Você está na página 1de 15

ECLESIOLOGIA

CONTEMPORÂNEA
AULA 1

Profª Simone Mota Silva


CONVERSA INICIAL

Prezados alunos e alunas, começamos aqui os nossos estudos sobre


eclesiologia contemporânea.
Ao longo deste conteúdo, discutiremos como a igreja, especialmente a
igreja brasileira, atua nos dias de hoje.
No contexto Brasil, falar em eclesiologia implica em considerar a imensa
variedade de igrejas e denominações cristãs que compõem o cenário religioso
do país. As dimensões geográficas de proporções continentais e as profundas
diferenças sociais entre as regiões são dois dos principais motivos que nos
levam a encontrar tantos e diferentes formatos de igrejas.
Sendo assim, nossos estudos devem envolver uma miscelânea de tudo o
que acontece nas igrejas que professam a fé cristã. Entram aí as igrejas
protestante, pentecostal, evangélica e também a igreja católica.
Ao longo das reflexões a seguir, observaremos como é possível ser uma
igreja simultaneamente bíblica e contemporânea, ainda que as mudanças nos
diferentes contextos eclesiais brasileiros sejam constantes.
Bons estudos!

TEMA 1 – INTRODUÇÃO À ECLESIOLOGIA CONTEMPORÂNEA

Eclesiologia, como se sabe, é o estudo da igreja, e eclesiologia


contemporânea é o estudo da igreja atual, que, no caso do Brasil, subdivide-se
em diversas denominações, doutrinas e formas.
A literatura teológica sobre eclesiologia formal e a história da igreja é
vasta. Existem muitos e bons livros, fonte de informações, sobre a igreja primitiva
ou a igreja do período apostólico, a igreja do período pós-apostólico, a igreja no
tempo patrístico, a igreja da idade média, do período da reforma protestante e a
Idade Moderna e até sobre a expansão da igreja para outros continentes. No
entanto, especialmente no Brasil, quase não existe bibliografia sobre o que
chamamos eclesiologia contemporânea.
Até mesmo pela grande variedade de formas e governos de igreja, é
urgente que esse tema receba a devida atenção dos teólogos e líderes
religiosos.
As discussões eclesiológicas dos dias atuais devem ser uma
preocupação:

2
• No interior das igrejas, a fim de que as práticas sejam sempre revisadas
e alinhadas;
• Entre membros e líderes, para que exista harmonia no entendimento
doutrinário de todos os integrantes da congregação;
• Entre pastores e sacerdotes, para trazer a memória os propósitos iniciais
da igreja ali fundada e corrigir práticas e pensamentos que estejam
dissonantes da doutrina bíblica ou ineficientes na relação com a
comunidade do entorno;
• De professores e pesquisadores em teologia, para promover a
importância do tema e confirmar a realidade eclesiológica da igreja
brasileira;
• Em congressos e eventos, com o objetivo de conscientizar pastores e
líderes sobre a relevância do tema;
• Em ambientes acadêmicos e fóruns de discussão, por meio do diálogo,
com o objetivo de formular um conceito a respeito da eclesiologia
contemporânea, considerando a pluralidade de ideias que surgem em
virtude dos diversos ambientes denominacionais, para ampliação do
conhecimento e estabelecimento de filtro para aplicação na comunidade
local.
1.1 Deus trabalha por meio de pessoas

Desde o seu início, a história da igreja é escrita por Deus por meio de
pessoas.
Ainda lá na igreja primitiva, um dos personagens centrais foi Pedro, um
homem simples, um pescador galileu e que se irritava facilmente. Após a
ressurreição de Jesus, ele foi instrumento de Deus para alcançar as pessoas da
sua cidade com a pregação do evangelho. Também foi o líder dos discípulos no
início da jornada de constituição da igreja.
Do mesmo modo, Paulo, um dos personagens mais relevantes do Novo
Testamento, era um homem com muitas qualidades, mas também tinha seus
defeitos.
Ele era considerado “chato” por muitos e, graças a sua fama de
perseguidor, quando foi de Damasco para Jerusalém, precisou contar com a
defesa de Barnabé para ser aceito entre os apóstolos: “Mas Barnabé, tomando-
o consigo, levou-o aos apóstolos. Contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor

