetivo na
vida. Davi liderava politicamente a nação e supervisionava o
exército, mas continuava sendo um homem de um único propósito.
Sua vida estava focada no Senhor.
Nós crescemos em intensidade, mas esse aumento não é
meramente um aumento na intensidade de nossa personalidade ou
nosso temperamento; é um aumento do nosso foco apaixonado em
Deus. Esse foco nascido do Espírito é um dom de Deus que
aumenta à medida que jejuamos. Nós nos tornamos inabaláveis e
firmes, independentemente dos obstáculos. Aqueles que têm uma
vida focada e emoções santas podem sentir e agir consistentemente
quer sejam promovidos ou rebaixados, quando as oportunidades
vêm e quando elas vão. Se nosso senso de sucesso e de identidade
como amantes de Deus está estabelecido, a opinião dos outros
perde parte do seu poder de influenciar nosso coração. O
movimento monástico na história da Igreja chamou esse estado
tradicionalmente de “desprendimento”. Penso nesse
desprendimento santo como liberdade na graça de Deus.

Desprendimento Santo das Coisas Menores


Conforme nos envolvemos com um estilo de vida de jejum, os
problemas não desaparecem como em um passe de mágica. Em
vez disso, eles entram em uma perspectiva divina à medida que
começamos a nos preocupar mais com o amor do que com os
problemas. À medida que o Espírito nos mostra o quadro maior de
Deus e da eternidade, passamos a ficar cada vez mais desligados
das nossas exigências por certos ideais circunstanciais.
Desprendimento é quando não somos mais dominados pela
possessividade, não estamos mais vivendo principalmente diante
dos homens, e somos libertos de ter nossa identidade definida pelo
que os outros dizem a nosso respeito.
A palavra “desprendimento” tem uma conotação negativa no
mundo de hoje, como o conceito de “desligar-se da realidade”.
Entretanto, desprendimento é uma coisa santa e desejável quando
estamos nos desprendendo de um foco errado em outra coisa que
não Deus como a fonte de nossa alegria e nossa força. À medida
que esse desprendimento acontece, respondemos à promoção e ao
rebaixamento da mesma maneira. Desfrutamos de favor junto aos
homens com a mão aberta e recusamos com facilidade a promoção
que nos distrai das coisas mais elevadas em Deus. Sem o
desprendimento, a promoção costuma nos cegar com euforia e
perdemos a capacidade de vê-la claramente como a distração que
é. Quando respondemos a esses dois extremos da mesma maneira,
experimentamos uma profunda liberdade e um espírito elevado.
Jesus recusava-se a permitir que as multidões o
promovessem a rei ou presidente de Israel, não porque fosse
errado ser rei, mas porque Ele sabia que seria o Rei de todos os
reis da terra durante o Reino Milenar. A questão era o tempo da
Sua promoção, e não se Ele seria promovido ou não. Não era a
vontade de Deus que Ele fosse promovido na Sua primeira vinda.
“Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se
novamente sozinho para o monte” (João 6:15). Muitos cristãos
modernos teriam tido dificuldade em recusar uma boa oferta como
aquela. Automaticamente pensaríamos em quanto bem
poderíamos fazer se de repente fôssemos presidente da nação.
Entretanto, Jesus via a promoção de maneira diferente de nós. Ele
queria mais a vontade perfeita de Deus do que a afirmação do Seu
ministério pelo homem.
Um dos meus exemplos favoritos desse princípio na história da
Igreja é visto na vida de um monge católico chamado Bernard de
Clairvaux (1090-1153 d.C.) Bernard ensinou muito sobre viver um
estilo de vida de jejum diante da beleza do Deus Noivo. Esse monge
pequeno e magro foi um dos homens mais poderosos do mundo
durante o tempo em que viveu. Os reis da França, da Alemanha e
da Itália o respeitavam tanto que quando eles entraram em um
conflito militar, uma simples carta de Bernard teve o poder de detê-
los. Em certa altura de sua vida, os líderes em Roma queriam que
Bernard fosse Papa, mas ele recusou a promoção e recomendou
um de seus discípulos em seu lugar. Ele é a única pessoa na
história que conheço que se recusou a ser Papa quando o
convidaram. Que razão Bernard deu para recusar? Ele queria poder
continuar a ter o mesmo nível de intimidade com Deus de que
desfrutava na época.
Quando estamos buscando a beleza de Deus, não temos a
mesma sede por vingança ou autopromoção. O que nos incomoda
ou nos entusiasma muda à medida que passamos do egocentrismo
para o teocentrismo. A honra diante dos homens parece menos
poderosa, mais vã e temporária. O rebaixamento não parece tão
pessoal e não é tão devastador. As circunstâncias difíceis ainda são
difíceis, mas não são tão avassaladoras nem tão incapacitantes
para nossa vida quanto foram um dia. Nossos problemas adquirem
uma perspectiva divina à medida que começamos a nos preocupar
com o amor acima de tudo.

Recompensa no 3: o jejum ilumina a mente com o


espírito de revelação
Outra das recompensas do jejum é que o Espírito Santo ilumina
nosso entendimento. Envolver-se com o jejum do Noivo nos
posiciona para receber revelação sobre a Palavra, afiando nossa
mente e intensificando a quantidade de revelação de Deus que
recebemos. Quando Jesus apareceu aos discípulos no caminho de
Emaús, abriu o entendimento deles e fez com que o coração deles
ardesse dentro do peito (Lucas 24:29-36). É por isso que oramos
quando jejuamos — para que a Palavra ardente se torne viva no
nosso interior. Não existe nada mais poderoso do que quando Deus
revela Deus — quando Jesus se revela — ao coração humano.
Jesus disse: “Eu os fiz conhecer o teu nome, e continuarei a
fazê-lo, a fim de que o amor que tens por mim esteja neles, e eu
neles esteja” (João 17:26). Jesus declarou o nome ou a
personalidade do Pai aos discípulos e continua a fazer isso hoje
através do Espírito Santo. Ao fazê-lo, Ele incendeia nosso coração
abrindo nosso entendimento acerca do Pai. Quando Jesus revela o
Pai a nós, nosso amor por Deus Pai aumenta.
Outro benefício do jejum do Noivo é que Deus nos abre a
revelação através de sonhos e visões proféticas. Ele abre e torna
vivo o nosso entendimento nos dando sonhos proféticos durante a
noite. Ao longo dos anos, experimentei um aumento marcante de
sonhos e visões espirituais quando jejuei regularmente. Creio que a
razão para isso é que o jejum afia nosso espírito para receber de
Deus durante a noite. Ele nos posiciona para estarmos “despertos”
interiormente e com expectativa de receber dele. Deus abre Seus
segredos a nós (João 21:20).
Ansiamos por experimentar mais das regiões profundas e
secretas do coração de Deus. É impossível abrir caminho para a
vida interior de Deus por meio do merecimento ou da manipulação.
Todo o dinheiro da terra e todo o poder dos maiores reis não
poderiam abrir uma janela de acesso até as regiões secretas do Seu
coração. O Espírito sonda as coisas profundas de Deus, as coisas
que pertencem a Jesus, e as entrega a nós (1 Coríntios 2:10;
Salmos 25:12, 14).
Quando o Espírito Santo faz essa obra, recebemos poder para
ver as coisas acerca do coração de Deus que nunca vimos antes.
Muitas pessoas estão contentes em viver sem esse tipo de
revelação, vivendo vidas entrincheiradas no tédio espiritual e
sufocadas interiormente um dia após o outro. Jesus quer muito mais
para nós. João 16:15 registra Jesus dizendo: “Tudo o que pertence
ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é
meu e o tornará conhecido a vocês”.
Enquanto buscamos o coração de Jesus, descobrimos o que é
importante para Ele. Através da iluminação que o Espírito Santo
traz, Deus concede perspectiva divina à nossa vida fazendo com
que as coisas que na verdade são pequenas pareçam pequenas
para nós e fazendo com que as coisas que na verdade são grandes
pareçam grandes para nós. Por exemplo, uma coisa realmente
pequena seria alguém roubar milhares de dólares de você. Isso nos
parece algo grande, mas na verdade, você nem vai se lembrar disso
daqui a alguns anos. Isso realmente é pequeno e precisamos vê-lo
como algo pequeno.
A eternidade, a segunda vinda de Jesus, a grande tribulação e
as chamas eternas do inferno são as coisas realmente grandes da
vida. Por maiores que elas sejam, porém, geralmente nos parecem
remotas e não ocupam muito do nosso pensamento. O Espírito quer
tornar essas coisas grandes para nós. Através do jejum, nosso
entendimento começa a transcender alguns dos valores comuns da
nossa cultura, elevando-se acima das coisas que normalmente nos
enlaçam. Encontramos a graça para não nos perdermos nas coisas
pequenas, o que é natural para cada um de nós.

Recompensa no 4: o jejum fortalece um profundo


senso de identidade espiritual
No mais profundo do coração humano há um clamor por conhecer
quem somos e se importamos para alguém. Ansiamos por conhecer
e sentir nossa verdadeira identidade como filhos e filhas diante do
Pai e como Noiva diante do Filho. O jejum do Noivo fortalece nossa
revelação acerca dessa identidade. Passamos a entender como
somos para Deus e começamos a concordar com Ele nisso. Quando
nos conectamos com a nossa verdadeira identidade na glória
eterna, nós nos tornamos mais poderosos e destemidos. Se
sabemos que somos os reis que governarão a terra com Jesus,
então vivemos a vida de maneira muito diferente. “Tu és digno...
pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens
de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e
sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra”
(Apocalipse 5:9-10).
Quando sabemos que somos os companheiros e parceiros
eternos de Jesus, nosso coração se fortalece. Sem esse
entendimento, nós nos debatemos em uma vida espiritual sem
âncoras, na qual vivemos excessivamente preocupados com nós
mesmos. A maioria das pessoas está obcecada com a própria
existência, mas à medida que crescemos aprendemos a conter e a
encobrir as expressões do nosso egocentrismo. Aprendemos a
esconder essas coisas com boas maneiras de modo a preservar a
dignidade diante dos outros. Essas máscaras, porém, não alteram o
fato de que somos escravos dos pensamentos com relação à nossa
imagem diante dos outros. Escondemos isso, mas ainda sofremos
quando não somos reconhecidos ou percebidos. É preciso um poder
interior divino para não sermos assim. O jejum do Noivo fortalece
nosso senso de identidade enfraquecendo as mentiras que nos
mantêm cativos da inveja, do ciúme e da insegurança.
Deus quer que entendamos quem somos nele e para Ele.
Fomos criados para a significância. Fomos projetados por Deus
para sermos únicos e importantes. Nossa identidade plena
encontra-se no conhecimento do amor de Deus por nós. Quando
nossa identidade se conecta com nosso coração, nós nos tornamos
poderosos e destemidos. À medida que jejuamos e começamos a
ouvir a voz do Noivo claramente, Jesus define a questão de quem
nós somos.
Um dos exemplos bíblicos mais profundos de uma identidade
sendo fortalecida através do jejum e da oração é João Batista. João
ouviu a voz do Noivo e isso tocou sua identidade profundamente.
João era uma voz clamando no deserto. Em outras palavras,
quando ouviu a Voz, ele ficou feliz em ser apenas uma voz em
vez de um nome ou um rosto famoso. João passou toda a vida —
dezoito anos — no deserto, para ter apenas dezoito meses de
ministério.
A resposta de Israel ao “maior homem que já nasceu de
mulher” foi chamá-lo de endemoninhado. “Digo-lhes a verdade:
Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João
Batista... Pois veio João, que jejua e não bebe vinho, e dizem: ‘Ele
tem demônio’” (Mateus 11:11, 18). Apesar disso, o coração de João
estava cheio de alegria no fim da sua vida. Ele viveu um estilo de
vida austero e foi rejeitado pelas pessoas, mas sabia quem era. E
ele se alegrava nisso.
Quando ouvimos a voz de Jesus, isso também muda o que
queremos e o que tememos perder. Quando ouvimos Sua voz e nos
tornamos seguros da nossa identidade, o que tememos perder mais
é a unção do Espírito em nosso coração, ou o poder de andar em
obediência diante dele. O resultado principal de conhecermos quem
somos é o destemor . Temos contentamento em Deus com um
santo desprendimento da nossa circunstância e da nossa posição.
Assim como João, nós nos tornamos contentes de sermos uma voz.
Essa identidade transformada muda nosso descontentamento com
as coisas naturais. Nós nos tornamos pessoas que vivem a vida de
outro mundo, ancoradas na eternidade.

Recompensa no 5: o jejum equipa o corpo e


intensifica a saúde física e a intimidade espiritual
A graça dada aos nossos apetites físicos durante o jejum do Noivo
impacta tanto a alma quanto o corpo. É comum pensar na
intimidade com Deus como algo puramente espiritual e sem
qualquer relação com o corpo físico, mas não é assim que as coisas
funcionam. Corpo, alma e espírito estão integrados no projeto e no
plano de Deus. O corpo é um veículo através do qual
experimentamos Deus, e o que fazemos com ele afeta de maneira
direta a vida espiritual. Nossa capacidade de experimentar
intimidade com Ele é intensificada ou diminuída pelos nossos atos
físicos. É importante entender isso. O projeto de Deus é brilhante.
Quando a retidão reina nos nossos apetites físicos, nossa
capacidade de experimentar Deus é intensificada. O oposto também
é verdade. Embora possamos buscar a Deus com afinco, se
enchermos nossa vida emocional de lixo e permitirmos que nossos
apetites físicos entrem em descompasso com o Espírito Santo,
nossa capacidade de experimentar a vida dele será extinta. Esse
princípio tem três aplicações distintas.
Envolver-se com apetites físicos pecaminosos contamina o
corpo . O corpo é o templo do Espírito Santo, e abri-lo para o
pecado é algo que o prejudica gravemente. Drogas, imoralidade
sexual, excesso de álcool e glutonaria não são prazeres que
intensificam a vida em Deus. A Igreja não costuma falar sobre a
glutonaria; a fortaleza da comida raramente é desafiada. Entretanto,
a comida muitas vezes se torna um falso deus, e o dom de Deus do
jejum fortalecido pela graça é uma das maneiras de destroná-lo.
Exagerar nos apetites físicos legítimos extingue a vida do
Espírito em nós. Os prazeres legítimos dados por Deus entorpecem
o espírito e contaminam o corpo se tiverem permissão para chegar
ao ponto do excesso em nossa vida. É errado permitir que qualquer
prazer se torne mais importante para nós que Deus. Jejuar desses
prazeres é uma boa maneira de expor que lugar eles ocupam em
nosso coração e de impedir que eles se tornem ídolos.
Negligenciar os princípios da saúde física coloca o corpo em
descompasso com o Espírito Santo . Jejuar é deixar de lado
voluntariamente a força que, paradoxalmente, aumenta a saúde do
corpo humano normal. Entretanto, negligenciar os princípios da
saúde física ordenados por Deus nos esgota. Uma alimentação
ruim, um corpo cheio de toxinas e venenos, a falta de exercícios e o
excesso de trabalho sem descanso sabático, tudo isso rouba de nós
nossa força física. Parte de sermos pessoas que amam a Deus de
todo o coração é cooperar com Seus princípios físicos. Fazer isso
nos dá força para nos envolvermos com o jejum e a oração.

Benefícios Físicos do Jejum


O corpo foi projetado para ter descansos periódicos de alimento. O
aparelho digestivo funciona melhor com esse descanso e as
células têm a chance de se livrarem das toxinas acumuladas. Por
sabermos que os nutrientes são necessários para a saúde,
logicamente pensamos que não comer deve ser prejudicial. A
inanição ou a privação excessiva de alimentos não é saudável,
mas jejuar periodicamente e com sabedoria aumenta a vitalidade.
O corpo mostra sua discordância com os alimentos errados, ou
com o excesso de comida, através de uma saúde ruim, da
obesidade e da doença.
Deus projetou o corpo para reagir à doença geralmente com
febres e com o jejum automático. Não costumamos querer comer
quando estamos doentes. O jejum utiliza os processos de cura e
purificação projetados por Deus que estão embutidos dentro de nós.
O corpo se cura a nível celular. Os mecanismos bioquímicos das
células são complexos na maneira como processam as proteínas,
os carboidratos e as gorduras. Cada processo produz um resíduo
que as células precisam remover para evitar se tornarem
excessivamente cheias de toxinas. Elas precisam de um descanso
ocasional desse processamento. O jejum dá a elas tempo para se
livrarem das toxinas. Sem o descanso apropriado, o organismo pode
ficar superlotado. O jejum oferece esse descanso.
Em um estudo, cinquenta pessoas com boa saúde
concordaram em fazer um jejum de três semanas. Os resultados
mostraram uma redução no colesterol e na pressão arterial delas.
Em outro estudo, o jejum reduziu a artrite reumatoide e as dores nas
articulações. O jejum fortalece o sistema enzimático, que pode ficar
sobrecarregado pela glutonaria ou pelo exagero. Até a medicina das
culturas antigas prescrevia o jejum para a saúde. Hipócrates (460-
375 a.C.), o pai da medicina, usava-o pessoalmente para combater
as doenças.
As recompensas do jejum diante do nosso Deus Noivo são
enormes. Esses benefícios estão diante de nós como portas de
entrada nos chamando para entrar. Deus deseja que todo cristão
participe deles, pois eles fazem realmente parte das bases do
cristianismo. Juntamente com as recompensas, existem dificuldades
significativas e até perigos no estilo de vida de jejum. Assim como
Deus nos dá uma visão sobre as recompensas futuras, Ele também
quer que estejamos cientes dos perigos à medida que buscamos um
estilo de vida de jejum. Veremos as dificuldades e os perigos nos
próximos capítulos.
Capítulo 9
Sete Dificuldades do Estilo de
Vida de Jejum
unto com os benefícios do estilo de vida de jejum existem

J
dificuldades muito reais. As recompensas coexistem com os
fardos. Embora os benefícios a serem experimentados sejam
verdadeiramente superiores, não invalidam ou anulam os
problemas que temos. Ao longo dos anos, vimos pessoas
ficarem animadas com o jejum e ficarem fortes por alguns
meses, mas depois se desiludirem e desistir. A maneira certa de
manter um estilo de vida de jejum e oração é correr em um ritmo de
longa distância, como em uma maratona. Se entendermos que tipos
de desafios podem ser encontrados, estaremos equipados com
perseverança para suportá-los, e evitaremos a decepção de uma
entrega desinformada e de uma desistência imprevista. Ser
prevenido é estar armado antecipadamente.
Os obstáculos dos quais precisamos estar cientes são internos
e externos, espirituais e naturais, físicos e mentais. Antes de vermos
as dificuldades e os perigos em detalhes, como faremos nesses
próximos capítulos, é importante enfatizar o princípio de que os
benefícios do jejum verdadeiramente superam as dificuldades. Sim,
existem obstáculos, mas as graças adquiridas excedem muito os
rigores dos obstáculos se perseverarmos ao longo de cada um
deles.

Dificuldade no 1: fraqueza física e efeitos


colaterais
O primeiro desafio que encontramos no estilo de vida de jejum é a
fraqueza física e a perda de energia. Quando começamos a sentir
fraqueza no corpo natural, é preciso não nos desiludir. Faz parte
abraçar a fraqueza voluntária para podermos entrar na força de
Deus.
O jejum é principalmente um chamado à fraqueza; a fome é
uma questão secundária. Sim, ficamos com muita fome a princípio,
mas a fraqueza aumenta e se acumula à medida que o jejum se
torna um estilo de vida em vez de apenas um evento ocasional.
Mesmo nos “dias de comida”, podemos ter alguma fraqueza física
resultante dos “dias de jejum” anteriores. Davi escreveu sobre isso:
“De tanto jejuar os meus joelhos fraquejam e o meu corpo definha
de magreza” (Salmos 109:24).
A fraqueza física encontrada no jejum se manifesta de
maneiras diferentes. Primeiro, nosso padrão de sono é alterado no
sentido de que realmente precisamos de menos sono enquanto
jejuamos, mas o sono que temos é irregular e não é completamente
saudável. Outra manifestação de fraqueza que podemos encontrar é
ter dores de cabeça, que acontecem à medida que o corpo de
desintoxica dos alimentos não saudáveis. Podemos reduzir essa
dificuldade simplesmente mudando a dieta normal e comendo de
modo mais saudável. Outro sintoma normal de fraqueza devido ao
jejum é uma leve vertigem ou tontura quando nos levantamos
depressa demais. Algumas pessoas sentem um tremor interno, ou
têm uma sensação de instabilidade. Pernas fracas, pouca força ao
segurar as coisas e um ligeiro torpor também são coisas normais.
Também podemos experimentar uma hipersensibilidade aos
ruídos altos, ao toque ou à atividade ao nosso redor. Nos primeiros
meses de jejum regular podem ocorrer perturbações digestivas, até
que o corpo se adapte a esse novo estilo de vida. Por fim, alterando
a dieta, aprenderemos a evitar as quantidades e os tipos de
alimentos que causam essa dificuldade. Parte do jejum como um
estilo de vida é que mesmo quando não estamos jejuando, estamos
organizando a vida para servirmos ao objetivo de fortalecer esse
estilo de vida da melhor maneira possível.

Dificuldade no 2: mudança no metabolismo


O jejum regular gera uma mudança no metabolismo. O metabolismo
foi projetado para desacelerar como um mecanismo de proteção
contra a inanição, quando comemos menos. Podemos perder peso
durante os primeiros meses de jejum regular, mas pelo fato de o
metabolismo eventualmente desacelerar, algumas pessoas acabam
ganhando peso, embora comam menos. Se jejuarmos intensamente
por alguns anos e depois pararmos repentinamente, podemos não
conseguir comer imediatamente como antes sem ganhar muito
peso; pode levar um ano ou dois para acelerar o metabolismo ao
nível original.

Dificuldade no 3: fraqueza mental


O terceiro desafio do estilo de vida de jejum é o preço que o jejum
nos cobra mentalmente. Reconhecemos esse fardo mental pelo fato
de estarmos com frequência com a mente meio anuviada, em vez
de clara, e ocasionalmente nos sentirmos entorpecidos, desligados
e distraídos quando nos relacionamos com os outros. Esquecemos
coisas como o nome das pessoas e os itens da nossa lista de
afazeres. Às vezes é mais difícil se comunicar, pois nos esforçamos
para encontrar as palavras certas. Essa fraqueza mental é
definitivamente um fardo e às vezes é até constrangedora. Mas
quando nos lembramos do benefício paralelo a esse desafio, a
iluminação da mente pela revelação divina, lembramos que vale a
pena suportar essa dificuldade.

Dificuldade no 4: estresse emocional


Parte do desafio de viver o estilo de vida de jejum é o estresse
emocional. Essa dificuldade específica é um paradoxo no sentido de
que podemos experimentar o estresse nas nossas emoções por um
lado, mas por outro lado encontramos ternura em Deus e por Deus.
Enquanto jejuamos, é normal nos sentirmos facilmente entediados e
irritados, muitas vezes devido à hipersensibilidade ao barulho, ao
toque e à atividade. Sim, podemos nos aborrecer com as coisas
externas enquanto sentimos a doce presença de Deus. Podemos
estar no limite, mas ao mesmo tempo experimentar sentimentos
profundos de amor a Deus e chorar de ternura ao ler a Palavra. É
comum sentir períodos de peso enquanto jejuamos. Mas mesmo
quando nos sentimos “deprimidos”, experimentamos uma
intimidade com Jesus.
O jejum minimiza temporariamente a força em nossas
emoções naturais. Nós, por natureza, costumamos esconder e
encobrir a fraqueza emocional com a força da personalidade. A
fraqueza na alma pode ser escondida, assim como as falhas
sísmicas logo abaixo da superfície da terra. Podemos encobrir as
emoções de medo, ira, impaciência, rejeição, depressão, tristeza e
outras. Podemos nos manter temporariamente na linha e agir de
maneira adequada com o redutor de irritabilidade que é a comida.
O jejum, porém, minimiza parte da força natural que usamos
para suprimir os pontos fracos. As escoras que anestesiam a dor
são retiradas, e a fraqueza nua e crua nos olha diretamente no
rosto. Podemos nos sentir como hipócritas quando isso acontece,
mas a verdade é que estamos indo mais fundo em Deus do que
antes. A fraqueza que escondemos agora está evidentemente clara.
Ela sempre esteve ali e estava clara para Deus. Agora ela está clara
para nós também. Ao revelar a verdade dessas falhas sísmicas
ocultas na personalidade, temos a oportunidade de entrar em uma
nova liberdade. À medida que continuamos a levar essas falhas a
Deus, somos transformados, humilhados e ensinados sobre como
andar na liberdade da fraqueza.

Dificuldade no 5: perda da proatividade no curto


prazo
Outra pedra de tropeço da qual precisamos estar cientes quando
nos dedicamos ao estilo de vida de jejum é que podemos passar um
período de falta de determinação de trabalhar e nos sentirmos
desmotivados para fazer as coisas. Quando as pessoas jejuam de
modo consistente, elas não conseguem ser tão focadas devido à
fraqueza mental, não conseguem trabalhar com tanto afinco devido
à fraqueza física e não conseguem produzir com tanta eficiência
quanto poderiam se não estivessem jejuando, isso por causa da
perda de determinação de realizar as coisas no natural. Devido à
queda de energia e de atenção, que faz parte do jejum frequente, é
comum ser menos proativo no ministério e nos negócios. Em outras
palavras, o sucesso diante dos homens pode parecer diminuir
bastante durante os períodos de jejum. Embora essa perda de
eficácia no curto prazo seja real e penosa, nossa determinação é
fortalecida no relacionamento com Deus.
Com exceção dos problemas de saúde e da gravidez, todos
podem jejuar dois dias por semana sem efeitos colaterais negativos
prejudiciais à saúde. Sim, o desempenho no estudo e no trabalho
pode ser ligeiramente afetado. Aceitamos o fato de que faremos
menos coisas no curto prazo, mas sabemos que na economia de
Deus produziremos muito mais com uma vitalidade espiritual
renovada. No longo prazo, nossa eficiência é significativamente
maior porque o favor e a atividade de Deus são liberados em meio
aos nossos esforços enfraquecidos.
A mentalidade ocidental mede a produtividade de maneira
diferente de Deus. No Reino de Deus, em geral, há um fator de
retardo enquanto esperamos pela bênção do Senhor sobre o que
fazemos. Alguns dos grandes santos pareciam pouco eficientes
durante seus ministérios. Por exemplo, a grandeza de Ana não pôde
ser vista durante sua vida, mas ela ajudou a preparar a atmosfera
para a vinda do Messias. João Batista passou possivelmente
dezoito anos em um estilo de vida de jejum para ter apenas dezoito
meses de ministério visível, mas Deus chamou João de o maior
homem nascido de mulher. A extravagância da devoção de Maria de
Betânia foi considerada um desperdício na terra, mas Jesus
declarou que a vida dela seria um memorial a ser lembrado para
sempre por todos.