3
no caminho, e que o Senhor tinha falado com ele. Também contou como, em
Damasco, Saulo tinha pregado ousadamente em nome de Jesus” (Atos 9.27).
As dificuldades relacionais de Paulo envolvem outros capítulos ao longo
do Novo Testamento. Logo depois de ser aceito, durante sua estadia em
Jerusalém, ele teve problemas com os helenistas, cristãos de fala grega. Paulo
discutia com eles e houve um movimento entre esse grupo considerou matá-lo
(Atos 9.28-30). Tempos depois, Paulo e Barnabé, o mesmo que o defendera
diante dos apóstolos, discutiram sobre levar consigo em viagem a João, o
Marcos, e essa briga foi tamanha que eles se separaram (15:36-39).
As dificuldades de Paulo, a exemplo de Pedro, não o impediram de ser
essencial para o crescimento da igreja. Ele foi o responsável pela implementação
da igreja em diversas cidades, escreveu boa parte dos livros que compõem o
Novo Testamento, discipulou pessoas e foi mentor de vários pastores como
Timóteo e Tito, por exemplo.

1.2 Eclesiologia: necessidade contemporânea

Assim como foi com Pedro e Paulo, ainda hoje Deus deseja trabalhar por
meio das pessoas na ampliação de seu Reino. Para isso, no entanto, é
imprescindível que se faça a leitura correta deste tempo, ou seja, é importante
entender o modo e o contexto em que as pessoas vivem nos dias atuais.
Considerando que a tarefa da igreja é apresentar as pessoas a esperança
da salvação, promovendo a aproximação delas até a Deus, a exemplo do que
fizeram os cristãos do primeiro século, que transformaram a forma de viver dos
judeus, dos gregos e dos romanos que viviam na sua época, a igreja atual deve
apresentar à sociedade uma eclesiologia capaz de transformar o mundo.
E, para um mundo transformado, é necessário que, primeiro, as pessoas
sejam transformadas para melhor. E isso só é possível por meio da vivência do
evangelho transformador.
Conhecer, portanto, o contexto, a cultura e as tradições são essenciais
para que exista efetividade no esforço da evangelização. Paulo, por exemplo,
gerou transformação e apresentou o evangelho aos carcereiros e guardas que o
vigiavam quando estava preso, e ele foi preso muitas vezes.
Ainda sobre o poder e o caráter transformador da igreja, podemos citar o
exemplo dos discípulos de Jesus. Afora Judas, o traidor, todos os outros tiveram
suas vidas transformadas e foram agente de transformação na vida de outras

4
pessoas, não apenas em Jerusalém, mas, a partir da metade de suas vidas,
também em outros lugares, para onde realizaram viagens missionárias,
conforme narram os pais da igreja.
Eles gastaram suas vidas em favor do evangelho e foram martirizados
pela causa, com exceção do apóstolo João, que morreu de morte natural, exilado
na ilha de Patmos, onde também escreveu o livro do Apocalipse, revelação de
Deus para o povo de todos os tempos, inclusive dos dias atuais.
Assim como os judeus, gregos e romanos foram transformados pelo
evangelho pregado pelos cristãos da igreja primitiva, aos crentes desses dias
cabe o desenvolvimento de uma eclesiologia capaz de transformar a vida das
pessoas para melhor, vivenciando um cristianismo não apenas nominal, mas real
e capaz de convencer o ladrão a não roubar mais, o mentiroso a viver de modo
íntegro, e o homem de coração vil a se espelhar em Jesus e viver uma vida de
humildade, generosidade e amor.