Dificuldade no 6: perturbações relacionais e


pressões sociais
Não levamos vidas solitárias. Assim, quando nos dedicamos ao
estilo de vida de jejum, o impacto não será sentido apenas
pessoalmente, mas afetará nossos relacionamentos e talvez até crie
tensão em alguns deles. O desafio é intensificado pelo fato de que
os valores da cultura ocidental são opostos ao estilo de vida de
jejum. Por essa razão, é certo que conflitos surgirão.
Tive muitas conversas nas quais as pessoas me estimularam a
me distrair mais e a orar menos para que eu pudesse viver uma vida
mais “equilibrada” como elas. As pessoas querem que você seja
feliz com o que as faz felizes. Quando você é feliz com outra coisa,
elas às vezes se sentem rejeitadas ou julgadas por você. As
pessoas costumam se sentir julgadas pelo estilo de vida daqueles
que não têm o mesmo desejo por bens, confortos e prazeres. Elas
pensam que você está “por fora” por causa da quantidade de jejum
e de oração que você faz. Elas insistem que você precisa socializar
mais e se divertir mais para não ficar excessivamente desconectado
socialmente. Lembre-se, as multidões chamavam João Batista de
endemoninhado (Mateus 11:18).
Os amigos e os irmãos de Davi o consideravam como alguém
“desligado” por causa do seu zelo por Deus. Davi disse que era por
amor a Deus que ele suportava afrontas. Essa tensão aumentou a
tal ponto que Davi se tornou um estranho para seus irmãos. Anciãos
e líderes falavam contra ele, e os beberrões cantavam canções
zombando dele como um fanático religioso. Davi nos disse que tudo
isso acontecia porque o zelo pela casa de Deus o consumia.
Quando ele chorava e castigava a alma com jejuns, seus atos se
tornavam uma razão para os outros o criticarem ou reprovarem
(Salmos 69:7-12).
O jejum nos torna mais destemidos no nosso espírito. Isso
pode causar problemas de relacionamento também. Os adoradores
destemidos, ungidos e apaixonados não se importam tanto em ser
promovidos ou rebaixados, ou em entrar na corrida pelo favor dos
homens. As pessoas que têm esse tipo de confiança podem causar
alguma perturbação ao fazer escolhas sociais e econômicas e ao
falar com ousadia sobre certas questões. Aqueles que andam no
estilo de vida de jejum estão livres dos falsos confortos na sua
busca por aquilo que é eterno. O destemor aborrece e até ira
aqueles que estão construindo suas vidas sobre fundamentos
temporais. Isso pode cobrar um preço no nosso relacionamento com
aqueles que querem nos ver diminuir o ritmo das coisas para
vivermos como eles vivem. Isso perturbará alguns que querem que
você deseje as coisas temporais que eles desejam.
Os apaixonados, em geral, são acusados de ser elitistas, de se
isolarem socialmente ou de ser superespirituais porque não querem
socializar da mesma maneira que faziam antes de adotar o estilo de
vida de jejum. Eles socializam, mas não como antes. Essa é a
diferença fundamental. A verdadeira comunhão, na verdade, é
impedida pela maneira como muitos cristãos saem para “socializar”.
Muito disso envolve uma quantidade significativa de tempo gasto
sem o verdadeiro encorajamento ou serviço espiritual, que é
justamente o que comunica aos outros o coração de Deus.
Colossenses 4:6 diz: “O seu falar seja sempre agradável e
temperado com sal”. Efésios 4:29 diz: “Nenhuma palavra torpe saia
da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros,
conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a
ouvem”.
As pessoas podem chamar a socialização delas de comunhão,
mas muito disso não passa de conversas fúteis, falatórios inúteis e
piadas vulgares (Efésios 5:4), como um programa desses de
comédia de situação.
Entre vocês não deve haver nem
sequer menção de imoralidade
sexual nem de qualquer espécie de
impureza nem de cobiça; pois estas
coisas não são próprias para os
santos. Não haja obscenidade nem
conversas tolas nem gracejos
imorais, que são inconvenientes,
mas, ao invés disso, ação de graças.
Efésios 5:3-4
O que normalmente é chamado de comunhão não é a
verdadeira comunhão. A verdadeira comunhão requer compartilhar
a vida e a revelação de Deus uns com os outros (1 João 1:1-5).
Para ter comunhão da maneira que a Bíblia descreve, as pessoas
precisam buscar ter uma vida pura, com um discurso santo, e ter um
espírito vibrante na Palavra.
Não devemos andar em isolamento completo, ter orgulho
espiritual ou julgar os outros que não jejuam. No entanto, devemos
dedicar um grande tempo para a Palavra e a oração. Não existe
absolutamente nenhum substituto para o tempo com Deus. Viver
isso em meio a uma cultura na qual a Igreja não valoriza passar
tempo com Deus é difícil. Como fazer isso é uma ciência imperfeita.
Todos nós temos muito a aprender, mas não devemos nos abster
das tensões de adotar esse estilo de vida por temor ao homem.
Lembre-se, não estamos em uma competição de popularidade, mas
procurando andar em amor santo. Precisamos ter uma vida vibrante
em Deus para fazer isso. Responderemos ao Senhor no último dia
desta vida, e não aos grupos sociais da nossa igreja que não nos
compreendem.

Dificuldade no 7: aumento do ataque demoníaco


A última dificuldade do estilo de vida de jejum que consideraremos
neste capítulo é que os ataques demoníacos geralmente aumentam
contra aqueles que procuram andar na plenitude de Deus. À medida
que o Espírito Santo aumenta Sua atividade em nós, o diabo
aumenta seu ataque contra nós. O inimigo visa especificamente ao
estilo de vida que libera o poder de Deus.
Antônio do Egito, também conhecido como Santo Antônio
Abade, foi o primeiro monge famoso da história cristã. Ele obedeceu
ao Senhor jejuando e orando intensamente por vinte anos. Depois
de vinte anos, aos quarenta e cinco anos, o Senhor começou a usá-
lo para realizar sinais e maravilhas poderosos. Isso durou pelos
próximos sessenta anos, até ele morrer aos cento e seis anos. Ele
teve encontros aterrorizantes com demônios que ameaçavam
atormentá-lo fisicamente se ele não parasse de jejuar.
É comum aqueles que jejuam e oram com uma intensidade
inusitada falarem sobre experiências em que os demônios se
manifestavam para ameaçar e para despertar o medo neles. Nesses
ataques, precisamos manter um relacionamento com cristãos que
pensam como nós e que leem a Palavra de Deus com frequência. O
paradoxo é que o jejum atrai mais ataques demoníacos, mas é uma
das coisas que o Espírito usa para nos ajudar a vencer os ataques
do inimigo. Não precisamos hesitar nesses momentos, porque
Aquele que está em nós é maior do que aquele que está no mundo
(1 João 4:4).
É sábio estarmos cientes das dificuldades em potencial que
podemos experimentar quando entramos em uma vida de jejum e
oração. Reconhecendo e sendo advertidos acerca delas, somos
livres para abraçar os benefícios e as recompensas do jejum em sua
plenitude. Essas dificuldades não se destinam a ser um
desencorajamento, mas uma exortação. Como Jesus disse, nós,
que desejamos segui-lo precisamos primeiro calcular o preço (Lucas
14:28). No próximo capítulo, trataremos das diversas ciladas em
potencial que o guerreiro apaixonado deve estar preparado para
evitar.
Capítulo 10
Sete Perigos do Estilo de Vida
de Jejum

jejum tem benefícios gloriosos, mas ele pode ser como

O
nadar em águas infestadas de tubarões, uma vez que o
inimigo, Satanás, espreita nas profundezas, procurando
nos devorar. Consideramos algumas das dificuldades do
estilo de vida de jejum; agora vamos considerar alguns dos
perigos.
Não há neutralidade nos efeitos do jejum em nossa vida. Ele
nos fortalece para o bem, ou contribui para nos afastar do caminho
da sabedoria e da retidão bíblica. Seja qual for a motivação que
temos quando jejuamos, é isso que é fortalecido em nós. É isso
que queremos dizer com o fato de o jejum não ser neutro. Se nossa
motivação é crescer em amor, então é isso que será fortalecido em
nós. Por outro lado, se nossos motivos são para autoexaltação,
então as coisas negativas serão fortalecidas em nós quando
jejuamos. Assim, é importante não tratarmos o jejum de modo
informal, com motivações desmedidas, ou correremos o risco de
fazer mais mal do que bem à nossa vida espiritual.
A busca por ser uma pessoa que ama a Deus de todo o
coração tem riscos potenciais agregados. Precisamos usar a
sabedoria e não sermos simplistas ou ingênuos, sabendo que
existem riscos, como a possibilidade de encontros demoníacos
falsos, isolamento, espírito de pobreza, distúrbios alimentares,
legalismo operando em um espírito de religiosidade (procurando
conquistar uma posição junto a Deus), austeridade desmedida e
orgulho espiritual. A única maneira de ficarmos seguros e não
cairmos nessas armadilhas é passando muito tempo estudando a
Palavra de Deus. A Bíblia é a autoridade final que julga todas as
nossas experiências.

Perigo no 1: enganos e doutrinas de demônios


“Pois tais homens são falsos apóstolos, obreiros enganosos,
fingindo-se apóstolos de Cristo. Isto não é de admirar, pois o próprio
Satanás se disfarça de anjo de luz” (2 Coríntios 11:13-14). O jejum,
como a dinamite, tem um grande poder que pode ser usado tanto
para o bem quanto para o mal. Quer seja usado para bons ou maus
propósitos, os resultados na alma são sempre poderosos, e nunca
neutros. Esse é um ponto da máxima importância porque o inimigo
quer que sejamos atraídos em direção às trevas sem que nos
demos conta disso.
O jejum sensibiliza o espírito humano com relação à dimensão
do espírito, inclusive com relação às dimensões do genuíno e do
oculto. Muitas falsas religiões e grupos ocultistas promovem a
prática do jejum porque sabem que ele libera poder. Em geral, são
liderados por pessoas comprometidas com o jejum que negam a
carne para ter maior acesso à dimensão espiritual. Muitas das
principais religiões falsas no mundo foram iniciadas por pessoas que
estavam engajadas em períodos extremos de oração e jejum. Os
que participam das religiões orientais com frequência são muito
mais comprometidos com o jejum do que os que fazem parte da
Igreja ocidental.
Satanás imita as coisas de Deus na tentativa de enganar os
fiéis. Até os cristãos podem receber visões demoníacas que os
levam a ilusões de grandeza. Os cristãos que intensificam o jejum
podem experimentar um aumento da atividade demoníaca destinada
a confundi-los e a enganá-los. Quando as pessoas jejuam
intensamente, Satanás pode atacar dando a elas experiências
sobrenaturais que as levam a falsas doutrinas. Isso não é raro nem
inesperado.
O engano demoníaco atingirá níveis sem precedentes antes da
volta de Jesus. Paulo profetizou que nos tempos do fim, alguns
apostatariam do cristianismo porque dariam atenção a demônios. “O
Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão
a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios” (1
Timóteo 4:1).
Reconhecendo esse perigo real, precisamos advertir os
cristãos sinceros que amam Jesus e que fazem longos jejuns, mas
que não têm um fundamento firme na Palavra. Eles podem ser
enganados por ilusões acerca de si mesmos. Para dar um exemplo
disso, há alguns anos, um de nossos intercessores dedicados
retirou-se para a floresta a fim de fazer um período longo de jejum.
Ele voltou convencido de que, sozinho, faria cessar o aborto nos
Estados Unidos. Ele tinha ideias grandiosas sobre si mesmo como
aquele que salvaria a nação e seria a principal pessoa a mudar a
história. Ele continuou a participar de reuniões de oração por
vários anos, mas depois começou a se isolar, a não ler mais a
Bíblia e a fazer longos jejuns. Depois de alguns anos, abandonou
a fé.
Conheci pessoas que, depois de fazer longos jejuns,
acreditaram ser Elias ou uma das duas testemunhas descritas em
Apocalipse, ou alguém ungido de maneira especial, destinado a
lutar contra o anticristo. São intermináveis as histórias de cristãos
sinceros que foram enganados por encararem o jejum de maneira
pouco sábia ou inadequada. Eles acreditaram em ideias falsas
sobre sua espiritualidade e seu chamado superior. Esse é um perigo
claro e presente, especialmente neste tempo da história.
A tendência comum entre essas pessoas enganadas é que
elas se engajam em um jejum intenso, se separam dos outros
cristãos e negligenciam a Palavra. Precisamos estar
especialmente alertas durante os períodos de jejum, fazendo um
esforço especial para permanecer focados na intimidade com
Jesus, ligados ao Corpo de Cristo em um relacionamento
autêntico, imersos na Palavra de Deus, até duas vezes mais do
que o normal, e abertos à correção por parte daqueles que se
encontram em posição de autoridade espiritual.
Se nos permitirmos ficar isolados das pessoas e deixarmos de
ler a Palavra, perderemos nosso foco na intimidade e poderemos
nos encontrar buscando aquilo que leva à nossa própria grandeza
espiritual. O fruto do verdadeiro jejum do Noivo é um coração mais
humilde, submisso e sensível, não um coração que sente mais
orgulho e se afasta dos demais.

Perigo no 2: isolamento
Um dos perigos comuns do jejum é o isolamento. Aqueles que jejuam
regularmente podem facilmente se perder quando se isolam do
Corpo de Cristo. O jejum precisa ser acompanhado de uma grande
humildade e de uma interdependência santa com os demais a fim de
nos preservar de qualquer pensamento errado. Deus estabeleceu
Seu Reino de tal maneira que precisamos buscar o Senhor juntos,
como família. Não somos completos em nós mesmos. Somente
somos completos quando funcionamos juntos como Corpo de Cristo
(Colossenses 2:10; 1 Coríntios 12:12-25). Temos a mente de Cristo
(1 Coríntios 2:16) na medida em que nos relacionamos uns com os
outros. Isso não pode acontecer e não acontece no isolamento.
Observe que Paulo disse que “nós”, juntos, temos a mente de Cristo.
Ele não disse “eu” a tenho no meu isolamento.
Quando entrarmos em um estilo de vida de jejum e oração,
precisamos ser intencionais sobre estarmos comprometidos com
nossos irmãos e nossas irmãs no Senhor. O isolamento
desconsidera a glória e a graça de Deus que é transferida aos
outros. O isolamento é um ato de antisserviço, anticompaixão e
antissocial — todas as realidades que estão opostas ao coração de
Deus. Alguns movimentos monásticos históricos focaram em ser
livres da contaminação pessoal e caíram no erro do isolamento.
Eles evitavam se envolver com outras pessoas porque imaginavam
que isso significava que estariam expostos à contaminação.
Entretanto, a Palavra de Deus nos convida a um estilo de vida
de jejum porque essa é a melhor maneira de cumprir os dois
grandes mandamentos: amar a Deus e amar os outros. Jesus até
disse que nossa grandeza era medida por servirmos uns aos outros.
(Mateus 20:26-28; Lucas 22:26). É verdade que precisamos ter
momentos a sós com Deus, e que cada um de nós mantém uma
busca pessoal por intimidade com Ele. Mas é essencial
permanecermos comprometidos com outros cristãos; precisamos
nos recusar a nos retirarmos para um estranho isolamento.

Perigo no 3: espírito de pobreza


Outra cilada a ser evitada no estilo de vida de jejum é que, na busca
por vivermos de maneira simples, não podemos nos permitir ser
vítimas de um espírito de pobreza material. O espírito de pobreza
material ilude as pessoas para acreditarem que elas precisam dar
tudo porque ter abundância é errado — ou porque não ter nada
impedirá a cobiça. É verdade que um dos problemas predominantes
da Igreja ocidental é o espírito de cobiça. A resposta a esse erro
comum não é o espírito de pobreza, mas um espírito generoso que
dá aos outros de forma extravagante. Um dos grandes perigos do
espírito de pobreza é o orgulho na humilhação própria que julga os
outros que se recusam a abraçar esse espírito de engano.
Precisamos entender que a prosperidade é uma bênção do Senhor.
Ele promete suprir todas as nossas necessidades (Deuteronômio
8:18; Lucas 6:38; 2 Coríntios 8-9; Filipenses 4:19; 3 João 2). Por
querermos ser ricos em bênçãos e dar a outros, devemos resistir ao
espírito de pobreza e crer em Deus para nos conceder aumento
financeiro (1 Timóteo 6:17-19). Sim, receberemos muito aumento, e
sim, nós daremos abundantemente. Por que nos alegraríamos com
a falta? Nós nos alegramos porque podemos compartilhar com
abundância com os outros enquanto buscamos uma espiritualidade
profunda.

Perigo no 4: distúrbios alimentares


Outra zona de perigo no jejum que deve ser evitada é a tentação de
jejuar com motivações erradas que têm origem em distúrbios
alimentares. Os distúrbios alimentares são um problema grave e
constante na nossa cultura, entre cristãos e não cristãos. Esteja
ciente de que uma pessoa pode começar a jejuar com motivações
puras e lentamente passar para algumas motivações falsas sem se
dar conta disso. Ela pode passar a se sentir cheia de poder por
pensar que está respondendo às exortações bíblicas de jejuar, mas
o resultado é que ela está se sentindo fortalecida na sua decisão de
dar continuidade ao distúrbio alimentar.
Os distúrbios alimentares são muito perigosos e têm suas
raízes nas trevas. Qualquer pessoa que tenha tido esse tipo de
problema sabe que o jejum pode ser uma armadilha perigosa.
Jejuamos para posicionar o coração para receber mais do Senhor, e
não para melhorar a aparência. Não devemos buscar nossa
identidade em ser magros, mas em sermos amados por Deus. Eu
incentivo as pessoas a prestarem atenção àqueles no seu meio que
podem ter essa propensão. Satanás quer matar, roubar e destruir a
vida humana (João 10:10) por qualquer meio possível. Se ele não
puder nos destruir por meio da indulgência excessiva, então ele irá
ao extremo oposto e tentará nos enganar para que neguemos a
carne pelas razões erradas.

Perigo no 5: legalismo e espírito de religiosidade


Outro perigo comum no jejum é cair no laço do legalismo. O
legalismo, também chamado de espírito de religiosidade, procura
conquistar sua posição diante de Deus por meio da dedicação e do
esforço próprio. Os fariseus eram movidos por um espírito legalista.
Eles jejuavam para merecer alguma coisa de Deus. Eles se
gabavam e julgavam as pessoas que não jejuavam como eles. O
espírito de legalismo se opõe ao espírito da graça. Nossa motivação
para jejuar deve ter tudo a ver com responder ao amor de Deus.
Não é jejuar para ganhar uma posição diante de Deus através de
obras, mas sim para entrar mais profundamente na experiência do
Seu amor dado gratuitamente.
É melhor quando jejuamos com base no assombro que
sentimos pela graça gratuita que Ele demonstra para conosco. Não
é jejuar para conquistar ou merecer, mas sim para ter uma maior
capacidade de viver em concordância com o Espírito Santo, a quem
amamos. Qualquer pessoa que não esteja fundamentada na graça
de Deus deveria esperar antes de começar a jejuar de uma maneira
mais agressiva. Do contrário, o legalismo pode se fortalecer quando
ela jejua. O fundamento para impedir que o jejum se transforme em
legalismo é o conhecimento de que Deus nos abraça com prazer,
mesmo na nossa fraqueza.
Paulo abordou o problema do legalismo no livro de Gálatas. Ele
advertiu aqueles santos a não aceitarem o espírito de religiosidade.

Ó gálatas insensatos! Quem os


enfeitiçou? Não foi diante dos seus
olhos que Jesus Cristo foi exposto
como crucificado? Gostaria de saber
apenas uma coisa: foi pela prática da
lei que vocês receberam o Espírito,
ou pela fé naquilo que ouviram? Será
que vocês são tão insensatos que,
tendo começado pelo Espírito,
querem agora se aperfeiçoar pelo
esforço próprio?
Gálatas 3:1-3
Ele prosseguiu, exortando-os a ficarem firmes na liberdade
para a qual Cristo nos chamou pela Sua gloriosa obra na cruz, e a
não se enredarem com o jugo do cativeiro religioso chamado
legalismo. O legalismo faria com que fossem separados de Cristo,
pois eles decairiam da graça se tentassem estar diante de Deus
com base nas suas boas obras e na sua dedicação (Gálatas 5:1-8).
Como sabemos se estamos atuando dentro do espírito de
legalismo ou do espírito de religiosidade? Vamos fazer algumas
perguntas a nós mesmos. Nós nos sentimos mais confiantes diante
de Deus e adoramos com maior segurança porque estamos
jejuando? Temos a tendência de nos retrair envergonhados quando
não estamos jejuando? Nesse caso, sabemos que estamos
colocando a confiança no jejum ou na dedicação a Deus, e não na
dedicação de Deus a nós. Essa é uma armadilha enganosa, que
leva a um entre dois becos sem saída: a condenação ou o orgulho.
Se as pessoas que estão presas nesse engano não jejuam,
elas acabam se sentindo condenadas, pensando que Deus está
decepcionado com elas. Quando jejuam, elas caem no laço do
orgulho espiritual, imaginando que Deus agora está satisfeito com
base na abnegação delas. O espírito religioso de autodepreciação
que nos condena quando não jejuamos é o mesmo espírito que se
gaba quando vamos até o fim em jejum e oração, e ambos têm suas
raízes no orgulho espiritual. Amados, nunca devemos pensar que o
amor de Deus por nós é maior porque estamos jejuando. Não
jejuamos para fazer Deus gostar de nós; jejuamos porque
entendemos que Ele já gosta . Nossa confiança diante dele deve
estar firmada na obra de Jesus na cruz (2 Coríntios 5:17-21;
Filipenses 3:4-9) e na verdade do Seu amor por nós.
Se pensamos que somos mais desejáveis para Deus por
causa da oração e do jejum, estamos no caminho para uma religião
morta. Paulo advertiu a Igreja Primitiva contra o engano espiritual e
o orgulho que pode resultar da abnegação. Alguns na cidade de
Colossos baseavam sua confiança diante de Deus em rigores
religiosos. Eles cumpriam regras de “Não manuseie! Não prove! Não
toque!” (Colossenses 2:21). Paulo disse, na essência: “Por que
vocês se sujeitam aos seus próprios regulamentos e regras que
vocês criaram, encontrando confiança nessas coisas?” (v. 20). Ele
escreveu no versículo 23: “Essas regras têm, de fato, aparência de
sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e
severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os
impulsos da carne”. Ele expôs a falsa humildade e a autopromoção
dos colossenses. Precisamos tomar cuidado para não nos
engrandecermos no ato de negarmos a nós mesmos. Trata-se de
um grave perigo.
Todos os filhos de Deus podem entrar nessa dimensão de
desfrutar livremente Deus, independentemente de termos jejuado
naquela semana ou não. O conhecimento de que um Noivo
amoroso nos valoriza alimenta nosso desejo de estarmos totalmente
rendidos ao Senhor. As pessoas que jejuam diante do que elas
interpretam como sendo um Deus irado estão se esforçando
desesperadamente para evitar a reprovação do Juiz. Se encaramos
Deus assim, acabamos nos condenando na maior parte do tempo e
perdendo a afeição e a ternura de Deus em nosso jejum. É somente
na presença de um Noivo cheio de alegria que nosso jejum é seguro
e altamente edificante para nós.
O espírito religioso não intensifica a gratidão ou o amor por
Deus e pelos outros. Em vez disso, se compara com os outros e se
gaba pelo seu compromisso maior. Coloca uma falsa linha divisória
entre os “espirituais” e os “não espirituais”, criando discórdia e
desunião. Se estivermos jejuando por amor, não existe vanglória ou
comparação. Não existe competição. Existe apenas o desejo de
amar a Deus e de receber amor de Deus, e de levar outros a essa
maravilhosa experiência com as afeições de Deus.

Perigo no 6: ascetismo ou abnegação impróprios


Precisamos tomar cuidado com dois grandes inimigos do jejum: o
poder destrutivo da autoindulgência carnal e o poder destrutivo da
abnegação religiosa. Embora haja mais perigos na autoindulgência
que na abstinência, os perigos do jejum vêm quando o foco não é
em um Deus de amor, nem um Deus de afeições ardentes. O jejum
do Noivo nos leva a ter confiança no coração ardente de amor por
Deus, e não na nossa carne. Ele nos leva a uma libertação
essencial de uma abnegação que não é santa.
Jesus nos chama a tomar nossa cruz e a negar a nós mesmos
enquanto o seguimos na graça de Deus (Mateus 16:24-25). A falsa
austeridade leva as pessoas à confiança nos seus sofrimentos
religiosos, e não na misericórdia ou na bondade de Deus. O inimigo
procura adulterar esse caminho glorioso da obediência e desviar
qualquer um que o leve a sério, enganando-o e levando-o a
extremos que não são prescritos pela Bíblia.
Alguns monastérios na Idade Média entravam em tipos
estranhos de ascetismo — açoitando-se com chicotes e usando
roupas ou objetos dolorosos. Paulo fala dos falsos ascetas que
tornavam o celibato obrigatório e impunham restrições dietéticas.
Ao longo da história da Igreja, as pessoas seguiram regimes
tortuosos de abnegação na tentativa de evitar a imoralidade e a
indulgência da carne. Esses extremos têm suas raízes em
suposições falsas sobre Deus e sobre como Sua graça opera. Isso
não é bíblico e não nos levará ao coração de Jesus. Estamos
assentados com Cristo nos lugares celestiais (Efésios 2:6). Assim,
temos acesso à presença de Deus e, portanto, à beleza da Sua
majestade. Jejuar tem a ver com ter confiança na graça. Não tem a
ver com marcar um “o.k.” na sua lista de tarefas religiosas, ou com o
quanto podemos ser severamente “espirituais”. É a força do amor de
Deus que sela e dá pode ao coração, e não a força da própria carne
(Cântico dos Cânticos 8:6).