TEMA 2 – DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA A ECLESIOLOGIA

As definições básicas de Eclesiologia devem ser um conhecimento


memorizado do estudante de teologia e integrar o leque de conceitos básicos e
obrigatórios que compõem sua formação.
Relembrar esses conceitos e reafirmá-los é importante para a
continuidade dos estudos da perspectiva eclesiológica contemporânea estudada
nesta oportunidade; então, define-se eclesiologia como:
Baseada na sua etimologia, a combinação de dois termos gregos,
“Ekklesia” + “Logos”. A primeira possui a concepção de “assembleia dos
chamados para fora” ou pode-se dizer também que se refere ao “ajuntamento de
pessoas chamadas para fora”. Já o termo “logos” significa “palavra
escrita/falada” ou também “estudo ou razão”.
Especialmente no primeiro século, a igreja utilizava o termo “ekklesia” com
a mesma ideia de ajuntamento que os gregos. Para eles, era essa a palavra para
citar o ajuntamento em espaços públicos para discutição de questões
relacionadas à filosofia, política e religião e temas relevantes do seu tempo.
Tempos mais tarde, o termo passou a se referir à igreja; depois, formou-
se a palavra eclesiologia, que hoje é explicada como o ramo da teologia cristã
que estuda a doutrina da Igreja.
O objetivo da eclesiologia é estudar:
5
• A natureza da igreja;
• Suas características;
• Seus propósitos;
• Suas doutrinas;
• Seu papel na salvação do homem;
• O relacionamento do homem com Deus e com o mundo; e
• O papel social do homem.

A abrangência do estudo da Eclesiologia é ainda maior e deve estudar as


relações denominacionais e também as formas de governo aplicadas em cada
cada igreja local. As formas de governo podem ser variadas e entre as principais
estão:

• O governo eclesiástico episcopal, que centraliza as decisões na figura do


presidente da igreja;
• O governo eclesiástico congregacional, que é atribuído a assembleia
geral, composta por todos os membros ativos e que possuem direito de
voto sobre questões da igreja e da composição da diretoria;
• O governo eclesiástico presbiterial ou o presbiterianismo, que estabelece
um conselho para governar e administrar a igreja;
• O governo eclesiástico representativo, em que, por meio de assembleia,
os membros escolhem seus representantes para gestão da igreja por um
tempo predeterminado.

Ao longo do Novo Testamento, mesmo com termos diferentes, a igreja é


citada cerca de 114 vezes, mas nem sempre com o mesmo sentido. Em parte
das citações, o escritor refere-se à igreja universal, ou seja, refere-se a todos os
crentes em Jesus Cristo ao redor da terra. Já em outras oportunidades, a igreja
citada é uma igreja local e diz respeito a um grupo de crentes que se reúnem em
uma comunidade local específica.
Portanto, entender o contexto em que a igreja é citada em cada texto é
muito importante para que não haja confusão sobre o sentido e a vertente do
texto.
Entre os nomes utilizados para falar da igreja de Cristo, estão as seguintes
expressões.

• Corpo de Cristo: que é composto por vários membros com distintas


funções;
6
• Templo do Espírito: local onde o Espírito Santo habita e são os próprios
cristãos e não um prédio físico;
• Noiva de Cristo: porque permanece na expectativa do retorno iminente
de Cristo, o noivo;
• Povo de Deus: por ser um povo que se reúne para dar graças e
manifestar sua fidelidade à Deus;
• Jerusalém celestial: a igreja é a prefiguração da Jerusalém celeste;
• Coluna da verdade: porque ela está alicerçada na verdade de Deus e
responsável por divulgar e proteger essa verdade;
• Esteio da verdade: pois apresenta o único caminho para Deus;
• Rebanho de Deus: cujo pastor é Jesus;
• Vinha de Deus: porque produz frutos.