Perigo no 7: orgulho espiritual


A principal cilada do estilo de vida de jejum é a tentação atroz de
cedermos ao orgulho espiritual. A abstinência de alimentos e de
prazer pode afagar fortemente o orgulho. Esse orgulho é o perigo
mais comum do estilo de vida de jejum, sendo letal para a
verdadeira espiritualidade. Não há nada mais poderoso que um
grupo de pessoas unidas em entrega total a Deus, orando e
jejuando juntas. Entretanto, essa comunidade tem uma tentação
grande e contínua correspondente: ceder ao orgulho e à tendência
ao julgamento.
O chamado ao estilo de vida de jejum é a principal
oportunidade para o elitismo — sentimentos ocultos de
superioridade — se manifestar em nossa vida. O elitismo orgulhoso
e as autocongratulações pelas realizações espirituais estão entre as
manifestações mais comuns de orgulho religioso. Na IHOP-KC,
pedimos que todos sigam nosso princípio de jejum coletivo de “não
pergunte, não fale” com relação aos detalhes do que eles fazem nos
períodos de jejum coletivo. É fácil sentir-se superior aos outros no
jejum. Jesus nos advertiu quanto a isso quando disse: “Quando
jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas,
pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os homens
vejam que eles estão jejuando” (Mateus 6:16).
Como é o orgulho espiritual? Descobrimos que desejamos ser
reconhecidos como alguém dedicado e próximo a Deus de uma
maneira única. Amamos ser reconhecidos como alguém que jejua.
Sentimos gratificação quando somos “apanhados” jejuando.
Ficamos aborrecidos quando os outros não estão jejuando tanto
quanto nós. Nós nos sentimos superiores ou julgamos aqueles que
não jejuam. Sei disso porque muitas vezes fui vítima desse orgulho
espiritual. Entristeço-me sempre que vislumbro o orgulho em meu
coração. Por natureza, somos desesperados por parecermos estar
mais próximos de Deus que os outros, ainda que isso exija que
demos impressões exageradas e falsas sobre a profundidade da
nossa espiritualidade. Queremos que os outros acreditem mais a
nosso respeito do que é realmente verdade. Embora possamos
ouvir todas essas manifestações de orgulho espiritual e decidir
rapidamente que elas não se aplicam a nós, precisamos lembrar o
quanto o orgulho é sutil, e estar sempre alertas quanto a qualquer
resíduo dele nas nossas motivações e mentalidades. Ele pode ser
mais pessoal para nós do que percebemos. Essa é a principal
dificuldade para as pessoas sinceras.
Outra face do orgulho espiritual é ter uma confiança não santa
em julgar as pessoas. O jejum oferece uma tremenda porta aberta
para a arrogância religiosa. Sem uma resistência resoluta ao
orgulho, começaremos inconscientemente a julgar os outros. Nesse
sentido, Paulo incentivou: “Portanto, deixemos de julgar uns aos
outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de
tropeço ou obstáculo no caminho do irmão” (Romanos 4:13).
Às vezes aqueles que se dedicaram à oração e ao jejum
intenso são as pessoas mais iradas e julgadoras. Quem matou o
Messias? Os fariseus que jejuavam duas vezes por semana (Lucas
18:12). Eles eram incentivados a julgar os outros pelo seu engano e
orgulho religioso. Em vez de menosprezarmos os outros, o Senhor
quer que cresçamos em gratidão pela graça que opera em nosso
coração e que nos permite sustentar um estilo de vida de jejum.
Jesus contou uma parábola sobre dois homens que foram ao templo
para orar, um era um fariseu e o outro um coletor de impostos. O
fariseu agradecia a Deus por não ser como os outros homens,
observando que jejuava duas vezes por semana e dava dízimos de
tudo o que possuía. O coletor de impostos clamava: “Deus, tem
misericórdia de mim, que sou pecador”. Ele foi aquele que foi
justificado, e não o fariseu (Lucas 18:10-14).
Jesus chamou seu povo para orar dia e noite em Lucas 18:1-8.
“Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele
dia e noite? Continuará fazendo-os esperar?” (v. 7). Quando eu
tinha vinte e três anos, o Senhor usou essa passagem para me
chamar a uma vida de intercessão. Passei de não gastar tempo
algum em intercessão para gastar uma grande quantidade de tempo
me dedicando a orar. Entretanto, a tragédia espiritual atingiu minha
vida de oração cerca de um ano depois. Eu poderia ter evitado isso
se tivesse compreendido o parágrafo seguinte de Lucas 18, no qual
Jesus advertiu contra o orgulho que os fariseus tinham pela sua vida
de oração e jejum regular (vv. 9-14). Quando vi essa advertência, já
era tarde demais.
Quando comecei a procurar viver uma vida de oração, eu não
percebi que precisaria tanto da graça de Deus para sustentá-la. Eu
ficava aborrecido com os outros que não estavam orando tanto
quanto eu pelo avivamento em St. Louis, onde eu morava na época,
e expressava minha ira. Então, o Senhor retirou a graça para a
oração da minha vida. Àquela altura, eu estava em um lugar difícil.
Eu era um jovem de vinte e quatro anos orgulhoso espiritualmente,
que havia anunciado em público que estava comprometido em dirigir
reuniões de oração de várias horas por dia. Foi horrível dirigir essas
reuniões sem nenhuma graça em meu coração.
Comecei a detestar ir para as reuniões de oração, mas eu não
podia desistir de participar por causa do meu orgulho. Eu havia feito
tamanha exibição do fato de chamar a todos para orar por horas a
fio, que continuei a ir, embora detestasse cada minuto. Eu me sentia
oprimido. Quando jejuava, não conseguia passar do meio-dia sem
comer. Finalmente, o Senhor me disse que eu havia entristecido
tanto o Espírito Santo que Ele não me ajudaria na oração até que eu
confessasse meu orgulho espiritual aos outros e me humilhasse. Fiz
isso com relutância. Embora aquela tenha sido uma época horrível
da minha vida, depois a graça para a oração retornou.
Desde então, tenho estado mais consciente da extensão da
ajuda que necessito para orar. Ainda perco isso de vista algumas
vezes, mas pela misericórdia de Deus, Ele continua a me chamar ao
arrependimento. Sou grato a Deus por me ajudar a de certa maneira
sustentar a oração e o jejum ao longo dos anos, em vez de ficar tão
irado com aqueles que não têm essa graça. Agora sei que o próprio
desejo de jejuar e orar é uma obra da graça e não algo que vem da
nossa “dedicação superior”.
Quando Deus dá a revelação da importância da oração com o
jejum e depois nos dá a graça para sustentar isso, a única resposta
é dizer: “Obrigado, Senhor, por este dom glorioso”. Quando a
gratidão pela graça surge em nosso coração, o dragão do orgulho é
de certo modo mantido sob controle. Para aqueles que receberam
esse modo de vida, digo que isso não acontece principalmente
porque eles são seguidores superiores de Jesus, mas porque Ele é
um líder excelente. Não é que sejamos bons alunos. É que Jesus é
um excelente professor. Nunca teve a ver com a nossa capacidade
de ouvir tão bem assim, mas com Sua habilidade excepcional de se
comunicar de uma maneira que captura a nossa atenção.
À medida que nos humilhamos e recebemos a revelação de
que a graça de Deus é a única razão pela qual podemos obedecer a
Ele em qualquer função, estamos em uma boa posição para resistir
aos esquemas do diabo contra o estilo de vida de jejum. Os cristãos
sinceros que amam Jesus e querem entrar no estilo de vida de
jejum precisam desenvolver um fundamento firme no que a Palavra
diz sobre a graça de Deus. Durante os períodos de jejum,
precisamos permanecer focados na intimidade com Jesus;
permanecer conectados com o Corpo de Cristo em um
relacionamento autêntico; permanecer na Palavra, até duas vezes
mais do que o normal; e continuar em humildade de espírito,
recebendo facilmente correção daqueles que ocupam posições de
autoridade. Assim, evitaremos os sete perigos do estilo de vida de
jejum e avançaremos para receber os benefícios e as recompensas
abundantes que Deus deseja gerar em nossa vida.
Capítulo 11
Como Responder à Crise
Global: A Dinâmica da Oração

eus deu à raça humana uma grande dignidade ao nos dar o

D
livre-arbítrio, o que significa que nos foi dada habilidade
para tomar decisões reais que têm consequências
temporais e eternas. Embora a nobreza da escolha possa
ser gloriosa se for exercida em retidão, ela também pode
ser perigosa se for influenciada pelo pecado e pela
rebelião. A falha em reconhecer seriamente a resposta que a
Palavra de Deus necessita resultará em uma vida de oportunidades
desperdiçadas.
Entretanto, a sabedoria de um estilo de vida de obediência aos
preceitos das Escrituras terá um impacto dramático sobre nossa
vida nesta era, e será recompensada para sempre na era que está
por vir. Uma das escolhas mais sábias que podemos fazer nesta
vida é orar. A oração pode ser expressa de muitas maneiras
edificantes, variando da meditação devocional tranquila à oração
intercessória coletiva por avivamento. Nesse contexto, focaremos na
função da oração intercessória .
O Salmo 2 revela um aspecto espantoso do relacionamento
entre o Pai e o Filho, concedendo à oração uma significância que
mal podemos calcular. No versículo 8, Deus Pai diz a Jesus, o Filho:
“Pede-me, e te darei as nações como herança e os confins da terra
como tua propriedade”. Observando o mistério da Divindade, vemos
que o Homem Jesus, como a segunda Pessoa da Trindade, opera
Seu governo através da intercessão. Ao longo dos Seus dias na
terra, Ele estava sempre se retirando em isolamento para orar
(Marcos 1:35; Lucas 5:16). Jesus escolheu os apóstolos após uma
noite em oração (Lucas 6:12), e nas horas que levaram à Sua
crucificação Ele clamou a Deus em favor dos Seus discípulos (João
17). O papel de Jesus na oração vai muito além dos limites da Sua
primeira vinda. Ele está sentado à destra de Deus e vive para
sempre para interceder (Romanos 8:34; Hebreus 7:25). Quando Ele
voltar e governar a terra desde Sião, Seu governo funcionará como
uma casa de oração para todas as nações (Isaías 56:7).
Esses são apenas vislumbres da verdade majestosa
entretecida ao longo da Bíblia: que a oração é o modo principal que
Deus escolheu para Jesus liberar o poder do Pai e introduzir Seu
Reino eterno. Como Sua Noiva, quando oramos, entramos em
parceria com Ele, o eterno intercessor. Assim como Cristo procurou
amigos para vigiar com Ele no jardim do Getsêmani (Marcos 14:32-
38), Ele convida para sempre Seu povo à intimidade e à autoridade
da oração.
Nossa decisão de aceitar esse convite ou de negligenciá-lo
tem ramificações profundas. Independentemente do que as pessoas
ou os demônios fizerem, Deus realizará os principais eventos do
plano que Ele determinou para o futuro — como a segunda vinda de
Jesus, Seu Reino sobre toda a terra, Satanás ser lançado no lago
de fogo, etc. Entretanto, Ele nos deu um papel dinâmico, através da
nossa reposta a Ele em oração, jejum e obediência, para determinar
parte da “qualidade de vida” que experimentaremos no natural e no
espiritual. Ele abre portas de bênção e fecha portas de opressão em
resposta às nossas orações. Há bênçãos que Deus só liberará
quando Seu povo pedir por elas na parceria íntima da oração. Há
opressões demoníacas que só sairão em resultado da oração e do
jejum (Mateus 17:21). Isaías ensinou que Ele anseia por liberar Sua
graça e Seu poder, mas na verdade aguarda até ouvir o clamor do
Seu povo em intercessão. “Contudo, o Senhor espera o momento
de ser bondoso com vocês; Ele ainda se levantará para mostrar-lhes
compaixão... Como Ele será bondoso quando você clamar por
socorro! Assim que Ele ouvir, lhe responderá” (Isaías 30:18-19).

Adoração Intercessória Coletiva


Todo tipo de oração é importante, mas a mais elevada expressão de
autoridade que os redimidos podem desfrutar encontra-se na
adoração intercessória coletiva. É importante entender cada um
desses componentes e por que eles são tão significativos.

Coletiva
É preciso humildade para abraçar tudo o que envolve reunir-se
coletivamente. As diferenças na adoração e nos estilos de oração,
nas ênfases doutrinárias e nas nossas personalidades fazem com
que a humildade seja necessária se quisermos nos reunir de
maneira regular. A mansidão que isso produz no nosso coração
promove uma atmosfera que conduz à atividade do Espírito Santo.
O Livro de Atos retrata sistematicamente a companhia apostólica de
cristãos unidos em oração em conjunto com grande liberação do
poder do Espírito Santo (Atos 1:14; 2:1; 4:24; 5:12). Existem muitas
outras passagens que também comunicam essa verdade. Por
exemplo, Davi disse: “Como é bom e agradável quando os irmãos
convivem em união!... Ali o Senhor concede a bênção” (Salmos
133:1, 3). Atos 1:14 é outro exemplo: “Todos eles se reuniam
sempre em oração...”.
O Pai só libera Sua plenitude para Sua família. Podemos ir até
certo ponto em Deus na nossa dedicação individual; há um teto no
Espírito até nos reunirmos. É preciso uma resposta coletiva,
unificada, por um período de tempo, para alcançar os níveis mais
altos da bênção pretendida por Deus sobre uma cidade ou nação. E,
ainda, o fogo em nosso coração pode se extinguir quando estamos
sós. Somos fortalecidos quando nos agrupamos com pessoas que
têm a mesma paixão e a mesma visão.

Intercessória
A oração intercessória clama a Deus em favor de outros e influencia
o curso das nações. Ezequiel expressou o desejo de Deus por
alguém que se colocasse na brecha entre Ele e Israel, alguém que
orasse de uma maneira que fizesse com que o juízo de Deus fosse
detido. Não encontrando nenhum intercessor, o Senhor destruiu a
terra. “Procurei entre eles um homem que erguesse o muro e se
pusesse na brecha diante de mim e em favor desta terra, para que
eu não a destruísse, mas não encontrei nenhum” (Ezequiel 22:30).
Quando Deus estava irado com Israel por causa do seu pecado,
Moisés se colocou na brecha entre Israel e Deus em oração. Deus,
na verdade, condescendeu, ou mudou Seu plano, e não destruiu a
nação. A intercessão de Moisés resultou em Deus manifestar Sua
misericórdia em vez do juízo (Êxodo 32:9-14).
Não basta orarmos para expressar nossa devoção pessoal a
Deus. Muitos que amam sua comunhão com Deus em oração não
têm revelação sobre a autoridade que a Igreja possui na
intercessão. Fomos chamados para nos colocarmos com autoridade
na brecha pelos outros, quer seja pela Igreja, por cidades e nações
inteiras, ou pelos indivíduos que ainda não conhecem o Senhor.

Adoração
Finalmente, quando a intercessão coletiva ocorre no ambiente de
músicas e canções proféticas, ela unifica, sustenta e inspira o povo
de Deus de uma maneira única. Mais pessoas podem entrar em um
nível mais profundo por períodos maiores quando a oração é aliada
à adoração ungida. Em Apocalipse 5:8, os anciãos que se reúnem
ao redor do trono seguram uma harpa, que representa a adoração,
e um cálice, que representa as orações dos santos. Unir a adoração
com a intercessão está em concordância com o padrão eterno do
céu.
A importância de capturarmos o poder da adoração
intercessória coletiva é intensificada dramaticamente nos nossos
dias porque a terra está no limiar de uma calamidade e de um
avivamento sem precedentes. Uma tempestade de glória e de juízo
surge no horizonte, e precisamos ter discernimento com relação à
resposta apropriada ao Dia que virá como um laço sobre todos os
que habitam nas nações (Lucas 21:35). O chamado primordial de
Deus a uma nação em crise é para nos reunirmos para orar, adorar,
jejuar e nos arrependermos dos pecados, pedindo a Deus para
liberar Seu poder em nosso favor. Mas antes de olharmos mais de
perto a resposta que Deus pede de nós, precisamos entender
melhor a natureza desse cataclismo mundial iminente.

Entendendo a Crise Global


Joel 2:11 diz: “Como é grande o dia do Senhor! Como será terrível!
Quem poderá suportá-lo?”. Mateus 24:21 diz: “Porque haverá então
grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo
até agora, nem jamais haverá”.
Jesus falou sobre uma geração que sofreria uma tribulação
que não se compararia a qualquer outro período da história. A
começar com Enoque, que viveu muito antes de Abraão e de
Moisés, Deus começou a dar revelação acerca desse dia futuro
(Judas 14-15). Desde os Salmos aos Profetas Maiores e Menores,
ao Novo Testamento, inclusive o Livro de Apocalipse, há mais
informações com relação a esse período da história do que a
qualquer outro período. Mas hoje, grande parte do Corpo de Cristo
desconhece as verdades que Deus relatou sobre isso. A maioria dos
cristãos vive como se isso nunca fosse acontecer.
Embora esteja além da abrangência deste capítulo
aprofundar-se nos detalhes bíblicos do período que leva à
segunda vinda, é útil identificar quatro fontes específicas, que se
sobrepõem para produzir uma crise disseminada na terra: o zelo
de Deus pela justiça na forma expressa pelos Seus juízos
temporais; a fúria de Satanás; o pecado do homem; e o gemido da
criação. Esses fatores trabalham juntos debaixo da soberania e da
sabedoria de Deus.

O zelo de Deus
Os juízos de Deus são motivados por Seu zelo pela pureza do Seu
povo. A Igreja é rápida para falar sobre o papel de Satanás, e até
sobre o papel do homem pecador, mas hesitamos e ficamos
inseguros quanto ao papel de Deus em causar as crises. O papel
de Deus é se opor a qualquer operação do Seu inimigo, que é o
pecado. Até a nação escolhida, Israel, tornou-se inimiga de Deus
por viver em pecado: “Apesar disso, eles se revoltaram e
entristeceram o seu Espírito Santo. Por isso ele se tornou inimigo
deles e lutou pessoalmente contra eles” (Isaías 63:10). A
concordância com as trevas, mesmo quando praticada por aqueles
que conhecem Jesus, resulta em um relacionamento de inimizade
com o Santo de Israel. Tiago 4:4 é claro com relação a isso:
“Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é
inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se
inimigo de Deus”.
Está claro que é o Cordeiro de Deus quem abre os selos e
orquestra os acontecimentos descritos no Livro de Apocalipse. Mas
o papel de Deus no juízo é muito controverso, mesmo dentro da
Igreja. Seu propósito no juízo é remover tudo que impede o amor.
Ele não tem prazer em derramar Seu juízo sobre os maus (Ezequiel
33:11). Ele destruirá a tirania do pecado sobre os reinos do mundo e
estabelecerá um Reino de justiça que jamais terá fim (Apocalipse
11:15). Ele dispensará a ira sobre os maus e disciplinará aqueles
que estão na Igreja e que estão em rebelião a fim de trazê-los à
pureza. Quando Jesus dividir o céu na Sua segunda vinda e descer
com um brado (1 Tessalonicenses 4:16), Ele removerá
violentamente todas as coisas que o ofendem, e terá uma Noiva
imaculada (Mateus 13:41; Apocalipse 19:7-8).

A fúria de Satanás
A fúria de Satanás causará grande tumulto sobre a terra dentro dos
limites que Deus estabelece. Quando a hora dessa condenação se
tornar iminente, Satanás desatará sua fúria contra a nação de Israel
e contra todos aqueles que seguem o Cordeiro, conforme descrito
em Apocalipse 12:12, que diz: “Mas, ai da terra e do mar, pois o
diabo desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe
resta pouco tempo”.

O pecado do homem
O desafio mais aterrorizante que uma nação em pecado enfrentará
será o próprio Deus. Este é um desafio muito mais ameaçador que
os ataques de Satanás, os desastres naturais ou as tramas dos
terroristas. Os homens podem usar seu livre-arbítrio para ferir uns
aos outros. Eles são responsáveis pelas guerras e atos de violência
que estão se multiplicando nesses dias.

Os gemidos e as dores de parto da criação


Veremos isso se manifestar em terremotos, em padrões climáticos
violentos e muito mais. Há uma relação misteriosa, mas gloriosa,
entre os atos da raça humana e o estado da criação natural, como a
terra e a vegetação. Quando Adão pecou, uma maldição veio sobre
a terra (Gênesis 3:17-18). Essa maldição tem se agravado à medida
que o pecado do homem se agrava. As convulsões da terra
aumentarão à medida que o pecado amadurecer (Isaías 24:19-20).

A Resposta que Deus Requer


Deus está chamando toda a raça humana ao arrependimento. É
particularmente importante, porém, ter clareza com relação à reação
da Igreja, porque somos a primeira linha de defesa no dia em que
Deus abalar a terra. Deus disse: “Se o meu povo, que se chama
pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar
dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu
pecado e curarei a sua terra” (2 Crônicas 7:14). Pedro também
expressou isso em 1 Pedro 4:16-18: “Pois chegou a hora de
começar o julgamento pela casa de Deus; e, se começa primeiro
conosco, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho
de Deus?” (v. 17).
A Igreja, como o povo da aliança na terra, é a maior
responsável diante do céu por clamar, se colocar na brecha e se
opor ao pecado. Além do mais, em meio aos tempos do fim, o
estado das nações se degenerará rapidamente para o caos. À
medida que a fome, a peste, o engano e o conflito se agravarem, as
multidões serão atingidas pelo medo, pela confusão e pela fúria.
Nesse tumulto de desespero e depravação, os redimidos precisam
se levantar. Com corações encorajados pela confiança na Palavra
de Deus e cheios de amor por Jesus, conduziremos as multidões
cambaleantes à verdade do Evangelho.

“Agora, porém”, declara o Senhor,


“voltem-se para mim de todo o
coração, com jejum, lamento e
pranto”. Rasguem o coração, e não
as vestes. Voltem-se para o Senhor,
para o seu Deus, pois ele é
misericordioso e compassivo, muito
paciente e cheio de amor;
arrepende-se, e não envia a
desgraça. Talvez ele volte atrás,
arrependa-se, e ao passar deixe
uma bênção... Toquem a trombeta
em Sião, decretem jejum santo,
convoquem uma assembleia
sagrada. Reúnam o povo,
consagrem a assembleia; ajuntem
os anciãos, reúnam as crianças,
aquelas que mamam no peito...
Que os sacerdotes... chorem entre o
pórtico do templo e o altar, orando:
“Poupa o teu povo, Senhor...”.
Joel 2:12-17

Durante a crise, Deus requer uma reação específica do Seu


povo. Em Joel 2:12-17, Deus nos diz exatamente o que devemos
fazer para receber Sua misericórdia e Seu livramento — convocar
assembleias solenes, nos voltarmos para Ele e rasgarmos nosso
coração em arrependimento, crendo na Sua bondade e na Sua
misericórdia. Sua resposta para as crises de hoje é a mesma que
Ele falou na geração de Joel quando uma invasão babilônica
estava se aproximando. Essa é a passagem mais clara da Palavra
que descreve o que Deus deseja da Igreja nos tempos de crise
local ou nacional. À medida que o drama global se desenrola no
fim desta era, o Corpo de Cristo tem um mapa claro da estrada.
Que ousadia santa isso nos traz! Podemos agir com segurança em
tempos de crise.

Assembleias Solenes
Precisamos ser claros acerca da importância das dimensões
coletivas de oração e jejum. Joel identificou esse componente
crucial quando convidou o povo para clamar a Deus coletivamente.
Essa passagem, junto com Joel 1:13-14, enfatiza o alcance desse
ajuntamento. A situação exigia que todas as pessoas, inclusive os
anciãos, as crianças e até os noivos e as noivas, fossem chamados
para essa santa convocação. Implícita nesse chamado abrangente
está a natureza grave e sagrada da assembleia.
Quando nos reunimos após uma calamidade ou nos
preparando para o que é iminente, precisamos fazer isso com uma
postura de humildade e lamento. Através do profeta Joel, o Senhor
instrui o povo a jejuar e lamentar, e aqueles que ministram a Ele a
chorar em intercessão durante toda a noite. Não basta se reunir e
orar casualmente. Quando o desastre nos atinge e quando olhamos
para a gravidade dos dias que estão diante de nós, precisamos
deixar de lado todas as distrações e lançar nosso coração em
gemidos e dores de parto com um só coração, suplicando ao
Senhor que tenha misericórdia.

Rasgando o Coração
Para que o jejum e a adoração intercessória coletiva sejam eficazes,
eles devem ser abraçados por um povo comprometido de todo o
coração. Rasgar significa partir algo violentamente ou à força.
Quando arrancamos o coração violentamente das áreas de pecado,
nós nos alinhamos com o que Deus requer. Tradicionalmente, os
povos antigos rasgavam suas vestes para mostrar sofrimento e
desespero. Quando Deus deseja o rasgar do coração (Joel 2:13),
Ele está falando de uma violência espiritual radical para com tudo o
que nos separa dele (Mateus 11:12). Parafraseando Joel, ele disse:
“Rasguem seus corações até abri-los! Não se poupem! Se houver
uma questão em suas vidas que sufoque o Espírito Santo, livrem-se
dela!”. Falando simbolicamente sobre esse rasgar radical, Jesus
disse: “Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o
fora... E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora...”
(Mateus 5:29-30). Ele estava falando sobre uma busca radical por
justiça que rasga dolorosamente o coração no processo de
arrependimento. Em outras palavras, devemos abandonar todas as
concessões, seja qual for o preço.
Como ocidentais, esperamos ser comprometidos de todo
coração, de uma maneira que seja suave, fácil e dócil, mas
geralmente há dor envolvida no processo de cooperar com o
Senhor para arrancar o sistema de raízes do cativeiro em nossa
vida. Alguns prefeririam não ter de mudar o estilo de vida ou a
maneira como gastam o tempo na sua busca por liberdade e
santidade. Queremos que o Senhor faça nossos problemas
evaporarem sem nenhum custo ou esforço — sem a dor de
rasgarmos nossos corações. Não nos importamos de jejuar
algumas refeições ou de dedicarmos algumas horas para clamar
no quarto de oração. Mas geralmente negligenciamos a
necessidade de rasgarmos o coração porque não queremos sentir
a dor de um rasgar íntimo e pessoal.
Deus é contra grande parte do que a igreja rotula de termos a
nossa “liberdade na graça de Deus”. Muitas das “liberdades” pelas
quais a Igreja luta são as mesmas coisas contra as quais Deus está
lutando. A maneira como gastamos tempo e dinheiro; a maneira
como buscamos honra; a maneira como falamos, nos relacionamos
e demonstramos nossa amargura, tudo isso evidencia que não
abandonamos aquilo que nos afasta de Deus.
O coração de Deus Pai foi rasgado quando Ele entregou Seu
único Filho como sacrifício pelo pecado, e ele continua a ser
rasgado na Sua paciente longanimidade com Seu povo enquanto
ele se recusa a responder com arrependimento. Jesus rasgou Seu
coração quando foi para a cruz. Não é mistério a razão pela qual
Deus quer que rasguemos o nosso coração em amor por Ele. Ele
rasga o próprio coração na Sua busca por nós; Ele provou que não
nos ama de uma maneira desligada e distante. Para entrarmos
plenamente nesse amor e para participar da plenitude do jejum e
da oração nas assembleias solenes nosso coração precisa ser
rasgado.