Independentemente da forma como ela é citada, uma das principais


tarefas da igreja de hoje não diz respeito ao nome designado, mas ao seu
propósito de dar frutos e gerar transformação na vida das pessoas e no local em
que está estabelecida.

TEMA 3 – PANORAMA DA ECLESIOLOGIA CONTEMPORÂNEA

É fácil observar que grande parte das ações realizadas pelas igrejas de
hoje são ações templocêntricas, ou seja, são realizadas dentro das estruturas
físicas da instituição e não se voltam para a sociedade, a fim de estabelecer com
esta qualquer conexão ou atender às necessidades do povo.
Esse comportamento recorrente das comunidades locais precisa ser
urgentemente reconsiderado. A igreja não deve concentrar todas as suas
atividades e ações para a convivência interna dos membros, mas deve voltar
também sua atenção para as necessidades da sociedade em seu entorno; afinal,
uma das principais expectativas que existem em relação à igreja é que ela seja,
sim, um local onde as pessoas servem e adoram a Deus em Espírito e em
Verdade e também que seja capaz de alcançar as pessoas que estão fora.
Nesse caso, o único caminho para estabelecer essa conexão com quem está
fora é voltando a atenção para além das estruturas internas.
A ideia de templo que existe hoje considera o espaço físico como local de
culto e convivência entre os membros. É comum, por exemplo, que as pessoas
convidem umas às outras para visitar ou conhecer a sua igreja, normalmente

7
referindo-se ao espaço físico. Mas essa não era a ideia de igreja que existia entre
os primeiros cristãos, lá no primeiro século.
O texto neotestamentário afirma que, naquele tempo, os cristãos se
reuniam diariamente nas casas e no pátio do templo em Jerusalém (Atos 5.42).
Mas, com a dispersão dos cristãos para outras cidades, por conta da
perseguição encabeçada principalmente por Saulo, a congregação em templos
tornou-se impossível, já que não existiam igrejas espalhadas pelas cidades
como acontece nos dias de hoje.
Em um momento seguinte, por volta do ano 70 da era cristã, Jerusalém
foi invadida e o templo destruído.
Apesar desses percalços, a igreja continuou crescendo por meio das
reuniões nas casas. Aliás, esse período é reconhecido como um tempo de
grande e forte expansão do cristianismo e a necessidade de realizar ações “para
fora do templo” é considerada fator determinante para esse crescimento.
A popularização de templos nas cidades só aconteceu com a conversão
de Constantino, imperador romano no início do século IV. A partir de sua decisão
por seguir a fé cristã, ele passou a construir templos por todo o reino, subsidiados
pelo império romano e só a partir daí os cristãos passaram a praticar a religião
no interior das igrejas, ideia e hábito que perdura até os dias de hoje.
A discussão eclesiológica contemporânea não condena, de nenhum
modo, a reunião em templos. O que se propõe é o despertamento para a
necessidade de equilibrar as ações e estratégias de cada congregação
considerando a sociedade do seu entorno e o atendimento as suas
necessidades.
A necessidade contemporânea da igreja, portanto, é:

• Conhecer a realidade eclesiológica atual;


• Promover mudanças a fim de tornar a igreja ao seu propósito original, ou
seja, desenvolver ações que levem a igreja invisível para fora das
estruturas físicas do templo;
• Construir igrejas bíblicas e contemporâneas, que atendam às
necessidades das pessoas e estejam sujeitas aos princípios bíblicos.