Ter Confiança na Bondade e na Misericórdia de


Deus
“...convertei-vos ao Senhor... porque ele é misericordioso, e
compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se
arrepende do mal. Quem sabe se não se voltará, e se
arrependerá...” (Joel 2:13-14, ARA). Joel convocou o povo para
voltar ao Senhor, dando cinco razões pelas quais eles podiam ter
confiança mesmo na sua fraqueza: Deus é misericordioso,
compassivo, lento em irar-se, cheio de bondade e se arrepende do
mal. Ele deseja fazer um caminho de livramento. O conhecimento
do coração de Deus por nós nos dá coragem para rasgar o coração
em arrependimento. Se dermos um passo em direção a Ele, Deus
dará dez passos na nossa direção.
“Não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui
conforme as nossas iniquidades” (Salmos 103:10). O Senhor nos
avalia graciosamente de maneira diferente de todos os outros. Ele
se lembra da nossa fragilidade, que não passamos de pó (Salmos
103:14). Ele não é como um líder militar rude ou um treinador irado
que rejeita qualquer forma de fraqueza. “Quem é comparável a ti, ó
Deus, que perdoas o pecado e esqueces a transgressão do
remanescente da sua herança? Tu que não permaneces irado
para sempre, mas tens prazer em mostrar amor” (Miqueias 7:18).
O Senhor tem prazer na misericórdia. Uma das coisas favoritas de
Deus ao liderar o universo é observar as reações do nosso
coração ao encontrarmos Sua misericórdia irredutível. Ele tem
prazer no que é despertado em nós quando entendemos que Ele
nos dá amorosamente um novo começo após cada um dos nossos
muitos fracassos.
“Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade,
tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus
o leva ao arrependimento?” (Romanos 2:4). O Senhor tem grande
bondade e paciência ao tratar conosco. Quando cremos na
bondade de Deus, podemos seguir em frente com confiança em
direção ao pleno arrependimento, porque não sentimos que Deus
nos despreza nesse processo. Pedimos a Ele para nos ajudar a
nos arrependermos porque sabemos que Ele está do nosso lado.
Nosso arrependimento nunca encontrará rejeição. Do vasto
depósito de bondade no Seu coração, Deus desiste de enviar
julgamento quando Seu povo se volta para Ele. Deus tem prazer
em desistir do julgamento. Ele honra nosso livre arbítrio. Ele quer
nos enviar bênção em lugar de mal, mas não fará isso se o povo
não clamar a Ele.
Precisamos entender as duas fases que estão envolvidas
quando Deus decreta um juízo. Primeiro, o decreto é estabelecido
no tribunal celestial. Em segundo lugar, ele é cancelado ou
despachado. “Reúna-se e ajunte-se... antes que chegue o tempo
determinado... antes que o dia da ira do Senhor os alcance.
Busquem o Senhor, todos vocês humildes do país... talvez vocês
tenham abrigo [sejam protegidos do juízo] no dia da ira do Senhor”
(Sofonias 2:1-3).
Deus está disposto a ceder, ou a cancelar o decreto de juízo,
em vez de expedi-lo. Em resposta à nossa oração, Deus muda o
que ele libera sobre nossa vida. A história da destruição de Sodoma
e Gomorra contém um exemplo da disposição de Deus em ceder.
Ao saber das intenções de Deus de julgar a cidade, Abraão
perguntou ao Senhor se Ele pouparia os habitantes se houvesse
apenas cinquenta justos nela. O Senhor disse que o faria. Abraão
continuou fazendo a pergunta, reduzindo o número de justos a cada
vez, até finalmente perguntar: “Se houver apenas dez justos na
cidade, Tu os pouparias?” (Gênesis 18:32). Novamente, o Senhor
disse a Abraão que o faria. Mas nem mesmo dez justos foram
encontrados, e as cidades foram destruídas.
A história de Nínive é outro exemplo da disposição de Deus em
condescender. Jonas proclamou que Deus ia julgar a cidade. A
cidade se arrependeu e Deus a salvou (Jonas 3:4-10).
A Bíblia testifica de modo abundante o fato de que o curso dos
eventos, ou mesmo seus resultados, podem ser mudados (Gênesis
18:22-32; Êxodo 32:9-14; 2 Samuel 12:15-23; 24:10-16; 2 Crônicas
34:22-28; Jeremias 18:7-10; 51:6-8; Ezequiel 18:21-22, 28; 33:10-
14; Daniel 4:27; Amós 5:1-3, 14-15; 7:1-6; Sofonias 2:1-3;
Habacuque 3:16-19; Jonas 3:4-10; Malaquias 3:16-4:6).
Encorajo todos a estudarem o Livro de Joel. É um livro curto
do Antigo Testamento que tem grande relevância para a Igreja à
luz do avivamento e da crise mundial que estão por vir. Refiro-me
a Joel como um “minilivro de Apocalipse”. Escrevi um resumo
sobre Joel, no qual analiso cada versículo do Livro. Ele desenvolve
ainda mais os temas do jejum e da oração à luz do que virá sobre
a terra.
Capítulo 12
O Jejum Global do Noivo:
Estabelecendo uma Cultura de
Joel 2

espondendo ao convite de entrar em um estilo de vida de

R
jejum motivado pelo anseio pelo nosso Noivo celestial, e
entendendo a necessidade das assembleias solenes à luz
da crise global vindoura, a International House of Prayer
em Kansas City estabeleceu o Jejum Global do Noivo. No
início de cada mês, toda a equipe e todos aqueles que
gostariam de participar se reúnem por três dias de adoração
intercessória, oração e jejum coletivos.
Em Kansas City, nos reunimos na primeira segunda-feira,
terça-feira e quarta-feira de cada mês, e por sete dias em dezembro,
o que totaliza quarenta dias de jejum todos os anos. Nossa
intercessão coletiva é centralizada em torno de seis reuniões de
oração de duas horas todos os dias (seis horas, dez horas,
dezesseis horas, vinte horas, meia-noite e quatro horas da manhã).
Esses são momentos abençoados, reservados para chorarmos a
ausência de Jesus, para clamar pelo Seu retorno, para lembrar
nosso primeiro amor e para clamar para que uma atividade sem
precedentes do Espírito Santo seja liberada aqui e no exterior.
Apesar de ser uma resposta ao mandato das Escrituras, o
Jejum Global do Noivo foi iniciado pelo Senhor quando Ele falou
profeticamente à nossa liderança em janeiro de 2002. Ele instruiu a
comunidade de cristãos aqui a abraçar um compromisso contínuo
de realizar assembleias sagradas mensais até a volta de Jesus, e
de convocar o Corpo de Cristo em todo o mundo para fazer o
mesmo.

O Jejum Global do Noivo: Uma Assembleia


Solene Mundial
Esse chamado mundial não é um chamado para as pessoas se
juntarem a uma estrutura específica ou a um ministério associado à
IHOP-KC. Ao contrário, é um convite a todos os cristãos espalhados
pelo mundo para rasgarem o coração e se dedicarem a um estilo de
vida radical de jejum que está enraizado no amor de Jesus e na Sua
volta iminente. A visão é que cem milhões de cristãos em todo o
mundo se reúnam nas suas localidades e contendam por uma
avalanche do poder de Deus e para que um avivamento sem
precedentes toque as nações, especialmente Israel.
Embora o formato particular não seja fundamental,
humildemente convidamos aqueles que aceitam essa visão a
realizarem assembleias compatíveis com o nosso horário, visando
alcançar o poder da intercessão unificada. Naturalmente, a liderança
das várias reuniões tem liberdade para ajustar o modelo de oração e
as ênfases, conforme o Senhor direcionar. Mais importante que o
formato é um comprometimento de todo o coração com Jesus e com
os valores bíblicos descritos nos capítulos anteriores. Sem manter
absolutamente nenhuma supervisão organizacional dessas
reuniões, a IHOP-KC simplesmente patrocina a causa e fornece
todos os recursos que puder para encorajar a busca dedicada a
Cristo através do jejum e da oração. Imagine cem milhões de santos
orando e jejuando ao mesmo tempo, e focando na revelação do
Senhor Jesus como o Noivo! O Senhor está levantando um concerto
global de oração e jejum em todas as nações. O resultado será céus
abertos sobre o Corpo de Cristo e a nação de Israel, como a visão
que Jacó teve em Gênesis 28:10.

Estabelecendo uma Cultura de Joel 2


O Jejum Global do Noivo mensal é um empreendimento crucial no
qual o Senhor estrategicamente nos convidou a entrar. Mas o
estado da Igreja ocidental é tal que é necessário muito mais do que
uma reunião mensal. Precisamos entender esse tipo de jejum como
um modo de vida. Está se aproximando rapidamente um tempo tão
perigoso e grave que não teremos um referencial a partir do qual
possamos entendê-lo, a não ser recebendo revelação de Deus. O
diabo está orquestrando a maior liberação do mal jamais conhecida
na história humana. O engano e o pecado encherão a terra como
nunca antes, e a Igreja precisa ter uma resposta radical —
precisamos estar posicionados juntos em oração e jejum contínuos,
da maneira que o Senhor prescreveu nas Escrituras. A cultura da
Igreja precisa mudar drasticamente se ela quiser permanecer firme
e irrepreensível na vinda do Senhor.
O grande conflito do fim desta era será entre as duas casas
de oração. Ambas as casas vêm dos lombos de Abraão — a casa
de Jacó (que Deus renomeou de Israel) e a casa de Ismael. Em
outras palavras, o Corpo de Cristo do fim dos tempos e a casa do
Islã, cada uma funcionando como uma casa de oração, estão a
caminho de uma grande colisão imediatamente antes da volta de
Jesus. Mais de cem milhões de muçulmanos mundialmente
participam do Ramadã, que são trinta dias de jejum no final de
cada ano, geralmente em novembro. Eles buscam pureza religiosa
para adquirir favor e poder junto a Alá. Outras religiões, inclusive o
hinduísmo e o budismo, também praticam o jejum extremo e a
oração regularmente.
O Corpo de Cristo precisa ter uma resposta que se equipare e
até supere a dedicação das falsas religiões. Deus está levantando a
Igreja como Seu martelo no Espírito para contender com o jejum do
Ramadã e o sistema de crenças que está por trás dele (Isaías
41:15). O Espírito Santo está despertando a Igreja para se livrar das
concessões com o pecado e da passividade, e para contender a fim
de que a verdade invada as nações. Isso requer darmos ouvidos à
mensagem dada por Joel, o chamado às assembleias solenes,
como uma parte normal da nossa cultura espiritual. A fim de
responder corretamente, nós, como a Igreja ocidental, precisamos
que um modo de vida inteiramente novo percorra o Corpo de Cristo.
Precisamos viver em oração e jejum contínuos. As dimensões
práticas de nos reunirmos para o Jejum do Noivo representam todo
o estilo de vida que precisamos abraçar como o Corpo de Cristo —
o estilo de vida delineado por Joel.

Ouça e Escute
“Ouçam isto, anciãos; escutem, todos os habitantes do país. Já
aconteceu algo assim nos seus dias? Ou nos dias dos seus
antepassados?” (Joel 1:2). É necessária a obra do Espírito Santo
para que nossos corações recebam a revelação desta mensagem.
Quer seja nos dias de Joel ou nos nossos, essa sabedoria não
muda. Sua primeira exortação é “ouçam e escutem”, o que significa
estudar diligentemente o livro de Joel. Sua mensagem central de
longo prazo é que a glória de Deus no avivamento está vindo, junto
com a crise do anticristo e a grande tribulação. Joel nos diz que
durante esse período, uma vida comprometida de todo o coração —
um estilo de vida de jejum — pode fazer a diferença porque Deus é
bondoso e libera a bênção em meio à crise se o Seu povo o buscar.
Joel desafia o povo a “ouvir”, o que significa que o povo precisa
levar um estilo de vida que intensifique sua capacidade de ouvir.
Precisamos “escutar” a fim de nos comprometermos em entrar
profundamente na mensagem. Esse ouvir não vem automaticamente
porque somos cristãos. Requer um cultivar intencional e deliberado
da revelação da mensagem de Joel. A fim de ouvir claramente
precisamos do espírito de revelação (Efésios 1:17).
Jesus fez este mesmo apelo às sete igrejas mencionadas em
Apocalipse, dizendo: “Aquele que tem ouvidos, ouça” (Apocalipse
2:7; 3:6). Parafraseando Jesus, Ele disse: “Prestem muita atenção,
porque é necessária a ajuda de Deus para ouvir realmente a
Palavra”. Tome cuidado com as informações que você recebe. Se
Deus não ajudar você a ouvi-las, você acabará esquecendo-as ou
desconsiderando-as. A mensagem dos tempos do fim é ofensiva à
carne; resistimos naturalmente ao que desafia nossas zonas de
conforto. A instrução de Deus para ouvirmos, para cultivarmos o
entendimento, é essencial. Se experimentarmos uma agitação inicial
com a mensagem dos tempos do fim, devemos persegui-la até que
nosso coração seja capturado pela revelação. Essa mensagem
precisa se tornar um entendimento vivo no nosso coração.
Outra maneira de dizer isso é que precisamos “comer o rolo”,
digerindo sua verdade até que ela se torne parte de nós (Ezequiel
3:1; Apocalipse 10:9). Se não alimentarmos o espírito com a
mensagem, a inspiração inicial que experimentamos ao ouvi-la
evaporará rapidamente. Oramos: “Senhor, não me contentarei até
que meu coração esteja queimando com revelação para que eu viva
de maneira diferente”. Assim como os discípulos no caminho para
Emaús, queremos que nosso coração queime dentro de nós ao
abrirmos as Escrituras (Lucas 24:32).

A Crise Vindoura é Sem Precedentes e


Desconhecida
“Já aconteceu algo assim nos seus dias? Ou nos dias dos seus
antepassados?” (Joel 1:2). Joel começou enfatizando a magnitude
sem precedentes do que estava acontecendo. Ele perguntou:
“Vocês já viram alguma coisa assim? Vocês acham que isso é
normal?”. Se um evento vindouro é sem precedentes, ele é tão
desconhecido para nossa mente que não o compreendemos
facilmente. Nossa geração está entrando em uma nova estação no
calendário divino que resultará em enormes mudanças na terra. A
glória e os juízos de Deus abalarão tudo que pode ser abalado.
Estamos em um período de tempo único para o qual não temos
referencial; sua total falta de familiaridade é parte da dificuldade de
nos prepararmos para ele. A maioria das pessoas não pensa
realmente que irá viver os eventos registrados no Livro de
Apocalipse.
Com base no que vemos hoje, a grande crise ainda não
começou; vemos apenas pequenos indícios do que está por vir. Mas
mesmo agora não devemos nos render a um espírito escarnecedor
de incredulidade sobre a vinda de Jesus. 2 Pedro 3:3-4 nos adverte:
“Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão
escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles
dirão: ‘O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os
antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da
criação’”.
Os escarnecedores que Pedro previu estarão tanto dentro da
Igreja quanto fora dela. A visão de mundo deles virá não da
revelação das Escrituras, mas de suas concupiscências ou da sua
cobiça. Não querendo deixar que seu dinheiro, seu prazer ou seu
poder sejam abalados, eles considerarão radical e desnecessário o
estilo de vida que Deus prescreveu na Sua Palavra, e falsa ou
antibíblica a mensagem dos tempos do fim. A incredulidade e o
ceticismo deles vão motivá-los a dizer: “O que houve com a
promessa da Sua vinda?”. Em outras palavras: “Onde está o
avivamento vindouro e onde está o juízo vindouro?”. Esses
escarnecedores perpetuarão a mentira de que tudo continuará como
sempre foi. Eles esquecem voluntariamente que Deus governa Seu
Reino e o universo pela Sua Palavra (2 Pedro 3:5), e o que Sua
Palavra diz com certeza sucederá.
Aquilo para o qual nós, como cristãos no mundo ocidental,
precisamos estar alertas é que realmente não entendemos o
quanto somos influenciados pelo espírito escarnecedor da nossa
cultura e da era em que vivemos. Por não nos imaginarmos como
aqueles que participam diretamente do “escárnio” com relação à
volta do Senhor, podemos rapidamente desconsiderar essa
exortação de Pedro como algo que não diz respeito a nós
pessoalmente. Trata-se de um engano ardiloso do inimigo. Mesmo
sem zombarmos em voz alta da segunda vinda, não estamos
imunes ao resíduo desse espírito, que permeia nossa cultura e
muitas das nossas mentalidades. Ele lota nosso pensamento e
diminui nosso fervor, nos deixando inconscientemente com o
espírito entorpecido.
O dilema é que vivemos sob uma névoa espiritual enquanto
pensamos que nossos céus estão claros — pensamos que não
somos afetados por uma coisa que na verdade tem muitas
fortalezas no nosso pensamento e no nosso modo de vida. As
coisas não estão bem e nós não sabemos disso. As coisas estão
desesperadamente erradas enquanto a terra está sob a influência
do maligno e está sendo oprimida pela fúria contra Deus e pela ira
contra Seus caminhos. Por ora, há muitas coisas dormentes abaixo
da superfície, mas a demora não torna o que está dormente menos
real. O mundo foi seduzido a dormir sob uma falsa sensação de paz,
como se estivéssemos hipnotizados pela escuridão desta era.
À medida que o ápice da história humana se aproxima no fim
desta era, as pessoas da terra — inclusive nós, na Igreja — estão
saturadas dessa sedução, adormecidas nela. Precisamos ser
libertos disso. Algo está vindo, diferente de tudo o que a
humanidade já viu. Não sabemos se será nos nossos dias; tudo
que sabemos é que está vindo e que o espírito desta era está com
força máxima. A não ser que nos posicionemos vigorosamente para
chorar pelo Noivo e nos reunirmos para jejuar e interceder, seremos
enganados e seduzidos pelo maligno a dormir, e assim sermos
apanhados desprevenidos na hora da volta do Senhor. É por isso
que não podemos romantizar nosso estado espiritual nem
negligenciar o chamado urgente do Senhor para ouvirmos Sua
Palavra.
A Igreja no mundo ocidental ainda não está convencida do
que está por vir. Sofremos do que eu chamo de síndrome do
avestruz. Colocamos a cabeça em um buraco no chão e
esperamos que tudo simplesmente desapareça. Deus vai mudar
Seus planos se simplesmente permanecermos ignorantes? Não. O
que está escrito na Palavra de Deus não vai desaparecer. Isso
acontecerá quer estejamos preparados ou não. Se a praga dos
gafanhotos de Joel 1 e a crise militar de Joel 2 não são familiares
para nós, e quanto ao Livro de Apocalipse? Os eventos relatados
em Apocalipse são inteiramente desconhecidos para nós. O maior
avivamento e o maior desastre que o mundo já conheceu estão às
portas. Nossos melhores dias e nossos piores dias estão se
aproximando rapidamente.
Noé é o principal exemplo de alguém que respondeu
corretamente a Deus em uma hora de juízo sem precedentes. Ele
abraçou uma mensagem profética com a qual absolutamente não
estava familiarizado. Deus disse que choveria por quarenta dias.
Noé não sabia o que era chuva; nunca havia chovido antes. Até
aquele momento, Deus regava o solo da terra de baixo para cima.
Quando Noé disse às pessoas que água viria do céu, elas
rejeitaram sua mensagem e sem dúvida zombaram dele. Todos
sabiam que a água subia do solo, e não descia do céu.
A Bíblia diz, porém, que por mais estranho que isso possa ter
sido para ele, quando Noé ouviu essa mensagem de Deus, ele
“moveu-se por santo temor” (Hebreus 11:7). Ele seguiu em frente
com uma mudança radical de estilo de vida. Dedicou tempo e
energia a cortar madeira e construir uma arca — por mais de cem
anos. Imagine, depois de oitenta anos construindo um barco, seus
amigos devem ter dito: “Noé, você tem certeza de que ouviu
direito?”. Não havia sinal de chuva. Mas Noé estava tão convencido
da palavra de Deus que isso mudou tudo em sua vida. A maneira
como ele gastava tempo, dinheiro e energia nunca mais foi a
mesma. Jesus assemelhou os últimos dias à geração de Noé
(Mateus 24:37-39). Algo sem precedentes está vindo para a nossa
geração; assim como Noé, também precisamos mudar
drasticamente a maneira como vivemos hoje.

Líderes Precisam Liderar


“Ouçam isto, anciãos; escutem, todos os habitantes do país!” (Joel
1:2). O mandato para “ouvir” começa com a liderança espiritual. Os
líderes precisam “escutar”. Em outras palavras, eles precisam se
entregar a essa mensagem. Eles precisam se colocar de joelhos
diante de Deus com a Bíblia aberta e começar a estudar e meditar
no que os profetas do Antigo Testamento dizem que acontecerá na
geração em que o Senhor voltar. Os “habitantes da terra”
sintonizarão os ouvidos quando seus líderes ouvirem e entrarem em
jejum e oração, liderando pelo exemplo (Joel 1:2). O maior presente
que Deus pode dar a uma nação é levantar líderes com um espírito
de revelação e a graça do jejum e da oração.
A maior crise dos Estados Unidos, por exemplo, não é o
pecado que ocorre em Hollywood ou em Washington. Não é o que
está acontecendo nos centros de pecado das principais cidades. O
maior problema é que a Igreja está sendo liderada principalmente
por pessoas que estão sem o espírito de revelação, que não
entendem a urgência desta hora, que estão sem o espírito de jejum
e oração. Essa foi uma das maiores tragédias durante a crise de 11
de setembro de 2001. Os líderes da Igreja não souberam como
reagir ou abordar os eventos do 11 de setembro. Quando esse
problema for retificado, os líderes que andam na unção de Deus
abordarão outros assuntos necessários. A progressão bíblica é que
os líderes de Deus primeiro ouçam o que o Espírito está dizendo;
então as pessoas também prestarão atenção com sinceridade. O
povo de Deus como um todo só faz o que seus líderes fazem.

Proclame a Mensagem
Joel 1:3 nos diz que, depois que ouvirmos a mensagem, precisamos
dizer a outros. Devemos não apenas ouvir essa mensagem e nos
envolver com ela; precisamos também proclamá-la. O preço que
pagaremos por dizer a verdade com ousadia pode ser visto nas
perseguições que os profetas do Antigo Testamento sofreram. Eles
foram criticados, banidos, aprisionados e mortos. O Senhor honra a
coragem e a fé que são necessárias para proclamar a mensagem
do fim dos tempos de Joel 2, e Ele nos dará mais revelação e
autoridade se usarmos fielmente o que Ele nos confia. Jesus citou
Joel 1:2 quando Ele disse aos Seus discípulos:

“Se alguém tem ouvidos para ouvir,


ouça! Considerem atentamente o
que vocês estão ouvindo’”,
continuou ele. “Com a medida com
que medirem, vocês serão medidos;
e ainda mais lhes acrescentarão. A
quem tiver, mais lhe será dado; de
quem não tiver, até o que tem lhe
será tirado”.
Marcos 4:23-25

Estabeleça uma Cultura Espiritual Dinâmica —


Conte aos Filhos
“Contem o que aconteceu aos seus filhos, e eles aos seus netos, e
os seus netos, à geração seguinte” (Joel 1:3). Depois de chamar os
anciãos para ouvir e todos os habitantes da terra para escutar, Joel
dá a eles um mandato de transmitir a mensagem a quatro gerações.
Os anciãos e o povo precisam contar a seus filhos, que contarão
aos filhos deles, que por sua vez contarão à próxima geração. Todos
os filhos precisam ouvir essa mensagem claramente e crescer
entendendo as realidades dos tempos do fim. Deveria ser tão
normal para eles ouvir sobre o fim desta era como era para os três
filhos de Noé ouvir que um dilúvio estava vindo.
Não queremos que nossos filhos cresçam confundidos com o
que está por vir, ou indiferentes a isso. Nossos filhos precisam saber
que o Dia vindouro é grande e terrível; eles precisam saber como
entrar em parceria com um Deus bom e amoroso tanto agora quanto
naquele dia, vivendo um estilo de vida de oração e jejum. O espírito
de uma criança é moldável e ensinável, como cimento molhado. O
que quer que escrevamos nesses espíritos abertos, nesse cimento
molhado, eles receberão como verdadeiro e normal.
Os adultos podem lutar por anos para se libertar dos
paradigmas errados sobre Deus que foram formados na sua
juventude. Queremos que os corações moldáveis de nossos filhos
sejam como cimento molhado, que se acomoda à verdade inserida
neles. Eles acreditarão que um mal sem precedentes, juntamente
com um avivamento sem precedentes, está por vir. Eles
entenderão que o regime mau e mundial do anticristo surgirá, mais
poderoso e cruel que qualquer coalizão política ou militar que o
mundo já conheceu. Mas eles também saberão que Jesus está
voltando para governar e reinar como Rei sobre toda a terra. Em
preparação para essa hora, eles precisam entender e crer que o
jejum e a oração são normais para o povo de Deus. Eles se
lembrarão do que suas mães e seus pais faziam — eles se
reuniam para jejuar e orar.
(Dana falando.) Meu marido Matt e eu tivemos nossa primeira
filha há um ano, uma menininha chamada Madison. Estamos
envolvidos com essa necessidade urgente de redefinir o que é
“normal” para ela de acordo com o que é verdade na Palavra de
Deus, e não de acordo com o ataque violento do engano que enche
a nossa cultura e a era em que vivemos. Talvez a parte mais difícil
do processo de ensinar nossos filhos seja o realinhamento pessoal
constante necessário em nosso próprio coração para nadar contra
uma corrente furiosa de conforto, facilidade e passividade.
Precisamos manter a urgência em nossa própria vida, e não apenas
na vida de nossos filhos.
O que é o nosso normal se tornará o normal dela,
independentemente de como as coisas pareçam estar. A urgência e
um estilo de vida de chorar pelo Noivo não é algo com o qual nos
engajamos em um dia e tudo está resolvido em nosso coração. Em
vez disso, é algo que temos de nos comprometer a fazer todos os
dias — nos obrigando a sair da letargia e da passividade pela graça
de Deus. Esse é o nosso coração com relação à nossa filha, às
nossas vidas, à comunidade de cristãos entre os quais vivemos e ao
Corpo de Cristo dos nossos dias.
Uma cultura espiritual é estabelecida na Igreja com base no
que ensinamos aos filhos. Nossos filhos ensinarão o mesmo aos
filhos deles. Quando quatro gerações tiverem sido ensinadas,
existirá um povo que crerá na mensagem. Será considerado normal
crer e agir da maneira que a Palavra de Deus diz. Estabelecer essa
cultura espiritual dinâmica de acordo com a mensagem de Joel 2
expulsa o espírito escarnecedor que é cheio de complacência (2
Pedro 3:3-4).
A cultura espiritual do Corpo de Cristo está cheia neste
instante de um espírito de escárnio e complacência. Esse espírito
criou raízes tão profundas na liderança da Igreja que atualmente é
considerado radical crer na Palavra de Deus acerca dos tempos do
fim. Precisamos crer com fé no que Deus diz na Sua Palavra. Deus
disse, eu creio, e isso resolve a questão para mim! Nossos filhos
precisam ser criados em uma atmosfera espiritual de fé e
comprometimento de todo o coração. Em outras palavras, a oração
e o jejum devem ser a cultura espiritual predominante na Igreja dos
tempos do fim. Era isso que Deus queria quando Ele ordenou a
todos: “Contem aos filhos...” (Joel 1:3). Imagine como seria diferente
o dia da calamidade se jovens e velhos, juntos, fossem cheios de
entendimento e poder no homem interior!
É vital que a Igreja gaste seus recursos, tanto humanos quanto
financeiros, para criar filhos que estejam equipados para viver a
mensagem de Joel. Agradeço muito a Deus por Lenny e Tracy
LaGuardia, que servem na equipe de liderança sênior da IHOP. Eles
lideram a equipe que treina os adultos da nossa família espiritual
para equiparem as crianças a fim de viverem a mensagem do Livro
de Joel. Eles têm servido ao propósito de Deus com as crianças há
mais de vinte e cinco anos. Eu os conheço e os tenho observado
durante boa parte desse tempo. A meu ver, a visão e a consistência
deles de criar filhos que se movem no poder de Deus é
impressionante.
Ao longo desses muitos anos, eles têm se mantido firmes na
visão de equipar os filhos para se moverem em tudo o que Deus
dará ao Corpo de Cristo nesta hora. Eles deixaram um salário
invejável em uma megaigreja para levantar o próprio sustento como
missionários intercessores a fim de se unirem à equipe da IHOP.
Perguntei a eles por que eles estavam dispostos a abrir mão de
tanto. Eles disseram que consideram um privilégio abrir mão de
qualquer coisa para equipar as crianças em uma comunidade de
pessoas que levam a oração e o jejum a sério o suficiente para
contenderem juntas por um romper de barreiras no poder de Deus.
Creio que Deus está levantando um exército de pais e mães
espirituais que levarão a sério o desafio de cultivar a cultura
espiritual descrita no Livro de Joel. O Espírito e a Noiva clamam:
“Maranata!”. Vem depressa, Senhor Jesus.
Para mais informações sobre o Livro de Joel, ver o guia de
estudos de Mike Bickle, Studies in the Book of Joel (disponível
somente em inglês).
Sobre os Autores

Mike Bickle é diretor da International House of Prayer Missions


Base, em Kansas City, Missouri. É presidente da Forerunner School
of Ministry, uma escola bíblica em tempo integral, e da Forerunner
Music Academy, uma escola de música em tempo integral.

Dana Candler e seu marido Matt fazem parte da equipe de


liderança sênior da International House of Prayer, em Kansas City,
Missouri, onde moram com sua filha, Madison. Dana é a autora de
Deep unto Deep , um livro que explora a jornada da intimidade com
Deus, e é instrutora da Forerunner School of Ministry.

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