No Brasil, por exemplo, quando os jesuítas chegaram aqui e passaram a


catequisar os índios, as missas eram realizadas no período da manhã. Séculos
depois, quando os protestantes vieram para o país, os cultos e a escola bíblica

8
dominical também eram realizados pela manhã e isso porque fazia-se a correta
leitura da realidade daquele tempo e considerava que as pessoas moravam
predominantemente em áreas rurais, ou seja, precisavam percorrer grandes
distâncias até o local de culto; elas não possuíam energia elétrica; e tinham o
hábito de dormir cedo e acordar muito cedo para trabalhar no campo.
Nos dias atuais, a observação das tendências e do estilo de vida das
pessoas também é necessária na organização e planejamento das atividades
comunitárias e eclesiásticas da igreja local. Agora, no início do Século XXI, a
maior parte dos brasileiros vive em grandes metrópoles ou em áreas urbanas,
por exemplo. Essas e outras características devem ser observadas pela igreja
de modo que a leitura deste tempo seja feita de forma correta, inclusive para
identificar as necessidades das pessoas, que também mudam de uma época
para outra.
No Brasil, essa leitura deve ser feita com bastante cuidado, isso porque
as profundas diferenças sociais, geográficas e naturais entre as distintas e
distantes regiões impõem diferentes necessidades e, portanto, carecem de
diferentes soluções.
Por exemplo, existem lugares em que o inverno é muito rigoroso e outros
em que a temperatura ao longo do dia é extremamente alta e gera muito
desconforto. A liderança em cada um desses locais precisa avaliar o melhor
momento de culto e a estruturação da igreja de formas totalmente diferentes. É
fácil entender, por exemplo, que a solução ideal para uma igreja local em Porto
Alegre não deve funcionar da mesma maneira na igreja plantada em Manaus,
por exemplo.
Cabe ao líder ou à liderança eclesiástica de cada congregação fazer a
correta leitura do seu contexto, da comunidade local e seu entorno, seja o bairro
ou mesmo a cidade, e estabelecer estratégias para atender às necessidades do
povo.
Em relação aos princípios bíblicos, a igreja contemporânea deve ser:

• Centrada na Bíblia, sua principal e inegociável regra;


• Alinhada ao compasso dos tempos, desde que ancorada na rocha, ou
seja, antenada quanto às tendências de pensamento e comportamento
social, mas atenta quanto à sujeição de seu discurso e prática à doutrina
contida nas escrituras;

9
• Composta por ministérios equilibrados, ou seja, uma igreja que atua com
bom senso, atenta às necessidades sociais da comunidade e, da mesma
forma, comprometida com a promoção do evangelho e a real
transformação que ele promove, buscando comunicar-se com as
diferentes gerações e atendê-las de modo satisfatório.

A igreja contemporânea tem o desafio de influenciar todas as pessoas.


Em relação ao seu caráter influenciador, ela deve estar atenta à cultura pós-
cristã, que é a realidade deste tempo para alguns estudiosos e já se reconhece,
por exemplo, que países europeus que são referência do cristianismo em épocas
passadas agora precisam ser cristianizados novamente. Muitos acreditam que
esse esfriamento da fé, que também já é uma realidade na América do Norte,
chegará ou já está em processo nos países latino-americanos.
Pensar esse risco que a igreja corre é buscar ler corretamente o tempo
atual. Nesse aspecto, também é importante considerar a cultura pós-moderna
que tem contaminado muitos cristãos com o senso do individualismo, muito
fomentado na formação familiar de muitos cristãos. Por exemplo, grande parte
dos cristãos hoje optam por formar famílias pequenas, com no máximo dois
filhos, considerando a realidade social e econômica em que vivem, mas esse
novo comportamento provoca a forte diminuição no número de cristãos nas
gerações futuras. Na contramão desse pensamento, os muçulmanos, religião
que mais cresce no mundo, têm cada vez mais filhos, considerando justamente
a perpetuação e o fortalecimento da sua tradição religiosa ao longo do tempo.
Ainda sobre o caráter influenciador da igreja, é responsabilidade dela
levantar questões como esta da cultura pós-cristã e propor ou responder
soluções à altura do risco, do perigo, do desafio, impactando as cidades e
gerando movimentos transformadores, capazes de mobilizar cristãos que se
tornam verdadeiros discípulos e obedeçam à convocação para a evangelização.
A igreja contemporânea, em sua interação com a sociedade, deve
considerar formas assertivas de evangelismo e estratégias para restaurar a
comunhão com os sem igreja ou “desigrejados”. Para isso, o melhor caminho é
observar as formas como Jesus atuou, sempre atraindo multidões, discipulava
os pequenos grupos e oferecia respostas para as grandes questões do seu
tempo, o que também é, junto com a correta leitura do seu tempo, um grande
desafio da igreja contemporânea.

10
TEMA 4 – A IGREJA EVANGÉLICA DO SÉCULO XXI

Definir a igreja evangélica brasileira atual é uma tarefa quase impossível,


considerando as dimensões continentais do país e as diversas realidades
culturais, étnicas, políticas, econômicas e sociais que o permeiam.
Para além dessas diferenças profundas, também é grande a diversidade
de pensamento teológico entre as variadas igrejas e, às vezes, dentro da mesma
denominação. Esses pensamentos, muitas vezes se chocam e tornam bastante
complexa a definição do que é a igreja evangélica brasileira.
A igreja brasileira é composta por uma infinidade de denominações e o
número de igrejas aumenta diariamente, o que confere ao panorama da igreja
evangélica no Brasil a aparência de uma colcha de retalhos.
E o que isso significa exatamente?
Significa que quando uma pessoa se apresenta como cristã no Brasil, não
é possível identificar de imediato o que isso significa ou que tipo de cristão o
indivíduo é. Essa dificuldade se explica pelo fato de que cada igreja ou
denominação possui características muito específicas e pensamentos teológicos
bastante diversos.
Tanta variedade de ritos, conceitos e pensamentos geram interpretações
bastante equivocadas sobre quem são os cristãos ou a igreja cristã. Entre essas
noções distorcidas, está:

• A ideia de que a igreja é a continuação do judaísmo. No entanto, mesmo


que siga alguns princípios judaizantes, a igreja não prega a circuncisão,
por exemplo;
• A ideia de que a igreja é o próprio Reino de Deus. Ainda que faça parte
do Reino de Deus e seja um agente de transformação e atração das
pessoas até Deus, a igreja não é o Reino.

Ao longo do tempo, a igreja sofre influência da sociedade e de seus


pensamentos. Há séculos, ela recebe a influência do pensamento moderno e,
mais recentemente, do pensamento pós-modernista. Na interação com esses
pensamentos e com pessoas que seguem esses pensamentos, é vital que os
cristãos entendam o que eles são.
O pensamento moderno surgiu nos principais países da Europa e
promoveu a ideia do pensamento racional, que foi ampliada por ocasião da

11
Revolução Francesa e o advento do iluminismo, filosofia que defende a união da
razão com a ciência e levanta pressupostos de igualdade.
Já o pensamento pós-moderno rejeita o pensamento moderno e promove
o individualismo e a despreocupação com as questões sociais. Os valores da
pós-modernidade promovem o individualismo excessivo, a valorização da
globalização, relativismo no modo de pensar, liberalismo teológico, a
secularização, o pluralismo teológico e um certo pragmatismo religioso.

TEMA 5 – OS VALORES DA PÓS-MODERNIDADE

Pensar corretamente o tempo atual implica em conhecer profundamente


os valores da pós-modernidade, uma vez que eles permeiam o entendimento de
uma grande parte da população.
Se a igreja não for capaz de estabelecer contato com o pensamento
dessas pessoas, não será possível lograr êxito em suas ações.

5.1 Individualismo excessivo

Até mesmo os cristãos buscam o individualismo; é o caso, por exemplo


daqueles que priorizam a prosperidade em vida terrena. Ainda que seja correto
o esforço por melhores condições de vida, essa busca não pode ser a prioridade
número um de vida do sujeito, em detrimento dos valores bíblicos e espirituais.
Ser rico não é um problema, mas buscar riquezas sem pensar ou saber
compartilhá-las é um erro.

5.2 A globalização

A igreja precisa estar atenta aos efeitos da globalização, que facilitaram a


conexão entre as mais diversas culturas, provocou o comportamento de
imigração, ampliou o trânsito entre cidades, a expansão comercial e a expansão
nas comunicações.

5.3 O relativismo

Um valor bastante desafiador para a igreja contemporânea é o forte


pensamento relativista que considera ser tudo relativo e não existir verdade
absoluta; afinal, cada um tem a sua verdade e nenhuma ideia é totalmente

12
correta ou incorreta. Defende-se que “o ponto de vista é a vista a partir de um
ponto”.
A igreja prega justamente o contrário dessa ideia, promovendo o
evangelho como verdade absoluta e apresentando Jesus como única forma de
o ser humano achegar-se a Deus.

5.4 Liberalismo teológico

A relativização das ideias e das verdades provocou o surgimento de uma


espécie de liberalismo teológico e hoje existem cristãos que: não estão convictos
de algumas verdades bíblicas absolutas e defendem a inexistência do céu e do
inferno, ou apenas do inferno; acreditam que todos serão salvos; duvidam do
nascimento virginal de Jesus e da ação do Espírito Santo sobre Maria; existem
até mesmo aqueles que duvidam da ressurreição de Jesus e outros chegam a
pregar dúvidas sobre nem mesmo Deus saber sobre como será o final do mundo,
exercitando uma espécie de teísmo aberto.

5.5 A secularização

Hoje, muitos cristãos que afirmam acreditar na mensagem cristã negam


essa fé em suas práticas diárias, típico hábito de “dizer uma coisa e fazer outra”.
Normalmente, são pessoas preocupadas com questões materiais e não com as
questões eternas.

5.6 O pluralismo religioso

A sociedade não possui uma hegemonia religiosa e é preciso aprender a


viver com respeito entre as religiões. Nesse cenário, abre-se o espaço para o
ecumenismo e a convivência e o diálogo entre as religiões.

5.7 O pragmatismo eclesiológico

Por fim, o pragmatismo religioso tem invadido as igrejas e, em muitos


púlpitos, as pregações buscam atender aos anseios do povo e não as suas
necessidades. Ainda que o evangelho seja uma questão de prática, muitos
desvios são feitos na tentativa de fidelizar pessoas, alimentando seu
individualismo e apresentando Deus como uma espécie de mordomo que atende

13
a suas vontades. Isso vai na contramão do cristianismo e seus princípios, que
promove justamente a transformação de vida das pessoas por meio evangelho.

NA PRÁTICA

Nesta oportunidade, conversamos sobre os nomes utilizados para


referenciar a igreja.
Escolha ao longo do Novo Testamento ao menos três textos com
diferentes nomenclaturas para a igreja e realize um estudo sobre o motivo por
que ela foi referenciada daquela maneira e analise como esse mesmo nome ou
título diz respeito às ações da igreja de hoje.
Bom trabalho!

FINALIZANDO

Ao longo deste estudo, conhecemos um panorama sobre a eclesiologia


contemporânea e entendemos que, no Brasil, ela é uma miscelânea de inúmeras
denominações, diferentes contextos e variadas formas de pensamento, inclusive
pensamento teológico.
Conhecemos ainda os diversos nomes para a igreja registrados no Novo
Testamento e a importância de a igreja estabelecer conexões com as diferentes
formas de pensamento nos tempos de hoje, principalmente os pensamentos
moderno e pós-moderno.

14
REFERÊNCIAS

BEZERRA, C. M. Eclesiologia: igreja e perspectivas pastorais. Curitiba: Editora


Intersaberes, 2017.

BÍBLIA. Nova Almeida Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

KELLER, T. Igreja centrada. São Paulo: Vida Nova, 2014.

REZENDE, J. S. Eclesiologia contemporânea: construindo igrejas bíblicas.


Curitiba: Editora InterSaberes, 2016.

15

Você também pode gostar